Por José Mendes Pereira - (Crônica 10)
Meu amigo e
irmão Raimundo Feliciano:
Se a Casa de Menores Mário Negócio foi para nós, um divertimento de bagunças sem prejudicarmos ninguém, igualmente foi o Tiro de Guerra de Mossoró, que nos divertíamos a cada momento, muito embora, lá não só foi flores, passamos por provas difíceis, recebíamos dos sargentos carões fortes, quando errávamos os passos nas marchas, e os treinos de guerra nas imediações do campo de futebol Estádio Manoel Leonardo Nogueira.
No ano de 1970, todas as madrugadas, de segunda à sexta, você e eu, saíamos da Casa de Menores Mário Negócio em direção ao Tiro de Guerra, para cumprirmos aqueles ensaios de guerrilheiros, administrados pelos sargentos: Moura, Everaldo e Gumercindo.
O sargento Moura (1º. sargento), alto, magro, de olhos azuis, de cor galegada, e mantinha a ordem com severidade, mas na verdade, quando estava apaisana, era uma boa pessoa, que nos atendia como se nós fôssemos seus amigos. Era encarregado da 1º. turma de atiradores e residia na sede do TG.
O sargento Everaldo (2º. sargento), era baixo, de corpo largo, moreno, irritado e bastante moralista. Pouco falava com nós, atiradores. Mas em outros momentos, era gente fina. Qualquer erro praticado por um recruta, já estava escalado para fazer faxinas no TG, limpando janelas, varrer a quadra, limpar banheiros etc. E um dos que mais fez aquele trabalho, sem dúvida, foi você. mano, Meia volta, volta e meia, você estava escalado para fazer faxinas. Mas você não deve culpar ninguém, merecia, devido as suas brincadeiras. O sargento Everaldo era encarregado da 2º. Turma.
O sargento Gumercindo (3º. sargento), este estava no começo da vida, com 25 anos de idade, e de estatura média, meio atlético, moreno claro, de voz grossa e lenta, amigo de todos os recrutas, e que algumas vezes, ele escondeu falhas de atiradores. Residia no antigo Grande Hotel em Mossoró. O sargento Gumercindo era encarregado da 3ª. turma de atiradores, sendo nós dois, comandados por ele, e que muitas vezes, se irritou com alguns recrutas, mas logo estava de bem com todos nós.
Certa feita, numa madrugada, já bem próximo ao final da conclusão das nossas prestações militares com o exército, saímos da Casa de Menores já atrasados, que deveríamos chegar ao TG antes das cinco horas da manhã. E de lá, nós sairíamos em caminhadas até o local em que treinávamos tiros ao alvo (Apara Bala), localizado no Abolição I. Quando nós chegamos ao TG todos os atiradores e dois sargentos já haviam seguido viagem, apenas o sargento Moura se encontrava lá. Assim que nos viu, ficou xingando, chamando-nos de dois grandes irresponsáveis, por termos chegado atrasados ao TG.
Como ele iria no jeep, levando os fuzis, balas e outros equipamentos, para os nossos treinos, eu pedi que nos levássemos, já que a pé nós não chegaríamos tão cedo.
O sargento Moura foi curto e grosso, dizendo que não nos levava, porque os outros atiradores haviam caminhado cedo para o locar de treino, e nós, usando irresponsabilidades, àquelas horas, ainda estávamos no terreiro do Tiro de Guerra. E sem mais dizer nada, ligou o jeep, e deu partida em direção ao ponto de treinamento.
Eu gritei, insistindo, pedindo-lhe que nos levássemos no jeep até ao local de treino. Como ele e os outros sargentos já viviam irritados com você, devido o seu péssimo comportamento, a resposta que ele me deu, que me levava, mas o 138, você, não iria no jeep de jeito nenhum.
Como nós morávamos na mesma casa, e eu, não querendo deixar você para trás, respondi-lhe que, se ele não te levasse, eu não iria com ele. Ciente de que eu não iria, novamente deu partida no jeep. Mas ele se arrependeu. Andou muito pouco, rendendo-se, e em seguida gritou, nos chamando para irmos com ele.
O sargento Moura era professor de Educação Física no Colégio Diocesano, e iria passar lá, para comunicar aos dirigentes que, àquela manhã, não iria dar aulas aos alunos, porque estava indo para os treinos do Tiro de Guerra.
Nós caminhávamos pela rua dos fundos do colégio, e lá, ele desceu, nos dizendo, que iria até a secretaria do colégio, para fazer o comunicado da sua ausência naquele dia, recomendando-nos que logo voltaria da secretaria.
Assim que ele desceu e abriu o portão do colégio, nos recomendou, que uma porção de vacas que ruminava por ali, nós não a deixássemos entrar no quintal do colégio. Mas quando ele desapareceu da nossa vista o gado fez carreira e entrou na garra e na marra, sem que nós pudéssemos evitar aquela invasão do rebanho.
Ao sair do colégio e ao ver o rebanho de gado dentro do cercado, que na época era cerca, o sargento esbravejou, e quase nos engole, exigindo que nós colocássemos todos os animais para fora das dependências do colégio. Sem outra solução, fomos obrigados a correr atrás dos animais, e sem muitos esforços, finalmente, conseguimos expulsá-los de lá.
Mas o pior, foi o castigo que recebemos lá no treino. Você Raimundo Feliciano, teve que passar várias vezes em uma cerca de arame farpado, rastejando, e do outro lado, um cocô de vaca estava te esperando, deixando-lhe todo sujo e fedorento.
Os sargentos te marcavam, porque você não deixava ninguém quieto. Era um verdadeiro capeta. Foi uma grande sorte ter terminado o serviço militar em Mossoró, porque, você foi condenado várias vezes para ser mandado para a tropa em Natal.
Eram 64 pontos de faltas que nós tínhamos direito, e agradeça de coração, que mesmo você dando trabalho aos patenteados, muitas vezes, consideraram a sua ausência, aliás, quase todas as suas faltas foram causadas pelo seu péssimo comportamento, mas sem prejudicar a ninguém, apenas irritava os sargentos.
Aquela repartição militar nos deixou saudade!
O Tiro de Guerra de Mossoró já era para possuir uma sede grande. Mossoró não é mais aquela cidade criança. Tomara que isso aconteça. Até imagino um lindo prédio fora do centro da cidade.
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