Por José Mendes Pereira
Boatos se espalham de repente. Se for bom, demora mais um pouquinho chegar à boca de fofoqueiros de calçadas, mas se o boato for ruim, ele corre o mundo mais rápido, e não escolhe as classes, atingindo até as sociais.
O índio “Piatã” era um dos que vivia da caça e da pesca às margens do rio Mossoró, mas não gostava de respeitar o seu pai “Kauê”, um índio conhecido em toda região mossoroense e comunidades adjacentes como bondoso, mas vez por outra, o filho dava-lhe chicotadas sem olhar para o lugar que iria bater.
O velho “Kauê” tentava se defender de todas as maneiras dos maus tratos praticados pelo filho, implorava até pelo amor de Deus para não ser maltratado, mas não tinha jeito, ou merecendo ou não, “Piatã” batia sem piedade no velho pai “Kauê”.
A índia “Thaynara”, mãe do Piatã, e companheira do Kauê, quando via a brutalidade do filho fazendo com o pai, partia para cima do impiedoso com gosto de gás, e em suas mãos, um pedaço de pau, e, com toda sua força feminina, fortemente o batia, pois o que ela queria era defender o seu companheiro dos maus tratos daquele animal produzido por eles dois. Mas, geralmente, mãe e filho apanhavam um do outro, isto é, de igual para igual.
Aquela restrita vizinhança indígena temia defender o velho “Kauê” dos maus tratos praticados por “Piatã”, a sua violência poderia acontecer contra ela, e ali, viraria uma comunidade indígena sem código, sem ética, sem rumo e sem respeito.
Ninguém sabia explicar o porquê de tanto ódio armazenado na mente do “Piatã” contra o seu genitor Kauê, o velho sempre estava ali, na hora em que aquele infeliz precisava, mas como pagamento, recebia fortes chicotadas daquele amalucado, um satanás em forma de gente.
- Calma, Kauê! Calma! Se Deus nos trouxe ao mundo para sofrermos, vamos aceitar o mundo do jeito que o Deus preparou para nós! Mas enquanto eu tiver forças para te defender dos maus tratos do nosso filho desajustado, mesmo apanhando também dele, te defenderei. - Dizia a índia "Thaynara".
Mas o “Kauê” só apanhou até o dia em que a índia “Kathauã” "antes", não tinha tomado conhecimento dos maus tratos praticados pelo filho “Piatã”.
Toda comunidade fora chamada a atenção pela índia “Kathauã”, dizendo ela que quem se omite, é cúmplice. Soubera dos maus tratos que sofria o “Kauê”, feito pelo filho, através de pessoas que nem faziam parte daquela comunidade indígena.
No silêncio, a índia “Kathauã” em seu cavalo percorria toda a região, ali, só na finalidade de encontrar o “Piatã”, para um possível castigo, acusado de bater no pai. Ninguém ali abriria a boca para dizer que a índia procurava o “Piatã”. A índia mantinha ordem, e era respeitada em toda região mossoroense. E quem era capaz de dizer a “Piatã” que “Kathauã” andava à sua procura? Só se fosse louco, mano!
No dia seguinte, “Piatã” foi encontrado pescando no rio Mossoró. De pressa, “Kathauã” chamou-o até a sua presença, precisava conversar com ele. Inocente, porque até aquele momento não sabia que a índia andava à sua procura, “Piatã” foi se aproximando, mas sempre receoso, vez que ele sabia muito bem quantos quilos pesava o chicote da “Kathauã” em suas mãos, e era uma verdadeira justiceira, sua volta era por dentro mesmo.
- Pronto senhora Kathauã, o que deseja de mim? – Perguntou com uma tremura nas pernas.
- Tenho conhecimento que você anda açoitando o seu velho pai “Kauê”, malandro?
E com um chicote ela o laçou, e com o outro o acoitava violentamente.
Sendo justiçado pelo chicote da índia “Kathauã”, “Piatã” chorava desesperadamente, pedindo por todos os santos que “Kathauã” parasse com aquele castigo. E ainda lhe alertava:
- Dona “Kathauã”, bata devagar para não quebrar as minhas costelas...!
- Malandro, quando açoita o seu velho pai, você se lembra que ele tem costelas também, e podem ser quebradas? – Perguntava ela o surrando como se fosse um animal.
Após muitas chicotadas sobre o largo lombo do “Piatã”, finalmente, “Kathauã” terminou o seu castigo, resolveu soltá-lo, dizendo-lhe:
“Piatã” entrou nas matas e nem quis mais ir atrás dos peixes que havia pegado ali, naquela pescaria. E nunca mais, na comunidade, se ouviu falar que ele tivesse batido no pai. Um exemplo para aqueles que pensavam bater nos seus pais também. A índia “Kathauã” nasceu em Mossoró para justiçar malandros!
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