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segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

“PAJEÚ EM CHAMAS: O CANGAÇO E OS PEREIRAS”

 

Recebi hoje do Francisco Pereira Lima (Professor Pereira) lá da cidade de Cajazeiras no Estado da Paraíba uma excelente obra com o título "PAJEÚ EM CHAMAS O CANGAÇO E OS PEREIRAS - Conversando com o Sinhô Pereira" de autoria do escritor Helvécio Neves Feitosa. Obrigado grande professor Pereira, estarei sempre a sua disposição.


O livro de sua autoria “Pajeú em Chamas: o Cangaço e os Pereiras”. A solenidade de lançamento aconteceu no Auditório da Escola Estadual de Educação profissional Joaquim Filomeno Noronha e contou com a participação de centenas de pessoas que ao final do evento adquiriram a publicação autografada. Na mesma ocasião, também foi lançado o livro “Sertões do Nordeste I”, obra de autoria do cratense Heitor Feitosa Macêdo, que é familiar de Helvécio Neves e tem profundas raízes com a família Feitosa de Parambu.

PAJEÚ EM CHAMAS 

Com 608 páginas, o trabalho literário conta a saga da família Pereira, cita importantes episódios da história do cangaço nordestino, desde as suas origens mais remotas, desvendando a vida de um mito deste mesmo cangaço, Sinhô Pereira e faz a genealogia de sua família a partir do seu avô, Crispim Pereira de Araújo ou Ioiô Maroto, primo e amigo do temível Sinhô Pereira.

A partir de uma encrenca surgida entre os Pereiras com uma outra família, os Carvalhos, foi então que o Pajeú entrou em chamas. Gerações sucessivas das duas famílias foram crescendo e pegando em armas.

Pajeú em Chamas: O Cangaço e os Pereiras põe a roda da história social do Nordeste brasileiro em movimento sobre homens rudes e valentes em meio às asperezas da caatinga, impondo uma justiça a seus modos, nos séculos XIX e XX.

Helvécio Neves Feitosa, autor dessa grande obra, nascido nos Inhamuns no Ceará, é médico, professor universitário e Doutor em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal), além de poeta, escritor e folclorista. É bisneto de Antônio Cassiano Pereira da Silva, prefeito de São José do Belmonte em 1893 e dono da fazenda Baixio.

Sertões do Nordeste I

É o primeiro volume de uma série que trata dos Sertões do Nordeste. Procura analisar fatos relacionados à sociedade alocada no espaço em que se desenvolveu o ciclo econômico do gado, a partir de novas fontes, na maioria, inéditas.

Não se trata da monumentalização da história de matutos e sertanejos, mas da utilização de uma ótica sustentada em elementos esclarecedores capaz de descontrair algumas das versões oficiais acerca de determinados episódios perpassados nos rincões nordestinos.
Tentando se afastar do maniqueísmo e do preconceito para com o regional, o autor inicia seus estudos a partir de dois desses sertões, os Inhmauns e os Cariris Novos, no estado do Ceará, sendo que, ao longo de nove artigos, reunidos à feição de uma miscelânea, desenvolve importantes temas, tentando esclarecer alguns pontos intrincados da história dessa gente interiorana.

É ressaltado a importância da visão do sertão pelo sertanejo, sem a superficialidade e generalidade com que esta parte do território vem sendo freqüentemente interpretada pelos olhares alheios, tanto de suas próprias capitais quanto dos grandes centros econômicos do País.

Após a apresentação das obras literárias, a palavra foi facultada aos presentes, em seguida, houve a sessão de autógrafos dos autores.

Quem interessar adquirir esta obra é só entrar em contato com o professor Pereira através deste e-mail: franpelima@bol.com.br
Tudo é muito rápido, e ele entregará em qualquer parte do Brasil.

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HISTÓRIA: PAU DOS FERROS ONTEM E HOJE

Wikipédia

* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com). Originalmente publicado na Revista do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte de nº 97.

Quando os europeus chegaram ao Rio Grande do Norte, lá por 1500 encontraram a grande nação tupi-guarani no litoral, representada pelos Potiguares, e, no Sertão, os Cariris, que significa “os tristonhos, calados, silenciosos”[1], ramo do povo Tapuia. 

Diz uma lenda recolhida por missionários, conta-nos Tarcísio Medeiros, terem os Tapuias vindos de um lago encantado do setentrião continental, como sugeriu Capistrano de Abreu, descendo a costa e fixando-se no interior depois de acossados pelos tupis. 

Os Tapuia/Cariris estiveram em evidência durante a “guerra dos bárbaros”, iniciada com a resistência à penetração da pecuária que se adensara nas ribeiras dos rios, áreas essenciais à sobrevivência dos animais, mas também à dos índios, durou sessenta e cinco anos (1685-1750), terminando com a completa vitória do homem branco, que os extinguiu[2]

No Sertão nordestino, especificamente no Sertão potiguar, existiram vários ramos dos Cariris, dentre eles os Pacajus ou Paiacus, que habitaram Portalegre, Francisco Dantas, Viçosa, Riacho da Cruz e Encanto, assim como os Panatis, habitantes de Pau dos Ferros, Encanto, Dr. Severiano, São Miguel e Rafael Fernandes[3]

No início do século XVIII, bandeirantes paulistas, missionários, senhores de engenho de Pernambuco, Paraíba, Bahia e Rio Grande, além de oficiais de alta patente que combateram os indígenas passaram a disputar as terras do Sertão norte-rio-grandense. Denise Matos Monteiro[4] nos relata uma dessas disputas entre grandes senhores de terras e escravos de Pernambuco e Bahia e colonos potiguares: 

“Dentre os sesmeiros de outras capitanias interessados nas terras do Rio Grande, estava, por exemplo, Antônio da Rocha Pita, da Bahia, que através de quarenta dos seus vaqueiros tentou expulsar da ribeira do Assú colonos que lá procuravam estabelecer fazendas de gado. Objetivando atender às reclamações desses colonos, o rei de Portugal mandou demarcar e medir as terras desses sesmeiros em 1701. Anos mais tarde, em 1733, seus descendentes receberam uma larga faixa de terra que se estendia, dessa vez, entre os atuais municípios de Pau dos Ferros e São Miguel, na ribeira do Apodi[5]”. 

É certo que a primeira sesmaria que se tem conhecimento, alusiva à região, foi requerida por Manoel Negrão em 1717, e dizia respeito ao lugar denominado “Podi dos Encantos”, presumindo-se que se trate da Data da Conceição[6]. Negrão declarava ser morador da ribeira do Apodi e ter descoberto o terreno em companhia de Domingos Borges de Abreu. 

Mas foi somente em 1733 que a Data da Sesmaria de Pau dos Ferros foi concedida a Luiz da Rocha Pita Deusdará, Francisco da Rocha Pita, Simão da Fonseca Pita, Dona Maria Joana Pita, todos filhos e herdeiros do Coronel Antônio da Rocha Pita. Como lembra Câmara Cascudo, os “Rocha Pita” eram baianos e foram grandes latifundiários no Rio Grande do Norte. 

Manoel Jácome de Lima observa: Diz Ferreira Nobre que em 1733 Francisco Marçal fundou uma fazenda de gado no local em que se achava a vila. Em 1738, afirma o Monsenhor Francisco Severiano no seu livro 'A Diocese na Paraíba', foi iniciada a construção de uma capela que em 1756 foi elevada à categoria de matriz com a criação da freguesia, a 19 de dezembro daquele ano.” Começava Pau dos Ferros. 

A paróquia de Pau dos Ferros é a mais antiga da zona Oeste do Estado e, na época, abrangia quase todo o território da atual Diocese de Mossoró. 

O nome da cidade surgiu quando do início do seu povoamento. José Edmilson de Holanda[7] assevera ter o nome da Fazenda de Francisco Marçal, fundada próxima a uma pequena lagoa, onde existia uma frondosa oiticica, passado ao povoado: 

“O nome inicial da fazenda passou ao povoado, pois desde a sua fundação era conhecida por Pau dos Ferros, em face dos vaqueiros gravarem, à ponta da faca, no tronco de frondosa oiticica existente à margem da lagoa, os ferros das reses tresmalhadas que por lá apareciam, com a finalidade de identificar o proprietário e a origem das mesmas. A oiticica servia de pouso para os comboieiros, boiadeiros e vaqueiros das fazendas que por lá passavam.” 

Em 1761 o município de Portalegre foi criado englobando o povoado de Pau dos Ferros. Entretanto já no fim do século XVIII a povoação era maior que sua sede e a cidade de Apodi. 

Em julho de 1841 os pau-ferrenses fizeram uma representação à Assembleia Provincial, assinada por 492 pessoas de todas as classes sociais, pedindo a criação do município. A Comissão de Estatística e Justiça, em parecer assinado por João Valentim Dantas Pinagé e Elias Antônio Cavalcanti de Albuquerque, foi favorável ao pleito, mas na sessão do dia 4 de novembro de 1841, o requerimento não foi aprovado. 

Em 1847 o deputado provincial João Inácio de Loiola Barros apresentou um projeto transferindo a sede da Vila de Portalegre para a povoação de Pau dos Ferros, pedido também rejeitado. 

Seis anos depois, em 12 de abril de 1853, os deputados Luiz Gonzaga de Brito Guerra, futuro Barão de Assú, e Elias Antônio Cavalcanti de Albuquerque (novamente), apresentaram um projeto para elevar a povoação de Pau dos Ferros ao status de Vila, com a denominação de Vila Cristina, mas não lograram êxito. 

Finalmente em 23 de agosto de 1856 projeto apresentado pelo Deputado Benvenuto Vicente Fialho, criando o município de Pau dos Ferros, foi aprovado. E em 4 de setembro de 1856 o Presidente da Província, Dr. Antônio Bernardo Passos, sancionou a Lei nº 344, elevando à categoria de Vila o povoado de Pau dos Ferros, e determinando os limites do novo município. 

Hoje Pau dos Ferros, com 259,959 km², limitando-se ao Norte com São Francisco do Oeste e Francisco Dantas, ao Sul, com Rafael Fernandes e Marcelino Vieira, ao Leste, com Serrinha dos Pintos, Antônio Martins e Francisco Dantas, e ao Oeste com Encanto e Ereré (CE), é uma cidade com mais de 30.000 habitantes fixos, segundo dados do IBGE/2017, muito embora nela circulem, em decorrência de sua posição de polo regional, cerca de cinquenta mil pessoas por dia. 

Cidade pujante, centro comercial e administrativo da região, centraliza a prestação dos serviços estaduais e federais, e sedia a Escola de Enfermagem Catarina de Siena, a Faculdade do Oeste do Rio Grande do Norte, a Faculdade Evolução do Alto Oeste Potiguar, o Instituto Federal do Rio Grande do Norte, a Universidade Anhanguera Educacional, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e a Universidade Federal Rural do Semi-Árido. 

Ressalte-se, do ponto de vista cultural, a importância de sua Feira Intermunicipal de Educação, Cultura, Turismo e Negócios do Alto Oeste Potiguar (FINECAP), realizada anualmente e congregando toda a região. 

Não por outra razão, a cidade também é conhecida como “Capital do Alto Oeste” e “Princesinha do Oeste”, embora muitos a chamem de “Terra dos Vaqueiros”, ou, ainda, “Terra da Imaculada Conceição”, em homenagem a sua santa padroeira. 

Em 12 de abril de 2018.

[1] MEDEIROS, Tarcísio; “Proto-História do Rio Grande do Norte”; Rio de Janeiro: Presença Edições; Fundação José Augusto; 1985.

[2] LOPES, Fátima Martins: “Índios, Colonos e Missionários na Colonização da Capitania do Rio Grande do Norte"; Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado e Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte; 2003. 

[3] MEDEIROS FILHO, Olavo; “Índios do Açu e Seridó”; Natal: Sebo Vermelho; 2011. 

[4] MONTEIRO, Denise Mattos; “Introdução à História do Rio Grande do Norte”; Natal: Flor do Sal; 4ª edição; 2015. 

[5] Pág. 59.

[6] LIMA, Manoel Jácome de; in “Revista Comemorativa do Bicentenário da Paróquia e Centenário do Município de Pau dos Ferros (1756-1856-1956)"; Natal: Sebo Vermelho; Edição Fac-similar; 2015. 

[7] HOLANDA, José Edmilson de; “Pau dos Ferros: Crônicas, Fatos e Pessoas”; Natal: Gráfica Vital; 2011.

https://honoriodemedeiros.blogspot.com/2020/12/historia-pau-dos-ferros-ontem-e-hoje.html?fbclid=IwAR1UwgqAKcVTY4ltF4O6m_Mi4Z6UlKkhzbWv1bJy0A1pKKPB1vif38FFsWw

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MAURÍCIO VIEIRA DE BARROS O HOMEM QUE SEPULTOU LAMPIÃO

Rostand Medeiros

Num velho casarão alpendrado de uma fazenda sertaneja, em plena caatinga pernambucana do Município de Itaíba reside o ancião Maurício Vieira de Barros, que em maio de 1921 sepultou o pai de Lampião, morto por uma força volante da Policia alagoana. Nos seus bem vividos e muito sofridos 86 anos de idade, ele viu e também fez muita coisa, por esse Nordeste das caatingas e das secas, dos beatos e dos cangaceiros, dos soldados de verdade e dos coronéis da extinta Guarda Nacional.

Lembre-se que se usar esta foto em seus trabalhos depois do enviado especial do Diário de Pernambuco credite ao historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.

https://tokdehistoria.com.br/2020/02/15/1921-os-primordios-da-saga-de-lampiao/

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JAGUNÇOS E TOCAIAS

 *Rangel Alves da Costa

Tocaia, emboscada, armadilha, cilada, espreita, é tudo a mesma coisa: esconderijo de onde se espera a passagem do escolhido para lhe dar cabo da vida. Por outras palavras, o local onde o jagunço, o assassino ou matador, se mantém escondido, com arma apontada e gatilho pronto para ser apertado, esperando somente o surgimento daquele que será vitimado pelo ódio, pela desforra, pela desfeita, pela vindita de sangue.

Ainda acontece, mas o ofício da tocaiagem era grandemente característico no passado coronelista, num tempo de senhores de instintos abomináveis, de crueldade desenfreada, onde qualquer ameaça ao seu poder era resolvida na bala. Mas também nas relações odiosas entre pessoas comuns, quando as rixas e as discórdias provocavam somatórios de mortes por emboscada. Noutras situações de vinditas também o recurso da espera assassina, assim nas lides cangaceiras e nas revoltas sangrentas sertões adentro.

Morte de tocaia é morte à traição, perpetrada sem que a vítima sequer imagine que o inimigo o espera numa curva de estrada, por detrás de um pé de pau, dentro de um tufo de mato, em qualquer lugar onde possa se manter escondido e a arma mirada em linha certeira. Impossível de se defender quando apenas a boca faminta da arma vai no encalço esperando o instante certo para cuspir fogo.

Como aconteceu tantas vezes, o sujeito vai caminhando armado até os dentes ou mesmo galopando em cavalo ligeiro com verdadeiro arsenal, mas não sabe que mais adiante alguém aguarda sua passagem de arma já preparada. Não consegue avistar nada porque o jagunço está encoberto pelas folhagens, pelas árvores ou outra mureta nativa. Mesmo a dois metros não consegue avistar nada. Mas a arma já mirando sua chegada e ávida para ser disparada. E num instante basta apertar o gatilho, e pronto. O sujeito cai estrebuchando no chão.

Tal o modus operandi no ofício da jagunçagem e da tocaiagem, mas que não se imagine ser tarefa fácil de matador. A tocaia exige profissionalismo, preparo, segurança, firmeza e frieza. E assim porque exige não só a pontaria certeira, mas também preparação e conhecimento de campo. O jagunço matador precisa escolher o local da ação, necessita conhecer a vegetação da região, bem como saber a hora aproximada que o futuro defunto passará diante de sua mira.

Escolhido o local, resta a parte mais difícil e demorada: a espera. O jagunço nunca chega pela estrada comum ou pela vereda aberta, mas por dentro da mataria, de modo silencioso e lento. Ao chegar, o passo seguinte é procurar um lugar onde fique escondido e ao mesmo tempo possa avistar tudo o que acontece mais adiante. E também a colocação do cano da arma de tal modo que, estando com a boca livre, ainda assim não possa ser avistada.

Contudo, a espera em si é o mais angustiante, fazendo mesmo que muitos jagunços tenham desistido antes do evento fatal. Em primeiro lugar, porque só suporta esperar sem refletir sobre as consequências de sua ação aquele matador que já é movido pela cegueira da ação, pela cruel insanidade ou pela contumaz covardia. Em segundo lugar, porque qualquer sentimento surgido na espera pode provocar desistência. Daí que o jagunço não pensa em outra coisa senão preparar comida de urubu e retornar para dar notícia ao mandante, seu patrão.

Foi porque o marcado para morrer demorou a passar e o matador começou a pensar num monte de coisas, principalmente na sua sina de viver para a morte do outro, que se deu a última tocaia, ao menos para este mando. Enquanto esperava, sempre em posição de disparo, o jagunço olhou por cima do cano e apo final era como se avistasse um espelho adiante: ali um defunto sendo velado, uma família chorando, pessoas entristecidas, crianças sem pai e vidas ao desalento.

Logo cuidou de mudar de pensamento, mas ainda no espelho logo lhe surgiu sua própria face, suas mãos sujas de sangue, sua cama de capim, seu rosto entristecido, sua mão recebendo vintém, o dente de ouro do coronel brilhando na boca maldita, uma cova rasa e sem cruz no meio do mato. Aquela era sua vida, aquele seria o seu destino. Em seguida avistou, ao longe, cavalo e cavaleiro se aproximando.

De arma apontada, na mira certa, mas não teve coragem de apertar o gatilho. Desistiu. Ali a última tocaia, sem tiro, sem sangue, sem morte. E um jagunço seguindo por uma estrada distante do casarão do coronel.


Escritor
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LAMPIÃO, O ETERNO FUGITIVO.

Por Raul Meneleu

Toda vez que tentamos enquadrar e definir Lampião, ele foge. Talvez até por conta de dificuldades que temos nos dias de hoje em estudar sua história, por conta de não termos mais referências vivas dos que andaram com ele ou o combateu, que possam tirar dúvidas surgidas por novas avaliações.

Herói ou bandido? Violento ou amoroso? Justiceiro ou generoso? É isso. Toda vez que procuramos definir Virgulino Ferreira da Silva, encontramos em sua história diversos caminhos que nos levam achá-lo bandido, herói violento, amoroso justiceiro e generoso.

Querem saber: ninguém está pondo em dúvida a existência de Lampião, assim como não podemos ver com cem por cento de garantia as histórias que se fala sobre ele e que cobrem a sua figura. E o que é pior, é que, com o passar dos tempos, vai ser cada vez maior o volume de versões a seu respeito, cada vez fica mais longe da verdade em tal história. Não que duvidemos 100% da história dita oficial.

Se formos verificar, existem pelo menos dois "Lampiões". Um é aquele que cresceu em um ambiente violento onde a palavra do coronel, decidia sobre a vida e a morte daquelas pessoas que moravam ao seu redor e marcados por lutas sangrentas entre famílias de grandes proprietários de terra. O outro Lampião, é aquele jovem que trabalhava como tropeiro para seu pai, varando as veredas do sertão, levando mercadorias para as vendas das cidades, chamadas bodegas e também levar mercadorias para os comerciantes de ferramentas, tecidos, utilidades domésticas e até mesmo para pequenos industriais com seus alambiques e engenhos de fabricar rapaduras e mel. Chegou até mesmo transportar mercadorias para o grande industrial Delmiro Gouveia em sua fábrica de linhas, no distrito de Pedras, atual Delmiro Gouveia, município brasileiro no estado de Alagoas.

Lampião, aliás virgulino, era também um bom artesão. Ele fabricava celas, arreios, capas para facões, chicotes de couro e também era um bom domador de cavalos e burros Era bastante conhecido na região. Além disso ele era um ótimo versejador e tocava sanfona de 8 baixos que acompanhava os seus versos. Ora, era um rapaz que por ter seu trabalho, seu ganho e seu sustento, quando estava em casa principalmente nos fins de semana, onde ia para aquelas festinhas, aqueles arrasta-pés tão famosos no sertão, com dinheiro no bolso para consumir bebidas e gastar com os seus amigos, só podia ser famoso mesmo! Isso causava inveja a alguns rapazes e entre eles o Zé Saturnino, que era filho de um fazendeiro que possuia mais posses que o pai de Lampião, Zé Ferreira.

Virgulino foi poeta, foi amigo, foi valente, foi namorador. Tornou-se o homem que viveu à margem da lei depois que passou a ser perseguido pelos seus inimigos que tinham inveja de sua juventude e da sua capacidade em conquistar amigos.

A partir de 1922, quando assumiu o grupo de cangaceiros que participava, conseguiu criar a seu redor, um imaginário fabuloso. Quando se tornou uma pessoa bastante perseguida pelas volantes policiais, que constantemente estavam no seu encalço, foi criado então esse imaginário. Criado Por muitos repentistas que faziam os seus cordéis para serem vendidos nas feiras das cidades do nordeste, onde

alguns deles chegavam a tocar sanfonas e violas, mostrando nos seus versos versões imaginárias desse homem tão perseguido. Eram histórias mirabolantes nessa cultura que se escrevia e que explodia nos cantos da pobreza e da própria fome dos sertanejos.

Lampião nunca apresentou pra ninguém uma plataforma política ou um programa de reinvindicações sociais, mas traduziu como ninguém a insatisfação popular contra um regime autoritário que já perdurava há muito tempo e que infelizmente até os dias de hoje persiste. Regime autoritário de nossa história, que ficou conhecido como República Velha, se bem que na República Nova, que já se iniciou corrupta, pois tinha os mesmos personagens corruptos da Velha, na sua linha de frente. Não é a toa que Jornais da época que recebiam benesses do governo, procurassem mostrar Lampião com imagem de criminoso de alto grau de delinquência, procurando com isso denegrir totalmente o lado humano e social vivido por lampião e seus cangaceiros.

Contrário a isso, de Lampião traduzir como ninguém a insatisfação popular, os poetas de cordel que estavam constantemente nas feiras das cidades do nordeste, mostraram um Lampião valente, com alto grau de capacidade libertadora dos pobres, suas lutas contra os poderosos e que até hoje é lembrado e cantado pelos poetas e repentistas. É Por isso que, tão impressionante figura lendária de Lampião seja um pretexto para acabar com as injustiças sofridas pelos mais pobres.

Aqueles que persistem em falar mal de Lampião, não vêem ou fazem que não ver, que em um ambiente seco do sertão, na caatinga nordestina, outras crianças, com suas famílias, sofrem o descaso das autoridades até os dias de hoje.

Lampião tem de ser examinado pelos olhos da sociologia e não pelo olhar policial, pois já fazem mais de 80 anos de sua morte. Foram muitas histórias de ódio, mas também teve muitas histórias de amor e de generosidade, pois Lampião também foi capaz de amar.

Realmente meus amigos, falarmos desse personagem histórico, desse mito, nunca é, colocar um ponto final nessa história. Porque Muitas ainda estão escondidas e à medida que o tempo passa, se refaz cada versão dessa história.

https://meneleu.blogspot.com/2020/09/lampiao-o-eterno-fugitivo.html?fbclid=IwAR2vt1aFABrsR31oqfyJbuyK-2ZuwC94PlU2s9duqRIUCKybRm3pdctPFpM

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O VINGATIVO LAMPIÃO

 Por José Mendes Pereira

O cangaceiro Lampião nos primeiros momentos de sua vida no Cangaço.

Em 1927, mesmo após sete anos da morte do seu pai Lampião resolveu tirar a tranquilidade do Estado de Alagoas, fazendo invasões constantes, usando o seu poder de vingança, e eliminando sertanejos, alegando que era protestando contra Zé Lucena, por ter assassinado o seu patriarca o José Ferreira da Silva, no momento em que debulhava grãos em sua residência. Dizia ele que o que haviam feito com o seu generoso pai, jamais ficaria impune ou no esquecimento, pois o velho não tinha nada a ver com os seus problemas de bandidagem. Se Zé Lucena o procurava para eliminá-lo do solo sertanejo, que tivesse enfrentado os cerrados, as caatingas por todos os recantos dos Estados do Nordeste, e não tivesse exterminado a vida de um homem honrado, amante da tranquilidade, da paz, amigo dos amigos, bom pai, e considerado um grande homem no meio de toda vizinhança. 

O outro motivo era denegrir a imagem de Zé Saturnino que segundo ele, tinha sido o causador das declinações da família Ferreira, privando o direito deles serem felizes onde moravam, obrigando-os a fugir do amado berço Pernambuco, e os empurrando para as desconhecidas terras alagoanas. Lá em Pernambuco ele e os seus familiares deixaram para trás, tudo que haviam adquirido com muito esforço: propriedade, agricultura, criações e principalmente sonhos, sonhos e muitos sonhos que pretendiam realizar. 

Tenente José Lucena acusado de ser o responsável pela morte de José Ferreira da Silva pai de Lampião.

Já residindo em Alagoas passaram por dois grandes desgostos invencíveis. O primeiro, foi quando eles viram a mãe dona Maria Sulena da Purificação cair em depressão. Ela ainda se sentindo magoada e desgostosa com os desrespeitos do Zé Saturnino, por ter afetado o caráter do esposo José Ferreira da Silva, seu coração não aguentando as maldades, faleceu no ano de 1920, na Fazenda Engenho Velho, de propriedade de um senhor chamado Luiz Fragoso. O segundo e mais doloroso, foi quando eles viram o pai envolvido em um horroroso lençol de sangue, todo crivado de balas pelas armas do tenente Zé Lucena.  Os desrespeitos que surgiram contra a sua família alcançaram o topo do pico, deixando ele e seus irmãos sem rumo e sem decisões próprias, para enfrentarem as maldades dos poderosos perseguidores.

Dizia o rei no silêncio do seu “EU”, que não tinha dúvida, que o principal culpado das suas desventuras era o Zé Saturnino, por não ter assumido a sua desonestidade, quando o assecla viu peles dos seus animais na casa de um dos moradores da Fazenda Pedreiras. Se o fazendeiro tivesse assumido o feito, não teria sido necessário ele e seus irmãos viverem embrenhados às matas, escondendo-se de policiais que os perseguiam. 

José Saturnino, primeiro inimigo de Virgulino. A literatura lampiônica registrou que, no dia em que ele morreu, aboiou tanto que em toda sua vida não fez isto.

O rei ainda no seu "EU" se lastimava que todos os seus antes amigos, viviam passeando pelas redondezas do lugar, livres de perseguições, e diariamente aconchegados às mocinhas do povoado, frequentando festas e bailes. E enquanto os outros gozavam da liberdade, eles eram privados de participarem dos divertimentos que o povoado oferecia, devido as perseguições das volantes. Infelizmente teriam que passar a vida inteira se amparando às árvores, castigados pelas chuvas, sol, poeiras, dormindo no chão, misturados com caranguejas, lacraias, cobras e mais outros insetos venenosos, no meio de combates cerrados, tentando se livrarem dos estilhaços de balas. E na maioria das vezes, fome, fome e muita fome, vivendo um horroroso sofrimento.

Lampião assumia o seu feito, dizendo que antes da morte do seu patriarca já havia praticado crimes. E em um desses, findou a vida de um sujeito que lhe roubara uma das suas cabras. Mas que todos que o julgavam como um bandido cruel entendessem o porquê da sua prática criminosa. Fizera simplesmente para defender o que lhe pertencia, e em prol de sua própria honra. Se ele não defendesse o que era seu, com o passar dos tempos, todos iriam querer pisá-lo como se ele nada valesse na vida.

Lampião enquanto descansava sobre o chão, ainda imaginava   que, se o Zé Saturnino não tivesse manipulado o tenente Zé Lucena, para assassinar o seu generoso pai, quem sabe, talvez ele não tivesse se tornado um bandoleiro; e sim, um fazendeiro, um engenheiro, um rábula qualquer, ou outra coisa parecida. Ou ainda teria se casado e construído uma linda e maravilhosa família.

E agora, depois das grandes decepções que passaram, principalmente com a morte do pai, como os irmãos Ferreiras se vingariam das maldades que fizeram contra eles?

Lampião e seus manos decepcionados e de cabisbaixas diante da vizinhança, e privados de tudo e de todos, já que não havia como assassinarem os causadores das suas declinações, decidiram que o mais propício para amenizarem as suas dores, seria fazerem invasões constantes no Estado de Alagoas, não importando com o tipo de atrocidade, vingando-se a seu modo. Já que tinham perdido o respeito, diante da vizinhança, uma desordem a mais não influenciava nada.  

E a partir de 11 de janeiro de 1927, organizaram-se e partiram para bagunçarem o Estado de Alagoas, onde destruíam tudo que viam pela frente, não dando tranquilidade aos moradores sertanejos, e geralmente, rios de sangue ficavam escorrendo por onde os vingadores passavam. 

Fonte de Pesquisa: Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico

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NÓS NO ZABUMBA

 Clerisvaldo B. Chagas, 14 de dezembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.434


Vamos matar a saudade do nosso tempo, trazendo-o de verdade até nós. Lembra quando havia novenas nas periferias e na zona rural? O aviso era dado através da banda de pífanos composta por pífanos, caixas e zabumba. O pequeno grupo de tocadores saía pelas ruas da cidade tocando e parando nas casas para anunciar onde haveria a novena e pedir dinheiro para o santo anunciado. À frente, um homem ou mulher carregava um quadro cheio de fitas com a imagem do santo da novena, quase sempre de São José ou Santa Luzia. Após o rito novenário, iniciava-se o leilão fruto das arrecadações comunitárias, como: bolos, ovos, galináceos, carneiros e garrotes.  Às vezes também as novenas rurais e periféricas eram anunciadas durante as missas da Matriz de Senhora Santana, em Santana do Ipanema.

Nas novenas dos sítios tanto se rezava quanto se namorava, pois um rabisco de olho sempre escapava para lá e para cá entre as matutas aprumadas do sertão e a sagacidade dos rapazes “praciantes”. Muitas novenas tornaram-se famosas como as de Zé Rosa, no subúrbio Maniçoba, em Santana do Ipanema. Logo cedo do dia, a zabumba estava nas ruas da cidade anunciando a festa e animando o povo. Lembramos de certa música tocada no pife que era preciso entendê-la: A Onça. Tratava-se de uma caçada de onça onde os cães de caça acuavam o bicho do mato , iniciava-se um ataque e uma briga medonha entre a onça e os cães. Os tocadores imitavam no pife os tapas do felino e os caim caim dos cachorros. Uma obra de arte e atestado de competência do pifeiro.

Não era somente o famoso João do Pife que era bom na arte.

Agora mesmo, depois de décadas e décadas do auge da zabumba, sexta-feira passada a Rua Antônio Tavares é surpreendida por um grupo regional da zabumba, denominado São José, devidamente fardado e originário da cidade de Pão de Açúcar. A novidade para a nova geração surpreendeu os moradores. Houve uma parada na frente da casa dos meus pais, onde moram duas irmãs. Festa para a vizinhança! Veja na foto, dois pifes, uma zabumba e duas caixas. Ainda bem que os habitantes da rua lembraram de fotografar as raízes do nosso folclore sertanejo.

Não sabemos, entretanto, se os “cabras da peste”, tocaram a onça acuada pelos cachorros.

BANDA DE PÍFANOS, SÃO JOSÉ (FOTO: MORGANA).


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ACADEMIA VIRTUAL DE LETRAS - ACADÊMICOS

 

Patrono: José Lins do Rego

Acadêmico: Chico Mulungu

Cadeira: 17

BRAVO HERÓI BRASILEIRO

O caboclo que é vaqueiro

No interior nordestino,

A Caatinga em seu destino

Faz presente o ano inteiro,

O bravo herói brasileiro

No ambiente adaptado

É quem manuseia o gado

Na savana esquecida,

É assim que se dá a lida

D’um vaqueiro afamado.


Nem o mormaço ofegante,

Nem cactos ou espinheiro

Intimidam o guerreiro

Do Sertão, que é brilhante,

Não arreda um só instante

Da sua intensa jornada,

Começa na madrugada

Seguindo as trilhas do gado

Com o seu cachorro ao lado

Pronto pra qualquer parada.


À tardinha sempre volta

Pra contemplar seu terreiro

Com olhar alvissareiro

Satisfeito e sem revolta...

Seu cavalo, ele solta

Para pastar no cercado

E vai descansar ao lado

Do seu amor. Seus rebentos.

Vaqueiros são complementos

D’um chão desertificado!

Chico Mulungu

Direitos preservados 14.12.2020

Ilustração extraída da internet

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