Por: Rostand Medeiros
A
HISTÓRIA DE UM CARIOCA DE CORAÇÃO, QUE COMBATEU NOS CÉUS DA EUROPA E CUJA A
FILHA, NASCIDA NA CIDADE MARAVILHOSA, SE TORNOU ATRIZ DE HOLLYWOOD
Oscar
Delgado O’Neill Junior no comando de uma B-17 – Fonte – NARA
Em relação à
participação de brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial, a primeira
lembrança que surge para nós brasileiros é a da atuação da heroica Força
Expedicionária Brasileira e a participação dos nossos pracinhas nos campos de
batalha da Itália.
Sabemos que
muitos dos que envergaram os uniformes do nosso exército na Europa eram filhos
de imigrantes e honraram suas famílias e tradições.
Existiram
outros filhos de imigrantes nascidos no Brasil, que deixaram nossa nação e
lutaram ao lado das forças do Eixo. Outros tantos entraram nas fileiras dos
exércitos de nações Aliadas.
Mas houve, por
assim dizer, outra categoria de combatentes oriunda de nosso país durante
aquele conflito. É a dos filhos de pais estrangeiros, que nasceram, ou não, no
Brasil.
Normalmente
estes jovens eram filhos de pessoas que representavam empresas com filiais em
nosso país, ou de profissionais liberais estrangeiros que aqui abriram negócios
nesta nossa bela terra tropical. Mas que não perderam totalmente seus vínculos
com as suas respectivas pátrias.
Paisagem do
Rio de Janeiro na década de 1940
Muitos destes
jovens estudaram em por aqui, ou tinham mães brasileiras, o que aumentavam
enormemente seus vínculos com o nosso país. Tecnicamente eu não sei informar se
estes jovens seriam enquadrados como “brasileiros natos”. Mas é certo que
viveram entre nós, absolveram nossos costumes, nosso idioma, nosso jeito de ser
e levavam para fora muito do nosso jeito tropical.
Nos antigos
jornais cariocas temos a história de um deles.
A CAMINHO DA
GUERRA
Este é o caso
de Oscar Delgado O’Neill Junior, um jovem que certamente gostava muito do Rio
de Janeiro.
Salvo
informação em contrário, sabemos que seu pai, Oscar D. O’Neill, era oriundo de
Porto Rico e casado com a Ada Lee O’Neill, sendo este casal bastante
conceituado na sociedade carioca da época. Temos a informação que o Sr. O’Neill
foi dirigente de uma instituição bancária e que aparentemente sua família
morava na Rua Caning, número 31, no bairro de Ipanema, a cerca de 300 metros do
mar.
Já sobre a
juventude de Oscar Delgado O’Neill Junior, local onde estudou e outras
informações, não temos maiores detalhes. Mas sabemos que após a entrada dos
Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, o jovem Oscar, então com 25 anos, se
alistou na United States Army Air force – USAAF.
Seguiu para o
treinamento na terra do Tio Sam, onde se tornou piloto de B-17, o famoso
bombardeiro quadrimotor que ficou conhecido como Fortaleza Voadora.
Católico
praticante, aqui vemos o cap. O’Neill (com o capacete de voo), ao lado de uma
autoridade eclesiástica católica. Abaixo o texto do verso desta foto – Fonte –
NARA
Após a fase de
aprendizado O’Neill foi encaminhado para servir na 8º Air Force, a
grandiosa força de bombardeiros pesados da USAAF que ficava baseada na
Inglaterra, de onde atacavam impiedosamente o coração do Reich alemão e todos
os locais de importância estratégica
para os nazistas.
No conjunto
das unidades aéreas da 8º Air Force, O’Neill foi então designado para o 91th
Bomb Group, com base na cidade de Bassingbourn, região de East Anglia, Leste da
Inglaterra. No 91 th, O’Neill foi encaminhado para o Esquadrão Operacional 401,
cujas as letras de identificação pintadas nas fuselagens dos B-17 eram “LL”.
O 91th Bomb
Group foi um dos primeiros grupos de bombardeiros B-17 da USAAF a se instalar
na Inglaterra. Começou a seguir para aquele país em 25 de outubro de 1942 e já
em 4 de novembro realizou seu primeiro ataque. O alvo foi uma base de
submarinos na cidade de Brest, na França.
A B-17 Memphis
Belle original – Fonte – NARA
Do 91th Bomb
Group fazia parte a B-17 modelo F-10-BO, com número de série 41-24485, que
ficaria mundialmente conhecida como “Memphis Belle”. Esta aeronave foi uma das
primeiras Fortalezas Voadoras a completar 25 missões de combate com sua equipe
intacta. O avião e sua tripulação então retornam aos Estados Unidos, realizando
visitas em várias cidades do país para aumentar a venda de Bônus de Guerra com
a sua história, Este B-17 também serviu de tema para dois filmes. O primeiro,
rodado em 1944, era um documentário intitulado “The Memphis Belle: A Story of a
Flying Fortress” e o segundo uma obra dramática de Hollywood de 1990, com o
título “Memphis Belle”.
EM COMBATE
Cada missão é
uma prova de fogo. A expectativa de retornar para a base não é elevada. As
taxas de perdas em missões de combate sobre o continente são exorbitantes.
Cerca de um em cada três tripulantes não sobrevivem, ou não completam a quota
de 25 missões para retornar aos Estados Unidos.
O
capitão Oscar O’Neill recebendo uma condecoração e o texto que existe no verso
desta foto – Fonte – NARA
O’Neill vai
demonstrando extrema capacidade como comandante de B-17. Em 30 de dezembro de
1942, após lançar suas bombas sobre Lorient, França, o seu avião sofreu uma
tremenda ação de combate realizada pelos caças da força aérea de Hilter, a
famosa Luftwaffe.
O estrago no
quadrimotor é grande, o motor numero 4 havia sido arrancado da asa, os
instrumentos e o sistema elétrico deixaram de funcionar. Mesmo em condições tão
extremas, O’Neill conseguiu atravessar o Canal da Mancha e aterrissar na
Inglaterra.
Em 4 de março
de 1943 o capitão O’Neill realizou uma missão de combate onde novamente os
caças da Luftwaffe atacaram com toda força. Em dado momento uma B-17 de sua
esquadrilha se encontrava bastante avariada e na eminência de cair. O capitão
O’Neill então manobrou seu avião, trocando de lugar com a aeronave avariada,
colocando-a em um posição mais defensiva. Pelo sangue frio e capacidade de comando,
O’Neill foi condecorado com a DFC-Distinguished Flying Cross. Depois vieram as
condecorações Air Medal e Oak Leaf Cluster.
Notícia da
cerimônia de entrega de condecorações a família do capitão O’Neill no Rio de
Janeiro
Algumas destas
condecorações foram entregues a sua família pelo adido aeronáutico militar dos
Estados Unidos no Brasil, o coronel J. C. Selzer, em uma cerimônia ocorrida no
Rio de Janeiro, no dia 26 de outubro de 1943. Estavam presentes a solenidade o
embaixador Jefferson Caffery e várias autoridades brasileiras.
A razão da
entregue destas medalhas a família do capitão O’Neill, foi pelo fato dele se
encontrar prisioneiro dos alemães. O fato ocorreu em 17 de abril de 1943,
durante um ataque a fábrica de aviões Focke-Wulf, na cidade de Bremen,
Alemanha.
VOLTA A CIDADE
MARAVILHOSA
O retorno de
Oscar do campo de prisioneiros para o Rio de Janeiro ocorreu no dia 8 de agosto
de 1945, onde desembarcou de um hidroavião “Clipper” da empresa Pan American
World Airways. Junto ao aviador vinha a sua esposa Irene, uma inglesa com quem
ele havia casado na cidade de Londres, após a sua libertação. Chamou a atenção
do repórter do jornal carioca Diário da Noite, na edição de 8 de agosto de
1945, como o capitão O’Neill dominava fluentemente a língua portuguesa.
Descobrimos
que após a guerra Oscar O’Neill Jr. teve participação em empresas controladas
pelo seu pai no Brasil, como a O’Neill Ltda e a Perfumaria Vibour. Outro
trabalho realizado por O’Neill no Rio de Janeiro foi na Embaixada dos Estados
Unidos no Brasil, no setor de cultura desta representação diplomática.
Jennifer
O’Neill
Ainda no Rio
de Janeiro, em 20 de fevereiro de 1948, nascia a sua filha Jennifer.
Em 1962 na
família O’Neill decide se mudar para os Estados Unidos. Naquele mesmo ano a sua
bela filha foi descoberta pela agência de modelos Ford e colocada sob
contrato. Aos 15 anos, a jovem Jennifer O’Neill estava na capa das
revistas Vogue, Cosmopolitan e Seventeen e ganhando US$ 80.000,00 somente em
1962. Logo a garota estava trabalhando como modelo em Nova York e Paris.
Diante de sua
beleza, em 1968 a indústria do cinema chamou Jennifer para seu primeiro papel.
Este foi no filme “For Love of Ivy”. Apesar de sua pequena participação, ela
atraiu a atenção do diretor Howard Hanks, que em 1970 a contratou para estrelar
“Rio Lobo”, onde Jennifer O’Neill contracenou com John Wayne. Seu grande
momento foi no filme “Summer of ‘42”, que a tornou extremamente conhecida nos
Estados Unidos.
Junto a sua
aeronave e sua tripulação, vemos o capitão O’Neill, o terceiro agachado, da
esquerda para a direita – Fonte – NARA
Não sei se em
sua biografia, “Surviving Myself”, a bela atriz Jennifer O’Neill comenta o fato
de ter nascido no Brasil, ou alguma informação sobre a sua relação com nosso
país. Mas nesta história me chamou a atenção o fato do seu pai, mesmo sem ter
nascido no Rio de Janeiro, sempre fazia questão de apontar em documentos
oficiais que esta era a sua cidade.
Rostand Medeiros
Todos os
direitos reservados
É permitida a
reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.
http://tokdehistoria.wordpress.com/2012/12/07/4574/page-6-copia/