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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

HOMENAGEM DE ALAGOAS

Por Benedito Vasconcelos Mendes

Potiguar SERÁ AGRACIADO COM O PRÊMIO CULTURAL Alagoano “SELMA BRITO” O Importante e destacado premio “Selma Brito” será Entregue há Próximo dia 17 de outubro, no Auditório do MISA-Museu da Imagem e do Som de Alagoas, em Maceió-AL. 

Ontem os produtores culturais alagoanos Marcus Assunção e Fafá Rocha criadores fazer citado prêmio, anunciaram os ganhadores da quarta edição do tradicional prêmio do cultural Estado de Alagoas “Selma Brito”, que este ano contempla uma figura do norte-rio-grandense Benedito Vasconcelos Mendes, Que aproveitará o festivo evento para lançar Seu Mais novo Livro “Lembranças Campestres“. 


O Prêmio Leva o Nome da grande pianista de Alagoas, de Renome internacional, Selma Brito, Que estará Presente na solenidade de Entrega fazer referido Prêmio AOS agraciados. 

PRÊMIO: Selma Brito (quarta edição) LOCAL DA ENTREGA: Salão Nobre do MISA, nenhuma Bairro Jaraguá-Maceió-AL. Horário: 20 Horas DIA: 17 de outubro de 2018 Apoio: Faculdade CESMAC, Secretaria Estadual da Cultura, Secretaria da Mulher, CD-R Entretenimentos, Sites Maceió 40 Graus e Alagoas Agora. 

Material enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos  Mendes.

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TAMBÉM NA POLÍTICA, A DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA DE SANTA ROSA DO ERMÍRIO

*Rangel Alves da Costa

Impressionante a capacidade e a grandeza participativa de Santa Rosa do Ermírio, povoação pertencente ao município sertanejo de Poço Redondo, nos mais diversos setores da vida pública, econômica e social.
Atualmente já contando com status de cidade - e até considerado o maior povoado de Sergipe -, Santa Rosa desde muito que vem demonstrando sua força na política, na pecuária, na produção agrícola, no comércio, na eleição de representantes políticos, na geração de emprego e renda, etc.
Diversos vice-prefeitos municipais já saíram de suas hostes, a exemplo de Nivaldo Alves de Souza (vice-prefeito na chapa do prefeito eleito Durval Rodrigues Rosa, em 1976), Zé Pequeno (José Laurindo Filho, eleito vice-prefeito de José Roberto Godoy, em 1988) e Deda (José Orlando dos Santos, em 1996 eleito vice prefeito na chapa encabeçada por Frei Enoque).
Outros, mesmo não sendo eleitos, já integraram importantes chapas, tais como Zé do Poço e o saudoso Claudeir dos Santos (mais conhecido como Pinho de Santa Rosa). Importantes lideranças já fruticaram de suas terras.
Apenas para citar alguns, o próprio fundador da povoação Ermírio Torres Machado, e depois seus filhos e familiares, bem como Zezé de Camilo, Francisquinho (Francisco Bezerra Caldas), João de Eredia (João José de Oliveira), Zé Preto de Francisquinho, Antônio José Filho (Tonho Bento), João Torres, Adilson Costa Mendes, João de Zé da Silva, Heleno Batista dos Santos (Leno de Santa Rosa), José Oliveira (Zé de Liveira), José Givaldo de Souza, Rosalvo Pereira Machado, João Paulo. José Edvan Vieira de Paulo (Vanzinho), Juscelino de Santa Rosa e o saudoso Manoel Messias Gregório.


E agora, em pleno ano de 2018, enfim Santa Rosa alcança o mais elevado patamar dos poderes políticos de Poço Redondo. Com efeito, com o afastamento do prefeito Júnior Chagas pela Justiça Eleitoral de Sergipe (TRE/SE), nesta terça-feira 16/10/2018 assumiu provisoriamente a gestão municipal o senhor Neném de Gregório (Agnaldo Alfredo dos Santos), até então presidente da Câmara Municipal de Vereadores. Em seu lugar, na condição de presidente provisório, assumiu Luiz Alberto Laurindo Santos.
Desse modo, dois representantes de Santa Rosa chegam para abonar a força política daquela povoação, demonstrando ser muito mais que um celeiro de bons rebanhos e de produção leiteira, e se confirmando com uma localidade - e futuro município - de gestação de grandes e proeminentes políticos.
Nada surpreende, apenas ratifica o que Santa Rosa do Ermírio realmente é. Parabéns a Poço Redondo, parabéns ao povo e ao eleitor de Santa Rosa. Eis, então, um lema que doravante proponho: “Santa Rosa que floresce entre Ermírios e sobrenomes em um povo de força e fé!”.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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ÁTESTADO DE ÓBITO DO CANGACEIRO CAJUEIRO


No Livro do cartório ambos os óbitos estão na mesma página. Outro detalhe, nasceram no mesmo ano 1896.

Abraço a todos! Depois contarei o resto.

Pesquei no Sítio do coroné Severo

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CANGACEIRO ESPERANÇA SUA PRISÃO E SUA HERANÇA

Por João de Sousa Lima

Cangaceiro "Esperança" ao centro.

A fazenda Quirino, no povoado São Francisco, Macururé, Bahia, era um  dos coitos do bando de Lampião e principalmente reduto dos cangaceiros nascidos entre Macururé, Brejo do Burgo, Santo Antonio da Glória  e Chorrochó. Entre eles Gavião, Azulão, Esperança, Cocada, Zé Sereno, Zé Baiano e Gato. No povoado São Francisco a mãe de Esperança, dona Andressa, tinha terras por lá, porém ela residia na Várzea da Ema.

O comandante de volante que destacava na Várzea da Ema era Antonio Justiniano e dois dos soldados que ele comandava eram irmãos de Esperança: Vicente, apelidado de Medalha e Ananias. A fazenda pertencia a Ludugero, tio do cangaceiro Esperança.

Ludugero, tio de Esperança, dono da fazenda Quirino.

João e Jovelina Barbosa, irmã do cangaceiro Azulão, 
povoado São Francisco.

Esperança, Cocada, Pancada e Gavião, encontravam-se acoitados próximo ao sítio Quirino. Dentro de um cercado os cangaceiros catavam imbu quando chegou o dono do terreno e Cocada o prendeu e depois o soltou. O sertanejo correu e foi avisar policia do encontro que teve com os cangaceiros.
    
Dona Andressa sempre que precisava ir ver suas criações no São Francisco tinha que pedir autorização ao comandante do destacamento e foi em uma dessas viagens que ela travou diálogo com o contratado Reginaldo que lhe sugeriu pedir para que Esperança se entregasse que nada lhe aconteceria, de preferência que ele trouxesse a cabeça de um companheiro que sua vida tava garantida. Andressa levou o recado ao filho que mesmo relutante acabou cedendo aos apelos da querida mãe. Reginaldo mandou roupas novas de mescla azul para Esperança. O cangaceiro ainda relutante disse a mãe que não tinha coragem de se entregar e a mãe saiu triste.
    
Era março de 1933, no coito encontrava-se Esperança, Cocada, Gavião e Pancada.  Esperança chamou Cocada para irem pegar água em um caldeirão ali próximo. Os dois seguiram na direção do caldeirão. Diante quando chegaram ao caldeirão sentaram-se e ficaram conversando. Cocada limpou sua arma e depois pediu a arma do amigo para ele limpar e Cocada entregou seu mosquetão. Esperança limpou, colocou uma bala na agulha e detonou. O cangaceiro com o impacto do tiro caiu uns dois metros de distância e sem saber de onde tinha partido o disparo pediu socorro:
- Me acode Esperança, não deixe os “MACACOS” me matar!
Esperança pegou o facão da marca jacaré, partiu na direção do moribundo e o degolou ainda com vida. Pegou os bornais, armas, a cabeça do cangaceiro e foi se entregar a policia.

 Cabeça do Cangaceiro Cocada,
morto pelo "colega" Esperança

Na Várzea da Ema ele se entregou  as autoridades, contou detalhes da morte que fez, denunciou os coitos dos cangaceiros na região. Com dez dias  depois  foi encaminhado para a cidade de Uauá, onde o capitão Manoel Campos de Menezes que o livrou da prisão e o incorporou na volante policial do tenente Santinho como contratado . Ficou sendo o corneteiro do grupo. Trabalhou em Jeremoabo e faleceu tempos depois na cidade de Juazeiro, Bahia.

Ainda na prisão em Várzea da Ema.

O cangaceiro Esperança quando preso, já atendendo agora por Mamede, seu nome real, encontrou o com o jovem sobrinho José  Gonçalves Varjão, apelidado de Pororô e lhe confidenciou que na frondosa árvore lateral a casa de sua família, enterrado próximo ao seu tronco, tinha um material guardado e que ele tirasse e entregasse a seu pai. Pororô procurou ao redor da árvore mais diante da pouca idade não encontrou forças para continuar a empreitada de escavação no duro chão de cascalhos.

O tempo passou, Pororô cresceu e retornando certo dia de uma caçada, quando se aproximava de sua velha residência, viu quando seu cachorro passou acuando um preá, o cachorro parou próximo a antiga e frondosa árvore, Pororô se aproximou e viu o cão rosnando e olhando para um pé de macambira, Pororô tirou a cactácea e avistou uma lajota cobrindo um buraco, tirou a pedra, o preá correu com o cachorro latindo atrás, Pororô puxou um tecido em farrapos que cobriam algumas peças, entre elas: Uma colher de prata, 160 cartuchos de fuzil, um punhal, uma espora e algumas moedas.

 Colher de prata de Esperança 
presenteada ao escritor João de Sousa Lima pelo sobrinho do cangaceiro.

Era esse o tesouro de Esperança que ele havia pedido para o sobrinho guardar. Pororô vendeu os cartuchos a um dos prefeitos de Macururé. A colher de prata, algumas moedas, o punhal e uma das esporas ele me presenteou. Na colher encontramos as letras: MA. Talvez o cangaceiro tenha tentado escrever seu verdadeiro nome: MAMEDE. No punhal tem um “NA” ou “NH”.

Detalhe do cabo do punhal de Esperança

Pororô ainda reside e seu irmão Izidoro ainda residem no São Francisco e os Quirino é herança que ficou com a família. Aquele longínquo pedaço de chão ainda guarda as histórias do cangaço vivido em suas terras, memórias ainda latentes de um tempo que teima em não ser esquecido e nem deve....

João de Sousa Lima ladeado por Izidoro e José Pororô
Sobrinhos de Esperança.

Segue em anexo a esse texto uma das cartas de interrogatórios realizados pela polícia e que mostra a importância desses lugares citados com a história do cangaço e a referência com pessoas da localidade. A carta vai transcrita na integra com os erros e incorreções:
“Aos três do mês de maio de 1932, no arraial de Várzea da Ema em casa de residência do segundo tenente Antonio Justiniano de Souza, sub delegado de policia, foi interrogado o bandido acima referido que disse:
   
“Em 1929, estando ele bandido, em seu rancho no lugar denominado São Francisco, foi surpreendido pelo grupo de Lampião que ali chegava a mando do Cel. Petronílio de Alcântara Reis, para que fosse as imediações do Icó e ali receber dinheiro enviado para Lampião, cuja importância era 20:000$000, mas só foram entregues 18:000$000 e que dois restantes Lampião disse que dava por recebido, quando lhe mandasse um cunheito de munição; o que não sabe-se se isso efetuou-se,  mais depois ouviu do bandido ferrugem a declaração de que teve referido Cel. Petronilio havia comprado munição. E que devido a esse encontrão foi ele depoente obrigado a refugiar-se nas Caatingas, pois as forças andavam a sua procura tendo por isso de quando em vez constantes encontros com os cangaceiros, merecendo do mesmo consideração a ponto de lhe ser entregue por “Lampião” um rifle com cem cartuchos, os quais conservou até a data de sua prisão, não tendo, porém feito uso da dita arma para a prática de crime.
 
 Sargento Otávio Farias, radiotelegrafista da policia baiana.
Serviu na Várzea da Ema, sempre enviava as mensagens contando os combates 
dos cangaceiros contra as volantes.
Que sempre foi seduzido por “Lampião”  para fazer parte do seu grupo, mas nunca aceitou, apesar de ter parente no grupo, como sejam: Azulão, Carrasco e Moita Brava. Que esses encontros se efetuavam no lugar denominado Quirino para Lagoa Grande, sendo os sinais convencionados para os referidos encontros, três  pancadas em um pau seco, ou então berrando como boi; que nunca recebeu dinheiro de “Lampião” a não ser algumas roupas dadas pelos cãibras.
   
Que nos últimos encontros que “Lampião” teve com as tropas. Ele respondendo notou que alguns companheiros estavam desgostosos por verem os sacrifícios da causa, que nessa data viajaram nos “cascalhos” das aroeiras com direção a Várzea pernoitando a três quilômetros de distância.
   
Que nessa mesma noite desligou-se do bando a meia noite com Manoel Sinhô de Aquileu, sem que fossem pressentidos pelos outros e vieram pairar nas “Canouas” onde foram informados por Pedro de Aquileu que havia garantia para todos aqueles que tinham ligações com cangaceiros, uma vez que procurassem as autoridades para se entregarem.
   
E baseado nisso em companhia de Pedro veio à procura do Tenente Justiniano em Várzea de Ema onde se acha. Disse mais que “Lampião” depois do combate do touro com o Tenente Arsênio cuja força foi emboscada e morreu quase toda, escapando o referido oficial, pois é um herói que enfrentou o grupo que era numeroso, com um fuzil metralhadora dando somente três rajadas conseguiu matar o irmão de Lampião, Ponto Fino e sendo forçado a abandonar a arma deixando-a inutilizada pelos bandidos.
   
Que nessa ocasião encontrou Lampião cartas ao Cel. Petronilo acusando Lampião, por isso Lampião resolveu queimar algumas fazendas referido Cel. Petronilo.
   
Disse mais que ouviu de Lampião dizer que tinha mil tiros de fuzil enterrados em um ponto lá para baixo, não declarado ao certo o lugar e que ia também a Curaçá a procura de outros mil tiros que tinha para lá.
Quanto ao armazenamento sabe que Lampião tem alguns  rifles ensebados em ocos de pau (ensebados, para não darem o bicho próprio de madeira).
   
Perguntado quais são as pessoas que fornecem armas a Lampião respondeu que não conhece mais sabe que nas fazendas Juá, Várzea, e São José há “coitos” onde lhes prestam bastante serviços em abastecimentos.
   
E por nada mais dizer nem lhe ser perguntado deu-se por findo estas declarações ao presente auto que vae por todos assignados pelo tenente e testemunhas.

Várzea da Ema, 7 de maio de 1932”
João de Sousa Lima,
Historiador e escritor, Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro do IGH- Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso
Membro do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará- Fortaleza- CE.

Tá tudo lá, no www.joaodesousalima.com

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HISTÓRIAS DAS GRANDES BATALHAS O FOGO DA MARANDUBA

Por Raul Meneleu 

Pesquisador Raul Meneleu
Quando estive nos campos de guerra do Fogo da Maranduba, nunca poderia imaginar o que realmente acontecera ali, se não fosse a ajuda de um mago da narrativa, em um de seus livros sobre essa odisseia chamada Cangaço. 

Em encantamentos presenciais, imagino o Caipira de Poço Redondo, Alcino Alves Costa, em pé, nessa rocha em que estive; olhando e se transportando para aquele dia nove de janeiro de 1932 às quatorze horas, quando se deu esse famoso combate entre os heróis Nazarenos com seus inimigos mortais, Lampião e seus cangaceiros.

Eu não conseguia ver o que houvera naqueles campos, a não ser uma pequena cruz fincada no meio da caatinga, para marcar a sepultura inicial desses bravos que deram sua vida, para tentar acabar com aquelas feras que viviam fazendo perversidades pelo sertão.

Antes, como visto pelo Alcino, em sua encantada presença ao dia do combate, onde visitou com os olhos da imaginação esse ermo que estamos vendo agora. Era uma mataria fechada. Hoje apenas um ermo quase sem vegetação alta. Mas ainda vemos alguns umbuzeiros da época.


Convido os amigos a virem comigo apreciar o que Mestre Alcino viu com os olhos da imaginação e pelos diversos contatos que teve com alguns dos heróis nazarenos e com cangaceiros ainda vivos, quando talvez nessa mesma pedra, ou em Fogo da Maranduba!*

"O cerrado de Maranduba era, e ainda é, uma das mais faladas caatingas da região sertaneja de Sergipe, mataria grossa: o cipó de leite, bom nome, angico, aroeira, braúna, barriguda, umburana, quixabeira e umbuzeiro, morada do gato, da ema, do caititu, do tatu bola e do peba. 

Pastos onde só vaqueiros machos corriam atrás de bois, vaqueiros escolhidos e famosos como os Soares, o maioral Milinho, João Preto, os Teobaldo, os do Cuiabá e os de João Maria: Adolfo e Manezinho Cego, o famoso Manezinho de Rosara. 

Ali. Bem ali. Naquele emaranhado quase que intransponível, está o coito de Lampião. É ali onde as mulheres cangaceiras esperam seus homens que retornam de mais uma de suas costumeiras razias.

Os soldados vêm chegando. Chegam a umas pias. Espantados, vêem os pingos de água que caem dos paus em cima das pedras. Sinal de que os bandidos ainda estão por ali mesmo. Ao redor das pias, apenas uns quinze homens, os outros estão atrasados, alguns estão na casa velha do Maranduba e outros ainda nem lá chegaram. Mané Neto, louco por uma desforra, resolve não esperar os retardatários e seguir em frente, sabe que os homens de Lampião estão bem próximos, ali naquela mataria.
  

No entanto, não sabe Mané Neto que a natureza havia presenteado aquela parte da caatinga com um extraordinário anel, formado por um maravilhoso círculo. Sete umbuzeiros circundam belamente as pias, é uma paisagem de raríssima beleza. É nesse anel formado pelos sete umbuzeiros que Lampião se refugia com seus homens. Havia chegado naquele mesmo momento, coisa pra menos de meia hora, demorara-se um pouco nas pias e agora espalhara seus homens pelas sombras dos umbuzeiros. A alegria é geral. Abraços e vivas fazem a felicidade de todos. Os bandidos formam uma só família. Vivem irmanados pela dor e pelo sofrimento. 

Apenas Lampião não tem alegria. Está taciturno e inquieto. Chama Luís Pedro e ordena:

— Avise ao pessoá qui enquanto nóis num preparar os sentinelas, eu num quero ninguém desequipado, quero todo mundo aperparado e pronto pra uma surpresa. Achu qui a quarquer momento a gente vai ser atacado. 

Mané Neto está saindo das pias e vagarosamente caminha na mataria. Os cangaceiros estão ali a menos de cinquenta metros. A hora da verdade chegou. Escutam as vozes alegres da cabroeira. Rápidos cercam, ou pensam que vão cercar o coito. Acham que os bandidos estão em um umbuzeiro. Jamais poderiam imaginar que ali existissem sete umbuzeiros e que os bandoleiros estivessem espalhados em todos, como também não imaginaram que os bandidos estivessem praticamente preparados para o combate, graças ao poder misterioso de Lampião que previu com precisão o momento do perigo. 

São exatamente duas horas da tarde. É o dia nove de janeiro de 1932. Estão frente a frente os inimigos mortais. Nazarenos e Lampião se enfrentarão, Liberato e sua força serão os coadjuvantes da tremenda desforra. A oportunidade de vingar-se do desastre da Serra Grande se apresenta e os nazarenos não poderiam deixar fugir esta grande chance. Serra Grande era uma marca dolorosa que feria profundamente a vaidade de Mané Neto; grandioso combate que ficara nos anais da guerra cangaceira, oportunidade em que as forças comandadas por nada menos que seis experientes comandantes, os temidos Arlindo Rocha, Zé Olinda, Gino, Domingos, Euclides Flor e Mané Neto, foram espetacularmente derrotados pelo iluminado cangaceiro da Ingazeira. 

Triste 26 de novembro de 1926, data em que as mortais balas dos bandidos deixam marcas indeléveis em suas pernas e quase o levam para o outro mundo. Agora, seis anos depois, surge a maior chance e ela precisa ser aproveitada. Serra Grande e Maranduba, além de Serrote Preto, foram na verdade as maiores vitórias e os maiores feitos do grande rei dos cangaceiros.

Nos cerrados de Maranduba, Lampião dá o alarme. Grita:

— Cuidado mininos. Os macaco cercaro a gente. 

Nesse momento, o inferno como que desaba naqueles ermos. Não existe nada comparável à violência e aos estrondos do combate e do tiroteio. O ribombar ecoa longe, muito longe. Parece que o inferno transportou para aquela esturricada terra os horrores e agonias de suas profundezas. 

Os das volantes, valentes, vaidosos, confiantes e destemerosos, atiram e avançam enlouquecidos e alucinados. A ordem de Mané Neto é avançar e avançar sempre. Liberato está ao seu lado; ele e mais alguns entre os quais Mané Véio, Elias Marques e o filho Pocidônio estão na vanguarda, ao lado de Mané Neto. Querem mostrar que são verdadeiros machos, verdadeiras feras, que nada ficam a dever à força pernambucana. 

Os soldados gritam: Mistura! Mistura! 

A vitória parece certa. Já estão misturados, juntos, dentro do coito. Os retardatários vêm chegando, tudo vai ser muito mais fácil, a animação da tropa é sem igual, aquele está sendo um feliz combate. Lampião não tem como safar-se do cerco que lhe fizeram. É hoje ou nunca.

É para Mané Neto a justa recompensa de tantos anos de luta e sofrimento, desde aquele já distante 1923, quando juntamente com o amigo e conterrâneo Odilon Flor ingressaram nas tropas do governo, persegue o infeliz inimigo, e vem sendo sistematicamente derrotado. Alí não é Serra Grande. Naquele combate, apesar de Lampião ter enfrentado seis destemidas volantes, com mais de trezentos homens e sair vencedor, contava com a vantagem de ser o atacante, de estar fortemente preparado e bem entrincheirado esperando as volantes impossibilitadas de sair da arapuca. 

Agora a situação é totalmente inversa, tudo é diferente; apesar do número de soldados ser muito menor, todos os trunfos estão do lado das volantes. Acham que Lampião havia sido atacado de surpresa, e o local, embora muito fechado, era raso, em um plano que muito beneficiava os atacantes; tudo favorecendo as forças. 

Mas do outro lado, o herói, o titã do nordeste, o guerreiro ímpar dos sertões. Imediatamente, dos sete umbuzeiros estrondam furiosas as armas da cabroeira. Rápidos formam um envolvente bloqueio. Procuram de todas as maneiras fazer frente aos da volante. Experientes, calejados e preparados, os veteranos bacamarteiros, dentro da mais perfeita ordem, procuram se alargar pelo cerrado, numa manobra altamente tática e envolvente, deixando os atacantes sem saber para onde dirigir o combate. Começam então a aparecer as primeiras dificuldades, aquele combate que parecia dominado e à mercê dos soldados, está se apresentando como um difícil e tremendo confronto. 

O momento do flagrante já passou. Estarrecidos, os soldados sentem que não conseguiram a vantagem esperada e ainda se dão conta de que já não são os atacantes; sofrem uma medonha investida. O ímpeto e ferocidade dos bandidos são inigualáveis. Começam a ficar desnorteados. Aquilo que parecia ser o início de uma gloriosa vitória começa a ser um terrível e inesperado pesadelo. A luta é de uma atrocidade impressionante. Ali está a nata dos valentões sertanejos. Verdadeiras feras. Verdadeiros suicidas. 

Mané Neto, o lendário vesgo de Nazaré, mostra-se realmente um valentão. A sua vaidade, a sua soberba, na verdade são nascidas de seu temperamento de ferro e de sua incomparável coragem. Liberato não deixa por menos, é também um gigante sertanejo. Juntamente com o Mané Fumaça, formam uma dupla de desassombrados comandantes que não sabem qual é o significado da palavra medo.

Mas apesar da valentia dos comandantes e de seus soldados, o destino da batalha estava selado. A derrota havia se afigurado desde o início da perseguição quando o despeito entre as volantes havia decretado aquele desastre que, no momento do tiroteio, estava se consumando. O verdadeiro e maior desastre foi a chegada dos retardatários. 

Com o estrondar do pesado fogo eles reúnem suas últimas forças e correm para ajudar os companheiros. Não contam com a experiência de Lampião e seu bando que se haviam espalhado deixando os soldados sem saber para que lado atirar. 

Quando também se envolvem com a luta não discernem o alvo a ser atingido e, na ânsia de socorrer seus companheiros, disparam naqueles que se aproximam, confundidos com os inimigos. 

Angustiados percebem o fortíssimo e nutrido fogo em que se encontram. O desastre e a tragédia se configuram. Desesperados, Mané Neto e Liberato tentam parar o fogo cerrado de seus próprios comandados. O impossível está acontecendo, desgraçadamente seus melhores homens estão dentro de um corredor mortal, cujo tapete era o sangue de sua própria gente. 

As baixas começam assustadoramente a subir. Os primeiros atacantes estão sendo dizimados, os homens de Mané Neto são os mais atingidos. Desenha-se o quadro monstruoso de mais uma desastrada derrota.

Dos da Bahia estão na linha da frente, além de Liberato, os valentes de Santa Brígida; Elias Marques, seu filho Pocidônio e Mané Véio, os quatro baianos brigam juntos. Um pouco mais ao lado, brigam Mané Neto e João de Anízia, outros estão espalhados e amparados nos troncos das árvores. 

Os bandidos estão enlouquecidos. Avançam como se fossem feras, atiram e adiantam, negoceiam e progridem, gritam e atiram. Rifles e mosquetões estão em brasa, a sede é torturante, os cangaceiros em cima, endemoniados. 

De repente, Elias é baleado, Pocidônio pergunta se o ferimento é grave, o ferido é um titã, quer lutar ao lado do filho. Responde que não. Foi apenas um ferimento no braço. A luta continua, minutos depois Mané Véio vê Elias caído, corre e ampara o tio colocando-o sobre suas pernas. Antes viu um cangaceiro como um louco pular na frente dos atiradores, parecendo que queria pegar Mané Neto à mão. 

O bandido está tão próximo que, sem dificuldade alguma, atira e o cangaceiro cai a seus pés. Aproveita e da cabaça do próprio bandoleiro bebe água; retirando a caneca dependurada na mesma cabaça, enche-a de água. Quando sorve o precioso líquido sente um gosto muito grande de sangue. Não se incomoda. Como está morrendo de sede torna a encher a caneca e aí vê a mesma se tingia com o sangue que pingava da cabeça do cangaceiro morto: Sabonete. 

O ferimento de Elias, a princípio, aparentemente sem a menor gravidade, agora lhe retira a vida. Nos braços de Mané Véio e de Pocidônio, esvai-se em sangue. O filho também está baleado em uma perna. A situação torna-se dramática e desesperadora. Entre os nazarenos, a tragédia ainda é maior. Mané Neto e os seus, debaixo de um verdadeiro massacre, assiste à queda de seus homens numa constância alarmante.

Muitos feridos e vários mortos. Já estão sem vida os irmãos Edelgício e Ercílio de Sousa Novaes, filhos de Conrado Ferraz Nogueira, da fazenda Ema, e irmãos de Aureliano e Herculano. Também tomba sem vida o sargento João Cavalcante, conhecido como João de Anízia da Ipueira, além de Antônio Benedito, Pedrinho e Manuel Ventura.


Dos cangaceiros morrem apenas Sabonete e Catingueira. Aquela tão sonhada desforra, aquela gloriosa vitória, torna-se em uma retumbante derrota, parecendo que as duas volantes serão aniquiladas pelos verdugos de Lampião. 

Mané Neto está enlouquecido, não se conforma com o desastre e renega a sua própria sorte.

Alucinado, contempla seus homens estirados, sem vida naquela caatinga. Procura pelo companheiro João de Anízia, o valoroso sargento de sua Nazaré, até que o encontra morto no pé de uma braúna, não nota ferimento e nem sangue; só depois de revirá-lo é que descobre o grande furo deixado pela bala em suas costas. Não é possível que aqueles homens tão destemidos e valentes estejam alí sem vida.

O que dirá aos pais, irmãos, esposas e filhos quando para Nazaré retornar? Alí mortos estão os homens que nasceram, cresceram e viveram sempre juntos, todos praticamente de uma mesma família, todos enfrentavam e quase sempre eram derrotados por um dos seus, por um dos que também viveram toda sua vida naqueles campos secos e bravios dos sertões de Vila Bela. 

A batalha do Maranduba, como a de Serra Grande, foram os maiores pesadelos da história romanesca daqueles que perseguiam os asseclas nordestinos e a total desmoralização dos cabras de Nazaré, a partir desse fatídico dia, não mais conseguiram ímpetos e nem ânimo para guerrear com Lampião e sua gente. Maranduba e Serra Grande são, portanto, os dois maiores marcos, os dois maiores feitos da guerra cangaceira."

* Do livro MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO - Alcino Alves Costa, transcrito por Raul Meneleu em seu essnecial blog Caiçara do Rio dos Ventos

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PIONEIROS ADOLFO MEIA-NOITE

por Yoni Sampaio

Em 1877, quando Antonio Silvino tinha apenas 2 anos de idade, Adolfo Meia-Noite já dominava a região como cangaceiro. Ele com seus dois irmãos Manoel e Nobelino, por uma questão de honra, tiveram que se armar contra o desafeto conhecido como padre Quaresma (apelidado de padre, não se sabe por quê) - um comissário de polícia, subdelegado naquela época. A razão dessa animosidade: uma paixão amorosa.


Adolfo era o galã da vila, disputado pelas garotas da localidade e, por inveja, o subdelegado traiçoeiramente o prendeu na localidade Varas, enviando-o à Ingazeira.

Como não havia segurança nas cadeias daquela época, é colocado em um tronco. Quinze dias se passaram sem que seus familiares soubessem, porque o mesmo se achava incomunicável.

Através de um conhecido foram informados que Adolfo tinha sido fichado como ladrão de cavalo e que, se não o libertassem, ele iria morrer. A essa altura Adolfo não sabia qual a razão de estar preso, até que o tenente responsável por sua prisão lhe disse:
Você conhece Padre Quaresma?
Sim, disse o preso.
Pois ele mandou um presente.
Ele respondeu:
Nada tenho a receber de um homem que me botou aqui sem eu merecer.
Então o tenente lhe deu vinte lapadas com uma vara de espichar couro. A partir daquele momento ele ficou sabendo por quem e por que estava preso. E veio o desejo de vingança que tanto prejuízo causou a si e à família.

A partir daí a vingança prevaleceu, sendo o comissário a primeira vítima e, em conseqüencia, sua família se viu obrigada a se mudar.

Por mais de cinco anos Adolfo e seus cangaceiros dominaram o Pajeú. Não só por esse trio era formado o grupo; Oiticica - cangaceiro de destaque - que também era seu parente, tombou em combate contra os “Quicés” que moravam no sítio Tamanduá e foram testemunhas contra Adolfo, quando foi preso. Nesse combate os ‘Quicés’ perderam dois membros da família. Eram eles parentes de Praxedes José Romeu, muito valente. Sob o comando de Praxedes cercaram a fazenda Volta e, por não encontrarem Adolfo, assassinaram o seu irmão Pacífico, que além de criança era retardado. Daí por diante o “granadeiro” falou.

Adolfo chegou a comandar dez cangaceiros. Não se registrou nenhuma Vila ou Cidade que ele não tivesse assaltado. Mas, ainda se vê no distrito de Jabitacá suas tradicionais trincheiras construídas de pedras soltas. As que mereceram mais atenção foram as da serra do Brejinho.

Sobre aos nomes dos seus cangaceiros pouco se sabe, a não ser o de “Manoel do gado”, antigo marchante; e Almeida, filho natural da serra da Colônia, assassino frio que matou um primo do sítio Extrema por uma simples rapadura.

Adolfo não estava presente e censurou essa atitude. Era Almeida de inteira confiança do chefe. Num certo dia pediu para visitar a família e quando retornou vinha “peitado” para matar Adolfo. Mas, foi mal sucedido, ganhando a morte pela infidelidade. Adolfo foi considerado a ovelha negra da família.

Outra versão sobre Adolfo Meia-Noite - “Era considerado um homem manso e romântico. Seu grande pecado foi a paixão que tinha pela prima, filha de um rico e poderoso fazendeiro daquelas ribeiras que, não achando ser o negro merecedor da donzela, mandou prendê-lo e açoitá-lo ao tronco colonial.

Quando foi liberado do castigo, seu pai, sabendo do ocorrido, recusou-lhe a bênção porque ele não havia lavado sua honra com o sangue do tio. Na mesma noite, Adolfo esgueirou-se para dentro da casa do tio e o matou, fugindo em seguida para o vale do Rio Pinheiro. Como havia matado pessoa influente na região, virou foragido da justiça tendo que passar o resto de sua vida a fugir da polícia, levando consigo os irmãos Manuel e ‘Sinobileiro’.

Apesar de ter se tornado cangaceiro, Meia-Noite era tido como homem justo e pacífico. Isto ficou evidenciado num episódio em que ele e seu bando prenderam o negro Periquito, que levara consigo alguns bens do seu patrão.

O bando pressionava Periquito, querendo o dinheiro que este levava, quando Adolfo colocou-se contra aquela situação, dizendo aos companheiros:
Vocês não vêem que se ele leva dinheiro, este não lhe pertence?
E dirigindo-se ao escravo pergunta:
Levas dinheiro contigo?
Sim, senhor - respondeu periquito.
- Levo 500 mil réis do Sr. Paulo Barbosa.
Ao ouvir esta resposta o bando se excita, mas o cangaceiro os repele:
Vá embora. Se precisar de alguma quantia, irei tomá-la do seu senhor, e não de você, que não é dono, pois se eu o fizer, certamente seu amo não irá acreditar na sua estória, e irá castigá-lo."

Adolfo morreu na Paraíba, em confronto com a polícia.

[O cangaceiro era neto do inglês Richard Breitt, traduzido logo pela gente da terra como Ricardo Brito, (embarcadiço, que chegando ao Recife, com 11 anos, no início do século XIX, internou-se pelo interior, no lugar Volta e não mais regressou. Ligou o seu destino ao de uma sertaneja, da família Siqueira Cavalcanti, conforme informações, e, segundo outras, a uma descendente do mameluco Amorim, que provinha dos índios da serra de Jabitacá. Richard Breitt depois de muitos anos foi convidado a regressar a sua terra, Londres, para receber grande fortuna, de herança que lhe pertencia. Por amor à família tudo renunciou. Chegou a ir até o porto da capital, mas lembrando os filhos, foi tirando os troços de volta já na hora da partida). Chegou à decadência devido a um dos seus netos - o temido Adolfo Rosa Meia-Noite (filho de sua filha Riqueta com Leandro) ter se tornado cangaceiro.]

Fonte: "Jabitacá" - Dois documentos para a sua história (Yoni Sampaio);
Pescado no açude: Afogados da Ingazeira

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A PEQUENA FRANCINE MARIA



"Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância"- Simone Beauvoir.

A PEQUENA Francine Maria foi destaque no CARIRI CANGAÇO realizado em S. J. Belmonte - PE.

OBS: Essa menina toca sanfona, violão, flauta, declama e muito mais.

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