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sábado, 2 de maio de 2015

LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


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MISSÃO DE GUERRA (Como dois capuchinhos tentaram calar a boca de Antônio Conselheiro)

Por José Gonçalves do Nascimento*

Desde que chegou ao sertão da Bahia, na segunda metade do século XIX, Antônio Conselheiro foi alvo da perseguição da Igreja. Abalada em sua condição de detentora do monopólio da fé, a estrutura eclesiástica despendeu todos os esforços possíveis na campanha contra o peregrino de origem cearense. Em 1888, acusando o beato de subverter a doutrina católica e desestabilizar a ordem pública, o arcebispo da Bahia cobrava do presidente da província uma solução para o caso.

A perseguição da Igreja à figura de Antônio Conselheiro atingiu seu vértice em 1895 com a ida a Canudos de dois missionários do Convento da Piedade, de Salvador: frei João Evangelista do Montemarciano e frei Caetano de São Léo. Acompanhados do padre Vicente Sabino, vigário do Cumbe (atual Euclides da Cunha/BA), os dois permaneceriam no arraial sertanejo entre os dias 13 e 20 de maio daquele mesmo ano. Portanto, há 120 anos.

A visita, de caráter oficial, tinha como objetivo específico dispersar a população reunida em torno do Conselheiro, fazendo-a retornar aos seus lugares de origem. Informou Montemarciano que: “de ordem e em nome do senhor arcebispo, ia abrir uma santa missão, e aconselhar o povo a dispersar-se e a voltar aos lares e ao trabalho, no interesse de cada um e para o bem geral.” Assim, acabariam os capuchos servindo de porta-vozes dos demais setores da sociedade que reclamavam o fim imediato da comunidade canudense.


Fundada em maio de 1893, graças aos esforços de Antônio Conselheiro, a comunidade de Canudos crescera e se tornara autossuficiente, não dependendo do Estado nem dos senhores da terra. Do lado religioso, a pregação do beato obtinha grande respaldo junto às populações sertanejas. Os fiéis preferiam as prédicas vibrantes do peregrino aos sermões enfadonhos dos párocos. Esse conjunto de fatores despertou a ira da elite brasileira, que passou a ver em Canudos um inimigo por demais assustador.

A missão capuchinha não logrou o êxito que se esperava. A postura, em nada elegante, dos religiosos logo entrou em choque com a comunidade dos sertanejos, inviabilizando o andamento dos trabalhos. Isso fez com que os missionários retornassem à capital baiana, antes mesmo da data prevista.

Em relatório expedido no final da malsucedida desobriga, com o fim de justificar os insucessos vivenciados durante a estada em Canudos, os religiosos acusam Antônio Conselheiro de inimigo da Republica e restaurador da Monarquia, algo totalmente infundado, pois mesmo os inimigos do beato, entre os quais o senador Ruy Barbosa, reconheceram não ter havido no arraial o mais leve indício de restauração monárquica.

Os frades ainda apontam o Conselheiro como fanático, herege e cismático; alguém a conduzir o povo por um caminho diferente do da verdadeira religião. As prédicas do peregrino, todavia, atestam o contrário. Nelas não há nada que destoe da doutrina católica. Basta ver com quanta insistência cita ele os grandes mestres da Igreja, como Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, São João Crisóstomo e tantos outros. Se a pregação do Conselheiro diferia da de certos padres, é porque procurava transferir para a terra aquilo que os curas só conseguiam vislumbrar no além-túmulo.

Segundo relataram os capuchos, a população canudense vivia mergulhada na mais extrema miséria, morrendo-se aos montes, dia após dia. Testemunhos da época, contudo, contrariam tal afirmação. Cézar Zama, político baiano e Manoel Benicio, jornalista e militar, garantem ter sido Canudos uma comunidade economicamente próspera. Aproveitando a fertilidade do Vaza-Barris, lá se cultivavam legumes, cereais, mandioca, cana, etc. Tudo com muita fartura. O bode assumia papel importante na economia sertaneja. O arraial de Canudos tornou-se ponto importante de venda de peles “o que proporcionava ao Estado pingue fonte de receita de imposto de exportação sobre peles”, relata Zama.
Ao fim do já citado relatório, os missionários acabam por exortar a força governamental a utilizar a repressão contra o arraial sertanejo. O fato se consumará um ano e meio mais tarde, banhando de sangue as adustas terras do semiárido baiano. Lê-se no referido expediente: “o desagravo da religião, o bem social e a dignidade do poder civil pedem uma providência que restabeleça no povoado dos Canudos o prestígio da lei, as garantias do culto católico e os nossos foros de povo civilizado. Aquela situação deplorável de fanatismo e de anarquia deve cessar para honra do povo brasileiro.”

Estava traçado o destino de Canudos. Em novembro de 1896, sem estabelecer qualquer tentativa de diálogo com os habitantes da comuna e em flagrante desrespeito ao direito de defesa, preconizado pelo artigo 72 da Constituição Republicana de 1891, o Governo Federal, com o aval dos fazendeiros e da cúpula da Igreja, decidiu decretar o extermínio dos sertanejos; um ato de injustiça extrema praticado pelo Estado Brasileiro contra pobres e pacatos camponeses que outra coisa não reivindicavam senão o direito a uma vida digna, livres do jugo pesado da miséria e da opressão; um brutal atentado ao direito, à liberdade, à vida.


Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso

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O CANGAÇO VISTO DE FRENTE

Por Isabel Cristina Mauad

"AMIGOS, o intuito desta postagem, é saber quem de vocês assistiu, tomou conhecimento ou tem informações a respeito da peça teatral “LAMPIÃO”, do diretor cearense, Aderbal Freire Filho, trazida a lume nas páginas do jornal “O Globo”, edição de 07/04/1991.
Antonio Correia Sobrinho"

Personagem controvertido, misto de justiceiro e assassino, bendito e maldito, Virgulino Ferreira, ou Lampião, pisará em breve com mais força nos palcos do teatro brasileiro. Concedido por um diretor teatral também nordestino, o cearense Aderbal Freire Filho – mais conhecido como Aderbal Júnior – o pernambucano Lampião, que em junho estreará no espaço BNDES não esconderá nenhuma de suas faces. Da romântica à fantástica, todas serão reveladas por Aderbal que pretende tudo com Virgulino. Menos julgá-lo.

- A compreensão de Lampião no exterior é bem maior. Aqui, quem dele se aproxima logo escolhe um ponto de vista: a favor ou contra. Quero fugir disto e vê-lo com isenção. Aí está a particularidade de meu projeto: levá-lo ao teatro com o maior número possível de informações; não só sobre ele, como também em relação ao Brasil de hoje – ambiciona Aderbal, diretor responsável pelo Teatro Gláucio Gill, em Copacabana, onde fundou o Centro de Demolição e Construção do Espetáculo, um grupo voltado para “o laboratório do teatro contemporâneo”, como ele define.

Quais as relações, por exemplo, entre o banditismo sertanejo e o banditismo urbano atual? A penetração de Lampião em suas comunidades sertanejas iluminaria a relação do cangaço da cidade com as suas comunidades? Mergulhado em dezenas de livros, ao mesmo tempo em que começa os ensaios de “Lampião” – que ficará três dias no BNDES e seguirá temporada pelo País, começando no Gláucio Gill – com o grupo que encena a festejada peça “Mulher carioca aos 22 anos”, Aderbal ainda se encontra “no arcabouço do texto”, como ele diz.

Figura por vezes confundida com a do diabo – os sinos das igrejas tocavam quando ele e seu bando entravam para pilhar uma cidade – Lampião, porém, não nasceu cangaceiro. Integrante de uma pacata família, Virgulino Ferreira, aos 23 anos de idade, entra para o bando de Sinhô Pereira em 1920 e, em 1922, assume seu comando sendo chamado, além de Lampião, de Capitão Virgulino. Aderbal impressiona-se com a frase de Sinhô Pereira: “Na pontaria e na coragem ele é igual a mim. Mas em cangaceirismo e na arte de guerrear, não tem igual”.

São 30 atores trabalhando em “Lampião”. À medida que os ensaios avançarem, no entanto, Aderbal selecionará os definitivos. E ele ainda nem sabe quem será o personagem-título; nem Maria Bonita, o seu lado romântico. Pode ser um ou todos os atores, em diferentes momentos. No caso de Lampião, arrisca Aderbal, talvez se delineie entre os atores Cândido Damm, Marcelo Scorel e Gillray Coutinho.

Nascido em 1940, dois anos após o massacre que decepou as cabeças dos cangaceiros, Aderbal lembra da infância marcada pelas histórias da mitológica figura que agora ele leva para o teatro. O diretor tinha vários outros projetos para encenar depois de “Mulher carioca”, mas optou por este depois de passar o mês de janeiro no Ceará montando o espetáculo de estreia do Teatro José de Alencar. Enquanto fazia outras pesquisas, voltou à sua memória o cangaceiro Lampião – personagem tão rico e tão pouco visto nas artes cênicas. Uma, em montagem de Rachel de Queiroz, em 1953, no Ceará, com nome de “Lampião”. Outra, nos anos 70, realizada por Luiz Mendonça, “Lampião no inferno”. Na TV, Virgulino virou minissérie de sucesso na Globo e, no cinema, ganhou uma Palma de Ouro, em Cannes, com o “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, nos anos 50.

Fonte: facebook

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A PATENTE DE CAPITÃO - PARTE I


“Chegamos ali, fomos recebidos em festas. Deixamos a roupa de cangaço e nos fardamos. Lampião recebeu a patente de capitão, Antonio Ferreira primeiro tenente, Sabino segundo, e Luiz Pedro primeiro-sargento e eu segundo. De volta da excursão contra Prestes, onde foi até a Bahia, Lampião, sentindo-se logrado, avisou: “Quem quiser debandar, pode ir. Eu volto ao cangaço”. Saímos do Juazeiro com vinte e dois homens e ao chegarmos a Pernambuco tínhamos mais de cem”

(DO DEPOIMENTO DO GATO BRAVO)
“Correio do Ceará, 9 de agosto de 1948)

“Chegamos ali, fomos recebidos em festas. Deixamos a roupa de cangaço e nos fardamos. Lampião recebeu a patente de capitão, Antonio Ferreira primeiro tenente, Sabino segundo, e Luiz Pedro primeiro-sargento e eu segundo. De volta da excursão contra Prestes, onde foi até a Bahia, Lampião, sentindo-se logrado, avisou: “Quem quiser debandar, pode ir. Eu volto ao cangaço”. Saímos do Juazeiro com vinte e dois homens e ao chegarmos a Pernambuco tínhamos mais de cem”

(DO DEPOIMENTO DO GATO BRAVO)
“Correio do Ceará, 9 de agosto de 1948)

NÃO É VERDADE que os sinos das igrejas do Juazeiro do Padre Cícero hajam repicado saudando a entrada de Virgulino Ferreira.

Na porta da cidade mística o bando estacou, permanecendo numa casinha de beira de estrada, nas imediações da fazenda do doutor Floro.
À noite, por volta das dez horas, Virgulino deslocou-se com sua gente para a entrada da rua, indo alojar-se no sobradinho do poeta João Mendes de Oliveira, rodeado da admiração e do pasmo dos “casacas” e povo.

Foi na casa do poeta que ele deu uma entrevista famosa ao doutor Otacílio Macedo, médico e jornalista de Crato.

Perguntou-lhe o doutor:

“Por que não larga essa vida, Capitão, o senhor que já tem tanto dinheiro? Por que não vai embora para Goiás ou Mato Grosso, deixando de vez essa existência perigosa?”

“Doutor, o senhor estando bem numa vida, o senhor larga ela? Assim sou eu!” – replicou Virgulino, sentado a uma mesinha, bebendo cerveja quente, rodeado pelo jornalista, Antonio e Sabino.

Na rua, populares chamavam por Lampião. O doutor testemunhou as quatro ou cinco vezes em que ele se levantou, no meio da conversa, encheu o chapéu de couro com moedas e, da janela da casa, jogou-as de esmola ao povo aglomerado na frente.

Em sua entrada de Lampião na Cidade do Padre Cícero, João Martins de Athayde conta essa entrevista:

“Num tamborete sentado
Lampião só respondia
As perguntas que o repórter
Com acento lhe fazia
Sempre de arma na mão
Prestando muita atenção
Ao movimento que havia.

Assim naquela atitude
Rosto firme, olhar insano
Quem o visse não dizia
Ser um ente desumano
Prestava atenção a tudo
Com um caráter sisudo
Parecia um soberano

O repórter perguntou
A Lampião sua idade
Tenho vinte e sete anos
Com toda serenidade
Sinto-me bastante forte
Não tenho medo da morte
Num fujo da autoridade”

O poeta narra depois, a visita que uma velhinha fez a Lampião, no sobradinho de João Mendes. Foi das mais generosas a recompensa de Virgulino ao gesto da anciã:

Disse a velha aqui eu trago
Remédio pra sua dor
Guarde consigo esta imagem
E tenho fé no criador,
Pelo poder do Messias
Inda brigando dez dias
Bala não fere o senhor.

Recebeu ele a imagem
Da forma que lhe convinha
Acreditando o milagre
Que a velha disse que tinha
Pegou um dos seus anéis
E mais um conto de réis
Botou na mão da velhinha.”

Quem não quis se conformar com a presença de Lampião ao Juazeiro foi o sargento José Antonio do Nascimento, do destacamento local. Primeiro, pretendeu evitar a entrada do grupo na cidade. O padre Cícero opor-se ao policial. Virgulino viera na boa fé dos tratados, atendendo a um chamado do doutor Floro, seu amigo, que retornara doente ao Rio de Janeiro – e qualquer ato contra o cangaceiro seria de traição e deslealdade, ferindo, além do mais, aquilo que o reverendo prezava: a hospitalidade sertaneja.

João Martins de Athayde dá-nos notícia dessa reação do padre:

“Todos olham pra ele
Com muito ódio e rancor
Eu sou o chefe da igreja
Dei prova de bom pastor
Não consinto violência
Tenham santa paciência
Não posso ser traidor”.

Lampião, informado dos planos do sargento, a este escreveu uma carta muito difundida; José Antonio comandava um destacamento reduzido, mas acreditava poder arregimentar uns cem homens no Juazeiro para prender Virgulino. Com esse plano não concordou também o então delegado de polícia da cidade, Manuel Timóteo, cujo suplemente não pôde assumir o lugar por ter “adoecido” subitamente.

Disfarçou-se o sargento José Antonio e foi visitar Lampião, que o reconheceu e até comentou:

- Não é esse o tal sargento que queria me prender?

Mestre Francisco Vicente da Silva Cavalcante, barbeiro no Juazeiro, passou quase todo um dia cortando o cabelo dos homens de Lampião. Este foi o primeiro a depilar-se. Depois, disse a mestre Chico:

- Mestre, não tenho dinheiro no momento. Posso pagar Depois?

Contou, anos mais tarde, a um jornal carioca, o fígaro sertanejo:

“O Capitão Virgulino Ferreira Lampião não penetrou na cidade sem aviso prévio ao meu padrinho. Só depois que meu padrinho providenciou aposentos para todos eles é que Lampião chegou, numa quinta-feira, permanecendo até domingo. Cangaceiros andaram livremente na cidade, fazendo compras, mas desarmados por ordem do chefe. Foram três dias de festa, sem que ocorresse qualquer incidente”.
Dias depois mestre Chico recebia o dinheiro dos cortes, dez mil réis, inclusive gorjeta, que o Capitão Virgulino lhe enviara através do mano João Ferreira.

Pedro Maia e Lauro Cabral, moradores no Crato e na Barbalha, foram especialmente a Juazeiro bater umas fotografias do Capitão.

Certa madrugada o padre Cícero chegou ao sobradinho de João Mendes. Ajoelhadas contritos, Lampião e o bando receberam a bênção e os conselhos do taumaturgo. Este, ao retirar-se, bateu no ombro de Virgulino, dizendo:

“Ô menino! Quando voltar da campanha há de deixar essa vida de desordens!”

O padre aludia à campanha contra a Coluna Prestes. Vigulino não respondeu sim nem não ao patriarca. Depois confidenciou a várias pessoas:

“Só posso largar o cangaço daqui há três anos!”

HAVIA ENTÃO no Juazeiro um funcionário público federal, o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchoa, que ali exercia o cargo de Inspetor Agrícola do Ministério da Agricultura. Certa noite foi convocado à presença do Padre Cícero.

Em casa foram busca-lo, a mando do sacerdote, Antonio Ferreira e Sabino Gomes.

Ao chegar à presença do Padre Cícero, ouviu dele o seguinte:

“Uchoa, você vai preparar três patentes: uma de capitão para Lampião, de primeiro-tenente para Antonio Ferreira e outra de segundo-tenente para Sabino. Você é um funcionário federal e tem credenciais para expedir os documentos...”

Pedro Uchoa ficou perplexo. Anos mais tarde ele confessaria a Leonardo Mota que, em tal emergência, assinaria atém mesmo “a demissão do presidente Bernardes, quanto mais a patente de Lampião”

Quis objetar, todavia, mas Antonio Ferreira interveio, pondo-lhe a mão no ombro:

“Que nada, seu doutor, meu padrinho mandou o senhor escrever o documento e ele sabe muito bem o que ele está dizendo: fala logo as patentes e deixe o resto com a gente e com o meu padrinho...”

Passou então o padre ao funcionário uma folha de papel e ele mesmo ditou a promoção:

Em nome do governo dos Estados Unidos do Brasil, nomeio ao posto de Capitão e cidadão Virgulino Ferreira da Silva, a primeiro-tenente Antonio Ferreira da Silva e, a segundo-tenente, Sabino Gomes de Melo, que deverão entrar no exército de suas funções logo que deste documento se apossarem. Publique-se e cumpra-se. Dado e passado no Quartel-General das Forças Legais de Juazeiro” etc.

Concluído o decreto, o padre disse ao agrônomo:

“Agora ASSINE” O Floro que e deputado federal, não está aqui e eu não exerço nenhum cargo. Você, porém como inspetor agrícola, é uma autoridade federal...”

Uchoa assinou. De volta para casa, ainda em companhia dos tenentes Antonio Ferreira e Sabino, o agrônomo tomou coragem e ponderou:

Eu acho que aquelas patentes não valem, pois eu sou um simples funcionário subalterno...

Antonio Ferreira, ríspido, replicou:

- Não tem mais o que discutir. Meu padrinho mandou fazer e o que ele manda fazer, vale!

FARDADO E MUNICIADO com fuzis do Exército, o bando acrescido de novos soldados, lampião caiu, outra vez, na caatinga.

Informado de que os oficiais pernambucanos não reconheceriam a sua patente, deixou a Coluna Prestes movimentar-se livremente, preferindo os caminhos do Pajeú. De volta do Juazeiro, evitou Macapá, onde já se encontrava um destacamento, pronto para recebe-lo a bala.

Rumou para Jardim, onde chegou à noite. O bando marchara vanguardeado por Antonio Ferreira que, na entrada da cidade, havia estabelecido um complexo serviço de segurança para a mano Capitão.

Em Jardim, Lampião dirigiu-se à casa do prefeito José Caminha de Anchieta Gondim, o coronel Dudé, assegurando-lhe, pessoalmente, que os seus homens estavam sobre controle da mais severa disciplina.

Os patriotas de Virgulino puderam, assim, acantonar no edifício da cadeia pública e no prédio onde funcionava o colégio local, livres e desembaraçados.

Três dias ali ficaram.

O corneteiro do bando, Jurema, entendeu, todavia, de pular por cima das ordens de Lampião. Primeiro deu um “giro” pela ponta de rua, onde se aboletava o meretrício e onde demorou em fornicações e bebedeiras com mulheres-damas do Jardim. De volta ao quartel andou soltando a língua na rua, dirigindo gracejos a uma senhora.

Sabedor das aventuras galantes do corneteiro, o Capitão mandou dar-lhe uma surra de relho de couro cru, no meio da rua, por dois dos seus soldados. Jurema não saiu vivo de tamanho corretivo, morrendo, dias depois, em abandono, numa calçada.

Era a disciplina prometida ao coronel Dudé, na hora da chegada do batalhão.

Virgulino requisitou do comércio local todo o estoque de vinho Constantino para os seus patriotas, retirando-se, em seguida, para Engenho d’Água, a dois quilômetros de Jardim, face a um boato corrente de que a Coluna Prestes andava pelas imediações.

Dias depois, saía do Ceará.

Mestre Zuza, ferreiro de Jardim, a pedido do Capitão, cortara o cano do fuzil que ele trazia do Juazeiro. Da calçada da cadeia pública, Virgulino Ferreira espiou o céu em torno.  Divisou um urubu pousado no cume da torre da matriz, a mais de trezentos metros donde ele se achava, examinando a arma que mestre Zuza degolava.

Aí Lampião mirou a arma e fez fogo. O urubu despencou da torre e estatelou-se morto, no patamar da igreja.

Era assim a pontaria do Capitão.

UM ANO DEPOIS Lampião batia às portas de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Fonte: Capitão Virgulino Ferreira Lampião
Autor: Nertan Macêdo

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A CIVILIZAÇÃO DO COURO E A CIVILIZAÇÃO DA SECA: DEFINIÇÕES PARA O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO SÓCIOCULTURAL DO SEMIÁRIDO NORDESTINO

Por José Romero Araújo Cardoso - Marcela Ferreira Lopes

Capistrano de Abreu, célebre historiador cearense, denominou a formação cultural sertaneja, fruto da miscigenação das raças branca, indígena e negra, como civilização do couro, 

Paulo de Brito Guerra

enquanto Paulo de Brito Guerra e Benedito Vasconcelos Mendes definiram-na em função da labuta do gênero humano que habita a hinterlândia no desafio constante à inclemência da seca.

Benedito Vasconcelos Mendes

A organização do espaço sertanejo esteve desde o início da colonização fortemente atrelado à importância auferida pela pecuária no ensejo da própria ocupação territorial das terras adustas do semiárido.

O abastecimento de carne para a zona da mata açucareira constituiu-se na razão econômica da expansão para o interior do atual território nordestino, tendo em vista a impossibilidade de criar animais de grande porte nas terras destinadas ao suporte mercantil no quinhão que coube a Portugal quando da assinatura do Tratado de Tordesilhas.

A exemplo da área açucareira que se firmou através da existência de grandes latifúndios em consonância com pequenas extensões de terra trabalhadas por homens livres e que se responsabilizaram pelo abastecimento da região com produtos alimentícios de origem agrícola, o semiárido também teve na distinção entre animais de grande porte e de pequeno porte a cristalização de status social.

Possuir gado bovino em grande número significava sinônimo de poder, enquanto dispor de rebanho caprino definia a situação de cada um na escala social. A cabra, ou vaca do pobre, era criada, como ainda é hoje no conjunto regional, pelas pessoas que detinham menos poder aquisitivo.

Descobriram que o traslado do gado vivo era extremamente inviável, pois nas longas caminhadas os animais perdiam peso e se desvalorizavam consideravelmente. Surgiram então as oficinas, as charqueadas nordestinas, responsáveis pelo fabrico da carne de sol.

O aproveitamento do couro para a confecção de apetrechos usados no cotidiano deu ênfase à definição de Capistrano de Abreu para a civilização surgida no semiárido a partir do motivo econômico que ensejou todo processo de ocupação da hinterlândia.

A vegetação extremamente espinhenta fez com que o vaqueiro nordestino se diferisse dos outros campeadores de gado espalhados Brasil a fora. O couro passou a ser utilizado na confecção de gibões, chapéus, cantis, alforjes, luvas, silhas, selas, perneiras e uma gama de outros apetrechos de trabalho, indispensáveis para que o campear do gado fosse realizado no semiárido.

Impossível adentrar a caatinga se não estivesse bem protegido das verdadeiras armadilhas representadas pelos dilacerantes espinhos das inúmeras espécies vegetais que fazem da caatinga um desafio. Quando das pegas de boi no mato, tempo de marcação das rezes, visto que não havia cerca divisando propriedades, era necessário que o vaqueiro estivesse bem protegido, caso contrário seria fatal à integridade física dos valentes campeadores de gado do semiárido.   

Era impossível que o vaqueiro sertanejo enfrentasse as duras condições apresentadas pela ecologia da caatinga se não houvesse uma adaptação ao meio. Dessa forma, o couro dos animais abatidos foram definindo a própria condução cotidiana da região.

Com o couro, os sertanejos passaram a fazer verdadeiras obras de arte, usando-o em camas, cadeiras, estofados, mesas, portas, enfim, na própria construção cultural que se efetivou enquanto produto direto da habilidade humana.

Quando das grandes seca, a exemplo da ocorrida entre os anos de 1877-1879, o couro dos móveis e das formas artesanais que passaram a ser feitas no semiárido, foi usado como meio de sobrevivência. Retiravam o couro para servir de alimento, pois, conforme Rodolfo Teóphilo, somente no Ceará cerca de trezentas mil pessoas ou morreram de fome e de sede ou emigraram para a região norte, sobretudo para os seringais do atual estado do Acre, na época pertencente à Bolívia.

As pregações do Padre Cícero Romão Batista foram importantes para que os sertanejos se convencessem que a única saída para os filhos da civilização do couro e da seca naquela época de aflição era tentar a vida fora do Nordeste semiárido. Navios lotados transportaram flagelados das secas até Óbidos, no Pará. De lá seguiram subindo o curso do Amazonas rumo ao desconhecido.

Somente quando o mercado externo deu sinais de alento econômico no que tange à utilização do couro para produzir determinados bens de consumo, foi que começou a se efetivar importante momento para o produto de origem animal que antes era utilizado apenas pelos sertanejos em suas vidas diárias.

Coronel Delmiro Gouveia

Coronel Delmiro Gouveia conseguiu amealhar fortuna exportando, não raras vezes contrabandeando, peles e couros bovinos e caprinos para importantes firmas estrangeiras, acumulando capital suficiente a ponto de estruturar a ousada experiência industrial da Fábrica Estrela na Vila da Pedra (Hoje Município de Delmiro Gouveia) em Alagoas.

A civilização da seca, por sua vez, foi determinada, principalmente, conforme seus definidores e principais estudiosos, através da implementação de estupendas obras de engenharia empírica que garantiram em certas épocas o fomento à sobrevivência do sertanejo frente à inclemência das estiagens prolongadas.

O aproveitamento de matérias-primas encontradas no bioma catingueiro só foi possível graças à invectividade sertaneja, pois certos produtos obtidos através do extrativismo realizado na região seria impossível se não tivesse havido ênfase a projetos artesanais como a prensa de cera de carnaúba, fabricada com o miolo da aroeira, árvore nativa do semiárido.

O algodão, detentor, até bem pouco tempo, de grande valor no mercado externo não teria condições de ser comercializado se não tivesse havido a implementação da bolandeira que descaroçava um dos principais motores econômicos da região até o advento da praga do bicudo.

A inteligência do homem do sertão fez surgir rústicos engenhos que transformavam o melaço da cana em rapadura, alfenins e outros produtos de larga aceitação no mercado interno. Ao contrário do litoral, cujo artesanato teve caráter contemplativo, no semiáridos foi à sobrevivência perante os desafios suscitados pela natureza extremamente hostil.

Civilização firmada na superação de obstáculos, o semiárido nordestino desenvolveu caracteres próprios que determinaram a originalidade de um povo forte que luta de forma estoica contra os ditames da natureza inclemente e a indiferença dos poderes constituídos que ainda insiste em negar direitos inalienáveis à dignidade humana.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN).

Marcela Ferreira Lopes. Geógrafa/ UFCG/CFP. Graduanda em Pedagogia/UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos com ênfase em Economia Solidária /UFCG/CCJS.

Enviado pelos autores deste.

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CONVITE - ACADEMIA CEARENSE DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES DO RIO DE JANEIRO


ACADEMIA CEARENSE DE CIÊNCIAS, LETRAS
E ARTES DO RIO DE JANEIRO

FUNDADA EM 15 DE AGOSTO DE 1985

C    O   N   V   I   T   E

A ACADEMIA CEARENSE DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES DO RIO DE JANEIRO sentir-se-á honrada com a presença de V. Sa. e digníssima família, na reunião plenária mensal, quando será proferida pelo acadêmico Genésio Nogueira a palestra “Humberto Teixeira, parceiro  de Luiz Gonzaga”, com a presença do cantor João Mossoró, ex integrante do Trio Mossoró.  Homenagem ao aniversariante do mês, Antonio Mota Carneiro. Após, será servido um coquetel.

Maria Arair Pinto Paiva                           Maria Gláudia Férrer Mamede
Presidente                                               Secretária-Geral

Local :  Auditório da FALARJ-Rua Teixeira de Freitas nº 5 – 3º andar - s/303-Rio de Janeiro.
Dia    :  06 de maio de 2015, às 16:00h.

Enviado pelo cantor João Mossoró do antigo Trio Mossoró

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O BATALHÃO PATRIÓTICO


O BATALHÃO PATRIÓTICO do doutor Floro teve sede em Campos Salles, uma cidade próxima. Sua missão, em princípio, era defensiva. Trincheiras foram cavadas pelos soldados legalista do caudilho baiano, na expectativa de um ataque da coluna Prestes.

Chegando a Campos Salles, o rábula José Ferreira, portador da carta de Floro, encontrou o irmão de Virgulino, José Ferreira, a quem fez entrega da missiva, receoso, talvez, de aventurar-se pelas brenhas do alto sertão pernambucano. João estava morando em Campos Salles. Passou, pois, a incumbência a outro portador que, sem perda de tempo, partiu em busca de Lampião. Esse portador era Francisco das Chagas, “tenente comandante da Terceira Companhia do Batalhão Patriótico”, aquele mesmo Chagas que retornou dessa tarefa ao Cariri, na frente do bando, tangido como “isca” por Virgulino.

Não se sabe, até hoje, em que ponto do sertão o “tenente” Chagas encontrou Virgulino. Tudo indica que ele rondava nas proximidades do Cariri, do lado pernambucano. Porque pouco depois do chamado do doutor Floro, às três horas da tarde do dia 3 de março, o bando irrompia em Macapá, hoje Jati, porta de estrada do sertão pernambucano para o Sul cearense. Ali se achava aquartelada uma volante da polícia do Ceará, sob o comando do tenente Veríssimo, recém-chegada de Jardim.

Lampião dormiu e permaneceu algumas horas nessa povoação. Em perfeita harmonia com o destacamento policial e o povo da terra. Comprou grande quantidade de cigarros, fósforos, perfume, bolachas e vinho na bodega de Moisés Bento, cujos estoques foram esgotados e pagos. Tomou algumas garrafas de cerveja e vinho com o tenente Veríssimo, O SARGENTO Antonio Gouveia e outros homens da volante policial, na casa de uma velha, dona Generosa. Requisitou todas as galinhas dos quintais da rua para alimento do bando. Mandou o sanfoneiro do grupo tocar a Mulher Rendeira para divertir a população. De manhã, partiu para Barbalha, entregando antes ao tenente Veríssimo um revólver “Smith and Wess”, lembrança que deixara ao capitão de polícia do Ceará, José Honorato dos Santos. Carneiro, que se achava ausente.

Na Barbalha, Virgulino conheceu, num encontro de rua, o médico Leão Sampaio, a quem fez presente de um rifle, homenagem sua ao dedicado oculista dos sertanejos. Hospedou-se no Hotel do Heliodoro, onde recebeu a visita de gente destacada da terra, entre outros do advogado Duarte Júnior e do fiscal de rendas federais José Soares Gouveia, conhecido por Tio Juca, com os quais palestrou longamente.

Duarte Júnior perguntou-lhe, nessa oportunidade, qual o cangaceiro mais valente que conhecera:

- Sinhô Pereira – respondeu Virgulino, narrando-lhe, então, o combate das Pitombeiras.

No mesmo dia, ladeado por Antonio Ferreira e Sabino Gomes, o Capitão dava entrada na rua do Juazeiro, onde permaneceu três dias, de quinta a domingo.

Ele gostava de dizer:

- Depois do meu padrinho Cícero, neste mundo, só mesmo Lampião!

Fonte: Capitão Virgulino Ferreira LAMPIÃO.
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