Seguidores

quinta-feira, 31 de julho de 2025

CAPITÃO TIMÓTHEO E OS VIRIATOS.

Por Cícero Pereira de Sousa

 

No começo de julho de 1878, o Capitão Francisco Timótheo de Sousa recebeu ordens do Governo Imperial para combater os Viriatos, conhecidos bandidos que, homiziados em Boa Esperança, no Ceará, aterrorizavam fazendeiros e populações daquela província e dos vizinhos Rio Grande do Norte e Paraíba. Com apenas 28 anos de idade, embora já integrasse a Guarda Nacional, Francisco Timotheo ainda não havia consolidado sua liderança na região, a ponto de poder organizar com a rapidez que o caso requeria, um contingente capaz de cumprir com sucesso tão grave missão.

Os homens de que dispunha no momento não passavam de trinta e cinco, embora contasse com um bom armamento de fuzis, mosquetões e rifles,além da coragem e lealdade desses valorosos companheiros. Por outro lado, a grande seca de 1877, que ceifou centenas de milhares de vidas naqueles sertões, continuava vitimando famílias inteiras com epidemias e doenças de todo tipo. Para completar, os constantes assaltos de bandos armados que pululavam por todo o sertão, representavam impedimento à ausência daqueles homens de suas próprias casas, ainda que por pouco tempo. Mesmo assim, tão logo pôde, o Capitão os convocou e se organizaram todos para a luta.

Foi nessas condições desfavoráveis que partiram de Bonito-PB, na madrugada de 25 de julho de 1878. Rumaram até São José de Piranhas-PB e, a partir daí, seguiram pela estrada das Cuncas. Era a mais curta, embora acidentada. Seguindo pelo Vale do Piranhas, com suas terras férteis e matas ainda fechadas, rumaram por umas trilhas pedregosas até atingirem o sopé da serra do Bongá. Dalí por diante, em direção ao oeste, tiveram que enfrentar sucessivas ladeiras para chegarem ao sítio Barros, (hoje cidade e à época pertencente ao Termo de Milagres, no Ceará). Gastou-se um dia e meio de viagem até esse ponto. Aí, na fazenda de um amigo, para descanso da tropa e refazimento dos animais, o Capitão resolveu acampar antes de percorrer o último estágio da caminhada até Boa Esperança (Cangati), o reduto do inimigo.

Quando ainda se preparava para essa missão, o Capitão Timotheo teve o cuidado de avisar o seu grande amigo e compadre José Guimarães, um português conhecido como Cazuza Marinheiro, residente em Cajazeiras-PB. Ao receber a mensagem, Cazuza exclamou para o portador: - Meu compadre ficou doido! Enfrentar aqueles bandidos com apenas trintae cinco homens? Volte agora mesmo e diga a ele que eu vou também. Pra vencer ou pra morrer com ele! Comerciante abastado e bem relacionado na região do Rio do Peixe, Guimarães depressa conseguiu recrutar cem homens bem armados e marchou com eles em auxílio do amigo Timotheo.

O COMBATE

Francisco Timotheo acercou-se de Boa Esperança, com os seus comandados, no início da noite do dia 26. No entanto, já tinha decidido que só atacaria na manhã seguinte, pois tinha conhecimento de que aqueles bandidos agiam à noite e dormiam durante o dia(*). Os Viriatos, por sua vez, ao notarem a aproximação daquela pequena tropa, debocharam, mandando repicar o sino da igreja e tocar sanfona, zabumba e cornetas, em clima de festa. (*) José do Patrocínio, em seu livro Os Retirantes, p 84, escreveu: Os Viriatos andam à noite, como as corujas agoureiras, com as onças; assustam e matam sem ver a quem o fazem. Nenhum deles por isso mesmo conhece as suas vítimas, nem é por elas conhecido, e no entanto ficam da passagem dos bandidos rastros de sangue e de cinzas, resultado dos assassinatos e dos incêndios .É noite e chove. Uma raridade nos sertões, durante julho. Um pouco pela chuva, um pouco pela iminência dos combates, ninguém dorme. Todos aguçam os ouvidos. Continuam repicando na escuridão os sinos da Capela da Conceição e as danças ao som das sanfonas e dos zabumbas. Entre os homens do Capitão, o silêncio. Diálogo mudo na treva chuvosa, prelúdio daquele combate histórico que fuzis, rifles e bacamartes travarão, mal desponte o dia.

Na manhã de 27, quando cessou o irônico folguedo na praça centralde Boa Esperança, o Capitão ordenou o ataque, suspendendo o sono dos Viriatos. Não durou muito para que estrugissem repetidos, prolongados e pavorosos viva aos Viriatos e, ao mesmo tempo, o bater dos mourões nas portas e janelas das casas. O espanto e a confusão propagaram-se e, de imediato, em todas as residências, cada um, temendo pela própria sorte, buscava refúgio para não ser atingido. A batalha começou heroicamente, envolvendo os combatentes dos dois lados, com um novo ressoar de cornetas e a vibração do sino daigrejinha. Desta vez, não mais em festa. Após três horas de um cerrado tiroteio, Francisco Timotheo, considerando sua posição de inferioridade em homens e armas, pensou em recuar. Contra ele, com mais de cem mosquetões e bacamartes, a artilharia inimiga, favorecida pela configuração topográfica do terreno, disparava cem cessar. Mesmo nessa condição, o Capitão logo ponderou: - “Uma retirada agora, em plena luz do dia, seria insensatez. E, para onde? Por onde? Seria levar ao sacrifício homens extenuados por dois dias de uma longa caminhada, uma noite sem dormir e horas a fio de intenso combate. – Eu nunca recuei na vida, por maior que fosse o perigo. Não será agora, quando empenhei minha honra e a de tantos companheiros que vou fazê-lo. Portanto, vou prosseguir.” Por volta do meio dia, quando o efetivo do Capitão já oscilava entre o cansaço e o desânimo, chegou o amigo Cazuza Marinheiro com a sua tropa, composta por cem guerreiros, ansiosos por entrarem na luta. -Compadre! – disse Cazuza a Francisco TImotheo. – Os seus homens estão exaustos! Recue para descansar com eles, enquanto eu e os meus assumiremos o ataque.

O tiroteio seguiu por toda a tarde, ora esparso ora mais intenso. Com o reforço de Cajazeiras, foram bloqueados os demais acessos à fortaleza dos Viriatos, do Muquén e de Monte Alegre (hoje um posto fiscal), ficando os bandidos completamente isolados. Favorecido por essa vantagem, metade do batalhão de Cazuza Marinheiro marchou veloz, sob uma saraivada de balas, até o início do arruado onde se entocavam os bandidos, a pouco mais de cem metros da igreja. Em menos de uma hora pisavam no centro de Boa Esperança os primeiros guerreiros do seu valoroso grupo, dispostos a tomar de assalto a cidadela. Alguns tombaram ali mesmo, atingidos pelos tiros do inimigo entrincheirado no interior do casario, que se erguia em torno da praça. Enquanto isso, houve um princípio de desorganização na formatura do combate, por parte das forças do Capitão. De repente, embora extenuados, seus soldados se reanimaram, vendo avançar à sua frente o próprio Francisco Timotheo, manejando seu rifle Winchester com a mesma presteza e velocidade com que os bandidos assomavam e desapareciam nas cumeeiras das casas em volta. Já era madrugada do dia 28 quando o Capitão foi informado da chegada de mais reforços. A boa notícia vinha de Lavras da Mangabeira (distrito de Milagres), no Ceará. Era uma volante composta de cento e quarenta homens da polícia estadual, com ordens para se apresentarem aele e submeterem-se ao seu comando. Com esse novo contingente, as tropas legais resolveram invadir, definitivamente, o reduto do inimigo. 

Acossados, os Viriatos e seus sequazes, que apesar das perdas, ainda somavam quase duzentos homens, fortaleceram suas trincheiras, com certa vantagem sobre os atacantes, uma vez que se posicionavam fora da pontaria destes. Os combates, agora mais organizados e também mais ferozes com a entrada do elemento policial, prosseguiram por mais três horas consecutivas. Sentindo-se perdidos, os bandidos atacavam atônitos, apenas o tempo necessário para uma pontaria malfeita, uma descarga e recuavam. Em seguida, protegiam-se pelas casas adentro, ou então lançavam-se, atrevidamente, sobre os invasores num desespero suicida, empunhando sabres e punhais num corpo a corpo de vida ou morte. Era uma cena dantesca, que provocou inúmeras baixas em seu próprio reduto. Por fim, perdidos e sem mais ilusão de vitória, os Viriatos improvisaram a própria fuga. Liderados por José Vicente Viriato, sob intenso tiroteio, os principais chefes do bando deslocaram-se de suas posições até o interior da capela onde algumas famílias permaneciam em segurança e rezavam. Ali eles rasparam barbas e bigodes, trocaram de roupa com suas companheiras, fizeram turbantes com tiras de pano na cabeça e fugiram disfarçados de mulheres. Muitos outros empreenderam a fuga rompendo as paredes internas das habitações e transpondo-as, uma a uma, até atingir o extremo da rua, por onde se evadiram. A formação dessas casas, todas conjugadas, facilitou essa estratégia de fuga.

Terminado o conflito, Francisco Timotheo dirigiu-se à Capela do lugar para agradecer a Deus pela vitória. Ao adentrar o seu interior, surpreendeu-se com a presença ali de dezenas de mulheres assustadas e em pranto, todas vestindo roupas masculinas. Diante disso, determinou aos seus comandados, que perseguissem imediatamente, e abordassem qualquer bando, ainda que de senhoras, caminhando às pressas, nadireção de Milagres-CE ou de Cajazeiras-PB. Retornando, tranquilizou aquelas criaturas aflitas, prometendo respeitar a integridade física dos prisioneiros e rezou com elas. Deu graças também porque nessa refrega a grande maioria dos seus comandados retornaria ao seio de suas famílias sãos e salvos. Apenas um deles perdeu a vida e seis sofreram ferimentos em combate. Mandou tocar o sino da capela e saiu. Eram 18 horas do dia 28 de julho de 1878.Perseguidos, o mais valente dos Viriatos, José Vicente, resistiu e foi morto. Seu irmão Miguel entregou-se às forças legais e foi conduzido com vários outros prisioneiros para Fortaleza, onde seriam julgados e condenados por seus inúmeros crimes. 

Quase seis meses depois, os jornais do Ceará publicavam as informações oficiais da guerra contra os Viriatos: [...] contavam-se treze mortos, sendo doze dos Viriatos e um das forças legais. Os feridos eram muitos de lado a lado. Ao retornarem para suas bases, os vencedores conduziam vários prisioneiros, cem cavalgaduras e grande quantidade de ouro e moeda, fruto dos inúmeros assaltos dos bandidos.

Cícero Pereira de Sousa, Bacharel em Ciências Jurídicas, escritor e pesquisador, consultor do SEBRAE, Ex Diplomata da ONU / FAO

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS É UM BOM COLÍRIO

 Por José Mendes Pereira

Identidades: 1 - Zé Paulo, primo; 2 -Venâncio Ferreira, tio; 3 - Sebastião Paulo, primo; 4 - Ezequiel, irmão; 5 João Ferreira, irmão; 6 -Pedro Queiroz, cunhado (casado com Maria Mocinha, que está à sua frente, sentada); 7- Francisco Paulo, primo; 8- Virgínio Fortunato da Silva, cunhado (casado com Angélica) 9 – Zé Dandão, agregado da família. Sentados, da esquerda para direita: 10 - Antônio, irmão; 11-Anália, irmã; 12 - Joaninha, cunhada (casada com João Ferreira); 13 -Maria Mocinha, ou Maria Queiroz ,irmã; 14-Angélica, irmã e 15 - Lampião. Dos nove irmãos da família Ferreira, dois estão ausentes nesta foto: Levino, que morrera no ano anterior, 1925, no sítio Tenório, Flores do Pajeú/PE, em combate contra as volantes paraibanas dos sargentos Zé Guedes e Cícero Oliveira. E Virtuosa, que, sinceramente, não sei dizer se simplesmente não quis aparecer na foto, ou já era falecida. Élise Jasmin afirma no seu Livros cangaceiros, que esta foto foi feita por Lauro Cabral de Oliveira, que dividiu então com Pedro Maia, a fama de fazer as fotos de Lampião, bando e familiares em Juazeiro, Março de 1926. Fonte: Volta Seca.

Às vezes, a gente ignora o péssimo comportamento de um amigo, um primo, parente..., ou até mesmo de pessoas que nem fazem parte da nossa família, convivência, do nosso círculo de amizade. Mas para julgarmos o outro, o certo seria colocarmos no seu lugar, para depois abrirmos a boca e dizermos o que bem pensamos do outro.

Muitos que ainda não conhecem o que significa a palavra "cangaceiro", e o porquê das perversidades que fez o rei do cangaço e seus comparsas, acham que eram uns verdadeiros desumanos. Na verdade eles eram. Mas para o sujeito saber como tudo começou e dar a sua opinião, é preciso que leia livros sobre o cangaço, os quais encontrará em diversas livrarias do nordeste e do Brasil, como por exemplo: diretamente na Livraria do Professor Pereira, lá em Cajazeiras, no Estado da Paraíba, através deste e-mail: franpelima@bol.com.br.

A péssima e aperreada vida que ganhara a família de José Ferreira da Silva, não foi fruto de si mesma, mas causada por vizinho que não teve um tico de dó, mudando a sua bela vida que tinha nas terras de Pernambuco, desmoralizando-a desnecessariamente, só no intuito de vencer, de magoar, de humilhar, de vingar as acusações de roubos de animais  feitas por Virgulino Ferreira da Silva, o futuro Lampião.
  
Lampião consertando equipamento

Baixar a cabeça e entregar o lombo para o inimigo bater, o que irá acontecer é que o castigador sente logo a fragilidade do castigado, que não tem coragem de reagir, e daí passará a enfrentá-lo para vencê-lo de qualquer forma, já que o castigado aceita. 

Foi o caso do patriarca José Ferreira da Silva, homem íntegro, paciente, honesto, e não queria ver nenhum escândalo dentro da sua família, e nem desavenças com os seus vizinhos, principalmente causadas pelos seus filhos, findou no que findou. Se desde o início José Ferreira da Silva tivesse endurecido o pescoço, como se diz, contra qualquer um dos seus vizinhos que tentasse lhe desrespeitar, juntamente com seus filhos, tinha evitado tamanha confusão, e o inimigo, no caso o Zé Saturnino, teria temido, e a confusão perderia forças para seguir, morrendo ali mesmo. E como José Ferreira não apoiava os filhos, Zé Saturnino já sabia que uns a menos na confusão não participariam, no caso José Ferreira, esperava vencê-los de qualquer jeito.


Antes que julgue a família Ferreira, adquira logo o livro "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS", de autoria do escritor e pesquisador do cangaço José Bezerra Lima Irmão, para você entender o que realmente aconteceu com os Ferreira nos anos 20 e 30 do século passado.

Encontro em Piranhas. Da esquerda para a direita: José Bezerra Limã Irmã, Paulo Brito, já se encontra co,m Deus,  e Oleone Coelho Fontes. Paulo Brito, filho do legendário João Bezerra, que comandou a tropa no tiroteio da Grota do Angico, quando morreu Lampião, sustém na mão o livro "No Rastro das Alpercatas do Conselheiro", de Oleone Coelho.

O livro é cheio de informações que muitos estudiosos do cangaço ainda não conhecem. O leitor irá conhecer a vida dos Ferreira, desde os pais de José Ferreira e dos pais de dona Maria Sulena da Purificação, casamento dos patriarcas dos Ferreira, primeira residência, mudanças de sítios para outros, empurrados por

Zé Saturnino da Fazenda Pedreiras - o inimigo nº 1 de Lampião

Zé Saturnino, as propriedades que os pais dos Ferreira possuíram, comprovadas com documentos e cópias em poder do autor do livro; sofrimentos, humilhações, decepções, perseguições, acordos, roubos de animais..., mortes dos pais dos Ferreiras..., a causa da morte de dona Maria Sulena (Maria Lopes), a morte de José Ferreira da Silva... 

O livro é uma excelente obra, e foram 11 anos de pesquisas. O livro não é apenas a família Ferreira, está completo sobre "cangaço". Eu falei apenas um pouquinho sobre a família Ferreira, mas tem tantas novidades que você ainda não as conhece.

- Total de Páginas: 736
- Tamanho: 29 centímetros
- Largura: 21 centímetros
- Altura: 4 centímetros

Para você adquiri-lo é através deste e-mail:
josebezerra@terra.com.br - ou ainda franpelima@bol.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com

A ÍNDIA KATHAUÃ COBRA DE FILHO QUE MALTRATA SEUS PAIS

Por José Mendes Pereira

 Fonte da imagem: https://publicdomainvectors.org

Boatos se espalham de repente. Se for bom, demora mais um pouquinho chegar à boca de fofoqueiros de calçadas, mas se o boato for ruim, ele corre o mundo mais rápido, e não escolhe as classes, atingindo até as sociais.  

A imagem pertence ao site http://galeria.colorir.com/contos-e-lendas/indios-e-vaqueiros/indio-pintado-por-ma-183069.html

O índio “Piatã” era um dos que vivia da caça e da pesca às margens do rio Mossoró, mas não gostava de respeitar o seu pai “Kauê”, um índio conhecido em toda região mossoroense e comunidades adjacentes como bondoso, mas vez por outra, o filho dava-lhe chicotadas sem olhar para o lugar que iria bater. 

A imagem pertence ao site http://www.colorir.blog.br/desenhos-para-colorir/desenhos-de-idosos-para-colorir

O velho “Kauê” tentava  se defender de todas as maneiras dos maus tratos praticados pelo filho, implorava até pelo amor de Deus para não ser maltratado, mas não tinha jeito, ou merecendo ou não, “Piatã” batia sem piedade no velho pai “Kauê”.

A imagem pertecne ao site https://tudorbrasil.com/2014/04/16/a-roupa-da-classe-baixa-e-media-no-periodo-tudor/

A índia “Thaynara”, mãe do Piatã, e companheira do Kauê, quando via a brutalidade do filho fazendo com o pai, partia para cima do impiedoso com gosto de gás, e em suas mãos, um pedaço de pau, e, com toda sua força feminina, fortemente o batia, pois o que ela queria era defender o seu companheiro dos maus tratos daquele animal produzido por eles dois. Mas, geralmente, mãe e filho apanhavam um do outro, isto é, de igual para igual.

Imagem pertencente ao site https://commons.princeton.edu/indigenous-brazil/os-potiguara-povo-guerreiro-povo-pacifico/

Aquela restrita vizinhança indígena temia defender o velho “Kauê” dos maus tratos praticados por “Piatã”, a sua violência poderia acontecer contra ela, e ali, viraria uma comunidade indígena sem código, sem ética, sem rumo e sem respeito.

Ninguém sabia explicar o porquê de tanto ódio armazenado na mente do “Piatã” contra o seu genitor Kauê, o velho sempre estava ali, na hora em que aquele infeliz precisava, mas como pagamento, recebia fortes chicotadas daquele amalucado, um satanás em forma de gente.

A índia "Thaynara" chorava e se lastimava da má sorte que ganhara do mundo. Um filho totalmente desequilibrado, não tinha um tico de dó do velho seu pai, com a idade avançada, andando devagar e com poucas chances de se defender, quase diariamente, ter que passar por violentas surras. O ódio do “Piatã” contra o pai era permanente, o velho estava sujeito a levar boas lapadas, e reclamava da péssima vida que ganhara: 

Um inferno surgiu em minha cabana, assim que o meu filho “Piatã” engrossou a voz, o pescoço e braços!

- Paciência, meu velho Kauê, paciência! Se nascemos para o sofrimento, vamos sofrer juntos, até os nossos últimos dias das nossas vida.

- Calma, Kauê! Calma! Se Deus nos trouxe ao mundo para sofrermos, vamos aceitar o mundo do jeito que o Deus preparou para nós! Mas enquanto eu tiver forças para te defender dos maus tratos do nosso filho desajustado, mesmo apanhando também dele, te defenderei. - Dizia a índia "Thaynara".

Mas o “Kauê” só apanhou até o dia em que a índia “Kathauã” "antes", não tinha tomado conhecimento dos maus tratos praticados pelo filho “Piatã”.

Toda comunidade fora chamada a atenção pela índia “Kathauã”, dizendo ela que quem se omite, é cúmplice. Soubera dos maus tratos que sofria o “Kauê”, feito pelo filho, através de pessoas que nem faziam parte daquela comunidade indígena.

No silêncio, a índia “Kathauã” em seu cavalo percorria toda a região, ali, só na finalidade de encontrar o “Piatã”, para um possível castigo, acusado de bater no pai. Ninguém ali abriria a boca para dizer que a índia procurava o “Piatã”. A índia mantinha ordem, e era respeitada em toda região mossoroense. E quem era capaz de dizer a “Piatã” que “Kathauã” andava à sua procura? Só se fosse louco, mano!

Imagem do site https://commons.princeton.edu/indigenous-brazil/os-potiguara-povo-guerreiro-povo-pacifico/

No dia seguinte, “Piatã” foi encontrado pescando no rio Mossoró. De pressa, “Kathauã” chamou-o até a sua presença, precisava conversar com ele. Inocente, porque até aquele momento não sabia que a índia andava à sua procura, “Piatã” foi se aproximando, mas sempre receoso, vez que ele sabia muito bem quantos quilos pesava o chicote da “Kathauã” em suas mãos, e era uma verdadeira justiceira, sua volta era por dentro mesmo.

- Pronto senhora Kathauã, o que deseja de mim? – Perguntou com uma tremura nas pernas.

- Tenho conhecimento que você anda açoitando o seu velho pai “Kauê”, malandro?

E com um chicote ela o laçou, e com o outro o acoitava violentamente.

Sendo justiçado pelo chicote da índia “Kathauã”, “Piatã” chorava desesperadamente, pedindo por todos os santos que “Kathauã” parasse com aquele castigo. E ainda lhe alertava:

- Dona “Kathauã”, bata devagar para não quebrar as minhas costelas...!

- Malandro, quando açoita o seu velho pai, você se lembra que ele tem costelas também, e podem ser quebradas? – Perguntava ela o surrando como se fosse um animal.

Após muitas chicotadas sobre o largo lombo do “Piatã”, finalmente, “Kathauã” terminou o seu castigo, resolveu soltá-lo, dizendo-lhe:

- Vá embora e não quero mais ouvir falar que você açoita seu velho pai “Kauê”! Está me ouvindo bem? – Perguntava-lhe com voz poderosa de autoridade mesma.

- Sim senhora, estou!

“Piatã” entrou nas matas e nem quis mais ir atrás dos peixes que havia pegado ali, naquela pescaria. E nunca mais, na comunidade, se ouviu falar que ele tivesse batido no pai. Um exemplo para aqueles que pensavam bater nos seus pais também. A índia “Kathauã” nasceu em Mossoró para justiçar malandros!

http://blogdomendesemendes.blogspot.com