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segunda-feira, 18 de junho de 2018

CLAUDINHO HOMEM QUE TRANSPORTOU CORISCO E DADÁ BALEADOS EM SEU CAMINHÃO.


Por Devanier Lopes

Sr. José Cláudio - CLAUDINHO- Motorista e dono do caminhão que levou Corisco e Dadá baleada para Miguel Calmon e corisco morto.

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MARIA... DE JURITI!


Falaremos hoje de uma personagem que o que se tem gravado, registrado e escrito sobre ela é pouquíssimo.

Essa pessoa fez sua ‘viagem’, transpondo a última barreira terrestre, sem conceder uma única entrevista. Nenhum dos pesquisadores/historiadores sobre o tema estudado, pelo menos que se saiba até o momento, teve o prazer de entrevistá-la. 

Maria de Juriti

Trancou-se em seu passado... Seu silêncio gritava por demais em seu íntimo, para que permitisse que perambulasse pela mente alheia. Não queria falar, talvez com medo de suas lembranças fugirem por sua boca e perderem-se no vazio do tempo...

O cangaceiro Juriti

Seria o medo de perder, mais uma vez, aquele, ou as lembranças daquele, que fora seu grande amor?

O cangaceiro Juriti, Manoel Pereira de Azevedo, da ribeira do Salgado do Melão, entra para o bando do “Rei do Cangaço” e logo de cara mostra quanto era forte sua personalidade deixando seu chefe satisfeito.

Lampião e Juriti

Lampião dar a alcunha de Maçarico ao novo integrante do bando, porém, ele acha que não é adequado para si, e diz ao mesmo que seu nome, a partir daquele momento será “Juriti”.

“(...) Ele é um moço de aparência física impressionante: corpo atlético, esguio, branco-aloirado, cabelos finos e escorridos; olhos alaranjados, gestos elegantes, boas maneiras (...)”. ( Lampião Além da Versão – Mistérios e Mentiras de Angico”- COSTA, Alcino Alves. 3ª edição)


A sua aparência, seu porte atlético, causa ‘suspiros’ e abismava as sertanejas. Elas, além da ilusão da liberdade no cangaço, passavam a sonharem acordadas com ele. Derramavam-se, derretiam-se, nas colocações sinceras dos adjetivos, por aquele ‘cabra’, em desejos para receberem seus carinhos e amor.

Só que ele, apesar de ser um perverso e possuir dons de ser sádico, também apaixonasse. Cai de quatro por uma cabocla sertaneja que era de Pedra D”água. “Uma menina-moça, chamada Maria, filha de Manoel Jerônimo e Áurea, irmã de Delfina da Pedra D`água, deixou-o alucinado. Aquela ardente paixão foi recíproca. E o jamais imaginado pelos seus pais aconteceu. A menina de Mané de Aura deixou seu lar, seus pais e se jogou no mundo. Os seus sonhos e a sua ilusão era passar a viver nos braços do tão falado e comentado cabra de Lampião.” (Alcino Alves Costa)

E assim aconteceu. Nas entranhas da caatinga viviam seu enlouquecido amor. Não pensavam no amanhã. Apenas viverem os momentos, os instantes, que lhes foram ‘cedidos’ pelo destino naquela desmantelada vida.

Quando do ataque aos cangaceiros acoitados na grota do riacho Angico, na fazenda Forquilha, Poço Redondo – SE, em 28 de julho de 1938, o casal estava lá. Juriti e Maria conseguem sair com vida daquele fogo intenso.

Juriti, refeito do susto da morte, envia Maria para a casa de seus pais. Seu pai, junto com um amigo, Rosalvo Marinho , levam a cabocla para cidade de Jeremoabo, na Bahia, a entregando ao capitão Aníbal Ferreira.


O que acontece em seguida deixa os dois homens boquiabertos. O capitão, após recebê-los muito bem, libera Maria para que volte e vá viver no seio da família, sem antes não fazer um ‘pedido’ para ambos, inclusive a Maria, “Solicitou a ajuda de Maria, do pai e de Rosalvo Marinho para que ambos fizessem com que Juriti e seus companheiros também viessem se entregar”. 

João de Sousa Lima e Maria de Juriti

O pesquisador/historiador João De Sousa Lima, juntamente com o cineasta Wolney Oliveira foram a residência onde morava Maria. Porém, por mais que insistissem, Maria não abre a boca para lhes dar quaisquer informação sobre sua passagem pelas trilhas do cangaço. 

“(...) Maria de Juriti foi uma das cangaceiras que escaparam do combate na Grota do Angico, porém decidiu levar sua vida sem falar nada com ninguém, morreu sem dar entrevistas (...) Poucos meses antes de sua morte estive em sua residência, acompanhado pelo cineasta Wolney Oliveira e por mais que maior que fosse nossa insistência para colher alguma informação, mais o silêncio dominava o ambiente e por último ela reclamou dizendo que poderia ter uma "parada do coração" e aí tivemos que nos contentar com apenas algumas fotografias(...) Recentemente recebi em minha casa a visita de um dos filhos da cangaceira, trazendo um caderno com riquíssimos depoimentos da mãe, colhidos por ele. O caderno me foi presenteado e sobre a vida dela será lançado um capítulo interessante, em um futuro bem próximo(...)”. (João de Sousa Lima)

João De Sousa Lima hoje é considerado um dos maiores ‘vaqueiros’ da história do cangaço. Sem ele, nós teríamos ficado sem tantas importantes informações sobre este tema tão complexo e apaixonante... Sobre os fatos nas quebradas do Sertão.

Fonte Ob. Ct.
Cariri cangaço
Joãodesousalima
Foto João de Sousa Lima
Benjamin Abrahão

Segunda fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira

Grupo: OFÍCIO DAS ESPINGARDAS

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MUSEU DO SERTÃO COMUNICADO


Por Benedito Vasconcelos Mendes

Comunicamos aos professores e estudantes dos colégios e universidades e ao público em geral, que a próxima visita ao MUSEU DO SERTÃO será no próximo dia primeiro de setembro (01 . 09.2018), das 7:30 às 12 horas.


Lembramos que o ingresso é um quilo de alimento não perecível, que deverá ser entregue diretamente, no LAR DA CRIANÇA POBRE DE MOSSORÓ (Irmã Ellen).


Na oportunidade haverá PALESTRA proferida pelo PROFESSOR BENEDITO VASCONCELOS MENDES, sobre a importância do acervo do Museu do Sertão, para o entendimento da cultura regional.


EVENTO: Visita ao Museu do Sertão
PALESTRANTE; Prof. Dr. Benedito Vasconcelos Mendes
TEMA: Importância do Acervo do Museu do Sertão
DIA: 01 de setembro 2018 (sábado)
HORÁRIO: 7:30 às 12 horas

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É O SEU DIA, AMIGO ANTÔNIO NILSON! MEUS PARABÉNS A VOCÊ!

Por Franci Dantas

É o seu dia, amigo ANTÔNIO NILSON!
Meus PARABÉNS a você!
Que traga renovação...
E FELIZ ANIVERSÁRIO!
Desejo de coração:
Saúde, paz e amor
Em um ano promissor.
Muita realização!


Tinha sido enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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TITE: FOI NUM PINGO D’ÁGUA

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.924

Foi no peste do antigo vestibular. E vestibular e ENEN são um mesmo saco de se transportar gatos. Uns reclamam que nada sabem de Matemática, outros que estão voando em Física, outros ainda que vão fazer o teste como quem vai à forca. Quase sempre a redação possui um peso enorme, um peso descomunal para quem não gosta de ler e nem escrever. Mas na verdade sempre foi prato amargoso tanto para o fraco quanto para o sabido. É ali onde não se tem por quem gritar que se vê o valor do estudo. O conselho de tantos anos de pais e professores, mostrando o caminho certo, surge na mente enferrujada dos clientes nervosos. Muitos saem da sala com sentimento de culpa e outros aliviado pelos dever cumprido. E se vestibular e ENEN não forem purgatório, pode ficar certo que são vizinhos.
DEPOSIT FHOTO
Após as provas e os risos amarelos, surgem muitas vezes às piadas criativas, as brincadeiras, as anedotas de desconcentração que não caem nos questionamentos oficiais. E foi assim que o estudante chegou diante desse tribunal, apreensivo com a tal redação. Quando tudo foi descoberto para as respostas, surgiu o tema da cuja dita. Muito difícil para os fracos, muito fácil para os inteligentes, mas no geral, um impacto desgraçado: Um pingo d’água. Passado o momento do susto, puxa a página, vira a página, chora sobre a página. Mas como o brasileiro não gosta de perder a piada, o gaiato responde a redação com apenas uma frase: Foi num pingo d’água em que me afoguei.
Na vida geral também as surpresas aparecem, sendo bom o sujeito não ser fanático em nada. Bem assim em nosso futebol que gera muitas expectativas onde os bons ficam doidos e doidos mais ainda. Depois de se esperar tanto pelo Brasil dos melhores jogadores do mundo, o que se viu ontem contra a Áustria, foi um aperreio só. Os jogadores brasileiros não se encontravam em campo e terminou sendo apenas um amontoado de estrelas, quase igual à abóbora de lixo anterior. Assistimos a todos os jogos até agora, mas nada igual ao vexame de ontem. É por isso que não se deve ser fanático em nada, nem em futebol. O Brasil jogou m... pura. E o nosso comandante – com o magote – afogou-se vergonhosamente na redação do pingo d’água.


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DIZ A LENDA...

*Rangel Aves da Costa

Nos tempos idos sertanejos, de feições arrogantes e bestiais que ainda hoje espelham nas relações sociais, da política e do poder, diz a lenda que muito chão foi encharcado de sangue, muito arame foi cortado no dente, muita família enxotada no cano do mosquetão, muita gente tombou em tocaia e emboscada, muito grito silenciou pelo medo e muito espanto arregalou os olhos sem acreditar.
Cangaceiro era cabra valente e também duma brutalidade e malvadeza sem tamanho. Diz a lenda, e esta escondida por trás de verdades agora testemunhadas em escritos, que a violência chegava a tal ponto de sangrar até mesmo inocente. Ainda hoje é difícil acreditar no que o cangaceiro Zé Baiano fez marcando com ferro de gado em brasa aquelas mocinhas nos sertões sergipanos do Canindé. Violência, contudo, ainda menor que a perpetrada pelo cangaceiro Gato, ao sair matando e cortando cabeças de sertanejos inocentes desde a Fazenda Couro, na Bahia, às bandas da Fazenda São Clemente, já em Sergipe. Nada menos que oito inocentes perderam a vida na caçada infernal comandada pelo carrasco bandoleiro. Por último, já no São Clemente, mandou que um maluquinho deitasse a cabeça num batente e depois baixou o punhal. A cabeça rolou num rastro de sangue.
Soldado da volante também era bicho de arrogância e violência desmedidas. Muitos afirmam que ainda mais aterrorizantes que os bandoleiros de Lampião e outros líderes cangaceiros. Pois bem, diz a lenda, igualmente nascida da verdade, que os caçadores de cangaceiros, sempre raivosos por não poderem capturar ou matar o líder maior do cangaço, passavam a descontar suas raivas, repressões e ódios, no humilde sertanejo, no pobre homem da terra. Aonde a volante chegava o medo logo se espalhava. Todos sabiam de suas extorsões, de suas brutalidades, de suas sedes de tortura e de sangria. Reviravam casebres, desonravam famílias, tornavam prisioneiros desde velhos a meninos. Queriam porque queria saber onde o bando cangaceiro estava acoitado. Arrastavam os sertanejos de suas casas, amarravam junto a cansanções e urtigas, deitavam de cabeça pra baixo nos arvoredos, açoitavam com vara fina, pinicavam no punhal. Muita gente morreu assim, tendo que saber o que não sabia, silenciando o grito por saber do fim que se aproximava.


Diz a lenda que havia um mundo assim e que ainda há. O imaginário moderno sobre o mundo dos cangaceiros e das volantes apenas reflete o que for mais instigante e até apaixonante neste enredo de luta sem fim. Mesmo na violência, a concepção atual é de que a crueldade daqueles idos possuía uma feição muito diferente da bestialidade presente. Asseveram ser – naqueles tempos – uma valentia de homens valentes, de homens que, mesmo espargindo sangria e maldade por onde passassem, levavam consigo objetivos claros nas suas guerras, e neste aspecto muito diferente da violência covarde de hoje. Atualmente, como se afirma, a violência é apenas da covardia, da brutalidade sem qualquer motivo e da atrocidade como rotina na prática da banalidade criminosa. Por isso que muitos pregam o retorno de Lampião, numa alusão ao regresso da valentia como forma única de enfrentar a covardia dilacerante.
Diz a lenda de um mundo de coronéis, de um coronelato forjado no mando e no poder, e cujo curral era o mundo inteiro ao seu redor. Na mesma feição dos arrogantes e impetuosos senhores de engenho, que na chibata e na ponta do ferro de seus capatazes brincavam de lanhar e sangrar o lombo de inocentes, eis que está refletida a ação do coronelismo e sua sanha de ordem, poder, mando e dominação. E também o escravismo da chibata, do grilhão da subserviência do pobre trabalhador, do medo como forma da manutenção da ordem. E também a covardia no trato com o homem da terra, vez que, sendo tido como seu escravo, teria que ser submetido às consequências de seus rancores e ódios. E também um mundo jorrado de sangue nas tocaias e emboscadas, nas mortes ordenadas antes de o cuspe secar, no bestial prazer de receber uma orelha cortada como prova da maldade feita. Ai daquele pequeno lavrador que não quisesse sair de seu pedacinho de chão para que o arrogante senhor aumentasse o seu já desmedido latifúndio.
Diz a lenda que havia um mundo de jagunços que era o desmundo mundo. Algo tão aterrorizante e cruel que mais parecia a morte certeira rondando a todos, com olhos sedentos escondidos nos tufos de matos e mãos defuntescas e gélidas mirando a vítima mais adiante. Assassinos frios, matadores de qualquer um, ceifadores de vidas que tinham no ato de emboscar ou tocaiar, ou na simples espreita da passagem do outro, o seu ofício maior de bestialidade. Podia ser um dia esperando em silêncio, quieto em meio às folhagens, aos tufos, por trás dos pés de paus. Podia ser um instante apenas ou até semana, importando apenas que a vítima aparecesse a qualquer instante para que o gatilho fosse apertado e o tiro certeiro acertasse seu alvo. Depois, apenas os urubus rondando as estradas, as curvas dos caminhos, as veredas ensanguentadas dos sertões adentro.
Diz a lenda que foi assim. Contudo, na lenda apenas a leitura de verdades que se confirmam hoje com outros requintes. O banditismo chamou para si a covardia, o coronelismo chamou para si o poder político e a corrupção, o jaguncismo chamou para si o tocaiamento pelas ruas da cidade. A mesma história, mas de leitura até mais perversa e mais cruel.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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"O IMPARCIAL" - BA, EM 22 DE MAIO DE 1935 LIBERDADE PARA ALECRIM E BANANEIRA

Transcrito por Urano Andrade

É o que menos se poderia acreditar, mas aconteceu. Quatro ex-cangaceiros que assolavam o sertão, espalhando o terror por toda parte foram soltos e enviados para Ilhéus e Itabuna, para trabalharem (honestamente, já se vê) nos campos do Sul...

Manoel Raymundo Correia, Sebastião Valentim dos Reis, Pedro Vieira da Silva (Alecrim), e Horácio Teixeira Junior (Bananeira)  chegaram já a Ilhéus. Os dois primeiros eram bandoleiros de um Virgilino, bandido de Ituassu, e os dois últimos do celebérrimo
Virgolino Ferreira, o Lampião, condenado a morrer de velho...

Dois desses bandoleiros foram enviados a Itabuna, ficando os outros em Ilhéus sob a vigilância da polícia...

Ora, essa “bôa gente” estava aqui na Penitenciária há cerca de um anno, tendo agora essa liberdade “devido ao bol procedimento que tiveram naquele presidio, e atendendo a outras circinstancias que militam em seu favor...”

Quaes serão estas circunstancias favoráveis aos presos, e como teria sido essa rápida regeneração que durou só um anno, depois de ninguém sabe quantos crimes?



Pedro Vieira da Silva o "Alecrim"

Um criminoso comum pode, por um só crime, levar 30 annos na Penitenciaria; uns bandoleiros que foram o terror do sertão, de cujos crimes, ninguém sabe o numero certo se arrependem assim depressa, no espaço de um anno, e são postos em liberdade, embora vigiada!

Bandoleiros habituados a correr no matto denso trabalhando “vigiados” nas mattas do Sul!...

É curioso, mas parece também perigoso... E ninguém é capaz de atinar com a razão dessa concessão aos bandoleiros.

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CANGACEIROS ZEPELIM


Por Geraldo Antônio de Souza Júnior

Morto no dia 22 de abril de 1937 pela Força Policial Volante baiana comandada pelo implacável Zé Rufino. Zepelim, após intensa perseguição e lutar bravamente pela manutenção de sua vida, tombou varado pelas balas dos soldados volantes nas terras da Fazenda Arara no município de Porto da Folha, no estado de Sergipe.


Decapitado, Zepelim teve sua cabeça exposta aos olhares curiosos dos moradores da região. Na fotografia percebemos claramente que os olhos do cangaceiro estão abertos com o auxílio de palitos, possivelmente utilizados, para dar maior naturalidade.

https://cangacologia.blogspot.com/search/label/Zepelim

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REVISTA "REGIÃO" DE CRATO/CE. A VINGANÇA DO TENENTE ANTÔNIO


Reportagem de Osvaldo Alves
Jornalista Osvaldo Alves de Souza

Dizendo chamar-se legitimamente Antônio Manuel Filho, o tenente Antônio de Amélia, famoso por haver vingado a morte de um sócio, matando três cabras de Lampião, recebeu o repórter na sua Fazenda Piau, a cinco quilômetros da cidade de Ouricuri. Naquela visita fizemo-nos acompanhar do Dr. Edilton Luna, Promotor de Justiça de Bodocó e do jornalista Francisco Rocha, correspondente de "Região" no estado de Pernambuco.

A historia do tenente Antônio é longa e cheia de lances perigosos. Nascido em Alagoas, na cidade de Mata Grande, AL pertenceu a Policia pernambucana, na época de Lampião. Hoje é tranquilo fazendeiro em Ouricuri, somente molestado pela insistente curiosidade de algum repórter da revista Região, pois fomos os únicos, até agora, a localizar, no seu retiro, o valente oficial reformado da Policia pernambucana, muitos anos depois de sua arriscada aventura.

Trajando calça escura e camisa branca, óculos de grau a ponta do nariz, foi assim que encontramos Antônio de Amélia no alpendre da Casa Grande da Fazenda Piau. Inicialmente meio arredio, mas logo se derramou em cordialidade e falou com toda franqueza contando sua historia, suas proezas, suas aventuras, finalmente o desfecho com a morte de quatro elementos do grupo de Lampião. Foi bate-papo longo, aqui e acolá entremeado de risos do nosso entrevistado, quando recordava um episódio cômico ocorrido em meio a mais terrível expectativa, nas horas de maior perigo.

Corisco sangra Mizael e desfecha-lhe dois tiros na cabeça.

Primeiro veio a noticia: mataram Antônio Mizael. Corisco - Conta-nos o Tenente Antônio - Tocaiou o meu sócio Mizael. Ele tinha uma propriedade - O sitio Catinga. Deu feira em Inhapi, e depois foi empreitar umas terras para plantação de feijão. Em lá chegando deparou com Corisco, cabra do grupo de Lampião. Com a ajuda de outros três bandidos Corisco amarrou o meu sócio, em seguida sangraram-no e depois deu dois tiros na cabeça. Recebi telegrama em Caruaru comunicando o fato. Meio tonto com a noticia fui a Inhapi e comuniquei ao Prefeito Antônio Mota que iria fazer uma tragédia com a morte de Mizael. Só Deus evitaria de matar um dos cangaceiros. Mizael será vingado, custe o que custar. E preparei o plano.

Familiares do Tenente eram amigos de Lampião.

Após um cafezinho servido as visitas, Antônio de Amélia prossegue no seu relato: "Estando, certo dia, em uma firma comercial, em Inhapi, em companhia do meu amigo corretor Pedro Paulo, expliquei para ele o meu desgosto por ter sabido da grande amizade de pessoas de minha família com Lampião e seus cangaceiros. Sendo eu da família, prefiro ir embora a ver acontecer alguma coisa desagradável com eles. A uma perguntas de Antônio Paulo, que o maior relacionamento de Lampião era com o meu parente Sebastião. Soube até que ele tem um rifle do bandido para consertar, além de um cantil que eles mandaram fazer de zinco e tem ainda umas cartucheiras enfeitadas de metal, também para conserto.

 O encontro com Sebastião

Sem mencionar o sobrenome de Sebastião, Antônio de Amélia conta as providências tomadas na articulação de seu plano para vingar a morte do sócio Mizael. Protestando, de inicio, suas ligações com o grupo de Lampião, Sebastião findou concordando com Antônio de Amélia. No momento travou-se este dialogo, entre os dois:

- Sebastião, vamos liquidar esses cabras?

- Não, porque ninguém pode. Eles são muito desconfiados e valentes como cobras venenosas.

- Confie no meu plano. Garanto que dará certo.

- Estou até esperando por alguns deles, para entregar umas encomendas.

 A longa espera

Atendendo a uma sugestão de Sebastião, Antônio de Amélia conta que, em companhia de pessoa indicada por Sebastião, se dirigiu para o local não muito distante do sitio onde o seu parente teria encontro com os cabras de Virgolino. Ali aguardaria as noticias de Sebastião ou a ordem para se apresentar na casa onde estavam os bandidos. Antônio de Amélia conta que, durante oito horas, escondido no mato, ficou a espera de Sebastião, que só apareceu as dez da noite, esclarecendo que teve que realizar algumas compras em Inhapi e, de volta, demorou numa festinha de casamento.

- Pensei - disse Antônio de Amélia - que você tivesse denunciado o plano e nós é que iriamos morrer: A seguir Sebastião meio pessimista quanto ao bom resultado do plano do seu parente:

- Não vai dar jeito para vocês, apesar de Lampião não ter vindo com os cabras que já estão aqui. Quem veio comandando os cangaceiros foi Luiz Pedro, agora, tem muita gente. Estão distante daqui, uma légua.
Fingiram haver morto um soldado para gozar da confiança dos cangaceiros.

Distante uma légua do sitio onde se encontravam Antônio de Amélia, seu primo Sebastião e Antônio Tiago, compadre do primeiro e amigo para enfrentar as mais difíceis situações, estava acampado um dos grupos do famoso bandoleiro do Pajeú. Foi neste local, conta Antônio de Amélia, que Sebastião, conhecido do grupo, pois para eles trabalhava em serviço de consertos de armas, costura de embornais e outras atividades de sua profissão, apresentou-me a mim e ao compadre Antônio Tiago: - Aqui é gente minha - esclareceu na hora da apresentação, adiantando: - Eles mataram um soldado e estão refugiados na Casa de João Aires. A policia os anda perseguindo, embora não saiba onde eles se encontram.

A historia da "morte" do soldado, ardilosamente criada por Antônio de Amélia, foi o bastante para que os estranhos passassem a gozar da simpatia e confiança do grupo. Para eles, cabras de Lampião era herói quem assassinasse um soldado e duas vezes herói quem matasse um oficial.

Integrados ao grupo, Antônio e seus companheiros passaram a dar os últimos retoques no plano. Pelo menos já haviam conseguido penetrar no bando, o que muito facilitaria a execução de tudo quanto imaginaram perpetrar para vingar a morte do sócio Mizael. Naquele mesmo dia, a sombra das árvores, comeram, beberam e dançaram, homem com homem.

Encontro com Lampião.

Reunidos ao grupo chefiado por Luiz Pedro, prossegue Antônio de Amélia na sua narração - Fomos a Fazenda de Pedro Ferreira, um amigo de Lampião.

Ali recebidos com muito queijo e carne seca de bode. Neste local os cabras demoraram pouco tempo. Daí seguiram ao encontro do chefe. A apresentação da mais nova aquisição do bando foi feita por Luiz Pedro.

- É gente de Sebastião - explicou o apresentador sob o olhar meio desconfiado de Lampião. Dada a grande confiança que gozava Sebastião junto a Lampião e seus cabras, os visitantes logo puderam ficar a vontade.

Grupo se divide para confundir as volantes

Contou-nos Antônio de Amélia: Todos os elementos do grupo estavam reunidos. Lampião, tendo ao seu lado a companheira inseparável Maria Bonita, começou a distribuir ordens. Precisava demorar, por muito tempo, naquele acampamento, para repouso, depois de longas caminhadas e reiterados encontros com as volantes policiais e de ataques a indefesas cidades nordestinas. Chamando Suspeita, um dos seus fiéis comandados, ordenou que fosse a cidade de Mata Grande. E prosseguiu o Rei do cangaço:

- Receba umas encomendas de Sebastião e depois, da Mata Grande mate Alfredo Curim, Zé Horácio da Ipueira e faça 6 ou 7 mortes na família dos Bentos que é para ficarmos aqui despreocupados. De lá viaje para onde quiser, que passe fora uns 15 dias a um mês. 

Alegando Suspeita, que os cangaceiros do seu grupo precisavam arrumar certas coisas, Lampião autorizou que retirasse elementos de outros grupos. Foi aí que Fortaleza, que era do grupo de Luiz Pedro, Medalha, que sempre acompanhava o chefe, e Limoeiro, que pertencia a outro, passaram a compor o pessoal de Suspeita para o cumprimento daquelas ordens. Ao mesmo grupo nos incorporamos. Isto é, eu, Sebastião e Antônio Tiago. Mais tarde, quando estávamos de passagem pelo município de Santana, Zeca, irmão de Sebastião e Alfredo, seu primo, se reuniram a nós, após as necessárias apresentações.

Em diferentes direções outros grupos saíram.

Seguindo as ordens do capitão Virgolino, diversos grupos seguiram em diferentes direções, com o mesmo objetivo de desviar a atenção das volantes e facilitar a permanência de Lampião, naquele local: Um deles, disse-nos Antônio de Amélia, se dirigiu a Matinha de Agua Branca, terra da famosa baronesa, cujas jóias foram roubadas por Lampião, no inicio de sua carreira.

Cangaceiros deram para desconfiar.

Acampados no meio da mata, Suspeita e sua gente aproveitaram a presença de Zeca, primo de Sebastião, que era bom rabequista, para, ao lado de uma fogueira, dançarem e beberem durante toda a noite.

Antônio de Amélia prossegue na sua narração: Aproveitando os cabras entretidos na dança, chamei Sebastião e disse para ele: vamos ter um pouquinho de cuidado com os cabras. Parece que eles estão um pouquinho desconfiados. Chamei depois o meu compadre Antônio Tiago e combinamos: 

- O primeiro tiro será dado por mim em "Fortaleza". Compadre Antônio cuida de "Limoeiro" e Sebastião de "Suspeita".

Aguardaremos, com cuidado a melhor oportunidade. Neste momento pude observar que Suspeita e Fortaleza se isolaram do grupo e, todos equipados, se dirigiam a um riacho nas proximidades do lugar de nosso acampamento.

Foi aí que Sebastião se dirigiu até o local onde os dois se achavam e perguntou:

- O que está havendo com você, Suspeita, que está triste e capiongo? 

Ao que Suspeita exclamou:

- Nada não, companheiro. Quem anda nessa vida precisa ter todo cuidado. Precisa confiar desconfiando.

Sebastião retrucou:

- Então está desconfiando de mim que tudo tenho feito por vocês e gosto de você e do Capitão? Neste caso não mande mais me chamar para coisa nenhuma. E saiu para perto da fogueira. 

Diante da reação de Sebastião tudo voltou ao normal no acampamento, mesmo porque advertir, - disse Antônio de Amélia - para cessar a dança e o barulho da rabeca, pois dada a pequena distancia daquele local para a estrada, poderiam ser surpreendidos por alguma volante.

Tentativa frustrada.

Prosseguindo na entrevista, comenta Antônio de Amélia: todos reunidos ao pé da fogueira contavam anedotas ou relembravam fatos pitorescos ocorridos em outras ocasiões. Medalha levanta-se e se encontra a um pé de catingueira, enquanto Fortaleza se ampara em um toco escorou o embornal e ficou voltado para o fogo. Limoeiro, ao lado de Antônio Tiago, ouvia as historias que outros contavam. Foi neste momento que, ao me aproximar cautelosamente de Fortaleza, baixei o mosquetão em cima dele mas pinou a bala. Foi quando procurei despistar colocando rápido o rifle as costas e fui passando debaixo dos galhos das árvores.

Nisto gritou Limoeiro:

- O que foi?

- Foi o galho que pegou aqui na mira do rifle. 

Passando o episódio, frustrada a primeira tentativa de liquidar os bandidos, pude distanciar-me um pouco e sacudi a bala fora, colocando outra na agulha. Antes, justifiquei o caso afirmando inexperiência no uso de armas daquele tipo.

A hora da vingança.

O momento da vingança chegou: disse o tenente Antônio, de volta após mudada a bala que falhou e colocada outra na agulha, desci o mosquetão e o primeiro tiro pegou na cara do bandido Fortaleza, que enterrou os pés e caiu em seguida por sobre os paus. Dei o segundo tiro que o atingiu no ombro. Nisto ouvi disparo: Era compadre Antônio Tiago havia atirado em Limoeiro, enquanto numa sequência rápida, Sebastião pegou Suspeita pelo meio.

Alfredo ataca Medalha e saíram aos trancos e barrancos numa luta corporal danada. Corri para lá e encontrei suspeita com Sebastião imprensado na ribanceira do riacho tentando puxar o punhal que, por ser grande demais, não dava para arrancar da cintura. Sebastião então grita para mim: chegue se não este cabra me mata. Bati com a boca do mosquetão no pé do ouvido do cabra que o sangue acompanhou. Nisso Sebastião pode dominar Suspeita e joga-lo no chão. Quis usar novamente o mosquetão, mas Sebastião gritou:

- Não atire que você pode errar e me atingir, e mesmo o bandido já está morrendo.

Em seguida corremos para o lugar onde António Tiago e Limoeiro se engalfinhavam numa luta de gigantes. Eram dois negros enrolados numa luta feroz.

Nisso Sebastião pegou nos cabelos de Limoeiro e exclamou: foi este bandido que sangrou o o finado Mizael. Fui mandado, disse Limoeiro.

- Pelo amor de Deus não me sangrem. Atirem na minha cabeça, mas não me sangrem. 

Um tiro reboou na mata. Caia morto o terceiro bandido. Estava vingada a morte do amigo de Antônio de Amélia. Partimos para o lugar onde Alfredo, pegado com medalha, tentava mata-lo. Alfredo é desses cabras vermelhos de cabelo ruim que quando pegam um não soltam. Ao nos ver disse: 

- Decá uma faca. Deixem eu matar este peste.

Não permiti que matasse, explicando que deveria levá-lo para ser entregue as autoridades.

O diálogo entre Sebastião e Medalha

Outro episodio que nunca foi citado nos livros e reportagens sobre o rei do cangaço foi o que passamos a enfocar: já amarrado, pés e mãos, Medalha exclamou para Sebastião a que passou a tratar de Tião: 

- Como é que você faz dessas... chamar seus parceiros para vir matar a gente?

Ao que Tião responde:

- Vocês estão acostumados a matar com facilidade, nós também podemos matar vocês na facilidade.

- Eu não sou homem para ser preso, me atirem na cabeça... me sangrem que eu fico satisfeito.

- Você está preso e garantido, explicou Tião.

No meio da luta uma segunda vingança

Praticamente encerrado o impasse entre matar ou prender, entra em cena novamente Alfredo, de arma em punho. Com revolver colocado por cima dos ombros de Tião, desfechou um tiro certeiro na cabeça de medalha. Tombou o quarto bandido. É o próprio Tenente Antônio de Amélia, explica a interferência de Alfredo no caso Medalha:

No meio da luta o velho Felix, pai de Alfredo, ao se aproximar do local do acampamento foi atingido por uma bala no peito esquerdo e foi fulminado na hora. O filho, como um louco, viu o pai cair morto e não teve outra alternativa a não ser a de matar, com a pistola de Limoeiro, mais um bandido do grupo sinistro de Lampião.

Créditos: Roberto de Carvalho
Transcrição Antonio Moraes para o Blog do Sanharol
Correções e adição de imagens: Lampião Aceso

Adendo Lampião Aceso

A literatura nos diz que este grupo foi orientado pelo tenente Joaquim "Grande", mas em nenhum momento este ou outro oficial é citado por Antônio de Amélia. De acordo com a legenda das duas primeiras fotografias o fato ocorreu entre 18 e 19 de setembro de 1935 em Mata Grande Alagoas. 

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Informação do blogdomendesemendes: As fotos não estão aparecendo no bog do Kiko Monteiro lampiãoaceso.

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ANÁLIA FERREIRA IRMÃ DE LAMPIÃO

Por Geraldo Junior

Anália Ferreira irmã de Lampião em entrevista concedida ao jornalista Melchíades da Rocha enviado do Jornal A NOITE (Rio de Janeiro/RJ) logo após a morte de Lampião ocorrida no dia 28 de julho de 1938 na Grota do Angico em Sergipe, fala que sente profundamente a trágica morte do irmão, mas que por outro lado alegra-se por ter encerrado definitivamente a carreira de crimes do irmão cangaceiro.

Geraldo Antônio de Souza Júnior

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OPINIÕES - O CANGAÇO COMO ATRASO DO NORDESTE

por Paulo Goethe
  Arte Silvino - Diário de Pernambuco

Em abril de 1937, o repórter Fernandes de Barros foi enviado pelo Diário de Pernambuco para mostrar como as chuvas haviam mudado o cenário no interior do Nordeste. O seu relato, publicado no dia 24, com direito a quatro fotos feitas por ele, apresentava uma realidade que poderia escandalizar os leitores do litoral. Pior que a estiagem, quem vivia no semiárido sofria mais era com o banditismo, agravado por extorsões e saques praticados pelas volantes, que deveriam manter a ordem e o direito.

A reportagem de Fernandes de Barros apresentou uma abordagem que vem ganhando força entre os pesquisadores do fenômeno do cangaço nas últimas décadas. Entre 1919 e 1927, agiam no interior nordestino pelo menos 54 bandos armados. Essa movimentação gerava uma instabilidade econômica em uma região que já apresentava um desenvolvimento inferior em relação ao Centro-Sul do país. Todos os setores produtivos da sociedade sertaneja sentiam-se ameaçados. Além dos saques nas pequenas cidades e ataques a fazendas, Lampião – o mais famoso dos cangaceiros, que só saiu de cena em julho de 1938 – instituiu uma nova modalidade criminosa: o sequestro.

Os fazendeiros não estão dispostos a arriscar a vida morando em sua propriedade. Há o êxodo para as cidades. Agora, não mais pelo flagelo da seca: por uma questão social. Se ficarem trabalhando, no fim da safra Lampião iria buscar o dinheiro da venda do algodão e do gado que levara para Rio Branco (atual Arcoverde). O pobre que passou os doze meses do ano embrenhado na fazenda plantando e criando para sustentar a família é obrigado a dar tudo aos bandidos e ainda fica preso para resgate. Tem de escrever aos comerciantes seus amigos pedindo dinheiro, como muitas vezes já tem acontecido.

Quando o cangaceiro sai, vem a polícia. Acusa-o de coiteiro e lá é o homem preso de novo e será feliz se não for bater com os quartos na cadeia, e não levar uma surra, como sucede sempre e como se deu ano passado nos arredores de Alagoa de Baixo, conforme as reportagens publicadas a respeito nesta folha.

Resultado: para resolver essa grave situação, os fazendeiros prejudicados não trabalham e vivem na cidade esperando que os bois e os cabritos cresçam em abandono, para terem com que se manter.

Imagem: Blog do Crato
Durante 16 anos, de acordo com Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, autora de "A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão", Lampião impediu o fortalecimento de uma camada intermediária economicamente autônoma no interior nordestino. Luitgarde é a mais contundente crítica da ação dos fora da lei na região.

Ela calcula que, a partir de 1930, quando Lampião dividiu os cangaceiros em subgrupos, foram realizados cerca de 10 saques que rendiam 5 contos de réis por dia. Em 15 anos, a extorsão de pequenos e médios produtores sertanejos teria rendido a fortuna de 273 mil contos de réis, dinheiro suficiente para manter postos de pronto-socorro em cinco estados, além de uma Escola Normal e uma Profissional em cada um.

Enquanto os governos do Sudeste conseguiam subsídios para investir em produção e pesquisa, no Nordeste boa parte do dinheiro público era destinado ao combate à criminalidade. De acordo com Luitgarde, somente a Bahia recebeu 400 mil contos de réis para ação de combate ao cangaço, isso sem representar melhoria das estradas ou aparelhamento da polícia.

José Anderson Nascimento, em Cangaceiros, coiteiros e volantes, ressalta que o banditismo causou ainda uma grande queda de arrecadação nos estados nordestinos. Os cangaceiros assaltavam coletorias, incendiavam documentos, destruíam equipamentos. “Os fiscais não podiam viajar”, acrescenta. Luiz Bernardo Pericás, em seu livro Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica, ratifica a tese de que a criminalidade fez a diferença negativa no Nordeste.

De acordo com o jornalista Moacir Assunção, cujo livro Os homens que mataram o facínora: a história dos grandes inimigos de Lampião abordava os principais perseguidores do mais famoso cangaceiro, Virgulino Ferreira da Silva precisava manter a região que dominava bem longe do progresso: “Sagaz, ele percebia que o desenvolvimento do sertão conspirava contra o seu domínio.

Afinal de contas estradas, telégrafo, melhores comunicações e crescimento das vilas trariam, com certeza, mais soldados e proteção às pequenas povoações do interior. O seu tempo, como notava, passaria quando o sertão estivesse em melhores condições”.

No início da década de 1930, o caminhão passaria a ser mais usado como meio de transporte de tropas, constituindo uma poderosa vantagem para os inimigos do bandoleiro, em pleno governo Getúlio Vargas. Lampião chegaria a ameaçar alguns donos de caminhão que cediam seus veículos ao transporte de “macacos”. Menos de quatro anos depois, era a vez de entrar em cena as metralhadoras, que decretaram o fim dos cangaceiros.

Pescado no Diário de Pernambuco

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