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segunda-feira, 10 de março de 2025

CRÔNICA FEIRA DE CABEÇAS

 De Aurélio Buarque de Holanda (*)-A Carlos Domingos

Aurélio Buarque de Holanda
IN: http://majellablog.blogspot.com.br/2010/05/mestre-aurelio-na-sua-biblioteca.html

De latas de querosene mãos negras de um soldado retiram cabeças humanas. O espetáculo é de arrepiar. Mas a multidão, inquieta, sôfrega, num delírio paredes-meias com a inconsciência, procura apenas alimento à curiosidade. O indivíduo se anula. Um desejo único, um único pensamento, impulsa o bando autômato. Não há lugar para a reflexão. Naquele meio deve de haver almas sensíveis, espíritos profundamente religiosos, que a ânsia de contemplar a cena macabra leva, entretanto, a esquecer que essas cabeças de gente repousam, deformadas e fétidas, nos degraus da calçada de uma igreja.

Cinco e meia da tarde. Baixa um crepúsculo temporão sobre Santana do Ipanema, e a lua crescente, acompanhada da primeira estrela, surge, como espectador das torrinhas, para testemunhar o episódio: a ruidosa agitação de massas que se comprimem, se espremem, quase se trituram, ofegando, suando, praguejando, para obter localidade cômica, próximo do palco.

Desenrola-se o drama. O trágico de confunde com o grotesco. Quase nos espanta que não haja palmas. Em todo caso, a satisfação da assistência traduz-se por alguns risos mal abafados e comentários algo picantes, em face do grotesco. O trágico, porém não arranca lágrimas. Os lenços são levados ao nariz: nenhum aos olhos. A multidão agita-se, freme, sofre, goza, delira. E as cabeças vão saindo, fétidas, deformadas, das latas de querosene - as urnas funerárias -, onde o álcool e o sal as conservam, e conservam mal. Saem suspensas pelos cabelos, que, de enormes, nem sempre permitem, ao primeiro relance, distinguir bem os sexos. Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luiz Pedro, Quinta-Feira, Cajarana, Diferente, Caixa-de-Fósforo, Elétrico, Mergulhão...

Observem à esquerda, a cabeça de Lampião ainda em cima do caminhão.
Fonte: Livro " Iconografia do cangaço " Ricardo Albuquerque.
Adendo Kydelmir Dantas
O escritor Alcino Alves Costa no seu livro: "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistério de Angico" cita os mortos na chacina de Angico, sendo: Lampião, Quinta-feira, Maria Bonita, Luiz Pedro, Mergulhão, Alecrim, Enedina, Moeda, Elétrico, Colchete e Macela. Segundo vários escritores afirmam que a lista dos mortos na madrugada de 28 de Julho de 1938, na Grota de Angico, no Estado de Sergipe, a mais correta é a do escritor Alcino Alves Costa.

 
A multidão se acotovela pra ver de perto o espetáculo bizarro
 Fonte: Livro "Iconografia do cangaço" Ricardo Albuquerque.
- As cabeças!

- Quero ver as cabeças!
Há uma desnorteante espontaneidade nessas manifestações.
- As cabeças. Não falam de outra coisa. Nada mais interessa. As cabeças.

- Quem é Lampião?

Virgulino ocupa um degrau, ao lado de Maria Bonita. Sempre juntos, os dois.
- Aquela é que é Maria Bonita? Não vejo beleza...
O soldado exibe as cabeças, todas, apresenta-as ao público insaciável, por vezes uma em cada mão. Incrível expressão de indiferença nessa fisionomia parada. Os heróis de tantas sinistras façanhas agora desempenham, sem protesto, o papel de S. João Batista...

Sujeitos mais afastados reclamam:
- Suspende mais! Não estou vendo, não!

- Tire esse chapéu, meu senhor! - grita irritada uma mulher.
O homem atende.
- Agora, sim.
A pálpebra direita de Lampião é levantada, e o olho cego aparece, como elemento de prova. Velhos conhecidos do cangaceiro fitam-lhe na cabeça olhos arregalados, num esforço de comprovação de quem quer ver para crer.
- É ele mesmo. Só acredito porque estou vendo.
Houve-se de vez em quando:
- Mataram Lampião... Parece mentira!
Virgulino Ferreira, o rei do cangaço, o "interventor do sertão", o chefe supremo dos fora-da-lei, o cabra invencível, de corpo fechado, conhecedor de orações fortes, vitorioso em tantos reencontros, -Virgulino Ferreira, o Capitão Lampião, não pode morrer.

E irrompe de várias bocas:
- Parece Mentira!
No entanto é Lampião que se acha ali, ao lado de Maria Bonita, junto de companheiros seus, unidos todos, numa solidariedade que ultrapassou as fronteiras da vida. É Lampião, microcéfalo, barba rala, e semblante quase doce, que parece haver se transformado para uma reconciliação póstuma com as populações que vivo flagelara.

Fragmentos de ramos, caídos pelas estradas, durante a viagem, a caminhão, entre Piranhas e Santana do Ipanema, enfeitam melancolicamente os cabelos de alguns desses atores mudos. Modestas coroas mortuárias oferecidas pela natureza àqueles cuja existência decorreu quase toda em contato com os vegetais - escondendo-se nas moitas, varando caatingas, repousando à sombra dos juazeiros, matando a sede nos frutos rubros dos mandacarus.

Fotógrafos - profissionais e amadores - batem chapas, apressados, do povo, e dos pedaços humanos expostos na feira horrenda. Feira que , por sinal, começou ao terminar a outra, onde havia a carne-de-sol, o requeijão de três mil-réis o quilo, com o leite revendo, a boa manteiga de quatro mil reis, as pinhas doces, abrindo-se de maduras, a dois mil-réis o cento, e as alpercatas sertanejas, de vários tipos e vários preços.

Ao olho frio das codaques interessa menos a multidão viva do que os restos mortais em exposição. E, entre estes, os do casal Lampião e Maria Bonita são os mais insistentemente forçados. Sobretudo o primeiro.

O espetáculo é inédito: cumpre eternizá-lo, em flagrantes expressivos. Um dos repórteres posa espetacularmente para o retratista, segurando pelas melenas desgrenhadas os restos de Lampião. Original.

Um furo para "A Noite Ilustrada".


Cabeças dos cangaceiros expostas em Santana do Ipanema/AL
Fonte: Livro " Lampião e as Cabeças Cortadas, pg. 204, Antonio Amaury e Luiz Ruben.

Lembro-me então do comentário que ouço desde as primeiras horas deste sábado festivo: - "Agora todo o mundo quer ver Lampião, quer tirar retrato dele, quer pegar na cabeça...Agora..." Há, com efeito, indivíduos que desejam tocar, que quase cheiram a cabeça, como ansiosos de confirmação, por outros sentidos, da realidade oferecida pela vista.

Desce a noite, imperceptível. A afluência é cada vez maior. Pessoas do interior do município e de vários municípios próximos, de Alagoas e Pernambuco, esperavam desde sexta-feira esses momentos de vibração. Os dois hotéis da cidade, literalmente entupidos Cheias as residências particulares - do juiz de direito, do prefeito, do promotor, de amigos dessas autoridades. Para muitos, o meio da rua.

Entre a massa rumorosa e densa não consigo descobrir uma só fisionomia que se contraia de horror, boca donde saía uma expressão, ainda que vaga, de espanto. Nada. Mocinhas franzinas, romanescas, acostumadas talvez a ensopar lenços com as desgraças dos romances cor-de-rosas, assistem à cena com uma calma de cirurgião calejado no ofício. Crianças erguidas nos braços maternos espicham o pescoço  buscando romper a onda de cabeças vivas e deliciar os olhos castos na contemplação das cabeças mortas. E as mães apontam:
- É ali, meu filho. Está vendo?
Alguns trocam impressões;
- Eu pensava que ficasse nervoso. Mas é tolice. Não tem que ver uma porção de máscaras.

- É isso mesmo.
Os últimos foguetes estrugem nos ares. Há discursos. Falam militares, inclusive o chefe da tropa vitoriosa em Angico. Evoca-se a dura vida das caatingas, em rápidas e rudes pinceladas. O deserto. As noites ermas, escuras, que os soldados às vezes iluminam e povoam com as histórias de amor por eles sonhadas - apenas sonhadas... Os passos cautelosos, mal seguros sobre os garranchos, para evitar denunciadores estalidos, quando há perigo iminente. Marchas batidas sob o sol de estio, em meio da caatinga enfezada e resseca, e da outra vegetação, mais escassa, que não raro brota da pedra e forma ilhotas verdes no pardo reinante: o mandacaru, a coroa-de-frade, a macambira, a palma, o rabo-de-bugio, facheiro, com o seu estranho feitio de candelabro. A contínua expectativa de ataque tirando o sono, aguçando os sentidos.

O sino toca a ave-maria. Dilui-se-lhe a voz no sussurro espesso da multidão curiosa, nos acentos fortes do orador, que, terminando, refere a vitória contra Lampião, irrecusavelmente comprovada pelas cabeças ali expostas. Os braços da cruz da igrejinha recortam-se, negros, na claridade tíbia do luar; e na aragem que difunde as últimas vibrações morrediças do sino vem um cheiro mais ativo da decomposição dos restos humanos. Todos vivem agora, como desde o começo do dia, para o prazer do espetáculo. As cabeças!

A noite fecha-se. Em horas assim, seriam menos ferozes os pensamentos de Lampião. O seu olhar se voltaria enternecido para Maria Bonita.

Que será feito dos corpos dissociados dessas cabeças? O rosto de Maria Bonita, esbranquiçado a trechos por lhe haver caído a epiderme, está sinistro. Onde andará o corpo da amada de Lampião? A cara arrepiadora, que mal entrevejo à luz pobre do crescente, não me responde nada.

E Lampião? Sereno, grave, trágico. O olho cego, velado pela pálpebra, fita-me. (1938).


(*) Autor do mais importante dicionário da língua portuguesa publicado no Brasil neste século. Texto do livro esgotado "O chapéu de meu pai, editora Brasília, 1974.
Fonte:
Diário Oficial Estado de Pernambuco
Ano IX - Julho de 1995
Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço: Kydelmir Dantas

Pescado no http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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Observação: As fotos  foram inseridas por Ivanildo Silveira para enriquecer ainda mais a excelente matéria

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/A%20cabe%C3%A7a%20de%20Lampi%C3%A3o.

CAPÍTULOS CURAÇÁ, NONATO, MAMEDE E LAMPIÃO

 Por Oleone Coelho Fontes

Ninguém, por mais sangue frio, ficou inteiro diante de Lampião. Escutei casos hilariantes beirando o trágico, nos anos em que coligia elementos para a obra "Lampião na Bahia".

Antônio Primo Curaçá, residente em Campo Formoso, contou que, no dia em que se achou frente a frente com Corisco e seus cabras, tremeu de tal modo que teve a impressão de que as carnes do corpo se haviam soltado dos ossos. Horas depois de os delinquentes desaparecerem, Curaçá ainda estava imobilizado, num canto de sala da casa da fazenda onde os facínoras organizaram festa dançante. Como se um raio lhe tivesse caído sobre a carcaça, transformando-a em estátua de sal.

Antônio Nonato Marques84, em 1929, era rapazinho imberbe quando o capitão Virgulino assaltou Queimadas na antevéspera do Natal. Ao assalto seguiu se voz de prisão dada aos sete soldados do destacamento. Nonato Marques, ao escutar sussurro de que Lampião estava naquele meio, passou sebo nas canelas e disparou em direção a Santaluz, distante 40 quilômetros.

Quando passava feito um bólido pelo povoado Rio de Peixe, coincidentemente, matutos treinavam para a corrida de S. Silvestre e pensaram que Nonato fazia o mesmo. Correram-lhe no rastro. Quilômetros adiante, o futuro deputado federal arriscou olhadela para a retaguarda. Teve a impressão de estar sendo perseguido.

Acelerou ainda mais o passo. Em casinha de beira de estrada, estacou, coração em vias de saltar boca a fora, pediu copo d'água e disse:
- Ô dona, estou sendo perseguido desde Queimadas por tropa de cangaceiros. A senhora pode contar quantos são?
A mulher lobrigou vultos lá longe e disse que eram 18 pessoas.

Nonato entornou outro copo d'água e pernas para que te quero. Passou feito meteorito por Santaluz, Valente, Coité, Serrinha e estourou em Feira de Santana, noitinha. Quem estava na Feira naquele dia era o jovem, hoje acadêmico e poeta, Epaminondas Costa Lima. Ao saber que Nonato vinha em carreirão de Queimadas, perseguido por bando de Lampião, tomou a litorina e foi contar ao secretário de polícia, em Salvador, que Feira de Santana estava sendo invadida por cangaceiros. Tropas foram enviadas da capital para a Feira, enquanto Lampião, em Queimadas, fazia a maior farra na casa de Félix Rato.

Mamede
Mamede Paes Mendonça (1915-1995) era proprietário de uma venda no *arraial Ribeirópolis, Sergipe, aí por 1934/35, quando um dia, ao levantar a vista, achou-se diante de indivíduo cor de cobre, cara enfezada e todo aparamentado. Pensou tratar-se de fiscal do imposto de consumo. Murmurou: "Tô campado!". Encarando
com firmeza, viu que se enganara. O cangaceiro perguntou:
- Vosmicê me conhece?
Mamede ainda não era gago. Respondeu:
- Conhecer não conheço não, mas desconfio.
O cangaceiro tirou as dúvidas: "Saiba que vosmicê está falando com o capitão Lampião".
Foi aí que teve início a gagueira de Mamede:
- Api-pa-pois, ca-pi-ta-tão, o que é que o sa-si-nhor, ma-mi-ma-manda?Lampião pediu a féria do caixa, carne de bode, rapadura, perfume, balas para mosquetão e parabelo, conhaque Macieira de 5 Estrelas.
- É ca-qui-qui-ca-claro, ca-pi-ta-tão! o sa-si-nhor, la-li-leva ati-ta-té e veeeenda
ta-ti-toda!


Depois de tão horripilante encontro, Mamede Paes Mendonça resolveu deixar Ribeirópolis e Sergipe. veio para a Bahia e tempos depois era um mega-negociante, mas sempre grato a Lampião.



Oleone Coelho Fontes é jornalista, escritor, pesquisador , cronista, romancista, com especial dedicação aos temas sertanejos, notadamente os relacionados ao cangaço, Antônio Conselheiro, Lampião, Euclides da Cunha. Membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC.

Pesquei no sítio da entidade SBEC.COM.BR

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SERRA NEGRA (PEDRO ALEXANDRE BA) DE ZÉ RUFINO E CORONEL JOÃO MARIA.

 Por: Pedro Son

Zé Rufino, Corisco e Cel. João Maria

É inegável a força, a tradição e a história da Serra Negra; atual município baiano de Pedro Alexandre; como costumava citar o Caipira Alcino Alves Costa: Terra dos Carvalhos. Terra dos lendários coronel João Maria e seu irmão, Liberato Carvalho; base da valente e destemida volante de Zé Rufino, terra de homens de uma coragem incomum como Zé Serra Negra, João Doutor e Serra Negra... Aqui se fez história, aqui está fincada um pedaço dessa importante saga sertaneja ligada ao cangaço.

"De sua Serra Negra, João Maria, enviava ordens, dava instruções, recebia missivas de governantes. Servindo também como conselheiro, não era raro que as decisões políticas importantes somente fossem tomadas após o seu parecer ou aval. Mesmo sendo amigo do poder, de onde extraía seu mando, tinha predileção especial em manter amizade e ajudar o sertanejo, fosse o matuto mais simples ou o perigoso de sangue no olho. Daí que protegeu desde Lampião ao desvalido ex-cangaceiro perseguido pela polícia." Rangel Alves da Costa.

Orlando Carvalho é quem ressalta: "a estratégica localização geográfica da Serra Negra; no nordeste baiano divisa aqui dessa região que englobava boa parte do sertão sergipano ainda Porto da Folha; a força da família Carvalho representada principalmente pelo coronel João Maria e por seu irmão Liberato de Carvalho e posteriormente pela inegável força das volantes ali sediadas principalmente a de Zé Rufino acabou fazendo da Serra Negra um protagonista mais que importante na história do cangaço, principalmente na época do segundo reinado de Lampião; entre 1929 e 1940, após a morte de Corisco".

A emblemática Serra Negra e sua intrigante ligação com o cangaço será o tema principal dos Grandes Encontros Cariri Cangaço desta quarta-feira, dia 09 de junho de 2021, as 19h30 ao vivo no canal do YouTube do Cariri Cangaço. Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço recebe para o programa, o pesquisador e escritor, Conselheiro Cariri Cangaço, Rangel Alves da Costa e o pesquisador, Orlando Carvalho, embaixador do Cariri Cangaço em Pedro Alexandre. O programa promete...

O pesquisador e professor Orlando Nascimento de Carvalho dissecou a forte presença e "interferência do coronel João Maria em quase todas as coisas que aconteciam não só em Serra Negra e região, mas sua influência se estendia até terras sergipanas. Quando Lampião atravessou o São Francisco foi orientado que procurasse três destacados potentados baianos: Cel. Petronilo de Alcântara Reis, o Coronel Petro, chefe político de Santo Antônio da Glória, Cel. João Gonçalves de Sá de Jeremoabo e nosso João Maria de Carvalho, aqui da Serra Negra; pelo incontestável poder desses três coronéis baianos que comandavam a vida de toda essa região sertaneja".

"Em abril de 1929 Lampião pela primeira vez encontra João Maria. Lampião esteve em Serra Negra por três vezes, poucos lugares receberam a visita do rei do cangaço por três vezes, aconteceu em abril de 1929, também no final de 1929 e a última em 1930. Apenas dois filhos de Serra Negra entraram para o Cangaço, aqui na Serra Negra notabilizamos justamente pelo contrário, aqui muitos filhos entraram e se destacaram nas volantes", acentua Orlando Carvalho.

"...um quase poema drummondiano para Lampião: O Tenente Liberato de Carvalho amava seu irmão Coronel João Maria de Carvalho que amava seu compadre Zé Rufino, que amava os dois e que também amava matar cangaceiros. Liberato perseguia o cangaço, João Maria protegia cangaceiro e Zé Rufino ao compadre respeitava. Liberato nunca prendeu Lampião, Zé Rufino nunca arrancou sua cabeça e João Maria viveu seu coronelato sendo amigo de todo mundo."

cZé Rufino, Corisco e Cel. João Maria

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A OUTRA FACE DO CANGAÇO, DE VILELA

Por Wescley Rodrigues 

 

Wescley Rodrigues e Antônio Vilela

No último dia 12 de junho, na cidade de Mossoró – RN, durante o XIV Fórum do Cangaço, foi lançado o livro: “A outra face do cangaço: vida e morte de um praça”, escrito pelo pernambucano de Garanhuns, Antonio Vilela de Souza, um entusiasta dos estudos do cangaço e perseguidor dos relatos pertinentes a essa temática.

A obra versa sobre a vida do soldado da Força Volante alagoana, Adrião Pedro de Souza, nascido em 1 de março de 1915 e falecido no dia 28 de julho de 1938, na Grota do Angico. Adrião foi o único soldado morto por ocasião do ataque que resultou no extermínio do cangaceiro Lampião, sua companheira Maria Bonita e mais nove cangaceiros.

A princípio parece ser mais um livro sobre o cangaço, mas é interessante perguntarmos: “Qual o diferencial da obra?”. Vilela trouxe a tona à história desse soldado que simplesmente, por longos anos, foi esquecido por aqueles que contaram a história do cangaço. Fica a questão: “Mas por que isso aconteceu, haja vista a história ser quase sempre contada pela ótica dos vencedores?”. Aí está o ponto crucial do trabalho de Vilela. Partindo dessa interrogação pulsante, do por que do total extermínio do nome de Adrião dos “anais oficiais da história do cangaço”, ele levanta conjecturas e hipóteses interessantes e por vezes polêmicas. Mexe com feridas até hoje problemáticas quando se fala em cangaço.

Antônio Vilela, Múcio Procópio e Wescley Rodrigues no lançamento da noite

No bojo da obra o autor retoma a questão da amizade de João Bezerra, comandante da força de extermínio de 1938, e Lampião; trazendo depoimentos os quais corroboram na apresentação de João Bezerra como um “coiteiro” de Lampião e fornecedor afinco de munição. Para boa parte das afirmativas da sua obra Vilela baseou-se nos depoimentos dos ex-volantes Sargento Elias Marques e o Sargento Antonio Vieira.

O bombástico do trabalho gira em torno da questão de ter sido Adrião morto pelo tenente João Bezerra, o qual tinha uma divergência com o soldado por compartilharem o desejo pela mesma mulher, Maria Lyra. Além do mais, no depoimento do Sargento Elias Marques, ele afirmou ter ocorrido um desentendimento entre Adrião e Bezerra, devido o primeiro ter levantado suspeitas da amizade entre Bezerra e Lampião.

Placa em homenagem ao soldado Adrião, recentemente fixada na Grota do Angico

A obra de Vilela tem muitas minúcias que merecem maior questionamentos, uma maior reflexão, sendo um livro que serve de trampolim para um enveredar mais consistente nas questões propostas pelo autor. Tendo a obra um caráter narrativo biográfico, Vilela leva-nos a refletir, mediante a apresentação de sua documentação, se teria sido realmente João Bezerra o responsável pelo assassinato de Adrião. Fica a questão...

O livro é ousado. Uma crítica que levanto é a questão da perseguição do autor em tentar apresentar Adrião como um herói e os cangaceiros como bandidos. Acredito não ser esse o caminho. Adrião morreu cumprindo o seu trabalho, no entanto, isso não o qualificaria como herói no último patamar. Evidente ter sido o soldado injustiçado pela história, principalmente por João Bezerra que colocou em Angico uma cruz homenageando os cangaceiros mortos, mas esqueceu do seu colega de armas.

Tirando essa exacerbação da heroicidade de Adrião, fica a título de sugestão para a próxima edição, um maior aprofundamento sobre a relação de João Bezerra e Adrião e o primeiro e Lampião. Isso seria uma grande contribuição para os estudos do cangaço. Como conclui o autor: “O bravo soldado Adrião Pedro de Souza, teve duas mortes: a do fogo amigo – morto por um companheiro de farda; e a do esquecimento – pelo injustificável [...] esquecimento histórico” (SOUZA, 2012, p. 58).

O revisitar a história, por vezes, nos permite se redimir com esta, fazendo justiça aos silêncios, lacunas e esquecidos do tempo. Os novos olhares sobre Angico vêm como luzes profícuas e elucidações de um capítulo conturbado e mal entendido dos estudos do cangaço. Parabéns a Vilela, pela determinação e coragem.

Prof. Ms. Wescley Rodrigues
Sócio da SBEC
Sousa – PB

Sobre a morte do soldado Adrião, ver também artigo de Paulo Britto, neste mesmo blog:
http://cariricangaco.blogspot.com.br/2011/06/homenagem-ao-soldado-adriao-parte-i-por.html

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LANÇAMENTO EM MOSSORÓ - DO LIVRO A OUTRA FACE DO CANGAÇO -DO PROFESSOR E ESCRITOR ANTONIO VILELA.

 Por Ana Lucia Granja Souza

Professor Weskley Rodrigues, Professora Adryanna Karla, Professora Ana Lúcia, Empresária Luzia Paiva, Professor e escritor Antonio Vilela e sua esposa. 

Meu amigo José Mendes, que prazer ler sua mensagem!

Pois é, meu caro, eu estive participando do evento em Mossoró, cidade belíssima, e o tema deste ano foi muito bom e proveitoso para nós, pesquisadores, porque é mais um somatório de conhecimentos e aprendizagens, pois o que move a pesquisa é justamente adquirir o conhecimento, divulgar, insistir, persistir e participar para o crescimento da causa. 

Múcio Procópio, Ana Lúcia e Weskley

E tive uma grande alegria em conhecer sua filha Adryanna e na ansiedade de conhecê-lo, ela me falou que você não pode participar do evento, mas a gente compreende, não tem problema,  e eu sei que brevemente iremos nos conhecer, e este será um grande prazer.

Mendes, na realidade eu pedi pra outro amigo pesquisador tirar umas fotos minhas e do evento e ele prometeu de enviar-me pelo meu e-mail, eu estava sem máquina nenhuma e tive que pedi para outros tirarem, mas se você puder esperar um pouco eu irei receber as fotos e com certeza irei te repassar, foi muito proveitoso este fórum, pois mais uma vez adquirir conhecimento e também a alegria de rever amigos que sempre estamos juntos em outros eventos do cangaço em outras cidades. 

Parabéns pelo seu blog e pode ter certeza no que eu puder colaborar, estou a disposição, confesso que ando muito ausente em todos que participo, mas também a gente tem outra vida não é, e tempo é ouro, mas com certeza eu vou aparecer e comparecer neste blog de tão grande credibilidade que é mendes e mendes, e assim colaborar para que todos que leem o blog, aprendam mais e ajude mais engrandecendo esse cantinho tão bom. muito obrigada, Mendes, por sua lembrança e pode contar comigo, quando precisar. grande abraço.

Saudações Cangaceiras!

Aninha.

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(VÁRZEACAST) ADELSO MOTA- HISTORIADOR E PESQUISADOR Tema: Passagem do Cangaço em nossa região.

Por Várzea Livre Oficial
https://www.youtube.com/live/PAnmKs2gvQU

A história da passagem do bando de Cangaceiros de, Azulão por nossa região, Capim Grosso, Itapeipu, Serrolândia, Várzea do Poço, Mundo Novo, Baixa Grande, Mairi, Maracujá, Mucambo, Saracura, Légua, e todas as Fazendas é vítimas.

(VÁRZEACAST) ADELSO MOTA- HISTORIADOR E PESQUISADOR Tema: Passagem do Cangaço em nossa região. Toda segunda-feira, às 20h, trazendo convidados incríveis: artistas, personalidades públicas, empresários e muito mais! O Várzea Live tem como esse novo quadro (PODCAST- VÁRZEACAST) onde será um espaço visando o compromisso de promover, O projeto “VárzeaCast” tem como objetivo principal fortalecer a presença de pessoas Públicas e privadas de vários setores como: Músicos, Empresários, Autoridades e Artistas local e Regional. #varzealivenews #varzeadopoço #nordeste #varzeaaovivo #várzealiveoficial #aovivo #podcast #assuntosatuais

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DONA FRANCISCA DA SILVA TAVARES VIÚVA DO EX-CANGACEIRO ASA BRANCA

  Por José Mendes Pereira

Dona Francisca está ladeada pelos pesquisadores do cangaço Aderbal Nogueira e Kydelmir Dantas.

1º. CASAMENTO

O cangaceiro Asa Branca fez matrimônio por duas vezes. Ainda na Cadeia Pública de Mossoró casou-se pela primeira vez com dona Sebastiana Venâncio. Ela natural de Mossoró, e com ele teve três filhos, os quais são: José Luiz Tavares (já falecido, Jeová Luiz Tavares (já falecido) e Dijanete Luiz Tavares (até o ano de 2017 ele estava vivo. residindo em Fortaleza. E mesmo dona Francisca sua enteada não sabe se ele ainda está vivo, porque perdeu o contato. 

Cangaceiro Asa Branca.

Mas posteriormente, o seu primeiro casamento foi de água abaixo, e foi a partir daí que os  dois resolveram não mais conviverem no mesmo teto, e cada um procurou o seu destino. 

2º. CASAMENTO

O segundo casamento foi realizado com dona Francisca da Silva Tavares, natural de Brejo do Cruz, no Estado da Paraíba. Ela nasceu no dia 21 de Novembro de 1937, e é  filha de Máximo Batista de Araújo e de Dona Severina Guilermina Silva, ambos paraibanos. Mas o casamento com dona Francisco só aconteceu  dezessete anos depois que ambos já viviam juntos. 

Com o ex-cangaceiro de Lampião Asa Branca, Dona Francisca teve nove filhos, e destes, apenas três estão vivos, os filhos vivos são:

Antonio Esmeraldo Tavares faleceu há 6 anos passados. Eu o conheci pessoalmente.

Nascido no dia 10 de Novembro de 1957, na cidade  de São Bento, no Estado da Paraíba. Tinha como profissão, Motorista.

Francisco Tavares da Silva assassinado por um primo. Não o conheci.

Nascido no dia 14 de Abril de 1959, na cidade de Caridade, no Estado do Ceará. Este foi assassinado aos 24 anos de idade, por um primo, por coisas banais. O assassino foi logo morto. 

Certo dia dona Francisca me falou em sua residência que o Asa Branca não tomou conhecimento do assassinato do filho, vez que toda família temia uma vingança por parte do ex-cangaceiro. 

Maria Gorete Tavares Barbosa. - Conheço-a pessoalmente. Gente fina.

Ela nascida no dia 1º. de Junho de 1960. Atualmente exerce a profissão de artesã de Biscuit. 

Maria da Conceição Tavares da Silva. Conheço-a pessoalmente. Gente fina.

Nascida no dia 25 de Fevereiro de 1963, em Caridade, no Estado do Ceará. Exerce também a profissão de artesã de Biscuit. 

Máximo Neto Batista. Não o conheço.

Nascido no dia 04 de maio de 1964, em Caridade, no Estado do Ceará. Reside atualmente em São Paulo e exerce a profissão de Motorista.

Os demais filhos do casal não foram citados aqui, porque faleceram ainda criancinhas.

 Como  Francisca da Silva Tavares conheceu o "Asa Branca"

No ano de 1954, dona Francisca já era casada e mãe de um filho. Mas nesse período ela contraiu uma doença, ficando por alguns meses  sem andar. Procurando recursos para se livrar da maldita doença que ora a perseguia, soube que na região havia um curandeiro, já de idade. Não foi tão difícil, pois dias depois um velho fazia as curas ao pé de sua cama. O tempo foi se passando, finalmente dona Francisca se livrou da maldita e desconhecida doença. 

Com aquele contato de reza vai, reza vem, os dois findaram  apaixonados. E no ano de 1955, resolveu abandonar  o seu marido e um filho de sete meses, fugindo com o curandeiro, cujo destino de apoio, Mossoró.

Mas veja bem leitor, quem era o curador. Antonio Luiz Tavares, o ex-cangaceiro "Asa Branca", que deve ter aprendido as milagrosas rezas com o seu ex-comandante, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. 

CONTOU-ME DONA FRANCISCA EM SUA CASA EM MOSSORÓ

Pelo que se ver é que dona Francisca da Silva fez o mesmo papelão que fez a rainha do cangaço, Maria Bonita, quando abandonou o sapateiro José Miguel da Silva, o Zé de Neném, para acompanhar o afamado Lampião.

Maria Bonita e Lampião

A única diferença entre as duas é que Maria Gomes de Oliveira a Maria Bonita tornou-se cangaceira, sendo companheira do capitão Lampião. E  Dona Francisca jamais participou de cangaço.

Mas  assim que o seu pai, o Máximo Batista tomou conhecimento que ela havia fugido com o rezador, isto é, o "Asa Branca", mandou dois dos seus funcionários procurá-la por todos os recantos de Mossoró.

Já fazia três dias da permanência do casal em Mossoró, e assim que Asa Branca soube que estava sendo procurado, resolveu fugir às pressas com a companheira para Fortaleza, capital do Ceará. Lá, foi assistido por um médico, o doutor Lobo, que logo solucionou o seu problema, e o empregou em uma mina de ametista.

De Fortaleza, foram morar em Itapipoca, posteriormente para Caridade, e lá o casal teve quatro filhos, mas sempre trabalhando na agricultura.

Anos depois a família mudou-se para Macaíba, já no Estado do Rio Grande do Norte. Com alguns anos passados, Asa Branca resolveu retornar a Mossoró, onde aqui criou a sua família e viveu os seus últimos dias de vida.

Nos anos 70, o Dr. José Araújo, ex-dentista, e diretor de algumas escolas de Mossoró, juntamente com João Batista Cascudo Rodrigues, conseguiram um emprego na FURRN, atualmente UERN, e Asa Branca trabalhou nela até morrer.

CASAMENTO FEITO ÀS PRESSAS PARA SE EMPREGAR

Como Asa Branca necessitava se empregar, e era necessária a sua documentação para ter direito aos benefícios do INSS, e não querendo retornar a sua terra natal, Cajazeiras do Rio do Peixe, na Paraíba, foi feito um casamento às pressas. Ele resolveu ir à cidade  de Porta Alegre, no Estado do Rio Grande do Norte, e lá fez novos documentos.

De documentos em mãos, foi feito o seu casamento com dona Francisca da Silva Tavares, no dia 14 de Janeiro de 1974, no 4º. Cartório Judiciário em Mossoró, Nº. 6.256, fls. 256, do livro B-16, do Registro Civil de Casamento, assinado pelo tabelião Joca Bruno da Mota.

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