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sábado, 13 de julho de 2019

JESUÍNO BRILHANTE X CORISCO: AS DIFERENÇAS ENTRE O PRIMEIRO E O ÚLTIMO CANGACEIRO

Por  Alfredo André

No final do século 19, nasceram diversos grupos de bandoleiros que transitavam pelo sertão como criminosos, combatendo o poder dos coronéis e recrutando os mais carentes aos seus bandos. O cangaço — formado por bandidos que fazem parte do imaginário nordestino até hoje — mudou bastante através das décadas. 
Muito do que se conhece e se fala do cangaço é equivalente ao que foi o começo do fenômeno, representado por Jesuíno Brilhante. Mas a figura mais famosa do folclore nordestino, o capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi um importante ponto de virada do fenômeno.
Lampião dominou o Nordeste a ponto de quase formar um império, e mudou muito as práticas conhecidas do cangaceirismo, como o auxílio aos populares e o combate aos coronéis. Essas mudanças fortes foram transmitidas ao seu sucessor, Corisco, o último grande cangaceiro.
Entenda as grandes diferenças do mundo do cangaço, do início ao fim, quando o governo federal realmente conseguiu investir no combate aos bandoleiros.
Entrada no Cangaço
Jesuíno Brilhante: Jesuíno Alves de Melo Calado era filho de fazendeiros do Rio Grande do Norte. Um dia, em 1871, seu irmão, que transitava na cidade de Patu, foi acusado e duramente agredido por homens que o acusavam de ter roubado uma cabra que, porém, lhe pertencia. Após o caso, Jesuíno entrou para a vida de bandoleiro como forma de combater a injustiça contra os menos poderosos.
Corisco: Na época em que o cangaço já era mais disseminado, muitos o viam como forma de fugir de sua vida anterior. Cristino Gomes da Silva Cleto, aos 17 anos, entrou em uma briga com um homem protegido pelos coronéis de Água Branca (Alagoas) e acabou matando-o. Fugindo da cadeia e da vingança dos coronéis, entrou para o grupo de Lampião sob o nome de Corisco (ou o apelido Diabo Louro).
Representação de Jenuíno / Crédito: Reprodução
Relação com a riqueza
Jesuíno: Para Jesuíno, a maior parte da riqueza foi roubada do trabalho honesto dos mais pobres, enquanto os mais ricos se corrompiam com o poder que criavam em volta do próprio dinheiro. Dentro da filosofia do Cangaço, ele era visto como o gentil-homem, ou seja, vivia de roubos que, depois de afugentada a polícia, eram repartidos entre os mais pobres. É a partir da ação de Jesuíno que o banditismo ganhou a fama de Robin Hood sertanejo.
Corisco: Assim como Lampião, Corisco tinha grande apreço pelas posses dos ricos, roupas elegantes, armas de qualidade, produtos importados e ostentação. Por isso, muitas das pilhagens realizadas por seu bando ficavam em meio ao próprio bando, que usava do dinheiro roubado para melhorar de vida e adquirir produtos nas cidades. Corisco, por exemplo, adorava um perfume importado que se vendia nas capitais. Pouco desse dinheiro realmente retornava aos mais pobres.
Corisco / Crédito: Wikimedia Commons
Aliança com coronéis
Jesuíno: Os coronéis eram vistos pelos cangaceiros como donos da terra e inimigos do bem estar do povo, pois seu poder de mando e desmando afetava diretamente a tentativa dos sertanejos de manterem sua vida tranquila. Por isso, Jesuíno Brilhante se posicionava como inimigo dos coronéis, por ser aliado do povo do sertão, dos posseiros, jagunços, agricultores e caminhantes. Jesuíno era famoso por roubar comboios de alimentos que seriam vendidos pelos coronéis e distribuir entre os populares. Também foi responsável, entre 1871 e 1879, pela criação do Estado paralelo sertanejo, que fundou uma sociedade livre de coronéis.
Corisco: Esse cangaceiro sabia que, entre coronéis, havia diversas desavenças. Se utilizando das disputas internas entre as fazendas, Corisco seguiu a tradição lampeônica de aliança com coronéis como forma de combater outros e, assim, conseguir benefícios — como suporte de armas importadas ou lugar para acampar de modo seguro. Muitas vezes, os bandos de Corisco foram usados para a segurança de algum coronel que tinha inimizades com inimigos comuns dos cangaceiros.
Virgulino Ferreia, o Lampião / Crédito: Wikimedia Commons
Código de Conduta
Jesuíno: A posição de Jesuíno era sempre a de apelar para a violência contra o coronel e a educação para com o povo, com o objetivo também de aprender o que desconhecia com os sertanejos comuns. Jesuíno teve uma educação privilegiada, mas, em ação, tentava ao máximo se aproximar da conduta de um agricultor comum, não assumindo uma posição de autoridade moral, mas a de mais um entre os oprimidos do sertão.
Corisco: As condutas de Corisco eram muitas. Principalmente porque, na cidade ou nas grandes fazendas, o homem alto de cabelos loiros fazia uma verdadeira pose de nobre, tentando passar a ideia de que possuía alguma superioridade intelectual. Ao mesmo tempo, era um homem extremamente violento com suas vítimas e uma pessoa marcada pela ironia e pela brincadeira, além do sadismo, em horas inoportunas.
A História de Jesuíno é contada em vários cordéis / Crédito: Reprodução
Diversão
Jesuíno: Ele aprendeu muito com a população que tentava proteger e, além das cantigas de roda e das brincadeiras em grupo, também conheceu bem jogos populares da época, brinquedos, jogos de palavra e três-marias. Aprendendo a viver de forma humilde, Jesuíno conheceu diversas atividades lúdicas que não exigiam muitos materiais e o integravam à comunidade.
Corisco: Na linha da vontade de ostentar e ter do bom e do melhor, Corisco aproveitou muito as inovações tecnológicas de sua época para se divertir. Andar de carro, jogar plataformas analógicas — equivalentes de época dos videogames —, participar de festas periódicas na cidade e usufruir de aparelhos eletrônicos em recém-desenvolvimento eram algumas das formas de diversão do cangaceiro, além, claro, de jogos de azar e a dança do xaxado.
Maria Bonita e o bando se divertem / Crédito: IMS
Objetivos
Jesuíno: Seguindo a imagem de Robin Hood do sertão, Jesuíno Brilhante tinha como principal objetivo o combate às injustiças que o sertanejo sofria nas mãos do Estado e dos ricos. Ou seja, o banditismo visava à luta contra os poderosos e a recuperação das riquezas pelos mais pobres, vistos como frequentemente roubados e injustiçados, apesar de sua constante honestidade.
Corisco: O cangaço nunca deixou de ser um movimento social que visava à melhoria da vida dos mais pobres. Porém, depois de Lampião, esse objetivo se tornou bastante marginal, perdendo centralidade pela busca de poder pessoal. Corisco tinha como objetivo se tornar um homem poderoso, mas também buscava a queda dos coronéis vistos como injustos e maldosos. A riqueza pessoal e a boa vida isolada dos circuitos comuns da cidade eram os grandes movimentadores do cangaço nos anos 1930.
Bando de Corisco / Crédito: Reprodução
Violência
Jesuíno: Obviamente, Jesuíno não era contra a violência. O banditismo dele aplicava sem grandes impasses a violência na prática do roubo e do sequestro, além de que muitas violências que hoje podemos apontar eram comuns e banalizadas no século 19. Ao mesmo tempo, algumas posições do grupo de Brilhante eram consideradas até progressistas, como a proibição do estupro de mulheres ou a intransigência contra a violência contra populações pobres. O uso das armas se continha ao roubo contra coronéis.
Corisco: Algumas características da conduta da violência foram comuns em todo o cangaço. Por exemplo, a regra contra o estupro de mulheres se mantinha, mesmo que muitas vezes ocorresse (segundo os lideres dos grupos, por amor). Porém, o trato com as populações mais obres por Corisco era muito mais violenta do que o cangaço do XIX. Quando a horda de Corisco e Dadá tomava uma pequena cidade, mesmo de pessoas com pouquíssima riqueza, a população era tratada com a mesma violência usada contra comboios e trens dos homens ricos. Muitas vezes, o bando de Corisco tratava com violência pessoas por pura diversão.

http://ocangaceiro.com.br/2019/07/10/jesuino-brilhante-x-corisco-as-diferencas-entre-o-primeiro-e-o-ultimo-cangaceiro/
O bando de Lampião foi todo caçado, sobrando só o de Corisco / Crédito: Reprodução

VISITEM O MAIS NOVO BLOG DO CANGAÇO


Aqui está o seu link:

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CORONEL ULISSES LUNA...X..DELMIRO GOUVEIA.. FAZENDA COBRA.



Edvaldo Feitosa, pesquisador, nos fala um pouco da Fazenda Cobra, pertencente ao Cel. Ulisses Luna. Esse casarão apareceu na mini série sobre cangaço ENTRE IRMÃS.

Dito coronel, também, teve contatos e, ajudou a família de Lampião.
Mais um excelente vídeo com o selo e a marca Aderbal Nogueira.


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PAULO HENRIQUE AMORIM


Por Cesar Cantu

Prezados (as),

As pessoas são diferentes? É evidente que são, apesar do 99% de DNA igual.

Uns são vassalos por mera conveniência individual ou simples servidão voluntária; praticam e abusam do rito do beija-mão escancarado aos poderosos como se fosse a glorificação da mente humana, mesmo quando surrupiados nas suas aspirações básicas.

Outros, altivos, autossuficientes, com personalidade e caráter elevados, agem em função do bem coletivo, às custas do próprio sacrifício e condições pessoais. Fazem por ideal, não por interesse.


É muito fácil descobrir o grupo ao qual PHA pertencia. E foi massacrado pelo medonho sistema que oprime a todos nós. Pressões de todo tipo, portas fechadas na carreira profissional, dezenas de processos que lhe consumiam muito tempo e muitos recursos. Certamente, sentia, no próprio corpo, os sintomas de tudo isso, mas não se deixou abater. Lutou até o final.

Será que recebeu a contrapartida dos beneficiados de sua luta? Certamente, muito pouco. Quantos contribuíam com o seu blog? Quantos se solidarizavam com ele apenas com referências positivas e compartilhamentos das suas falas? Sujeitar-se ao emprego na Record é uma prova das suas dificuldades.

Apesar de ter cumprido um pouco em todos esses aspectos, sinto-me constrangido hoje. Poderia ter feito muito mais em comparação ao que ele fez por mim e pela coletividade.

PHA morreu, mas a planta cultivada não morrerá, gerará muitos frutos e outras plantas germinarão.

A forma perece; o conteúdo, de valor, pereniza.

César Cantu
[Se julgar pertinente, faça seus comentários e repasse. Se não desejar participar desse debate multidoutrinário e interdisciplinar, favor se manifestar].

Enviado pelo autor.

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TRIBUTO A VIRGULINO

Por Anildomá Willans

A cultura e a história que pulsa nas veias do sertão já tem evento, local e data marcada para sua comemoração: O “TRIBUTO A VIRGOLINO – A CELEBRAÇÃO DO CANGAÇO”, será nos dias 24, 25, 26, 27 e 28 de julho/2019, na Estação do Forró e no Museu do Cangaço, em Serra Talhada/PE – Terra de Lampião e Capital do Xaxado. No evento haverá apresentações musicais com Trios e Grupos de Forró Pé-de-Serra, apresentações de Grupos de Danças Populares, Feira de Artesanatos, Área de Alimentação com comidas típicas da região, além da realização da CELEBRAÇÃO DO CANGAÇO, um momento em que todos os grupos e artistas convidados se reúnem para afirmarem a importância do Cangaço na identidade cultural do povo sertanejo, e O ESPETÁCULO O MASSACRE DE ANGICO – A MORTE DE LAMPIÃO, considerado o maior espetáculo teatral ao ar livre dos sertões, com 120 atores e técnicos, mesclando acontecimentos reais com o imaginário popular e o folclore, com vistas ao fomento nas artes cênicas na região do sertão nordestino, bem como a geração de emprego e renda para as cidades circunvizinhas e incentivando o turismo e a cultura local. Toda programação acontecerá em ESPAÇO ABERTO, SEM VENDA DE INGRESSOS


Realização:
Fundação Cultural Cabras de Lampião

Incentivo:
Funcultura / Fundarpe / Secretaria de Educação / Governo de Pernambuco

Apoio:
o Prefeitura Municipal de Serra Talhada.
o EMPETUR.
o SESC/PE.
o CDL.
o Casas Bandeirantes
o Prefeitura de Serra Talhada.

Serviço:
MUSEU DO CANGAÇO
Ponto de Cultura Cabras de Lampião
Vila Ferroviária, S/Nº – Centro
CEP: 56.903-170
Serra Talhada – Pernambuco
Tel: (87) 3831 3860 / 99938 6035
E-mail: cabrasdelampiao@gmail.com



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INFORMAÇÃO

Por Sálvio Siqueira

SEGUNDO OS DADOS ESCRITOS NA PRÓPRIA FOTOGRAFIA ABAIXO, OS CANGACEIROS DO SUBGRUPO CHEFIADO POR "SUSPEITA" FORAM ABATIDOS NUMA EMBOSCADA ARMADA PELO TENENTE JOSÉ JOAQUIM GRANDE.

DURANTE O EMBATE FORAM MORTOS QUATRO CANGACEIROS: O SUBCHEFE "SUSPEITA" E OS CANGACEIROS "LIMOEIRO", "FORTALEZA" E "MEDALHA". ALÉM DESTES, O CIVIL VOLUNTÁRIO, OU 'CACHIMBO', FÉLIX ALVES QUE FAZIA PARTE DA FORÇA COMBATENTE IMPROVISADA.
OS CORPOS DOS CANGACEIROS APRESENTAM-SE AMARRADOS EM QUATRO ESTACAS FINCADAS NO CHÃO. PELAS POSIÇÕES QUE APRESENTAM-SE, PROVAVELMENTE SUAS CABEÇAS JÁ HAVIAM SIDO CORTADAS, PORÉM, FORAM RECOLOCADAS EM CIMA DOS CORPOS PARA O REGISTRO HISTÓRICO.

NUM CONTRASTE SEM TAMANHO, COMPARANDO A SITUAÇÃO E POSIÇÃO DOS CORPOS DOS CANGACEIROS COM O CORPO DO CIVIL ABATIDO, AONDE VEMOS O CORPO DE FÉLIX DENTRO DE UM CAIXÃO.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

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ABAIXO VEREMOS UM DOS FAMOSOS 'BILHETES' QUE LAMPIÃO ENVIAVA A SUAS VÍTIMAS DE EXTORSÃO.


Por Voltaseca

OBS.: O crime de extorsão ocorre quando uma pessoa faz uso de uma ameaça para conseguir benefícios pessoais. É também conhecido popularmente como chantagem. OU SEJA: cobranças de quantias em dinheiro, as quais eram adquiridas através de ameaças feitas à família da vítima ou a própria vítima.

O crime de extorsão existe quando alguém busca adquirir algum tipo de vantagem de outra pessoa por meio de violência ou grave ameaça.

COM AMEAÇAS SEVERAS, O 'REI DO CANGAÇO" IMPUNHA SEU DOMÍNIO DE SERTÃO AFORA EM BENEFÍCIO DA SUA 'PAPO DE EMA'.

ALÉM DE DETERMINAR A QUANTIA, LAMPIÃO QUERIA 'RESPOSTA' URGENTE E DETERMINAVA PARA O EXTORQUIDO NÃO DENUNCIAR PARA A POLÍCIA SUA EXTORSÃO.


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DANIEL WALQUER

Por Aderbal Nogueira

Publicado a 13/07/2019

Participação do amigo Daniel no Programa Nordeste em Duas Rodas, programa dirigido por mim e que visita várias cidades do nordeste. Daniel nos deixou esse mês de julho de 2019.

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DELMIRO GOUVEIA E A PRIMEIRA ESPOSA



Um coronel estranho. Necessário lembrar que, neste caso, o termo coronel está se referindo aos antigos chefes locais do interior do Brasil, em geral grandes proprietários rurais. O título parece ter a sua origem na antiga Guarda Nacional nos tempos do Império. Com a descentralização política promovida na fase da Primeira República (1889-1930), esses chefes locais fortaleceram ainda mais a sua autoridade, manipulando as eleições e exercendo o controle do poder, principalmente a nível municipal.

Delmiro Gouveia (imagem acima) fugia desse modelo do coronel tradicional. Embora tenha começado a sua vida ligado às atividades rurais, sobretudo a compra e venda de couros no interior de Pernambuco, acabou conhecido como o industrial do sertão. Abriu uma grande fábrica no interior do estado de Alagoas, nas proximidades da famosa cachoeira de Paulo Afonso. Ao lado da fábrica, construiu uma vila operária pioneira para abrigar os seus empregados. De coronel a empresário, esta foi a trajetória deste personagem cuja morte está até hoje mal explicada.

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu em 1863, fruto de um relacionamento arrebatador entre Delmiro Porfírio de Farias, mais conhecido como Belo, de 34 anos, tropeiro e uma adolescente chamada Leonila Flora da Cruz Gouveia, que mal havia completado os 14 anos. A paixão levou Belo a raptar Leonila. Foram meses em fuga pelo sertão, pois a polícia e os jagunços enviados pelo pai da moça estavam no encalço dos dois amantes. Em meio a essa fuga nasceram Maria Augusta e o futuro coronel Delmiro. Logo depois, Belo foi convocado para a Guerra do Paraguai e não retornou mais. A viúva Leonila decidiu morar em Recife e ficou em dificuldades para criar os filhos, pois a sua antiga família a renegara depois da união com Belo. Contudo, pouco tempo depois, Leonila casou-se com o advogado Meira Vasconcelos, para quem trabalhava como governanta.


Quando Delmiro Gouveia completou 15 anos, sua mãe faleceu decorrente de problemas no coração. A partir daí, o jovem Delmiro resolveu ganhar a vida e começou a trabalhar. Tinha recebido as primeiras instruções em casa com a própria mãe e o padrasto. Exerceu os mais variados tipos de serviço, como bilheteiro em uma empresa de transporte urbano, condutor e depois, em 1881, tornou-se caixeiro no comércio de Recife. Fez amizade com o comerciante de algodão Francisco Xavier dos Santos, que o apresentou a um amigo, o tabelião Antonio Severiano de Melo Falcão. Este último tinha uma filha de apenas 13 anos, Anunciada Cândida ou Iaiá, por quem Delmiro se apaixonou. O casamento ocorreu em 1883 (na foto acima, Delmiro e dona Iaiá).

A situação do Nordeste nessa época não era das melhores e conseguir sobreviver não era fácil para aqueles menos privilegiados. As secas começavam a dispersar uma parte da população do sertão em direção à Amazônia, onde começava o ciclo da borracha. A riqueza da economia açucareira era uma lembrança do passado e as atenções do país estavam voltadas para o café, produzido no Sul. Contudo, a região apresentava a possibilidade da produção e comercialização do couro obtido do boi, cavalo, bode, carneiro, burro e até do jegue. A atividade atraia estrangeiros, entre eles o sueco Hermann Lundgren, cuja família fundaria o império das Casas Pernambucanas. Foi nessa atividade que Delmiro Gouveia começou a prosperar e como representante da casa norte-americana Keen Sutterly & Co. Ltd. . Logo depois de uma viagem aos Estados Unidos, Delmiro tornou-se o gerente de todos os negócios da firma em Pernambuco.


Em 1894 voltou aos Estados Unidos (na foto acima, Delmiro Gouvea diante das cataratas de Niagara) para comprar as instalações da firma norte-americana que havia encerrado as suas operações no Brasil. Delmiro também realizara outros negócios paralelos no ramo dos couros, que incluiam a poderosa empresa de peles norte-americana J. H. Rossbach Brothers.

Em 1897, era um comerciante próspero e construiu uma bela casa em Apipucos, nas proximidades de Recife. Delmiro tornava-se uma figura atraente na sociedade local e envolvia-se frequentemente com outras mulheres. Embora na sociedade patriarcal da época isso fosse algo comum, no caso de Delmiro ganhava muita notoriedade, principalmente o seu gosto por cantoras de ópera, as quais homenageava com presentes caros em sua própria casa. Sem condições emocionais de suportar esses escândalos, dona Iaiá resolveu deixá-lo em definitivo.

Delmiro Gouveia, ao contrário dos outros membros da elite dos coronéis, pensava em diversificar os seus negócios e em 1898 firmou um contrato com a prefeitura de Recife para instalar um Mercado Modelo, no antigo Derby Club da cidade. No ano seguinte, o mesmo já estava sendo inaugurado. A novidade para a população recifense: os preços inferiores aos dos outros lugares da cidade. O Mercado funcionava durante a noite com luz elétrica e tendo atrativos como carrosséis, teatro, hotel de luxo, velódromo e um sistema de transporte de bondes puxados a burro para levar o público ao mesmo. Era quase uma antevisão do moderno "shopping". Delmiro resolveu construir um palacete para residir próximo ao seu empreendimento.

Apesar do êxito popular de seu novo negócio, Delmiro Gouveia não estava sintonizado com a elite política dominante em Pernambuco e que era liderada pelo então vice-presidente da República, o Conselheiro Francisco de Assis Rosa e Silva. Um de seus aliados era o novo prefeito de Recife, o qual colocou uma série enorme de empecilhos ao funcionamento do Mercado-Modelo, como por exemplo, a proibição para a venda de carne. A fim de resolver a desavença com o prefeito, Delmiro viajou ao Rio de Janeiro para avistar-se pessoalmente com o vice-presidente Rosa e Silva e recebeu deste a promessa de que a perseguição acabaria caso ele e seus amigos apoiassem o governo de Pernambuco. Ao mesmo tempo, Delmiro tomava conhecimento, ainda no Rio, de que um pistoleiro conhecido como João Sabe-Tudo já se encontrava na capital para assassiná-lo. Logo depois, quando caminhava no centro da capital, na Rua do Ouvidor, Delmiro encontrou o vice-presidente Rosa e Silva na porta de uma loja e dirigindo-se ao mesmo, esbravejou contra a ameaça de morte que estava sofrendo. Em seguida, em um ataque de fúria, Delmiro agrediu o vice-presidente com a sua bengala, obrigando Rosa e Silva a se esconder dentro da loja, diante de uma multidão que se aglomerava e testemunhava o episódio.

A represália veio logo depois, no dia 02.01.1900, quando o Mercado-Modelo do Derby amanheceu em chamas. As autoridades locais acusaram o próprio Delmiro de ter mandado atear fogo ao mercado para receber o dinheiro de um seguro e a polícia recebeu ordens para prendê-lo. Delmiro teria dito depois que os policiais o insultaram moralmente para justificar a sua reação e assassiná-lo. Contudo, diante da pressão de seus amigos junto ao então governador, Segismundo Gonçalves, Delmiro foi libertado, mas teve de abandonar a capital pernambucana. O coronel ainda tocava os seus negócios, entre eles a venda de couros e uma usina de açucar.


Delmiro retornou dois anos depois a Pernambuco e conheceu uma moça de 16 anos chamada Carmela Eulina do Amaral Gusmão (imagem acima), que muitos apontavam como filha do governador em um caso extra-conjugal. Delmiro repetiu o ato do pai, raptou a menor e levou-a para o interior de Alagoas, onde comprou uma fazenda e se estabeleceu em um local chamado Pedra, às margens de uma estrada de ferro pouco utilizada e distante 20 quilometros da cachoeira de Paulo Afonso. Sim, ele foi processado por rapto e estava sendo procurado pela polícia. Posteriormente, o processo foi anulado por interferência dos aliados de Delmiro Gouveia. Eulina deu a Delmiro três filhos e permaneceu na fazenda, em Pedra, por cinco anos.  

Foi nesse lugar, aparentemente inóspito, que Delmiro realizou o seu grande empreendimento, o de explorar os recursos hidrelétricos da cachoeira de Paulo Afonso e estabelecer um centro industrial naquele local. A fazenda que adquiriu prosperou com a introdução do gado zebu e das vacas holandesas, além de cultivar uma planta cactácea que teria vindo do Texas, conhecida como palma. A partir dessa fazenda, Delmiro continuava a exportar couro para os Estados Unidos.


Sem acordo com o governo local para a instalação da usina de eletricidade, Delmiro resolveu explorar de forma particular a energia hidrelétrica no São Francisco. Trouxe geradores até as margens do rio e os fez atravessar por meio de uma ponte improvizada. Para colocar a primeira turbina, foi necessário descer a mesma de uma altura de 84 metros. Alguns autores afirmam que o próprio Delmiro orientou a descida pendurado em uma corda. Em 1913, a usina foi inaugurada. Em seguida, veio a fábrica (na foto acima, a entrada da Cia. Agro-Fabril Mercantil). 



A indústria dedicou-se à produção de linhas de costura. Máquinas foram importadas da Inglaterra, técnicos vieram da Europa, mil operários foram contratados, além dos trabalhadores utilizados nos campos para a produção de algodão. Em meados de 1914, a fábrica já estava produzindo fios, linhas para crochê, bordado e ainda cordões brancos e coloridos (na imagem acima, os escritórios da empresa). Os produtos tinham a marca "Estrela" e dois gigantes puxando um fio como símbolo ou logotipo. Em pouco tempo, a produção aumentou e a fábrica exportava para alguns países da América do Sul. 

Os anos correspondentes à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foram favoráveis aos negócios fabris no Brasil, diante das dificuldades de importação decorrente da guerra travada na Europa e Delmiro Gouveia soube tirar proveito dessa situação.


Outro aspecto a destacar desse novo empreendimento de Delmiro Gouveia foi a vila operária para abrigar os trabalhadores. As condições de vida dentro da mesma estavam acima das que eram encontradas na maior parte do sertão nordestino. Eram 250 casas com luz elétrica, água e um sistema de esgotos (na foto acima, a antiga vila com as casas). Mas as normas para viver lá eram rigorosas. Não era admitida a presença da Igreja Católica e nem as datas religiosas eram celebradas. Nem mesmo o carnaval era comemorado. O controle sobre os trabalhadores era exercido até dentro das próprias casas, onde os mesmos deviam seguir normas, como não usar chapéus e nem andar sem camisa. O próprio Delmiro inspecionava as casas que deviam ficar com as portas abertas. Aqueles que cometiam alguma falta grave eram duramente castigados. O estilo autoritário de Delmiro feria muitos costumes arraigados na vida dos trabalhadores, como a religiosidade. Por outro lado, médicos e remédios eram disponibilizados e havia diversão, apesar do controle com relação ao consumo de bebida alcóolica. 

A alfabetização era obrigatória para as crianças e foram implantados cursos noturnos para os trabalhadores. O regime de trabalho era de oito horas diárias com descanso semanal aos domingos. Uma Caixa de Previdência foi implantada mediante uma contribuição semanal dos próprios trabalhadores.


Não se têm notícia de morte violenta na fábrica localizada em Pedra, exceto uma, a do próprio Coronel Delmiro. Em 10.10.1917, às 9 horas da noite, quando estava na sua varanda lendo jornal, Delmiro foi alvejado com três tiros, um dos quais lhe acertou o coração. Três pistoleiros foram detidos e, sob tortura, incriminaram dois mandantes, que nunca foram presos, um dos quais por ter imunidade parlamentar. Dois outros suspeitos de encomendar o crime incluiam o pai de uma jovem que Delmiro seduzira e um amigo de Rosa e Silva, o vice-presidente que foi agredido pelo coronel.

Contudo, ficou sempre no ar uma suspeita, a de que Delmiro Gouveia tivesse sido assassinado a mando de seus concorrentes ingleses, mais precisamente da multinacional textil Machine Cottons. Não havia dúvida de que o crescimento do negócio de Delmiro incomodava esta empresa estrangeira. Os ingleses chegaram a boicotar os comerciantes que comprassem as linhas Estrela. A Machine Cottons tinha feito várias propostas de compra da fábrica de Pedra e sempre tendo resposta negativa da parte do Coronel Delmiro. Contudo, nenhuma prova do envolvimento da multinacional foi encontrada nos tiros que vitimaram o empresário. A fábrica continuou prosperando até 1924, quando passou para os três filhos de Delmiro Gouveia.

No governo do presidente Washington Luís, a política liberal então adotada reduziu a taxa de importação sobre linhas de costura. Diante da nova situação, em 1927, a fábrica foi vendida pelos herdeiros para a firma Menezes Irmãos & Cia., a qual, em 1929, a revendeu para a...Machine Cottons, que substituiu a marca Estrela pelas linhas da marca Corrente. Em 1930, a fábrica de Pedra foi desmantelada e as máquinas jogadas no fundo do rio São Francisco.

Para saber mais:

Marcovitch, Jacques. Pioneiros & Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil. São Paulo: Edusp e Editora Saraiva, 2007, vol. 3. 
Crédito das imagens: Grandes Personagens da Nossa História. Abril Cultural, 1969, pags. 845-860


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OS CANGACEIROS ZÉ SERENO E AZULÃO


Zé Aereno à esquerda e Azulão à direita.

Este cangaceiro atrás do Zé Sereno ele era "cabra" de Zé Sereno e morreu em 2004 na Rodoviária de Goiania, vitima de um ataque cardíaco.


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