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domingo, 26 de julho de 2015

OUTRO GRANDE OFICIAL PERNAMBUCANO CAÇADOR DE CANGACEIRO... CORONEL MANOEL DE SOUZA NETO... A HISTÓRIA COM DOIS LADOS...

Por Guilherme Machado

Antônio Mendes de Sá morava na beira do rio São Francisco quando, em 1865, viu-se envolvido na intriga que se chamou de questão do Sabiucá (Gomes de Sá). Acabou sangrado, depois que foi arrancado para fora da prisão, pelos inimigos. Dos seus filhos, Ana (Aninha “Braba”) casou-se com Cazuzinha “do Roque” (MOM, B 9) e lhe deu a neta Maria.

Maria casou-se com Gregório Nogueira do Nascimento, conhecido por Gregório Flor por ser filho de Florência Filismina de Sá (Flor) e de Manoel de Souza Ferraz (Manezinho). O casal deixou oito filhos: Auta, Amerina Filomena; Alonso, Afonso, Ancilon, Arconso de Souza Ferraz e Manuel de Souza Neto.

Manuel de Souza Neto nasceu nas terras da antiga fazenda Algodões, município de Floresta, no dia 1º de novembro de 1901. Cresceu ao lado dos parentes, os “nazarezistas”. Ao lado deles, se engajaria numa luta ingrata, dura, heroica. Virgulino Ferreira da Silva - o futuro Lampião - ali chegara muito cedo, instalando-se com a família na fazenda Poço do Negro, nas imediações de Nazaré, e logo se indispôs com os filhos da terra, fazendo uma história já conhecida e que levou luto a muita gente da região.

Em 1921, o primeiro filho de Nazaré seguiu com destino ao Recife para ingressar na polícia: Arconso de Souza Ferraz deixou seu emprego em loja para se tornar militar. Outros seguiriam seus passos.

Diz Marilourdes Ferraz (O Canto do Acauã, p. 141) que, em 1922, “Manuel de Souza Neto partiu da casa do seu tio João Flor, ao lado do comerciante Adão Feitosa, para Rio Branco (atual Arcoverde), a fim de comercializar peles de bode. A viagem foi extenuante, feita a pé e parte a cavalo, mas, ainda assim, por iniciativa própria, prolongou seu itinerário até a capital para efetuar alistamento, seguindo o exemplo do seu irmão Arconso.”

Estava destinado a ser um dos mais valorosos combatentes do cangaço. Com 21 anos de idade incompletos, engajava-se com coragem numa luta que duraria pelo menos 16 anos. E logo se destacaria por sua bravura.

Em janeiro de 1924, Manuel Neto foi um dos soldados que mais se fizeram notar, sob o comando do sargento Higino José Belarmino, nas lutas travadas contra o grupo de Lampião e em defesa de Clementino Quelé, que vira seu distrito de Santa Cruz, em Triunfo, ser atacado violentamente. No dia 5, o jovem soldado avançou correndo de Triunfo até aquele local, onde Virgulino procurava liquidar o antigo companheiro Quelé. Seis dias depois (dia 11), entrava novamente em choque com o grupo de bandidos, forçando-os a deixar o Estado de Pernambuco e fugir para a Paraíba.

Um ano depois (fevereiro), ao lado de uma força volante composta de civis, procurava descobrir o paradeiro de Lampião. Tomara conhecimento da presença do bando na região de Betânia. Encontrou a força sob o comando do sargento José Leal, seguindo todos na direção da Cachoeira dos Galdinos. Ali estavam os cangaceiros. A força se compunha de pouco mais de vinte homens; os bandidos, trinta e tantos. Avistados os cangaceiros, foram descobertos, iniciando-se o tiroteio. Batalha duríssima, com resistência tenaz. No auge da luta, o sargento José Leal e o soldado João Preto abandonaram o campo da luta. Manuel Neto assumiu, nessa ocasião, pela primeira vez - segundo João Gomes de Lira -, um comando na campanha contra o banditismo.

Ao seu lado, secundando-o, os primos Euclides e Manoel Flor. A luta durou cerca de três horas, terminando com a fuga dos bandidos que levaram um morto e três feridos. A força nada sofreu. Foi nesse ano de 1925 que Manuel Neto foi promovido a anspeçada. 

Fonte: facebook

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MAJOR OPTATO GUEIROS CAÇADOR DE CANGACEIROS

Por Guilherme Machado

Um dos grandes oficial de Pernambuco, Major Optato Gueiros, caçador de cangaceiros...?
 A história com dois lados.

Fonte: facebook

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OUTRO GRANDE POLICIAL PARAIBANO CAÇADOR DE CANGACEIROS... A HISTÓRIA COM DOIS LADOS...

Por Guilherme Machado

Manoel Benício da Silva, nascido em 17 de novembro de 1884 na cidade de Santa Luzia do Sabugi na Paraíba, Tenente-Coronel da reserva (falecido). Ingressou na Polícia Militar da Paraíba, logo como Aspensada em 1908 (antigo posto entre o soldado e o Cabo), o presidente do estado era o Dr. João Machado. Foi Delegado em quase todas as cidades do interior do Estado e desde o posto de Sargento comandou o banditismo no sertão do Estado. Sempre falou com euforia de suas constantes lutas contra os cangaceiros, que infestavam a Paraíba e o Nordeste na época de sua mocidade, e cada episódio é um motivo de glória pela sua tenacidade e coragem; porém não se sentiu realizado, apenas por não ter completado o rosário de 100 orelhas de bandoleiros.

Fonte: facebook

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O CANGAÇO VOLTA A SER NOVAMENTE DESTAQUE NO JORNAL “A TARDE” DE SALVADOR-BA.


O Jornal "A TARDE" de Salvador-BA, que no passado foi responsável pela publicação de inúmeras matérias sobre a atuação de cangaceiros pelo Nordeste, publicou recentemente uma matéria destacando o tema novamente. Só que dessa vez o destaque foram as "Cores do Cangaço".

A matéria do Jornal apresenta uma fotografia do bando de Lampião, colorizada através de processos digitais, que foi idealizada pelo Geólogo/Pesquisador Rubens Antônio (Salvador-BA), que através de seu conhecimento sobre a história do cangaço, utilizou as prováveis cores constantes dos personagens, objetos e paisagens da fotografia, para trazer de volta... as cores do cangaço.

Parabéns Mestre Rubens Antônio!!! São essas atitudes e qualidades que engrandecem a nossa história e a nossa cultura.
Foto: Eronildes de Carvalho

Colorização: Rubens Antonio (Salvador-BA)
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)
— com Rubens Antonio.

Fonte: facebook

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SÓ DUAS PERGUNTAS

Por Tomislav R. Femenick (www.tomislav.com.br)
Jerônimo Vingt-un Rosado Maia e Tomislav R. Femenick

O Padre Jahannes Simon Vondel tinha terminado de rezar as vésperas, a oração do final da tarde e começo da noite, quando o telefone da sacristia da pequena igreja, da pequena cidade do interior, tocou estridentemente. Era a enfermeira de Dona Lucrécia, viúva de Pedro Correia Fernandes, rico proprietário e chefe político, recentemente falecido. Queria que ele fosse urgente ao casarão, pois a doente tinha piorado muito nas últimas horas e pedido para se confessar, mas só com o Padre Vondel.

Mesmo com quase setenta anos, o padre holandês cultivava o hábito de andar de bicicleta, até porque as parcas receitas da paróquia não lhe permitiam o luxo de um carro. Pedalando pelas ruas mal iluminadas, ele ia reavivando suas lembranças sobre Dona Lucrécia. Há trinta anos, quando ele chegou na cidade, Lucrécia era a grande dama local. Promovia as melhores festas, era patronesse de obras beneméritas e mãe de somente uma filha pequena. Hoje a filha era a Dra. Amélia Fernandes Oliveira, casada com o Dr. Paulo Dutra Oliveira, ambos médicos e donos do hospital local. Seu Pedro Correia tinha morrido misteriosamente e a viúva, embora tratada permanentemente pelo genro, vivia em uma cama e tinha uma enfermeira e uma empregada como únicas companhias, naquela residência tão grande.

Quando o padre chegou ao sobrado, a porta estava aberta e as luzes da escada acesas. Pensando que estavam a sua espera, subiu em direção ao quarto da dona da casa e encontrou uma cena surpreendente e horripilante. O recinto estava iluminado apenas por duas grandes velas, mas dava para se ver um pentagrama desenhado na parede, atrás e acima da cabeceira da cama, e uma grande quantidade de sangue esparramado pelo chão. O corpo da enfermeira estava aos pés da cama, com a garganta cortada, e o cabo de uma faca de prata se projetava do abdome de Dona Lucrecia. Tudo levava a crer que teria havido um ritual macabro, no qual as duas teriam sido sacrificadas. Foi ainda meio desorientado que o reverendo ligou para a polícia.

O delegado da cidade era um advogado que não mais exercia a profissão e devia a sua nomeação a Pedro Correia Fernandes. Talvez o delegado tenha sido o maior amigo do casal. Era o padrinho de Amélia; padrinho de batismo, de formatura e de casamento. Até brincavam: se ele não fosse o único tri-padrinho do mundo, com certeza era o único da cidade. Pouco depois de o delegado chegar ao casarão, a cidade toda já sabia da notícia e para lá se dirigia. A filha, desesperada, estava sendo consolada nos braços do Padre. Dr. Paulo, seu marido, esbravejava contra “esses fanáticos” e dizia que o crime somente poderia ser obra do Sebastião das Cebolas, o Pai de Santo local. Sebastião foi preso e transferido para uma delegacia da capital, pois se ficasse na cidade seria linchado.

Pelos outros presos, o Pai de Santo ficou sabendo que o escrivão da delegacia era o Pereira, aquele que já tinha resolvido alguns casos desconcertantes. Conseguiu falar com ele e expor seu problema: estava preso, porém não era o autor do crime. Pereira conhecia o Padre Vondel e Dona Lucrecia, pois era de um lugarejo próximo, e resolveu investigar. Foi rever o reverendo holandês e a cidade. Por cortesia foi fazer uma visita ao delegado, oportunidade em que se inteirou dos detalhes e do andamento das investigações. A enfermeira era de fora e tinha sido indicada pelo genro da doente. O delegado já tinha certeza que Sebastião das Cebolas não tinha nada a haver com o caso; só o mantinha preso para evitar que o povo o linchasse.

Foi ver a cena do crime e visitar o Padre Vondel, quando soube que Dona Lucrecia nunca havia sido muito religiosa, mas, à medida que a doença progredia, ela rezava mais e mais e, às vezes, ia assistir missa, mesmo que para isso fosse preciso ir de cadeira de roda. Porém nunca tinha se confessado. O Padre também achava que o Pai de Santo não tinha nada com a história. Conversando com outras pessoas, soube que o inventário de Pedro Correia Fernandes ainda não tinha sido realizado e que a saúde financeira do hospital da filha e do genro ia muito mal. Conversando com a velha Manuela, empregada do casarão dos Fernandes há mais de quarenta anos, inteirou-se de um segredo: Dona Lucrecia, logo que se casou, teve um caso com um advogado que tinha chegado na cidade e que hoje é o delegado. Desse caso nasceu Amélia. Sentindo a aproximação da morte, talvez tenha sentido a necessidade de confessar o pecado.

Daí, foi relativamente fácil resolver o caso. Foi só responder duas perguntas. Quem ganhava com a morte da senhora? Sua filha e seu genro, que estavam praticamente quebrados, com as dívidas do hospital. Quem perderia se fosse provado que ela não era filha do velho Pedro? Os mesmo, pois Pedro e Lucrecia eram casados em separação de bens. Foi só apertar o genro. No começo negou, depois confessou tudo. Tinha mandado fazer exame de DNA da mulher e do delegado (atestaram pai e filha), tinha mandado matar o sogro e, ele mesmo, matou a sogra e a enfermeira. Primeiro a sogra e depois a enfermeira, após força-la a ligar para o padre.

Tomislav R. Femenick é mestre em Economia, pela PUC-SP, com extensão de Sociologia e História; pós-graduado em Economia Aplicada para Executivos, pela FGV-SP e bacharel em Ciências Contábeis, pela Universidade Cidade de São Paulo.

É sócio e diretor principal da Femenick & Associados Auditoria e Consultoria S/C Ltda, empresa nacional de auditoria, perícia e consultoria, fundada em 1987 e foi diretor adjunto (assistente da diretoria) da Soteconti Auditores, Campiglia & Cia e da Revisora Nacional/Deloit, empresas nacionais de auditoria. Foi sócio e diretor da Technoway, empresa de organização de eventos e editora; diretor superintendente das Empresas Mayrton Monteleone, revendedoras Mercedes Bens e Massey Fergunson, em São Paulo e Goiás; gerente de divisão do Banco Geral do Comércio S/A; diretor adjunto da Cia. Real Brasileira de Seguros; assistente da diretoria do Banco Cidade S/A; titular do Serpes Serviço de Promoções e Pesquisas, de Mossoró-RN, empresa jornalística, instituto de pesquisas e de elaboração de projetos econômicos, além de funcionário do Banco do Nordeste do Brasil S/A.

Na capital paulista foi professor titular dos Centros Universitários UNIBERO, UNIFMU, FIAM-FAAM e Belas Artes, nas áreas de Economia, Contabilidade, Administração, Câmbio, Comércio Exterior, Finanças, Orçamentos, Mercado de Capitais, Custos, Auditoria e Perícia Contábil, além de Coordenador Acadêmico do curso de Hotelaria, do UNIFMU, e orientador de Estágios e Monografias, do UNIBERO. Foi professor visitante na PUC-SP, UNICID, Faculdades Paulo Eiró e Faculdade Santa Rita de Cássia. Atualmente é professor da FACEN-Faculdade de Ciências Empresariais e Estudos Costeiros de Natal e da Faculdade União Americana e professor visitante da UnP-Universidade Potiguar e da FAL-Faculdade de Natal.

É escritor, com mais de 40 obras publicadas, entre livros e monografias. Como jornalista, atuou em vários jornais do país. Atualmente é colaborador dos jornais Tribuna do Norte e O Jornal de Hoje, de Natal, e da Gazeta do Oeste e de O Mossoroense, de Mossoró – RN.

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RAÍZES DO CANGAÇO – LIGEIRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS POSSÍVEIS ORIGENS DO CANGAÇO



Paulo Nunes Batista (*)

A Editora Delta S. A – responsável pela publicação em português da Grande Enciclopédia Delta Larousse – contou em seu Conselho Consultivo, entre outras sumidades, com eminentes vultos do saber brasileiro, como: Manoel Diegues Júnior, professor de antropologia cultural da P.U.C.; diretor do Centro Latino Americano de Pesquisas Sociais; Paulo Marques Pires de Amorim, antropologista, ex-assessor técnico do Instituto de Ciências Sociais da U. F.R.J., em que serviu como auxiliar no departamento de antropologia. Como colaboradores especiais: Ariano Suassuna, escritor premiado e uma das maiores autoridades em temas nordestinos; Édison Carneiro, escritor e etnólogo baiano; Pedro Calmon, historiador, da ABL.

Na edição de 1970 da famosa enciclopédia, à pág. 1289, vol. 3, lemos: “cangaceiro s.m. Salteador, criminoso errante do Nordeste brasileiro. Isolados ou em grupo, os cangaceiros viveram perseguidos e perseguindo, em luta contra tropas policiais ou outros bandos.


-ENCICL. Motivos múltiplos concorreram para o aparecimento dos cangaceiros: problemas de ordem social, tais como fortes desigualdades da distribuição de bens e de desenvolvimento, marginalização funcional crônica dos operários rurais e também o uso de sicários pelos grandes proprietários rurais, vinganças pessoais ou familiares, messianismo carismático, fama irradiante dos grandes cangaceiros etc. Muitos jovens passaram a viver “debaixo do cangaço”, protegidos por políticos e senhores de terras, ocultos por coiteiros, que lhes davam informações sobre os movimentos dos macacos policiais. “Famosos cangaceiros foram Jesuíno Brilhante, Lampião e Cabeleira. O sertão sempre desculpou e compreendeu tais figuras, porque os tinha como justiceiros sociais.” (Grifamos).


A mesma obra define cangaço como sendo “conjunto de armas e objetos usados pelos cangaceiros; o gênero de vida desses bandoleiros” (p.seg.).

Dezenas de livros se publicaram sobre o assunto. Citemos apenas alguns dos mais relevantes: Heróis e bandidos (1917) e Almas de lama e de aço (1930), de Gustavo Barroso; Beatos e cangaceiros (1920), de Xavier de Oliveira; Lampião (1934), de Ranulfo Prata; Cangaceiros do Nordeste (1929), de Pedro Batista; Prestes e Lampião (1926), de Adauto Castelo Branco; Bandoleiros das caatingas (1940), de Melchíades da Rocha; Lampião: memórias de um oficial ex-comandante de forças volantes (1963), de Optato Gueiros; Cangaceiros (1959), de G. Augusto Lima; Capitão Virgulino Ferreira Lampião (1962) e Sinhô Pereira, o comandante de Lampião (1975), de Nertan Macedo; Cangaceiros e Fanáticos, (1963), de Rui Facó; Lampião e suas façanhas (1966), de Manuel Bezerra e Silva; O mundo estranho dos cangaceiros (1965), de Estácio de Lima; Antonio Silvino: capitão de trabuco (1971), de Mário Souto Maior; Fanáticos e Cangaceiros (1973), de Abelardo F. Montenegro; Fatos reais sobre o cangaço (1975), de Aldemar de Mendonça; Fatores do cangaço (1934), de Manuel Cândido; A derrocada do cangaço no Nordeste (1976), de Felipe Borges de Castro; Nordeste (1951), de Gilberto Freyre; Como dei cabo de Lampião (1983), de João Bezerra da Silva; Guerreiros do sol: o banditismo no Nordeste do Brasil (1985) e Quem foi Lampião (1933), de Frederico Pernambucano de Mello. Este último, um dos mais completos estudos sobre o cangaço já levados a efeito.


Cabeleira é cronologicamente o mais antigo cangaceiro cuja vida e façanhas motivaram livros (o romance “O Cabeleira”, de Franklin Távora, escritor cearense, é de 1876) e folhetos de cordel.

Há uma contradição de datas: Luís da Câmara Cascudo, em seu “Dicionário do Folclore Brasileiro” (INL, Rio, 1954, p. 133) dá como sendo 1776 o ano do enforcamento do Cabeleira, “no Largo das Cinco Pontas, no Recife, ante grande multidão”, e o chama de Joaquim Gomes, e não José Gomes como o faz Pernambucano de Mello.

Fonte – ozildoroseliafazendohistoriahotmail.blogspot.com

A seguir vem Jesuíno Brilhante (1844-1879), norte-riograndense Robin Hood, “adorado pela população pobre, defensor dos fracos, dos anciãos oprimidos, das moças ultrajadas, das crianças agredidas”, “o cangaceiro gentil-homem, o bandoleiro romântico” que “morreu lutando em Santo Antônio, águas do riacho de Porcos, Brejo do Cruz, Paraíba, em fins de 1879.” (Op. Cit. 326). Motivou o romance Os Brilhantes (1895) de Rodolfo Teófilo (1853-1932). Diz Câmara Cascudo que “uma rixa de sua família com a família dos Limões, em Patu, valentões protegidos pelos políticos, tornou-o de pacato agricultor em chefe de bando invencível em 1871” (p. 326). Grifamos.

O cangaceiro Antônio Silvino

Antônio Silvino (Manuel Batista de Morais, 1875-1944), cognominado “o rei do cangaço, rifle de ouro, governador do sertão, de Pernambuco ao Ceará, “valente, atrevido, arrojado, com gestos generosos e humanos, foi ferido e preso no lugar Lagoa de Lajes” (28-11-1914), “cumpriu sentença na Penitenciária do Recife, sendo indultado pelo Governo Federal em 1937”. Faleceu em Campina Grande, em agosto de 1944. (Op. Cit. 52). Foi o cangaceiro mais famoso de seu tempo e o mais decantado na poesia popular. “Era branco, alto de 1.83m. Usava bigode e não sabia ler ou escrever”. (Pernambucano, 1993, 61).

Quando esteve no Rio em 1938, houve um encontro entre Antônio Silvino e Getúlio Vargas

O poeta popular Francisco das Chagas Baptista, meu pai (1882-1930), que, segundo alguns, era ainda parente de Antônio Silvino, publicou diversos folhetos de cordel de sua lavra sobre a vida e as façanhas de Silvino. No “Interrogatório de Antônio Silvino – Cognominado –o Leão do Norte” (Rio, s/d.) Chagas fala das “declarações ao Chefe de Polícia do Recife” feitas pelo bandoleiro, e, à pag. 4, põe estas sextilhas:

“Enquanto eu era pequeno/

aprendi a trabalhar, /
chegando aos 14 anos /
dediquei-me a vaquejar /
abracei aos vinte anos /
a profissão de matar.
Disse-me o chefe: –

Silvino /
diga-me por qual razão /
você ainda tão moço /
abraçou tal profissão? /
foi por um motivo justo /
ou foi por inclinação?

Não foi tanto por instinto, /
mas, sim, por uma vingança/
porque mataram meu pai /
minha única esperança /
e eu vingar a sua morte /
para mim era uma herança.

No ano noventa e seis /
meu pai foi assassinado /
pela família dos Ramos /
sendo sub-delegado /
um deles, o José ramos, /
já sendo nosso intrigado.

Para a punição do crime /
ninguém se apresentou; /
a justiça do lugar /
também não se interessou /
eu inda tenho em suspeita/
que ela ao crime auxiliou.

E eu vi a justiça /
mostrar-se de fora à parte /
murmurei com meus botões /
também eu hei de arrumar-te /
não quero código melhor /
do que seja o bacamarte. 

Eu chamei pela justiça /
esta não quis me escutar /
me vali do bacamarte /
vi este me auxiliar /
nele achei todas as penas /
que um código pode encerrar.

No bacamarte eu achei/
Leis que decidem questão /
que fazem melhor processo /
do que qualquer escrivão /
as balas eram os soldados /
com que eu fazia prisão.

Minha justiça era reta /
para qualquer creatura, /
sempre prendi os meus réus /
em casa muito segura, /
pois nunca se viu ninguém /
fugir duma sepultura”.

Sem maiores comentários. Na cadeia Antônio Silvino tornou-se evangélico (batista), lia também obras espíritas (era médium vidente etc) e, por seu bom comportamento, recebeu indulto do Presidente Vargas, que chegou a lhe dar emprego numa estrada de rodagem do Paraná, como apontador. (Gr. Enc. Delta Larousse, Rio, 1970, vol. 11, p. 6330).

Fonte – sebovermelhoedicoes.blogspot.com

Pedro Batista (meu Tio, 1890-1938), em seu livro Cangaceiros do Nordeste (Pb, 1929) conta a saga do cangaceiro Liberato, que vinha a ser nosso parente. Tudo começou quando Liberato, sendo primeiro suplente de delegado e ainda segundo Juiz Distrital na então Vila do Teixeira – Pb, aí por volta de 1859/60, teve de enfrentar as tropelias dos facínoras irmãos Guabirabas, protegidos pelos famigerados Dantas do Teixeira, denominados Os Terríveis, grandes latifundiários protetores de bandidos e que eram chefes do Partido Liberal, dirigidos pelo “Grande Capitão” e por sua irmã, a tarada Biluca, mandante de muitos crimes, a quem todos temiam e que, segundo a lenda, conservava em seu poder um rosário de orelhas humanas dos inimigos que mandava matar. Esses Dantas “coronéis” de baraço e cutelo, habitavam a chamada Vila dos Feras, porque, na realidade, não passavam de feras humanas.

Cidade de Teixeira, Paraíba – Fonte – http://www.cidade-brasil.com.br

Os bandidos Guabirabas, com as costas largas e quentes pelo prestígio dos fazendeiros Dantas, “faziam correrias pelas adjacências, infligindo aos pobres matutos um sem número de vexames e humilhações”. (Batista, 1929, 49). O velho Terrível jurara vingar-se de Liberato que, do Partido Conservador, se opusera aos Dantas nas últimas eleições. Demos a palavra ao escritor e historiador Pedro Batista: “Certo dia de Fevereiro, quando se realizava a feira semanal, foi a população sobressaltada com a presença de quatro facínoras armados de pistolas, bacamartes, facas do Pajeú, cingidos de cartucheiras, ameaçadores, cavalgando fogosos animais. Em carreiras desabridas e insultuosas, proferindo impropérios, detonando armas a esmo, os quatro homens, assenhorearam-se do terreno, e minutos após, blasonadores e vitoriosos, mesmo sem ter havido luta, espalhavam o terror…

“Dissolvida a feira, os pobres sertanejos buscam esconderijos, enquanto as autoridades recolhidas em suas casas, servem-se das armas de que podem dispor para, em caso de ataque próprio, vender caro a vida e a inviolabilidade do lar. Oculto, Liberato ouvia os insultos, os tiros e o seu nome proferido escarnecedoramente. A família o prende, e, mais que a família, acovarda-o no momento a falta de munição e de homens para ajudar”.

O Sertão paraibano do alto da Pedra do Tendó, na Serra de Teixeira – Foto de Eduardo Vessoni – Fonte – oglobo.globo.com

“Os Guabirabas, entusiasmados com semelhante prova de fraqueza daquela população sobressaltada, redobram as práticas de misérias, invadem lares indefesos, depredam e arrasam tudo!… Ninguém lhes veio ao encontro, e eles depois de prolongarem pelo tempo que lhes aprouve aquelas cenas selvagens, decidem ir-se embora”. (p. 50/1)

E prossegue o historiador-cronista: “Abandonada a vila pelos bandidos foram aparecendo as autoridades para resolverem o que deviam fazer. Uns apoiaram Liberato, – que queria formar uma escolta e na noite daquele dia cercar o Jatobá e dispersar os criminosos se não os pudessem prender; e outros, entre estes o detentor do exercício de delegado – Delfino, – opinaram se despachasse um próprio para a capital, pedindo urgente uma força bem municiada para dar combate em regra”. (p. 52)

Aquele Delfino, “primeiro suplente de Juiz, que se constituíra pela brandura de caráter, competência e inteligência compenetração do cargo”, assinava-se Delphino Baptista de Mello e era meu parente. O narrador prossegue: “Dois dias depois, na sexta-feira, chegou à vila um moleque, trazendo um recado de Cyrino (um dos irmãos Guabirabas) para Liberato: – que no dia seguinte viria à feira, e ele ficasse avisado para não se desculpar” (p. 60) Delfino, a quem Liberato havia passado antes o cargo, não quis reassumi-lo. “Por volta de meio dia, chegou o cabra. Atrevido, cavalgando um fogoso quartau, em galope acintoso, o bandido contornou a feira, percorreu a povoação e foi blasonar e beber aguardente na primeira venda”. (p.62)

Antiga Cadeia Pública de Teixeira – Fonte – pt.db-city.com

Liberato, então delegado, para não sacrificar os moradores da vila do Teixeira, resolveu ir prender Cyrino Guabiraba em seu regresso ao Jatobá, esperando-o com homens armados “num agudo cotovelo da estrada”. Mas, ao dar-lhe voz de prisão, o celerado reage disparando o bacamarte, indo o projetil atingir o ombro esquerdo de Joaquim Caboclo, “tipo franzino e ágil que servia de admiração e paradigma naquela redondeza”, um dos homens de Liberato. Cyrino visara-lhe o coração, mas Caboclo se desviou na hora exata, atirando com sua garrucha no ventre do malfeitor.

Outro homem, José do Carmo, fere Cyrino no rosto. O cavalo dispara, o bacamarteiro cai de garrucha engatilhada visando Moreira, que, desviando-se, dá-lhe o tiro de misericórdia, matando-o. O animal do homicida, com sangue deste nos arreios dirigiu-se ao valhacouto dos Guabirabas, levando aos seus irmãos o aviso do ocorrido. Antônio, João e José Guabiraba, com mais Jovino e Manoel Rodrigues, em 21 de abril de 1862 tomam de assalto o vilarejo, trucidam na entrada a Antônio Tavares, “humilde suplente de Juiz, um pobre roceiro esforçado, continuamente, para se fazer amigo de todos”, o qual, ferido de morte, “surpreso, arregalou os olhos nevoentos, caindo sobre um fardo de lã, sem forças”. Um dos monstros tentou sugar o sangue da vítima, lambendo os beiços. O padre Vicente, “um bom velhinho”, com a imagem de Jesus Crucificado nas mãos, implorou piedade aos sanguinários matadores. “Nesse instante, Delfino aparecia lá no alto da estrada, e, em vez de fugir, se apresentava, visto estar inocente”. Disparo de clavinote pegou-o no coração, prostrando-o a meio caminho. Os covardes caíram-lhe em cima com punhais e coices de armas. Abriram-lhe o peito e arrancando o coração, levantaram-no um troféu, na ponta dos punhais. “O padre retrocedeu e as feras continuaram na faina maldita. Não satisfeitos atacaram os frangalhos da carne humana a corda, e arrastando-os, voltaram para o centro da rua”. (Pp.72 segs.)


Liberato, sem forças suficientes para enfrentar os apadrinhados dos Dantas, e tudo assiste de longe. Perde o cargo e, perseguido pelos Terríveis, abraça o cangaço. Tempos depois, preso numa cilada, evade-se da cadeia. Depois cercado e de novo preso, levado para o cárcere na capital do estado, durante meses sofreu “diversos e pesados castigos, não muito dissemelhante aos infligidos, às vítimas, no sertão, pelos senhores feudais…” (p. 233).

Antes do mais famoso de todos os cangaceiros, Lampião, temos Sinhô Pereira, vulgo Sebastião Pereira da Silva, que, solidarizando-se com seu primo Luiz Padre, abraçou o cangaço forçado ela força da lei, de justiça nos sertões nordestinos.

Sempre as mesmas causas originadoras desse fenômeno sócio-econômico-cultural denominado cangaço: o sistema injusto, uma sociedade baseada no poder do mais forte, na prepotência dos senhores feudais, no predomínio do latifúndio, com seus “coronéis” mandando em tudo e em todos…

Fonte – pt.wikipedia.org

O cangaceiro é uma vítima do arbítrio dos chefes políticos, da ausência de segurança por parte das autoridades constituídas, do capitalismo feroz e desumano, que tem por bases a anticristã exploração do homem pelo homem, concentrando a riqueza e o poder em mãos de poucos, enquanto a maioria do povo vive na miséria. Falta de cultura, falta de equidade, falta de meios de sobrevivência digna, corrupção, protecionismo, compadrismo, filhotismo, proteção a bandidos, vendas de armas por policiais aos próprios cangaceiros, ferocidade e impunidade dos “macacos” (soldados) policiais, que, estes sim, cometiam as maiores atrocidades e covardias contra a população sertaneja indefesa, extorquindo dinheiro, estuprando mulheres, humilhando homens honestos e trabalhadores, sob o pretexto de combater o cangaço…

Muitos dos integrantes das chamadas forças volantes não passavam de bandidos fardados, pagos pelo povo para cometer crimes contra esse mesmo povo…

Diversos cangaceiros, condenados a penas de reclusão, provaram ser homens simples, honestos, respeitadores e laboriosos, a quem, em vez de trabalho decente, obrigaram a pegar em armas para não serem mortos pelos poderosos senhores feudais do Nordeste.

Conheci, pessoalmente, em Saco da Onça, município de Urandi, Bahia, em 1945/6, o ex-cangaceiro de Lampião, Criança, que ali vivia pacificamente, sem roubar, assaltar nem ofender a ninguém. Aliás, virara “autoridade”: o engenheiro-residente nomeara-o Guarda do DNEF, na 5a. Residência, e Criança era respeitado por todos. Baixinho, calado, de olhar firme e voz metálica, era dono de coragem indiscutível… De cangaceiro, passara a representante e defensor da lei!…
Anápolis, 18-2-1997
(*) Paulo Nunes Batista é poeta e escritor paraibano, radicado em Anápolis-GO.
Publicado originalmente em 20/03/2005 –

Extraído do blog Tok de História do históriógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.com.br/2015/07/23/raizes-do-cangaco-ligeiras-consideracoes-sobre-as-possiveis-origens-do-cangaco/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br