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sexta-feira, 16 de maio de 2014

O insubordinado feminino Opinião

Por Nadja Claudino
Mulher cangaceira de Marcus Plech

A entrada da mulher no bando de cangaceiros se constitui num dos eventos mais polêmicos do cangaço. Alguns autores atribuem a entrada das mulheres à decadência do bando de Lampião, fato que corrobora com a opinião de 

Padre Cicero Romão Batista

Padre Cícero Romão Batista, que foi contemporâneo do rei dos cangaceiros e disse: “Lampião será invencível enquanto não houver mulher no bando”. 

O cangaceiro Sinhô Pereira

E não era só o “santo” do Juazeiro que nutria essa opinião, mas Sinhô Pereira, aquele que o introduziu no cangaço, sendo seu chefe até 1922, também pensava assim. Ele foi categórico ao afirmar que jamais levaria mulheres para o cangaço, desaprovando veementemente a escolha de Lampião em aceitar Maria Bonita no bando.

A cangaceira Maria Bonita

Lampião era uma figura contraditória sob todos os aspectos, homem de vida errante, que se apaixona e leva para junto do seu grupo uma fêmea, criatura fraca, que talvez não se adaptasse às caminhadas estafantes no meio da caatinga, às lutas contra as volantes, à fome e sede muitas vezes companheiras desses grupos de homiziados. O ato de Lampião abriu um precedente e outros cangaceiros passaram a andar acompanhado por mulheres, como foi o caso de Corisco, que viveu e morreu ao lado de Dadá.

A cangaceira Dadá

Em 1930, Lampião conhece Maria Déia, apelidada pelas volantes como Maria Bonita. Maria era mulher do sapateiro José Neném e vivia uma relação bastante conturbada com o marido. Lampião sempre passava na fazenda dos pais de Maria e foi lá que a conheceu. 

Zé de Neném ex-esposo de Maria Bonita

Para uma mulher sertaneja, um cangaceiro era uma espécie de galã. A impressão que causavam era a de serem homens românticos e diferiam bastante dos outros homens por elas conhecidos. No imaginário feminino sertanejo da época, os cangaceiros era um ser que sempre estava vivendo uma aventura, podiam resgatá-las daquele marasmo em que viviam. 

Eles andavam perfumados, os dedos carregados de anéis de ouro, encarnavam uma aparente riqueza, o luxo, algo escasso naqueles sertões. E foram esses fatores que levaram a mulher do sapateiro a pedir a sua mãe para quando Lampião chegasse, ela fosse avisada. A mulher queria conhecer não um cangaceiro, mas o chefe, o famoso rei do cangaço.O encontro dos dois se deu quando Lampião estava com 33 anos e Maria tinha pouco mais de 20. Lampião, assim que lhe conheceu se apaixonou. Nesse momento, tomou a decisão de levá-la consigo, quebrando desta forma uma regra do cangaço e indo contra os conselhos do Padre Cícero e do seu ex-chefe Sinhô Pereira. 

O guerreiro queria em parte imitar a vida das pessoas comuns, queria uma companheira.Quando Maria entra para o cangaço, Lampião comunica aos seus homens que quem tivesse mulher, namorada ou amasia poderia daquele dia em diante viver com elas no bando. Foi com grande espanto que a imprensa noticiou a entrada das mulheres no cangaço, os soldados de uma volante ao entrarem em combate com o grupo de Lampião ficaram muito surpresos quando notaram a presença de mulheres durante os combates. Afinal de contas, nunca se teve notícias de semelhante coisa nos bandos precursores do bando de Lampião. 
  
 Bando de cangaceiros de Lampião

As mulheres dos cangaceiros passaram a mexer com o imaginário do povo. Alguns achavam que elas viviam desfrutando de muito luxo e a beleza das cangaceiras e suas artes de sedução eram cantadas nas feiras pelos violeiros. Elas também povoavam a mente dos soldados das diversas volantes. Inclusive foram os soldados que começaram a chamar a mulher de Lampião de Maria Bonita. No bando ela era conhecida como Maria Déia ou Maria de Lampião.

As cangaceiras Enedina e Sila

Maria Bonita, Dadá, Sila, Enedina e outras mulheres entraram na nossa história como protagonistas. O que seria de Lampião sem Maria Bonita ou Corisco sem Dadá? Sem as mulheres o cangaço talvez não tivesse o significado que tem. A mulher pagou um alto preço por essa ousadia. 

Volante do tenente João Bezerra

Quando a volante de João Bezerra entra em Angicos, Maria Bonita e Enedina são executadas com os outros cangaceiros. Depois de mortas foram decapitadas e suas cabeças percorreram várias cidades do sertão. O Estado, através da violência instituída, massacrou as mulheres que ousaram ser contra a ordem social vigente. Mas Maria Bonita continuará sendo um mito e ninguém apagará.

Nadja Claudino - História / UFCG
Tianguá - Ceará

Ilustrado por José Mendes Pereira

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E se não fossem as Minas do Coxa !

Por:Manoel Severo

"As minas de São José de Aurora do Padre Cícero. A fazenda Cuprífera acha-se na Fazenda Zaíra, antigamente denominada Coxá ou Riacho Seco. Um terço da Fazenda pertence juridicamente ao município de Aurora e os outros dois ao de Milagres, deste termo de Jardim, no Estado do Ceará, a distância de Zaíra a Aurora é de 12 Quilômetros . A Estação Ferroviária mais próxima é a de Aurora. O riacho que refrigera a fazenda é o Riacho Seco. 


Este corre do oeste a leste e faz barra no riacho das Antas, afluente do rio Salgado que deságua no rio Jaguaribe. Em junho de 1903 extraí e levei da cidade do Crato, 1.125 quilos de mineral escolhidos e num forno de manga para tratar ferro pertencente ao ferreiro hoje falecido Antônio Fernandes da Silva. Fundi o aludido material, obtendo 23,3 por cento de matta e 98 por cento. Em outra experiência no crisol, um kilo deu 21,6 por cento. Ou seja, para as duas experiências uma média de 22,45. desta matta moldei umas barrinhas que mandei de amostra a várias casas estrangeiras (...) Pe. Cícero Romão Batista em 31 de janeiro de 1918." João Tavares Calixto Júnior


Na verdade ficamos a pensar: O que seria da história de nosso Cariri e de nosso Juazeiro do Norte se não fosse a existência das famosas Minas do Coxá...

Notadamente em função da perspectiva de fortuna a partir do minério do Coxá é que o médico baiano Floro Bartolomeu juntamente com o Conde Adolfo Van den Brule chegaram ao Cariri, o resto da história todos nós conhecemos!

Manoel Severo
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Foto da casa primitiva do pai de Lampião, o senhor. José Ferreira, local em que ele passou grande parte de sua juventude. Ficava no sítio Passagem das Pedras, distante cerca de 45 quilômetros da cidade de Serra Talhada, no Estado de Pernambuco, hoje só existem os escombros, pedaços de tijolos, telhas etc., e o atual sítio pertence a um  senhor chamado Camilo Nogueira, que recebe, gentilmente, a todos.


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Coronel João Bezerra

 Por Ane Ranzan
Tenente João Bezerra - o homem que conseguiu matar Lampião

Amigo Manoel Severo, saudações atrasadas. Um belo dia você bateu à porta do nosso coração e se instalou. Às vezes buscamos entender de que forma essa conexão é estabelecida e não temos explicação. Fica a presença marcante e a essência em nós.

Hoje, alguns anos depois percebemos que o destino, o universo o colocou em nosso caminho para ser um ELO forte entre muitas pessoas, de forma humilde, de maneira discreta, com total desapego, mas com tal dignidade como um canoeiro que nos conduz na travessia de uma caminho desconhecido, mas que deve ser trilhado.

Houve uma doação de esperanças, de sonhos, de revelações e de tempo.
E o tempo foi passando e com ele, sempre a certeza de que tudo vem em seu momento, dentro do prazo estabelecido por Deus. Diante de sua filosofia de vida, que nós, daqui e calados, observamos e percebemos que se trata de um ser humano e batalhador,  que não aceita pensar que sabe o bastante, e nesse contexto, o conhecimento e a incansável busca pelo aprimoramento, ganha cada vez maisimportância nos nossos corações. É fácil entender alguém que se solidariza com os Cavaleiros da Cultura.

Ane Ranzan e Paulo Britto

E ao olhar para trás amigo Manoel Severo, vemos um pequeno caminho trilhado, e muito mais a trilhar, onde nos permite muitos esclarecimentos, talvez você esteja pensando estar contribuindo minimamente, mas tenha a certeza que não é.

A figura do Coronel João Bezerra passou a ser mais conhecida depois do seu blog “Cariri Cangaço”.Quem conheceu o militar em questão, sabe que sua atuação foi bastante sofrida, com muitas dificuldades, muitas artimanhas e muitos percalços. Afinal, passar 12 anos no encalço dos cangaceiros, por entre as caatingas e o sertão, debaixo de um sol escaldante, não deve ter sido tarefa fácil, mas temos que concordar que foi uma atuação primorosa e que tudo valeu a pena diante do desfecho de mais essa missão, encerrada em 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, em Sergipe, onde morreram Maria Bonita, Lampião e mais 09 cangaceiros.
Em 1938, quando do histórico combate com Lampião e seu bando:

 
João Bezerra à frente de seus comandados

Já era tenente; havia sido prefeito interventor da cidade de Piranhas em Alagoas; havia passado 12 anos no encalço dos cangaceiros;  Já havia tido 11 combates – com grupos chefiados por: Luiz Pedro do Retiro, Corisco, Gato, Zé Baiano, Português, Manoel Moreno, Moita Brava e Lampião;  Já havia sido nomeado por 08 vezes delegado em diversas cidades de Alagoas;  Já havia participado de 03 Revoluções fora do Estado – 1925, 1930 e 1932; E nos apontamentos de sua carreira militar, já havia recebido muitos elogios dos seus superiores e participado de várias missões de realce. Portanto em 1938, em sua carreira militar, já tinha uma folha de prestação de serviços invejável.

Muitos pensaram que o Coronel João Bezerra ficaria estigmatizado com o tal combate de Angico/SE, que sempre seria lembrado apenas como o militar/tenente sortudo, que deu cabo ao grupo de cangaceiros liderado por Lampião, porque, afinal, este combate lhe deu projeção para o mundo. Puro engano, ele continuou sua trajetória de vida militar até 04/11/1955 quando aposentou-se, como coronel. Depois do histórico combate em 1938, sua carreira militar continuou, galgando as graduações de: Capitão, Major, Tenente Coronel e Coronel, grau supremo da instituição policial militar, quando de sua aposentadoria; teve 19 nomeações de comando e 4 nomeações de delegado.
  
E, diga-se de passagem, teve uma vida intensa. Uma luta por honra, por dever, mas também por amor a sua carreira de militar determinado, estrategista e predestinado. Conclusão, para que alguém tenha tal conceito e evolução em sua carreira profissional dentro de uma corporação é necessário que tenha uma conduta ilibada e digna de enaltecimentos. Faleceu na cidade Garanhuns - PE , em 04 de dezembro de 1970 e sepultado, com honras militares, em Maceió - AL, no Mausoléu da Maçonaria, na qual alcançou o grau 18.


E no final de 2013/começo de 2014, conseguimos um grande feito. Reeditar – a 4ª Edição do livro “Como dei cabo de Lampeão”, uma obra muito cobrada e esperada, escrita por ele, como Capitão, logo após o histórico combate de Angico em Sergipe. Que inclui um Artigo belíssimo do Dr. Frederico Pernambucano de Melo, escrito para a 3ª edição e mantido nesta 4ª. Esta 4ª edição pode ser encontrada na Livraria Cultura – Lojas de Recife e site, na Livraria Jaqueira em Recife e com nosso querido amigo Professor Pereira, através do email franpelima@bol.com.br ou telefones 83 35317352 e 83 99118286.

Portanto amigo Manoel Severo, receba o nosso MUITO OBRIGADO, o agradecimento de coração de uma família que jamais esquecerá o cidadão que busca a verdade e o esclarecimento dos fatos.

Ane Ranzan
Família Ranzan de Britto
Recife, 12 de maio de 2014

NOTA CARIRI CANGAÇO: Ane Ranzan é esposa de Paulo Britto, nora do coronel João Bezerra.

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Livro referencial ganha primeira reedição "Lampião e o Rio Grande do Norte" - A história da grande jornada -


Lançado em 2005 e esgotado no ano seguinte o livro está novamente ao alcance dos pesquisadores e colecionadores do tema.

“Lampião e o Rio Grande do Norte”, cujo subtítulo é “A história da grande jornada”, de Sérgio Augusto de Souza Dantas, é uma obra seminal. Não é possível mais, desde o seu lançamento, tratar do Cangaço, seja no Rio Grande do Norte, seja de uma forma geral, sem uma consulta à obra.

Mossoró é assunto importante, no livro. Não pode ser diferente. Mesmo tratando da incursão do bando de Lampião ao Rio Grande do Norte, desde sua entrada pela Tromba do Elefante, margeando Luis Gomes, até sua saída, no rumo de Limoeiro do Norte, Ceará, a ida a Mossoró é onipresente, por que o quixó preparado por Massilon e o Cel. Isaias Arruda, de Aurora, Ceará, no qual Virgolino – assim mesmo, com “o”, como nos previne o Autor – é parte fundamental do trabalho.

As informações colhidas durante quatro anos de pesquisa, perambulações, visitas, entrevistas, cruzamento de informações, consulta à literatura hoje vastíssima sobre o cangaço estabelece um contraponto interessante com o estilo do Autor. Para coroar, um valioso acervo fotográfico é colocado à disposição de quem adquirir o livro.

Em relação a Massilon, acerca do qual mantenho permanente interesse, Sérgio Dantas, jovem juiz norteriograndense agrega informações valiosíssimas, dentre elas o “raid” que esse personagem singular empreendeu nos costados do Jaguaribe e Cariri logo após o episódio de Mossoró. Isso significa dizer que a lenda segundo a qual Massilon, mesmo antes da célebre foto de Limoeiro, Ceará, já se separara de Lampião e teria ido embora para o Norte, não é verdadeira. Alguns, inclusive, diziam que o cangaceiro que aparece na foto tirada em Limoeiro não seria, na realidade, Massilon.

Detalhada, a história da marcha espanta pela riqueza de detalhes. Assim, ficamos sabendo da passagem de Lampião por todo o território do Rio Grande do Norte cidade por cidade, povoado por povoado, sítio por sítio, fazenda por fazenda. Os acontecidos nas cercanias de Martins e Umarizal, antiga “Gavião”, são relatados com precisão. E tudo quanto aconteceu em Apodi, antes da chegada de Lampião, protagonizado por Massilon, recebe tratamento de pesquisador sério e interessado.

A descrição geográfica e sociológica dos lugares pelos quais passou o bando de cangaceiros merece respeito. Através dela é possível perceber o dia-a-dia daquelas comunidades existentes no início do século XX. E a descrição dos mal-tratos, arruaças, bebedeiras, torturas físicas e psicológicas comove e revela a sensibilidade do Autor.

Agora resta esperar que a obra semeie críticas e informações outras, alguma correção de rumo – se for o caso – para retornar ainda mais rica para o acervo dos historiadores e sociólogos do Brasil. É assim que ocorre quando uma obra deixa de pertencer ao Autor, por sua importância, e passa a fazer parte do referencial bibliográfico ao qual pertence.

Honório de Medeiros.

Mestre em Direito; Professor de Filosofia do Direito da Universidade Potiguar (Unp); Assessor Jurídico do Estado do Rio Grande do Norte; Advogado (Direito Público); Ensaísta.

Serviço

Lampião e o Rio Grande do Norte - A história da grande jornada,  2ª edição  tem 452 páginas. 
E está sendo vendido exclusivamente pelo 
"Professor Pereira" 
ao Preço de R$ 58,00 (Cinquenta e oito reais) com frete incluso. 
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Lampião teve mais algum filho, com exceção de Expedita Ferreira Nunes?


Lampião teve mais algum filho, com exceção de Expedita Ferreira Nunes?

Vejamos, o importante documento firmado por João Ferreira, irmão do rei do cangaço Lampião, publicado na revista "o cruzeiro", edição de 26 de Setembro de 1953.

Fonte: facebook

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Um triste assassinato

Por José Mendes Pereira

Preservar os verdadeiros nomes dos personagens que figaram neste artigo é preciso.
  
Foi lá pelos anos 70, não tenho lembrança em que ano  isto aconteceu, não em Mossoró, mas em suas terras. 

De todos os empregados da “Firma & Cia” João Capistrano era um dos mais responsáveis, e até apostava no crescimento galopante da firma, cumprindo tudo que era necessário pelo crescimento da empresa, e como desejava o seu bom andamento produtivo, nada lhe era difícil, até chegava ao  trabalho 1:00 hora antes do início das atividades para todos.

João Capistrano tinha uma boa conduta, motorista de primeira categoria, amigo do patrão, do pessoal administrativo, dos colegas de trabalho, enfim, João não era qualquer um, e apesar de não ter participação nos lucros da empresa, João era considerado um dos seus dirigentes.

Mas o João há meses ou talvez anos que vinha traindo os seus superiores. Não prestava contas de acordo com o que recebia dos fregueses, alegava que o restante seria pago na próxima entrega. E assim continuava enganando os seus superiores.

Já não tendo mais condições de fornecer mercadorias aos comerciantes, os sócios entraram em acordo que, na próxima viagem para entregar mercadorias, um deles iria  acompanhar o João, só assim, este, conversaria com a freguesia, explicando o motivo da suspensão de mercadorias, vez que a empresa não tinha mais condições para fornecer aos mesmos, pois estava faltando recursos para a compra de matéria prima para a sua fábrica.

Ao tomar conhecimento da reunião que acontecera entre os dirigentes da empresa, o João não gostou, alegando que eles deixaram de acreditar na sua palavra. E como o grupo de dirigentes da empresa tinha o João como um operário exemplar, talvez padrão, disse-lhe que nada era pessoal, apenas a empresa não tinha mais condições de continuar fornecendo mercadorias aos clientes, por falta de recursos para compra de matéria prima.

O dia seguinte, o João viajaria para Baraúna, (cidade que já pertenceu à Mossoró), em companhia de um dos dirigentes da empresa, o Carlos Couto, sócio minoritário da empresa, e agora o João teria que se virar, pois o seu feito de desonestidade, estava preste a ser descoberto. A noite anterior, o João não dormiu, só pensando como iria se livrar da situação que ganhara, por sua culpa, por sua máxima culpa.

Ao amanhecer do dia, o João dirigiu-se até à fábrica, e lá já encontrou o Carlos Couto, que seguiria com ele até a cidade de Baraúna, um dos lugares que a empresa abastecia mercadorias aos comerciantes, e lá, era onde estavam os seus maiores devedores.

O carro já estava carregado, mas com poucos produtos. O Carlos Couto ocupou a cabine do carro. O João entra no automóvel e liga o carro, e toma direção ao lugar de destino. No percurso, nenhuma palavra saiu da boca do João, salvo quando o Carlos Couto lhe perguntava algo. E geralmente as respostas eram em tom de abuso.

Finalmente chegaram ao município de Baraúna. O João estava nervoso. Logo no primeiro comerciante, Carlos Couto já começou a notar a desonestidade do João Capistrano. Apresentada a nota de dívida, o comerciante disse-lhe que não estava devendo nada ao João. E tudo que ele comprava, era a dinheiro. Mais outros e outros, todos confirmaram que não eram devedores à empresa.

O João estava inquieto, não tinha mais como se defender. Ninguém lhe devia. O Carlos Couto já não entendeu  mais nada. O homem que sempre foi de confiança, agora era um verdadeiro ladrão, caloteiro, safado...

O João aceitou todas as palavras grosseiras que o Carlos Couto disse contra si. Não tinha como reverter esta situação desonesta. O Carlos Couto resolveu voltar logo para Mossoró, porque seria inútil acusar os seus fregueses de devedores. Comprovada a desonestidade do João o empresário pediu que seguisse a estrada de Mossoró.

João Capistrano tomou à estrada, e durante o percurso, nenhuma palavra saiu da sua boca, apenas remoía a decepção da sua desonestidade dentro de si. Já rodado alguns quilômetros, o Carlos Couto pediu para o João parar o carro, pois estava com a bexiga cheia. Precisava esvaziá-la. João obedeceu e logo parou o carro no acostamento. O sócio da empresa desceu e afastou-se um pouco da estrada. Dá início a sua necessidade fisiológica.

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João desceu e dirigiu-se ao patrão. E sem mais imaginar, atirou nas suas costas.

O Carlos Couto dá um enorme grito, e vendo o João com uma arma na mão, coisa que ele jamais esperava isso dele, disse-lhe:

- Você enlouqueceu João? Você me matou, João!

João quer terminar o serviço, apontando a arma para o homem que já estava morrendo.

O homem ainda lhe implorou:

- Não atire mais, João! Eu...

E com o ódio na sua mente, apertou o gatilho outra vez, disparando o segundo tiro fatal. Ao vê-lo morto no chão, João arrependeu-se. Matou um homem que muito lhe ajudou.

Agora não era mais as contas que os seus fregueses lhe deviam, aliás, nenhum lhe devia. Tinha que organizar a sua defesa. João arrastou um canivete do bolso e cortou a sua própria testa, para fingir que fora assaltado. Em seguida, deu um tiro em sua coxa. Mesmo sangrando, seguiu a estrada de Mossoró, dirigindo com dificuldade. O sangue que saía da coxa o incomodava muito. As dores eram cruéis. A testa estava toda banhada de sangue.

Lentamente vem ele tangendo o carro para Mossoró, devagar, com cuidado. Sentiu um mal estar, e ao longe, avistou um veículo que vinha em sua direção. João resolveu parar o carro para ser socorrido pelo motorista que guiava o automóvel. Tinha que sair da sua cabine antes do carro que se aproximava. Do contrário ele não pararia.

Já bem próximo, o condutor do carro observou que a sua cara estava banhada de sangue. Mesmo temendo, resolveu parar para saber o que estava acontecendo.

João disse que fora assaltado, e que vinha fugindo. Os assaltantes mataram o seu amigo, no caso, o Carlos Couto. Como ele ainda estava dentro do carro, os assaltantes não conseguiram matá-lo.

O homem resolveu colocá-lo dentro do seu automóvel e voltou para Mossoró, deixando-o internado em um dos hospitais da cidade.

 
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A polícia tomou conhecimento do suposto assalto. E foi de encontro ao corpo do Carlos Couto que estava à beira da estrada. As emissoras de rádio e jornais chegaram lá. A perícia também estava lá. Depois de feito os ajustes no cadáver, removeram-no para o ITEP de Mossoró.

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João continuava hospitalizado, mas não iria se demorar. O ferimento que sofrera na testa não foi grave, apenas o tiro sofrido na coxa, precisava de uma pequena cirurgia.

No leito hospitalar João preparava a sua defesa. E ao sair do hospital, foi prestar o seu depoimento à polícia. João caiu em contradições várias vezes. Após de tudo, João confirmou que matou o seu patrão, com vergonha, ao saber que ele tomou conhecimento do dinheiro que vinha desviando da empresa. 

João vai a júri, Infelizmente João foi condenado passar 30 anos na cadeia, na Colônia Penal de Natal.

João era um preso exemplar, e após alguns anos, ganhou o direito de ficar o dia fora da cadeia, mas à noite, era obrigado dormir lá.

Mas o João ainda tinha que enfrentar outras circunstâncias na vida. Alguém,  irmão do assassinado, o Carlos Couto, estava de olho no João. Era uma irmã que não se conformava com a sua liberdade. E de imediato, contratou um pistoleiro para executar o João.

João estava ali bem próximo da Colônia Penal. O pistoleiro acompanhado de outro comparsa, aproximaram-se do João, e no meio da conversa, almoçaram, beberam, jogaram sinucas..., e com este aparato todo, o pistoleiro e seu comparsa conseguiram embriagá-lo. 

Já embriagado, prometeram dá uma voltinha pelas ruas de Natal. Mas a finalidade era tirar o João dali, e fazer o que para eles era o mais importante. Matar o João. 

Ao saírem da capital, pegaram a estrada que segue para Mossoró, e em meio estradão, entraram em um matagal. João estava incomodado, e ainda não sabia de nada, mas já desconfiava, e não sabia para onde estavam caminhando.

O pistoleiro parou o carro. Os três desceram do automóvel. João pergunta:

- Por que estamos nestas matas?

Um dos pistoleiros pergunta:

- Você está lembrado que matou o Carlos Couto da Firma & Cia?

Com esta, João já descobriu que iria morrer, e se defendeu dizendo-lhe:

- Lembro-me, mas já faz muitos anos.

O pistoleiro arrastou o revólver e apontou para o João, dizendo-lhe:

- Você já estava sabendo que vai morrer agora mesmo, cabra safado?

João acovarda-se pedindo por todos os Santos que não o mate.

O pistoleiro apertou o gatilho, e o João Capistrano caiu morto como um passarinho. Em seguida, tirou uma faca da cintura, cortou-lhe as duas orelhas, entraram no carro, e tomaram a  estrada para Mossoró. As duas orelhas eram a comprovação do assassinato do João Capistrano, as quais, tinham que ser entregues a irmã do Carlos Couto. 

Finalmente João estava morto no meio daquelas árvores verdejantes. De viventes que viram a execução do João, com exceção dos dois pistoleiros, apenas as árvores e alguns pássaros que sobrevoavam  a pouca vegetação, presenciaram aquela triste morte de outro ser humano.

  Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

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