A história do
cangaço é carregada de enigmas, misticismos, verdades e mentiras... um dos mais
comentados seria à não execução do casal de cangaceiros, corisco e Dadá, na
fazenda do senhor Pacheco em Barra do Mendes - Bahia, pela guarnição do tenente José de Rufina,
na tarde daquele sábado do dia 25 de maio de 1940.
Eu, como um
mero leitor, considero algumas particularidades:
- O cangaço já tinha findado;
- A emboscada foi em área habitada, várias testemunhas, inclusive, ajudando em
mantê-los vivos;
- A guarnição se apossou “legalmente” dos despojos dos dois (era “legal” fazer
isso, não havia necessidade de esconder);
- As condições eram favoráveis para o transporte dos dois feridos, tinha um
caminhão a disposição, etc etc e etc;
DESTACO ainda que, o Zé de Rufina tinha certa admiração e respeito, pelo casal,
em especial, pela Dadá pois, a elogiava exacerbadamente, sempre que tinha
oportunidade e, deixou isso de forma transparente, quando a mesma o visitou
antes de sua morte, na cidade baiana de Jeremoabo.
E principalmente egrégio grupo, compunha essa guarnição, um praça por nome Zé
Rochão, que foi um dos primeiros a chegar perto da Dadá, esse volante era
oriundo de uma família que tinha sido ajudada pelo casal, e este não deixou por
menos, a protegeu desde este momento, retribuindo assim, os favores recebidos
anteriormente, inclusive foi o escolhido por José de Rufina, para a proteger
dia e noite, enquanto a mesma necessitou ficar em tratamento... Declarou anos
depois, que a Dadá deu um trabalho danado naqueles dias.
Era o que tinha para hoje... No mais, uma foto inédita da cidadã Dadá, na
oportunidade, dava depoimentos para o nosso amigo José Umberto Dias.
Os temas de
nosso Cariri Cangaço Piranhas 2015 foram pensados com muito zelo. A preocupação
em aliarmos a busca da verdade histórica com temas atuais e visões diversas
sobre a natureza do fenômeno cangaço acabou formatando uma programação
dinâmica, plural e atraente. Sem dúvidas e como não poderia deixar de ser
tratando-se de Cangaço, a polêmica se fará presente, mas de forma
saudável, responsável e acima de tudo preservando o que temos de
mais precioso, nossas raízes, nossas origens.
Os
conferencistas e painelistas, debatedores e convidados especiais, todos eles de
renomado talento e reconhecimento regional e nacional, se unem ao esforço de
traduzir em algumas horas, durante estes 4 dias de Cariri Cangaço Piranhas
2015, o reflexo de uma vida dedicada ao estudo e à pesquisa deste que
inevitavelmente trata-se de um dos temas mais intrigantes da história do Brasil.
Arte de
Edinaldo Leite
Inácio de
Loiola, um dos que mais conhece a história do baixo São Francisco, homem de
invulgar talento... nos traz "Piranhas e sua História" em conferência
de abertura de nossa edição 2015. Certamente toda magia e encantamento das
origens e toda a história de uma das mais belas cidades de nosso Brasil.
No domingo,
coube a minha pessoa, conversar um pouco sobre um dos mais
"espetaculares" combates do segundo reinado de Virgulino. Em terras
da fazenda Maranduba, vamos esmiuçar os detalhes e as escaramuças de Virgulino
Ferreira e seus homens diante da força volante de Liberato de Carvalho e Mané
Neto, teremos comigo o "Combate da Maranduba". Ainda em terras da
simpática Poço Redondo, Sergipe, o talentoso pesquisador e escritor Archimedes
Marques nos presenteia com o Legado do grande Mestre Alcino Costa. Mais uma vez
o Cariri Cangaço se curva diante de uma vida verdadeiramente dedicada ao
sertão, Archimedes nos traz "O Cangaço e o Legado de Alcino Alves
Costa".
Alcino Alves
Costa, homenageado pelo Cariri Cangaço Piranhas 2015
Na tarde do
mesmo dia, domingo 26 de julho, já de volta a Piranhas, teremos homens com faro
apurado de investigação: João de Sousa Lima e novamente Inácio de Loiola, nos
apresentam o "Roteiro da invasão dos Cangaceiros a Piranhas" episódio
marcante de 1936, quando os grupos de Corisco e Gato invadem a cidade
ribeirinha para libertar Inacinha... na mesma oportunidade teremos a maestria
do professor doutor Lamartine Lima, com "Um Estudo Multidisciplinar sobre
o Cangaceirismo". Imperdível...
A noite do
mesmo dia, um trio de peso se prepara para "colocar fogo no circo".
Sousa Neto, pesquisador e escritor de Barro, no Ceará; Narciso Dias, presidente
do GPEC de João Pessoa e Jorge Remígio de Custódia, são os responsáveis por um
dos momentos mais esperados do Cariri Cangaço Piranhas 2015. O Painel "A
Corrupção no Tempo do Cangaço" promete consolidar um debate aprofundado
e responsável sobre esse polêmico tema.
Logo após,
teremos a presença de luxo do professor doutor Fernando Araújo Sá, da
Universidade Federal de Sergipe apresentando uma conferência cheia de charme
com o "Cinema e o Cangaço" resultado de anos de trabalho e pesquisa
sobre a presença do fenômeno mais famoso do Nordeste no
cinema brasileiro e a sétima arte.
Na manhã da
segunda-feira, dia 27, o IFAL recebe a conferência de mais duas
feras: Ivanildo Silveira, pesquisador, colecionador do cangaço, de Natal, juntamente
com o não menos brilhante, Kiko Monteiro, pesquisador, bloqueiro e artista,
trazem "Uma Viagem Fotográfica pelo Cangaço" prometendo revelar
os detalhes fascinantes e elucidativos e fortes das imagens, da época e depois
do cangaço.
Já a tarde,
sob a tutela de um dos Mestres da historiografia do Cangaço, Antonio Amaury
Correa de Araújo, "A Vingança de Corisco no Palco dos Inocentes" com
as não menos brilhantes participações do economista Sílvio Bulhões; filho do
segundo casal do cangaço, Corisco e Dadá e ainda uma das revelações da pesquisa
sobre o gênero; companheiro na organização do evento, Celsinho Rodrigues. A
tragédia perpetrada pelo Diabo Louro contra a família de Domingos Ventura e a
selvageria da fazenda Patos, nos transportará no espaço e no tempo.
A noite da
segunda-feira fecha com chave de ouro a terceira edição do Cariri Cangaço em
terras alagoanas. O Cariri Cangaço Piranhas 2015 traz o professor doutor da UFS
Leandro Domingues Duran e os sensacionais e intrigantes resultados do projeto
"Arqueologia do Cangaço" uma iniciativa da Universidade Federal de
Sergipe através do MAX - Museu de Arqueologia de Xingó e a parceria das universidades
federais da Bahia e Minas Gerais.
A
nitroglicerina ficou para o final. A pesquisadora cearense, advogada Juliana
Pereira, o mago das imagens, Aderbal Nogueira e o respeitado professor mestre,
Wescley Rodrigues, nos proporcionarão muita polemica e emoção com o
painel "A Sexualidade nos Tempos do Cangaço. Bem, esperamos que todos
possam estar conosco neste grande evento e que mais uma vez possamos juntos
colaborar com a consolidação do sentimento que norteia o
Cariri Cangaço, o amor incondicional ao nosso sertão, ao nosso Nordeste.
Muita gente que estuda cangaço sabe tudo sobre o coronel Rodolfo Fernandes de Oliveira Martins, principalmente pela sua coragem, pela determinação de enfrentar o mais perigoso bandido já conhecido no Nordeste Brasileiro, o pernambucano Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, que juntamente com os seus delinquentes cangaceiros, tentaram invadir a cidade de Mossoró no dia 13 de Junho de 1927, em uma tarde de chuva fina. Mas muitos ainda não sabem que o homem que fez com que Lampião e seu bando saíssem de Mossoró às carreiras, não era mossoroense, e sim, natural de Portalegre, cidade localizada no Estado do Rio Grande do Norte, no Pólo Serrano da Mesorregião do Oeste Potiguar, microrregião de Pau dos Ferros, e que no mapa, esta cidade aparece localizada na tromba do elefante.
Se na época desta tentativa desastrosa e mal sucedida invasão à cidade mossoroense, feita pelo então capitão Lampião, patente esta adquirida no ano de 1926, no Estado do Ceará, se no lugar do Rodolfo Fernandes de Oliveira Martins, fosse outro administrador municipal, você poderia afirmar que Lampião teria pintado o (7) sete, desenhado o (8) oito, e ainda rabiscado o (9) nove em Mossoró, por falta de atitude do prefeito em exercício, ou as coisas tomariam outro rumo pior do que fez o Rodolfo Fernandes no que diz respeito à defesa da cidade?
Nessa
caixa d'água foram colocados homens 24 horas por dia à espera de
Lampião. Quando uma sentinela que estava no alta da caixa d'água avistou o
bando, começou a imitar um galo para alertar os demais defensores da cidade. Após
o ataque a sentinela que fazia a vigilância ficou conhecida em Mossoró como "José Galo". Livro "A MARCHA DE LAMPIÃO
- Assalto a Mossoró" do Raul Fernandes.
A decisão do coronel Rodolfo Fernandes enfrentar o bando de cangaceiros de Lampião, para não deixar que ele casasse e batizasse em nossa cidade, provou que o portalegrense era muito corajoso mesmo, vez que Lampião não dava tiros perdidos, isto é, no sentido de apenas intimidar.
noticiasdeportalegre.blogspot.com
O ex-prefeito Rodolfo Fernandes merece ser homenageado em Mossoró, assim como também na cidade em que nasceu. Provou que é um portalegrense de assustadora coragem, vez que enfrentar mais de 50 cangaceiros, todos com armas de boa qualidade, apoderados de suas maldades, bem municiados, foi um verdadeiro herói que Mossoró já teve até hoje.
Pesquisador do cangaço Chagas Nascimento
E o mais
interessante, é que, segundo informação do pesquisador do cangaço Chagas Nascimento de Mossoró, que Lampião ordenou que o coronel Antonio Gurgel do Amaral (este era um dos reféns do bando), fizesse o primeiro bilhete para ser enviado ao prefeito, através de um mensageiro do bando de cangaceiros. O bilhete dizia o seguinte:
"...posso adiantar sem receio que o grupo é numeroso, cerca de 150 homens bem equipados e municiados à farta..."
Coronel Antonio Gurgel do Amaral
Agora o prefeito está sem saída. O capitão era poderoso, e se ele (prefeito) não se
rendesse às suas exigências, a cidade iria ser invadida pelos comandados do facínora. Assim que o mensageiro chegou ao coito improvisado dos cangaceiros, o capitão Lampião foi logo lhe perguntando: - E o que o prefeito coronel Rodolfo Fernandes me mandou dizer, são notícias favoráveis, ou ele está pensando que quem está aqui não é o capitão Lampião? - Capitão, se o senhor ver o tamanho do homem, o senhor vai querer ir logo embora daqui - dizia o mensageiro. Para mim olhar para cara do homem parecia que eu estava olhando para o céu. O bicho (coronel Rodolfo Fernandes) é um verdadeiro animal de grande..., pra mais de dois metros e vinte de altura, ou bicho grande, capitão!
http://tokdehistoria.com.br/
- E você, seu cabra da peste, acha que eu, capitão Virgolino Ferreira da Silva, conhecido mundialmente por Lampião, que sou o homem mais valente que este Brasil já teve, lá de Vila Bela, Pernambuco, vou ter medo de um vara-pau destas terras? Esta Mossoró que se cuide, pois comigo a volta é por dentro! - Capitão! Não é bem assim, capitão! Não se glorie! O povo desta cidade não está morto não senhor! E o que eu vi lá, o que é de ruas estão todas tomadas com trincheiras armadas. Os fardos de algodão não tem bala que perfure. Pelo o que eu vi, são prensados e bem prensados.
Mas na verdade, o capitão Lampião só dispunha de 53 cangaceiros em seu bando, incluindo ele, e havia aumentado o número de homens no bando, justamente para tirar a coragem do prefeito e seus resistentes, já que todos não tinham práticas no uso de fuzis, mosquetão... Mas o nosso prefeito não se intimidou aos arrufos de Lampião, ao contrário, criou bem mais coragem e foi a luta contra o grupo de cangaceiros, que bem próximo de Mossoró, já estava prontinho para dá início à invasão à cidade do sal e dona de um comércio muito movimentado.
O coronel Rodolfo Fernandes não temia, porque não tinha sido feito nas coxas, e logo bateu o martelo. Não iria entregar a sua madrasta a bandido nenhum, que viesse, ele estava pronto para defendê-la. Se era para medir forças, ou até mesmo disputando quem era mais forte, ele, prefeito, era mais, pois tinha patente de coronel, e o Lampião, apesar de uma linda patente, tinha menos poderes do que ele. "- Você é capitão, mas eu sou coronel".
Tinha abraçado aquela função de prefeito, justamente para defender a sua madrasta de quem quisesse a maltratá-la, e Lampião não pensasse que iria levar o que era dela sem nenhum esforço. Para isto, era preciso suar muito, ou então rebolar com os seus comandados.
Mas o capitão Lampião estava certo que iria casar e batizar na terra de Santa Luzia, mesmo sabendo que a cidade era vigiada sobre o seu olhar. E ainda imaginava dizer aos cangaceiros:
"- Eu pensei que Mossoró era uma cidade bem maior, mas é uma ruelinha pequeninha, meninos! Assim que nós abrirmos fogo contra esta gente, vai ser um chororó danado de gente pedindo que a gente pare de atirar". Eu conheço como este pessoal do olho do elefante é frouxo!"
https://www.youtube.com/watch?v=Yz5lGRy2K-U
Mas ele não tinha andado dentro da cidade para ver o seu tamanho. Se tivesse tido tempo de andar, nem tinha colocado balas em sua arma, e nem nas dos outros cangaceiros, porque Mossoró já não mais era uma cidadezinha como ele a tinha na mente.
Finalmente Lampião vem chegando, devagar, com calma, com cuidado, porque os homens da cidade estavam armados até os dentes, e por todos os lugares, haviam trincheiras protetoras, formadas por fardos de algodão prensados.
A cidade estava em desespero. Quase toda população estava em outras partes, distantes da cidade. O que seria de muitos resistentes se caso os bandidos conseguissem vencê-los e os capturassem? O bando não iria ter piedade de nenhum, com certeza passariam pelas mãos vingativas do supremo maior que era Lampião.
E a malta vem chegando, fechando o cerco, passo a passo, quer que o prefeito resolva logo aceitar as suas solicitações, do contrário mortes e destruições serão feitas na cidade. Muitas trincheiras estão por toda parte.
Rodolfo não desiste, já que eles tentam invadir a cidade, a solução é segurar o barco e não se considerar vencido. "- Se formos perder a batalha para esta malta, "barco perdido, tem que ser bem carregado". Mas dizia o prefeito se sentindo futuro vencedor daquele combate. E tome "Mulher rendeira".
Finalmente iniciam o que tanto Lampião esperava. O derrame de balas nas ruas é assustador, aparentando um filme de bang-bang, feito pelo Giuliano Gemma, e irá deixar as ruas escorrendo rios de sangue.
Em um determinado momento, Lampião sente que os resistentes parece que iriam ganhar a guerra. Um dos seus homens já se encontrava no chão, sem vida, o Colchete.
Soldado
João Batista, Cangaceiro Jararaca e o Soldado João Arcanjo
Um chefe de um grupo, pelo menos naquele combate, está ferido, e vai se escorregando para sair do meio do fogo. É o Jararaca que foi alvejado, e pela lateral da igreja São Vicente, vai fugindo, todo arrebentado.
Esta é a Igreja de São Vicente de Paula em Mossoró, e a sua Torre serviu como trincheira para os resistente defenderem à cidade de Mossoró dos absurdos de Lampião em 13 de Junho de 1927 - pt.wikipedia.org
O tiroteio continua, mas Lampião ver que a coisa não é de brincadeira, e dá o seu grito, comunicando aos seus homens, que não vale a pena continuar, os homens de Mossoró são piores do que eles mesmos. Também a cidade tem como padroeira a Santa Luzia. E aos poucos, saem dos locais de ataques, e tomam rumo ao coito improvisado, tomando direção ao Ceará.
Igreja de Santa Luzia em Mossoró - www.kareninefernandes.com
Desta vez, a cidade de Mossoró foi vitoriosa. Ninguém sabe se de outro ataque como este, ela ainda será vitoriosa.
Após o combate, Rodolfo Fernandes de Oliveira Martins reúne seus homens e diz: "Invadir a casa da minha enteada e sair vitorioso, só se for de outra vez. "Te amo Mossoró, minha querida madrasta!"
Nota: O que escrevi faz parte da minha imaginação e não tem valor oficial para a literatura lampiônica, e é apenas no intuito de propagar as fotos do cangaço.