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terça-feira, 3 de setembro de 2019

CRIADOR DE TÁTICA


Por Pedro Melo

Lampião introduziu técnicas de luta, como o rifle peado. Essa operação consistia em amarrar um lenço ou um pedaço de correia na alavanca da arma, de forma que ficasse obstando a ponta do gatilho, exatamente no ponto em que faz desarmar a arma, assim preparado, a única demora no uso é para carregar. Só acionar a alavanca e as detonações sucediam automaticamente.

Foto: Lampião (simula) em posição de tiro. Autor: Benjamim Abraão, 1936.


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HISTÓRIAS DE COITEIRO - PARTE 2


Por Sálvio Siqueira
Vídeo do cineasta Aderbal Nogueira

MUITO SE VER, SE LER E OUVE FALAR SOBRE COITEIRO QUANDO SE PESQUISA, ESCREVE E ESTUDA SOBRE A HISTÓRIA DO FENÔMENO SOCIAL CANGAÇO.

MAS, SABEMOS REALMENTE O QUE E COMO SE PORTAVA O COITEIRO PARA COM SEU LÍDER?

NO VÍDEO ABAIXO, VEREMOS A SEGUNDA PARTE DO VÍDEO EM QUE O EX COITEIRO DE LAMPIÃO FALA SOBRE SUA COOPERAÇÃO AO LÍDER.

O PESQUISADOR Aderbal Nogueira, CONTINUA NOS RESPONDENDO COM SUAS ENTREVISTAS A REMANESCENTES DA HISTÓRIA.

A PARTE II POSTAREMOS NUM FUTURO PRÓXIMO.

"Segunda parte do vídeo onde Pedro de Tercila, ex-coiteiro, narra um fato ocorrido com ele e Lampião."

MAIS UMA PRODUÇÃO Aderbal Nogueira


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ENTERRADO SEM CABEÇA


Por Rangel Alves da Costa

No meio do mato, sempre acompanhado por um cachorro, nas entranhas da Fazenda Coruripe em Poço Redondo, sertão sergipano, apontando o local onde foi enterrado o cangaceiro Canário em 38, morto à traição pelo também cangaceiro Penedinho. Enterrado sem a cabeça, vez que a mesma fora levada como troféu macabro por Zé Rufino, terrível e temido caçador de cangaceiros. É por isso que Totonho Catingueira dizia: “Vosmicê num pisa no chão de Poço Redondo pra num pisar num rastro de cangaceiro ou de volante. Tomem num anda num lugar pra não sentir um vurto de cabra estirado. A mata aina zune. Aina hoje, eu mermo só entro no mato com medo daquelas aparição, daqueles homens de sangue nos óio e venta sortano fogo. Poço Redondo num era nem pra se chamar Poço redondo, mai Poço do Cangaço. O cangaço inté parece que foi todim aqui. Ali foi um fogo, acolá foi uma emboscada, mais adiante um acaba-mundo da gota serena. É cuma aina a sombra de Lampião tivesse aqui, tomem de Corisco, de Zé Sereno, de Corisco, de Mané Moreno e tudo mais. É cuma aina a gente ouvisse a bala zunindo e o grito de dor. Menino, foi um escorrimento de sangue de num acabar mais. Eu mermo aina sinto o cheiro suarento do cangaço e o fedor da volante. Pro todo lugar existe cangaço, e aina como se o medo deixasse o cabelo em pé. Conheci a Véia Gerusa que mermo adespois da morte de Lampião ainda continuava com saco arrumado pra correr a quarqué hora. O maluquim Oreba continua dizeno que toda noite sonha com a cangaceirama e que Lampião virou rei com coroa e tudo, e que seu reinado é pelas banda da Maranduba, debaixo de um daquele sete umbuzeiro. Sei não, viu. Sei não... Eita Poço Redondo das história cangaceira. Mai vou dizê uma coisa, sem medo de errar: se as morte do cangaço fosse todinha marcada em cruz, entonce Poço Redondo todim era um cemitero. Pro todo lugar haveria de ter uma cruz, aqui debaixo dos meus pé, ainda debaixo do seu...”.

Rangel Alves da Costa


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ORGULHO NORDESTINO

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de setembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.175

      Especialista em Geo-História, sempre fui um apaixonado pela Geografia Física: planícies, planaltos, rios, lagos, montanhas... Mas não muito chegado à Geografia Humana. Entretanto, abraçava alguns temas, como formas de energia, muitas delas ainda engatinhando pelo mundo: hidráulica, gás natural, petróleo, carvão, nuclear, biomassa, eólica, solar geotérmica, marítima e biogás. Tudo repassado para meus alunos com amor, esmero e didática, sempre recheados como exemplos. Na época, a energia mais usada no Brasil era como ainda é, a energia hidroelétrica que representa alta percentagem de consumo. Nosso objetivo não é descrever nem esmiunçar esse tema tão importante que sem ele não há desenvolvimento.
PARQUE EÓLICO. (IMAGEM: G1-GLOBO).

Mas também aquele velho Nordeste a Luiz Gonzaga, Nordeste de seca, miséria, coronéis e discriminação passou. Assim como passou as inúmeras batalhas contra os estrangeiros em que o Nordeste formou esse Brasil. Hoje o Nordeste é um país imenso onde cabem vários países da Europa e do mundo. Suas indústrias e mais e mais implantações com vários centros de desenvolvimento não param de crescer e atrair riquezas e progresso. E chamamos atenção da nova realidade energética com destaque para a energia dos ventos (eólica) e energia solar (solar). Sempre batendo recordes em energia eólica, continuamos expandindo o setor e, inclusive, exportando energia limpa para o Sudeste, quanta ironia!
O restante desse Brasil amado que nos aguarde, mais hoje, mais amanhã, a dianteira geral nos espera. As enormes pás que agitam os ventos nordestinos e as placas voltaicas que geram a energia limpa, vão atraindo novas indústrias e investimentos asiáticos, europeus e africanos. A nova feição nordestina vai se impondo, criando uma nova geografia que somente o cego não enxerga. E entre esses vários centros de desenvolvimento que surgiram e se consolidaram, vão sendo preenchidos os corredores que a ales se interligam. Podemos afirmar que essas paisagens das pás eólicas com as quais no deparamos de repente, simbolizam o Novo Nordeste de todos os negócios e um futuro chegado de respeito, desenvolvimento, bem estar e orgulho.
ORGULHO DE SER NORDESTINO, CABRA DA PESTE, SIM SENHOR.


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"ENTREVISTA COM LAMPIÃO "....JORNAL O POVO, de 4-6-1928...


Matéria original do jornal A NOITE- Recife...
Observem, o monte de "contradições" ou "despiste", do rei vesgo do cangaço...
OBS: MATÉRIA COMPLETA, na parte dos comentários.







Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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CÉLEBRES NORDESITNOS

Por Rostand Medeiros

A saga revolucionária de Cleto Campelo pelo agreste de Pernambuco 
Por Rostand Medeiros  

Antecedentes

Durante os conturbados anos 20 do século passado, ocorreram inúmeras agitações políticas que abalaram o então agrário Brasil. Entre estes movimentos, o que ficou conhecido como Tenentismo, marcou o período. Tendo se caracterizado pelas críticas destes jovens militares às instituições republicanas e às condições da sociedade brasileira da época, onde os tenentes defendiam a modernização econômica do país e combatiam a corrupção política. Com o endurecimento do governo federal em relação ao tenentismo, remanescentes da malfadada Revolução de 1924 e dissidentes do Rio Grande do Sul, uniram-se e seguiram em uma coluna de combatentes para o interior do país, defendendo reformas políticas e sociais e lutando para depor o governo do presidente Artur Bernardes (1922-1926). 



Foto da oficialidade do 21º Batalhão de Caçadores, onde o tenente Cleto Campelo é o segundo oficial, em pé, posicionado da direita para a esquerda. Repare a sua face tranquila, confiante e como se coloca encarando a objetiva. Outro detalhe que chama a atenção, não sei se proposital, é como os outros oficiais se encontram afastados deste militar, posicionando-se a certa distância, como evitando uma possível ideia de associação por parte de algum observador – Fonte – Fotografia da “Revista de Pernambuco”, de 1924, coleção do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte 

Sempre conseguindo vitórias, a Coluna combateu forças regulares e milícias privadas de fazendeiros. A Coluna, que poucas vezes enfrentou grande efetivo do governo, empregava táticas de guerrilha, possuía um número de combatentes que chegava em média a 1.200 homens, sendo chefiados por Juarez Távora, Miguel Costa e Luís Carlos Prestes. Conforme a Coluna avançava, muitos eram os insatisfeitos militares de baixa patente, que conspiravam pelo Brasil afora para se unir a Coluna, esperando levantar as populações rurais injustiçadas, se possível levando combatentes, armas e provisões para o grupo revoltoso. Um destes idealistas foi o recifense Cleto Campelo e esta é a sua esquecida saga. 

O revolucionário 
Cleto em reprodução de Ednaldo Lourenço  - in Blog do Fernando Machado


Cleto da Costa Campelo Filho nasceu em 29 de dezembro de 1898, era filho de um contador e uma dona de casa, onde desde cedo demonstrou vocação pela carreira militar. Em 1913 ingressou no 4º batalhão de Infantaria, no Recife, de onde partiu para cursar a Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, concluindo o curso em 1916. Ao sair da Academia veio servir como aspirante no 21º Batalhão de Caçadores, no Recife. Vale ressaltar que este batalhão seria anos depois transferido para Natal, onde dentro desta unidade militar, iria eclodir a Intentona Comunista de 1935 na nossa cidade. 

Pernambuco, Recife particularmente, era um fervente caldeirão de exaltações partidárias. O então comando do exército brasileiro na região, a 6ª Região Militar também não ficava alheia às lutas das facções. Cleto Campelo, então 2º tenente, sempre se interessou pelas disputas políticas de seu tempo, onde acabou entrando em choque contra pessoas ligadas ao grupo dominante dos Pessoa de Queiroz. Fora então transferido, em maio de 1922, para o 6º Batalhão de Caçadores, sediado em Goiás. Inconformado, na passagem pelo Rio, concede uma entrevista ao jornal “Correio da Manhã” e ficou preso por 30 dias na Fortaleza de Santa Cruz. 

Dois anos mais tarde, já promovido a 1º tenente, Cleto Campelo retornou a Recife e ao 21º batalhão de Caçadores, mas estava marcado como revolucionário. É deste período à foto que ilustra este trabalho. Nela vemos a oficialidade do 21º Batalhão de Caçadores, onde o tenente Cleto Campelo é o segundo oficial, em pé, posicionado da direita para a esquerda. Repare a sua face tranquila, confiante e como se coloca encarando a objetiva. Outro detalhe que chama a atenção, não sei se proposital, é como os outros oficiais se encontram afastados deste militar, posicionando-se a certa distância, como evitando uma possível idéia de associação por parte de algum observador. 

Sempre solidário aos que lutavam contra o governo, ele acompanhava os avanços da Coluna e procurou aliciar alguns camaradas nos quartéis da capital para se unir aos revoltosos. Nada conseguiu e desertou. Preferiu destruir a carreira a sacrificar as aspirações. Partiu para a Argentina para se unir a militares brasileiros no exílio, receber ordens, montar planos, conseguir apoio e conspirar novamente em Pernambuco. Voltou clandestinamente no início de 1926, em aventurosa viagem, onde até foguista se tornou em navio costeiro. Tinha ordens de preparar o levante que apoiasse e servisse de suporte à Coluna rebelada, quando esta cruzasse o sertão pernambucano. 

A descoberta do plano e o início da revolta 

Após ter atravessado o Rio Grande do Norte, invadindo as cidades de São Miguel e Luis Gomes e perpetrar um verdadeiro massacre na cidade de Piancó, na Paraíba, a Coluna chegava a Pernambuco, em 02 de fevereiro de 1926, entrando pelo Vale do Pajeú. 

No Recife, entre os mais destacados participantes da rebelião de Cleto Campelo estava Anfilóquio Cavalcante. Este mantinha um arsenal na Rua Alecrim, nº 105, o que levou pânico a sua família, tendo o seu cunhado, o alfaiate José Pedro da Silva denunciado as autoridades à existência do armamento. Alguns conspiradores foram presos e o levante no Recife fracassou. 

Avisado do fato, Cleto Campelo não desistiu do plano, conseguiu fugir para Jaboatão, onde às 4 da manhã do dia 17 de fevereiro, em pleno Carnaval, junto com 25 companheiros, deu início ao seu plano. O grupo tomou de assalto a cadeia pública, libertou os prisioneiros, prendeu os policiais, cortaram as linhas telefônicas para o Recife, requisitaram o dinheiro das coletorias de rendas e dos correios, saquearam algumas casas comerciais e tomaram as oficinas da empresa ferroviária Great-Western. Nesta empresa apossaram-se da munição que existia na estação ferroviária, tomaram o trem de passageiros e descarrilaram os vagões que não precisavam utilizar. Alguns operários da Great-Western decidiram integrar o movimento. 

O caminho para o Agreste 

Seguiram viagem pela então Ferrovia Central, onde iniciaram a tentativa de alcançar o Rio São Francisco, na região da cidade de Floresta, ainda em Pernambuco, onde se encontrava uma parte da Coluna comandada pelo tenente João Alberto Lins de Barros. 

Durante o trajeto, os revoltosos realizaram paradas sucessivas em Moreno, Tapera, Vitória de Santo Antão e São José dos Pombos. 

Em Vitória de Santo Antão, o grupo parou a composição na estação da fazenda Mufumbo, próximo à área urbana, para onde seguiram a pé. Nesta cidade tornaram a destruir o telégrafo, a soltarem os presos, a prenderem os policiais e tomar suas armas. Almoçaram no Hotel Fortunato e seguiram em frente, procurando antes destruir a linha férrea na ponte sobre o Rio Tapacurá. O grupo então já passava de 80 homens, todos com lenços vermelhos ao pescoço. 

Muito chamou a atenção das testemunhas o trato cordial do comandante com a atônita população, sempre passando “recibos revolucionários” de tudo que requisitava que não fosse do governo e a sua liderança junto aos seus homens. Ao chegarem próximos ao 1º túnel da encosta da Serra da Borborema, os revoltosos dinamitaram um pontilhão em uma curva e danificaram o túnel nº 7, cortando a linha férrea. 

A luta em Gravatá e a morte de Cleto Campelo 

Por volta das 16 horas se aproximaram de Gravatá, onde o comandante sabia que haveria resistência. Depois de 14 horas e meia do ataque a Jaboatão, o governo já tivera tempo de organizar uma tropa entrincheirada na estação ferroviária. Cleto Campelo ordenou ao maquinista Saturnino que diminuísse a marcha da máquina e entraram lentamente na cidade, que aparentava estar desabitada. A composição seguia lenta entre as ruas e praças da cidade, parou a trezentos metros da estação, próximo a cadeia pública e o tiroteio começou. 

Segundo historiadores pernambucanos, Cleto Campelo arremeteu a frente do grupo contra o edifício da cadeia, cabeça erguida, de revólver na mão, acompanhado de perto do engraxate Ezequiel, neste local jogou uma dinamite, que produziu aterradora explosão. Ao sair do prédio, segundo alguns, inadvertidamente, o foguista da composição, Artur Cipriano, abriu fogo contra Cleto Campelo e Ezequiel e ambos foram mortos. Segundo outros, tiros da trincheira legalista mataram os dois revoltosos. O certo é que esta derrota trouxe grande desgosto para os revoltosos, o pânico tomou conta da tropa, e começou a desistência de vários componentes. O agora comandante, tenente Valdemar Paula de Lima, dominou a situação e convenceu parte do grupo a voltar ao trem e seguir em frente. Valdemar Lima era pernambucano de Recife, fora sargento da marinha e era conhecido como "Tenente Limão". 

Três quilômetros depois de Gravatá, no quilometro 91, no lugar conhecido como “curva da caatinga vermelha”, as margens do rio Ipojuca, o militar revolucionário ordenou ao maquinista desligar a locomotiva da composição e deixasse a máquina seguir sozinha em direção a cidade de Bezerros. No povoado denominado Gonçalves Ferreira, as tropas do 20º Batalhão de Caçadores assistiram o descarrilamento desta maquina solitária. 

Valdemar Lima comandante 

Após deixar o trem, aproveitando a noite que surgia, outros rebeldes fugiram, ficando Valdemar com apenas 30 companheiros. Sem condições de seguir adiante, o grupo desistiu da intenção de chegar ao Rio São Francisco, eles se apossam de cavalos e fogem rumo norte, mata adentro, para o município de Vertentes, de onde pretendiam fugir para o vizinho Estado da Paraíba. Valdemar sabia das dificuldades que enfrentava para sobreviver, pois estava cercado pela polícia com ordens para matar e na Paraíba pretendia dispensar a tropa. 

Segundo alguns historiadores, Valdemar tinha um contato junto ao fazendeiro Pessoa Monteiro, para onde seguiu em direção a fazenda deste. Lá chegando, ao amanhecer do dia 19 de fevereiro,o grupo teve abrigo e comida. Pessoa Monteiro ofereceu os serviços do seu morador, Manuel Botelho, para servir de guia até a Paraíba. Mais tranqüilo Valdemar relaxou na segurança e colocou o grupo para descansar. Só seguiriam viagem na manhã do dia 22. 

O combate final 

O fim definitivo do grupo revoltoso de Cleto Campelo, segundo uma teoria existente, teria ocorrido porque o morador Manoel Botelho teria informado ao coronel Francisco Heráclio do Rego, chefe político da cidade pernambucana de Limoeiro, da presença dos revoltosos. Para não seguir com o grupo, Botelho teria alegado um problema de saúde e colocando outro morador, o senhor Amaro Jerônimo, como guia. 

O chefe político avisa o sargento legalista José Joaquim, que acompanhado de um grupo de soldados, seguiu margeando o Rio Capibaribe, até o ponto de travessia da fazenda Pitombeira, bem perto do povoado de Topada, pertencente na época ao município de Vertentes e atualmente ao município de Frei Miguelinho. O sargento José Joaquim e seus comandados, estrategicamente montaram uma emboscada por trás de algumas pedras graníticas, ficando muito bem protegidos, com as armas à espera da tropa revoltosa. 

Os revoltosos, durante o trajeto para a Paraíba, estavam tranqüilos e aparentemente não tomaram as precauções devidas. Na hora em que iam atravessando o rio Capibaribe, receberam muitos tiros vindos dos esconderijos dos policiais. O tenente Valdemar Lima, sem ver seus inimigos, foi o primeiro que caiu do cavalo, morrendo imediatamente. Dois soldados também caíram sem vida, um outro soldado recebeu ferimentos leves e o senhor Amaro Jerônimo foi atingido, ficando esses dois últimos sem condições de correr. O resto da tropa, sem comando, desertou, fugindo pelo mato adentro. 

O soldado ferido foi fuzilado, já o senhor Amaro Jerônimo, depois de provada a sua inocência, foi levado para Vertentes e se recuperou. Os quatro cadáveres foram expostos como troféus na calçada da capela de Topada e em seguida levados com desprezo para serem sepultados no cemitério de Vertentes, sendo os três soldados numa cova só e o tenente em outro lugar, junto a parede do cemitério. 

Problemas entre os legalistas 

Após algumas horas da triste ocorrência, chegou a Topada o tenente da polícia pernambucana de nome Zumba, tendo sob seu comando quase 40 soldados e foram ao encontro do sargento José Joaquim e seus quase 20 subalternos. O tenente Zumba foi chegando e se arvorando de herói e o sargento José Joaquim não gostou. A discussão aumentou ainda mais quando o tenente Zumba exigiu do subordinado uma bolsa que continha o dinheiro das coletorias e dos correios. Homem valente e obediente, o sargento José Joaquim entregou a referida bolsa com um montante avaliado em 32 contos de réis, uma fortuna para época. O tenente Zumba duvidou que o valor total estava no bisaco e por muito pouco o tempo não fechou entre os policiais. Para maior irritação do sargento José Joaquim, o tenente tomou o revólver de Valdemar Lima que o sargento desejava guardar como troféu. Na troca de ofensas o sargento acusou o tenente de covarde, comentando que o mesmo, comandando quase 40 soldados acampados em Vertentes e tendo conhecimento da aproximação dos revoltosos, permitiu que o sargento chegasse primeiro para evitar o confronto com os revolucionários. Com o fim da altercação, os militares foram embora e seriam recebidos como heróis em Recife e os mortos foram considerados traidores. 

Consequências 

Os companheiros sobreviventes do grupo de Valdemar, ajudados por fazendeiros amigos de Pessoa Monteiro, foram ajudados ou obrigaram moradores da região a lhe socorrerem às escondidas. Muitos trocaram as fardas, coturnos, armas e munição do exército por roupas de camponeses, alpercatas e caíram “no oco do mundo”. 

Quanto ao pessoal da Coluna revoltosa, que entraria para a história como a ”Coluna Prestes”, ao receberem a notícia do fracasso dos companheiros do Recife, atravessaram o Rio São Francisco com destino ao Sul. 

Quatro anos depois, vitoriosa a revolução de 1930, o exército veio buscar os restos mortais de Valdemar Lima e dos três soldados no cemitério de Vertentes. Foram prestadas honras militares e foi mudando o nome do povoado de Topada para "Capitão Valdemar Lima". Cleto Campelo e Valdemar Lima ainda seriam homenageados com seus nomes estampados em ruas e praças em Recife e outras cidades. Contudo, sua saga de idealismo e bravura, seria quase totalmente esquecida. 

Este não foi o único combate histórico a ocorrer nas proximidades do antigo povoado de Topada. Ainda em 1914, na fazenda da Laje, próxima a povoação de Olho D’água da Onça, ocorreu o tiroteio entre a volante do então tenente Teófanes Ferraz e o bando de Antonio Silvino, em 27 de novembro de 1914, onde morreria neste combate o cangaceiro Joaquim Moura, conhecido como “Serra Branca” e o famoso chefe cangaceiro seria ferido e capturado, sendo libertado apenas em fevereiro de 1937. 

Rostand Medeiros – rostandmedeiros@gmail.com 

Fontes bibliográfica e visual;

- Aragão, José, in “História de Vitória de Santo Antão”, 2º Volume (1843 – 1982). Biblioteca Pernambucana de História Municipal – CEHM/FIDEM, Recife, 1982. 
- Dantas, Sérgio Augusto de Souza, in “Antônio Silvino: o cangaceiro, o homem, o mito”. CARTGRAF. Natal, 2006. 
- Ferraz Filho, Geraldo de Sá Torres, in “Pernambuco no tempo do cangaço (Antônio Silvino – Sinhô Pereira – Virgulino Ferreira ”Lampião”) Theophones Ferraz de Barros, um bravo militar, 1926 – 1933”. 2º Volume , Coleção Tempo Municipal, número 22, Centro de Estudos de História Municipal – CEHM/FIDEM, Recife, 2003.
- Joffily, José, in “Revolta e Revolução – Cinqüenta anos depois”. Editora Paz e terra, Rio de Janeiro, 1979.
- Lins, Alberto Frederico, in “História de Gravatá”. INOJOSA. Recife, 1993.
- Jornal “Vida Rural”, novembro de 2000, autor Severino de Moura.
- Jornal “A Republica”, várias edições de fevereiro e março de 1926. Coleção do APE-RN / Arquivo Público do Rio Grande do Norte.
- Fotografia da “Revista de Pernambuco”, de 1924, coleção do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.


Açude: UNIBLOG - SEPARN


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PRELIMINARES DE MOSSORÓ

Por Rostand Medeiros, Pesquisador

O Ouro dos Cangaceiros para Yolanda

Recentemente estava realizando um trabalho de pesquisa histórica para o SEBRAE-RN, que consistia em buscar informações sobre uma determinada cidade do interior do Rio Grande do Norte. Utilizava como uma das fontes de pesquisa uma série de fotografias que tirei das páginas já amareladas e frágeis, de velhos jornais potiguares arquivados na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. 

Coronel Antônio Gurgel filho e esposa que foi prisioneiro de Lampião

Buscava informações relativas ao crescimento demográfico, questões políticas, fatos relativos à história desta urbe e outros fatos. Observava as fotos atentamente, quando uma manchete me chamou a atenção. Impresso no extinto jornal “A Republica”, na edição de 8 de outubro de 1933, um domingo, temos uma matéria de página inteira, com o destacado título “A História de um Cangaceiro”. Evidentemente que parei e comecei a ler este material atentamente. 

O artigo é assinado pelo respeitado advogado Otto de Brito Guerra. Este era sobrinho do coronel Antônio Gurgel do Amaral, (foto em família) o mesmo que foi capturado por membros do bando de Lampião quando este seguia comandando, em julho de 1927, um grupo de cangaceiros para o famoso ataque a Mossoró.

Diante desta privilegiada aproximação através do parentesco, o autor relata em seu artigo as diversas agruras que seu tio passou. É descrito como o parente foi capturado, do valor exigido pela sua libertação, do ataque fracassado do bando a Mossoró, do carteado que utilizava munição de fuzil como fichas e outros pontos. Muito do que Otto Guerra comenta neste artigo, foi fartamente pesquisado e divulgado ao longo dos anos, por diversos pesquisadores que se debruçaram na tentativa de conhecer mais em relação ao famoso combate na terra de Santa Luzia e a controversa figura de Virgulino Ferreira da Silva. 

Conforme seguia lendo, não encontrava nenhuma informação nova sobre a permanência do coronel Gurgel em meio aos cangaceiros. Mas aí o autor comenta sobre a figura do “cabra” chamado Luís. Este jovem cangaceiro paraibano, um tipo alto, magro e moreno, era afilhado do famoso e famigerado Sabino, o violento braço direito de Lampião e por esta razão era conhecido como “Luiz Sabino”. Dizia que havia entrado no cangaço no dia que seu padrinho realizou um “trabalho” para um potentado do sertão da Paraíba e daí não parou mais.

Em um dia quente, ainda prisioneiro no Ceará, em meio às muitas cogitações sobre o seu destino, o coronel Gurgel percebeu o jovem Luís Sabino andando um pouco mais afastado do resto dos companheiros, de cabeça baixa e pensativo. Entretanto, ao procurar dialogar sobre o seu passado, o coronel Gurgel percebeu que não parecia haver uma boa receptividade por parte do jovem cangaceiro e logo ele buscou desviar o assunto. Em meio a conversa, Luís perguntou.


- O coronel tem família?
- Tenho sim, pai, mãe, filhos... E até uma netinha...
- Já têm netos?
- Tenho.

Otto Guerra escreve que Luís Sabino fitou o prisioneiro uns instantes, daí abriu uma bolsa, “dessas arredondadas, cheias de compartimentos, o couro artisticamente bordado, que o sertanejo nordestino conduz a tiracolo”. Dela tirou um papel amarelado e entregou ao espantado coronel, uma reluzente moeda de ouro, da época do império brasileiro.

- Tome coronel, quando se livrar daqui dê a sua netinha.
- Ora Luís, isso vale muito. Guarde.
- É... Já me falaram em sessenta mil réis. Porém eu sei que coisa de bandido não vale nada não... Tome.
Daí o jovem cangaceiro saiu cabisbaixo.

O coronel Gurgel relatou ao autor do artigo que o jovem cangaceiro, apesar de viver entre homens que tinham como característica comum à violência, a brutalidade e, além de tudo, ser afilhado logo de Sabino, era um membro do bando que estava sempre próximo aos prisioneiros levados, era extremamente atencioso e muitas vezes buscou de alguma forma amenizar as agruras dos cativos. Na famosa foto que registra o bando de cangaceiros de Lampião e os prisioneiros em Limoeiro do Norte, Ceará, obtida no dia 16 de junho, entre os membros listados pelo famigerado Jararaca, o cangaceiro que aparece com o número “31” grifado acima do chapéu de aba quebrada, foi apontado como sendo “L. Sabino”. Na época que listou os companheiros na famosa foto, Jararaca era então prisioneiro na cadeia de Mossoró e pouco tempo depois foi morto de maneira cruel e covarde pela polícia local.

Esta pequena história, simples, sem sangue nem disparos de fuzis, mostra um outro lado de um bandoleiro que vagava pelos sertões, em meio a um grupo que vivia do saque e do roubo. Mas que em um certo momento, teve o total desprendimento pelo vil metal e mostrou um aspecto diferente do que normalmente é apresentado em relação e estes homens, que Frederico Pernambucano de Mello chamou de “Guerreiros do Sol”. E todo este fato contado através de uma reportagem escrita a setenta e seis anos atrás, por um dos mais respeitados juristas potiguares.

Entretanto.....


Sabemos pela descrição feita pelo próprio Antônio Gurgel do Amaral, em seu famoso diário, onde ele narra os vários dias de sofrimento junto a Lampião e seus homens, que o mesmo criou certos laços de amizade com o cangaceiro conhecido como “Pinga Fogo”. Gurgel descreve-o como um “rapaz de 24 anos, alvo, muito simpático, maneiroso”. Terminantemente não se encontra nenhuma linha sobre Luís Sabino.

Sabemos igualmente que no livro do conceituado médico Raul Fernandes, “A marcha de Lampião – Assalto a Mossoró”, na página 264, da 3ª edição, através de um relato da senhora Yolanda Guedes, (a criança na foto acima) dita neta do coronel Gurgel, que informou ter o seu avô recebido do próprio Lampião não uma, mas duas moedas de ouro de libra esterlina e lhes deu as moedas de presente. Foi uma suprema deferência, feita não por um cangaceiro qualquer, mas pelo próprio chefe caolho, que gentilmente regalou a netinha do seu sofrido sequestrado com estas duas reluzentes lembranças. Ademais as duas brilhantes peças metálicas nem eram da extinta realeza tupiniquim, mas da suntuosa casa real Britânica.

Raul Fernandes afirma que Yolanda Guedes lhe concedeu estas informações em uma entrevista ocorrida no Rio de Janeiro, em 1971. Mas daí vem outra questão...

E agora, em quem acreditar?

Raul Fernandes e Otto de Brito Guerra, já falecidos, eram naturais de Mossoró, oriundos de famílias tradicionais, foram consagrados professores nas suas respectivas áreas na UFRN, pesquisadores, escritores e durante suas vidas desenvolveram muitas outras atividades interessantes. Se para estes dois iluminares das letras potiguares, homens consagrados no meio intelectual da terra de Felipe Camarão, contemporâneos ao ataque de Lampião a Mossoró, existe uma pequena divergência ao contarem sobre a história da “visita” do “Rei do Cangaço” ao nosso estado, imaginemos então os que buscam conhecer mais deste assunto oitenta e dois anos depois dos fatos.
Otto de Brito Guerra - In Memorial do Ministério Público do RN


Na verdade, tudo que envolve este tema, tão calcado em referências orais, onde em determinados momentos, vítimas e perseguidores, apaixonadamente se engalfinharam para fazer prevalecer suas versões dos acontecimentos, escrever sobre o cangaço é sempre um terreno escorregadio e perigoso para quem o adentra.

E ainda temos a figura dos ditos “intelectuais” tão desejosos dos holofotes, das adulações baratas, das bajulações desmedidas, que escrevem livros que foram produzidos praticamente sem nenhuma pesquisa de campo. Ou ainda dos autores que se digladiam em querelas bobas e estéreis, sobre temas tão pequenos e inúteis, como o que acabei de aqui relatar, em um afã de superioridade desnecessária.

Eu tenho a minha hipótese para o caso das moedas; o coronel Gurgel era uma pessoa tão especial, tão interessante, que não recebeu nem uma e nem duas moedas de ouro dos cangaceiros, mas três. Uma de Luís Sabino e duas de Lampião, uma brasileira e duas inglesas. Daí, se esta hipótese for correta, talvez o coronel Gurgel seja o primeiro caso de um sequestrado que, ao invés de pagar o resgate pela sua liberdade, voltou para casa ganhando presentes na forma de moedas de ouro dos seus algozes.

De repente, cada um pode criar a sua versão.....

Um abraço a todos,
Rostand Medeiros


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JORNAL NOTÍCIA INDUTOR DADO POR GETÚLIO VARGAS A ANTÔNIO SILVINO.

Por Moustafá Veras


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SEMINÁRIO DAS ACADEMIAS LITERÁRIAS DE SERGIPE 2019 DISCUTE CANGAÇO !

Por Manoel Severo
Aconteceu na manha do ultimo sábado, 31 de agosto de 2019, tendo como anfitriã a Academia Gloriense de Letras e na Câmara de Vereadores de Nossa Senhora da Glória, a V edição do Seminário das Academias Literárias de Sergipe - V SALS, evento que reuniu representantes de várias academias sergipanas.

 José Bezerra Lima Irmão, Tancredo Wanderley e Rangel Alves da Costa
 José Bezerra Lima Irmão

O principal tema do encontro foi o Cangaço, tendo três mesas compostas por grandes pesquisadores reconhecidos nacionalmente sobre a temática. A primeira mesa, teve como protagonistas os pesquisadores e escritores, José Bezerra Lima Irmão e o Conselheiro Cariri Cangaço, Rangel Alves da Costa com Tancredo Wanderley, mediador. A segunda, trouxe a expressão do Cangaço na literatura de cordel, tendo como palestrantes o Conselheiro Cariri Cangaço, Manoel Belarmino, além de Gilmar Ferreira, Salete e Jorge Henrique.A terceira mesa trouxe o tema "Cangaço Amanhã" com a participação de pesquisador e escritor Robério Santos e contou com mediação de Solange da Gama.
Manoel Belarmino
Archimedes e Elane Marques, Rossi Magne e José Bezerra 
Conselheiros Archimedes e Elane Marques, representando o Cariri Cangaço
 Robério Santos e Rossi Magne
Além das mesas de debates houve também a apresentação da Bienal do Livro de Itabaiana pelos pesquisadores e escritores Domingos Pascoal e Antonio Saracura. Tendo também o poeta Santo Souza sendo homenageado pela professora Anabi e por Gilmar Ferreira.
Dentre as instituições presentes estavam: Academia Sergipana de Letras, Academia Gloriense de Letras, Academia Aquidabãense de Letras, Cultura e Artes, Academia Tobiense de Letras, Academia Japaratubense de Letras, Cultura e Artes, Academia Cristinapolitana de Letras e Humanidades, Academia de Letras Brasil/Suíça Núcleo Internacional Sergipe, Academia Sergipana de Cordel, Academia Brasileira de Cordel, Academia de Letras de Aracaju, Academia Literária do Amplo Sertão Sergipano, Academia Estanciana de Letras, Academia Dorense de Letras, Academia Barracoqueirense de Letras e Artes, Academia Groairense de Letras, Academia Canideense de Letras e Artes, Academia Maruinense de Letras, Academia Riachuelense de Letras, Academia Estudantil de Sergipe, Academia Literária de Vida, Movimento Via Láctea, além do Conselho Consultivo do Cariri Cangaço, representado pelos Conselheiros, Elane e Arquimedes Marques, além dos conferencistas, Rangel Alves da Costa e Manoel Belarmino.
Seminário das Academias Literárias de Sergipe - V SALS
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BIOGRAFIA DOS CABRAS

Do acervo do Kiko Monteiro

 

Camilo informou, dentre várias outras curiosidades, que passou três anos, dez meses e quatro dias sob as ordens de Lampião e que quando esteve com o Pe. Cícero, recebeu daquele, além de conselhos, algumas lembranças que guardava consigo ainda naquela época, como um rosário do qual rezava sempre e não se separava nunca, o que foi mostrado á redação do jornal.

Em reportagem feita por Osvaldo Nallim Duarte com fotos de José Eugênio, Camilo detalhou sua vida, apontando episódios dos quais participou com riqueza de detalhes. Sem constrangimento, diz que seu primeiro crime ocorreu num sábado em 1919, na Sussuarana (lugarejo próximo a Iguatu, Ceará) quando atirou num homem "porque ele estava maltratando uma mulher".

Para fugir deste crime, Camilo afirma ter roubado um cavalo nas proximidades e foi parar em Senador Pompeu. onde largou o animal e conseguiu lugar num caminhão "pau de arara" que lhe deixou em Canindé. Foi preso quando se encontrava num bar, bebendo, pelo capitão José Santos Carneiro, da delegacia local, na tarde de domingo. Diz que mesmo jovem, já era conhecido e foi "dedado" por um habitante de Canindé.

A polícia transportou-o, posteriormente, de volta a Iguatu, onde, em certa ocasião, travou o primeiro contato efetivo com um coronel poderoso, José Mendonça, que lhe visitou na prisão e lhe prometeu "fazer o possível" para tirá-lo de lá.

Uma promessa mais concreta, no entanto, foi-lhe feita pelo coronel Otaviano Benevides (inimigo de Mendonça), que jurou soltá-lo sob uma condição: em liberdade, teria que matar Paulo Brasil, outra pessoa de influência no interior cearense. Naquele momento, Camilo afirmou que iria pensar.

Esse assédio dos coronéis não o livrou da cadeia. Mais ou menos cinco meses depois de cometer o crime, Camilo foi julgado perante enorme multidão que se aglomerava no tribunal e foi condenado a dois anos e nove meses de cadeia.

Depois de preso, cumprindo a pena, passou a trabalhar como guarda noturno, sob liberdade condicional, onde nove meses depois conheceu Maria Cecília Barros, por quem se apaixonou.

O namoro que se iniciou, precipitou os acontecimentos que culminaram com um segundo crime, mesmo antes de ter completado a pena: o amor entre ambos sofria forte oposição de Antônio de Barros, pai da moça.

Poucos dias depois de iniciado o namoro, chegou a Iguatu um rapaz procedente do Amazonas, rico, que após poucos dias depois de chegar pediu a mão de Cecília a seu pai, obtendo imediato consentimento.

Diante disso, a população do lugar, que por costume tinha conhecimento de tudo quanto se passava na cidade, fez fervilhar os comentários: um encontro entre Camilo e o novo pretendente não iria demorar.

No dia 26 de julho de 1921, véspera de uma festa típica - a de "Nossa Senhora de Santana" - Camilo estava costumeiramente bebendo num bar quando recebeu a visita do seu irmão Militão, que lhe disse: -- Camilo, pelo amor de Deus, pare com essas besteiras que mamãe ainda vai morrer de desgosto. Amanhã eles vão se casar.

Nessa tarde, quando retornava para sua casa, Camilo fora avisado que o sargento Antônio Emílio, da polícia local, estava promovendo um forró para atraí-lo e matá-lo.
- Se eu não casar com Maria, ninguém casa, respondeu.
Um preto, Júlio Mundino, foi procurá-lo ainda nesse dia e lhe sugeriu que fosse à dona Matilde, porque "ela acabava com todo casamento que o cliente quisesse". As 18:30 mais ou menos, ele estava na casa da vidente, que colocando a mão na sua cabeça, afirmou, depois de ter acendido duas velas e colocado um copo d'água numa mesa:
- Meu filho, ela não vai casar nem com você, nem com ele, vai casar com um terceiro e seu primeiro filho vai ser paralítico. O marido dela vai fugir com uma moça e ela vai morrer na miséria.

No dia seguinte, Camilo sabendo que Maria teria que passar na frente da sua casa para ir à Igreja, casar, ficou aguardando. Mas quando ela passou, estava acompanhada pelo pai e mais quatro "cabras". Assustado, não fez nada.

Minutos depois, a igreja ficou tumultuada. A moça recusou-se a dizer "sim". Camilo já estava inteirado da situação quando encontrou-se com um mecânico seu amigo, que lhe entregou um revólver e uma caixa de balas, recomendando-lhe cuidado, porque a coisa estava "preta" para o seu lado.

Aproximadamente às 16:30h, Camilo passou pela praça, indo em direção à sua casa, acompanhado pelo irmão mais novo, Militão. na frente da igreja estava um "povo medonho". Entretanto, antes de chegar em casa, avistou Maria Cecília, o noivo e o sargento Antônio Emílio juntos, vindo em sua direção. No momento, preparou-se para o pior. Maria Cecília foi a primeira a falar quando eles se encontraram:
- Camilo, não fujo como você porque sei que meu pai vai atrás de nós e me toma de novo.
Em seguida, os dois rivais passaram a discutir em altos brados, sob a presença ameaçadora do sargento. Militão, de nove anos, também ficou por perto.

Segundo Camilo, o noivo lhe bateu com um guarda-chuvas, o que lhe fez disparar duas vezes contra ele. Com isto, o sargento lhe agrediu por trás, mas o irmão lhe ajudou e ele pôde atirar também nele.

Depois que se embrenhou pelo mato, fugindo, Camilo ainda encontrou-se, algumas horas mais tarde, com Zé Quindim, que lhe informou o resultado da briga: o noivo tinha morrido e o sargento estava no hospital entre a vida e a morte.

Após esses dois acontecimentos, começou a seguir um caminho que o conduziria ao cangaço.

Continua... 

*Transcrição do pesquisador e escritor João Tavares Calixto Júnior


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