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sábado, 15 de agosto de 2020

PARABENIZANDO OS COLEGAS DE PESQUISAS CANGACEIRAS


Por José Irari 

Prezados confrades do cariri cangaco !! Parabéns Manoel Severo Barbosa, Honorio de Medeiros e Kydelmir Dantas pela aula show sobre Lampião e o ataque a Mossoró. Uma live repleta expectadores de olhos vidrados nas mídias. Citações de livros como estes abaixo foram referências. Até novidade como o que está saindo em







Dê um pulinho até Cajazeiras através deste e-mail e veja se o professor Pereira tem estes livros.

franpelima@bol.com.br


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A HOJE ESQUECIDA MATA GRANDE


Por Sérgio Augusto Dantas

Por volta das 17 horas do dia 21 de fevereiro de 1925, os cangaceiros de Lampião atacam a cidade alagoana de Paulo Afonso, hoje MATA GRANDE. Nem bem penetram na área urbana recebem uma chuva de tiros. Moradores da cidade haviam atendido à sugestão do comerciante Campos Uchoa. Se armaram e se posicionaram em casas mais altas para lhes dar combate.

O delegado Justo Gomes Freire e os poucos policiais do destacamento local ajudam a reforçar os piquetes defensivos.

O tiroteio é nutrido. Os cangaceiros enfrentam uma resistência que os surpreende. Tentam, porém, a todo custo, romper a pesada cortina de fogo. Experimentam uma ou outra via de acesso ao centro, mas pouco conseguem. Não logram se assenhorar facilmente da cidade como planejavam até bem pouco. Como represália, pilham e incendeiam duas casas comerciais.

Em pouco tempo, o bandoleiro Damásio José da Cruz, o ‘Chá Preto’, um dos membros da horda, é atingido por certeiro balaço. Cai gravemente ferido no meio da rua. Outro cangaceiro, conhecido por ‘Sabiá’, tem o mesmo destino.

Antes de escurecer - face às duas baixas e à nutrida resistência oferecida pelos moradores -, o bando se vê forçado a recuar. Com alguma dificuldade, são retirados da praça de guerra os dois feridos. A situação de Chá Preto é crítica. O ferimento sangra em abundância.

Mais adiante, já fora da área de tiro, os enfermos são colocados em redes. Nestas, serão transportados até mais adiante. Quando a caterva baixa acampamento na serra da Lagoa de Santa Cruz, o bandoleiro Chá Preto expira. Abre-se cova rasa para sepulta-lo.

Para saber mais: LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA, de nossa autoria.


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MEUS LIVROS NAS MÃOS DO AMIGO JOÃO SOUTO, FILHO DO CASAL DE CANGACEIROS MORENO E DURVINHA.....

Por João de Sousa Lima



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AS MARCAS DA PASSAGEM DE LAMPIÃO – A HISTÓRIA DA CAPELINHA DA SERRA DA VENEZA

Serra da Veneza – Foto – Rostand Medeiros.
UMA MISSA EM UMA SINGULAR CAPELA, COM MAIS DE 90 ANOS DE TRADIÇÃO, MARCA A FÉ DOS SERTANEJOS NO MOMENTO DA PASSAGEM DO BANDO DE LAMPIÃO PELO SERTÃO DO RIO GRANDE DO NORTE
Rostand Medeiros – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
Um dos aspectos mais interessantes da história da passagem do bando do cangaceiro Lampião pelo Rio Grande do Norte, entre os dias 10 e 14 de junho de 1927, não aponta apenas para os relatos de lutas, resistências, arroubos de valentia, covardias, ou sobre o alivio em relação à fuga dos cangaceiros. Foi possível encontrar em alguns locais, interessantes situações originadas pelo medo da passagem de Lampião, que geraram manifestações que se perpetuam até hoje.
Capela do alto da Serra da Veneza – Foto – Rostand Medeiros.
Comento especificamente sobre uma ermida encontrada no alto de um promontório denominado Serra da Veneza, próximo ao sítio Garrota Morta, na fronteira entre os municípios de Antônio Martins e Pilões. Nesta elevação granítica, que segundo o mapa da SUDENE chega a atingir a altitude de 555 metros, existe uma capela edificada em razão do medo provocado pela passagem do bando.
Lampião e seus cangaceiros.
Na tarde do dia 11 de junho de 1927, um sábado, quando empreendia uma viagem, na altura do sítio Corredor, a cerca de dez quilômetros de sua propriedade, o fazendeiro Manoel Barreto Leite, foi capturado pela fração do bando comandado por Sabino. Sua libertação foi orçada em cinqüenta contos de réis. O mesmo só foi libertado em Limoeiro, atual Limoeiro do Norte, no Ceará, após a derrota do bando em Mossoró.
Manoel Leite era um homem conhecido na região, que possuía bons recursos financeiros e extremamente respeitado, por esta razão a existência da capelinha branca no alto da serra homônima de sua propriedade, ficou associada a uma promessa feita pelo fazendeiro seqüestrado.
Dona Neuzimar Eugênia dos Santos – Foto – Rostand Medeiros.
Mas conforme seguíamos o trajeto, ao perguntarmos sobre este caso, percebemos o desconhecimento das pessoas da região em relação a esta versão. Buscamos apurar os fatos e no sítio Garrota Morta localizado nas proximidades desta serra, encontramos uma senhora chamada Neuzimar Eugênia dos Santos que esclareceu a verdade sobre esta capela. Esta senhora, pequena na estatura, mas é forte, voluntariosa, possui uma voz firma e olha direto no olho do interlocutor. Neuzimar Eugênia não é daquelas de ficar em casa vendo novelas, já está na faixa dos cinquenta anos, mas todo santo dia trabalha voluntariamente como animadora da congregação católica local. Participando ainda como catequista e ministra da eucaristia.
Foto – Rostand Medeiros.
Há alguns anos atrás, por sua própria iniciativa, em meio a este trabalho religioso ela iniciou uma pesquisa histórica com as pessoas mais idosas da sua região, onde apurou entre outras coisas a origem dos nomes dos logradouros, as histórias relativas as famílias da região e os fatos históricos mais representativos do lugar. Mesmo anotando estas informações em um caderno simples, através de sua louvável e comovente iniciativa foi possível conseguir as informações sobre a origem desta capela.
Segundo Neuzimar Eugênia foram as idosas moradoras conhecidas como “Francisca do Uru” e “Francisca da Garrota Morta”, que lhe narraram os fatos que a comunidade local considera um verdadeiro milagre.
1015 – O cineasta mineiro Sílvio Coutinho realizando filmagens para o documentário “Chapéu Estrelado” na região da Serra da Veneza, tendo ao seu lado Rivanildo Alexandrino, da cidade de Frutuoso Gomes-RN – Foto – Rostand Medeiros.
Na noite de 10 de junho de 1927, quando Lampião e seu bando se aproximavam da fazenda Caricé, a cerca de oito quilômetros da Garrota Morta, em meio às terríveis notícias, três fazendeiros da região procuraram refúgio junto às rochas da base desta elevação. Essas famílias eram comandadas respectivamente por Manoel Joaquim de Queiroz, proprietário do sítio Garrota Morta, Vicente Antônio, do sítio Cardoso e Francisco Felix, que habitava na pequena zona urbana que formava a Vila de Boa Esperança, atual cidade de Antônio Martins. Na época da passagem de Lampião, todo este vasto sertão pertencia a área territorial do município de Martins.
Durante o período que lá permaneceram, as três famílias não se encontraram e sequer se viram em nenhum momento. Em meio à aflição, estes homens solicitaram junto ao mesmo santo, São Sebastião, que os protegessem contra a ação dos cangaceiros.
O autor deste texto na região da Serra da Veneza – Foto – Rivanildo Alexandrino.
No dia posterior o bando chegou próximo a Serra da Veneza. Os cangaceiros ainda palmilharam algumas casas edificadas dentro dos limites da propriedade Garrota Mortas, mas não chegaram próximo aos esconderijos no pé da serra.
Em meio ao sentimento de alivio que crescia, as três famílias que não se viam choravam de alegria e rezavam agradecendo. O mais interessante, segundo Neuzimar Eugênia, mesmo sem existir nenhuma espécie de combinação, os três homens elegeram a mesma penitência; galgar a Serra da Veneza, erguer um oratório e ali depositar uma imagem em honra a São Sebastião.
Capela de São Francisco, na antiga Vila de Boa Esperança, atual cidade de Antônio Martins – Foto – Rostand Medeiros.
Logo os fazendeiros e seus familiares foram a Vila de Boa Esperança a treze quilômetros da serra. Como muitos moradores da região, eles foram agradecer na capela do lugarejo, edificada em honra a Santo Antônio, o fato de nada de pior haver ocorrido. Neste local os três homens se encontraram, eram amigo, e logo debatiam sobre os fatos vividos. Para surpresa de todos os presentes, compreenderam que havia ocorrido uma interseção divina com relação a eles terem tido as mesmas idéias e os mesmos pensamentos.
Em pouco tempo eles adquiriam conjuntamente uma pequena imagem de São Sebastião e logo galgavam a Serra da Veneza, para unidos edificarem um pequeno oratório. A ação dos três fazendeiros e as estranhas coincidências chamaram a atenção das pessoas na região. Outros penitentes passaram a subir a serra para pagar promessas. Mais algum tempo a comunidade da Garrota Morta já organizava uma singela procissão e não demorou muito para que o pároco local também viesse participar. Com o passar do tempo começou a ocorrer a participação de pessoas de outros municípios.
Foto da celebração de 2018 no alto da Serra da Veneza. Na fotografia vemos a celebração sob o comando do padre Wescley Pereira – Foto – Lucas Amorim.
Em 1948, vinte e um anos após a passagem de Lampião e seu bando e do pretenso milagre, treze famílias da comunidade ergueram treze cruzes, formando uma via sacra entre a base da serra e o local do oratório. Cada uma destas cruzes tinha dois metros de altura e continha uma placa da família doadora. Percebendo o crescimento desta manifestação, conjuntamente estas pessoas deram início a construção da atual capela, em meio a uma intensa confraternização.
A capela foi construída em um ponto mais abaixo em relação à posição original do antigo oratório. Uma nova imagem de São Sebastião foi levada em procissão e se uniu a que ali havia sido colocada primeiramente.
Missa de São Sebastião no alto da Serra da Veneza. Ela é sempre celebrada nos dias 20 de janeiro, dia dedicado a esse santo calendário católico. Uma tradição que se iniciou em 1928 e perdura até hoje – Foto – Lucas Amorim.
Atualmente a participação popular só cresce. A cada dia 20 de janeiro, inúmeros ex-votos são colocados como pagamento de promessas, velas são acesas e fiéis de vários municípios vêm participar subindo a serra. Em meio a um intenso foguetório, sempre as primeiras horas da manhã, um público que atualmente gira entre 400 e 500 pessoas, comparece ao sítio Garrota Morta e com a tradicional fé característica do nordestino, sobrem a serra.
Paisagem da região- Foto – Lucas Amorim.
Entre as atrações do evento, sempre ocorrem apresentações de violeiros, que declamam em verso os medos e o pretenso milagre que envolveu as três famílias. Apesar da área onde a Serra da Veneza está situada não pertencer mais territorialmente a Martins, a capelinha está sob a jurisdição da Paróquia de Martins, que tem a frente o padre Possídio Lopes.
O alto da Serra da Veneza – Foto – Lucas Amorim
O sítio Garrota Morta esta localizado na área territorial do município de Antônio Martins, as margens da estrada que liga as cidades de Pilões e Serrinha dos Pintos. O dia da nossa visita a região estava particularmente quente, em meio a uma região já bem quente. Além do mais eram uma hora da tarde e nosso tempo era curto. Mas sei que vou voltar e subir esta serra.
AGRADECIMENTO – A LUCAS AMORIM, QUE TODOS OS ANOS PARTICIPA DA MISSA DE SÃO SEBASTIÃO NO ALTO DA SERRA DA VENEZA E ASSIM MANTÉM UMA TRADIÇÃO QUE COMEÇOU EM 1928 E É MANTIDA POR SUA FAMÍLIA.
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UM NOVO LIVRO NA PRAÇA

Por José Mendes Pereira

O profesor, escritor e pesquisador do cangaço Honório de Medeiros apresenta a todos os escritores, pesquisadores e estudantes do cangaço que apreciam os estudos cangaceiros,  a sua mais nova obra, com o título "JESUÍNO BRILHANTE O PRIMEIRO DOS GRANDES CANGACEIROS". Fazia alguns anos que não era lançado livro sobre o cangaceiro Jesuíno Brilhante nascido na cidade de Patu, no Estado do Rio Grande do Norte. 

Se você leitor, ainda não conhece as aventuras de Jesuíno Brilhante, o cangaceiro "romântico" (assim o classificou o historiador Câmara Cascudo), não deixa de adquiri esta maravilhosa obra. 

E para este fim, basta entrar em contato com mariasenna1958@gmail.com

O livro custa R$ 50,00 + frete.

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MULHERES NO CANGAÇO


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A EX-CANGACEIRA DADÁ

Por Indaiá Santos


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A CAATINGA NO TEMPO DE LAMPIÃO

Por Beto Rueda
A imagem pode conter: planta, árvore, atividades ao ar livre e natureza

Lampião nas suas andanças pela caatinga, o clima era semi-árido com paisagens esbranquiçadas nos períodos de seca, e nos períodos chuvosos, sua paisagem transformava-se completamente, sua mata branca renascia em verde, gerando um novo ciclo de vida.

As "matas" eram a craibeira, angico, quixabeira, juazeiro, baraúna, jucá, umbuzeiro, pau-ferro, aroeira, catingueira, sipaúba, pereiro, freijó, sassafrás, sacatinga, cedro, mucunã(cipó), bom nome, salgueiro, marmeleiro, pau-d'arco, bálsamo, umburana, barriguda, embira, calumbi, rama branca, jurema, jurubeba, mororó, rasga beiço, rompe gibão, pau-piranha, caroba, feijão bravo, faveira, maçaranduba, tingui, quinanina, pau-santo, oiticica.

Os "espinhos", essenciais para a composição do ambiente natural: xique-xique, mandacaru, coroa-de-frade, quipá, facheiro, macambira, caxacubri, alastrado, rabo de raposa.

As "palmeiras", alegria dos macacos que comiam a carne dos coquinhos: ouricuri e catolé.

Os animais: Mocós, Carcarás, Calangos, Tatu-Bola, Araras...

No Bioma Caatinga hoje, já foram registrados 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 de anfíbios e 241 de peixes. Trezentos animais são endêmicos, ou seja, só podem ser encontrados nessa região.

Ambiente exclusivamente brasileiro, ocupa dez por cento do território nacional com aproximadamente 850.000 de quilômetros quadrados.

Abrange os Estados de Alagoas, Bahia, Sergipe, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Norte de Minas Gerais.

Vinte e sete milhões de pessoas vivem no seu domínio.

FONTE:
MELLO, Frederico Pernambucano de. Benjamin Abrahão: entre anjos e cangaceiros. São Paulo: Escrituras, 2012.
IBGE - 2012
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE


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ANTONIO CORRÊA SOBRINHO



AMIGOS

Em março 2018, eu trouxe ao Facebook a interessante e intrigante reportagem do "Diário de Pernambuco", publicada na edição de 24 de maio de 1936, intitulada CHEGOU AO RECIFE UMA DAS VÍTIMAS DE LAMPIÃO, onde nela, o nome MARIA BONITA como a cangaceira mulher de Lampião, é grafado, salvo melhor informação, pela primeira vez na imprensa nacional, antes do ano de 1938, quando de sua morte em Angicos.

Eis o trecho da reportagem:


“MARIA BONITA E O GRUPO - Diz um morador de Malhada que o grupo de Virgínio é composto de 7 homens e duas mulheres. Os nove se dividem em três, sendo que as mulheres ficam com Virgínio. Cada grupo anda distanciando do outro quinhentos metros. Os “cabras” esperam sempre pelo chefe para decidir qualquer questão. Maria Bonita, a amasia do chefe do grupo, usa calça culote, dois parabéluns à cinta e cartucheira.”

O que levou a baiana Maria de Deia, a Maria de Lampião, a ser chamada, quase num átimo, e para sempre, de MARIA BONITA, passa, como sabemos, pelo grande sucesso da literatura brasileira, o romance "MARIA BONITA", de 1914, a obra-prima do famoso escritor baiano, Afrânio Peixoto (1876-1947), que, conforme leio, “um romance simbólico, que aproveita o mito de Helena, cuja beleza é fonte, ao mesmo tempo, de amor e morte. A personagem central é uma mulher de sentimentos puros, mas cuja extraordinária beleza só serve para espalhar a desgraça em torno. Sua culpa única é ser bonita, daí a cobiça que desperta nos homens, levando todos à tragédia, pela fatalidade que vive dentro dela”. A história de uma sertaneja bela e sofrida. Um livro muito lido, e elogiado pela crítica especializada, o "MARIA BONITA" de Afrânio Peixoto.

Mas, mais ainda, penso eu, tem a MARIA BONITA de Lampião a ver com o filme "MARIA BONITA", baseado nesta obra de Afrânio Peixoto, cujas filmagens se iniciaram justamente em 1936, no ano que veio a lume a matéria acima referida, do glorioso jornal pernambucano, produção cinematográfica amplamente divulgada pelos jornais do Sul, e que veio a cartaz em 1937; coincidentemente, no mesmo ano que Abraão Boto exibiu e viu, depois, apreendido o seu extraordinário documentário sobre Lampião, a sua Maria e o bando de cangaceiros, na caatinga nordestina.

Esta reportagem, que trago a seguir, logo após esta minha ousada participação, onde, de forma inédita, o nome MARIA BONITA é apresentado com o da mulher de Lampião, ou expressou verdadeiramente a informação que chegara à redação deste Jornal, ou o MARIA BONITA da mulher de Lampião foi nasceu na redação deste Jornal; digo isto, considerando o fato de ter sido esta a única menção que temos, pelo menos nos principais jornais e revistas do país, ao nome MARIA BONITA relacionado ao cangaço, antes de 1938, que eu saiba.

Fato é que o MARIA BONITA da mulher de Lampião ofuscou completamente o "MARIA BONITA", livro e filme, da obra ficcional de Afrânio Peixoto. Nunca mais os jornais se referiram a estes como e quanto dizem da cangaceira de Paulo Afonso.
Sobre esta reportagem do "Diário de Pernambuco", conheço apenas um trabalho, assinado pelo escritor ilustre Frederico Pernambucano de Mello, acessível na internet.
“Diário de Pernambuco” – 24/05/1936

CHEGOU AO RECIFE UMA DAS VÍTIMAS DE LAMPIÃO

Manoel Bezerra relata à reportagem do DIÁRIO DE PERNAMBUCO sua dolorosa história – Novas atrocidades do famigerado bando pelos sertões – Receio dos coiteiros – O roteiro da malta sinistra.

Foi divulgada pelo "DIÁRIO DE PERNAMBUCO" a notícia de que uma das vítimas de Lampião viajaria para esta capital no trem do horário que vem de Rio Branco. O pobre homem, que fora barbaramente emasculado pelo facínora, quando visitou a fazenda Catimbau, nos arredores de Buíque, vinha internar-se num dos hospitais daqui e submeter-se a um tratamento que lhe conservasse a vida. Sua jornada dolorosa do alto sertão até aqui, viajando sem o mínimo conforto durante o dia inteiro num carro de segunda classe, foi alvo de atração da reportagem desta folha, que resolveu, também, ouvir dos próprios lábios de Manoel Bezerra, o relato da dolorosa atrocidade.

Neste intuito um representante do "DIÁRIO DE PERNAMBUCO" viajou para Vitória a fim de (...) passagem no mesmo trem em que viajava o ferido e acompanha-lo até o Recife. Essa medida foi motivada principalmente pelo receio de que o pobre homem, dados seu estado de gravidade e a prolongada viagem, aqui chegasse agonizante, impossibilitado de relatar-nos o ocorrido.

EM VITÓRIA

Chegamos a Vitória com bastante antecedência. Percorremos ligeiramente a cidade e á hora do trem, já aguardávamos na estação há longo tempo sua chegada.

À aproximação do comboio divisamos a plataforma do carro de segunda classe um soldado de polícia. Logo que os carros pararam, a ele nos dirigimos e, à nossa pergunta, o militar levou-nos ao interior do vagão onde, efetivamente, prostrado ao longo de um dos bancos, estava Manoel Bezerra num estado de lamentável penúria. Vestia camiseta branca e calça de brim comum. Aparentava ter uns 22 anos de idade. Seu rosto moreno de vez em quando se contraia num rictos de dor.

Ao dar sinal de partida o trem e afastarem-se os curiosos para saltar, pois na maioria eram da cidade, aproximamo-nos dele, que estava de olhos fechados. A essa altura, o comboio iniciava sua marcha e o pronunciado mal cheiro que se sentia no interior do carro, com o deslocamento do ar tornou-se menos intenso, permitindo respirar-se melhor. O condutor aparece para marcar as passagens. Ao receber a nossa, diz espantado:

- “Mas essa passagem é de primeira classe... A primeira é no carro da frente...”

Explicamos nossa função de repórter, ao que ele pilheria: Enquanto muitos compram de segunda e querem ir para a primeira com o senhor deu-se o contrário: comprou de primeira e veio para a segunda...”

Um passageiro atalha:

- “Ele veio ouvir as desgraças deste pobre homem para contá-la a toda gente... Pode ser que assim tenham pena do sertanejo e resolvam acabar com Lampião...”

A TRISTE HISTÓRIA

Manoel Bezerra recostava, agora, a cabeça na mão. Aproveitando um momento em que descerrou os olhos, pedimos que nos contasse tudo como se dera. Ele, num esforço, começou a murmurar e depois a falar mais alto. A cada momento interrompe a narrativa para gemer.

Contou que era solteiro, noivo, e possuía pequena propriedade. Na terça-feira passada voltava da roça para a sua casa quando, ao entrar na sala, ouviu vozes num falatório que vinha da vizinhança. Ali residia seu amigo Pedro Firmino Cavalcanti e, receando tratar-se de alguma anormalidade contra ele, decidiu verificar o que havia. Ao sair de casa, divisou uma aglomeração de pessoas. Destacou-se do grupo um homem que lhe acenou com a mão. Uma vez que o chamavam, não suspeitando tratar-se de bandidos, foi verificar o que queriam de sua pessoa.

Ao chegar mais perto, o malfeitor gritou:

- “Venha cá!”

Continuou ele:

- Quando cheguei lá vi que a casa estava cercada. Oito homens e duas mulheres estavam armados até os dentes. Tinham todos a cara de assassinos. Uma delas, a quem chamaram de Maria Bonita, me deu logo duas chibatadas. Um homem dos olhos vermelhos chegou para perto de mim e disse: ‘Vá buscar meu cavalo ali’. Esse homem era Virgínio, cunhado de Lampião. Fui buscar o animal que estava a uns trinta metros e quando o entreguei ao tal Virgínio, ele, então, sem me deixar fugir, realizou seu intento.”

Relatou-nos, então, Manoel, que por mais que implorasse, o bandido não o atendeu. Disse-lhe: “Não tem santo que lhe acuda”, e utilizando um trinche-te que pedira a um cabra, mutilou-o desalmadamente. Depois de emasculá-lo, mandou que pusesse pimenta, sal e cinza na ferida e fosse para casa.

Manoel, que perdera muito sangue, se cansava na sua narrativa. Calou-se, fechou os olhos e continuou deitado.

OUVINDO UM SOLDADO

Deixamos o enfermo e fomos em busca de outras informações.

O soldado Manoel Basílio, que acompanhava o doente, informou-nos que o grupo de bandidos, após a sangrenta pousada em Catimbau, saiu pela estrada de Buíque e, à distância de uma légua, entrou pela cerca de arame de propriedade do senhor P. França.

Virgínio atirou o trinche-te dentro do canavial.

– “Mais adiante – continua o soldado – os bandidos prenderam um parente deste rapaz.”

Manoel Bezerra abriu os olhos e perguntou de que se falava. Ciente da narração do soldado, acrescentou:

– “Virgínio prendeu o meu primo legítimo Firmino Salvador e por ele mandou procurar o trinchete, dizendo que ‘se encontrasse algum macaco (policial), morresse mas não lhe entregasse o seu instrumento.’

Meu primo foi e correu até Buíque, entregando o trinche-te ao delegado de polícia. De Firmino eles levaram três cavalos. Depois é que foram a Catimbau.”

Deixamos o emasculado e o soldado, e fomos ouvir o condutor do trem, que nos prometera algo.

ATERRORIZADOS

O condutor levou-nos a um passageiro. Este se reuniu a outros e cercaram o repórter. Contaram-nos outras atividades de Lampião. Como indagássemos os nomes dos nossos interlocutores, eles, como que estivessem unidos pelo mesmo terror, negaram-se a decliná-los, alegando “precisar viver”; que “ se dissessem os nomes lá no sertão havia alguns “coiteiros’ que forneceria a lista aos bandidos, e que pagariam caro.

- “Saindo de Buíque, os cangaceiros estiveram em Malhada – informou-nos um passageiro. No caminho encontraram o sr. Agenor Tenório, que viajava em companhia de outro. Procediam da fazenda França (...). Os cabras de Virgínio perguntaram logo si tinham dinheiro e como responderam negativamente, os bandidos pediram que desmontassem e levaram seus cavalos, deixando-os a pé.

QUASE ATACADOS PELA POLÍCIA

– “Quinta-feira, pela madrugada – continua o nosso informante – o grupo deixou Malhada, a 9 quilômetros de campo de aviação de Rio Branco. Atravessou a linha de ferro entre as estações de Tigre e Pinto Ribeiro e foram à fazenda Estrela D’ Alva de propriedade da Cia Pastoril do São Francisco. Deixaram ali uma carta para o gerente, dr. Gumercindo pedindo 10 contos. A carta tinha a assinatura: Virgínio, cunhado de Lampião.

Saquearam a cidade e chegaram até mesmo a levar alianças do dedo de algumas pessoas. Os facínoras deixaram os cavalos em que viajavam e escolheram outros para prosseguir a viagem.”

Um outro passageiro nos diz:

- “Às 16 horas do mesmo dia entraram em Umbuzeiro. A população, tendo aviso da aproximação dos facínoras, havia abandonado a cidade, ficando somente uma casa de negócio aberta.

Deram um saque e numa venda tomaram muita aguardente num engenho de alambique de barro.”

ASSASSÍNIOS

Saíram de Umbuzeiro sem cometer nenhum assassinato. No caminho, porém, encontraram Pedro de Alcântara e Sebastião Sebas, na fazenda Matanças. Perguntaram sobre os seus destinos, ao que responderam sempre estar comprando queijo para revender. Desconfiados da veracidade das palavras dos transeuntes, conduziram-nos à casa do fazendeiro conhecido por José Cobra, nas proximidades. Este vacilou em responder. Mas, sob ameaças de pontas de punhais, confessou que Pedro de Alcântara e Sebas tinham ido lhe avisar da presença do bandido. Como também a Sátiro Feitosa. Irritados, os bandidos mataram Sebas no terreiro da casa e Pedro na sala, com um tiro de pistola máuser na cabeça. Em seguida, intimaram José Cobra a dar-lhes 2:500$000, no que foram satisfeitos. Dali rumaram para a fazenda Ribeirão Fundo, de propriedade de Sátiro Feitosa. Já nas terras da fazenda, entraram na casa de Gedeão Hipólito, e amordaçaram sua esposa. Estiveram depois na casa de Sátiro. Um cabra procurou o proprietário e lhe disseram que havia se retirado. Então, perguntou por Gedeão.

Um homem declarou ser o próprio.”

MATOU E SANGROU A VÍTIMA

“O bandido bradou:

– “Aqui está um presente que lhe mandaram porque foi avisar a seu patrão.”

– “O presente foi um tiro na cabeça” – aparteou outro passageiro que até o momento não havia dito nada.

O primeiro continuou:

– “Em seguida sangrou sua vítima. Indo ao interior da casa, encontrou o negro velho José Lourenço, cozinheiro. Como respondesse que nada sabia, mataram-no. Também sangraram este. Entre Umbuzeiro e Malhada os bandidos haviam conseguido cercar os vaqueiros, que pastavam o gado de uma fazenda, para roubar-lhes os cavalos com os arreios. Dois dos cavalos estavam cansados, quando chegaram a Ribeirão Fundo. Por isso, Virgínio entregou-os a um morador da fazenda para leva-los ao coronel de Arcelino Brito.”

Soubemos que o tenente Manoel Neto chegou a Tigre quando os bandidos estavam em Umbuzeiro. A polícia ia a caminhão, mas a estrada não deu passagem. Foi necessário que o tenente fosse por outra estrada e assim não encontrou mais cangaceiros.

O grupo dirigiu-se para a serra de Ipojuca, rumo a Mimoso, estação próxima a Rio Branco.

EM ALAGOA DO MONTEIRO

A última hora soubemos que o grupo esteve na fazenda Raposa, de propriedade de José Branco.

Roubaram dali 15:000$000 em dinheiro. Enquanto uma turma de cangaceiros realizava esse roubo, uma outra atacara Angico, em (...) onde mora Fortunato Reinaldo.

Desse fazendeiro exigiram 10 contos e como só tivessem seis, levaram um seu filho de nome Anfrísio, como garantia dos 4 contos. Fortunato mandou pedir emprestado o dinheiro em Poção, o qual não foi entregue aos bandidos. Estes não compareceram ao local marcado para a entrega da quantia referida, que era a serra de Jurema.

A malta esteve por último no Fundão, na Paraíba. Aí os facínoras assassinaram duas moças e uma velha de 84 anos de idade.

Sexta-feira o grupo internou-se na serra do Franco para o lado da serra Pendura e não foi mais visto. Segundo nos informou um sertanejo de Alagoa do Monteiro, ele estava para os lados de Brejo do Jatobá.

Adiantou-nos que sobem a 75 contos de réis somente em dinheiro os saques no município de Alagoa do Monteiro.

OS GUIAS

Ao entrar no estado da Paraíba até o saque de Umbuzeiro serviu de guia aos bandidos Malaquias Batista, genro do sr. Fernandes, e preso na ocasião em que os cangaceiros ‘visitaram’ a casa deste, de onde roubaram 13 contos. De Umbuzeiro por diante, Sebastião Tavares foi preso por Virgínio para indicar-lhe o caminho.

AS VÍTIMAS

Gedeão Hipólito deixou 9 filhos menores. Pedro de Alcântara, 4. Sebes, 5.

Foram mortos mais as duas moças, a velha, dois homens, dos quais um cadáver não foi encontrado.

Sobre a morte de Pedro de Alcântara corre outra versão. É a de que ele fugia para salvar o dinheiro que estava em caixa na Mesa de Rendas.

MARIA BONITA E O GRUPO

Diz um morador de Malhada que o grupo de Virgínio é composto de 7 homens e duas mulheres.

Os nove se dividem em três, sendo que as mulheres ficam com Virgínio. Cada grupo anda distanciando do outro 500 metros. Os cabras esperam sempre pelo chefe para decidir qualquer questão.

Maria Bonita, a amasia do chefe do grupo, usa calça culote, dois parabéluns à cinta e cartucheira.

A outra mulher viaja em (...)

– Manoel Bezerra, logo ao chegar à Estação Central, foi internado no Pronto Socorro, onde ficou em tratamento. Apresenta algumas melhoras.

SEGUIU PARA O SERTÃO O DELEGADO

Anteontem seguiu para Rio Branco o delegado auxiliar, Sr. Ranulfo Cunha. Dali esta autoridade comunicar-se-á com o secretário da Segurança Pública pelo telégrafo da Greal Western, transmitindo-lhe as últimas notícias sobre os grupos dos bandoleiros.


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