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quarta-feira, 19 de junho de 2019

FREDERICO PERNAMBUCANO DE MELO - LAMPIÃO: SUA GRANDEZA, A LEI E A HISTÓRIA

Por Aderbal Nogueira

Independente de pontos de vista diferentes Frederico Pernambucano de Melo é um grande mestre. Muito do que temos hoje sobre a história do cangaço devemos a Frederico Pernambucano e Antônio Amaury. Só tenho a agradecer a eles por tanto conhecimento repassado a todos nós que nos debruçamos a esse tema tão fascinante. Temos aqui em poucos minutos uma grande aula.


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EVENTO CARIRI CANGAÇO



Será no final de julho, em Juazeiro -CE.
Arrume sua mala, prepare o seu matulão, que os 10 anos do Cariri, vai ser de arrebentar a boca do balão..!


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PÓS ANGICO.

Alguns dos soldados que participaram do ataque ao coito de Angico, onde Lampião, Maria Bonita, onze cangaceiros e um soldado se depararam com a morte na manhã do dia 28 de julho de 1938.

A começar da esquerda vemos o soldado Antônio Honorato da Silva "Honoratinho ou Noratinho", apontado como o autor do primeiro tiro a acertar Lampião, Cabo Juvêncio, Sebastião Vieira Sandes o "Santo", soldado Antônio Bertoldo da Silva e o Jornalista Melchíades da Rocha enviado especial do Jornal Carioca "A Noite".

Geraldo Antônio De Souza Júnior



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AINDA QUE ATRASADO...

... quero me despedir de você caro amigo Márcio Michel e agradecê-lo novamente por ter nos recebido tão bem durante nossa nossa estadia na cidade de Belo Horizonte/MG, na casa da minha amiga Neli Maria da Conceição "Lili Neli", filha do casal cangaceiro Moreno e Durvinha no dia 21 de junho de 2015 e por ter me concedido uma entrevista fantástica onde você conta um pouco sobre a vida do casal Moreno e Durvinha, sobre aquilo que você presenciou durante o tempo em que esteve presente no convívio familiar.

Apesar de ter convivido com você um único dia a impressão que conseguiu me passar foi a de um sujeito simples, humilde e de bom caráter. De fala mansa, cautelosa e compassada bem ao estilo mineiro. Um bom homem.

Fiquei sabendo de sua partida recentemente através da amiga Neli Maria da Conceição e fiquei chocado com a triste notícia e ao mesmo tempo convicto de que você se encontra nesse momento em um bom lugar, longe dos problemas e mazelas desse mundo.

Até um dia. Descanse em paz.

Na fotografia acoplada a essa matéria vemos o amigo Márcio Michel ao lado de Neli Maria da Conceição, filha de Moreno e Durvinha.

Obs: Vou deixar o link do vídeo logo abaixo, caso alguém queira assistir a entrevista na íntegra.

https://www.youtube.com/watch?v=i6YONU87Poc&t=42s

Geraldo Antônio De Souza Júnior



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UMA PRECIOSIDADE FOTOGRÁFICA DA ALÇADA DO INTRÉPIDO BENJAMIN ABRAHÃO CALIL BOTTO.

Benjamin Abrahão Calil Botto. Antigo “Ajudante de Ordens” do Padre Cícero do Juazeiro, responsável pelos mais fantásticos registros fotográficos e da única filmagem de Lampião e parte de seu bando. Após a morte do Padre Cícero, ocorrida no dia 20 de julho de 1934, Benjamin Abrahão resolveu se aventurar nas caatingas do sertão nordestino na tentativa de localizar Lampião e seu bando com o objetivo de fotografar e filmar o cotidiano do bando cangaceiro.

Após muita insistência e perseverança, Benjamin Abrahão consegue finalmente o tão sonhado encontro com Lampião e após convencê-lo realiza a mais completa e importante sessão de fotografias e filmagem do rei do cangaço e sua gente. Infelizmente todo o material produzido por Abrahão foi apreendido pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda órgão criado no Brasil em dezembro de 1939, por decreto do presidente Getúlio Vargas). 

O DIP serviu como instrumento de censura e propaganda do governo durante o Estado Novo. Grande parte do material produzido por Benjamin Abrahão se perdeu por conta do péssimo acondicionamento durante o tempo em que esteve guardado nos arquivos do governo. Uma pequena, mas importante, quantidade de fotografias e filmagens foi recuperada e restaurada, porém grande parte se perdeu para sempre.

Na fotografia exibida nessa matéria que foi gentilmente cedida pelo escritor e pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, Benjamin Abrahão aparece ao lado de um antigo caminhão (Cabine de Madeira) na ocasião utilizado no transporte de soldados pertencentes a uma Força Volante, preparados para viajar pelos sertões para dar combate aos bandos cangaceiros. Fotografia registrada em data precisa ignorada, possivelmente o registro foi realizado entre os anos de 1936 e 1937.

Geraldo Antônio de Souza Júnior



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ONDE ESTÃO OS CANOEIROS?

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.128

POÇO DO JUÁ NO RIO IPANEMA. PARTE SUPERIOR. (FOTO: B. CHAGAS).
O que você sabe sobre os canoeiros de Santana do Ipanema? Ipanema era um rio navegável? Onde se fabricava canoa? Quais os seus fabricantes? Teve parente canoeiro? Nome completo. Caso você saiba alguma coisa sobre o tema, coopere com informações para o meu gmail ou dê um pulinho até à Escola Helena Braga para conversarmos. Pessoas se comprometeram e não cumpriram o prometido, deixando no ar esse pedaço da história do Sertão. Poderemos dialogar no WhatsApp.
Ao atravessar a cidade de Santana, o rio Ipanema alarga-se no lugar denominado: poço do Juá. Os motivos da largura foram às cheias violentas do seu afluente, riacho Camoxinga, pela margem esquerda. Também cooperou para isto, o riacho Salgadinho, pela margem direita. Uma foz defronte a outra. 
Esse trecho do rio tem, aproximadamente, 400 metros de comprimento por 130 de largura. Sem ponte na época, o espaço foi ocupado pelos canoeiros que bravamente transportavam pessoas e mercadorias de um lado para outro do rio. Já tentei resgatar o tema com a criação do Memorial do Rio Ipanema, mas a falta de interesse ou a ignorância falam mais alto. Pelo menos dei a ideia a AGRIPA de se comemorar oficialmente o dia do rio, o que foi aprovada oficialmente pela Câmara Municipal: Dia do Rio Ipanema. A história completa dos canoeiros fica dependente dos seus familiares que não se apresentam com as informações necessárias para o resgate. Interessante é uma foto antiga – resgatada em nosso livro/enciclopédia, “230” – onde um automóvel amarrado sobre canoas navega na foz do riacho Camoxinga.
No rio Ipanema não havia ponte. E, sobre a foz do riacho Camoxinga que liga o centro da cidade ao bairro que leva o nome do riacho, as cheias sempre carregavam as pontes de madeira ali construídas. Em outra foto antiga, também resgatada no mesmo livro, vê-se multidão contemplando as águas após uma das quedas da ponte, em 1915.
Portanto, são importantes as informações de filhos, netos e outros familiares dos antigos canoeiros, para o objetivo sugerido.    
 Aguardamos contato sério.
 Ê canoeiros...


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REVISTA FATOS E FOTOS – 29 DE SETEMBRO DE1975.

Entrevista realizada por Ricardo Noblat com o cangaceiro “Cascavel”, cabra de Antonio Silvino.

Clique para ampliar.



Créditos: Ivanildo Silveira


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IMPRENSA E CANGAÇO

Lauro da Escóssia foi responsável pelo maior furo de reportagem da história do RN
Jornalista e escritor Lauro da Escóssia
[1905 - 1988]

O dia 19 de junho de 1927 foi importantíssimo na história do Jornal O Mossoroense e de toda a imprensa potiguar, pois foi neste dia que foi publicado o maior furo de reportagem do Estado. Tratava-se da entrevista que o cangaceiro Jararaca concedeu a Lauro da Escóssia na prisão, antes mesmo de depor em inquérito policial.

Com a reportagem, de repercussão nacional, transformada em matéria do jornal O Estado de São Paulo, o jornal chegou a uma vendagem recorde de 5.400 exemplares, patamar nunca mais alcançado.

A manchete dizia "Hunos da nova espécie" e a sub-manchete, "O famigerado Lampião e seu grupo de asseclas atacam Mossoró". As chamadas diziam "A heróica defesa da cidade" e "É morto o bandido Colchete é gravemente ferido o lombrosiano Jararaca".

Em seu livro "Escóssia", Cid Augusto transcreve a reportagem, que é introduzida por comentário discordando do adjetivo atribuído a Jararaca na chamada, e que pode ser conferida abaixo na íntegra:

"- Não, nada. Sujeito simpático. Ele começou me dizendo que se chamava José Leite, tinha 27 anos e nasceu no dia 5 de maio em Buíque, Pernambuco. Sujeito moreno, muito moreno, mas não era negro. Era solteiro e andava com Lampião há um ano e alguns meses. Ele tinha um fuzil mauser e cartucheiras de duas camadas, mais 560 mil réis no bolso e uma caixinha com obras de ouro no valor de 1 conto de réis.

Disse que o ataque a Mossoró foi idealizado por Massilon Leite e que Lampião relutou um pouco, por causa da história das duas Igrejas. Que quando Lampião chegou a Mossoró não gostou nada, nada, daquela 'igreja da bunda redonda' (de onde estavam partindo os tiros contra o bando). De repente, Jararaca começava a rir, diz Lauro da Escóssia, e a gente perguntava por que, espantado como um homem com um buraco de bala no peito ainda conseguia rir. -Mas, enfim, Jararaca, para que Lampião queria tanto dinheiro?
Era pra comprar os volantes de Pernambuco.'

Voltamos a outros episódios com Jararaca na prisão.

Quelé não entrou na cadeia. Um seu ordenança, negro bem alto chegou perto de Jararaca, tendo-lhe arrancado do pescoço, num gesto brusco, uma volta de ouro que trazia com uma medalha de Santa.
Depois cobiçou um anel que o bandido trazia no dedo. Jararaca tentou tirar, não conseguindo, ao que o negro foi logo dizendo: '
Coloque a mão aqui. Eu vou cortar o dedo para tirar o anel'
E puxou um faca (facão) ao que o Dr. Marcelino implorou: '
Meu senhor, não faça isto. Cortar o dedo na minha frente, não'.
O negro desistiu, por certo atento à sensibilidade do doutor. Jararaca, fez um pedido com certa ironia:  
'- Tragam Quelé que eu quero dizer quem é cangaceiro'.
Disse depois: '- Quelé era do nosso bando e a polícia paraibana fez dele um sargento para nos perseguir'.

Mesmo ferido, Jararaca não escondia seu riso, o desejo de ainda viver e no momento em que uma linda jovem de nossa sociedade penetrava na sala, atenta à sua curiosidade para ver o bandido, este pergunta:
'- Esta moça é daqui?'. Ao que, recebendo a afirmativa, disse
'- Se o capitão (Lampião) soubesse que aqui tinha uma moça tão bonita teria entrado na cidade.'

A uma pergunta de D. Marola Silva (esposa do Sr. Veriato Silva), se os vinte e tantos traços que tinham na coronha de sua arma eram anotações de morte feitas pelo mesmo, como dizem, respondeu-lhe:
'- É tudo mentira, minha senhora. Eu nunca matei ninguém'. E deu uma boa gargalhada, saindo o vento pelo furo do peito.

Apenas impaciente ficou seguidas horas naquele sofrimento, pelo que chegou a pedir um canudo de mamão e algumas pimentas malaguetas, dizendo que com isso ficaria bom.

Perguntei-lhe como. Disse:
'- No bando, quando alguém recebe ferimento como este (apontando para o peito), sopra-se malagueta pelo canudo colocado na ferida. Sai toda salmoura do outro lado. Arde muito, mas a gente fica curado'.

Mas, apesar de tudo isto, Jararaca vinha aos poucos melhorando e se tivesse sido medicado convenientemente não morreria pelos ferimentos.

O tenente Laurentino de Morais tinha ido a Natal de onde voltou na quarta-feira seguinte. Esperou pela quinta, quando Jararaca seria transportado para Natal. Alta noite, da quinta para a sexta-feira, levaram Jararaca, não para Natal e sim para o cemitério, onde já estava aberta a sua cova.
Tenente Laurentino de Moraes
Fonte: JMaria

Disse o bandido: '
Vocês não me levam para Natal. Sei que vou morrer. Vão ver como morre um cangaceiro!'

Naquele local foi-lhe dada uma coronhada e uma punhalada mortal. O bandido deu um grande urro e caiu na cova, empurrado. Os soldados cobriram-lhe o corpo com essa areia. Essa ocorrência feita às escondidas foi guardada com as devidas reservas por alguns dias. Tempos depois, o capitão Abdon Nunes, naquela época comandante da guarnição policial de Mossoró, revelou em depoimento a morte de Jararaca'.

Açude: Valeria Escossia

A COLUNA PRESTES EM RIBEIRA DO POMBAL

A organização social civil, no Brasil, durante o período em que o militarismo chefiava os poderes administrativos do País, nunca teve vez, até porque os militares temiam a perder o poder. Toda e qualquer aglomeração era proibida e as poucas que aconteceram foram exterminadas; numa família se alguém discordasse das normas ditadas pelos militares, todos pagavam, sem que ninguém pudesse ao menos contestar.
Os brasileiros viviam um verdadeiro "inferno". Eram privados do maior bem que o ser humano tem: a liberdade.

A Coluna Prestes - Foto: Internet 
O comunismo avança o leste europeu, propondo-se a dominar o mundo. No Brasil essa idéia foi copiada, principalmente por estudantes rebeldes e revoltados com a ditadura militar. Os estudantes, contrariando as leis militares, tentavam a todo custo derrubá-los do poder e proclamar a liberdade para o povo brasileiro. Foram o principal alvo de perseguições movidas pela cúpula de inteligência militar. Esses "baderneiros da ordem social" como eram chamados pelos militares, foram taxados de comunistas, como se o comunismo fosse a pior coisa do mundo. Naquele momento as guerras que estavam acontecendo era justamente porque países comunistas estavam avançando contra alguns países capitalistas; o comunismo passou a ter sinônimo de guerra, de sangue e de dor.
Qualquer manifestação, partindo da população civil, que acontecesse no Brasil, estrategicamente, os militares diziam estar partindo dos comunistas. E, qualquer comunista, no Brasil, era tido por assassino, bandido dos mais perigosos.
A Coluna Prestes - Foto: Internet

Mesmo sendo difamados, alguns heróis não se renderam; a eles hoje devemos essa democracia. Foram pessoas que lutaram contra o regime autoritário dos militares, para que hoje a liberdade prevaleça. Um desses combatentes chamava-se Luiz Carlos Prestes, considerado "o cavaleiro da esperança", líder do movimento intitulado Coluna Prestes. Na fuga incansável das perseguições do governo antipopular e antidemocrático do presidente Artur Bernardes, a Coluna Prestes viajava de cidade em cidade pregando a liberdade e a igualdade para a população brasileira.
Os integrantes da Coluna Prestes eram conhecidos como "Os Revoltosos"; sua fama era tão deturpada, que quando se aproximavam de uma cidade, se a notícia chegasse primeiro, a população se trancava em suas casas ou escondiam-se nas imediações; registrou-se até o abandono temporário da população de alguns municípios, por medo.
Essa mesma coluna liderada por LUIZ CARLOS PRESTES passou por Pombal. Os revoltosos ou COLUNA PRESTES chegaram em Pombal, na Bahia, no dia 26 de junho de 1926. Ao contrário do que aconteceu em muitos municípios, por onde a coluna passou, os pombalenses em mais uma prova de sua hospitalidade, não abandonaram suas casas e correram para recepcionar o Cavaleiro da Esperança; alguns demonstraram medo, mas, não demorou muito para que estivessem familiarizados com os caçadores de liberdade.

A Coluna Prestes - Foto: Internet 

Escreve Lourenço Moreira Lima em: "A Coluna Prestes - Marchas e Combates" (conforme "O Marquês de Pombal e as imagens da verdade", pág. 17 - CBR - Rio):
"Seguimos (de Tucano) no dia 26, para a Vila de Pombal, onde chegamos às nove horas, percorremos cinco léguas por um grande tabuleiro. A população de Pombal estava na vila.
Fomos recebidos pela respectiva banda de música, que foi se formando aos poucos. Apareceram primeiro o bumbo e os pratos, que iniciaram um dobrado sem esperar pelos outros instrumentos. Estes, à proporção que chegavam, iam se fazendo ouvir, e, dentro em pouco, a filarmônica se integrou, exibindo seu repertório, num barulho ensurdecedor de guinchos desafinados que nos causavam arrepios terríveis.
Valia, porém, a boa intenção desses amáveis patrícios, que festejavam a nossa passagem por aquela vila, em vez de pretenderem impedi-la à bala. As famílias de Pombal tratam-nos com a maior gentileza, oferecendo-nos mesas de café e doces em várias casas, numa demonstração franca e sincera de simpatia e de confiança no cavalheirismo das nossas forças, apesar da campanha difamatória que os adversários continuavam a nos mover".


Fonte: Internet


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LAMPEÃO EM RIBEIRA DE BOMBAL

Já se tinha notícias da presença do maior cangaceiro do século XX, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, considerado o rei do cangaço - 1927/1940 - à Bahia no ano de 1928. A possibilidade de ter levado Lampião a cruzar o Rio São Francisco rumo aos Sertões da Bahia, seria, a que tudo indica, a falta de opção. Em todo o Nordeste só restavam Bahia, Sergipe e *Piauí, onde poderia hospedar-se com o resto dos seus cabras.

O ataque a grandes centros urbanos, acirrou os ânimos das policias de alguns estados nordestinos, visto que houve repercussão nacional dos episódios. Daí por diante, Lampião não teria trégua; o jeito era dispensar muitos de seus cabras. Para facilitar a fuga da furiosa perseguição policial, quanto menos gente, melhor.
Nessa altura, coligaram-se as policias de Pernambuco, Ceará, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte e durante vários meses investiram numa perseguição implacável a todo o bando. Não existia outra alternativa senão um dos três estados restantes do nordeste.

Para Piauí, Lampião jamais iria, primeiro porque lhe era terra desconhecida e segundo porque era o estado mais pobre, entre os pobres do nordeste. O bandoleiro sabia por experiência que na Bahia iria encontrar condições favoráveis.

Se o Capitão Virgulino não tivesse tentado ocupar Mossoró pela força, então o maior município do interior do Rio Grande do Norte, ou tivesse conseguido, provavelmente a Bahia jamais o tivesse hospedado em seu território.

Quando desembarcou aqui na Bahia, em 21 de agosto de1928, Lampião se quisesse, poderia ter tentado reconquistar a sua condição outrora de homem livre, trabalhador, honesto, produtivo. Não o fez. A índole de bandido calava mais forte.

Ao pisar em terras baianas, Virgulino Ferreira da Silva, já tinha 31 anos de idade, ostentava a patente de capitão, título de que muito se orgulhava e fazia alarde. Além de Mossoró (1927), assaltara, em lance de grande atrevimento, Água Branca (1922) em Alagoas, quando saqueou a baronesa Joana Viana de Siqueira Torres, despojando-a de jóias e moedas de ouro do Império, com as quais passou a enfeitar-se. Esse episódio, somado ao frustrado assalto a Mossoró, à patente de Oficial do Exército e às inúmeras batalhas em que se envolvera (Baixa Grande, junho de 1924; Serrote Preto, fevereiro de 1925; Serra Grande, novembro de 1926), bem como ao saldo de mortes que lhe vinha no rastro, davam-lhe prestigioso renome em todo o Brasil e até no exterior.

Recorte de Jornal da Época
Um dos primeiros contatos de Lampião em terras baianas foi em Santo Antônio da Glória. Lampião partira da Serra Negra (em Floresta, Pernambuco, seu estado Natal), ladeou Riacho dos Mandantes de onde passou para as margens do Rio São Francisco. Em seguida avançou pelas propriedades Sabiuçá e Roque, cruzou o Velho Chico e ganhou as terras baianas. Aqui seu itinerário foi o seguinte: Serra Tona, Fazenda Salgado e o povoado Várzea da Ema, município de Glória.

Após várias andanças e as notícias ocultas, somente em dezembro é que Lampião ressurge no cenário baiano, exatamente no dia 15 de dezembro de 1928, na vila do Cumbe (atual cidade de Euclides da Cunha). De lá partiram rumo a Tucano, onde concede uma entrevista a um jornalista da terra e recebe a notícia que mandaram buscar reforço policial na cidade de Serrinha, o que apressou a saída do bando do município. Partiram de lá às onze horas da noite, aproximadamente, em destino a Pombal.
Antigo Mercado de Ribeira do Pombal - Década de 50
Desde aqueles sábado, 15 de setembro de 1928, que já se sabia que Lampião encontrava-se no município de Tucano, pois todos os viajantes, que lá procediam, noticiavam aos habitantes de Pombal da visita do então cangaceiro.

Lampião e mais sete cabras do seu bando chegaram à vila de Pombal por volta das seis horas da manhã, um domingo do dia 16 de dezembro de 1928.

O Sr. Paulo Cardoso de Oliveira Brito, mais conhecido como "Seu Cardoso", narrou, detalhadamente, como foi a visita de Lampião na Vila de Pombal:
"Eu era intendente, na época. Desde o sábado à noite se corria o boato na rua que Lampião estava na cidade de Tucano, mas de paz.
Eles chegaram de manhã, bem cedinho, eu estava deitado e o empregado estava varrendo o terreiro da casa
 (o velho sobrado dos Britto), abordaram o empregado e mandaram me chamar. Com certeza eles já haviam se informado quem era o administrador da vila. O empregado subiu e me avisou, mas não soube dizer quem era; fui até a porta às presas e perguntei a ele o que queria. Ele se identificou por Coronel Virgulino.

Tomei um susto ao perceber que estava diante do mais temido bandido do sertão. Eram oito homens, sete ficaram encostados no carro e só o capitão tinha se aproximado. 


Disse que queria tomar café. Mandei logo providenciar. Perguntou quantos soldados havia na vila; respondi que apenas três; mandou avisá-los para não reagir, pois estaria ali apenas de passagem ".
O próprio empregado foi até o quartel levar a tranquilizadora notícia, transmitindo-a ao cabo Esmeraldo, comandante e chefe do destacamento.
Lampião em Ribeira do Pombal - BA
Lampião e seus cabras de deliciaram com o café com cuscuz que lhe ofereceu o anfitrião. Mas tarde, o bando chegou até o quartel, desarmaram os militares, intimando-os a acompanhá-los até a cidade mais próxima para onde iam. Lampião disse em tom sarcástico: “... assim vou mais garantido porque estou com a força".

Antes de saírem, Lampião e seus cangaceiros foram conhecer a Vila Alegre com a boa hospitalidade a eles oferecida. Para deixar uma ótima impressão de sua visita à Vila de Pombal, perguntou se havia um fotógrafo; mandaram chamar Alcides Franco, alfaiate e maestro da Filarmônica XV de outubro, que possuía uma máquina fotográfica. Pediu que batesse uma chapa do bando para ali ficar de recordação (essa foto é uma das mais nobres no acervo sobre o cangaceiro, presente em quase todos os livros, sobre o bandoleiro).
Lampião e seu bando na Vila de Pombal em 17/12/1928 - (Hoje, Praça Getúlio Vargas) Ribeira do Pombal - BA
Praça. Getúlio Vargas (Atualmente) - Cenário da fotografia de Lampião (Acima) - Ribeira do Pombal - BA
Por volta de oito horas da manhã o bando saiu da vila, partindo espalhafatosamente com destino a Bom Conselho (atual cidade de Cícero Dantas).

A partir daí Lampião continua suas andanças por terras baianas. Em 22 de dezembro de 1929, vindo de Capela, interior do Estado de Sergipe, passando por Cansanção, interior da Bahia, o Capitão Virgulino chega a Queimadas, cidade próxima a Monte Santo. No cumprimento de mais uma de suas façanhas, Lampião, nessa cidade, realizou um dos maiores saques cometidos na Bahia, acompanhado de gravíssimos crimes e orgias de sangue.

Após sair de Queimadas, tem-se notícias do bando dos cangaceiros no arraial de Triunfo (atual cidade de Quijingue), onde festejaram e saquearam o pequeno comércio local.
Ao amanhecer do dia 25 de dezembro de 1929, portanto três dias após o acontecido na cidade de Queimadas, mais uma vez Lampião e seus cabras chegam às redondezas de Pombal.
Nesta mesma manhã, o Sr. Cardoso recebeu um bilhete, mandado por Lampião, pedindo uma quantia exorbitante de dinheiro. A quantia era tão grande que se reunisse todo dinheiro da Vila, não pagava.

O Sr. Cardoso temendo uma represália por parte do cangaceiro, se não enviasse pelo menos uma boa parte de dinheiro e uma desculpa bem, convincente, conseguiu o equivalente à metade do pedido, mandando pelo mesmo portador que trouxe o bilhete.

Não se registrou nenhuma agressão ou tentativa de saque na Vila de Pombal, certamente o Capitão Virgulino aceitou as desculpas do administrador local ou imaginou outra hipótese, como por exemplo, a essa altura, talvez já se encontrasse ali reforço policial e o bilhete que enviara dava testemunho de sua presença nas imediações. Dava tempo muito bem da força preparar uma emboscada caso ele tentasse invadir a vila. O certo é que Lampião dotado de muita astúcia e arquiteto das mais engenhosas proezas, sem dúvida tivesse pensado inúmeras desvantagens em tomar a Vila de Pombal para assalto.

Na mesma manhã do Natal de 1929, o bandoleiro chega ao distrito de Mirandela. Foi previamente informado que o destacamento era constituído de apenas cinco praças e um comandante; envia então uma intimação ao sargento, com os seguintes termos:

"Sargento arretire daí levando sua pessoa que preciso intra neste arraiá agora se você não sai ajusta conta com eu Capitão Virgulino vurgo Lampião".

Certamente o comandante do destacamento ignorava o recente acontecimento de Queimadas, onde Lampião enfrentou muito mais soldados do que os ali existentes. O sargento Francisco Guedes de Assis demonstrou disposição e evitou acatar ao utimato, contrariando ao desejo do cangaceiro, mandou-lhe resposta num outro escrito, com os seguintes dizeres:

"Bandido Lampião, estou aqui com a edificante missão de defender a população do Arraial contra a sua incursão e do seu bando. Se você entrar lhe receberemos a bala".

Pouca gente sabe desse episódio que aconteceu em Mirandela, porém, não só foi contado por moradores que vivenciaram o caso, como também foi encontrado um registro escrito por um dos cangaceiros, por nome de Ângelo Roque, confirmando o fato. O registro manualmente escrito dizia:

"Seguimo para Mirandela. 
Mandemo dizer ao sargento, qui tava distacado lá, que nóis, ia passa ali, sem arteração. 
Ele arrespondeu pelo portado qui nóis pudia passa pru fora da rua que ele num botam persiga atraiz. 
Mais si nóis intrasse dento da rua levava tiro. 
Isso foi num dia vinte i cinco di dezembro. 
Nóis arrezorveu ataca.
Um pade tava na igreja dizeno missa. 
Era um sargento Guedes. 
Disparemo as arma pra dento da rua qui istrondô i avanecemo pra frente".

O destacamento de seis militares, recebeu espontaneamente, a adesão de dois civis: Manoel Amaral do Nascimento e Jeremias de Souza Dantas.

Guedes divide sua pequena tropa em três grupos, colocando-os em três pontos diferentes e estratégicos. Eram dezessete bandidos contra seis militares e dois civis. Os bandidos invadem o arraial, atirando em todas as direções; Mirandela é heroicamente defendida.
A luta dura duas horas e meia, aproximadamente, apesar da desvantagem dos defensores. Em determinado momento, o fogo dos sitiados começa a decrescer. Os bandoleiros sentiram que estavam ganhando a batalha e acirraram o ataque.

Manoel Amaral do Nascimento foi ferido e, enquanto era conduzido pelo sargento para o interior de uma casa, é morto à queima-roupa por um bandido que se presume ter sido Alvoredo. Guedes ainda atira no cangaceiro, que pede socorro aos companheiros. Ao notar que os cangaceiros atendem ao apelo de socorro, Assis corre e se refugia no mato. Jeremias de Souza Dantas, popular Neco, o outro civil, também é assassinado.

Depois do acontecido, um cangaceiro por nome de Labareda, documenta o fato em uma folha de papel, reproduzindo o que se passou no local:

"Lampião entro pulo cento da rua, junto com Zé Baiano, Luiz Pedo e outros. Zé Baiano tinha sumido de nóis dois dia só i tomo partido das disgracera de Queimada. Us macaco de mirandela inda brigam muito mais porem terminaro debandano. I si escondero pru perto cum pirigo pra nóis di tiro imboscados. Morreu nessa brigada um camarada pru nomi Manoé de Mara. Matemo uns dento di casa i um macaco materno pruquê pidiu paiz cum lenço branco na boca du fuzi i ninguém intendeu ou num quis intendê. Tamem cangacero num tinha esse negoço di faze as paiz nu meio das brigada. Ele teve di morre pois teve brigano. Tumemo us dinhero pussive nu começo i nas casa”.

O saldo da guerra: morreram os dois civis, um dos militares, sendo que os outros, inclusive o sargento Guedes, fugiram, embrenhando-se no mato; também foi ferido um cangaceiro por nome de Luiz Pedro. O bando sai de Mirandela, carregando o cangaceiro ferido, e vitoriosos, ganham o mato, como sempre, sem destino. Tem-se notícias do bando, mais tarde, de que estariam num esconderijo, perto de Pinhões, povoado de Euclides da Cunha, em um sítio é denominado Olho D'água.

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*Fernando Amorim é autor do livro "Memória histórica de Pombal". Capítulo concebido em entrevista ao então intendente da época, o Sr. Cardoso.


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