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quarta-feira, 13 de junho de 2012

História da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Macaíba

Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Macaíba
 
Todas as vezes que passava pela cidade de Macaíba/RN, uma Igreja Católica datada em 1882 me chamava a atenção por seu estilo de construção. No dia 13/06/2012, ao retorna de Mossoró, resolvi passar no centro da cidade e realizar imagens fotográficas do local para posteriormente pesquisar quando foi construída. O Sr. Anderson Tavares possui uma página na internet relatando que essa Igreja foi construída muitos anos antes da data citada acima, passando-o posteriormente por reformas. Comumente a história de nossos municípios Norte Riograndense começa por uma fazenda de gado e logo em seguida a construção da capela canonicamente permitida e liturgicamente abençoada.

Na cidade de Macaíba a pedra fundamental da futura matriz foi lançada em 1858 numa cerimônia festiva presenciada pelos vigários de Natal e São Gonçalo conhecido na época por nome de Sr. Bartolomeu da Rocha Fagundes e Sr. José Paulo Monteiro de Lima respectivamente, pelo Sr. Major Fabrício Gomes Pedroza (1809-1872). Em 1868, no livro velho de contas da matriz está registrado que cada lado, inclusive o terreno em que se acha edificada a mesma capela Nª Sª. Da Conceição, Santos Cosme e Damião.

A capela era a afirmação da fé e denunciava o desenvolvimento econômico local, a densidade demográfica em ritmo crescente, o número apreciável de almas em "estado de comunhão", certa massa residencial fixando cristãos, vivendo em tarefas regulares.

A capela declarava a presença da vida social organizada sobre bases estáveis concordância de esforço com a produção asseguradora da existência familiar, o grupo vicial capaz de prestar mutua proteção e auxílio, sistema de caminhos articulando as propriedades esparsas ao centro mais povoado, facilitando transito e escoamento das safras, costumes cristãos, unificadores e solidários com a figura simples da capelinha, pastoreando o rebanho imóvel, reunido à voz lenta do pequenino sino emocional.

No dia 08 de dezembro de 1869 procedeu-se a benção da capela-mor do templo, somente então concluída. As obras de construção do templo foram reiniciadas em 1882, sob a direção de Frei José Maria Ibiapina. Em 1883 a Igreja foi elevada à categoria de matriz, a mesma foi concluída entre os anos de 1896 e 1904, sob a direção do padre Marcos Santiago. Trata-se de um templo de grandes proporções, o qual possui estilo gótico e barroco.

Segundo a arquiteta Jeane Nesi do IPHAN, " A matriz é constituída de capela-mor, nave principal, galerias laterais, sacristia, coro e um amplo consistório". E continua, " A fachada principal, emoldurada por cornija, apresenta um corpo central constituído por três portas de acesso, superpostas por igual número de janelas rasgadas, com guarda-corpos de ferro. As portas são de madeira, assentadas em vãos de vergas em arco pleno, apresentando ainda bandeiras de ferro. O templo possui frontispício curvilíneo, com um relógio no centro e uma inscrição - 1882 - data que assinala o início de sua construção". 

A imagem da padroeira Nossa Senhora da Conceição foi doada pelo Sr. Major Fabrício Pedroza, sua esposa Luíza Florinda e suas filhas que organizaram uma bonita procissão de Guarapes de onde retiraram a imagem da capela vida de Portugal, para a futura matriz.

Seguindo o gesto do fundador, as famílias que formavam o povoado a convite de Fabrício, passaram a doar imagens de suas devoções para a matriz, assim tivemos; Lyra Tavares - São Francisco e São Luís Gonzaga, Costa Alecrim - Santa Terezinha e Sagrado Coração de Jesus, Moura - Santos Estevão e São José, Mesquita - Nª Sª. Da Carmo, Albuquerque Maranhão - Senhor Morto e Ressuscitado, Andrade Lima - Sagrado Coração de Maria, Freire - Santa Bárbara, Castriciano de Souza - Senhor dos Passos.

Faltava-nos tão somente a criação de uma paróquia, o que asseguraria a presença contínua do pároco em caráter permanente, inamovível, garantia positiva da sequencia na assistência religiosa e no conselho moral do seio doméstico. as assembleias legislativas Provinciais eram as responsáveis por esta criação. Através de um requerimento do deputado Dr. Francisco Chaves, senhor do Ferreiro Torto, foi sancionada a lei provincial Nº 815 de 07 de dezembro de 1877, que criou a paróquia de Nª Sª Da Conceição. Entretanto, decorridos seis anos de instituída, e não havendo padre para provê-la, a lei caducou, passando por outra lei provincial.

Segundo o historiador Câmara Cascudo em seu livro História da Paróquias do Rio Grande do Norte, pág. 24, "Macaíba - Nª Sª Da Conceição - criada pela lei nº 876 de 17 de março de 1883, que suprimira a freguesia de São Gonçalo. Vigário, Padre Manoel Fernandes Lustosa".

Já o historiador conterrâneo Dr. Augusto Tavares de Lyra em seu opúsculo História do Rio Grande do Norte, pág. 362 assim se expressa: "Freguesia de Macaíba: Criada pela Lei Provincial nº 876, de 17 de março de 1883, que suprimiu a freguesia de São Gonçalo, transferindo para ali a sua sede. A sua invocação é N. S. da Conceição.

Todos os demais historiadores são unânimes a esta data. os documentos oficiais da antiga assembleia imperial, atualmente arquivados no nosso respeitado Instituto Histórico e Geográfico do RN, também são claros e precisos nesta perspectiva.

O templo sofreu outras modificações significativas. Em 1938, o padre Alexandrino Suassuna, mandou derrubar as 12 tribunas onde antigamente ficavam as famílias ilustres do município. As suas antigas telhas de cerâmicas foram substituídas por outras, de fibrocimento. 

O coro teve o seu assoalho de madeira trocado por outro de laje em 1968, as galerias laterais receberam um forro de laje, no mesmo ano, bem como o altar-mor. Suas grossas paredes guardam ainda hoje, restos mortais de pessoas ilustres para o município e para o estado, em belíssimos ossuários.

Fonte consultada: 
História e genealogia de Macaíba
Extraído do blog do Neto

Luiz Pedro Cordeiro ou Luiz Pedro do Retiro

Por: José Mendes Pereira

É claro que o que devemos fazer é elogiarmos os esforços, trabalhos e pesquisas feitos por essa nova geração de escritores e pesquisadores do cangaço, mas vale lembrar que pouco tem se falado sobre o  grande astro da "Empresa de cangaceiros Lampiônica & Cia", o Luiz Pedro. 

Ainda á tempo e muito tempo para se fazer uma pesquisa com os familiares do cangaceiro Luiz Pedro, que com certeza, ainda existem parentes lá por Triunfo -  Retiro no Estado de Pernambuco. 
Luiz Pedro foi um dos que chegaram ao fim da jornada com o casal de cangaceiros mais famoso de todos os tempos, Lampião e Maria Bonita. Mas pouco foi registrado sobre ele.

Mas não é só Luiz Pedro, também os cangaceiros: Balão, José Sereno, Jurity e outros e outros.

As informações desses facínoras são bastante restritas, vez que conhecemos de alguns, mas outros não temos informações quem eram os seus pais, irmãos ou até mesmo filhos, que com certeza, tiveram antes e depois do cangaço.

Lógico que pesquisar por estes Estados do Nordeste nunca foi tão fácil, quando se depende de tempo e uma boa condição financeira para permanecer por alguns dias fora do seu lar, mas em cada Estado do Nordeste que Lampião passou ou viveu por alguns meses, sempre tem um pesquisador que reside próximo a estas famílias de cangaceiros.

Sobre o cangaceiro Jararaca que foi covardemente assassinado na minha terra Mossoró, até agora, quase nada foi registrado sobre ele. Apenas sabemos que era Pernambucano, de Buíque, o ano em que nasceu, quando entrou no cangaço e quase mais nada.

Acredito que os escritores e pesquisadores do cangaço não ficarão chateados com o que falei. Apenas lembrando que alguns cangaceiros não têm registros profundos na Internet, vez que quem estuda cangaço deseja conhecer bastante sobre a naturalidade, nome dos pais, irmãos do cangaceiro pesquisado.

José Mendes Pereira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um certo remorso


A ex-cangaceira Aristéia Soares já havia abandonado o cangaço quando as cabeças passaram por sua cidade. Ela viu de longe. A polícia segurando e gritando: "Esta cabeça é de Lampião. Essa, de Maria Bonita..." Apesar disso, estava feliz por ter se entregado à polícia e não passar mais os sofrimentos da vida no mato. Mesmo assim, não falava sobre essa parte de sua vida. Pedro Soares, 54, seu filho, cresceu sabendo vagamente do passado da mãe. Aristéia falou mais sobre o assunto depois que o pesquisador João de Souza tornou-se seu amigo e começou a descobrir as histórias.


Aristéia e João de Sousa Lima - Escritor e pesquisador do cangaço

A mãe, nos últimos meses, depois de uma visita a Fortaleza, onde encontrou Durvinha, sua antiga amiga no cangaço, perguntava-se: "Mas será que ainda vou ver Durvinha?", e gostava de dizer que a companheira havia sido a mulher mais bonita no cangaço. A dúvida se desfez negativamente este mês com o falecimento de Durvinha, em Belo Horizonte. Ela era uma das boas lembranças de uma época à qual não deseja retornar. Aos jornalistas que lhe perguntam ainda hoje se gostaria de voltar ao cangaço, responde: "Deus me defenda, homi".

A revelação dessas histórias não mudaram a vida de Pedro. O trabalho na roça e a vida simples no povoado de Jardim Cordeiro, no município alagoano de Delmiro Gouveia, continuam até hoje, vez por outra interrompida por alguma 
viagem em que acompanha a mãe nos eventos sobre o cangaço. Além dessas excursões, restou daqueles tempos um certo remorso ao ver a foto da cabeça de uma de suas tias, Eleonora, que não conseguiu escapar. "Se eu pudesse encontrar o cara que matou ela, eu ainda tinha coragem de fazer alguma coisa. Mas isso acabou, né? Porque dizem que ela já tinha se rendido e outros contam que ele matou enganado, pensando que era um homem".

(© O Povo, 25.07.2008)

Extraído do blog:
"O Cangaço em Foco"
do Delegado de Polícia Civil no Estado de Sergipe e pesquisador Dr. Archimedes Marques.

jornalismo+cangaco/um+certo+remorso

ZÉ MARIA E LAMPIÃO

A vida nos traz muitas surpresas. Jorgeval era um professor da rede pública de Sergipe. Ele trabalhava no interior fazia tempo. Conhecia os sertões da fronteira de Tobias Barreto e Poço Verde como a palma de sua mão. Depois da chuva, a terra seca, e com ela vai a esperança de muita gente. No passado a coisa era bem pior. Esses sertões de caatingas e pedras grandes ainda nos contam um pouco da lida do homem do campo, do sertanejo.

Jorgeval vinha de uma escola do interior para a sede do município de Tobias. Ao seu lado, sentado, vinha um homem idoso beirando os 90. Com o balanço do carro Jorgeval desperta, e escuta, sem intenção, uma prosa
entre o velho Cocada e um rapaz chamado de "Cosminho do jogo do bicho". Este fazia banca na Rua Itabaianinha todos os dias, desde que sua amada mãe faleceu vítima da dengue.

- Cosminho põe um real na cabeça! Vai dar cobra! Ontem sonhei com uma jibóia que saía da Lagoa da Porta.
- Seja feito conforme sua vontade! Anotou Cosminho com dificuldade devido o balanço do carro.
- Rapaz, vocês moços de hoje vivem na moleza. Viajam para todo lugar na mordomia. Não sabem o que é poeira na cara ou o que significa andar pelas estradas desse sertão.
- Cocada como era na sua época? Perguntou curioso Cosminho.

Cocada meteu o dedo nas narinas e tirou uma meleca colocando-a no assento estofado do carro. Ajeitou-se no
banco, e depois de apalpar suas genitálias, o velho tira o chapéu, mostrando a testa rosada para cosminho.

- Na minha época a coisa era muito difícil; o sofrimento era grande.
- Como assim Seu Cocada, eu não entendo?
- Vou te contar uma estória.

Houve uma época em que Seu Virgulino passava pelo Povoado do Peba. Esse era o nome do atual povoado Monte Coelhos. Lampião tomava umas com seus cangaceiros na mercearia que ficava na esquina da praça onde está a entrada da estrada que vai para a Lagoa do Soares. O estabelecimento pertencia a Seu João. Era uma segunda feira. O povoado estava quase deserto quando as tropas de Lampião entraram no Peba.

O velho Cocada ficou com o olhar distante com o rosto voltado para a paisagem seca cheia de macambiras e juremas de todo tipo. Seus pensamentos voltaram ao passado de sua mocidade.

- Chega minha fia! Passa para dentro!
- O que foi mãe? Disse a moça Telma assustada.
- É Lampião minha fia que chegou!
- Lampião? Quem é Lampião?
- O cangaceiro minha fia.

A menina entrou em casa e correu para a janela para gretar por entre as brechas. Lampião entrava no Povoado Peba com seus homens. Eles formavam uma tropa de quarenta e cinco cangaceiros, todos armados de espingardas e facões. Não dava muito para
ver porque a luz era fraca. Os lampiões de querosene não tinham tanto brilho como o cangaceiro.

- Mãe!
- Sim!
- Qual deles é o lampião?

A mãe de Telma olhou por um instante acompanhando a tropa, mas não o reconheceu. Lampião acampou três dias nos arredores do Peba na baixada
entre a Rainha dos Anjos e o povoado. A água da terra era muito boa, mineral de natureza, atraía muitos viajantes, entre eles estava o famoso Zé Maria.
- Zé Maria! Que bom que você chegou! Sabe quem está na baixada?
- Não.
- É Lampião. Todo mundo está com medo, sei lá, eles podem fazer um malfeito.
- É Nestor, você tem razão. Chame por Deus, homem! Ele pode nos ajudar.

No outro dia de manhã cedo, Bartimeu, um cangaceiro de Lampião foi ao povoado pegar mantimentos para a tropa: farinha, feijão, fumo, carne seca, e outras coisas. Com ele estavam outros três homens, todos armados.

- Bom dia!
- Bom dia, moço. Respondeu Zé Maria. O herói do Peba tomava a frente quando o assunto era problema.
- Viemos buscar provisão para o patrão. Disse Bartimeu com voz decidida.
- Que patrão? Perguntou Zé Maria.
- Rapaz, não seja besta! Vá chamar o dono da venda!
- O dono sou eu. Continuou Zé Maria mentindo para o cangaceiro.
- Então, moço, encha o saco de feijão, farinha, fumo de rolo, e toda a cachaça que você tiver!
- Como? Sem cachaça nós não ficamos! Reclamou o corajoso Zé Maria.
- Seu atrevido. Respondeu Bartimeu. Bartimeu não era um homem violento, embora fosse cangaceiro, tinha o moço profunda devoção pelo Padre Cícero do Juazeiro.
- Salve meu Padin do Juazeiro, vou derrubar um louco da vida! Após sua breve e fervorosa prece, o cangaceiro abaixa o fogo e tira a mão do gatilho da espingarda.
- Tá bom, moço, ponha o que tiver.

Zé Maria pôs feijão, um saco, farinha outro saco, dois rolos de fumo, e cinco garrafas de pinga serrana.
- Só isso?
- É o que temos moço.
- Que o padin te dê em dobro!

Quando algum povoado atendia bem o coronel do sertão e seus homens, eles davam proteção à comunidade. Mas, lampião não aceitava desfeita. Eram oito horas da noite de terça feira quando lampião e seu bando chegam à porta da capela onde estava sendo rezada uma missa. Os tiros estalavam aturdindo a todos. Homens, mulheres e crianças saíram em uma correria medonha. O corajoso Zé Maria foi ter com o cangaceiro.

- Meu caro Virgulino! É assim que um homem de grande coragem e bravura ameaça a capela de Maria?
- Não seu moço. Minha pessoa não veio desafiar as forças da Santa, venho em busca de um tal Zé Maria que me fez um agravo. Zé Maria disse: "Sou eu".

Sob os gritos do povo apavorado lampião leva Zé Maria amarrado pelas duas mãos até a baixada. No acampamento deixaram o homem preso e foram ver o que fazer com o coitado. O seqüestro de Zé Maria abalou não só o Peba, mas, toda a Vila de Campos. O quartel que ficava na Sete de Junho foi acionado e tropas a cavalo foram no encalço do cangaceiro. Telma, no povoado Peba, acendia velas a Santa Maria do Peba para livrar a pobre alma de Zé Maria.

- Será que Zé Maria sai dessa? Perguntou o cabo Freitas ao soldado Chico.
- Acho que não. Eu estou indo com a tropa para não descumprir as ordens, mas, não vou trocar tiro com Lampião, não, tá doido!

Naquela época ninguém ousava desafiar o grande cangaceiro do sertão. Sendo assim, o futuro de Zé Maria era incerto. Então o peba inteiro se uniu para rezar pelo corajoso filho da terra. Havia uma rezadeira no povoado que via o futuro na borra de café. Na visão da mulher Zé Maria seria esfaqueado. A notícia correu o povoado apavorando ainda mais as pessoas. Na manhã do dia seguinte, os sete maiores cangaceiros de lampião e o próprio formaram um tribunal sob os olhos dos outros homens para julgarem o agravo de Zé Maria.

- Quer dizer que seu nome é Zé Maria! Um homem macho com nome de mulher! Disse seu Virgulino.
- Não de mulher. De uma Santa.
- Mas, você não é santo seu atrevido. Continuou lampião.
- Sua pessoa acha certo maltratar essas pessoas?
- Deixa de ser insolente! Eu não machuco gente inocente! Agora sua pessoa vai pagar o agravo que me fez. Lampião saiu e desfez o conselho. A decisão foi amarrar um peso de trinta quilos ao pé do homem, e soltá-lo na mata, depois da estrada que vai para Olindina na Bahia. Fizeram a bola de ferro e a prenderam ao moço. Depois um cangaceiro que atende pelo nome de Junco, vazou os olhos do rapaz. Nas matas de macambira com os olhos vazados, soltaram o homem preso a 30 kg de ferro. O coitado morreria em poucos dias.

"Foi uma decisão acertada, patrão. Servirá de exemplo para todos que desejarem enfrentar a força do cangaço". Disse Corisco segurando seu punhal na mão.

A ferida dos olhos doía mais que o peso amarrado a seus pés. As correntes fizeram feridas em torno do tornozelo direito de Zé Maria, que andava mancando pelo mato entre Itapicurú e Olindina. As horas passaram e se transformaram em dias. Faminto e com fome, andando em círculos, Zé Maria se senta no chão numa fria noite e pede a morte como alívio.

- Mãe! Sonhei com Zé Maria.
- Foi minha fia?
- E como foi?
- Ele estava vindo para a casa. Ele estava muito ferido.
- Que bom minha menina! Que nossa senhora o proteja!

A volante formada pelos soldados da Vila de Campos não alcançaram a tropa do cangaceiro que desaparecera como fumaça. E não sabiam do paradeiro de Zé Maria. Buscas foram feitas, mas, nada de acharem o corpo ou evidências de seu estado.

Amanhece o dia. Os pássaros cantam alegremente na mata fechada do Nordeste da Bahia. Dentro dela, um pobre herói sergipano, filho legítimo da Vila de Campos, padece de fome e de infecções por todo o seu frágil corpo. Por acaso o homem ouve barulho de água corrente. Por intuição percebe que há um riacho por ali. Tenta levantar-se, contudo, é inútil. O rapaz se arrasta com dificuldade até ouvir mais forte o barulho das águas. A sede era grande, a dor nos olhos maior ainda. Zé Maria bebe água com cuidado, e lava suas feridas. Ele sabia que não tinha muito tempo, suas forças estavam indo embora. O barulho das asas dos urubus que voavam pelo local era um mau presságio. A morte estava chegando. Deitado à beira do riacho, Zé Maria invoca a Santa dos sertanejos:

"Salve minha mãe! Ave Maria!
Sou pobre pecador preso ao ferro do cangaço.
Não tenho muita virtude e mal sei escrever meu nome.
Não fiz muita bondade, mas, também não fiz muita maldade.
Rogo-lhe seu socorro, se for de sua vontade.
Não me deixe morrer sem ser enterrado!"

A prece lhe tirou mais energia fazendo-lhe cair inconsciente.

- Telma! O que foi?
- Num sei mãe. Sinto uma dor no peito muito forte.
- Acho que deve ser coisa de menina que está virando moça. Disse sua mãe.

Em pouco tempo, o povoado não lembrava mais de Zé Maria nem de Lampião. Todas as segundas as pessoas desciam a feira de Tobias para fazer seus negócios. É assim a vida, quem vai, foi, quem foi, não está mais aqui. E o resto, todos nós sabemos.

- Mas, Seu Cocada; e Zé Maria, morreu? O velho sertanejo marejou os olhos de lágrimas e tremeu os beiços.
- A lua estava alta no céu quando Zé Maria despertou de seu passamento. O vento frio do sertão não mais o incomodava. Ele olhou para os lados e viu que via. Pegou em sua perna e não havia peso preso. Ao seu lado, estava uma figura de uma sereia que havia saído do riacho. Ela era toda dourada. A luz da lua fazia o dourado ficar mais brilhante. Ela estava deitada à beira do riacho. De sua boca saía um cântico lindo, lágrimas caíram de seus olhos. O rapaz via tudo atônito, sem nada entender. A mulher sereia calmamente desce as águas formando um redemoinho e dele pululavam peixes muitos. Alguns caíram no colo de Zé Maria. "Zé, mate e coma!"
- Quem fala comigo?
- Sou eu. Você não percebe a fumaça do cachimbo?
- Sim, tem cheiro de alfazema.
- Volte ao Peba!
- Para que meu veio, aqui, tá tão bom!
- Telma espera por você.

A
viagem de volta foi muito rápida. A estrada estava boa e o rapaz com novos olhos conhecia aqueles caminhos como a palma de sua mão. Numa manhã de sábado, Zé Maria chega ao Povoado Peba e é recebido como um herói. Telma vem ao seu encontro trazendo em suas mãos um prato cheio de cocadas que ela mesma fizera. As pessoas deram risadas. Daquele dia em diante, Zé Maria, se tornou em Seu Cocada. Um homem que nunca mais enfrentou Lampião, entretanto, ninguém daquele lugar conheceu rezador mais poderoso e amoroso como ele. Vinham pessoas de todos os lugares falarem com Cocada. A luz de sua vela e a fumaça de seu cachimbo ficaram conhecidos por toda a antiga Vila de Campos.

Os passageiros do ônibus se calaram. O veículo passa por um riacho de águas cristalinas perto da entrada da Rainha dos Anjos. Ouve-se um assobio vindo de lá. E logo depois o barulho de água corrente. Cocada põe o chapéu de volta a sua cabeça branca, baixa a mesma, e agradece a Deus por tudo. Ninguém quis perguntar nada. A viagem prossegue tranqüila; cada um desce em seu ponto; cada um com seu destino...

Jorgeval desceu em Tobias Barreto. E de lá foi para Aracajú.
Autor:   ROOSEVELT LEITE

Extraído do blog:
"O Cangaço em Foco", do delegado de Polícia no Estado de Sergipe
 Archimedes Marques

Hoje, a Música no Cangaço na Noite Cariri Cangaço-GECC , com Nirez !

Miguel Ângelo, o conhecido Nirez

A noite Cariri Cangaço-GECC de hoje, logo mais as 19 horas no Espaço Raquel de Queiroz na Saraiva MegaStore do Shopping Iguatemi em Fortaleza, será uma noite especial. Receberemos a visita e a Conferência de um dos maiores pesquisadores e colecionadores da música brasileira, Ângelo Miguel de Azevedo, ou simplesmente Nirez; como é conhecido esse verdadeiro ícone da cultura do Ceará, do Nordeste e do Brasil.

Nirez é conhecido na cidade por seu rico acervo, com cerca de 140 mil peças, extremamente raras, dentre elas a coleção com 22 mil discos, de cera e 78 rotações, na verdade possui uma das maiores e mais completas coleções do Brasil, e que hoje as 19 horas nos brindará com uma fantástica Conferência sobre a Música do Cangaço.

Noite Cariri Cangaço-GECC
Hoje, dia 13 - Quarta-Feira - 19 horas
Saraiva Mega Store
Shopping Iguatemi - Fortaleza


cariricangaco.blogspot.com

De Luz, o matador de Jurity

Por: Alcino Alves da Costa(*)

Em nossos livros “Lampião além da versão” e “O Sertão de Lampião”, existe em cada um deles um capítulo discorrendo sobre a vida e morte de Deluz e de Juriti, este assassinado cruelmente pelo famoso e temido sargento, então delegado de Canindé de São Francisco. No “O Sertão de Lampião”, a página 269, está o capítulo “A morte do sargento Deluz” e no “Lampião além da versão, a página 345, está o capítulo “Juriti: perverso na vida, valente na morte”.

Amâncio Ferreira da Silva era o verdadeiro nome do sargento Deluz. Nascido no dia 11 de agosto de 1905, este pernambucano ainda muito jovem arribou para o Estado de Sergipe, indo prestar os seus serviços na polícia militar sergipana. Os tempos tenebrosos do banditismo levaram Deluz para o último porto navegável do Velho Chico, o arruado do Canindé Velho de Baixo. Por ser um militar extremamente genioso, violento e perverso, ganha notoriedade em toda linha do São Francisco e pelas bibocas das caatingas do sertão. Dos tempos do cangaço ficou na história, e está registrada no livro “Lampião em Sergipe”, o espancamento injusto que ele deu no pai de Adília e Delicado, o velho João Mulatinho, deixando-o para sempre aleijado.

No pós-cangaço, sem jamais sair de Canindé, também ficaram na história aquelas versões de que os assaltantes de Propriá quando presos eram entregues a Deluz e ele ao transportá-los em canoas que faziam o trajeto Propriá/Canindé, prendia as mãos dos prisioneiros e amarrava uma pedra nos pés dos mesmos jogando-os dentro do rio. Um de seus maiores prazeres era caçar ex-cangaceiro para matá-los sem perdão e sem piedade. Foi o que fez com Juriti, prendendo-o na fazenda Pedra D`água e o assassinando de maneira vil e abjeta jogando-o em uma fogueira nas proximidades da fazenda Cuiabá. Foi em virtude de desavenças com o seu sogro, o pai de Dalva, sua esposa, que naquele dia 30 de setembro de 1952, quando viajava de sua fazenda Araticum para o Canindé Velho de Baixo, se viu tocaiado e morto com vários tiros. Morte atribuída ao velho pai de Dalva, o senhor João Marinho, proprietário da famosa fazenda Brejo, no hoje município de Canindé de São Francisco.

O cangaceiro Juriti ao centro

Diz à história que João Marinho foi o mandante, chegando até ser preso; e seu genro João Maria Valadão, casado com Mariinha, irmã de Dalva, portanto cunhado de Deluz, ainda vivo até a feitura desse artigo, com seus 96 anos de idade, completados no mês de dezembro de 2011, foi quem tocaiou e matou o célebre militar e delegado que aterrorizou Canindé e o Sertão do São Francisco.

Foi o sargento Deluz o matador de Manoel Pereira de Azevedo, o perverso e famoso Juriti. Manoel Pereira de Azevedo era um baiano lá das bandas do Salgado do Melão. Um dia arribou de seu inóspito sertão e viajou para as terras do Sertão do São Francisco, indo ser cangaceiro de Lampião, recebendo o nome de guerra de Juriti.

O cangaceiro Juriti

Este cangaceiro possuía uma aparência física impressionante. O seu porte atlético abismava as mocinhas sertanejas que se derramavam em desejos para receber os seus carinhos e o seu amor. Contrapondo a toda essa atração que despertava nas jovens, Juriti carregava em seu sentimento e em sua alma um extremado pendor para brutais violências; cangaceiro de atitudes monstruosas sentia especial prazer em torturar e assassinar com requintes animalescos as infelizes vítimas que caiam em suas mãos, como aconteceu com José Machado Feitosa, o rapaz de Poço Redondo que ele após torturá-lo medonhamente, o assassinou com uma punhalada em seu pescoço.

Em pouco tempo Juriti angariou extraordinária fama. A fama de ser um cangaceiro que deixava as mocinhas sertanejas loucas de paixão e a fama de ser um assecla perverso ao extremo. Uma menina-moça, chamada Maria, filha de Manoel Jerônimo e Àurea, irmã de Delfina da Pedra D`água, deixou-o alucinado. Aquela ardente paixão foi recíproca. E o jamais imaginado pelos seus pais aconteceu. A menina de Mané de Aura deixou seu lar, seus pais e se jogou no mundo. Os seus sonhos e a sua ilusão era passar a viver nos braços do tão falado e comentado cabra de Lampião.

Na Grota de Angico vamos encontrar Juriti e Maria vivendo aquele instante de suprema agonia. Lampião, Maria Bonita e seus companheiros foram abraçados pela morte. Sem o grande chefe o viver cangaceiro não era possível. Os bandos espalhados pelas caatingas foram se desfazendo. Alguns fugiram e outros se entregaram as autoridades de Alagoas e Bahia.

Cangaceiros após se entregarem a polícia depois da morte de Lampião
Jurity é um deles

Juriti seguiu o mesmo caminho de muitos. Após enviar a sua Maria para a proteção do pai e a ajuda do amigo Rosalvo Marinho que a levaram para Jeremoabo, onde ela foi recebida e bem tratada pelo capitão Aníbal Ferreira que deixando o papai surpreso e feliz liberou a sua filha para que com ele retornasse para sua casa e para o aconchego de sua família. Ainda mais. Solicitou a ajuda de Maria, do pai e de Rosalvo Marinho para que ambos fizessem com que Juriti e seus companheiros também viessem se entregar.

Juriti e Borboleta são convencidos pelo amigo da Pedra D`água e também seguem para Jeremoabo onde se entregam ao capitão Aníbal. Recebem o mesmo presente que Maria recebeu. São liberados. Borboleta joga-se na “lapa do mundo” e nunca mais se soube notícias dele. Talvez não esquecendo a sua Maria, Juriti se demora alguns dias no Canindé Velho de Baixo, porém no início de 1939 viaja para Salvador a capital baiana.

Em Salvador consegue trabalhar como vigia de um fábrica. Em 1941 é despedido do trabalho e retorna para o sertão de Sergipe. É seu desejo visitar os amigos da Pedra D`água, obter notícias de sua antiga companheira e seguir viagem para o Salgado do Melão, a sua terra de nascimento. Chegou ao último porto do Baixo São Francisco em uma quarta-feira e seguiu para a fazenda de Rosalvo Marinho, onde se “arranchou” e dormiu.

O sargento Deluz foi avisado da inesperada presença de Juriti na casa de seu cunhado Rosalvo Marinho. O sentimento impiedoso do militar não perdoava ex-cangaceiro. Juriti teria que pagar todos os crimes praticados durante sua vida no cangaço, e ele seria o juiz que iria condená-lo a morte.

Assim foi feito. A quinta-feira amanheceu e ainda muito cedo o café foi servido. Juriti conversa animado com seu amigo Rosalvo. Deluz e seus “rapazes” haviam cercado a casa. Surpreso, Juriti se vê na mira das armas dos atacantes e é imediatamente preso. Sorrindo, Deluz diz: “Mais qui surpresa! Nunca pensei qui Juriti fosse um pásso tom manso, tom faci de ser agarrado. Teje preso cabra. Eu num quero cangaceiro perto de mim não”.

Juriti se recompõe da surpresa e desafia Deluz, dizendo: “Deluz, você é covardi. Eu sei quem você é. Um covardi. Mostri qui é homi e mi sorte. Só assim você vai ficar sabeno quem sou eu. Vamu, mi sorti, covardi. Você é um covardi”. Amarrado a uma corda, Deluz transporta Juriti na direção de Canindé. Ao chegar a uma localidade chamada Roça da Velhinha, nas proximidades da fazenda Cuiabá, o sargento, friamente, ordena que se faça uma fogueira e quando as labaredas começam a lamber a caatinga e torrar a mataria e o chão daquele triste cenário da vida sertaneja, Juriti é jogado, sem dó e sem piedade no meio do fogaréu. Em poucos minutos o corpo do antigo cangaceiro havia se transformado em um monte de cinzas. Ficando, por várias décadas, como testemunha daquele medonho momento os botões da braguilha da calça de Juriti, além do negrume deixado pelo fogo no local do monstruoso assassinato do antigo Manoel Pereira de Azevedo, do Salgado do Melão.
  
Alcino Alves Costa
O Caipira do Poço Redondo

(*) Foi prefeito de Poço Redondo no Estado de Sergipe por três gestões. Escritor, compositor e poeta.  Sócio da SBEC - Conselheiro Cariri Cangaço. Autor do livro: Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico


Fontes:

O último cangaceiro - Corisco


Virgulino Ferreira da Silva, o capitão Lampião, não foi o criador do cangaço, mas foi o mais famoso cangaceiro de todos os tempos no nordeste brasileiro. 

Lampião foi assassinado na madrugada do dia 28 de Julho de 1938, na Grota d Angico, no Estado de Sergipe.


O penúltimo cangaceiro a abandonar as armas era conhecido no cangaço por Moreno. Ele abandonou a vida cangaceira no dia 2 de fevereiro de 1940. Faleceu no dia 6 de setembro de 2010.

 Corisco e Vinte e Cinco - este último ao lado direito ainda é vivo e mora em Alagoas

Já o último cangaceiro  foi Corisco, assassinado pelo então policial Zé Rufino, no dia 25 de maio de 1940. 

Com a morte deste cangaceiro o cangaço do nordeste brasileiro foi enterrado juntamente com ele.

Opinião dos moradores da cidade de Poço Redondo
Manoel Félix como a grande maioria dos moradores de Poço Redondo/SE de uma certa idade, viu de perto "Lampião", a quem jamais traiu ou temeu, porque dele ignora qualquer crueldade praticada na região contra os que ali viviam, o que não acontecia, porém, com as "volantes", temidas e odiadas pela barbaridade de seus integrantes que, no afã de compensarem sua incapacidade em descobrirem o bandoleiro, martirizavam com seus impiedosos tratamentos a quantos julgavam "coiteiros".
Você encontrará esta informação no blog: "Lampião Aceso" - escrito pelo jornalista Juarez Conrado
http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009_11_01_archive.html
 http://blogdomendesemendes.blogspot.com

As causas do surgimento do cangaço


As causas do surgimento do cangaço foram de natureza variada. A pobreza, a falta de esperanças e a revolta não foram as únicas. Isso é mais que certo. Mas foram estas circunstâncias as mais importantes para que começassem a surgir os cangaceiros. Muitos, como dissemos, eram pequenos proprietários, mas mesmo assim tinham que se sujeitar aos coronéis. Do meio do povo sertanejo rude e maltratado surgiram os cangaceiros mais convictos de que lutavam pela sobrevivência.
- Se não me dão os meios de conseguir, eu tomo. - pareciam dizer.
Virgolino Ferreira era um trabalhador. Do tratamento duro e injusto que o trabalhador Virgolino Ferreira e sua família receberam surgiu Lampião, o "Rei do cangaço ".
Lampião nunca foi um líder de rebeliões ou um ídolo que servisse para a formação de camponeses revoltados. Política nunca foi parte de sua vida. Mas as populações humilhadas e ofendidas viam em Lampião um exemplo, naquele meio termo entre temer o que ele era e querer ser igual a ele, quase a justificar sua existência de bandoleiro errante.
Lampião subverteu a ordem imposta, mesmo que não fosse esse seu objetivo. Latifúndios que, durante décadas e até mesmo séculos imaginavam-se intocáveis, sentiram o peso de sua presença e o terror das consequências do não atendimento de suas exigências.
O caminho que Lampião traçou nas sendas da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, hoje claramente observado nos mapas e na memória viva da história do cangaç ;o, praticamente não foi alterado nos últimos 60 anos. E pouco, talvez nada, será alterado durante os próximos 60 anos ou mais.
Onde lutou Lampião ainda estão, nos dias de hoje, as sobras da subserviência, a presença maciça da ignorância, a exploração dos pequenos e dos humildes. E, de forma geral, também a indiferença nacional continua a mesma.
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