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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

MENTOR DE LAMPIÃO

Quem foi Sebastião Pereira e Silva

Nesta edição, o Nossa Folha prossegue com a série de reportagens sobre a vida de líderes de movimentos culturais, sociais e políticos. Última biografia sobre líderes de movimentos culturais, sociais e políticos do Brasil publicada pelo jornal Nossa Folha foi a de Manoel Antônio dos Santos Dias.

Nesta edição, é a vez de Sebastião Pereira e Silva "Sinhô Pereira", nascido em 20 de janeiro de 1896, em Vila Bela, atual Serra Talhada, em Pernambuco, em meio a uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho.

 Sinhô e o irmão Luís Padre

Ocupou posição de destaque na grande saga do cangaço nordestino, tendo sido um dos comandantes. Era neto de Andrelino Pereira, o Barão do Pajeú. Em suas andanças pelo sertão, na vida bandoleira, Sinhô Pereira se comportou como homem honesto e nobre, tendo como meta a vingança de dois parentes, vítimas da violenta luta entre as famílias Pereira e Carvalho, que encharcou de sangue e ódio o vale do Pajeú, desde o ano de 1848.

Era alfabetizado e trabalhava no campo, o que o diferia culturalmente dos outros bandoleiros. Ocorre que motivos familiares levaram-no a ingressar no cangaço, tendo recebido a insígnia de comandante de tropa. Segundo ele, a impunidade em Vila Bela teve seu auge em sua juventude, como no assassinato do seu irmão Né Pereira (Né Dadu), que nem inquérito policial houve.


 Né Dadu
(Acervo Lampião Aceso)


Pressionado politicamente e perseguido por forças policiais, viajou para Goiás e Minas Gerais, onde obteve o título de cidadão mineiro. Foi o único comandante de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) e recebeu dos populares o apelido de Demônio do Sertão, por ser rei nas estratégias de guerrilhas pela caatinga. Por várias vezes, foi cercado pela polícia e conseguiu escapar. Segundo históricos, era homem do bem, embora justiceiro popular.

Abandonou o cangaço por duas vezes. A primeira, em 1918, quando Lampião ainda não integrava seu bando. Sinhô Pereira não se sentia à vontade sendo fora da lei, como acontecia com muitos cangaceiros. Ele contava que tinha nascido para ser cidadão, casar e constituir família.

Em 1918, Sinhô Pereira e seu inseparável primo Luís Pereira da Silva Jacobina (Luis Padre) resolveram recomeçar a vida e deixaram o cangaço. Alguns historiadores afirmam que eles haviam atendido a um pedido do padre Cícero Romão Batista que, por meio de carta, pediu que os primos deixassem a região do Pajeú, que vivia em clima de guerra e medo. Ao receber a resposta favorável, o sacerdote cearense enviou outra carta para padre Castro, no município de Pedro II, no Estado do Piauí, pedindo ao vigário que recebesse os dois jovens e encaminhasse-os para o Maranhão, mas os primos escolheram o Estado de Goiás.

A primeira retirada de Sinhô Pereira para o Estado de Goiás ocorreu em dezembro de 1918. De José do Belmonte, em Pernambuco, foram em direção ao Estado do Piauí. Em Simões, já distante do Pajeú, decidiram se separar para despistar possíveis perseguidores, marcando reencontro no Sul do Piauí, em Correntes, próximo à fronteira com Goiás. Dali, seguiriam até a São José do Duro, corruptela de São José d’Ouro, em Goiás, hoje Estado de Tocantins.

Luiz Padre rumou a Uruçuí, no Piauí. Já Sinhô Pereira seguiu para Corrente, também no Piauí, passando por São Raimundo Nonato e Caracol. Próximo destino seria Parnaguá, mas Sinhô Pereira foi surpreendido pela força policial comandada pelo tenente Zeca Rubens e um contingente de 20 soldados em Caracol.

Na ocasião, a casa em que Sinhô Pereira e seus homens dormiam foi cercada pela força policial. As carabinas de Sinhô Pereira estavam desmontadas, mas depois de um tiroteio, o cangaceiro e seu pessoal fugiram carregando Cacheado, gravemente ferido.

Tido por alguns como “arquiduque do sertão” e, por outros, o rei das guerrilhas na caatinga, mesmo com um grupo de cinco pessoas, conseguiu escapar, pois suas táticas de guerrilha funcionavam.

Ao atingir Nova Lapa, município piauiense de Gilbués, Luiz Padre soube que Sinhô Pereira fora cercado pela polícia do Piauí nas proximidades de Caracol. O primo de Sinhô Pereira resolveu prosseguir a viagem pelo cerrado piauiense, rumo ao Estado de Goiás, passando pela cidade piauiense de Santa Filomena, e perdeu o contato com Sinhô Pereira – que ficou por quatro dias na Fazenda Mulungu, com Cacheado muito ferido, até que o tenente Zeca Rubens mandou-lhe dizer que não o perseguiria enquanto ele tivesse tratando do cabra ferido.

Não resistindo aos ferimentos, o cangaceiro Cacheado morreu nos braços de Sinhô Pereira, que reiniciou a viagem, mas em Jurema, em Piauí, encontrou João de Bola, o cabra que feriu Cacheado, morto em combate por um dos seus homens. A partir deste episódio, a perseguição policial recrudesceu com o tenente Zeca Rubens e seus 40 soldados seguiram as pegadas de Sinhô Pereira que, ao longo das fazendas percorridas, ia trocando de animais.

Novamente cercado pela força policial, quando dormia, 40 léguas para além de Caracol, Sinhô Pereira e seus homens conseguiram furar o cerco policial mais uma vez. Em Tocoatiara Paulista, Sinhô Pereira e seu bando perderam os animais e, em Sete Lagoas, tomaram outros novos, que novamente precisaram ser trocados em Barra de São Pedro.

Nessa ocasião, Sinhô Pereira decidiu voltar ao Pajeú e lutar com seus inimigos, já que não o deixaram buscar a paz e o esquecimento em terras distantes, como era seu desejo. Desanimado, retornou a Pernambuco e desistiu da viagem ao Estado de Goiás. Ali, reassumiu o comando junto dos seus cangaceiros. Assim, em oito dias, estava novamente nas barrancas do Pajeú.

Até que, em 1922, Sinhô Pereira conseguiu deixar o Nordeste no seu segundo e definitivo abandono da vida do cangaço. Desta vez, saiu da Fazenda Preá, propriedade do coronel Napoleão Franco da Cruz Neves, casado com Ana Pereira Neves, sua prima e de Luiz Padre. Foi, então, que Sinhô Pereira entregou o comando do bando para Lampião e resolveu ir aonde estava seu primo, Luiz Padre. Para isso, passou a ter o nome de Chico Maranhão. Assim, Sinhô Pereira e seu primo Luiz Padre nunca foram presos.

 O velho cangaceiro no final da jornada.

O justiceiro popular só voltou a beber das águas límpidas do Pajeú em 1971, quando foi visitar a família em Serra Talhada, em Pernambuco.

Sinhô Pereira faleceu aos 83 anos, na manhã de 21 de agosto de 1979, na cidade de Lagoa Grande, no Estado de Minas Gerais, onde residia naquela época.


 Túmulo de Sinhô Pereira
Foto Ferreira Anjos para o Acervo Cangaçologia de Geraldo Jr.

Pescado no Jornal Nossa Folha

HOMENAGEM A ALTEMAR

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.212

Homenagem ao saudoso maior cantor do mundo (com a minha predileta).

ALTEMAR DUTRA
     (ABANDONO)

Se voltar não faça espanto
Cuide apenas de você
Dê um jeito em nossa casa
Ela é nada sem você

Regue as plantas na varanda
Elas devem lhe dizer
Que eu morri todos os anos
Quando esperei você

Se voltar não me censure
Eu não pude suportar
Nada entendo de abandono
Só de amor e de esperar

Olhe bem pelas vidraças
Elas devem lhe mostrar
Os caminhos do horizonte
Onde fui te procurar

Não repare na desordem
Dessa casa quando entrar
Ela diz tudo o que eu sinto
De tanto lhe esperar

FIM

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/11/homenagem-altemar.html

DO LADO ESQUERDO DO PEITO

*Rangel Alves da Costa


Eu que não danço nem valsa, não tiro o pé do lugar nem em xote nem baião, ainda assim fico todinho arrepiado e estremecido quando o amigo Sávio do Acordeon puxa o fole e começa:  “Nenhuma carta lembrar, e nem um anjo pra me ajudar, será que já me esqueceu, eu não sei, eu preciso só saber. Quantas vezes eu falei, pra que você não me iludisse assim, me deixou sempre a sonhar. Fale agora, por favor, fale agora eu preciso só saber. Meu grande amor diga pra mim aonde está. Diga pra mim qual a razão, dessa triste solidão...”.
Ele sabe que gosto demais dessa música, e até me avisa antes quando vai dedilhar na sanfona o nostálgico romantismo. E quem não gosta de ouvir Sávio, de dançar com os acordes de Sávio, de passar a noite inteira vendo esse menino mostrando sua arte maior, que é a da sanfona? Em sua simplicidade, que o torna sempre o mesmo sobre os holofotes e na roda de amigos, Sávio faz do palco, da sanfona e da voz, a demonstração que Poço Redondo também é culturalmente rico através de seu nome.
Sávio, o tão conhecido e festejado Sávio do Acordeon, é autenticamente sertanejo de Poço Redondo, na região semiárida sergipana. Desde cedo, ainda meninote, que começou a dedilhar sanfona e logo se mostrava com habilidade sem igual na música regional, principalmente o forró. E seu aprimoramento foi tamanho que atualmente é requisitado para shows em toda a região sertaneja e tem cadeira cativa no município alagoano de Piranhas, onde os turistas que por lá chegam se comprazem de sua maestria no acordeon, também cantando magistralmente.
Por isso mesmo que toda vez que se pensar em festa grande, em multidões na Praça de Eventos, o primeiro nome a ser recordado deve ser sempre o de Sávio. E não precisa dizer muito sobre os motivos, apenas que ele é nosso, é da terra e é bom demais. Apenas que Sávio é mestre na sua arte. Então, amigo Sávio, puxe o fole que quero ouvir “Anjo Querubim”:
“Fiz você pra mim, meu brinquedo, meu anjo querubim, meu segredo guardado só pra mim, meu amor mais louco. Até de tanto amar, fiz também algo pra gente ninar, uma criança pra gente adorar, tudo num sufoco. E você não gosta mais de mim, vem dizer que eu não soube dar amor. E achar que a vida é mesmo assim, cada um leva um barco sofredor. Meu baião, coração, arranca essa dor do meu peito pra eu não chorar. Meu baião, coração, arranca essa dor do meu peito pra eu não chorar. Meu baião, coração...”.
Contudo, Sávio, para além da música e do artista, e em pedestal mais alto, está o amigo. E este guardado sempre do lado esquerdo do peito, bem dentro do coração... A você, meu amigo, esta singela homenagem.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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BAIXAS

A terrível morte do cangaceiro "Mariano"  
O cangaceiro Mariano (vide foto abaixo) nasceu no município de Afogados da Ingazeira,PE, no ano de 1898. Seu nome completo era Mariano Laurindo Granja, sendo filho de fazendeiro, de algum conceito.
Entrou para o cangaço, no ano de 1924. Era negro, muito forte, andando sempre com uma palmatória de baraúna dependurada na cintura, com a qual surrava suas vítimas. Acompanhou Lampião por muito tempo, sendo uns dos poucos que cruzaram o Rio São Francisco, em agosto de 1928 com destino a Bahia.

Ele esteve com Lampião na visita a Juazeiro do Norte; participou do massacre na cidade de Queimadas, onde foram mortos 07 soldados. Participou do massacre a Mirandela, distrito de Pombal/BA. Participou do ataque a Aquidabã, SE, em outubro de 1930. Depois, passou a chefiar o seu próprio grupo.

O tenente José Rufino arranca do Raso da Catarina, numa das batidas mais célebres de que se tem lembrança na campanha de repressão ao banditismo, e após cobrir centenas de quilômetros, ao longo do sertão baiano, chega às cidades de Porto da Folha e Gararu, no Estado de Sergipe.

É aí que se encontra com o árabe Abraão Benjamim, cineasta amador, possuído da mania de filmar um combate real e autêntico, entre as volantes e o grupo de Lampião.

Não movia ao árabe o desejo louvável de realizar um documentário histórico, mas a ambição comercial de ganhar dinheiro com a exibição do filme nos cinemas de todas as cidades.

No seu linguajar estropiado e difícil, pede ao tenente José Rufino que lhe facilite a filmagem, admitindo-o, na sua tropa.

A resposta do comandante da volante foi ríspida e dura:
— Dentro de pouco tempo vou brigar com os cangaceiros, mas não sei o lugar e nem a hora e, para ser melhor entendido, nem o senhor e nem ninguém me acompanhará.
Voltou-lhe as costas, bruscamente e, à frente dos seus homens, atirou-se no aberto das caatingas à procura do rastro dos bandidos na terra de ninguém.

Nos meandros da vereda a tropa move-se no passo silencioso dos felinos.
A noite aninha-se devagar no seio da caatinga e pousa sobre a areia, ainda quente, dos despovoados.
O tenente José Rufino encurva em anel a sua tropa e cerca a casa do afamado coiteiro, Mané Véio.

Aqui abro uns parênteses na narrativa de Joaquim Góis (escritor) para um esclarecimento ao leitor.
Como se vê não eram somente cangaceiros, contratados ou soldados que tinham apelidos ou nomes de guerra. Havia na força de Alagoas, nesse tempo, um soldado natural da região de Santa Brígida, aparentado até com Maria Bonita, o nosso amigo Euclydes Marques da Silva, também chamado por Antônio Jacó, e no seio dos seus camaradas conhecido como "Mané Véio".

Foi esse soldado um dos participantes da tropa que o tenente João Bezerra utilizou no combate em que Lampião morreu e foi minuciosamente descrito no livro "Assim Morreu Lampião". Pois esse Mané Véio de que trata Joaquim Góis nada tem a ver com o outro, a não ser a coincidência do apelido.

Prossigamos com a narrativa:

"O oficial sabia de cor e salteado, a história inteira do perigoso delator, a crônica do coiteiro mais astuto e manhoso de Lampião.

Ninguém melhor do que ele possuía a arte da simulação, no modo como guiava os volantes para os lugares e esconderijos de que seu terrível patrão estava sempre ausente.

E o fazia com a simplicidade convincente de quem dizia a verdade, de quem conhecia o roteiro transitado pela horda de malfeitores, cuja pista ele disfarçava na informação errada, na indicação, propositadamente, contrária, rumando para os pontos opostos aqueles em que se ocultavam os bandoleiros.

Os homens do tenente José Rufino vigiam, pacientemente, a casa do esperto coiteiro Mané Véio.
Ninguém entra e ninguém sai. Gritam pelo coiteiro e os seus gritos envolvem tudo. Mané Véio estava ausente, despistando mais uma vítima da sua manobra traiçoeira. Sargento da polícia sergipana, Odon Matias, para a fazenda Barriguda, local apontado por ele e em que Lampião estaria no descanso das longas jornadas.

José Rufino acampa num velho curral, sem perder dos olhos a casa do coiteiro, já agora, ocupada por dois dos seus soldados. Escuta os rumores que correm dentro da noite escura e misteriosa do sertão.

Escuta e espera.Os galos cantavam quando Mané Véio volta à casa. Preso e apresentado a José Rufino, este o interroga a seu modo. Não ameaça, não amedronta e nem espanca. Conversa, argumenta, convence.

Mané Véio já o conhecia pelos pedaços de informações que os outros coiteiros lhe transmitiram. Mentir era inútil e tentar enganá-lo era perder tempo.

Volante de Zé Rufino, sendo ele, na fila da frente, o primeiro da esq. para a direita.

Defrontaram-se, dentro daquele velho curral dois sertanejos formados na ciência dos subterfúgios, na arte das vinganças, no jogo psicológico dos truques entre a verdade e a mentira.

José Rufino bate em cheio no que quer saber e o que diz ao coiteiro é mais uma afirmativa do que uma pergunta:

— Por que você guiou o sargento Odon Matias para a Barriguda, sabendo que os cangaceiros não estavam lá?
— Pra num sê morto pru eles, seu tenente.
— E onde estão os bandidos?
— Tão no Cangalêcho. O sinhô quê eu vô li bota in riba dêles.


Na resposta ao oferecimento do coiteiro é que se reflete e se revela a prudência do tenente Zé Rufino; o cuidado que ele tinha pela vida dos desgraçados, colocados entre as balas dos cangaceiros se os delatassem e o fuzil da polícia se lhe mentissem.

— Não, Mané Véio, você não vai. Preciso de você vivo. Se os bandidos souberem que você fez isso, eles o matarão. Basta que você me diga se existe casa aqui por perto.

— Inziste inhô sim, a coisa dum quarto de légua, vosmicê vai incontrá uma. E pode preguntá qui o dono sabe adonde é o Cangalêcho.

A manhã se retirava das caatingas quando José Rufino encobria-se com a sua tropa, na mataria falha de um chão eriçado de pedras miúdas, contorcido em curvas e aberto em ralos vazios e rentes. Seguir os rastros dos bandidos foi sempre uma tarefa árdua, um quebra-cabeça intrincado, pois, esses filhos do sertão conheciam todos os disfarces do terreno e todos os passes de mágica com que iludiam os menos avisados.

Marginavam caminhos andando sobre as pedras, sobre a face dura do chão, arrastando feixes de matos que lhes apagavam as pegadas. Veredas, entradas, saídas, desvios, cruzamentos, rodeios, curvas, atalhos, todo um emaranhado de acidentes que eles gravavam na memória, mapas vivos desenhados pela experiência de todos os dias.

O sol estava naquelas alturas quando José Rufino dá entrada na fazenda Cangalêcho.

Em torno de uns dos tanques (buracos nas pedras que acumulam água), para espanto seu, a rastaria dos bandidos bate nos olhos de todos, às claras de mais, como feitas de propósito. Mas só na terra que circundava o tanque, pois além poucos metros, o chão estava limpo, sem o menor vestígio de pés humanos na sua superfície. Era tão absurdo o que os olhos de todos viam que deu lugar a que a ignorância do contratado "Capão", alvitrasse esta explicação ridícula:
— Seu tenente! Num será qui os homes tão dentro do tanque!
Os rastros existentes ali, ficavam ali mesmo, nem saíam nem entravam. O tenente José Rufino, homem afeito a todas as surpresas nas coisas e nos acontecimentos do sertão, não atinou com uma explicação para aquilo.

Ele mesmo foi rastejar, procurando ler e adivinhar na página naquele pedaço de terra o significado do que via sem poder compreender. Mandou que dois dos seus homens ficassem de sentinela nas duas entradas dos caminhos, que se dirigiam para o tanque. Um sol de asfixia parava no meio do céu, quando o rastejados Gervásio indica à tropa os sinais da pista por ele descoberta.

Ao mesmo tempo, dois contratados trazem para o tenente um menino de doze anos, conduzindo entre as mãos um embrulho enrolado num lenço vermelho, cheirando a perfume de feira. O conteúdo do embrulho: um quilo de café moído. Os bandidos estavam perto e ninguém duvidava mais que em pouco tempo haveria tiroteio. Interrogado o garoto, nada se pode saber diante da barreira do seu silêncio obstinado.

Nem agrados, nem promessas, nem insinuações, nem presentes, nada conseguiu romper a teimosia daquela criança fechada numa resistência de espantar. José Rufino recorre à medida extrema, advertindo ameaçador ao menino:
— Já que você não quer dizer onde estão os bandidos, vai ser sangrado.
E voltando-se para o contratado "Capão", ordena seca e fingidamente enfurecido:
— Sangre este corninho na goela.
A lâmina do punhal de "Capão" escorrega da bainha, suja de nódoas de ferrugem, mortal como uma serpente, já mordendo a carne tenra da garganta da criança, pára, numa pausa cheia de expectativa."Capão" grita, rouco de raiva:
— Diga aonde tão os bandido seu pestinha ou eu li arranco a muéla pulas costa.
O garoto parece talhado no miolo da aroeira ou da baraúna, rijo, impenetrável, rebelde.
Era bem um símbolo do meio saturado de descrença, indiferente ao medo, fatalista e resignado.

Mudo, inacessível diante das investidas selvagens do contratado "Capão", para tudo e para todos só oferecia uma resposta:
— Num sei de nada, quê matá, mate.
Devia existir um motivo poderoso para a atitude corajosa daquela criança. E havia.

No coito em que se refugiavam os bandidos estava também o coiteiro João do Pão, pai do garoto. Comove a resistência desse pirralho e a gente sente vontade de tê-lo apertado ao peito para beijá-lo pela coragem do seu gesto.

O tenente José Rufino, sertanejo para quem a alma de sua gente é clara e aberta como o sol que incendeia a terra bravia, sabe que aquele rebento novo de uma raça de mártires, resume no seu comportamento toda a história amarga da região oprimida, da parte agreste do Nordeste, onde a vida é uma adivinhação sem esperança de ser explicada. Desiludido de que do mutismo daquele menino não lograria nenhum indício revelador do coito dos criminosos, José Rufino segue o rastejador que a pouco descobrira a pista dos perseguidos.

De súbito, José Rufino sente nas costas a pancada de uma pequena pedra, certeiramente jogada pelo contratado Genésio. Olha para trás, por sobre o ombro e recebe em gestos o sinal do seu comandado, apontando para o lado esquerdo. À sua vista, surgiam, armadas, grotescamente, as barracas dos bandidos, todos absorvidos no jogo, seu vício e passatempo nas horas de folga, passadas na segurança dos coitos".

Vamos reviver a luta e seu desideratum, baseados no que nos contaram o soldado "Bem-te-vi" e o cangaceiro "Criança" que estavam presentes, como já dissemos:
— Nóis tava jogando, no coito, que a gente quando tava discansano u que mais fazia era jogá. Era o Vinti-um, Trinta i-um, Suéca i si passava o tempo jogano. Tinha um na imboscada (de sentinela) i de repente foi tiro. 
— Demorou muito o combate? — perguntei a Criança.
— Olha, num sei, mais num passô di meia hora. E, não foi mais di meia hora. A volante chegô di surpresa, atirando i logo acertaro cumpadre Mariano, i Pavão ou Zepelim não sei bem, vi ferido Pae Véio. Nóis ainda tentamo tira eli, qui tava baliado, mais tornaro acerta eli i mataro, i nóis deixamo nu chão prá podê corre.
Perguntei ao cangaceiro "Criança" (baseado no que Joaquim Góis escreveu e nas conversas que mantivemos por várias vezes na sua casa, em Aracaju):
— Mas dizem que Pae Véio estava vivo quando a polícia entrou no coito e Mariano também.
— Não sinhó, nóis num dexava nunca um baliado, prá num dá o gosto da polícia matá. Quando nóis vimo qui tava morto mesmo foi qui nóis deixamo. Agora, di cumpadri Mariano num sei, nóis tava brigando assim um pouco longe. Quando nóis vimo qui num dava mais prá briga, qui nóis só ia até tê prejuizu maiô, aí nóis corremo.
Novamente ocorreu-me perguntar a "Criança" sobre os que estavam presentes. Pois o livro "Lampião, o último cangaceiro" afirmava a presença de "Deus-Te-Guie" nesse grupo, e no mês de janeiro de 1970, em Paripe, fomos recebidos em sua casa. Levados pela mão amiga de Dadá, estabelecemos conversa e perguntamos se o mesmo estivera presente no fogo do Cangalêcho.
— Não, nunca estive ali. Prá falar a verdade nem mesmo cheguei a conhecer Mariano. Quando entrei pro cangaço foi no grupo de Ângelo Roque, o Labareda, e que já tinha acontecido a morte de Mariano tempos atrás.
Cel. Zé Rufino e soldado "Bem-Te-Vi"
"Criança" respondeu-nos:
— Dali nóis saímos, eu, Santa Cruz, num sei se Pavão ou Zepilim, um dos dois morreu i outro saiu com nóis, Rosinha a mulher de Mariano, i parece que tinha mais um, num sei.
Baseados nas informações de Joaquim, dissemos:
— Não seria o cangaceiro "Diferente"?
— Num sei. Mais acho qui não, "Diferente" era aparentado cum "Zé Sereno" i costumava a andá mais eli. Não mi lembro.
Deixemos os cangaceiros e vamos ouvir o policial, "Bem-te-vi":
"Quando o tenente tirou a pista dos cabras, eli feiz sinal cum a mão prá gente i avançanu cum cuidado, sem fazê baruio. Mais elis tinha um cangaceiro emboscado, qui deu u alarma. 
O tiroteio cerrou-se pur poco tempo, nóis peguemo elis de surpresa i cum coisa di u'a meia hora já tava acabado. Aí fomo terá arguma pista dus qui fugiro, prá vê si tinha argum baliado. Argum sangue qui deixasse, nu chão, nas fofa di mato. Num tinha. Vortemos pru coito onde tava as barraca qui elis; tinha armado. Tinha trêis pessoa caída. U coiteiro qui tava jogano cum elis i foi baliado i tava morto, dois cangacero ferido quase morreno i otro qui elis quizero arrastá cum elis quandu fugiro tinha caído mais longe um poco i nóis cortemo a cabeça i trotemo prá li.
O tenente Zé Rufino discubriu qui um dos baliado era o chefe delis, Mariano". 
Aqui vamos abrir novamente um parênteses e voltar ao nosso escritor Joaquim Góis, que nos conta a cena do fim de Mariano.

"Aproximando-se novamente de Mariano, José Rufino chama 'Bem-Te-Vi' e, mostrando-o ao inferior, explica-lhe:
— Este é o assassino do seu pai. Você pode saciar a sua vingança. Ele ainda está vivo.
" Bem-Te-Vi "', como um louco, saca do punhal escanchase no quase cadáver de Mariano e sua mão sobe e desce em golpes. brutais. Apunhala com tanta fúria o corpo do bandoleiro, que se ouve aquele ranger estridente e áspero da ponta da arma branca atravessando as carnes e os nervos da vítima, furando e mordendo a terra seca ". Jamais um homem matou com tanta alegria, com tanta volúpia, com tanto sadismo.

Era a vingança do filho estraçalhando o corpo daquele que abatera, friamente, o autor da sua vida. Era a lei, a terrível e inflexível lei das caatingas." Voltemos à conversa com o soldado, "Bem-te-vi", cujo nome real é Severiano:
— Nóis peguemos as armas dos cangacero, us anéis, u dinheiro, us borná, punha, cartuchera, u qui tinha ali se pegô. Já tinham cortado a cabeça de Pae Véio i do otro cangacero i nóis vortemos prá dondi tinha ficado Mariano ...
Recorremos novamente à pena vibrante do escritor Joaquim Góis. "O que vê estarrece e assombra.

O cangaceiro a quem o punhal vingativo de ' Bem-te-vi ' e balas de José Rufino haviam prostrado como morto, vivia ainda e num esforço que se poderia chamar de o milagre do desespero, ensaiava levantar-se.

Os dedos enorme e crispados tentavam afastar dos olhos enevoados a pasta dos cabelos empapados de sangue, a cabeleira escorrendo uma espécie de mingau feito de suor e sangue. Ele todo era uma sangria, um corpo todo aberto em talhos profundos de punhal, de pedaços de aço incandescentes que as descargas da polícia despejaram sobre ele.

Uma visão para não se esquecer.

`Bem-te-vi' ao ver Mariano vivo contra todas as probabilidades do possível, face ao número absurdo de punhaladas que ele sofreu das suas próprias mãos e dos balaços recebidos, desembainha a Colt e encostando-a no peito do assassino de seu pai, prepara-se para o tiro de misericórdia.

Corta o ar a advertência de José Rufino:
— Tenha cuidado com a cabeça que eu preciso dela.
Detonações ensurdecedoras, à queima-roupa, perfuram o corpo já todo esburacado de Mariano e a resistência física do bandido pára na imobilidade da morte". Bem, esse foi o fim desse chefe de grupo, do qual todos os companheiros, com quem tenho conversado, gostavam. Aliás, até mesmo alguns paisanos falam favoravelmente a Mariano.

Dizem que era um dos que tinha mais humanidade e benevolência. Afirmam até que era incapaz de uma crueldade. Teria sido mesmo ele o autor da morte do pai de "Bem-te-vi"? Segundo os companheiros, é impossível!

 Findaram caboclos, em 10 de outubro de 1936

Ué, dois Zeppelins?


No último Seminário Cariri Cangaço a maioria dos pesquisadores presentes, analisando fatos posteriores concordaram que esse último seria o cangaceiro "Pavão" e não Zepellim como identificado na legenda. Atualizada em 07 de Outubro de 2010

Bem, esse foi o fim desse chefe de grupo, do qual todos os companheiros, com quem tenho conversado, gostavam. Aliás, até mesmo alguns paisanos falam favoravelmente a Mariano.

Dizem que era um dos que tinha mais humanidade e benevolência. Afirmam até que era incapaz de uma crueldade. Teria sido mesmo ele o autor da morte do pai de "Bem-te-vi"?
Segundo os companheiros, é impossível!

 E Rosinha?

Mas vejamos o fim de sua companheira Rosinha. Ela e sua irmã Adelaide (que também estava em adiantado estado de gravidez, como já o dissemos), escaparam com vida e acompanharam os sobreviventes.

Estabeleceram um coito num pé de serra e aguardaram a hora do nascimento das crianças.
Chegou por fim o dia e mais uma desgraça abateu-se sobre o grupelho. Adelaide morreu do parto e o bebê também. A criança de Rosinha foi enviada a um padre.

Pouco depois encontraram-se com outros grupos. Murmúrios. Confabulam os chefes de grupo, os maiorais do cangaço opinam. Uns acham que a "viúva" pode e deve continuar no grupo de qualquer maneira. Outros são de opinião que deve ser mandada para casa de parentes e calar a boca.

Luiz Pedro se faz porta-voz de um grupo que conseguira convencer com sua argumentação. Achava, esse grupo, que toda mulher cujo companheiro morresse, e a mesma não achasse um substituto nos bandos, deveria ser eliminada para que o segredo dos "pontos", dos coiteiros não fossem revelados, colocando em perigo a segurança dos fornecedores e protetores.

Corisco foi contra essa tese. Dizia que encontraria outros "pontos", outros abastecedores de armas e munição. Foi voto vencido.

Rosinha teve o azar de não despertar o desejo do concubinato em nenhum dos companheiros. Luis Pedro fez valer seu parecer, sua sentença. As últimas frágeis resistências foram facilmente vencidas.

Enviaram Santa Cruz, Criança e outros elementos que tinham pertencido ao grupo de Mariano buscar munição em um "ponto" distante Removido esse primeiro obstáculo, disseram à Rosinha que ela seria mandada para a casa dos pais. Apronta-se para viajar.

Seu companheiro de jornada seria Pó Corante, o segundo, pois o primeiro com esse apelido foi morto juntamente com Nevoeiro e Jurema lá para os lados de Macururé, já levando ordens precisas dos chefes de como deveria agir.

Pó Corante ao retornar prestou contas a quem lhe incumbira de executar tão traiçoeira missão.

Rosinha fora morta a punhal e enterrada em cova rasa no meio de uma caatinga brava. Outra versão diz que Pó Corante eliminou-a durante a travessia do Rio São Francisco, quando a canoa em que viajavam estava próxima da margem alagoana, e o cadáver atirado às águas.

Adendo:
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O livro "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico" do escritor Alcino Alves Costa conta que Rosinha havia pedido permissão a Lampião para visitar os seus familiares, e ele ordenou, mas  dizendo que ela não se demorasse. Rosinha foi e não ligou para o que dissera Lampião. Dias depois, Lampião mandou cangaceiros até à casa dos seus familiares e lá a mataram. 

Adquira-o através deste e-mail: franpelima@bol.com.br

FONTES BIBLIOGRÁFICAS :

1º) Lampião as mulheres e o Cangaço - Antonio Amaury Correia de Araújo;

2º) Lampião - O último Cangaceiro - Autor: Joaquim Góis

3º) Lampião e o Estado Maior do Cangaço - Hilário Lucetti

4º) O cangaceirismo no Nordeste. Bismarck Martins de Oliveira.

5º) Lampião na Bahia - Autor: Oleone Coelho Fontes.


Um abraço a todos.
IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço.


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ALFREDO BONESSI

OS ETERNOS MISTÉRIOS DE ANGICO!

A presente postagem é resultado de espetacular entrevista feita pela pesquisadora Juliana Pereira com o confrade capitão Alfredo Bonessi. (Foto)

Carissíma Juliana;

Todas as respostas as suas perguntas serão de minha parte “possivelmente” – não temos como afirmar com precisão o que realmente aconteceu na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota de Angicos – Sergipe, onde foram mortos 11 cangaceiros pela tropa volante comandada pelo Tenente João Bezerra da Força Alagoana. Quem estava lá e quem esteve lá, deixou de esclarecer a pura verdade - aquilo que hoje interessa a todos nós. Temos ainda um volante vivo e dois cangaceiros vivos (acredito) – os cangaceiros somente contarão a versão deles, onde estavam no momento do ataque, o que eles fizeram para escapar do tiroteio, depois aonde aconteceu a reunião do grupo qual foi lugar, o rumo que cada um tomou depois dessa reunião e nada mais.

Ainda sobre o bando do qual pertenciam, se lembrarem de alguma coisa, poderão comentar. Mas Lampião nunca revelava, por questão de segurança interna do grupo, os segredos que se foram com ele. Com a morte do chefe, aquela forma de Cangaço se extinguiu. Restaram, na ocasião, os grupos de Corisco e Dada, que não conseguiram levar a diante a forma de cangaço que Lampião manteve no sertão por mais de 20 anos e outros. Com a morte de Corisco, Dada revelou muito pouco a quem se interessou em saber alguma coisa sobre o grupo de cangaceiros, ou não foi perguntada, escondeu verdades com receio de ser envolvida com a justiça ou mesmo para não envolver as pessoas que estavam ligadas ao cangaço.

De igual forma Balão, Zé Sereno, Vinte e Cinco e muitos outros que sobreviveram à Angicos, não contaram os seus crimes por receio de serem presos, ou mesmo de serem mortos por aqueles que antes apoiavam de uma forma ou de outra os grupos de cangaceiros. Hoje se analisa esses depoimentos e salta aos olhos as contradições de ambas as partes, tanto de cangaceiros, como de volantes, bem como daqueles que foram os responsáveis pelo sucesso do ataque policial a Grota de Angicos.

1. Quais armas foram usadas em 28 de julho de 38 em Angico?

As armas que foram usadas foram o fuzil Mauser modelo 1898, 1908, Metralhadora Bergman 24, 32, possivelmente a Winchester 44.40, facas, facões e punhais. Ambas as partes em confronto portavam revólveres em calibres variando do 32 ao 44 e pistolas Luger 7,65, 9mm. As Armas que entraram em combate na Grota naquela madrugada de 28 de julho de 1938, fizeram parte da listagem das armas objeto da nossa palestra no Cariri Cangaço II. Por exclusão, possivelmente não tomaram parte na luta, a metralhadora *Hotchkiss, o bacamarte, o fuzil 'chuchu', o Manlicher, a Conblain.

2. O primeiro tiro, partiu de que tipo de arma? Qual o alcance do projétil e em que distancia se podia ouvir o estampido?

Possivelmente de um fuzil mauser, calibre 7 mm de um volante. Declino o ano da arma. O soldado errou o tiro no Cangaceiro Amoroso, imaginamos ser em distância de menos de 5 metros, e com certeza não deu somente um tiro, deu vários, de igual maneira todo o grupo de soldados, depois do primeiro tiro, abriu fogo nutrido em cima de Amoroso, que saiu em desabalada carreira. Amoroso morreu anos depois de maneira trágica. O alcance do projétil dessa arma é para 2400 metros. Para atirar em um homem isolado seu alcance de precisão é de 600 metros. E para um grupo de homens é de 1200 metros. O tiro de combate em um confronto bélico é de 300 metros. A velocidade da bala é de 700m/s e a força do projétil na boca do cano é de 300 Kg ( seis sacos de cimento).

O som derivado do estampido da arma pode ser ouvido em variadas distâncias, dependendo do fator local, aí incluindo temperatura, velocidade do vento, pressão atmosférica e naturalmente o estado de concentração e de saúde do ouvido de quem houve. Normalmente o som do estampido pode ser ouvido entre 1,5 Km até 3 Km de distancia.

3. Na sua opinião, independente de Amoroso ter sido atingido há 50 ou 100 metros do restante do grupo, daria para se ouvir o som do tiro?

Sim. Amoroso estava aproximadamente a 80 metros de distância de Lampião e a 60 metros de Maria Bonita. Ocorre que após este tiro a tropa (28 homens) atirou nos alvos previamente estabelecidos. O soldado Noratinho estava com Lampião na mira de sua arma e Maria Bonita estava correndo quando recebeu um tiro nas costas, bala que saiu pela frente. Caiu, levantou e saiu correndo novamente quando recebeu um outro tiro a curta distância, de lado, no ventre, indo cair próximo a Lampião. Em um combate os estrategistas se utilizam destas condicionantes para um ataque em que se visa alcançar sucesso, com menos perda possíveis: cerco - surpresa - velocidade e força. Quem cai nessa armadilha dificilmente vencerá uma luta. Nisso João Bezerra foi perfeito.

Além do mais o ataque foi ao amanhecer, quando os cangaceiros estavam se levantando, se espreguiçando, ou fazendo suas necessidades, a sua higiene. Uma pessoa nessas circunstâncias está sonolenta, sem reflexos, seus sentidos ainda não estão alertas, tempo depois de acordar e levantar e aos poucos é vão entrando na realidade da vida que o cercam, para bem depois tomar um café, fumar um cigarro, bater um dedo de prosa com alguém ou com o grupo, tratar sobre as atividades para aquele dia, quais sejam remendar o equipamento, desmontar e lubrificar o armamento, afiar facas, tratar algum ferimento, realizar o asseio corporal, tomar um banho, e até mesmo voltar a dormir por debaixo de uma fresca ramada. Mas se ainda estiver dormindo e entrar na bala, será um Deus-nos-acuda.

Juliana Pereira

4. A volante levou muitas armas, me refiro ao peso das mesmas, dada a circunstâncias, levando-se em consideração a distancia e as condições geográficas, no caso muito íngreme? 

A polícia levava o equipamento de costume que não era pesado, uma vez que o soldado saía para uma operação e depois de poucos dias retornava para sede. Bem diferente do Cangaceiro cujo equipamento necessário pesava bem mais que 24 Kg, (no mínimo). No dia 27 de julho, a noitinha, os soldados não sabiam para onde iam e nem quem iriam combater. Ficaram sabendo horas antes do combate quando já deslocavam para a Grota que o ataque seria contra Lampião. Essa medida foi adotada pelos oficiais como medida de segurança, para evitar que a operação chegasse aos ouvidos de Lampião. Se o deslocamento da polícia fosse de dia e nas vistas de pessoas de Piranhas e ao longo do rio, com certeza Lampião seria avisado a tempo.

Após o combate João Bezerra foi conduzido ao porto por dois homens, uma vez que estava ferido e mesmo por segurança uma vez que os Cangaceiros estavam espalhados por todos os lados. O restante, 45 homens, trouxeram com folga e certa vantagem o equipamento dos cangaceiros. Acredito que remar, e subir o rio até Piranhas foi o maior transtorno encontrado pela tropa, que faminta, com sede e muito cansada - estava a mais de dezoito horas sem repouso. Mas a alegria pelos troféus que conduziam em suas canoas apagavam qualquer sinal de enfado, pois os soldados orgulhosos e felizes não acreditavam que tinham matado o Cangaceiro mais famoso e o homem mais valente do sertão.

5. Como militar, como o senhor pensa que foi a estratégia usada pelo Tenente João Bezerra? Lampião morrera por falta de sorte ou atenção/descuido? 

A morte de Lampião não foi por acaso. Lampião foi vítima de uma manobra policial que deu certo entre tantas outras que não deram certo. Lampião não era fácil de ser encontrado. Quem o ajudasse de alguma forma era sustentado a peso de muito dinheiro e sabia muito bem que se o delatasse e fracassasse na tentativa, pagaria bem caro com a vida sua e de seus familiares. Além do mais entre os coiteros e informantes de Lampião cada um vigiava as atitudes dos outros. Pelo lado de Lampião, ele mesmo mantinha um certo segredo em não revelar entre eles quem era ou deixava de ser para que se fosse pego um coitero, não houvesse a denúncia de todos. Mesmo dentro da polícia, com certeza, havia informantes que poderiam avisar Lampião para que se cuidasse daquele ou outro coiteiro. Dinheiro é tudo e tudo é por dinheiro. Assim como Lampião aliciava as autoridades e policiais em seu favor, a policia também aliciava e fingia que fazia corpo mole com alguns informantes seus. O objetivo da policia era Lampião e não o coiteiro. Aquele coiteiro que a polícia sabia que era amigo de Lampião, ficava de “molho” para troca de informações, estratégia utilizada pela própria policia para descobrir o paradeiro do procurado, que era quem realmente interessava.

Depois, em pressão, a coitero assumia o compromisso de cooperar com a policia – fato esse que ficava somente com o comandante da tropa e não chegava aos ouvidos dos soldados, uma vez que dentre os soldados havia aqueles que tinham parentes Cangaceiros. O próprio vaqueiro Domingos dos Patos, que foi o canoeiro que atravessou em canoa o bando de Lampião para Sergipe, trabalhava na fazenda do pai da Dona Cyra, esposa de João Bezerra, o comandante que queria pegar Lampião. Na volante que matou Lampião e Maria Bonita estava um soldado parente dela.

Os coadjuvantes vitais...

Joca Bernardes, ou Joca da Fazenda Capim, era um desse coiteiros, que descoberto, tinha se comprometido com o Sargento Aniceto, a cooperar naquilo que soubesse contra os cangaceiros. Joca era coiteiro de Corisco e ficou sabendo da chegada de Lampião pela boca do cangaceiro 'Vila Nova' – só não sabia onde ele estava.

 Joca Bernardes


Com as compras de Pedro de Cândido de queijos fabricados por Joca e já encomendados, em grandes quantidades, Joca denunciou Pedro ao sargento Aniceto. Pedro era aquele coiteiro que estava na mira da polícia, tinha tido vários encontros com o Tenente Bezerra, mas estava de “molho” para uma ocasião futura e propícia e essa hora havia chegado.

Sgto. Aniceto Rodrigues
Mesmo assim ao receber o telegrama em Pedra do Delmiro o Tenente João Bezerra não alarmou o pessoal e marcou um encontro com o Sargento na metade do caminho entre Piranhas e Pedra do Delmiro, onde os comandantes das frações fizeram conferência dentro do mato, quatro horas depois da saída de Pedra e três horas depois da saída do caminhão com o Sargento Aniceto de Piranhas.

Era aproximadamente 16 para 17 horas da tarde. Mas ainda faltavam as confirmações que o Tenente tanto esperava. Antes da saída de Pedra passou um telegrama para ele mesmo, dizendo que alguém avisara ele que Lampião estava para os lados de Moxotó.

Mas alguém de Moxotó enviara de fato um telegrama a ele sobre o aparecimento de cangaceiros na região de Moxotó, só que não eram cangaceiros, mas a tropa do próprio Sargento Aniceto.

O Tenente antes de seguir destino para o encontro com o Sargento e de telegrama na mão gritou a pleno pulmões no meio do pessoal civil aglomerado, entre eles estavam alguns suspeitos de serem coiteiros de Lampião: vou combater o cego no Inhapi. Essa informação que a força tinha ido para o Moxotó chegou ao entardecer a Lampião no coito de Angicos, tendo Lampião brincado e dado risadas, pilherando afirmou: então pode dormir de cueca.

A força ainda se encontrou com Joca que relatou tudo ao Tenente, depois ainda na incerteza se deslocou até um ponto com segurança para então mandar buscar Pedro que relatou tudo o que sabia, e sabia até demais, sabia onde o pessoal dormia e por onde estavam os sentinelas, se é que haviam. Mesmo assim o Tenente ainda desconfiava de tudo aquilo, porque Lampião não era fácil de ser pego assim tão facilmente. Avaliando o tamanho do efetivo de cangaceiros e se deixando levar pelos desconhecidos chegou a querer desistir da operação – só um temerário atacaria Lampião naquelas circunstâncias – e mesmo porque já sabia que Lampião o tinha ameaçado de morte - aquilo tudo poderia ser uma armadilha.

Mas no momento de indecisão entra em cena a figura do Aspirante Ferreira de Melo, que contestou a ideia de atacar os cangaceiros somente pela manhã, de dia e com seus 16 homens iria mesmo assim atacar Lampião. Se tivesse ido, ele mataria Lampião somente com esses homens, uma vez que Pedro conduziu a Policia até a menos de dez metros da barraca de Lampião e ainda apontou Lampião que estava em pé, fora da barraca.

No mais a sorte de Lampião se acabara naquele dia, o destino pôs ponto final em sua vida naquela manhã. Na hora do início do tiroteio se ele estivesse deitado dentro da barraca ou mesmo a alguns metros por detrás das pedras teria escapado, mas veria a sua mulher ser morta a vinte metros de distância. Dado o primeiro tiro naquela manhã, Lampião não teve tempo para raciocinar, para saber o que poderia ser - uma arma disparou por acidente ? – alguém deu um aviso ? – tudo isso e mais poderia pensar que despertava no interior das toldas, não imaginavam que estavam cercados pela polícia e fugir daquele local era a salvação de suas cabeças.

Quem cercou Lampião naquela manhã sabia o que estava fazendo e era assim que sempre procedia: o quadrado mortífero. Só não conseguiu a exterminação total dos cangaceiros porque o alvo era Lampião e além do mais a mata espinhenta ao redor da grota e a hora do ataque, o amanhecer, sem os raios do sol, dificultava em muito quem precisava enxergar alvos e necessitava da claridade para ajustar a mira das armas e abrir fogo. Depois outro fator que contribuiu para a fuga dos cangaceiros foi a fumaça originada pela queima da pólvora por ocasião dos disparos das armas em conflito, que cobriu a grota como um manto de morte.

Negligência???

Negligência ? sim. Descuido ? sim, a começar pela escolha do local. Nada de lugar com uma só boca, como falaram depois quem escapou para contar história. Não foi isso que matou Lampião. Lampião foi morto por uma estratégia militar, num jogo de informação e contrainformação utilizado até hoje nos meios policiais. Aquele lugar, aquela gruta não é local para defesa, mas as cercanias, no cimo dos morros sim. Homens bem distribuídos , em locais previamente marcados, acordados, vigilantes, e sóbrios, impedem qualquer efetivo que se aventure a abater quem estiver no interior da furna.

Quem estiver no interior da furna terá tempo suficiente para escapar ileso de qualquer ataque que venha a sofrer, desde que a força atacante se encontre previamente com sentinelas postados a mais de cem metros de distância da furna. Além do mais o local não serve para esconderijo porque do meio do rio se enxerga com relativa facilidade o rolo de fumaça que sobe das fogueiras onde eram cozinhadas as comidas, e deveria haver mais de uma. Não é crível que 45 homens comam de um mesmo fogo.

Quanto maior a fogueira, maior é o rolo de fumaça, maiores serão os odores que exalam das carnes assadas, do café requentado, do fumo dos cigarros de palha. E o som dos vozerios compartilhados, das músicas, das toadas, das gargalhadas, dos casos contados, dos acontecidos, das boas empreitadas com ganhos fáceis, e aquele cabra que implorou para não morrer ?, aquele rosto desfigurado pelo assombro da morte, quando a ponta do punhal sangrador foi afundando devagarinho na base do pescoço ? – motivos de comemorações e de alegrias para aquele bando de gente impiedosa não faltavam.

Não se pode culpar Lampião por isso ou aquilo, ou pelo que deixou de fazer, mesmo porque o bando não era uma milícia organizada, com estratégia de defesa e ataque, as manobras de guerra a bastante tempo não eram postas em práticas depois que Antonio Ferreira e Sabino haviam desaparecidos. As orientações do chefe eram quase sempre as mesmas: não enfrente os macacos – fuja ! A policia, sabendo desse proceder dos cangaceiros, se sentia motivada a se aproximar dos grupos e de abrir fogo sobre eles, com a certeza que correriam abandonando o campo da luta.

Fugiam não por medo, mas por economia da munição, cara e escassa, pela preservação da própria vida, além do mais o que se ganharia em matar uns poucos macacos – depois desses viriam mais e mais numa sequência de mortandade que nunca terminaria. Por isso a melhor defesa residia simplesmente na grande mobilidade, nas andanças, percorrer grandes distâncias em poucas horas, e nessas poucas horas estarem em vários lugares diferentes – assim a informação dos delatores não chegaria aos ouvidos da polícia com tempo suficiente para ser transformada em uma ação planejada a ponto de surpreender o grupo.

Outro fundamento do grupo era sumir sem deixar rastros, ou deixar vestígios bem visíveis que conduziriam os soldados a um lugar determinado, culminando em uma emboscada. Outras vezes os rastros não levavam a lugar nenhum e a volante ficava bobando no meio da catinga. Na maioria das vezes os grupos de cangaceiros sumiam por meses e ninguém sabia por onde andavam, até que um caçador informava a pista deles, na maioria das vezes falsa e sem sentido, às vezes a mando dos próprios cangaceiros para despistar uma ação de assalto a alguma localidade.

Portanto, a escolha de Angicos como ponto de reunião, mesmo que seja para passar uma semana, foi um erro mortal, mesmo com a desculpa do tratamento de Maria Bonita em Própria, ou para tratar operações futuras, ou pela necessidade de aproximação com a água devido presença de mulheres, nada justifica a desatenção para com o fator segurança do chefe em particular e do grupo em geral. Caso fosse irremediavelmente necessário a permanência na área - isso até não seria considerado um problema desde que os homens fossem dispostos estrategicamente ao redor, no cimo dos morros, no leito do riacho, em vigilância constante e protegendo quem estava no fundo daquele buraco.

6. Levando-se em condição ao que já leu, Lampião morreu conforme a literatura oficial contou e conta?

Ninguém sabe ao certo como Lampião morreu. Um repórter do Rio de Janeiro chegou a falar com os soldados que atiraram no rumo de Lampião, mas esse repórter não aprofundou o assunto, mesmo porque o momento era de festa, de alegria e a segurança era necessária, ou mesmo talvez como precaução, cautela com receio de uma vingança posterior por algum grupo de cangaceiros. Naquela ocasião ninguém poderia supor que o cangaço terminaria pois outros grupos ainda operavam como o grupo de Zé Sereno, Corisco, Labareda e Pancada. Em minha opinião a ocasião mais propicia de se saber a verdade era aquela em que os homens estavam eufóricos, comemorando e não tinham tempo de enfeitar a história, aumenta-la, diminuí-la, ou fantasia-la.

Por isso que eu fico com as declarações do Comandante da volante proferidas três dias depois do ocorrido em Santana de Ipanema – sede da volante- quando ainda ferido deu declarações a esse repórter do Rio de Janeiro, em uma página de 25 linhas, como tudo aconteceu, em Angico - depois o Tenente baixou ao hospital para ser tratado.

7. Terá havido envenenamento ou alguma substancia capaz de deixar o bando sonolento ou mesmo sem reflexo?

Muita bebida alcoólica ingerida e a despreocupação que tudo estava bem. Essa ideia do envenenamento, creio eu, foi proferida por alguém do grupo para diminuir o feito da polícia e com a certeza de que mais tarde seria essa a verdade definitiva que deveria perdurar, a de que os cangaceiros foram mortos por uma procedimento vil por parte da policia, que não teve coragem de enfrentar os cangaceiros em uma combate leal - mas não foi nada disso - foi bobeira mesmo, e bala, muita bala para cima do pessoal dorminhoco e descuidado.

8. Porque escapou tantos cangaceiros, se estavam em total desatenção quando atacados? Porque só um policial foi atingido, posto que os cangaceiros já houvessem sido surpreendidos em ataques anteriores e mesmo assim saíram ilesos ou mesmo deixaram uma baixa maior na volante?

Porque o alvo do ataque era Lampião e a volante cercou a gruta. Quem estava espalhado pelas encostas dos morros e mesmo nos cimos, de lá mesmo escapou, alguns passando por cima da própria polícia. Não houve retaguarda porque a desorganização foi geral e não houve um líder de coragem para voltar e atacar os policiais que faziam festa no fundo do buraco. Mesmo porque muitos estavam desequipados, desarmados, a maioria feridos, arranhados pelos espinhos, desmuniciados, chocados ao saberem que Lampião, Maria Bonita e Luiz Pedro haviam havia morrido - noticias levadas por Zé Sereno que assistiu a morte do pessoal que estava na gruta ao redor de Lampião.

Quanto ao soldado que morreu até hoje não se sabe como. Foi fogo amigo ? – foi fogo de algum inimigo dentro da polícia ? foi fogo de algum cangaceiro ? – dizem que foi Elétrico que baleou aquele soldado, sendo em seguida metralhado por João Bezerra – Elétrico não morreu de tiro, foi esfaqueado por um soldado da volante, procedimento esse que muito contrariou o Chefe que determinara a morte do cangaceiro a tiros e não a faca.

"Não houve um líder de coragem para voltar e atacar os policiais que faziam festa no fundo do buraco"

Há uma versão que foi o soldado 'Mané Véio' que viu o soldado sofrendo por ter levado um tiro no quadril e aí aliviou as dores do mesmo matando-o com um tiro. Note que o soldado foi imediatamente sepultado naquela mesma tarde, sem autópsia – ninguém deu importância ao fato – entretanto levaram para exame a cabeça dos cangaceiros. Isso por si só demonstra que alguém queria que a morte do soldado passasse despercebida pelas autoridades. Morto em combate o corpo do soldado deveria ser examinado por um legista.

Mas mesmo assim, nesse caso se o mesmo tivesse levado tiros pela frente ou por detrás, se por acaso fossem encontrados em seu corpo os projéteis como se iria descobrir o autor ou autores dos disparos ? As únicas armas de calibres diferentes que atiraram foram as metralhadoras de João Bezerra e do Aspirante Ferreira de Melo, em calibres 7,63 ou de 9 mm. Teriam que ser examinados os projéteis encontrados no corpo do soldado pela balística – trabalho esse que naquele tempo ainda não tinha chegado ao interior do sertão.

O cangaceiro Balão assumiu publicamente a morte do soldado em declarações ao Dr Amaury, (Assim Morreu Lampião) afirmando que o soldado tinha acabado de matar o cangaceiro Mergulhão e estava dando coronhadas na cabeça do mesmo, e em ato subsequente encostaram o cano das armas e que disparam ao mesmo tempo, sendo que nele, Balão, não acontecera nada e que o soldado caíra morto. Com relação a escapar de ataques, vai depender muito como estava o dispositivo do grupo no terreno e a forma de como foram atacados. Em se tratando da Gruta de Angico quem estava lá embaixo não tinha como escapar – a policia estava perto demais – para uma bala de fuzil, em tão pouca distância, não há mandinga que sustente o corpo fechado.

9. Por que Lampião não usou a sua estratégia, já bastante conhecida e testada quando ouviu o primeiro tiro, se é que ouviu?

Não a usou porque ali naquele momento não deu tempo para nada, foi tudo muito rápido, além do mais depois que se aperta o gatilho de uma arma daquela e ela estiver apontada para alguém, não há tempo para mais nada. Quem leva tiro um tiro de fuzil, não escuta o som do tiro que o mata.

10. Qual seu parecer sobre o episódio Angico?

Angico é um mistério – o combate de Angicos é o resultado de um belíssimo trabalho policial – Angicos serve para reflexão para quem vive da lida das armas, que mais hoje, mais amanhã a lei baterá as portas de quem vive as margens da lei, quem quiser ser vitorioso sempre permaneça ao lado da lei, porque o crime de uma forma ou de outra não compensa - é uma ação incerta e a lei, vitoriosa contra o crime - é sempre certa.

Entrevista publicada pelo www.cariricangaco.com sítio do Coroné Severo  
 *ADENDO
Como não tenho autoridade nem conhecimento necessário para maiores contestações faço apenas uma simples observação que inclusive já foi destacada em outro artigo por nosso amigo e colaborador Fábio Costa e que se faz novamente necessária. É quanto à grafia correta para a temível metralhadora: O correto é HOTCHKISS e não "HOTKISS". Prova rápida e interessante é que se você procurar no Google ocorrências para "Hotkiss" vai encontrar somente referencias à sex shops e sobre a tradução literalmente. 
Os leitores que desejarem opinar fiquem a vontade para assinalar outros pontos.
ATT. Kiko Monteiro 

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