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segunda-feira, 31 de julho de 2023

NÃO CORRA SEM VÊ O BICHO

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.937

 

Bem dizia a grande líder comunitária, dona Joaninha: “Não corra sem vê o bicho”, pois foi assim que fomos para uma entrevista com um deles. O coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão (coronel Lucena) era o homem mais temido do Sertão Alagoano. Comandante do Batalhão de Polícia, cujas volantes deram fim a Lampião e Maria Bonita. Lucena fora o primeiro prefeito de Santana do Ipanema, eleito pelo voto direto, na Era Vargas. E no dia da Eleição, o comerciante Manoel Celestino das Chagas, meu pai, fora convocado como presidente dos mesários de uma daquelas sessões. Por coincidência, era eleitor naquele salão o tão famigerado coronel Lucena. Tudo normal se não fora o esquecimento dos documentos de votação por parte do comandante.

CORONEL LUCENA, (LIVRO LAMPIÃO EM ALAGOAS).

E na hora do registro de comparecimento às urnas, “Seu Manezinho”, não pestanejou diante da fama de valentia de Lucena e falou: “coronel, para o senhor assinar, estar faltando o documento”. Lucena – um trovão para muitos – educadamente exclamou: “Eita! Você tem razão. Esqueci, vou buscar”. E assim procedeu sem causar nenhum transtorno. E com o resultado do pleito, o coronel exerceu a função de prefeito de Santana do Ipanema. O homem de bem é manso, anda com a verdade e o destemor. O homem sábio pode ser pacato, pode ser valente, a sabedoria não o deixa de acompanhar.

Os tempos de dirigentes nomeados, governadores e prefeitos, foram de uma época conturbada de exceção. Para um ditador entrar é ligeiro, para sair dar trabalho, igualmente a uma doença difícil de se curar. Imaginamos que os problemas com dirigentes nomeados, os prefeitos com várias denominações, aconteceram em todo o país. Em Santana, o governador nomeado, nomeava também o prefeito. Alguns desses indicados não conseguiam chegar ao fim do tempo de nomeação. Muitos não passavam de 24 horas, outros não ultrapassavam a um mês. Uns não tinham competência, outros desagradavam gente de prestígio político e outros ainda eram acusados de roubo. O negócio só foi tomar rumo novo, após as eleições livres com a despedida da ditadura maior. Mesmo assim, muitos vícios ainda deram trabalho no início da democracia. A ambição de poder e do poder continua destruindo almas que se regozijam na terra e se perdem no espaço.


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CANGAÇO: CÍCERO PORCINO - BIOGRAFIA RESUMIDA

https://www.youtube.com/watch?v=BdnBFNAA17o&ab_channel=FatosnaHist%C3%B3ria-Canga%C3%A7oeNordeste

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"ÉBRIO DE AMOR" NA RUA VELHA

Manoel Belarmino

Ao cair da tarde, cheguei à cidade, entrando pela Rua Velha, e um som no Bar do Cido tocava a música "Concerto para Um Verão". Era a Rua Velha que se preparava para uma noite de seresta. Os violões dos seresteiros já estavam sendo afinados, e o som devidamente testado.

As moças, as mais lindas(todas lindas) de vestido, de cabelos longos e soltos, sorrindo, já apareciam nas janelas das suas casas na Rua Velha. Nas outras ruas e na Rua Nova acontecia o mesmo. Moças e rapazes se preparavam para a noite de seresta na Rua Velha da cidade de Pedro Alexandre da Serra Negra.

E eu, um rapazinho matuto, mas quase poeta; um caatingueiro, mas quase escritor, quase poeta, quase boêmio; um romântico perdido naquela noite da cidade, quase embriagado pelas mais belas músicas tocadas e cantadas pelos seresteiros. Uma noite perfumada, mágica, encantada estava começando na Rua Velha.

As poucas luzes da cidade deixavam a Rua Velha em penumbra, permitindo que os boêmios enxergassem a Lua e as estrelas. Músicas, Lua e estrelas se misturavam naquela noite de seresta na Rua Velha.

Sob a luz da Lua e das estrelas, a Rua Velha encantada se transformava em poesia. Naquele momento, a música "Paixão de Um Homem" de Valdick Soriano era executada de forma mágica. E todos cantavam e dançavam sob a luz da Lua e sob os olhares das estrelas.

Na calçada da igrejinha da Matriz e nas janelas, já se avistava casais de namorados. A noite de seresta recebia a madrugada em festa como um noivo recebe a noiva.

Às vezes, a nostalgia toma conta de mim, e ponho-me a escrever, escrever, escrever... E, quando escuto a música “Os Verdes Campos da Minha Terra” na voz de Agnaldo Timóteo, as lágrimas dos olhos inundam por inteiro a minha alma.

E, ali estou eu, um Belarmino menino, "Ébrio de Amor" na Rua Velha da Serra Negra.

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PRAZER EM CONHECER: - LAMPIÃO ACESO ENTREVISTOU JACK DE WITTE

Por Kiko Monteiro

 


Mais um vaqueiro para nossa galeria de entrevistados.


Hoje vamos traçar o perfil de um pesquisador que vem do outro lado do Atlântico. Compatriota de um outro cabra azedo que comandava exército e também usava um chapéu quebrado.

Jack François De Witte, (o W com som de "V" visse?) 69 anos, escritor Francês da província de Lagrasse, engenheiro eletrônico aposentado.

Na década de oitenta morou no Rio de Janeiro por dois anos e meio. Esta é a sua terceira visita ao nordeste.

Nos conhecemos durante o Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita, ocorrido em março em Paulo Afonso, BA. Aproveitei o ensejo para intimá-lo a apresentar suas impressões, tendo como local o barco "A Volante" cruzando o Velho Chico de retorno a Piranhas, AL. Um passeio que muitos de vocês já fizeram e quem não o fez... homi ! não sabe o que perde.


Olha ai uma visão "modesta" de Lagrasse. 

Antes de chegar até a "terra do condor" e do capitão João de Sousa Lima "o dublê do Herculano" Monsieur Jack, teve como cicerone o Coroné Severo visitando alguns dos principais cenários da saga lampionica, pelo Cariri cearense e pelo Pajéu. Enfim foi beber na fonte e voltou pra Europa embriagado por esta bendita cachaça chamada CANGAÇO.

 Sentado o tenente João Gomes de Lira, ladeado pelos cavalheiros Bosco AndréJackJosé Cícero e Manoel Severo.

Como se dá sua entrada no cangaço?

- Tinha 14 anos quando fui levado pelo meu pai para assistir ao filme "O Cangaceiro" de Lima Barreto, justamente no festival de Cannes onde a película brasileira foi exibida, consagrada e o resto do mundo passa a tomar conhecimento do Cangaço. Preciso ser bem clichê para dizer que é aquela mesma paixão avassaladora que contamina todos. Dali por diante passei a buscar a literatura. Recorri aos sebos da capital e a ajuda de amigos de outros países para que estes me conseguissem outros títulos.

Meus anseios de estar num evento como esse é de obter outras informações sobre a gênese de como o Virgulino Ferreira, chegou a ser um bandido desta magnitude. Um nômade. Um caboclo de raciocínio lógico que administrava com precisão e sangue frio a sua vida e a de tantos companheiros.

Então apresente suas crias!


- “Lampião VP” sans toit , sans roi, sans loi (sem casa, sem rei, sem lei).
Lançado na França em 2005 pela Editora Mandacaru. Já traduzido para o português pelo amigo Luiz Frigoletto porém ainda não publicado. VP ? porque compara a saga do Rei do Cangaço com a do traficante carioca Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP.

E de outro autor?

- "Sur les traces de Virgolino, un bandit nommé Lampião". Traduzindo: Na trilha de Virgolino, um bandido chamado Lampião. Uma tese de doutorado de Patricia Sampaio Silva, brasileira radicada na França, em que pude aprender muito sobre a sociedade nordestina. Outra Obra que muito me agrada é Lampião, Seu tempo, e seu reinado do padre Bezerra Maciel.

Qual é o primeiro título recomendado para um calouro? 

- Não seria uma biografia estritamente sobre Lampião, eu indico o best seller Bandidos de Eric J. Hobsbawm.

Com quantos personagens desta história você teve contato? 

- Óbvio que chegamos demasiadamente tarde, mesmo se tivesse alcançado estas pessoas com as quais desejaria questionar afirmo que acredito muito pouco em testemunhos que não são feitos ao vivo (no calor do momento dias após o acontecimento), testemunhos recolhidos dezenas de anos depois são só para dar cores a narrativa. Eu acabo de passar por Nazaré do Pico, Pernambuco onde pude conhecer e conversar com o tenente João Gomes de Lira, talvez venha a ser a única personagem contemporaneo que eu tenha tido contato, mas me satisfaz a oportunidade de poder conhecer os filhos destas pessoas como Vilsinho, (neto e guardião da memória de Antonio da Piçarra). Neli filha dos cangaceiros Moreno e Durvinha. E o Ozéias irmão de Maria.

Manuseando o rifle pertencente à João Gomes de Lira.

Com quem gostaria de ter conversado?

- Com Manoel Neto, com o Zé Saturnino. Mas principalmente com o escritor padre Frederico Bezerra Maciel. Conversaria com todos, mas somente pelo prazer, não para buscar uma parcela de verdade histórica. Vide o meu livro, primeira pagina : “Não declare ‘encontrei a verdade’ mas de preferência ‘encontrei uma verdade’ Khalil Gibran.

 Ozéias Gomes, irmão de "Maria Bonita", esposa e nosso desbravador

Qual é o seu capitulo?

- A invasão de Mossoró

Um cangaceiro (a)?

- Sabino

Um volante?

- Manoel Neto. Apesar de desaprovar várias de suas ações e decisões como a crueldade que tratava os coiteiros e a de arregimentar jovens para as frentes de batalha.

Um coadjuvante?

- Luiz Pedro, porque serviu muito tempo a Lampião compartilhando muitas situações de agruras e alegrias. inclusive o mesmo capítulo final.

Uma personagem secundária? Queria ter bom papel, mas não passou de figurante

- Maria Bonita (Ao meu ver foi útil... para o marketing do cangaço)

 No museu casa de Maria Bonita

Geralmente todo pesquisador é colecionador qual é o foco de sua coleção?

- Tenho apenas livros, mas não considero coleção. Resguardar sem a finalidade de expor ou doar para um memorial para as próximas gerações objetos pessoais que fizeram parte de uma história tão sangrenta pra mim é fetichismo.

Entre as peças tem alguma relíquia?

- Sim, por casualidade : Um presente que ganhei da filha de um ex-embaixador da Bolivia no Brasil que o recebeu formalmente como um objeto que tivera pertencido a Lampião ! No livro “Heroes and Artists Popular Art and the Brazilian Imagination” de October – december 2001, tem um artigo de Frederico Pernambucano de Mello “The aesthetics of the cangaço as an expression of Brazilian libertarianism” com uma foto dum punhal muito parecido com o meu. Portanto o punhal que tenho, um dia foi de Lampião mesmo!

Nós que gostaríamos de ver um filme que retratasse um cangaço autêntico, fiel aos fatos, sem licença poética, erro primário enfim sem exagero da ficção lamentamos a eterna necessidade de se ter finalmente uma produção digna da saga, de preferência um épico ou uma trilogia, enquanto isto não foi possível qual a película mais lhe agradou?

- "O Cangaceiro" de Lima Barreto por sua sobriedade e a sua sensibilidade. Gosto muito de "Antonio das Mortes" de Glauber Rocha. O "cinema novo" brasileiro produziu muitos Chef d'oeuvre” ou seja muitas obras primas.

Eleja a pérola mais absurda que já leu sobre Lampião?

- Que conseguiu escapar vivo de Angico e também a persistencia de muitos lhe atribuírem como um bandido “d’honneur” ou seja um bandido social’ como ‘Robin Wood’. E não concebo aquela passagem em que Lampião é ferido no pé, fica diante de soldados e estes não conseguem vê-lo? Teria ficado invisível ? Paciência!

Diante de tantas polêmicas surgidas posteriormente a tragédia em Angico alguma chegou a fazer sentido, levando-o a dar atenção especial ex.: “Ezequiel não morreu e reaparece anos mais tarde”, “João Peitudo, filho de Lampião”, “O Lampião de Buritis” e “a paternidade de Ananias”?

- Acompanhei essas novidades, mas hoje creio que já estão todas superadas. Sobre a possibilidade da paternidade: Acho bem provável que ele tenha tido outros filhos, porque deve ter seduzido várias mulheres durante suas andanças, mas estes filhos nunca apareceram ou pelo menos nada foi autenticado. Sem uma prova cabal como exame de DNA eu não acredito na possibilidade. 

E Lampião: Morreu baleado ou envenenado?

- Acredito que "as duas causas", em conjunto, nesta ordem, ali em Angico que acabamos de visitar. 

 Iniciando a leitura de mais um livro.

Não precisa detalhar, mas em que assunto ou personagem está trabalhando ou qual gostaria de estudar para a publicação desta pesquisa. Enfim qual a próxima novidade que teremos em nossas estantes?

- Lampeão no Raso da Catarina. Como ele chegou até este local e o eternizou como seu principal esconderijo e como estabeleceu contato com os índios.
Contato: Jack De Witte / 21, Rue du Consulat / 11220 Lagrasse France / Tel/Fax : (0033) (0) 4 68 43 37 31 / e.mail : jack;dewitte@free.fr
*Com exceção das duas primeiras as demais imagens são de Manoel Severo.

*Um fetiche (do francês fétiche, que por sua vez é um empréstimo do português feitiço cuja origem é o latim facticius "artificial, fictício") é um objeto material ao qual se atribuem poderes mágicos ou sobrenaturais, positivos ou negativos. Inicialmente este conceito foi usado pelos portugueses para referir-se aos objetos empregados nos cultos religiosos dos negros da África ocidental. O termo tornou-se conhecido na Europa através do erudito francês Charles de Brosses em 1757. Fonte Wikipédia,.

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domingo, 30 de julho de 2023

MAIOR ROCHA DO MUNDO - ULURU (AYERS ROCK).

 Por Jair Brandi

Uluru ou Ayers Rock é a maior rocha do mundo, um monólito (rocha inteira) situada no Parque Nacional de Uluru-Kata Tjuta, Austrália.

 A maior floresta tropical do mundo
 Grand Canyon - O maior desfiladeiro do mundo
 Everest – A montanha mais alta do mundo
Uluru ou Ayers Rock (como também é conhecido) é a maior rocha do mundo, um monólito (rocha inteira) situado no Parque Nacional de Uluru-Kata Tjuta, próximo à pequena cidade de Yulara, no norte da área central da Austrália, uns 400 km a sudoeste de Alice Springs.
A uma controvérsia muito grande quanto a este título já que agências de viagem da Austrália vendem o Monte Augustus, também na Austrália, como sendo o maior monólito do mundo.

Maior rocha do mundo

Uluru é uma formação maciça de arenito avermelhado com 348 m (1.142 pés) de altura, com uma circunferência total de 9,4 km (5,8 mi), sendo que a maior parte de seu volume se encontra no subsolo, com 2,5 km de profundidade.

Maior rocha do mundo

O Monte Augustus é uma pedra localizada no National Park Mount Augustus, a 852 km ao norte de Perth, no oeste da Austrália, que tem o dobro do tamanho, sendo divulgado pelas agências turísticas como "o maior monólito do mundo", mas não por pesquisadores, já que é composto por camadas e apresenta crescimento de plantas.

Maior rocha do mundo

Após estes argumentos por parte dos pesquisadores, nós do Gigantes do Mundo também concordamos que o Monte Augustus não é composto de uma única rocha, então o Uluru é a maior rocha do mundo.

Maior pedra do mundo

Ayers Rock apresenta uma notável coloração avermelhada que varia de tom conforme a iluminação do sol em diferentes períodos do dia. O arenito e seus minerais como feldspato emitem um brilho ao amanhecer e ao pôr-do-sol.

Maior pedra do mundo

A maior rocha do mundo apresenta inúmeras fendas, poços com água, cavernas e pinturas antigas. Escalara a rocha é uma atração popular para os turistas.

Maior pedra do mundo

A cidade turística de Yulara, com cerca de 3000 habitantes, se encontra a 20 km da rocha e conta com um aeroporto distante 8 km da cidade.

Leia também:
O penhasco mais alto do mundo 
A pedra em alto mar mais alta do mundo
A maior pedra de granito do mundo
https://gigantesdomundo.blogspot.com/2015/08/maior-rocha-do-mundo-uluru-ayers-rock.html?spref=pi
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PARELHAS-RN - AS ORIGENS DE UMA CIDADE

Por José Ozildo dos Santos

           O desbravamento e a ocupação do território parelhense é um capítulo especial na história do Seridó norteriograndense. Logo na primeira metade do século XVII, o Seridó começou a ser explorado. Existem registros históricos que atestam a presença portuguesa na região antes do domínio holandês no nordeste. Tais registros referem-se ao aldeamento de índios da nação tapuia, em território que posteriormente constituiu-se no município de Acari. Na demarcação do referido sítio dos tapuias, encontramos as primeiras referências sobre o Boqueirão de Parelhas, à época, conhecido como ‘Boqueirão do Acauã’.

            Durante o período de domínio holandês, o território parelhense foi visitado por exploradores flamengos, que adentraram o interior da Capitania em busca do apoio do elemento silvícola. Conhecedores dos atos de bravuras e de coragem da nação tapuia, os holandeses sabiamente souberam conquistar a confiança daqueles selvagens, utilizando-os como armas contra os luso-brasileiros.

      Anos mais tarde, após a expulsão dos holandeses, os tapuias, inimigos irreconciliáveis dos portugueses, levantaram-se em armas contra o elemento colonizador, gerando a chamada ‘Guerra dos Bárbaros’, que teve como epicentro o Seridó Oriental.

O Boqueirão de Parelhas, uma coordenada geográfica
na penetração do Seridó potiguar

             Ainda no final do século XVII, pelo ‘Boqueirão de Parelhas’, passaram os terços paulistas, sob o comando de Domingos Jorge Velho com a missão de combater os tapuias em guerra. Em território parelhense ocorreram as mais sangrentas batalhas daquela guerra anticolonalista, que, no final, foi objeto do primeiro tratado de paz assinado por um rei europeu e um chefe de uma nação indígena, na América Latina. 

Terminada a Guerra dos Bárbaros, foram concedidas as primeiras sesmarias no território parelhense. A fácil localização, a fertilidade dos solos e a existência de água, foram os principais fatores que contribuíram para o rápido povoamento do solo parelhense.

Em 1700, o tenente Francisco Fernandes de Sousa [que participou ativamente da Guerra dos Bárbaros], fixou-se na região, após instalar sua fazenda de gado, à margem esquerda do Rio Seridó, nas proximidades da Serra do Boqueirão.  Nascia, assim, o primeiro núcleo de ocupação humana em solo parelhense. No entanto, aquele pioneiro somente requereu a legalização de suas terras após 23 anos de efetiva ocupação, conforme nos informa João de Lyra Tavares, em seus ‘Apontamentos para a história territorial da Parahyba’, publicados em 1912.

As dificuldades da época, a distância entre os centros das decisões administrativas e a constante luta para manter-se na posse da referida terra, foram os obstáculos alegados pelo tenente Francisco Fernandes de Sousa ao governo da Capitania da Paraíba - a cuja jurisdição pertencia o território parelhense - quando da solicitação das referidas terras, em 1723.

Leito do Rio Seridó, próximo ao Boqueirão de Parelhas 
(Foto datada de 1920, por Luciano Jacques de Moraes)

No final do século XVIII, todo território parelhense já encontrava-se desbravado e dividido em fazendas com seus gados presos em currais de pau a pique. Certo e seguro é afirmar que a pecuária foi o elemento que estimulou o povoamento do mencionado território, numa visível consolidação do chamado ciclo do gado ou do couro.

Boqueirão, Cobra, Barra, Carnaúba, Quintos, Boa Vista, Tanques de Felipe Dias, Preás, Sussuarana, Retiro, Malhada Grande, Corujinha e Timbaúba (cujos topônimos sobrevivem até os dias atuais), são exemplos de fazendas de gado que surgiram no território parelhense ainda no século XVIII e que serviram como núcleos iniciais de ocupação humana, naquela região.

Ombreira direita da Serra do Boqueirão de Parelhas
(Foto datada de 1920, por Luciano Jacques de Moraes)

        Se o século XVIII entrou para a história parelhense como a centúria de sua ocupação territorial, o seguinte, consolidou sua formação histórica. Cronologicamente, o primeiro fato de importância histórica registrado no século XIX foi a passagem de Frei Caneca (juntamente com o que sobrou do exército confederado) pelo território parelhense, em finais de outubro de 1824. O mártir da Confederação do Equador deixou escrito em seu diário a impressão viva que teve da Serra da Borborema e da boa hospedagem recebida na ‘Fazenda Alma’, em solo parelhense, quando de sua macha em fuga para o Ceará.

A cidade de Parelhas nasceu de uma prece. Corria o ano de 1856 quando todo o interior da Província do Rio Grande do Norte foi assolado pela epidemia do cólera morbus, que vitimou mais de um terço de toda população norteriograndense.

No atual território parelhense, inúmeros foram as vítimas daquela epidemia infecto-contagiosa. Famílias inteiras sucumbiram, deixando um rastro de dor e sofrimento. Na região, inexistiam cemitérios e as vítimas foram sepultadas em valas coletivas.

         O desespero da população indefesa levou os senhores Sebastião Gomes de Oliveira e Cosme Luís a fazerem uma prece. Se a região ficasse livre daquela mortal epidemia eles construíram uma capela consagrada a São Sebastião. Assim, alcançada a graça, uma pequena capela foi construída. E, ao seu redor, surgiram as primeiras casas.

          O aglomerado humano, aos poucos foi adquirindo delineamento urbano. Numa visível demonstração de fé, foi fincada uma cruz de madeira no local que antes funcionou como o cemitério para os coléricos. Era o marco inicial da evolução histórica da futura cidade de Parelhas, cujo povoado somente aparece nos documentos oficiais - com essa denominação - a partir de 1870.

         Em novembro daquele mesmo ano de 1870, a pequena povoação tornou-se distrito de paz, subordinado ao município de Jardim do Seridó, do qual era parte integrante. A localização privilegiada estimulou seu crescimento.  Ainda naquele ano, ali surgiu a primeira escola de instrução primária, fundada e regida pelo talentoso professor José Gomes, que, por seus relevantes serviços, foi agraciado pelo Imperador Dom Pedro II com a Comenda da Ordem de Cristo. A referida escola foi a primeira no interior da Província do Rio Grande do Norte a funcionar em prédio próprio, construído à custa de seu professor.

          Aos poucos, a pacata povoação foi adquirindo importância econômica. Em 1888, o padre Bento Maria Pereira Barros instalou-se em Parelhas, após ser designado para ocupar o cargo de capelão local. Sacerdote culto e revestido de elevados predicados, realizou a primeira feira na localidade, e, de forma consciente, estimulou o plantio do algodão, cultura que ainda no final do século XIX, tornou-se o primeiro suporte econômico da região.

          No início do século XX, Parelhas recebeu várias missões científicas, financiadas pelo governo central, através da antiga Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS. Todos os cientistas que por ali passaram, unanimemente, atestaram as possibilidades econômicas da próspera povoação. No entanto, apesar de seu grande potencial econômico, Parelhas permaneceu durante muito tempo reduzida à condição de simples povoação, embora ostentasse um aspecto superior a muitas cidades do interior do Estado, superando, inclusive, Jardim do Seridó, de cujo município era parte integrante.

          Somente após uma grande mobilização popular, coordenada por Antão Elisário e outros filhos da terra, a florescente povoação foi elevada à categoria de vila, através da Lei Estadual nº 778, de 26 de novembro de 1920. Anos mais tarde, pela Lei nº 630, de 8 de novembro de 1926, tornou-se município autônomo, ocorrendo sua instalação no dia 1º de janeiro do ano seguinte, oportunidade em que aconteceu a posse de seu primeiro prefeito, o senhor Laurentino Bezerra Neto, que, historicamente, foi também o primeiro cidadão eleito para o referido cargo, no Rio Grande do Norte. Posteriormente, a Lei Estadual nº 656, de 22 de outubro de 1927, elevou a próspera vila à condição de cidade.

Antiga Capela de São Sebastião - Parelhas (Década de 1920)

Aspecto atual da Igreja Matriz de São Sebastião - Parelhas

A Paróquia de Parelhas, sob a invocação de São Sebastião, foi criada por decreto diocesano de 8 de dezembro de 1920, assinado por Dom Antônio dos Santos Cabral, segundo bispo de Natal. Seu primeiro titular foi o padre Natanael Ergias de Medeiros, que, na condição de vigário de Jardim do Seridó, coube-lhe a missão de instalar a nova sede paróquia, regendo-a até 1924. Atualmente, a referida paróquia integra a Diocese de Caicó.


Praça Arnaldo Bezerra - Parelhas (Década de 1950)

 Inicialmente, o território parelhense pertenceu, à povoação, sede da Freguesia de Nossa Senhora do Bonsucesso do Piancó (atual cidade de Pombal, no sertão paraibano). Em 1745, criada a Freguesia Nossa Senhora Santana, do Seridó, passou a ser subordinado eclesiasticamente àquela histórica matriz, mas continuou vinculado administrativamente à povoação de Nossa Senhora do Bonsucesso do Piancó, assim mantendo-se até 1788, quando ocorreu a criação do município da Vila Nova do Príncipe (atual cidade de Caicó).
           
Posteriormente, em 1834, criado o município de Acari, o território parelhense passou a integrar aquela novel comuna, condição mantida até 1º de setembro de 1858, quando foi criado a vila e o município de Jardim do Seridó. Como povoado, distrito de paz e vila, Parelhas pertenceu a Jardim de Seridó até 8 de novembro de 1926, quando conquistou sua emancipação política.
             
Em síntese, a cidade de Parelhas nasceu de uma fazenda de gado, apoiada no elemento religioso, representado pela capela, erigida sob a invocação de São Sebastião (o santo protetor das vítimas do cólera morbus), que foi o marco inicial de sua formação histórica.
             
Seus primeiros habitantes, herdaram a mentalidade agrícola-pastoril de seus desbravadores. Hoje, o referido município encontra-se inserido entre os dez mais desenvolvidos no interior do Estado do Rio Grande do Norte, projetando-se como um importante pólo socioeconômico e cultural da região do Seridó, que desenvolveu mais pelo trabalho de seu povo do que pela ação direta dos organismos governamentais.

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MONSENHOR AMÂNCIO RAMALHO  - EM BIOGRAFIAS

RELEMBRANDO - NOTA FÚNEBRE - Jonas de Icapui CINEMA CEARENSE VESTE LUTO MORRE JONAS LUIZ

JONAS LUIZ ERA PESQUISADOR DO CANGAÇO.

FALECEU EM 31 DE AGOSTO DE 2018.

Faleceu ontem em Fortaleza, aos 67 anos, o cearense Jonas Luiz da Silva, nas artes, Jonas de Icapui, vítima de câncer no pâncreas. Era professor,  teólogo e jornalista, com mestrado em Ciências da Educação. Era ainda pesquisador, escritor, apresentador de TV e cineasta. 

Jonas, que trabalhou no Sistema Verdes Mares, era Diretor de Comunicação da Faculdade Grande Fortaleza, em cuja emissora de televisão universitária, FGF TV, de que foi fundador, havia muitos anos mantinha um programa de entrevistas, que recebia players das artes e das ciências no Estado.


Sua obra-prima é a peça de cinema intitulada “Sedição de Juazeiro”, de 2012, que trata de um dos fatos mais importantes da história política de Juazeiro do Norte, ocorrido na segunda década do Século XX, quando forças políticas declararam  uma dualidade de poderes legislativos no Estado do Ceará, que teve participação ativa do Padre Cícero Romão Batista.



Dirigido por Daniel  de Abreu  e com produção de Jeane Feijão, o roteiro do longa-metragem foi elaborado por  Jonas Luis da Silva de Icapui, que para tanto realizou uma longa pesquisa sobre o tema. No elenco, Ary Sherlok (Padre Cícero), Magno Carvalho (Floro Bartolomeu) e Fernando Cattony (Bezerra de Menezes), dentre outros.

Pela concepção e roteirização desse trabalho Jonas recebeu inúmeras homenagens – na imagem sendo cumprimentado por Bill Klinton, ex-presidente dos EUA, em visita ao Ceará, o qual conheceu e apreciou a sua obra.  

Jonas de Icapui deixou concluída a obra cinematográfica “Chico da Matilde – O Dragão do Mar”, e em fase de formação de parcerias, já com verba de 3.500.000 reais aprovada pela Ancine, a peça de cinema “Em Nome de Deus”, contando a história de Dom Helder Câmara.


A cultura cearense perde, portanto, um de seus grandes pesquisadores contemporâneos, que vinha tentando levar para as telas de cinema lances épicos e personagens maiúsculos da História do Estado. 

Ele, que tinha quatro filhos (Samantha, Rebeca, Nícolas e Steven), deixa viúva Ângela Maria Tavares.




Gostaria agora, neste instante, de abolir todas as guerras e de semear nas almas dos homens de todas as raças o amor pelos animais da terra e que todos cantassem em um mundo transformado de uma nova era pela paz e pelo amor. Seria tão bom se eu pudesse. 

EU SOU JONASLUIS da silva, de icapui”.


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