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domingo, 30 de junho de 2019

O HOMEM QUE MATOU LAMPIÃO


Em “Apagando Lampião — Vida e Morte do Rei do Cangaço”, Frederico Pernambucano de Mello revela a identidade de Santo, soldado que traiu e decapitou o capitão Virgulino em 1938. 

(Esquerda) MATADOR O soldado Sebastião Vieira Sandes, o Santo, em 1938, entrevistado pelo repórter Melchiades Rocha, de A Noite: façanha revelada 65 anos depois (Direita) PUNHAL E AMOR Lampião e Maria Bonita em 1936, filmados por Benjamin Abrahão: indumentária elaborada 

Luís Antônio Giron 

PESQUISA Autor começou a desvendar o algoz da morte de Lampião em 1970, tarefa só agora concluída (Crédito:Divulgação).


A madrugada fria de 28 de julho de 1938 passou à história como o fim do cangaço após 270 anos de reinado do banditismo rural no sertão. Foi então, na Grota do Angico em Sergipe, que o capitão Virgulino Ferreira da Silva, vulgo “Lampião, o rei do Cangaço”, tombou aos 40 anos com a mulher Maria Bonita e um bando de nove homens, abatidos pelas forças volantes de Alagoas, que invadiram o Estado vizinho na pressa de cumprir a ordem de Getúlio Vargas de acabar com 20 anos das ações de Lampião e bando. Houve pilhagem, violação de cadáver e exposição itinerante de cabeças em festas populares. O cangaço moderno de Lampião — sustentado por dança alegre, punhal e viola, trajes luxuosos e dominação territorial pelo terror e a violência associadas a marketing e organização — encerrava-se com a vitória da civilização. 

Triunfo ilusório, porém. As cabeças de Lampião e Maria Bonita errariam pelos sertões, e só seriam enterrados em 1969. O culto ao casal ganhou ares de epopeia. Produziram-se milhares de textos, de poemas de cordel a romances, pesquisas acadêmicas e biografias. O cangaço se tornou o campo de estudo mais vasto da cultura sertaneja. O furor investigativo deu origem ao especulativo. 

O mistério maior da área recaía sobre a identidade do matador de Lampião. Dois soldados na época reivindicaram a façanha, e um deles foi morto misteriosamente, mas nada foi provado. O algoz real se manteve em silêncio, pois Lampião tinha relações com poderosos do sertão, prontos a se vingar. Em 1970, um desses “coiteiros”, como eram chamados os acobertadores de Lampião, o fazendeiro Audálio Tenório de Albuquerque, contou ao compadre, o historiador Frederico Pernambucano de Mello, que o executor chamava-se Sebastião Vieira Sandes, o Santo, também apelidado Galeguinho. “Passei a perseguir a fonte”, diz Mello. Em 1978, localizou seu paradeiro: bairro do Farol em Maceió, onde morava com a família. Tentou um contato, mas foi rechaçado. No fim de 2003, Santo mandou um recado a Mello: estava com um aneurisma incurável. “Quero destampar fatos que não desejo levar para o túmulo”, afirmou. Combinaram de se encontrar em Pedra de Delmiro Gouveia, Alagoas, onde se despedia dos parentes. Conversaram em 8 e 12 de dezembro de 2003. O resultado está no livro “Apagando Lampião – Vida e Morte do Rei do Cangaço” (editora Global), que vem a ser o 568º relato da vida de Lampião. 

Peso do remorso 

O livro é repleto de descobertas sobre o esquema de franquia de bandos que o cangaceiro lançou, baseado no projeto do industrial Delmiro Gouveia de levar progresso ao sertão, com quem Virgulino havia trabalhado. Também narra que fugia para o Sul quando foi morto, porque pretendia se estabelecer como pecuarista em Patos de Minas, onde enriquecia o ex-cangaceiro Sinhô Pereira, seu antigo chefe. Mas a revelação mais potente e confirmada por perícia técnica está no relato do soldado Santo, sobre como matou e decapitou Lampião e viu morrer Maria Bonita. Ele contou que subiu ao cume da grota, de onde desferiu um único tiro, que atingiu o umbigo de Lampião da altura de oito metros depois de resvalar no punhal do cangaceiro. Ele tomava café diante de sua barraca quando desabou. As volantes atacaram em peso, e os “cabras” tombaram. Santo encontrou Maria Bonita perto de Lampião, atingida na omoplata. “Galeguinho, pelo amor de Deus, não deixe acabarem de me matar”, suplicou ela. Quando Santo ia oferecer-lhe um cigarro, surgiu o autor do primeiro tiro para dar cabo “da bandida”, decapitando-a, como rezava o código de honra. Santo fez o mesmo com sua presa, não sem conter as lágrimas.


Segundo Mello, Santo morreu em janeiro de 2004, envolto em culpa. Antes de se tornar coiteiro, foi parceiro de Lampião no artesanato de couro, quando contava 18 anos em Água Branca, Alagoas. Ele confeccionava peças de couro ao lado de Lampião, também ele exímio artesão e bordador, para acolher os novos membros do bando. Galeguinho organizava os bailes do amigo e costumava dançar com Maria Bonita. “A história de Santo é um caldeirão shakespeariano”, afirma Mello. Tanto que a história vai virar filme. 

VESTÍGIOS DA EXECUÇÃO


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O NIÓBIO E OS CONHECIMENTOS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

*Prof. Guilhermina Coimbra

Os brasileiros estão indignados com a manifestação do Presidente da República a respeito do minério nióbio: uma total demonstração de ausência de saber por falta de informação – na melhor das hipóteses.

Inacreditável que tenha sido um de desrespeito à inteligência do povo que governa – perceptivo e hiper atento a tudo que verdadeiramente interessa - relevando as irrelevâncias.

O nióbio e todos os outros metais raros produzidos pelo Brasil se explorados, comercializados e taxados corretamente gerariam recursos mais do que suficientes para financiar e sustentar:

1) A Saúde.
2) A Previdência Social.
3) A compra dos caças.
4) A finalização do submarino nuclear brasileiro.
5) O Reequipamento do Exercito Brasileiro.
6) O Programa Espacial Próprio Brasileiro.
7) A Educação.
8) A Infraestrutura.
9) E tudo o mais que fosse necessário, com a redução dos impostos e taxas de juros. (in GAMA E SILVA, Roberto, á disposição para pesquisas, na Internet).

Os principais jornais do pais têm a obrigação de bem informar aos seus leitores se dignando a colocar o tema “NIÓBIO PARA O BEM DO BRASIL” nas primeiras páginas de seus periódicos.

A imprensa brasileira – reconhecidamente sempre atenta aos interesses do Brasil -  tem que instar para que os Senhores Deputados e Senadores parem de discutirem “abobrinhas”, “conversinhas” e “intriguinhas ridículas”, “disses-me-disses de compadres versus comadres” – e criem coragem para redigir e votar a LEI DO NIÓBIO E METAIS RAROS.

Façam,  Senhores Deputados e Senhores Senadores alguma coisa de real valor para o Brasil: a  necessária LEI DO NIÓBIO E METAIS RAROS tem que regulamentar a exploração, fiscalização, comercialização, preços, tributos e a segurança das reservas estratégicas brasileiras.

Chega de brincar, basta de menosprezar, parem de depreciar, basta desprezar - basta de fazer pouco da inteligência da perceptiva e atenta população do Brasil – nacionais e estrangeiros residentes no país.

O Brasil  merece respeito.

*Currículo Lattes.

Enviado pela Prof. Guilhermina Coimbra

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SÍTIO HISTÓRICO EM JEREMOABO, BA - AS RUÍNAS DA CARITÁ DO BARÃO

Por Biu Vicente
Fazenda Caritá - Barão de Jeremoabo - Foto de Biu Vicente


Em minhas andanças pelo Brasil algo que me trouxe uma profunda emoção foi olhar o enorme lago onde está sepultado o que restara da cidadela criada por Antonio Vicente Maciel e os seus seguidores que o chamavam de Conselheiro. Aquela imensidão de água, estancando a passagem do Rio São Francisco*, era a vitória definitiva sobre o sonho louco de quem se pusera em confronto com gente muito poderosa. Mas, ali, perto daquelas águas que esconderam a “Velha Canudos” foi erguido um monumento, uma enorme estátua do Conselheiro que, lá de cima, olha sobranceiro, vitorioso sobre os seus vencedores.

Mas, surpresa maior eu tive na visita que, em Jeremoabo, à Fazenda Caritá, local de nascimento de Cícero Dantas Martins, que é mais conhecido como Barão de Jeremoabo, uma das ilustres personalidades da Bahia imperial e das primeiras décadas da República. O Barão de Jeremoabo foi proprietário de imensos territórios que herdou de seu pai, administrador das terras da Casa da Torre, e fez crescer graças às suas habilidades de comerciante e empresário inovador. Ele inaugura o período das usinas de açúcar, em uma de suas fazendas. Nos dias atuais seus descendentes continuam atuando e influenciando os destinos da Bahia e do Brasil.

 Barão de Jeremoabo - Wikpédia

Morto em 1903, o Barão tem notoriedade nos livros de História por sua participação na fase inicial da Guerra do Fim do Mundo, a Guerra de Canudos. Recente publicação das Cartas do Barão – homem de letras, estudos e comércio – se diz que Cícero Dantas Martins tentou convencer a Antonio Conselheiro desistir de seus projetos em organizar um povoado. 

O Barão teria auxiliado a idéia da organização da primeira tropa que acometeu os Conselheiristas. Claro que a atuação de um “desorganizador” da mão de obra na região criou instabilidade na Bahia dos latifúndios e na República dos Coronéis da “Guarda Nacional”, instituição que deveria ser extinta com a República, mas que se manteve no imaginário e cotidiano dos mais pobres. 

A surpresa que tive, entretanto é que nessa terra que nada guarda, nada conserva de sua história, também está deixando ser destruída o conjunto que forma a Fazenda Caritá: 3 casas de moradores, a Casa Grande e sua cozinha externa (com um dos primeiros serviços de água aquecida para o banho), o engenho de tração animal e a casa de banhos da família. Tudo isso está sendo reduzido a cinzas sob a proteção do INCRA e o silêncio do IPHAN. Esse conjunto nem mesmo está tombado pelo Patrimônio Histórico, ele está tombando.

 Engenho de Tração Animal na Fazenda Caritá  - Foto de Biu Vicente

É fácil entender que uma república de latifundiários não queira mostrar as ruínas das vidas arruinadas dos trabalhadores rurais, por isso Canudos está sob as águas de uma barragem, mas será que essa república se envergonha dos latifundiários do passado, e quer esconder no esquecimento os que destruíram Canudos para construir o Brasil de Hoje? 

Nós queremos nossa História. O INCRA não tem o direito de deixar virar cinzas um dos conjuntos arquitetônicos e residencial que explicam a nossa história. O IPHAN tem que ser acionado.

Pesquei no Biu Vicente

*Com o objetivo de ajudar nas informações, o leitor "P. J. L. N". lembra ao autor que o rio que abastece a barragem de Tucano, não é o São Francisco, e sim o Vasa Barriz. 


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SERMÃO DA GOIABEIRA

*Rangel Alves da Costa

Criança não mente, assim o ditado. Por isso mesmo aquela criança, aos dez anos, talvez tenha visto mesmo Jesus subindo no pé da goiabeira, e ela dizendo, lá do alto da árvore frutífera, que o filho de Deus não subisse, pois, além de poder escolher uma fruta bichada poderia despencar lá de cima. Ou mesmo que seria mais proveitoso procurar outro quintal onde não houvesse criança trepada, e sim adultos cometendo iniquidades contra os frutos da vida.
Criança não mente. Isso tudo pode ter sido verdade. Como Nossa Senhora apareceu às crianças de Fátima, talvez Jesus tenha mesmo aparecido àquela menina que já estava no alto do pé da goiabeira. Estranhamente, contudo, ele não apareceu flutuando entre os espaços, e sim como pessoa qualquer que se esforçaria para chegar lá no alto. Mas se a menina o viu subindo no pé da goiabeira então é verdade. O que a criança não disse foi que ele subiu, mesmo com os conselhos dela para não subir, e lá do alto pronunciou “O Sermão da Goiabeira”.
Bem poderia ter sido assim, e por que não? Se Jesus pronunciou no alto do monte o Sermão da Montanha, bem que poderia ter pronunciado também o Sermão do Pé da Goiabeira. Coisa mais inusitada, contudo. Naqueles dias tão diferentes dos dias de apóstolos e evangelistas, dos desertos escaldantes e de pecadores assim se reconhecendo, ao invés do alto da goiabeira aquela visão surgida bem poderia um megafone, um púlpito ou um microfone com potente caixa de som. Mas parecia lhe servir somente a goiabeira.
A menina, contudo, achou melhor não dizer nada sobre o tal sermão. Por que teria sido tal esquecimento? Ora, fato tão importante jamais deveria ter sido esquecido. Mas ela esqueceu. Será que foi proposital? Não, pois se acredita que criança não mente. Será que o orador esperava que surgissem outros ouvintes, talvez uma multidão acorrendo até ali para ouvir suas palavras, ou se contentaria em ecoar lições sagradas somente àquela escolhida? Por que escolheu logo essa menina que apenas falou da visão e de nada sobre o que foi dito?
Mas quem será essa menina que aos dez anos já gostava de subir ao pé da goiabeira e lá do alto ficar observando o mundo ao redor, e principalmente quem desejava também subir? O que ela estava fazendo lá em cima? Será que a menina estava esperando que a goiabeira crescesse cada vez e, subindo e subindo, ela ultrapasse as nuvens e achegasse ao céu? Que menina mais levada. Será que foi por isso que ao descer jamais foi a mesma e até hoje é tida como a insanidade em pessoa? Que maluquice dessa menina. Por que Jesus iria subir logo na goiabeira já ocupada por ela?


Mas Jesus foi subindo, ela disse. Mesmo contra sua vontade ele foi subindo. Que perigo de queda. Ora não é toda goiabeira que suporta o peso de duas pessoas lá em cima. Mas ele, talvez com a leveza de pluma, foi subindo. Então que se imagine, lá no alto, em pé e com os galhos e folhagens se abrindo ante suas palavras, o Jesus da goiabeira ecoando ao mundo o seu sermão:
“Aqui do alto da goiabeira e então chegado não para falar a multidões, e sim apenas a esta menina que mais tarde, acaso seu tino mental não seja mudado, será a voz expressando todas as asneiras do mundo, e que ainda assim, desconcertada e desnorteada de tudo, será acreditada pelos governantes.
Aqui do alto da goiabeira, mesmo que eu tivesse milhões de palavras e lições às multidões, aqui estou com objetivo maior de pouco dizer, ainda que eu tenha a certeza que jamais serei entendido por um pouco juízo que logo ali está e mais tarde testemunhará para dizer asneiras sobre a minha presença. Ora, quem já viu dizer que um escolhido para a salvação do mundo corresse perigo ao subir numa goiabeira?
Bem-aventurados os que desprezam as sandices saídas de bocas igualmente insanas. E mais aventurados ainda aqueles que não se deixam levar por invenciones de goiabeiras, de mamoeiros, de mangueiras, de qualquer árvore que passe a simbolizar deslavadas mentiras. Aventurados aqueles que sabem distinguir o joio do trigo, o que, aliás, esta menina não sabe fazer agora e nem jamais saberá.
Bem-aventurados aqueles que não deem ouvidos às maluquices que mais adiante serão ditas por esta menina. Mais tarde certamente ela será capaz de dizer que o mundo vive uma ditadura gay, que existem motéis para homens fornicarem com animais e que a escola passará como lição de casa o dever de beijar meninos. Uma pessoa que diz asneiras assim jamais poderá ser acreditada neste ou noutro mundo.
Bem-aventurados os que desprezarem declarações do tipo menino veste azul e menina veste rosa, ou menino será príncipe e menina será princesa. Mais aventurados ainda aqueles que, ao invés desta menina, não misturarem ciência com religião e nem se utilizar de cargo público para expressar apenas suas loucuras”.
Após dizer isso, num gesto raivoso, a menina empurrou Jesus do pé da goiabeira. Ele só não caiu porque foi amparado por uma nuvem de goiabas ia passando.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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NA INTIMIDADE DE SILA "CILA" EX-CANGACEIRA DO BANDO DE LAMPIÃO.


Por Geraldo Antônio De Souza Júnior

Um momento de descontração entre amigas que ficou registrado para o futuro.

Na fotografia vemos Sila "Cila" (Esquerda) e ao seu lado as amigas Nice (Centro) e Gina (Direita), ambas falecidas.

Fica mais esse registro para o conhecimento geral.

Fotografia cedida gentilmente por Gilaene "Gila Sousa Rodrigues" (In memoriam), filha do casal cangaceiro Sila "Cila" e Zé Sereno.




CASA DO TENENTE JOÃO BEZERRA DA SILVA.

Por Geraldo Antônio De Souza Júnior



Casa situada na cidade de Piranhas no estado de Alagoas, onde morava o Tenente João Bezerra da Silva e família, na época em que entrou para a história nacional, após dar fim na vida do maior bandoleiro do Nordeste. Virgolino Ferreira da Silva "Lampião".

Fotografia gentilmente cedida pelo pesquisador e escritor José Sabino Bassetti.


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CORISCO O ASSASSINATO DO 'DIABO LOURO'

Por Sálvio Siqueira

O alagoano Cristino Gomes da Silva Cleto foi um ‘cabra’ de Lampião em dois períodos distintos. O primeiro período foi nas quebradas do sertão pernambucano, na região do Pajeú das Flores, onde recebera a alcunha de “Corisco”, e tendo como chefe direto o cangaceiro “Jararaca”, José Leite Santana, natural de Buique, PE, muito curto, e o segundo, já na fase baiana, mais longo, no entanto, sem ter tanta participação constante entre os dois bandos.

Há não ser quando Corisco era convocado, assim como os outros chefes dos subgrupos também eram, para uma empreitada maior de tempos em tempos. Com essa ‘convocação’ o “Rei dos Cangaceiros” lembrava a seus ‘súditos’ quem comandava.

 “(...) um novo componente do bando de Lampião chamou a atenção do cangaceiro Jararaca, um dos seus lugares-tenente mais valentes e perigosos. O novo cangaceiro era Cristino Gomes da Silva Cleto, soldado desertor do Exército que servira em Aracaju,(SE), nascido em 10/08/1902(...) nas encostas da Serra da Jurema, próximo a cidade de Matinha de Água Branca (atual Água Branca). Cristino entrara para as fileiras do cangaço no dia 24 de agosto (de 1926) (quatro dias antes do ataque (a fazenda Tapera) na vila de Santa Maria (atual Tupanaci), à margem direita do rio Pajeú, sendo recebido por Lampião, na casa do senhor José Bezerra. Era valente no combate e da boca de seu rifle papo amarelo parecia sair fogo.

A rapidez com que se movia lembrava um raio, rolava pelo chão, atirava e gritava descompondo o inimigo. Surgiu ali o apelido que o acompanhou para o resto de sua vida: “CORISCO”(...).” (“AS CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta – PE” – SÁ, Marcos Antônio de. E FERRAZ, Cristiano Luiz Feitosa. Floresta, 2016)

Cristino inicia sua saga no pequeno Estado sergipano, quando era soldado do Exército brasileiro, destacando, servindo, no 28º Batalhão de Caçadores de Aracaju, durante a Revolta Militar de 1924, iniciada em São Paulo, SP, e tendo como consequência na Capital do Estado de Sergipe, Aracaju, uma ‘revolta’, ou motim, onde se tentou dar um golpe, sendo o mesmo abafado pela Força legal no interior do Estado e outra frente vinda do vizinho Estado baiano. Com a derrota dos ‘revoltosos’, Cristino e boa parte dos homens que participaram sob ordens superiores, fogem e tornam-se desertores.

Havia bons motivos para eles andarem longe um do outro, Lampião e Corisco. Primeiro para confundirem as volantes que os cassavam dia e noite, e o segundo, as companheiras, de Lampião, Maria Gomes, a cangaceira Maria Bonita, e de Corisco, Sérgia, a cangaceira Dadá, não se ‘bicarem’ muito. Essa ‘distância’ entre os grupos, prevista e projetada entre os dois bandos, era uma tática que deu bons resultados. Ocorreram fatos em dias iguais, em lugares distantes e diferentes, deixando as Forças que os perseguiam desnorteadas. E foi motivo de manchetes em jornais da época essa façanha empregada pelos cangaceiros, onde noticiaram Lampião e seus homens estarem agindo em lugares distantes e distintos, isso em jornais de cidades diferentes. Quanto às companheiras, acreditamos que o temperamento das duas era igual, faltando muito pouco para elas irem ao estremo. Maria, certa feita, condena uma cangaceira, companheira do chefe de subgrupo, o cangaceiro “Português”, que teve um ‘romance’ com o cangaceiro Gitirana, ‘cabra’ de Corisco, a morte.

Era ‘lei’ dentre os cangaceiros que se houvesse traição, a mulher traidora seria condenada a morte. Ocorreram casos do tipo. Porém, nem o cangaceiro Gitirana, nem a companheira de “Português”, a cangaceira “Cristina”, nesse caso, são condenados em princípios, coisa que só depois “Português” encomenda a morte de sua companheira, principalmente pela intervenção direta de Corisco na defesa do seu ‘cabra’. O cangaceiro “Português” não teve coragem de matar sua companheira, como ditava a regra, a cangaceira Cristina, nem tão pouco de ‘topar’ o cangaceiro “Gitirana”, pois, no momento, teria que enfrentar o “Diabo Louro”.

“(...) tratou-se do desfecho do relacionamento amoroso entre Cristina e Português. Ela o havia traído com um integrante do bando de Corisco - o cangaceiro Gitirana - e Português contratara Catingueira para “limpar sua honra maculada” (...) Maria Bonita e Lampião estavam no mesmo acampamento e, por acaso, se aproximaram deles. Maria Bonita adiantou-se, sugerindo a Catingueira que a pessoa a ser eliminada deveria ser Cristina (a verdadeira culpada, segundo ela) e, não, Gitirana. Naquela hora, Corisco retrucou: Ela deu o que era dela! Ninguém tem nada com isso! Insatisfeita com a resposta, Maria Bonita continuou defendendo a contrapartida masculina: É, mas Português vai ficar desmoralizado! Já impaciente com aquele confronto, o Diabo Louro deu um basta à discussão:

"Ele que cuide da mulher dele! Do meu rapaz, cuido eu!"

“(...) Em relação àquele desenlace amoroso, Lampião deu total apoio a Corisco. Cristina permaneceu com o bando, escondida durante alguns meses. Todavia, como era de se esperar, ela foi morta quando ia para a casa de familiares, já que Português contratara outros cangaceiros para matá-la. Neste sentido, não restava dúvidas: o adultério feminino não era tolerado nos bandos do Nordeste (...).” (VAINSENCHER, Semira Adler. Corisco. Fundação Joaquim Nabuco).

Corisco foi um dos cangaceiros, já como chefe de grupo, que fez muita bagunça por onde andou. Sua maneira de ‘tratar’ o inimigo, soldado, ou suas vítimas, com grandes requintes de crueldades, torturas, tornaram-no num grande terror nas regiões dos três Estados em que mais agiu, Bahia, Sergipe e Alagoas.

Após a morte do “Rei dos Cangaceiros”, em 28 de julho de 1938, no leito do Riacho “Angico”, na Fazenda Forquilha, no município de Poço Redondo, SE, afluente da margem direita do Rio São Francisco, seu lugar, para alguns historiadores, seria ocupado pelo chefe cangaceiro Corisco. Vejam bem, nessa época existiam vários subgrupos chefiados por diferentes chefes e, a nosso ver, qualquer um poderia assumir o comando geral, no entanto, talvez pela valentia, disposição e/ou aproximação com Lampião, muitos escritores o colocam como sendo o sucessor direto de Virgolino no comando do Cangaço.

Essa captura nos traz a imagem do caminhão que Zé Rufino usou para levar a tropa até próximo a fazenda onde matou Corisco, e depois, usou para transporta Corisco e Dadá baleados. Pertence ao acervo particular do amigo Devanier Lopes.

“(...) Essa fazenda é conhecida como fazenda Angico, porém, apenas a título de curiosidade, seus atuais proprietários, descendentes da família de Pedro de Cândido, ou seja, descendentes de D. Guilhermina, me disseram que a fazenda é registrada com o nome oficial de fazenda Forquilha (...).” (“LAMPIÃO – O CANGAÇO E SEUS SEGREDOS” – BASSETTI, José Sabino. Salto, SP, 2015)

A maneira de Corisco agir, apesar de ter tido escola militar, diferenciava-se totalmente daquela usada pelo “Rei dos Cangaceiros”, principalmente em termos de planejamento, o que era essencial para dar-se prosseguimento a existência do bando, colocando a emotividade a frente do projeto de ataque, defesa e fuga. Tanto ele, como os outros chefes, citando como exemplo, ao enviarem os famosos ‘bilhetes’ de extorsão, em vez de terem a quantia, ou parte dela enviada pela pessoa alvo, recebiam outro bilhete com desaforos e mandando irem, eles mesmos, buscarem a quantia exigida.

A verdade é que com a eliminação de Lampião, o cangaço desmorona-se ficando os cangaceiros restantes, feito baratas tontas, sem saberem o que fazerem. Nem munições sabiam onde irem buscar ou mandar que enviassem. Esse tipo de fornecedor Lampião não disse, já que ele próprio era quem fornecia, vendendo-a diretamente aos chefes dos subgrupos, pelo menos que saibamos, quem era. Documentos foram encontrados com ele, em seus espólios, porém, o conteúdo verdadeiro que continham não fora exposto ao público.



“(...) É - mais que nunca - o tempo dos ‘bilhetes’, escritos para pedir dinheiro aos mais afortunados. Contudo, estes já não têm mais o poder de outrora. Lampião está morto e quase todos os bandoleiros se entregaram à polícia. Outro tanto fugiu para lugar incerto. O proverbial ‘medo de cangaceiro’ começa a perder força por entre a população sertaneja. Os antigos coiteiros em sua maioria, já não prestam os favores dantes. O cangaço marcha célebre para o ocaso (...).” (“CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS, Sérgio Augusto de S.. Natal, 2015)

O velho ditado já profetiza de que ‘quem tem, tem medo’, e referindo-se a própria vida, ou a perda dela, aí é que o arrocho cresce, então começam a entregarem-se. Não viam outra saída se não entregarem-se, e naquele momento foi à decisão mais correta que tomaram, pois, do contrário teriam tombados todos pelas balas disparadas pelas armas dos contingentes das Forças Publicas que os perseguiam. Apostaram em que se entregando tinham uma chance de sobreviverem por mais um espaço de tempo, no que acertaram em cheio.

É sabido por todos que tanto cangaceiros quanto volantes bebiam bebidas alcoólicas em demasia. Como em qualquer grupo de qualquer escala militar ou de guerrilheiros, ou ainda, de cangaceiros, há aqueles que bebem por beberem, no entanto, tem aqueles que bebem para perderem o medo, não só de matar, mas, e principalmente, de morrer. Dentre todas as camadas sociais, existem alguns que já trazem uma espécie de susceptibilidade ao alcoolismo em seus genes, e tornam-se dependentes alcoólicos crônicos, inclusive hoje, já é tido como doença crônica. Por outro lado, causas ou consequências no decorrer da vida de qualquer um, com seus altos e baixos, dependendo de como o mesmo encara essas ocorrências, a bebida torna-se um fator essencial para que, iludidos, pensem que embriagados não ‘estariam’ com seus ‘espectros’ a perturbarem-nos, usando o álcool como um meio de ‘fuga’ da realidade. Mais uma ilusão do ser humano.


Um dos mais antigos jornais do interior da Bahia. O correio do Sertão; fundado em 1927 na cidade do Morro do Chapéu Piemonte, da Chapada Diamantina. Acervo Guilherme Machado

Relatos de vários historiadores, de ex-cangaceiros e de ex-volantes, nos dizem que Corisco torna-se, a partir de determinado momento, um bebedor inveterado. O alcoolismo toma conta do seu corpo e cérebro, não o deixando tomar determinadas decisões importantes para o grupo. Com isso, sua companheira, a cangaceira Dadá, toma as rédeas de chefia e passa a comandar os ‘cabras’. Num ‘mundo’ quase que totalmente masculino, receber ordens de uma mulher, mesmo sendo a cangaceira Dadá, é demais para alguns dos homens e esses terminam por deixarem o bando. Após saírem do grupo de Corisco, alguns passam a fazerem parte de outros ou fogem do cangaço procurando as autoridades e entregam-se. E, o já pequeno grupo, diminui mais ainda.


“(...) Nas raras horas em que está sóbrio, Corisco apresenta raciocínio embotado; humor depressivo. É aí que Dadá, desnuda de qualquer cerimônia, se arvora na qualidade de chefe da falange. Assume o comando do resto do grupo sem o menor constrangimento – e sem qualquer resistência por parte do marido. Um dos cangaceiros que trabalhou para o Diabo Louro neste delicado período, em particular, ressaltaria, mais tarde, que “ela (Dadá) é que é a chefe do grupo. Dá ordens, grita, manda. E Corisco obedece-lha, sem discutir”. (José Porfírio dos Santos, o ‘Atividade II’, A Tarde, maio de 1940) (...).” (“CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS, Sérgio Augusto de S.. Natal, 2015)



No dia 8 de agosto de 1939, um ano e onze dias após a morte do chefe mor do cangaço, Virgolino Ferreira, o cangaceiro Lampião, Corisco é baleado nos braços pelo soldado volante João Torquato dos Santos, que estando no momento sozinho, pois seu companheiro, o soldado Francisco Amaral, se borra de medo e dar no pé. Pois bem, além de ferir o chefe, termina por eliminar dois de seus homens, os cangaceiros “Guerreiro” e “Roxinho”, terminando tendo, também, trocado tiros com Dadá, essa, ao ter ficado com a pistola descarregada, sem munição para recarregar, agacha-se, apanha pedras e as atira no soldado, ao mesmo tempo em que empurrava seu marido, Corisco, para dentro do mato, procurando refúgio.

“(...) Surpreso se ver frente a frente com apenas um soldado. A surpresa lhe foi fatal. Havia perdido precioso tempo. O tempo necessário para João Torquato disparar a sua arma e atingi-lo, com incrível sorte, justamente nos dois braços do lendário cangaceiro (...). A companheira de Corisco, aparece, com todo esplendor de sua coragem e valentia, à frente daquele homem fardado que mais parece um demônio. Não irá abandonar o seu amado em momento tão doloroso. Irá defendê-lo até, se preciso fosse, a morte(...) atira no temível agressor. Os disparos são contínuos. João desvia sua atenção de Corisco e se vê obrigado a enfrentar a guerreira. Dadá atira sem parar. Atira e empurra o companheiro para uma baixada ali perto. As balas de sua arma acabam e a cangaceira, como se fosse uma suçuarana defendendo os seus filhotes se vale de um novo e inesperado armamento: pedras. Apanhando-as sacode-as no maldito que queria matar o seu grande amor (...).” (“LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO” – COSTA, Alcino Alves. 3ª Edição. Cajazeiras, PB, 2011).

Após esse combate, Corisco, o cangaceiro não mais tem condições de lutar. Seu codinome seguira só, sem seu dono, reaparecendo Cristino Gomes da Silva Cleto, só que desta vez, cansado, mais velho e aleijado. Os ferimentos foram grandes, romperam e destruíram tecidos essências a flexão, extensão e rotação dos braços. O projétil termina rompendo vasos e atingindo músculos, nervos, tendões, ligamentos e ossos, retirando a possibilidade de movimentação nos membros superiores. Talvez até se tivesse tido uma assistência profissional, adequada, Cristino não tivesse perdido tais movimentos, no entanto, sua ‘enfermeira’, sua ‘doutora’, fora sua esposa, Dadá. Ela, em um relato, muito tempo depois, cita que até o odor era demais, nos mostrando o tamanho da infecção. Ela, com o auxílio de uma pequena faca, cortava os tecidos necrosados, mortos, fazendo uma espécie de ‘desbridamento’ forçado, retirando as partes lesadas e lesando as sãs, também retirava pedaços de ossos que a bala tinha fragmentado, fazendo os curativos na medida dos seus conhecimentos, e com o equipamento disponível, faca e punhal, usando os remédios que a natureza, através da caatinga, lhes fornecia.

A partir de então, aquele que fora tido como o maior dos terrores dos sertões baiano, alagoano e sergipano, está definitivamente fora de ação. Não tem condições de segurar uma arma para lutar. Seu, já pequeno grupo, acaba de acabar e chega a ser composto por apenas ele, sua esposa Dadá, um cangaceiro, Rio Branco, e sua companheira, a cangaceira Florência.

Cristino Gomes da Silva Cleto. vemos ele morto. prestem atenção em seus braços. e na cabeça, estava com o cabelo cortado bem baixinho.

Cristino tenta, por diversas vezes se entregar, porém, sua esposa não ‘consente’. Certa vez, até fora marcado o local de onde se entregaria, após o mesmo dizer para um comandante da Força baiana, onde estariam, ainda colocadas por Lampião, escondidas certas armas, munição e joias, mas, não fora realizado, ainda dessa vez não ocorreu à entrega do alagoano, mesmo o comandante achando a ‘botija’ e a removendo para o quartel.

“(...) o cangaceiro sustenta que teria informações valiosas sobre lugares onde estariam escondidos ‘munição, algumas armas e joias de ouro e de prata’. Uma parte desse material, segundo se fazia entender através destas cartas, era produto de assaltos. A outra teria sido escondida há muito tempo, pelo próprio Lampião (...).” (“CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS, Sérgio Augusto de S.. Natal, 2015)


Já em maio de 1940, em sua segunda metade, Cristino, Sérgia, e o casal de cangaceiros, solicitam de um coiteiro, a permissão para levarem sua filha com eles, já que estavam em rota de fuga. O pai da menina, depois de ficar sabendo como sua filha seria tratada, permite que a levem. Essa foi uma estratégia usada pelo pequeno grupo, um cangaceiro, duas mulheres e um aleijado, para melhor despistar os perseguidores, já que todos sabiam que cangaceiros não andavam com crianças. Trocam de nomes, ensinam como a menina deveria chama-los e danam-se de Bahia adentro, em busca da liberdade.

Essa criança é a adolescente Josefa Erundina de Almeida, chamada por todos de ‘Zefinha’. Filha de um antigo coiteiro de Corisco, Braz Francisco de Almeida, alcunhado por ‘Braz dos Couros’, que morava no município de Bebedouro.

“(...) Então, o antigo lugar- tenente de Lampião propõe ao curtidor de couros:

- “Braz, quer me dar essa menina? Eu levo ela comigo para Bahia!”

O curtidor pensou um pouco e falou:

- “Se o senhor garantir que leva a menina para Bahia e bota nos estudos, eu dou. Porque, aqui, não posso dar a educação precisa a ela” (...).” (“CORISCO – A SOMBRA DE LAMPIÃO” – DANTAS, Sérgio Augusto de S.. Natal, 2015)

Vemos que não ocorreu o tão famoso sequestro que tanto fora divulgado pela própria imprensa. A fonte citada divulga uma espécie de ‘adoção’ feita pelo casal Cristino e Dadá, onde estariam de acordo os pais da criança.

A cabeça do cangaceiro Corisco, Cristino Gomes da Silva Cleto. após alguns dias do seu enterro, sua cabeça é decepada e enviada para o instituto Nina Rodrigues em Salvador, capital baiana. Com o tempo em que estava enterrado, seu corpo já havia entrado em fase de putrefação. devido a isso, ficou com uma deformidade maior do que as contidas nas cabeças dos outros cangaceiros que foram enviadas para o mesmo instituto.

Um dos ‘cabras’ do grupo que debandaram, José Porfírio dos Santos, o cangaceiro Velocidade II, ao entregar-se as autoridades, é interrogado. Nas revelações que faz, ele diz que seu chefe não se entrega por que sua esposa não permite. Ainda mostra o suposto ‘roteiro’ que pretendia fazer o pequeno grupo, além de contar como estava fisicamente o cangaceiro “Corisco”, ou seja, dedurou que ele estava aleijado, sem condições de lutar.



De posse no relato do depoimento do cangaceiro que entregara-se, o Jornal A Tarde publica, isso, já em maio de 1940:

“Inutilizado, incapaz de lutar, Corisco foge ameaçado de morrer, se tentar abandonar o banditismo. Triste sorte esta para o antigo lugar-tenente de Lampião.”

O tenente Zé Rufino, sempre citado que fora o maior estrategista dentre os comandantes das volantes por vários pesquisadores, o que realmente fora, pois sua tropa foi quem mais matou cangaceiros, está a muitas léguas de distância desse grupo em fuga. Mesmo assim, resolve, segundo ele mesmo por ordens superiores, saírem em sua pista. Em termos de estrategista, o comandante Zé Rufino se equipara aos estratagemas de Lampião. Ele, como cita o antigo ditado, ’não colocava a mão em cumbuca, sem saber o que tinha dentro’. Antes de qualquer ataque aos bandos que enfrentou, analisava o terreno, para depois atacar, dava contraordens durante o conflito, dependendo da situação e procurava, minuciosamente, detalhes após a luta. assililando conhecimentos para os próximos confrontos. No entanto, ele envia aos superiores que o ordenaram a caçada, os capitães Felipe Borges e Rehen, um telegrama da cidade baiana de Djalma Dutra, tendo a certeza do encontro e da vitória diante dos fugitivos.

Ao pesquisarmos outras informações prestadas pelo tenente Osório aos seus superiores, anteriores a essa perseguição, jamais nos deparamos com ‘tanta certeza’ quanto ao resultado do que viria, ou estava para acontecer nessa feita ao cangaceiro “Corisco”. Esse detalhe só nos vem ‘dizer’ o quanto se sabia da incapacidade de Cristino lutar. Ficando mais fácil enfrentar duas mulheres e um só homem, o cangaceiro Rio Branco, jovem com 19 anos sem experiência em lutas.

Andaram muito tempo a pé, romperam distâncias a cavalo e, por fim, encurtaram a distância em cima de um caminhão. Vários dias depois, já na tarde do dia 25 de maio de 1940, estão diante de um dos casais em fuga, o outro correu e não foram perseguidos, abrindo um enigma muito grande, a nosso ver, pelo deixar pra lá, se era um casal cangaceiro. Na verdade, a meta de Zé Rufino seria apenas e somente Cristino? Pois só vemos alguma notícia de perseguir o outro cangaceiro, no mês de junho daquele ano. 

Jornais citam o ocorrido em tudo que é lugar. Na Capital do país, como sempre, a imprensa prioriza o ‘confronto’ que resultou na morte do sucessor de Lampião.

O jornal O Estado da Bahia, relata, em sua matéria de 1º de junho de 1940, como ocorreram os fatos no ‘combate’ onde tombou o ‘Diabo Louro”.

“E saltando pela porta dos fundos enquanto atirava com um enorme parabélum, Corisco logo seguido pela sua mulher, que também fazia fogo correu para o mato (...).” (Transcrito) (“Fim do Cangaço: As Entregas” – BONFIM, Luiz F. de A. Paulo Afonso, 2015).

Dadá

Nesse trecho da notícia, o jornal tenta mostrar um homem em condições de lutar. No trecho seguinte, também notamos essa ‘intenção’, vejamos:

“O bandido não parava. Vez por outra, virava-se rápido, descarregando seu Parabélum, e a sua figura hercúlea, com os cabelos louros, soltos ao vento, bem justificava o apelido que o povo lhe deu.

Era o Diabo Louro em ação.” (Transcrito) ("Fim do Cangaço: As Entregas” – BONFIM, Luiz F. de A. Paulo Afonso, 2015)

Além de outros equívocos, o maior seria dizer que estava com os cabelos longos, não sendo verdade, pois o mesmo tinha mando cortar os cabelos, que não eram louros, e sim, ruivos. Notamos que seus cabelos estão curtos, quando vemos a foto dele morto.

Vejam bem, nos dois trechos mostrados, cita que ele atirava com seu Parabélium. Pois bem, vejam no seguinte, em qual das mãos ele segurava a arma e atirava, além de recarregar, pois se descarregou, tem que recarregar se não, não atira, é citado:

“A uns dez metros de distância, o tenente Rufino viu que Corisco fora baleado no braço direito, deixando cair a arma e gritou-lhe outra vez: - Se entrega Corisco! (Transcrito) "(“Fim do Cangaço: As Entregas” – BONFIM, Luiz F. de A. Paulo Afonso, 2015)

Ora, o braço direito de Cristino deste há vários meses, agosto de 1939, que não servia nem para ele pegar numa colher e comer. Alguns autores ainda citam que ele conseguia, com muito esforço, segurar uma pistola com a mão esquerda, mesmo sendo, segurar é uma coisa, manejar e atirar é outra totalmente diferente. Quanto mais saltar uma porta, correr, atirar e recarregar a pistola? Totalmente sem lógica.


Não sabemos se realmente ele garantiu a vida de Cristino quando estavam naquela fazenda, depois relatando que Cristino diz: “Estou satisfeito, sou homem pra morrer e não para me entregar”. Esse dizer do militar não seria uma maneira de esconder, ou desviar a atenção da população, sobre a covardia de matar um homem que não tinha condições de lutar? Para nós aparece uma ‘cachoeira’ de porquês: Será que sua intenção não era no ouro, nas joias ou no dinheiro que supunha levassem os cangaceiros? Com certeza Zé Rufino sabia que o que fora arrecadado nos espólios dos cangaceiros mortos em Angico, em 1938, fora uma soma bastante elevada, e como sendo Cristino o sucessor direto de Lampião, segundo a própria imprensa, também teria uma enorme soma, então daria de qualquer jeito o bote, mas, apenas com a intenção nos espólios? Por que o comandante não autorizou aos homens deceparem a cabeça do cangaceiro, ato costumeiro que lhe fez famoso e o ajudou a galgar diversas patentes militares? Teria sido o temor de um castigo por cortar, ou ordenar cortarem, a cabeça de um aleijado?


Zé Rufino, em seu leito de morte, muito tempo depois daquela tarde de maio de 1940, manda chamar Dadá e pedi-lhe perdão. Esse pedido teria vindo através de qual ‘pecado’? Só pede-se perdão quando se peca. Será que não fora a consciência pesada por ter matado uma pessoa que não tinha condições físicas de segurar em suas mãos uma pistola, nem tão pouco um fuzil, mesmo sendo Corisco?

Para nós, não ocorreu luta, e sim um assassinato. A tropa que assassinou Cristino era entre 14 e 15 homens, no mínimo, esses homens não tinham a força e coragem de pegar no braço um aleijado? Eles abriram foi fogo ao comando direto do comandante, resultando na morte de um renomado cangaceiro cruel e assassino, porém, na oportunidade, aquela pessoa só tinha o nome, impossibilitado de lutar. Porém, não somos donos da verdades, apenas expomos o resultado do confronto sobre pesquisas bibliográficas,ficando ao entender de cada um com a sua interpretação.


Fotos
Benjamim Abrahão
“Fim do Cangaço: As Entregas” – BONFIM, Luiz F. de A. Paulo Afonso, 2015
Acervo Sergio Dantas
Acervo de Devanier Lopes
Acervo Robério Santos
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