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domingo, 22 de setembro de 2019

O CAÇADOR

*Rangel Alves da Costa

Não é todo mundo que acredita em história de pescador ou de caçador. Dizem que é lorota boa ou simplesmente história pra boi dormir. Mas eu acredito, principalmente se o causo envolver aventuras de caçador. E quanto mais arrepiantes melhor.
Eu conheço um caçador que me conta cada uma de não acreditar ou de deixar o cabelo em pé. E assim por que suas caçadas sempre ocorrem no meio da noite e pelos caminhos sempre perigosos e medonhos da escuridão.
Mas Bastião é homem sério. Assim, prefiro acreditar a negar os relatos de suas aventuras no meio do mato, perante as tocas de pedras e tufos nos escondidos. Mas mesmo acreditando, difícil não ficar com alguma dúvida se a história contada aconteceu daquele jeito mesmo.
Segundo Bastião, caçar pelo dia, ainda que aconteçam mais coisas mirabolantes e misteriosas do que se imagina existir, não chega nem aos pés do que acontece depois da boca da noite. O caçador que entra no mato no meio da escuridão pode saber que vai encontrar de tudo, desse e doutro mundo.
Certa feita – nas palavras de Bastião -, caminhava por uma vereda em noite de breu, quando de repente tudo clareou como se fosse dia. Intrigado, já com cabelo arrepiado, olhou adiante e viu como se fosse um cemitério. Só podia ser cemitério, pois um lugar cheio de cruzes fincadas por riba de pequenos montes de terra.
Não pode ser, pensou Bastião. Aqui não há cemitério algum, disse a si mesmo. Encontrou alguma força nas pernas e deu mais alguns passos adiante. E foi quando conseguiu ler na madeira nas cruzes: O tatu que você matou, o peba que você matou, a cotia que você matou, o veado que você matou, a nambu que você matou, a onça que você matou...


E assim por diante. Acima de cada cova a cruz, o nome do bicho e a seguir “que você matou”. O que seria aquilo, pelo amor de Deus? Por que isso? Começou a se perguntar. O problema é que sabia que já tinha matado todo tipo de bicho mesmo. Mas o mais agonizante veio com o que avistou em seguida.
Lá no canto do tal cemitério de bichos, numa cova parecendo maior e com mais quantidade de terra por riba, avistou, conseguiu ler e quase desmaia. Lá estava escrito na cruz: “Aqui é pra você”. Passou a mão pelos olhos, leu novamente e não teve dúvidas do que estava escrito: “Aqui é pra você”.
Tremendo igual vara verde, já sem se encontrar em si mesmo, só lembra que se preparou para fugir dali em correria. Já aprumando o passo na maior velocidade que conseguiu encontrar, foi quando ouviu um barulho e viu quando os bichos começavam a sair de suas covas.
“Ai minha Nossa Senhora do Caçador. Ai minha Nossa Senhora da Cotia e do Guaxinim. Ai minha Nossa Senhora da Onça Pintada. Ai minha Nossa Senhora do Mato, me salve minha Nossa Senhora!...”. Ia gritando enquanto corria desembestado, na certeza maior do mundo de estar sendo seguido pelos bichos mortos.
Não lembra como, só sabe que caiu e ficou desacordado. Acordou já com o dia clareando e com uma caipora bem parada em sua frente. Abriu mais os olhos e viu que o ser encantado das matas e fumador sem igual, estava com feixe de cipós na mão, e em posição ameaçadora. E a ameaça ganhou vida quando ouviu da caipora: “Ei, seu safado, trouxe meu rolo de fumo?”.
Não havia levado. Havia esquecido o fumo daquela vez. Então já sabia o que iria lhe acontecer em seguida. Tomou uma surra tão grande da caipora que chegou em casa mais parecendo um molambo cheio de lanho e dor. Passou uma semana sem poder levantar da cama. E sonhando com aquela cruz: “Aqui é pra você”.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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FATOS DO CANGAÇO

Material do acervo da Fernanda Bezerra
Foto colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio






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DNA PODE REVELAR MORTE DE LAMPIÃO EM 93

Por William França
Este material foi escrito em 13 de novembro de 1996 Folha de São Paulo

ADENDO

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"Observe leitor, que o olho direito do Lampião de Buritis não ficou branco como o de Lampião verdadeiro de Serra Talhada-PE. Mesmo com o defeito o olho do velho permaneceu preto".

ENVIADO ESPECIAL AO NORDESTE E A MINAS GERAIS

O juiz José Humberto da Silveira, da comarca de Arinos (MG), deve decidir nesta semana se autoriza a exumação de um corpo enterrado em Buritis (MG), cidade sob sua jurisdição. Motivo: pode ser o corpo de Lampião, o Rei do Cangaço.

O cadáver é de um fazendeiro que morreu em 93, de parada respiratória. Tinha 96 anos -mesma idade que teria Lampião, se vivo.

Para o fotógrafo mineiro José Geraldo Aguiar, 47, esse homem foi o verdadeiro Lampião. Aguiar levantou a história do fazendeiro e fez o pedido de exumação.




ADENDO

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Já o olho direito do Lampião verdadeiro de Serra Talhada-PE perdeu o preto (pupila acho que é isso, não entendo de oftalmologia) fazendo com que ficasse branco. 

Com a exumação, será possível confrontar o DNA (código genético) do cadáver com o da única filha reconhecida de Lampião e Maria Bonita, Expedita Nunes, que mora hoje em Aracaju (SE).

Se a exumação for autorizada, deverá ser feita pelo IML (Instituto Médico Legal) de Brasília. Consultada pelo IML, Expedita concordou em fazer o exame.

Dez nomes

Há quatro anos e meio, Aguiar recolhe dados sobre um fazendeiro, dono de 300 hectares, que se instalou no início dos anos 50 na margem esquerda do rio São Francisco, na cidade que leva o mesmo nome do rio, em Minas Gerais.



Alguns fatos estranhos cercaram a vida do fazendeiro. Aguiar identificou pelo menos dez nomes diferentes usados por ele.

Adendo:

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"Pra que Lampião se esconder no meio de 10 nomes quando 1 ou 2 eram suficientes para ele não ser reconhecido, e principalmente naquela época que era mais fácil se ocultar? 

A mentira rolou feio"

Tanto que o conheceu como João Lima, os amigos tratavam-no por Luís, na lápide do cemitério está escrito Antônio Teixeira Lima e na certidão de óbito consta o nome Antônio Maria da Conceição.

O fazendeiro morou em pelo menos 15 cidades diferentes com Maria Lima (supostamente Maria Bonita), em quatro Estados (Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Goiás) - além de São Francisco, ele morou em Montes Claros, Irecê e Buritis, entre outros municípios. A tendência foi sempre morar às margens do rio São Francisco.

Com Maria Lima teve dez filhos, o mais velho hoje com 63 anos. Em uma viagem à Bahia, conheceu Severina Alves Moraes, a Firmina, com quem teve uma filha, hoje com 22 anos. Depois da morte de Maria Lima, o fazendeiro passou a morar com Firmina.

Segundo Aguiar, o fazendeiro temia represálias pelos crimes atribuídos a Lampião e, por isso, além de se esconder durante todo esse tempo, só autorizou que sua história fosse contada após sua morte.

Adendo: 

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"Veja bem leitor, que medo fazia a Lampião de ter ido se esconder lá para as bandas de Minas Gerais e não voltar mais a sua terra, quando ele muito sabia que em 1940 Getúlio Vargas tinha indultado todos os cangaceiros, e ele podia voltar o dia que quisesse para rever os parentes e amigos em Serra Talhada e em outras cidades de Pernambuco. E por que isso ele nunca ele fez? 

Após tantas décadas passadas Lampião ainda estava com medo de represália? Quando ainda jovem e procurado pela polícia ele não tinha medo, e depois de várias décadas ainda tinha medo? 

Que mentira boa danada!".

Ainda segundo Aguiar, houve resistência de alguns filhos em revelar a sua biografia. Foi Firmina, com autorização de alguns filhos, quem passou uma procuração que dá amplos poderes ao fotógrafo.

A procuração inclui propriedade sobre a história do fazendeiro e até autorização para exumações.

Aguiar conheceu o fazendeiro casualmente, quando buscava testemunhas numa rua de São Francisco. Ele queria processar a prefeitura da cidade e precisava de depoimentos em seu favor.

"Pego de surpresa pelo meu pedido, assim à queima-roupa, na porta da sua casa, ele mostrou-se arredio. Não quis testemunhar. Contaram-me que ele tinha sido ligado ao cangaço e resolvi investigar. Quanto mais investigava, mais coincidências apareciam com a história do Lampião", contou o fotógrafo ao lembrar como conheceu o fazendeiro.

Aguiar tem documentos e depoimentos apontando evidências de que essa pessoa pode ter sido Virgolino (com "o", conforme certidão de nascimento obtida pela Folha) Ferreira da Silva, o Lampião.

"Ele costumava dizer: 'Homem que é homem não mente. Eu sou o verdadeiro Lampião. Homem nenhum conseguiu matar Lampião, e só Deus será capaz de me matar'." Segundo o fotógrafo, essa frase só foi dita depois de vários meses de conversa entre os dois.

"Ele era um homem muito sério, fechado. Nunca sorria. Falava pouco, com uma voz grossa que lembrava a de Mário Covas (governador de São Paulo)."

Adendo:

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"Sobre a voz grossa do suposto Lampião eu tenho minhas dúvidas. Eu acho que já li, não afirmo com clareza, poderá ter sido um sonho meu, que Lampião não falava fino, mas a sua voz não era de chamar a atenção de ninguém, isto é, grossa como afirma o texto (mas não é afirmação do autor do texto e sim do José Geraldo Aguiar que conheceu bem a voz grossa do suposto Lampião).

 A voz de Lampião verdadeiro estava muito longe da voz do político Mário Covas. Não era a sua voz que o fazia ser respeitado pelos cangaceiros. Ele era respeitado porque nasceu para comandar pessoas do bem ou do mal, e elas todas o obedeciam.  

Quem ainda poderia falar sobre o timbre de voz de Lampião com urgência é a dona Dulce Menezes, que é a única ex-cangaceira da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia" que está viva. 

Os pesquisadores e escritores que moram perto dela poderiam fazer esta interrogação, e um que tem condição de sobra de fazer a ela esta pergunta sobre a voz de Lampião é o  escritor Tião Ruas que é o seu genro, casado com Martha Menezes".

Olho direito

Segundo Aguiar, o fazendeiro tentava esconder o olho direito atrás de grossas lentes de óculos, muitas vezes estilhaçadas, e tinha a pálpebra direita caída.

No cangaço, Lampião sofreu um ferimento no mesmo olho quando jovem e lacrimejava constantemente, além de ter um defeito físico que impedia a abertura total da pálpebra.



ADENDO

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O ser humano em termo de matéria é a cópia do outro ou dos outros. Quem tem problema com um olho ou com os olhos não há diferença. Olhos com problemas que tinha Lampião ou de qualquer um, vivem lacrimejando sem exceção. Por isso não quer dizer que o Lampião de Buritis era o verdadeiro Lampião de Serra Talhada, no Estado de Pernambuco. 

O fotógrafo está concluindo um livro, "Lampião, o Invencível", com depoimentos de 45 pessoas, fotos e cópias de documentos.

Entre os documentos estão uma carteira de identidade e o registro, em um sindicato rural, que deu ao fazendeiro o direito de aposentar-se pelo extinto Funrural.

Os documentos têm assinaturas que serão usadas em exames grafotécnicos (há textos manuscritos de Lampião). Na foto da identidade do fazendeiro dá para ver, claramente, o problema do olho.

História

Virgolino Ferreira da Silva segundo os livros de história, foi morto no dia 28 de julho de 1938 em emboscada na Grota (vale) do Angico, em Poço Redondo (SE) - às margens do rio São Francisco, divisa com Piranhas (AL).



Ele estaria junto com Maria Bonita e outros nove cangaceiros. Todos foram decapitados.


Segundo Aguiar o suposto Lampião morreu com o nome de Antônio Maria da Conceição, em 3 de agosto de 1993, em Buritis (MG). Maria Bonita (oficialmente Maria Gomes de Oliveira), com o nome de Maria Teixeira Lima, teria morrido aos 70 anos, em 3 de agosto de 78, em Montes Claros (MG).


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Maria Bonita nasceu no dia 08 de março de 1911. Se ela morreu em 1978 possivelmente ela estava com 67 anos e não com 70 anos como afirmou os depoentes ao escritor José Geraldo Aguiar.

Informação: Os comentários que eu fiz sobre o texto são apenas as minhas inquietações, assim dizia o escritor Alcino Alves Costa, e não atrapalham os escritores e pesquisadores do cangaço, e não tem valor para a literatura lampiônica


Algumas pessoas estudiosas do cangaço acham que não se deve publicar textos quando não estão de acordo com a literatura lampiônica. Mas na minha humilde opinião acho que devemos publicá-los apresentando as falhas que tem o texto, porque se nós deixarmos as mentiras rolarem soltas elas irão ganhar credibilidade, principalmente confundir a mente dos que estão engatinhando o cangaço. Por isso acho importante publicá-los, desde que seja para mostrar os erros que neles existem.  


"O texto é excelente e não estou duvidando do autor e nem do José Geraldo Aguiar, mas do Lampião de Buritis e dos depoentes de lá, porque Lampião morreu sem sombra de dúvida na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota do Angico nas terras de Poço Redondo, no Estado de Sergipe".


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OITO DÉCADAS DEPOIS, NOVAS DESCOBERTAS REACENDEM DEBATE SOBRE COMO MORREU LAMPIÃO

Raíssa França De Maceió para BBC News Brasil
GEESP - Perícia pedida por historiador deu mais detalhes sobre morte de Lampião (terceiro da esquerda para a direita)

Mais de oito décadas se passaram, e a história ainda não chegou à conclusão de como Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião foi morto. O debate ainda rende entre pesquisadores do cangaço e segue longe de um consenso sobre como se deram os últimos suspiros de Lampião. Há até mesmo quem duvide de sua morte.

Uma novidade trouxe mais elementos a um debate que parece não ter fim. Trata-se de uma perícia feita nas roupas e objetos que estavam com Lampião no dia da emboscada policial na grota do Angico, sertão de Sergipe, em 27 de julho de 1938. Após as mortes, as cabeças de Lampião, sua esposa Maria Bonita e outros cangaceiros foram cortadas e expostas ao público como troféu no Recife.

As peças estavam guardadas intocáveis até então no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – como a operação que caçou o cangaceiro na caatinga foi feita pela Polícia Militar do Estado, Alagoas herdou o material e o guarda como relíquia até hoje.

A análise foi feita pelo perito Victor Portela, do Instituto de Criminalística de Alagoas. A BBC News Brasil teve acesso ao documento inédito, datado de 19 de julho de 2019, que atesta que Lampião teria recebido três tiros.

Mas a morte do rei do cangaço apresenta teses e mais teses. Uma delas é que Lampião e o bando foram envenenados antes do tiroteio, e que a polícia disparou contra o grupo já morto. Há quem defenda que o rei do cangaço não morreu em Angico, mas, sim, um sósia – o verdadeiro cangaceiro teria morrido com 100 anos em Minas Gerais.

 INGRYD ALVES - Segundo perícia, tiro acertou o punhal usado por Lampião e foi desviado para a região umbilical

"Se quiser, conto as duas mil teses que existem sobre a morte", brinca o historiador e jornalista João Marcos Carvalho, autor do documentário ainda inédito Os Últimos Dias do Rei do Cangaço. Foi ele quem pediu ao perito alagoano uma análise das peças, que deve reabrir um debate que parecia ter encontrado seu fim no ano passado, quando o escritor Frederico Pernambucano de Mello publicou livro Apagando Lampião.

Na publicação, o pesquisador do cangaço afirma que Lampião morreu com um único tiro disparado a oito metros de distância pelo cabo Sebastião Vieira Sandes. A versão ainda diz que o tiro certeiro foi dado de fuzil, conforme relatado pelo próprio policial alagoano autor do disparo – que o procurou quando estava com doença terminal em 2003 para revelar o que seria o maior segredo.

Debate

Para Carvalho, a tese de Frederico está errada. Ele diz que Lampião foi morto pela polícia em uma emboscada e estava com outros integrantes do grupo quando foi surpreendido.

Em busca de mais detalhes sobre o enigma da morte do cangaceiro, Carvalho pediu um laudo ao perito alagoano. "Procurei o perito Victor Portela e solicitei a análise daqueles objetos que estavam guardados e nunca tinham sido mexidos", explicou.

À BBC News Brasil, o perito disse que de imediato aceitou a missão. Ainda em 2018, ele iniciou a análise no punhal, nas cartucheiras e nos bornais (tipo de bolsas usadas pelo cangaço) de Lampião. Segundo ele, foram percebidos pontos de impacto e perfurações nos materiais utilizados.

INGRYD ALVES - Perito Victor Portela, que fez análise das roupas e objetos que lampião estava usando na hora de sua mortesua morte

O laudo de Portela diz que foram três tiros. O primeiro deles acertou o punhal, e a bala acabou desviada para a região umbilical; outro atravessou a cartucheira – que era utilizada no ombro – e atingiu o coração; e o terceiro atingiu cabeça.

Para o perito, é impossível saber qual dos tiros – ou se a combinação deles – matou Lampião. Mas ele destaca que sua experiência como perito aponta um dado controverso das teorias até então: os disparos no peito e na barriga não matariam o cangaceiro instantaneamente.

"Ele poderia morrer alguns minutos depois pelo sangramento. Só o tiro na cabeça o mataria rápido, mas não temos como dizer a cronologia dos disparos", explicou.

Um dos pontos novos apresentados no laudo veio da análise dos bornais feitos por Dadá (famosa cangaceira do grupo), que tinham duas marcas de tiros. João Marcos crê que Lampião não teve tempo de vesti-los no momento do tiroteio. "Quando o bando chegou à grota, o local não estava em um silêncio de catedral. Lampião estava vestindo a cartucheira, o punhal e tomou os tiros ali. Não deu tempo de ele vestir os bornais", explicou.

Portela concorda com o jornalista e historiador, revelando que a perícia mostrou que os tiros foram dados de cima pra baixo, e que os bornais não tinham marca de sangue. "Ficou uma incógnita com relação aos bornais, mas quando fiz a sobreposição das cartucheiras com os bornais, vi que não há compatibilidade com nenhum dos disparos", afirmou.

INGRYD ALVES - Perícia também analisou bornais (bolsas usadas pelo cangaço) de Lampião

Neta rechaça ideia de um tiro

Vera Ferreira, neta de Lampião, disse à BBC News Brasil acreditar que a perícia recente sustenta a teoria mais correta a respeito da morte do avô.

Ferreira não acredita na versão de tiro único, nem de envenenamento, muito menos de que seu avô sobreviveu e morreu em Minas Gerais. 

"Quando o corpo do meu avô foi periciado, apontou-se três tiros", disse.
Questionada sobre a versão de que o cabo Sandes ter matado o avô, Vera afirmou que não é possível saber quem matou Lampião. "Quem deu o tiro de misericórdia? Imagine várias pessoas atirando ao mesmo tempo, o mesmo alvo, ninguém sabe", completou.

O 'julgamento' de Lampião

Além da polêmica da forma da morte, a história de Lampião também levanta o questionamento: herói ou bandido? Matar Lampião era um desejo das autoridades brasileiras desde a segunda metade da década de 1930. A ordem foi dada pelo então presidente Getúlio Vargas. Atendendo a pedidos de políticos nordestinos, ele impôs uma longa caçada ao bando.

INGRYD ALVES - Neta de Lampião, Vera Ferreira rebate tese de que cangaceiro morreu com apenas um tiro

Neta de Lampião, Vera Ferreira rebate tese de que cangaceiro morreu com apenas um tiro

Um seminário marcado para 2020, em Piranhas, sertão de Alagoas, vai levar as teses da morte e "julgar" se Lampião era herói ou bandido. "Existem aqueles que defendem que Lampião era bandido, mas alguns dizem que o cangaceiro era uma vítima da sociedade. Vamos analisar isso".

O júri será composto por promotores, juízes, advogados e os historiadores, aos quais serão apresentadas as versões, casos e opiniões.

O perito Victor Portela também contou que na ocasião será apresentado o laudo. "Vamos utilizar a perícia para excluir teorias que não são compatíveis com os fatos que foram levantados. Vamos filtrar e excluir teorias que realmente não batem", disse. "Além do julgamento queremos posteriormente fazer uma análise no local com reprodução simulada para ver os pontos de impacto no local", disse.

Observação: "É um bom trabalho, mas precisa de algumas correções como por exemplo: Lampião morreu no dia 28 e não no dia 27. As cabeças foram para Alagoas e não para Recife...". 


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JOÃO SÁ E VIRGULINO ENCONTRO DO CORONEL E DO CANGACEIRO

Por Rostand Medeiros

Lampião e seu bando, depois de vários anos atuando nos sertões dos estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, passaram a sofrer uma grande perseguição dos aparatos policiais destes estados.

Jornal recifense “A Província”, 
edição de sexta feira, 28 de agosto de 1928, 1ª página.

Ciente da perseguição que as volantes infligiam a seu debilitado grupo, Lampião precisava de repouso para repor as energias, recrutar novos homens e procurar novas áreas de atuação. Nesse sentido, em agosto de 1928, ele resolveu atravessar o grande Rio São Francisco e se internar nos sertões baianos.

Em um primeiro momento, buscando refúgio nas fazendas de novos amigos, Virgulino Ferreira da Silva, o nome real do “Rei do Cangaço”, encontrou nestas paragens a almejada paz para recompor suas forças.

Primeiramente a polícia da Bahia fez vista grossa em relação ao ilustre visitante. Lampião aproveitou para firmar contatos, compor alianças, ampliar sua rede de coiteiros que lhe dariam apoio e proteção.
Propalou que estava “em paz” no território baiano, utilizava a velha cantilena que “havia entrado no cangaço pelos sofrimentos sofridos pela sua família” e que se “houvesse condições”, ele largaria aquela vida em armas e buscaria ficar em paz.

Mesmo divulgando estas novas intenções, não deixou de coagir os fazendeiros baianos, pedindo para estes lhe “ajudar” no sustento do seu bando.

E assim, ao seu modo, durante quase três meses, Lampião e seus cangaceiros viveram tranquilos junto ao povo do sertão da “Boa Terra”.

Foto famosa

Sua primeira aparição pública ocorreu na antiga vila do Cumbe, atual município de Euclides da Cunha, em um sábado, dia 15 de dezembro de 1928.

Ali não houve alterações. Mas o chefe não deixou de fazer uma arrecadação pecuniária com os abonados do lugar e chegou até mesmo a almoçar e beber cerveja com o delegado. A tranquilidade era tanta que deu até para alguns alfaiates do lugar confeccionar novos uniformes para seus homens.

Depois do Cumbe os cangaceiros seguiram para a cidade de Tucano, onde novamente nada de anormal ocorreu. Ali os bandoleiros das caatingas chamaram a atenção de todos, tratavam todos bem e foram bem acolhidos pelos moradores.

Mercado Público de Ribeira do Pombal na década de 1950.

Para Oleone Coelho Fontes, autor de “Lampião na Bahia” (4ª Edição), após a estada em Tucano, o chefe cangaceiro e seus homens, seguiram em direção nordeste, por cerca de 40 quilômetros, até a vila, atualmente município, de Ribeira de Pombal, já próximo a fronteira sergipana. Para este deslocamento consta que Lampião obrigou o padre de Tucano a ceder o seu carro e um motorista.
Segundo o pesquisador baiano, o chefe e mais sete cangaceiros chegaram ao lugarejo às seis da manhã do domingo, 16 de dezembro. Os moradores locais sabiam através da passagem de viajantes, que Lampião encontrava-se em Tucano e que certamente logo chegaria a Pombal.

O intendente local era Paulo Cardoso de Oliveira Brito, mais conhecido como Seu Cardoso, e foi ele quem recebeu Virgulino e seus homens.

Foi ofertado café a todos os bandoleiros e Lampião avisou que não queria brigar com os poucos policiais que estavam de serviço no lugarejo, comandados pelo cabo Esmeraldo. Com a boa hospitalidade oferecida, Lampião se sentiu a vontade e logo procurou saber se havia um fotógrafo no lugar.


A famosa foto de Lampião e seu bando, batida por Alcides Fraga em Ribeira do Pombal e divulgada na edição de quarta feira, 30 de janeiro de 1929, no jornal carioca “A Noite”. Coloquei a notícia na íntegra para que seja visto e analisado o cangaceiros ali nomeados.

Foi chamado Alcides Fraga, alfaiate e maestro da Filarmônica XV de outubro, que prontamente bateu uma chapa. Esta é uma das mais célebres fotografias do ciclo do cangaço, que inclusive circulou com destaque em jornais do Rio de Janeiro, em janeiro de 1929.

Por volta de oito horas da manhã o bando saiu da vila, acompanhados do cabo Esmeraldo, partindo em direção destino ao município de Bom Conselho, atual Cícero Dantas, 30 quilômetros em direção nordeste.

Bom Conselho, atual Cícero Dantas, na década de 1950.

A chegada dos cangaceiros ocorreu em um dia de feira, com o cabo baiano já rouco de tanto gritar: – Viva Lampião! – Viva o Capitão Virgulino!

Apesar deste detalhe, a única outra alteração praticada pelos cangaceiros, foi terem se apoderado dos fuzis dos quatro soldados da polícia baiana destacados no lugar.
Após saírem de Bom Conselho, ainda motorizados, o bando seguiu em direção mais ao norte, cerca de 40 quilômetros, para um pequeno aglomerado de casas denominado Sítio do Quinto.

A hora exata que os facínoras chegaram de caminhão a esta localidade não sabemos, mas lá onde procuraram a casa de José Hermenegildo.

Por volta da meia noite de 16 para 17 de dezembro de 1928, um pequeno automóvel modelo Ford, que transportava três homens, também chegou ao mesmo lugar.

Ao encontro do perigo

Enquanto Lampião e seus homens passavam por Pombal, Bom Conselho e chegavam a Sítio do Quinto, da cidade baiana de Jeremoabo, cerca de 50 quilômetros ao norte, partia um automóvel conduzindo três homens, entre estes estava um dos mais importantes coronéis do interior baiano.


Este era João Gonçalves de Sá, referência regional, prestigiado líder político e rico proprietário de muitas fazendas com grande extensão territorial, que englobava muitos dos municípios da região Nordeste da Bahia. Naquele dezembro de 1928 o coronel João Sá exercia os cargos de presidência da Intendência de Jeremoabo e, pela segunda vez, o mandato de deputado estadual pelo legislativo baiano.

Junto ao coronel João Sá seguia seu pai Jesuíno Martins de Sá e um dos secretários da Intendência de Jeremoabo, o jovem José da Costa Dórea. O destino de todos era Salvador, onde o trajeto naquele tempo exigia seguirem pelo território sergipano e depois todos continuariam o trajeto por via ferroviária, utilizando os trens da ferrovia conhecida como Leste Brasileira.

Segundo nos conta Oleone Coelho Fontes, no capítulo 5 do seu livro “Lampião na Bahia”, através de extenso relato descritivo feito por Dórea (e até hoje, aparentemente, inédito na sua íntegra), devido a um problema mecânico no automóvel, a viagem foi realizada a noite, tendo a saída ocorrido às seis horas.
Mesmo sabendo que o grupo de Lampião circulava pela região, o coronel Sá confiou que guiando durante grande parte da noite, seguindo pelas antigas estradas poeirentas da região, eles poderiam passar despercebidos pelo bando.

Ao realizarem uma parada para tomar café na fazenda Abobreira, o medo de um encontro com Lampião e seus cangaceiros se tornou mais real, pois o proprietário do lugar, José Saturnino de Carvalho Nilo, confirmou que eles estavam nas redondezas. Mesmo assim seguiram adiante, em direção ao lugarejo Sítio do Quinto.

Já na edição do dia 30 de dezembro de 1928 do jornal carioca “A Crítica” (cujo proprietário era o pernambucano Mário Rodrigues, pai do dramaturgo Nelson Rodrigues), na sua página 5, encontramos um relato inédito sobre o encontro do coronel João Sá com Lampião e seus homens.



Nas duas descrições desta aventura, consta que os viajantes de Jeremoabo, ao entrarem no pequeno arruado, viram diante de uma casa um veículo parado, com alguns homens ao seu redor.
A reportagem do jornal carioca informa que um deles estava com um candeeiro. O coronel João Sá imaginou que a casa onde o veículo e os homens estavam deveria oferecer algum tipo de apoio aos viajantes.

Após brecarem, os passageiros do Ford foram cercados por homens armados e intimados a informarem quem eram. Após isso o coronel João Sá descobriu que estava diante do cangaceiro Lampião. E como para confirmar, o homem armado aproximou o candeeiro de seu rosto, mostrando a característico defeito em seu olho.

Momentos entre o Coronel e o Cangaceiro

Em um primeiro momento o medo e o pavor com o que iria acontecer tomou conta dos viajantes, mas o chefe cangaceiro, prontamente lhes garantiu que nada de ruim lhe aconteceria.
Conduzidos por Lampião e seus homens, todos entraram na casa de José Hermenegildo e foram se acomodando em cima de sacos de algodão e de peles de animais, que na época era um produto mais fácil de encontrar no sertão e tinha mercado nas capitais.

O informante Dórea afirma que em certo momento Lampião chamou o coronel João Sá para uma conversa particular na parte de fora da casa, fato que o deixou assustado, imaginando que o chefe político de Jeremoabo seria fuzilado. Mas nada aconteceu.

Enquanto isso Dórea e Jesuíno Martins de Sá, então com 76 anos, entabulavam conversa com alguns cangaceiros, entre estes o irmão do chefe, Ezequiel, conhecido pela alcunha de Ponto Fino. Dórea afirmou que o coronel João Sá não transportava dinheiro vivo, apenas ordens bancárias, assim este lhe chamou fora da casa e lhe solicitou 200$000 réis para dar a Lampião. Este por sua vez deixou que os viajantes do Ford escrevessem cartas as suas famílias, que um portador levaria as missivas para Jeremoabo.


As duas versões apontam que em dado momento a tensão se desvaneceu e o clima ficou mais tranquilo. Segundo o coronel João Sá observou, e assim ficou registrado no jornal carioca, os cabelos do chefe cangaceiro chegavam aos seus ombros, seu uniforme de mescla azul se mostrava já bastante gasto e Lampião trazia um semblante abatido.

Na sequência Lampião pediu a José Hermenegildo que colocasse três redes para acomodar a ele, ao coronel e a seu pai no mesmo quarto. Neste momento o líder político do Nordeste da Bahia pediu ao maior cangaceiro do Brasil que narrasse a epopeia de sua vida. Lampião descreveu as perseguições que sofreu ao longo da vida como bandoleiro das caatingas, mas que estava “a fim de descansar” no sertão baiano.

O coronel João Sá descreveu nas páginas de “A Crítica” que depois das narrativas feitas por Lampião, este foi dormir. Mesmo com a vida atribulada que levava, em meio a tantos combates e com tantas mortes nas costas, o coronel descreveu que o chefe cangaceiro dormiu um “sono profundo”. Mesmo estando em companhia de estranhos “adormeceu como um justo”. Logo todos os homens, “cavaleiros e salteadores”, como descreveu a reportagem, dormiram “confiantes e tranquilos”.

No “tranco”

No capítulo 5 do livro de Oleone, o texto em que José da Costa Dórea conta este episódio sobre Lampião, este afirma que foi ele quem fez a solicitação para que o chefe cangaceiro narrasse a sua vida e que anotou tudo em um bloco escolar.

O livro de Oleone Coelho Fontes, “Lampião na Bahia”. 
Para mim esta é uma das obras mais inspiradoras e interessantes sobre o tema cangaço.

Segundo a opinião do autor de “Lampião na Bahia”, esta entrevista é seguramente a mais longa que o “Rei do Cangaço” fez em toda a sua vida e que seria parte integrante de um livro de Dórea intitulado “Vida e morte do cangaceiro Lampião”. Vale ressaltar que Oleone Coelho Fontes informou em seu livro possuir os originais deste material, mas que, salvo engano, até o momento continua inédito.

Nas páginas de “A Crítica”, nos primeiros albores da manhã, após o despertar, o coronel João Sá comenta a Lampião que na condição de deputado estadual teria de informar as autoridades sobre aquele encontro. Consta que Lampião não se alterou com as palavras do político baiano.
Quando o coronel deu na partida do seu automóvel, provavelmente devido ao frio noturno do sertão, a máquina não pegou. Na mesma hora, vários comandados de Lampião deram uma mãozinha ao coronel João Sá, empurrando o carro que pegou no “tranco” e estes seguiram viagem.

Simpatia ou necessidade?

Dali Lampião continuaria seu caminho pela Bahia e logo a sua lua de mel com os habitantes daquele estado estaria encerrada. O fato se deu com o combate ocorrido no lugar Curralinho, no dia 28 de dezembro de 1928, onde foram mortos o sargento José Joaquim de Miranda, apelidado “Bigode de Ouro” e os soldados Juvenal Olavo da Silva, e Francellino Gonçalves Filho. Depois destas primeiras mortes na Bahia, Lampião e seus homens, ainda no primeiro semestre de 1929, cobrariam um alto preço a polícia baiana. Logo veio o combate do Arraial de Abóbora, em Jaguarary, hoje povoado de Juazeiro, ocorrido no dia 7 de janeiro e que ocasionou a morte de dois soldados. Depois veio Novo Amparo, no dia 26 de fevereiro de 1929, com a morte de mais outros dois soldados. Ainda no primeiro semestre de 1929 temos o sangrento combate do Brejão da Caatinga, município de Campo Formoso, no dia 4 de junho, com a morte de um cabo e quatro soldados.

Quanto ao coronel Sá e sua família, segundo Oleone Coelho Fontes afirma em seu livro (Pág. 39), enquanto Lampião na Bahia jamais ocorreu nada com suas terras e seus protegidos. O pesquisador afirma que, fosse por simpatia, ou por necessidade de preservar seus bens, ou por ter vislumbrando vantagens outras nesta aliança com o grande cangaceiro, o coronel Sá se tornou um dos mais importantes protetores de Lampião na Bahia.

E tudo aparentemente começou naquele encontro divulgado até em jornais cariocas.

Pesquei no: Tok de História

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E eu repesquei no Lampiaoaceso do pesquisador Kiko Monteiro

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