Por Clerisvaldo B.
Chagas, 28 de julho de 2014. - Crônica Nº
1.228
Setenta e seis
anos separam o dia de hoje da hecatombe de Angicos. Uma noite/madrugada gélida
e chuvosa “frio de matar sapo”, ocultou o avanço heroico de três
volantes alagoanas nas águas e terras do rio São Francisco.
Três canoas
unidas por caibros e cordas de caroá, descem nas águas agitadas do Velho Chico,
entre 19 e 20 horas, enfrentando os perigos da corrente e mais tarde uma lua
nova fantasmagórica. São 48 homens nus, tiritando de frio nas canoas laterais.
Roupas, armas e munições estão sob a lona que encobrem a embarcação do meio.
O tenente João
Bezerra, comanda as três volantes: a sua, a do sargento Aniceto e a do
aspirante Chico Ferreira, mesmo em constantes desentendimentos. Com a chuva
miúda, as águas agitadas, o ranger constante do ajoujo e a nudez escondida
pelas trevas, alguém sentencia: “Vestido de Adão ainda pode haver
salvação”.
Em torno das
22 horas as embarcações chegam ao lugar Remanso, praticamente defronte o coito
de Lampião. Uma das canoas vai buscar o coiteiro Pedro de Cândido, abaixo do
povoado Entremontes, cerca de 1 km. Entre tortura e ameaça o coiteiro que se
tornou mais conhecido, termina levando as volantes até a grota da fazenda
Angicos, com seu irmão Durval.
Os volantes
bebem muita cachaça e Pedro de Cândido traça o cerco. Pertinho do amanhecer,
escuro ainda, acontece o ataque aos cangaceiros. Os policiais estão conduzindo
e atirando com metralhadoras. No final do ataque são contados 11 cangaceiros
mortos que são degolados pelos soldados raivosos. O restante do bando conseguiu
escapar, alguns dos mortos tiveram os nomes confundidos e, atualmente, estão
escritos em Angicos os nomes: Lampião, Maria Bonita, Quinta-feira, Mergulhão,
Enedina, Luiz Pedro, Elétrico, Moeda, Alecrim, Colchete II e Marcela.
Os corpos dos
bandidos ficaram amontoados sob pedras no leito do riacho onde estavam
acampados. As 11 cabeças foram expostas em várias cidades e povoados de Alagoas
até chegar a Maceió onde foram entregues.
O reinado de
terror lampiônico acabava de ruir e com ele (mais Corisco, dois anos depois), a
página negra sobre o cangaço foi virada.
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Texto
baseado no livro “LAMPIÃO EM ALAGOAS”, dos autores Clerisvaldo B. Chagas e
Marcello Fausto, onde o prezado leitor encontra todos os detalhes que procura.
A maior obra escrita sobre o cangaço no estado.
Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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