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domingo, 2 de agosto de 2020

CHEIRANDO A MATO, A SERTÃO, A VIVER...

*Rangel Alves da Costa

Sou de um sertão de raiz, o mais sertão existente. Não existe outro sertão igual ao que sinto em mim presente. Desde a terra à semente, desde o bicho à sua gente. Um sertão sem ter igual no que se tem e no que se sente.
No sertão da minha terra há vereda de pé de serra, de bicho de pasto que berra, luta que não se encerra. Um caminha na poeira, um sol queimando em lareira, pouca comida de feira, uma pobreza avistada como bagaceira.
No sertão da minha terra há menino e pé no chão, há barriga sem o pão, há prato vazio no chão. Por todo o sertão é sim, o tudo vira tiquim, o muito vira poquim, o que pouco tem já tá no fim. Um povo que vive assim.
No sertão da minha terra, um dia um tempo de dor, na tocaia e na emboscada, na violência o clamor, o sangue jorrando ao chão, quem já viveu já chorou. Carnicento destripando a vida que a bala levou.
No sertão da minha terra, lá longe e bem distante, um casebre morro adiante, casinha desfeita em levante. A guerra na minha terra, a cruz que debaixo enterra os restos de um passado feito bicho que berra.
No sertão da minha terra, um chão assim tão espinhento, um viver que é de lamento no seu passo em sofrimento. Na vida feita de labuta, que somente a fé e a luta desenterram das desentranhas os restos da terra bruta.
No sertão da minha terra e noutros sertões mais além, um viver de querer bem, um se entregar ao que tem. E nada tem além do pão, na fé a vela e o sermão, na parede a imagem do Padim Ciço e Frei Damião.
No sertão da minha terra há uma igrejinha e uma prece, há um pedido de benção a todo aquele que padece, religiosidade tão forte que a esperança não perece. Há um povo em procissão, na crença e abnegação, rezando pra cair chuva e para salvar o sertão.
No sertão da minha terra há fogão de lenha em quintal, há roupa estendida em varal, há na nuvem um bom sinal, que amanhã será melhor, pois nada será pior que o sofrimento ao redor. Uma galinha que cisca, um gato que vem e belisca.
No sertão da minha terra há bolo de milho e jabá, há jumento na estrada levando o caçuá, uma carroça passando cheinha de croatá. Um cavalo esquipador, na vaqueirama um voador, alegria do sertanejo que um dia já vaqueirou.
No sertão da minha terra tem pirulito de mel, tem panelada e sarapatel, tem bolinho de chuva e de céu, tem linha no carretel. De cumbuca é o cantil e de couro cru é o chapéu. E assim vivendo se vai na vida de déu em déu...
No sertão da minha terra tem chuva grossa e pinguinho, tem chuvarada e sereninho, tem tempestade e tiquinho do chuvisco já caído, mas um sol tão atrevido que chega como enxerido e vai se arvorando escondido e deixa tudo esmaecido.
No sertão da minha terra tem rolinha fogo-pagô, tem seriema sim sinhô, e de todo bicho que restou. Mas muito existe não, nem sabiá nem cancão e nem ave de arribação. Pouco é a cantoria onde o canto existia, no sertão mais a tristeza onde havia alegria.
No sertão da minha terra há cuscuz no amanhecer e qualquer coisa ao anoitecer. Não se escolhe o que comer nem o prato que vai ter. Primeiro come a criança, depois vem toda a restança da família em esperança.
Assim no sertão de minha terra. Assim em todo o sertão.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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RESIDÊNCIA DE JOAQUIM ANTÔNIO DE SIQUEIRA TORRES E JOANA VIEIRA SANDES DE SIQUEIRA TORRES, BARÃO E BARONESA DE ÁGUA BRANCA/

Do acervo do Beto Rueda


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TOBIAS BARRETO É NORDESTE


Por Severino Uchôa

Nenhum outro escritor brasileiro apresenta traços mais expressivos do meio social, através de sua obra, das suas lutas, do seu temperamento enérgico e audaz, que Tobias Barreto. O homem nordestino, martirizado e estoico, ressalta nos múltiplos combates da sua vida, donde saía vitorioso graças à mais poderosa força dos torturados heroicos, a vontade.

Embora a tenacidade e o labor de Tobias tivessem se orientado apenas no sentido intelectual, observam-se, nos seus trabalhos, todas as características de bravura, talento e persistência dos seus irmãos regionais, titãs morenos, mártires do sol, que há centenas de anos lutam contra a Natureza impiedosa, na mais longa batalha de resignação e sacrifício.

Vencendo à pobreza, às influências literárias, filosóficas e jurídicas dominantes na sua época, e às campanhas acesas pela inveja contra o seu talento e erudição, Tobias projetou-se ao ápice do conceito crítico descortinando horizontes de sabedoria jamais vistos pelos seus antagonistas.

Existe no seu destino uma semelhança curiosa com a do lavrador sertanejo, sem aparelhamento agrário, preso à rotina de métodos quase selvagens na prática rural, coimado pelos civilizados de indolente e enfermo, mas que realizou nas terras secas e queimadas do Nordeste o milagre da indústria açucareira, os celeiros de algodão, cacau e cereais, e emancipou-se da importação, vivendo exclusivamente de produtos nacionais.

Esgotados os veios do classicismo latino, perlustrados os caminhos da lustração francesa, explorados os tesouros da cultura brasileira, procedeu Tobias como o agricultor desiludido ante os roçados tostados pelo sol, as searas devastadas, as cacimbas vazias e o fantasma da fome rondando as choupanas, emigrou. Foi buscar novos campos para o seu trabalho, aventurou-se à exploração de jazidas auríferas ainda desconhecidas dos garimpeiros espirituais da sua terra, para voltar com as mãos cheias de ouro, magnífico de esplendor e fortuna.

Pioneiro intelectual de tão audaciosa aventura, temiam os mestres do direito, acrisolado nas tradições romanas, a este ímpio demolidor dos alicerces da jurisprudência e da filosofia, cujas regras seriam tabus de doutrinas jamais debatidos, como o caboclo forasteiro de regresso à fazenda natal, escandalizando à sua gente com os usos e costumes de outras terras.

Atribuíam-lhe a jactância dos exibicionistas vaidosos, desejosos de humilhar à sabedoria reinante, a petulância de um ateu, a menosprezar os ídolos venerados pelo seu povo, a zombaria de um reformador atrevido renegando às mais consagradas escolas de erudição, quando o animava apenas a intenção de melhorar o nível cultural da mocidade e dar novos rumos ao esforço unilateral da inteligência brasileira.

Avulta na personalidade de Tobias a mesma combatividade sem desfalecimentos, a mesma têmpera indômita de que são forjados o trabalhador rural, o vaqueiro, o pescador, enfim, todos os sacrificados da terra e do clima nordestinos, de organismo rígido e alma dócil, tipos privilegiados de homens temperados na fusão de três raças fortes, em que dominou a influência indígena para a resistência dos mais rudes martírios físicos.

Morrendo na pobreza ao extremo de necessitar do amparo financeiros dos amigos, e deixando um valioso patrimônio de sabedoria para as gerações futuras, manteve ainda o insigne sergipano o destino do lavrador homérico que, realizando a posteridade agrícola do Nordeste, morre miseravelmente, deixando que a prosperidade aproveite o suor dos músculos, gotejado na terra para fecundar os grãos dourados dos cereais, nas colheitas dos séculos vindouros.

“Folha da Manhã” (SE) - 30.09.1942

Adquiri no acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho


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28 DE JULHO, PRA SEMPRE NO CALENDÁRIO DOS SERTANEJOS.


BETO O PATRIOTA DOS SERTÕES DE POÇO REDONDO-SE
HOMENAGENS A LAMPIÃO, MARIA BONITA, OS NOVE CANGACEIROS E AS MAIS DE 80 MIL VIDAS PERDIDAS PELA COVID-19.
Música neste vídeo
Música
Artista
Banda De Pau E Corda
Álbum
Série 2 EM 1 - Banda De Pau E Corda
Licenciado para o YouTube por
SME (em nome de RCA Records Label); LatinAutor - UMPG, UNIAO BRASILEIRA DE EDITORAS DE MUSICA - UBEM, ASCAP, UMPG Publishing, LatinAutor e 1 associações de direitos musicais
Música
Artista
Álbum
Aboios & Vaquejadas, Nos Caminhos da Fé e São João Na Roça
Licenciado para o YouTube por
SME (em nome de Sony BMG Music Entertainment); LatinAutor, UNIAO BRASILEIRA DE EDITORAS DE MUSICA - UBEM, Peermusic e 1 associações de direitos musicais.


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DOCUMENTÁRIO A TRAGÉDIA DAS GUARIBAS - PARTE 3: OS HOMENS DO SALVATERRA.


Por Bruno Yacub

Em parceria com o grupo Lampião Governador do Sertão e o canal Cangaçologia, A Munganga Promoção Cultural lança o documentário A Tragédia das Guaribas e a saga de Chico Chicote, Antônio Grangeiro e Antônio Marrocos. 

O especial será exibido em dos maiores e mais respeitados canais do YouTube sobre o tema, o Cangaçologia: https://www.youtube.com/watch?v=XD9ts8h0wnk

Dedicamos esse trabalho ao povo de Jati, Porteiras e Brejo Santo.

A Munganga Promoção Cultural
O Brejo é Isso!

• Participem do grupo Lampião Governador do Sertão no Facebook: 

• Participem do grupo Cangaçologia no Facebook: 


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O LOBISOMEM QUE TRAIU LAMPIÃO - CONTOS DO CANGAÇO


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HERÓIS E BANDIDOS


Por Agripino F. da Nóbrega

O nordeste brasileiro não soube, como outros Estados da União, atrair nem fixar o estrangeiro. Isto, de certo, lhe tem impedido de aproveitar as lições de povos mais velhos, mais adiantados ou mais experientes, se bem que, por outro lado, uma semelhante omissão haja, felizmente, concorrido para nos resguardar à contaminação de criminosidades bem temíveis.

Ademais, a caatinga nordestina, rude, desolada e selvagem nunca poderia envolver, para as populações de que se compõe, problemas de alta ressonância social ou econômica, cheios de complexidade e de transcendência. Larga e espaçosa, como é, e à qual de maneira instintiva se afeiçoou a sua gente, trabalhadora, tenaz e obreira, raramente é abalada por um acontecimento que lhe possa quebrar a mesmice de uma existência sempre idêntica e sem maiores exigências dos indivíduos.

Tanto que o crime é ali, em geral, uma reação, uma forma de defesa particular ou coletiva contra a injúria, contra os abusos ou contra a prepotência. Não se mata para roubar, e sim mata-se em defesa da honra da pessoa, em desagravo da honra da família, em revindita a espoliações de propriedade territorial, ou na subitaneidade de irreprimíveis arrancos emotivos.

À parte uns raros casos em que a delinquência e ou uma projeção de anormalidades antropológicas ou de acerbamento de paixões, ou efeito de abuso do álcool, no mais só se pode explicar como atitude ou protesto contra situações de ilegalidade criadas pelo acumpliciamento ou proteção de mandões em favor de asseclas e trabuqueiros.
Naturalmente, aquela região só comportava facínoras de humilde estirpe, sem os penaches e os apetrechos dos êmulos civilizados, que usam a dinamite, o maçarico de acetileno ou o suborno, a corrupção da polícia e da administração.

De alpercata, chapéu de couro e de cartuchame à vista, eles eram o que pretendiam ser na verdade, sem subterfugio ou escamoteação, como se passa alhures, mais agravando o horror e tétrico da face repelente de uma atividade macabra, pelo disfarce, pela traição, pelas dobles e pela mentira.

Lucas da Feira, Antonio Silvino, Antonio Dó ou Lampião foram tipos de malfeitores, que vingaram por pendor da própria constituição íntima e tendências inelutáveis despertadas ao contato e estímulo do ambiente.

Abandonados os sertanejos pela civilização litorânea, renegados pelos governos, atenazados pelos poderosos e dominadores, vítimas de sistemas tributários aplicados com excessivo rigor, comprimidos entre a caatinga adusta, aspérrima, sem higiene, sem cuidados vigilantes, analfabetos, ignorantes e supersticiosos, revolvidos por todos os desesperos e desenganos, de sentimentos exaltados, e, do outro lado, tendo a lutar com a herança de uma atavismo cruel, advindo do índio indomável e do branco carniceiro e feroz, de que descendem, rompiam, subitamente, as malhas da frágil cadeia em que se apertavam os seus instintos de truculência e de bestialidade.

Também, era, por vezes, a afirmação inconsciente das profundas revoltas da sub-raça que formamos contra o descaso com que era tratada, contra o descoco e a farsa do regime, contra o desamor e indiferença dos seus responsáveis.

Não há negar igualmente que a estrutura social, no âmago do Nordeste, comportava em si as causas do desvio de muitos dos seus filhos, desarvorados e pungidos de impaciência e desesperos enormes e insondáveis.

Amargurados, sob o império de uma irritação constante que provinha do solo e dos seus semelhantes insensíveis e prepotentes, como no empenho de mais consumi-los e desorientá-los, vendo-se vítimas de uma díspar preterição de direitos, anulados pelo atraso e pelo insulamento em que eram contidos ou confinados, essa exaltação ia aos poucos minando-lhes as resistências mais profundas.

Uma injustiça, não raro, desencadeava esses impulsos não refreados pela ação intensiva da escola e de tantos outros fatores que moderam ou modificam a personalidade humana.

Arrastado a uma reação violenta, o homem simples e digno que sempre fora, na maioria das hipóteses se transtorna, perde a serenidade, e dominado pelo medo de que venha a faltar liberdade ao Júri para o julgar imparcialmente, sonega-se ao seu pronunciamento, forage-se dos povoados, homizia-se em lugares dificilmente acessíveis à Polícia.

De onde se vê que a falta de uma justiça efetivamente respeitável fê-lo delinquir, depois entibiou-lhe a coragem para acreditar na sua decisão, preferindo a fuga, e fá-lo-á amanhã abrir luta contra a sociedade. Para poder viver, terá de viver do crime. A ele juntam-se, em breve, outros desertores da lei, e assim não tardará em se formar o bando, e assim começará, ao mesmo passo, a nascer um outro poder ilegal no sertão.

No banditismo haviam-se congregado os resíduos de quatro séculos de história. Saturados os espaços nordestinos das paixões, dos desvarios, das ferventes e insopitáveis indignações de indivíduos e de multidões, das fermentações de ódios e de despeitos, a um maior atentado extravasavam, formando enxurro de lama, de opróbio e de sangue.

O certo é que não admira haver na página acidentada da existência de alguns desses transviados, um começo em que se precipitam pelo choque de uma preliminar agressão descabida, desumana, covarde e cínica.

De quantos não temos ouvido o relato emocionante das peripécias involuntárias em que se enredaram, pela truculência de potentados ou em revide merecido a uma injúria ou ofensa acabrunhante, que a sociedade não ligou?

E as perseguições com que os encalçam os seus inimigos, em certos casos encaminham-nos, como última salvação, ao cangaceirismo.

Em relação a outros desajustados, abafados neles as disposições salutares e altruísticas, sem capacidade para reagir contra as solicitações interiores e exteriores, anulada a repugnância ao ato por instigação emanada do próprio ser pervertido em frente da iteração de fatos palpáveis de impunidades clamorosas e rebaixamento de caráter, na escuridão do seu mundo fechado à razão, à criança, à confiança do próximo, sem progresso pessoal, sem animação para o trabalho, indolentes e maus, enveredam a vertiginosa estrada da perdição.

Diário de Pernambuco – 06/12/1953

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HOJE ESTAMOS FAZENDO BODAS DE ESMERALDA QUARENTA ANOS DE CASAMENTO! 4 FILHOS & SEIS NETOS!


O poeta José Ribamar e esposa Maria do Socorro estão fazendo hoje"Bodas de Esmeralda". Quarenta anos de boa convivência, compreenção, respeito e união. Parabéns para o casal e muita paz! 

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