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segunda-feira, 30 de julho de 2018

CANGACEIROS MOITA BRAVA

Por: Kiko Monteiro

Este Moita Brava veio a ser o terceiro cabra a adotar o vulgo. O primeiro pertenceu ao grupo de Antonio Silvino e o segundo, Deolindo da Silva, compunha as hostes de Lampião nos anos 20.

Antonio da Silva ou se preferir Antonio Alves dos Santos, era baiano da Várzea da Ema (conterrâneo do Azulão II). Entrou para o cangaço sob as ordens de Corisco que o batizou com esse apelido. Destacou-se entre seus pares como um cabra de coragem e frieza. Além do subgrupo do "diabo Loiro" transitou entre os bandos de Ângelo Roque e o do próprio Lampião. Era irmão do também cangaceiro José Alves dos Santos, vulgo “Carrasco”. 

Moita Brava participou do combate na Serra do Catimbau atual Paranatama, PE em 20 de Julho de 1935. (Não 1932 nem 1935 como mencionado em alguns livros). A Batalha da Serra do Catimbau foi em que Maria Bonita saiu baleada nas nádegas. 

Teve como primeira companheira a Cangaceira Lili (Maria Xavier) cabocla do Juá, Raso da Catarina. Lili que já havia sido companheira do cabra Lavandeira, após a morte deste, na Serra da Canabrava, passou a andar com Manoel Moreno (o baiano e não o paraibano). Tempos depois ela conheceu Moita Brava e o acompanhou. 

Foram para o grupo de Ângelo Roque, com quem ficaram quase dois anos. Moita Brava foi protagonista de um crime semelhante ao cometido por Zé Baiano. Certo dia encontrou Lili nos braços do cabra "Pó Corante", resultado, matou-a com seis tiros.  Pó corante, mesmo debaixo de bala conseguiu fugir e foi aceito no grupo de Corisco.

Como não foi identificado outro cangaceiro como este mesmo vulgo, acreditamos que este "Pó Corante" foi um dos cabras que emboscou o volante Neco de Pautilia, mas levou a pior, sendo abatido por este bravo Nazareno, que ainda está vivo aos cem anos de idade. Leia a matéria

Algum tempo depois juntou-se com a Cangaceira Sebastiana Rodrigues Lima ou simplesmente Sebastiana que era prima de outras duas cangaceiras: Aristéia e Quitéria.
Sebastiana e seus lindos olhos
Jornal "A Tarde" de 7 de dezembro de 1938.

Menos de um ano antes da tragédia em Angico, precisamente em 10 de Outubro de 1937 Sebastiana deu a luz a um filho de Moita Brava. A criança fora entregue ao promotor Manoel Cândido de Água Branca, AL, junto com um carta de recomendação. O menino que nasceu em Águas Belas, Pernambuco foi batizado na matriz de Mata Grande, AL com o nome de Joaquim Manoel Calumbi

Quando das entregas, que decorreram da anistia prometida aos cangaceiros, recusou-se a acompanhar as volantes que saíram à caça de cangaceiros resistentes. 
Boa Vista, Sebastiana, Moita Brava e Laura 
entregues aos "homi".

Manoel Franco da Rocha, esta veio a ser sua ultima identidade, contava com 110 aninhos na fotografia abaixo, (por sinal inédita na literatura), em ocasião do casamento de uma das netas. Moita Brava faleceu com "114" anos, no ano de 1983 na capital Paulista.
Moita Brava
Publicada no Jornal O Estado de São Paulo em  22 de abril de 1997.

Em cinco de Agosto de 2012 José Robério Silva Cruz, informou ao jornal Folha Sertaneja que é neto de Marcos Batista dos Santos único irmão vivo de Moita Brava que aos noventa anos ainda vive Várzea da Ema, BA. (Atualizando: O Sr Marcos Batista faleceu no dia 19/06/2013).
Fontes:

- OLIVEIRA, Bismarck Martins de - Cangaceiros de Lampião "de A a Z", 1ª edição do autor pág 199/200.

- COSTA, Alcino Alves. Existia amor no Cangaço? Artigo disponível In  www.cariricangaco.blogspot.com.br

- ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Lampião: as Mulheres e o Cangaço, Editora Traço 2ª Edição, 2012. Pág. 101/102.

- Jornal O Estado de São Paulo, edição de 22 de abril de 1997. Cópia gentilmente enviada pelo rastejador Francisco de Assis Barros.
Comentário em http://www.folhasertaneja.com.br/especiais.kmf?cod=13382144&indice=10
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OPINIÕES CITAÇÕES SOBRE JOÃO BEZERRA. (#)

Por Paulo Britto

O artigo a seguir é uma breve compilação de algumas referências/citações ao Coronel João Bezerra da Silva, feitas por pessoas de realce dentro do contexto do tema Cangaço, as mais diversas possíveis: coiteiros, soldados, oficiais, respeitados pesquisadores e escritores, autoridades militares, renomados chefes de volantes de outros Estados, etc.

Meu intuito é único e exclusivo, levar ao público informações para que diante delas, tirem suas próprias conclusões...




Att Paulo Britto
"Filho de João Bezerra"

Boletim Regimental número 179, de 12/08/1938 (Grafia original)
Não se enganou, portanto, o Exmº. Sr. Interventor Osman Loureiro, nem tampouco este comando. A perseguição se iniciou de forma tenaz e vigorosa, e não tardou a raiar da manhã de 28 de Julho, onde um punhado de 45 bravos comandados pelo Capitão João Bezerra da Silva, 1º Tenente Francisco Ferreira de Melo e Aspirante a oficial Aniceto Rodrigues dos Santos numa arrancada de heróis, atacaram de surpresa, na Fazenda “Angicos” município de Porto da Folha, no Estado de Sergipe, o grupo de famigerado “Lampeão” composto de nada menos de 58 bandidos e com eles numa luta tremenda conseguiram abater 11 sicários, inclusive o Rei do cangaço, pondo os demais em debandada, sem que tivesse tempo, os restantes, de conduzir do campo da luta os seus apetrechos e material de guerra que abandonaram.

 João Bezerra "Foto inédita em livros". 
Arquivo do Jornal Diário de Pernambuco
Acervo Lampião Aceso 

... O Exmº Sr. Interventor Federal Dr. Osman Loureiro, vendo realçada, com o mais significativo êxito, a missão de que fora e ainda se acha encarregado o II Batalhão, houve por bem premiar os que tomaram parte na refrega, e assim sendo, graduou no posto de Coronel, o Tenente Cel. José Lucena de Albuquerque Maranhão e promoveu por ato de bravura, a Capitão, o 1º Tenente João Bezerra da Silva, a 1º Tenente, o aspirante a oficial Francisco Ferreira de Melo, a aspirante, o 3º sargento Aniceto Rodrigues dos Santos...

Coronel Lucena
Louvor do Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl, de 17 de dezembro de 1938. (Grafia original)
Lucena. Acervo Ivanildo Silveira
 “Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontâneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra o orda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinha sofrendo as agruras consequentes da ação do banditismo.

Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal.

Jornal de Alagoas
O Chefe de Polícia de Alagoas relata como se deu o encontro em que morreu o “Rei do Cangaço”. Quem é o Tenente João Bezerra. A Agência Nacional, do Departamento de Propaganda, procurou ouvir pelo telegrapho, o Secretário do Interior e Chefe de Polícia de Alagoas Sr. José Maria das Neves. O Sr. José Maria das Neves informou o seguinte.
- O Sr. João Bezerra da Silva, nasceu em Pernambuco a 4 (*) de junho de 1898, verificando praça em 29 de novembro de 1921. Foi 2º Sargento em 29 de março de 1922... e 1º Tenente por merecimento em 30 de setembro de 1936. Teve vários encontros com bandidos, tendo de uma feita morto três dos comparsas de Lampeão. ... É official valoroso da Polícia Alagoana e de immediata confiança do governo...
Entre os prêmios recebidos por João Bezerra, a sua família guarda, zelosa e orgulhosamente, uma Espada que ele recebeu do povo de Piranhas em 1938, expressão de gratidão pela morte de Lampião, em cuja “Copa” está escrito: “Ao Capitão João Bezerra pela sua bravura e heroísmo. Offerece o povo de Piranhas.”

Durval Rosa
Colocações de Durval Rodrigues Rosa, irmão de Pedro de Cândido, no livro “Assim morreu Lampião” de autoria do pesquisador e escritor Antônio Amaury, página 105.

... João Bezerra disse que tava certo e dividiu todo mundo.
Avisou:
- Não conversa ninguém. Puxem o ferrolho dos fuzis. Não dá tiro a tôa.
Passou uma ordem severa.
- Vou passar uma ordem pra todo mundo. Não se dá um tiro sem se vê em quem . Só se atira em cangaceiro. Soldado não briga deitado, o qui eu encontrá deitado, ou outro qualquer encontrar deitado, atire e mate que esse é covarde. Quando vocês me verem deitado atirem em mim também.
Quando eu gritar, avança, aí eu quero Lampião pegado hoje de qualquer maneira. Ou morto ou pegado a mão!


Nisso Antonio Jacó chegou perto dele, tirou o chapéu, botou no chão, pisou em cima e disse assim.
- Mi solte logo “Seu” tenente, que eu quero saber se Lampião é mais homem que eu.
Ficou doido, doido, doido.

O tenente falou:
- Espere aí, i tenha calma!” ...


Afirmativas como esta feita pelo coiteiro que não tinha necessidade alguma para enaltecer a coragem do comandante da tropa e seu subordinado, não são consideradas por certos pesquisadores que se apegam a comentários tendenciosos que não tem relevância.

Antônio Jacó
"Mané Véio e Paulo Britto"
Colocações de Antônio Jacó no livro “Assim morreu Lampião” de autoria do escritor e pesquisador Antônio Amaury Correa de Araújo, página 117, Edição 1982.

João Bezerra armou uma rede, botou os bornaes pendurados num galho e disse assim:
- Mané Véio, deita aqui debaxo da minha rede:
Eu respondi:
- Voce tá pensando qui eu sou mulher? Prá seiscentos diabos!
Mas deitei no chão, que eu obedecia a ele. ...

Quando estive com Antônio Jacó na cidade de Pires do Rio em Goiás, ele bastante emocionado, sem acreditar que estaria ao lado do filho de Ten. João Bezerra, em longa entrevista me disse:
- O seu pai, eu considerava como meu pai.

Elias Marques
Sgt. Elias e o autor
Em conversa com Elias Marques, soldado da volante do meu pai, que residia em Olho D`Água do Casado, onde lá estive por diversas vezes. A foto ao lado é registro de uma destas ocasiões.

Perguntei a ele: – Elias e essas conversas que meu pai se encontrava com Lampião, etc?
Ele respondeu:
– Paulo você vai acreditar nisso, seu pai não se afastava pra lugar nenhum que não levasse um de nós e nós nunca vimos falar nisso. O Tenente não era de brincadeira”. ...

Estas colocações são para demonstrar a confiança e o respeito de Antônio Jacó e Elias Marques pelo então Tenente João Bezerra, demonstrando que pessoas como estas jamais se insubordinariam ao seu comando, a consideração e a confiança do comandante por eles.

Ferreira de Melo
O coronel Francisco Ferreira de Melo no livro do Dr. Estácio de Lima “O Mundo Estranho dos Cangaceiros”, páginas 285, 286 e 287:
O veterano Ferreira
 -Lastimamos a perda de meu excelente soldado Adrião, ou Adrião Pedro de Souza. Também foi baleado o nosso digno Comandante e mais um praça que teve o braço partido.

-De qualquer forma, Lampião foi liquidado pela tropa sob o comando geral de Bezerra.

- As precauções e as providências. Bezerra nunca se mostrava egoísta, ou vaidoso. Gostava de ouvir a opinião dos comandados.




Manoel Neto
Comentário de Manoel de Souza Neto em um Jornal do Nordeste

Manoel Neto
O capitão Manoel Netto reconstitue, para esta folha, a luta em que se empenhou durante 12 anos.

Pertencente à Brigada Militar do Estado, tem a sua carreira ligada ao combate sistemático e constante ao cangaceirismo no nordeste.

Por fim, o capitão Manoel Neto allude a antigos companheiros de jornada, destacando os nomes do Tenente Coronel Hygino, do Tenente Arlindo Rocha, Luiz Mariano, Capitão Optato Gueiros, Major José de Alencar, concluindo refere-se ao Tenente João Bezerra dizendo:

- O Tenente João Bezerra a quem conheço pessoalmente, é um official disposto, disciplinado e muito bem quisto no seio da Polícia alagoana e dos Estados vizinhos.

Coronel José Rufino
Trecho de uma Carta do Cel José Osório de Farias; Jeremoabo, datada de 1 de abril de 1964.

Zé Rufino
 Amigo Cel João Bezerra,
... Aqui fica o teu velho amigo que muito te estima.
Olha João, eu ainda hoje sonho com aqueles tempos daqueles em que nós vivíamos naquela mardita campanha.



Manoel Flor
Carta do Coronel Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor)
Manoel Flor
João Bezerra, Recebi sua carta, ontem, 19 de agosto de 1961, quando me preparava para um ligeiro passeio pela cidade. Seria faltar a primorosa verdade se lhe afirmasse ter sido um momento de alegria ao recebê-la. Foi meu caro amigo muito mais do que uma satisfação passageira. Ela veio me transportar a terreno mais profundo, o qual ficou no passado, mas de meandro crateroso, contemplado por mim com tantas emoções.
Emoção pelo desaparecimento de velhos companheiros, cujas cinzas veneramos com admiração e respeito, pela bravura e respeito; Emoção pelo verdadeiro espírito fraternal que sempre existiu entre as tropas pernambucanas e alagoanas. A confiança fazia com que considerássemos Pernambuco, um pedaço de Alagoas e Alagoas, um pedaço de Pernambuco; Emoção dos dias cruentos que enfrentamos, apesar da dureza da campanha, ocasionada pela fadiga, apreensão e responsabilidade, os nossos encontros efetivados na maior cordialidade, ou melhor festivos. ...
Do amigo e companheiro Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor)
Floresta, 20/9/1961

Frederico Pernambucano de Melo
Colocações feitas por este escritor e pesquisador na introdução do Livro “Como Dei Cabo de Lampião” de autoria do Capitão João Bezerra, página 38, 3ª edição.

... as curtas memórias do coronel Bezerra nos revelam um homem eleito pela fatalidade de um destino de aventuras permanente, pondo-lhe a vida a cada passo um obstáculo para saltar e lhe proporcionando a aventura capaz de fazer lamber os beiços a um jovem do Pajeú da época, de poder provar, em pelejas sucessivas, aos seus próprios olhos e aos de terceiros que se tratava de “cabra disposto”. Metido no interminável steeple–chase que culminaria com a destruição do “Rei do Cangaço”, Bezerra há de ter-se considerado um homem de sorte, sob esse aspecto. Pois olhe que até uma onça cruzaria seu caminho para lhe dar oportunidade de tirar uma das mais invejadas cartas de valente: a de matador de onça. ...
Frederico
Outro comentário de Frederico no Livro “Como Dei Cabo de Lampião” de autoria do Capitão João Bezerra, página 55 e 56, 3ª edição:
... Fico à vontade, portanto, para reconhecer em Bezerra o homem que não tremeu no momento em que o destino o aceitou como seu agente e ponta de lança, dando-lhe a chance de virar uma das páginas mais expressivas da história do Nordeste rural. ...

... No cenário de Angico, Bezerra não foi outra coisa. Sujeito e objeto da história, soube fazer-se templo da síntese magnífica. Como um Ahab original, mil vezes afortunado, cuidou em atropelar tudo o que se levantou entre ele e o cangaceiro. E ao lhe tomar no último instante a porta, quem sabe não o terá desenganado de um possível brilho derradeiro das estrelas de seu chapéu, sentenciando como o capitão da perna de marfim:

Louco! Sou o lugar-tenente do destino. Apenas cumpro ordens ...

Billy Jaynes Chandler
Repúdio ao Professor Billy Jaynes Chandler, no Livro da escritora Marilourdes Ferraz “O Canto do Acauã”, 3ª Edição – 2011, página 476:

- Pág. 252: “Estas histórias são repetidas pelos pernambucanos, principalmente por aqueles que, como os da família Flor e outros nazarenos, se sentem ludibriados porque, segundo eles, Lampião foi morto por um oficial de Alagoas, corrupto e covarde, indigno de tal honra. Esta honra, de direito, deveria ter sido deles. Bezerra infame, como era, só pode ter...“ Estas referências aéticas lançadas contra o Coronel João Bezerra não podem ser atribuídas a quem não as deu, no caso os Flor de Nazaré que nem ao menos foram entrevistados pelo professor. E, além de tudo, não concordam com esse tratamento contra o colega de outro Estado.

(Marilourdes Ferraz é filha do Coronel Manoel de Souza Ferraz – Manoel Flor).

Belarmino Neto
Carta do Major da Polícia Pernambucana, Belarmino de Souza Neto, dirigida à escritora Marilourdes Ferraz e publicada em seu livro “O Canto do Acauã” – 3ª Edição – 2011, páginas 486 e 487.

Há anos li uma obra de Rodrigues de Carvalho, sobre Lampião tratando do tema, aquele autor não tem dúvida: Afirma que a morte foi mesmo por veneno, obscurecendo o trabalho de João Bezerra a quem não poupa ofensas e cobre de ridículo.

Lendo aquela obra, comentei à margem: “Lampião foi um bandido, sem nobreza, sem ética, sem piedade. Seria um injustificável exagero que se fosse exigir, para a sua destruição, o emprego de princípios, de lealdade cavalheiresca que ele nunca usara para com suas vítimas. Teria sido ele envenenado? Para mim o assunto é irrelevante e não conduz a nada.

O Coronel João Bezerra continuará a ser o homem que livrou o nordeste brasileiro daquela praga de vândalos. Que o tenha feito a bala, pelo arsênico, pela surpresa ou através de qualquer artifício, isso não vem ao caso, negar seu mérito pelo extermínio de Lampião, é como negar a Colombo o mérito pelo descobrimento da América. E no entanto, depois de vinte anos de escaramuças através do nordeste, entre o bandido e as forças policiais de 7 Estados, foi o Coronel João Bezerra o único que conseguiu quebrar a calota do ovo e colocá-lo de pé sobre a mesa. ...

Antonio Amaury
Correspondência enviada a mim em 6 de Julho de 2002 pelo escritor e pesquisador Antônio Amaury Correa de Araújo:
Amaury em foto do coroné Severo
... Não é novidade para os pesquisadores que seu pai foi amplamente injuriado, invejado e que teve sua imagem denegrida por comentários oriundos de mentes tacanhas pelo fato de haver sido o comandante que eliminou Lampião e parte do seu bando cangaceiro, ... Isso causou-lhes profundo ressentimento e usaram então dos mais baixos argumentos para achincalhar o episódio da Fazenda Angico.

... Pelo que pude observar nesses 53 anos de pesquisas e com seis mil entrevistas realizadas qualquer pessoa, em qualquer época usando de qualquer método para eliminar Lampião, ... ... seria questionado e destratado e sua atuação estaria sempre em dúvida na visão daqueles que não conseguiram o mesmo desideratum. A imaginação humana não tem limites e até mesmo episódios claros como cristal são colocados sob suspeita.... Para terminar, a polêmica não tem fim. É traição, veneno, tiro e Lampião ainda vivo até a década de 1990. Viva a fantasia, a ficção, a criatividade de alguns pesquisadores menos cuidadosos e pouco honestos para com a história...

PS. Faça o uso que quiser destas, pois é a expressão do meu pensamento e da verdade que obtive de cangaceiros, soldados, coiteiros e outras pessoas envolvidas no episódio de Angico.

Gazeta de Alagoas
06.12.1970 – 1º Caderno, página 3. "Matador de Lampião sepultado em Maceió com honras militares"

...O Coronel (de Exército) Carlos Eugênio Pires de Azevedo, comandante da Polícia Militar conheceu pessoalmente o Coronel Bezerra há 02 anos em Garanhuns. Lamentou a sua morte. Como última homenagem a corporação da qual é comandante, satisfazia o pedido de João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano.

Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou, disse o comandante da Polícia Militar de Alagoas. ... “O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele grangeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.

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Espero que estas citações consigam demonstrar, um pouco, de quem foi o homem, o policial militar, o maçom, grau 18 que, em todas as suas ações e missões, só fez enaltecer o nome da instituição a que pertenceu, e que, graças a Deus, teve o privilégio do reconhecimento e do respeito dos familiares, amigos, superiores e subordinados.
Sempre estive e continuo disponível aos amigos, para poder contribuir com o modesto conhecimento que tenho.
Att Paulo Britto 
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ADENDOS
(*) A data correta do nascimento do Coronel João Bezerra é 24 de junho de 1898.

(*) Frederico Pernambucano, durante sessão de fotos no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, em Maceió em agosto de 2009 para ilustrar o livro "Estrelas de Couro - A Estética do Cangaço".

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FOGO DA ABÓBORA 90 ANOS

A Morte de Mergulhão 

Por Rubens Antonio

A 07 de Janeiro de 1929 travou-se o combate de Abóbora, povoado de Juazeiro, BA, lembrado pela morte de Mergulhão, (foto) cujo nome real era Antônio Juvenal da Silva, mas que aparece citado também, na literatura sobre o Cangaço como Antônio Rosa. Da visita ao local pode colher alguns depoimentos e bater algumas fotos.

Antecipando algo do material, observo que a povoação está muito mudada, em relação ao contexto de então, mas há muitos elementos reconhecíveis e outros identificáveis através de testemunha ainda viva dos eventos.

Sabemos que o fogo se deu quando a volante chegou e os cangaceiros dançavam em uma casa, num forró.

A causa do forró, na verdade, era alheia aos cangaceiros. Era festejo local pela construção de uma nova "armação" para a feira do povoado, que, na verdade, não passava de uma arranjo descontínuo e desordenado de casas mais esparsas. O cemitério local foi o sítio de maior destaque, onde morreram os dois policiais, soldados José Rodrigues e Manoel Nascimento.

Segundo a autópsia:
"José Rodrigues, com um ferimento com orifício de entrada na região dorsal superior e orifício de saída sobre o mamillo direito; Manoel Nascimento com três tiros; um que penetrava entre a 6ª e a 7ª lombar, com destruição das anças intestinais e orifício de saida sobre a crista illiaca com fractura; outro na região anterior direita do thorax e outro na região cervical esquerda."


Tira-gostos:
"BUM! PÁ! PÁ! Foi papoco pá peste! E isso de que a puliça abriu a cova do cangacêru é mintira! Só tiraram os mininu da puliça mesmu e trabaiaru e colocaru di vorta... O cangacêru mexeram nele não! Ficou a cova lá fechadinha!"
"Aquele Calais! Êta cabra faladô! Mas nas ora dos papôco, mais dispois, ô cabra pra corrê! Faladô prezepêru... mas covarde que nem só ele mesmu!"
"E no tiroteio que teve lá adipsois? Na curva? Foi anos depois... Eu ainda lembro da curva... O Azulão era uma peste muito bom de pontaria... Acertô bem na testa da burra... ô pontaria do cão!"
"Sabe o que eu achei ingraçado? Adispois de muitos anos, aqui, pra fazê esta rua nova, sabe quem trabaiô? o Bem-ti-vi... que foi também cangacêru... Trabaiô pra fazer a terraplenagi... Era muito sorridente... Simpático... Foi até lá.. Oiô a sepultura do Merguião... Falou nada não... Só ficou quietu oiano..."

Os detalhes do evento consegui lá mesmo em Abóboras a partir do relatório do tenenteOthoniel.
Sobre as descrições dos cadáveres, a partir do exame do legista Anísio Teixeira.

Edilson dos Santos, proprietário do terreno, aponta a localização da sepultura do cangaceiro Mergulhão.

O esquema que fiz acima é uma indicação relativamente precisa...Posteriormente publicaremos outros depoimentos; Tomei dois, porque agregavam praticamente tudo o que os outros diziam...
São o do senhor "Joãozinho", que presenciou o fogo... está quase cego, mas enxergando o suficiente para, acompanhado do filho, me conduzir e indicar o sítio do cemitério... e o Manoel,que é um jovem que herdou o terreno onde foi sepultado Mergulhão...

 Rochedo em que Lampião e Ezequiel se apadrinharam para disparar contra a volante, que se encontrava no Povoado de Abóboras.  A posição da volante era aproximadamente a da caixa d'água vista ao longe, entrincheirada no antigo cemitério.
  
João Alves Guimarães apontando localização da entrada do antigo cemitério. As pedras diante dos seus pés são do antigo portal.

A terraplenagem e a pavimentação foi feita somente com a retirada das lápides. Portanto, o restos dos sepultos ainda estão aí. Próximo à quina branca que se vê à esquerda estão sepultados os restos de um dos soldados mortos no tiroteio. Seguindo-se em frente, em direção à rua, encontram-se os restos do outro soldado.

 Monumento em praça de Abóbora


 Detalhe da placa


Uma coisa é interessante nas abordagens de campo..

Olhando Abóboras... e andando... localizando os pontos em que se abrigaram os cangaceiros e a volante... percebi o seguinte... A distância entre o cemitério.. e onde Ponto Fino e Lampião estavam, disparando contra eles, é de cerca de 150 a 180 metros... Acertar alguém desta distância é braba...

Luiz Pedro estava disparando deitado em um descampado a cerca de 100 a 120 metros ... Era o que estava menos protegido.

Os outros dois cangaceiros envolvidos, Mergulhão e Corisco, partiram de cerca de 150 metros, em movimento diagonal, até chegarem ao cemitério. Ali, na quina, Mergulhão recebeu o tiro que o derrubou. O tiro seccionou seu húmero e rasgou as veias e artérias do braço, causando a hemorragia que o matou.
Os dois policiais vitimados fatalmente, conforme o depoimento do seu João, foram atingidos quando tentavam pular o muro do cemitério e usá-lo como entrincheiramento... por disparos vindos de Lampião e/ou Ezequiel, daquela distância toda... 150 a 180 metros... Imaginem só... O cemitério tinha muro de madeirado, só tendo em pedra o portal.

Praticamente todos os volantes... além dos dois mortos... mais seis praças, um sargento e o tenente, foram baleados. Entraram em fuga.

O estudo de campo mostra que Mergulhão foi morrer a cerca de 180 a 200 metros de onde foi alvejado...
Foi enterrado praticamente no local em que tombou.

Ele chegou a ser ajudado por dois cangaceiros que o carregaram, e foi assim que os habitantes o viram ser levado e adentrar a caatinga... mas, como visto na distância, não conseguiram ir muito longe...

Quem o encontrou, ainda agonizando, foi um viajante que vinha chegando a Abóboras. O cangaceiro parece ter tentado se esconder atrás de um amontoado de xique-xiques... Olhou o viajante e disse:
- Quem está falando aqui é homem...
Tirou do bolso um canivete e estendeu para o viajante... e expirou. 

Abraços!
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Rubens Antonio é Professor e palestrante sobre História Geológica da Bahia, Antropologia, Geologia, Epistemologia, Metodologia do Trabalho Científico, História da Ciência. 

CRÉDITOS:
Artigo pescado na comunidade "Cangaço, Discussão Técnica" de compadre Ronnyeri.

*Foto de Mergulhão foi cortesia de Ivanildo Silveira.

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Ab%C3%B3boras