Por: Luiz Nogueira(*)
Médico
Caros amigos:
não poderia deixar de lembrá-los neste final de ano. como não teria muito alhea oferecer, pensei, então, em algo que sempre fez parte das nossas ansiedades e
alegrias de cada final de ano. E esta velha crônica me pareceu interessante
para hes enviar. Minhas desculpas, se for caso, e bom final de ano para
todos......Luiz Nogueira Barros.
O futuro é apenas um projeto, em nossas cabeças; o presente é essa luta de resultados imprevisíveis, algumas vezes, e, finalmente, o passado é aquele tempo indispensável que julgávamos morto - e por isso um refúgio mais seguro...
NATAL: tema para adorar Leão e
adorar Menino!
Tem sido assim: nascemos,
crescemos e nos fazemos homens. E mais das vezes homens endurecidos pelas
agruras da existência. Urge tudo ao nosso redor: a inocência, a juventude, o
despertar, o estudar, o crescer e, finalmente, o encontrar o espaço da nossa realização.
E aos poucos vamos passando de cordeiros a leões, que a vida exige assim. Do
contrário, numa esquina qualquer da selva do mundo, seremos devorados. E
principalmente depois que transportaram a lei da selva para a sociedade humana,
num passe de mágica, para que se atendesse à sobrevivência do mais apto, pecado
manipulado com uma frieza que choca os mais inocentes projetos de uma vida
fraterna sobre o planeta.
Enfim, leões endurecidos pela existência
sacudimos a juba empoeirada nos caminhos e urramos bem alto a que viemos. E nem
sempre o que urramos é fruto dos nossos melhores sonhos, das nossas melhores
conclusões, senão, por vezes, as sobras de experiências angustiadas. Poucos, e
entre eles os santos, os filósofos e os sábios, conseguem ter apascentados os
seus piores instintos. E por isso a média geral do comportamento humano pende
mais para a falta de fraternidade universal, tal o quadro de horror e guerras
instalado no planeta, ou convulsões sociais nesse meridiano ou naquele paralelo
- linhas que dividem a humanidade em ilhas ora de angústias e ora de
felicidades, feliz ou infelizmente.
Mas eis que é Natal! Como se fossem uma
chave mágica os sininhos tocam aquela musiquinha que aos poucos vai abrindo os
nossos corações. As luzes piscam, multicoloridas, em seus arranjos sobre as
pequeninas e também sobre as grandes árvores de Natal. Estou nas ruas, nos
shoppings, nas lojas e em todos os lugares observando os homens, esses leões
endurecidos mas agora com um olhar descontraído. E como o homem é o único
animal que sabe rir também rio e recebo risos de cumprimentos. E ouço as mesmas
frases da infância:
- Boas Festas e Feliz Ano Novo!
Respondo o mesmo, também descontraído. E
percebo a força mágica de tais palavras mesmo passados todos esses anos. E
chego a pensar:
- Os homens ainda não se lembraram de que o Natal poderia ser o momento
mais propício para a solução do gravíssimo problema da falta de
fraternidade?...
E me sinto um tolo, um leão que perdeu a
ferocidade. Prossigo entre as pessoas, ávido por lhes dizer mais coisas. Ávido
por lhes falar sobre a minha conclusão sobre o Natal. Mas elas estão muito
ocupadas, fazendo compras, rindo, desejando boas festas e feliz ano novo,
sobrecarregadas de pacotes de presentes. Decido-me por esperar a noite chegar,
quando estaremos reunidos. E penso:
- Melhor durante a noite!
Teremos mais tempo para uma conversa. Mas vem a noite e as pessoas continuam
ocupadas com brindes, comidas, abraços, taças de champanhe e vinho, inebriadas
pela musiquinha dos sininhos. Descubro que não consigo lhes falar sobre as
minhas conclusões. E passo a ver no Natal um velho tema: tema para domar leão e
adorar menino! E logo me sinto como um velho leão domado adorando O Menino
Jesus - motivo da festa de Natal.
A musiquinha dos sininhos enche os meus
ouvidos. As pessoas passam, tontas de alegria e de champanhe.
Também bebi um pouco e estou tonto.
Confundo as coisas sobre as quais desejava falar. E decido-me por esperar o
próximo Natal!
Luiz Nogueira Barros
(*)Nascido
em Pão de Açúcar - Médico, formado pela Faculdade de Medicina da UFAL, em 1963. ´Também e pesquisador do cangaço.
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