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sexta-feira, 16 de maio de 2014

O insubordinado feminino Opinião

Por Nadja Claudino
Mulher cangaceira de Marcus Plech

A entrada da mulher no bando de cangaceiros se constitui num dos eventos mais polêmicos do cangaço. Alguns autores atribuem a entrada das mulheres à decadência do bando de Lampião, fato que corrobora com a opinião de 

Padre Cicero Romão Batista

Padre Cícero Romão Batista, que foi contemporâneo do rei dos cangaceiros e disse: “Lampião será invencível enquanto não houver mulher no bando”. 

O cangaceiro Sinhô Pereira

E não era só o “santo” do Juazeiro que nutria essa opinião, mas Sinhô Pereira, aquele que o introduziu no cangaço, sendo seu chefe até 1922, também pensava assim. Ele foi categórico ao afirmar que jamais levaria mulheres para o cangaço, desaprovando veementemente a escolha de Lampião em aceitar Maria Bonita no bando.

A cangaceira Maria Bonita

Lampião era uma figura contraditória sob todos os aspectos, homem de vida errante, que se apaixona e leva para junto do seu grupo uma fêmea, criatura fraca, que talvez não se adaptasse às caminhadas estafantes no meio da caatinga, às lutas contra as volantes, à fome e sede muitas vezes companheiras desses grupos de homiziados. O ato de Lampião abriu um precedente e outros cangaceiros passaram a andar acompanhado por mulheres, como foi o caso de Corisco, que viveu e morreu ao lado de Dadá.

A cangaceira Dadá

Em 1930, Lampião conhece Maria Déia, apelidada pelas volantes como Maria Bonita. Maria era mulher do sapateiro José Neném e vivia uma relação bastante conturbada com o marido. Lampião sempre passava na fazenda dos pais de Maria e foi lá que a conheceu. 

Zé de Neném ex-esposo de Maria Bonita

Para uma mulher sertaneja, um cangaceiro era uma espécie de galã. A impressão que causavam era a de serem homens românticos e diferiam bastante dos outros homens por elas conhecidos. No imaginário feminino sertanejo da época, os cangaceiros era um ser que sempre estava vivendo uma aventura, podiam resgatá-las daquele marasmo em que viviam. 

Eles andavam perfumados, os dedos carregados de anéis de ouro, encarnavam uma aparente riqueza, o luxo, algo escasso naqueles sertões. E foram esses fatores que levaram a mulher do sapateiro a pedir a sua mãe para quando Lampião chegasse, ela fosse avisada. A mulher queria conhecer não um cangaceiro, mas o chefe, o famoso rei do cangaço.O encontro dos dois se deu quando Lampião estava com 33 anos e Maria tinha pouco mais de 20. Lampião, assim que lhe conheceu se apaixonou. Nesse momento, tomou a decisão de levá-la consigo, quebrando desta forma uma regra do cangaço e indo contra os conselhos do Padre Cícero e do seu ex-chefe Sinhô Pereira. 

O guerreiro queria em parte imitar a vida das pessoas comuns, queria uma companheira.Quando Maria entra para o cangaço, Lampião comunica aos seus homens que quem tivesse mulher, namorada ou amasia poderia daquele dia em diante viver com elas no bando. Foi com grande espanto que a imprensa noticiou a entrada das mulheres no cangaço, os soldados de uma volante ao entrarem em combate com o grupo de Lampião ficaram muito surpresos quando notaram a presença de mulheres durante os combates. Afinal de contas, nunca se teve notícias de semelhante coisa nos bandos precursores do bando de Lampião. 
  
 Bando de cangaceiros de Lampião

As mulheres dos cangaceiros passaram a mexer com o imaginário do povo. Alguns achavam que elas viviam desfrutando de muito luxo e a beleza das cangaceiras e suas artes de sedução eram cantadas nas feiras pelos violeiros. Elas também povoavam a mente dos soldados das diversas volantes. Inclusive foram os soldados que começaram a chamar a mulher de Lampião de Maria Bonita. No bando ela era conhecida como Maria Déia ou Maria de Lampião.

As cangaceiras Enedina e Sila

Maria Bonita, Dadá, Sila, Enedina e outras mulheres entraram na nossa história como protagonistas. O que seria de Lampião sem Maria Bonita ou Corisco sem Dadá? Sem as mulheres o cangaço talvez não tivesse o significado que tem. A mulher pagou um alto preço por essa ousadia. 

Volante do tenente João Bezerra

Quando a volante de João Bezerra entra em Angicos, Maria Bonita e Enedina são executadas com os outros cangaceiros. Depois de mortas foram decapitadas e suas cabeças percorreram várias cidades do sertão. O Estado, através da violência instituída, massacrou as mulheres que ousaram ser contra a ordem social vigente. Mas Maria Bonita continuará sendo um mito e ninguém apagará.

Nadja Claudino - História / UFCG
Tianguá - Ceará

Ilustrado por José Mendes Pereira

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