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sábado, 18 de julho de 2020

APÓS ARRECADAR QUASE 33 MILHÕES DE LIBRAS EM UMA CAMPANHA EM FAVOR DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE, VETERANO INGLÊS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL É SAGRADO CAVALHEIRO PELA RAINHA ELIZABETH II

O veterano de guerra descreveu a cerimônia como ‘extraordinária’ (Foto: Getty)
O veterano da Segunda Guerra Mundial com 100 anos, que levantou quase 33 milhões de libras para O Serviço Nacional de Saúde, que na Inglaterra possuía a sigla NHS, viajou para o Castelo de Windsor com sua família para uma cerimônia verdadeiramente “Única”.
O herói que angariou tanto dinheiro foi convidado à residência real para uma investidura especial com a monarca, o que é raro, pois todas as cerimônias de honra real planejadas para junho e julho foram canceladas devido o coronavírus.
Ele foi visto conversando com a rainha depois de receber a Cavalaria (Foto: Pool / Splash News)
A rainha de 94 anos, que está no Castelo de Windsor antes até do início do confinamento em seu país, realizou pessoalmente o compromisso oficial para homenagem o veterano, que agora passa a se chamar Sir Tom. A rainha elogiou pessoalmente o capitão, dizendo a ele: ‘Muito obrigado, é uma quantia incrível de dinheiro que você levantou’.
O capitão conquistou os corações do país por sua determinação em realizar 100 voltas em seu jardim, na região de Bedfordshire, centro da Inglaterra, antes de completar 100 anos. Depois de começar a arrecadando apenas 1.000 libras, esse montante foi ampliado até quase 33 milhões de libras em doações vieram de todo o mundo.
O capitão Sir Tom Moore foi condecorado pela rainha para agradecê-lo por seus esforços de captação de recursos (Foto: Getty)
A rainha Elizabeth usou a espada que pertencia ao pai, George VI, para apresentar ao capitão Sir Tom as insígnias de Knight Bachelor. A cerimônia ocorreu nos terrenos do Castelo de Windsor, com a presença da família do veterano da Segunda Guerra.
Boris Johnson recomendou que Sir Tom fosse cavaleiro (Foto: Getty)
O Palácio de Buckingham acredita que é a primeira vez na história que a cerimônia é realizada no formato estritamente socialmente distanciado. A chegada da rainha foi anunciada pelo som de gaitas de foles tocadas pelo gaiteiro da rainha, o major Richard Grisdale, do The Royal Regiment of Scotland.
Sir Thomas Moore com sua filha, genro e netos (Foto: POOL / SplashNews.com)
Falando hoje no terreno do castelo, Sir Tom disse: ‘Foi um dia absolutamente extraordinário, você nunca poderia acreditar que aos 100 anos eu receberia uma honraria como essa. Nunca tive o privilégio de estar tão perto da rainha e de falar com ela, isso foi realmente extraordinário.”
Capitão Tom Moore comemorou seu centésimo aniversário em abril (Foto: PA)
Foi revelado em maio que o capitão Sir Tom seria cavaleiro após sua conquista excepcional. O primeiro-ministro Boris Johnson descreveu Sir Tom como um “verdadeiro tesouro nacional”, que “forneceu a todos nós um farol de luz através da névoa do coronavírus”.
Trabalhadores do NHS são vistos com um pôster de aniversário do capitão Sir Tom Moore do lado de fora do Hospital da Universidade de Aintree durante a campanha Clap for Carers (Foto: Reuters)
O PrimeiroMinistro recomendou que o veterano fosse excepcionalmente homenageado pela rainha, que aprovou a decisão. Sua nomeação como cavaleiro acontece apenas algumas semanas depois que ele foi nomeado coronel honorário pelo Royal Army, o Exército Inglês,como uma homenagem  pelo sucesso de sua missão de captação de recursos. Nesta semana, Sir Tom também foi homenageado com uma escultura de bronze encomendada e paga pelo artista de Derbyshire, Gary McBride.
Garry McBride, da Monumental Icons, com um busto de bronze do capitão Sir Tom Moore (Foto: PA)
Sir Tom iniciou sua campanha de arrecadação de fundos para agradecer ao NHS pelo trabalho na linha de frente da crise do coronavírus em seu país. Ele também lançou o slongan da campanha – “Você nunca andará sozinho”, junto com o cantor Michael Ball, que alcançou o número um nas paradas, tornando-o o artista mais antigo a alcançar o primeiro lugar.
O capitão Sit Tom foi descrito como um ‘tesouro nacional’ (Foto: Reuters)
Políticos e celebridades estão entre os fãs do veterano que o parabenizaram hoje. Micheal Ball twittou: “Eu não poderia estar mais emocionado por você, Sir Tom. Você parece esplêndido. Enviando a você o maior abraço deste dia. A glória de uma vida notável”.
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.
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CANGAÇO - NAZARENOS E ZÉ RUFINO

Por Aderbal Nogueira


Cangaço - Nazarenos e Zé Rufino Antônio Amaury fala sobre: - Como e por que escreveu o primeiro livro - Lampião e os fora-da-lei norte-americanos - Os grandes perseguidores de Lampião Link desse vídeo: https://youtu.be/7BdqkQxWGGg

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AUTO DA LIBERDADE - MOSSORÓ

Por Aderbal Nogueira
https://www.youtube.com/watch?v=HhlQZeGklbo&feature=youtu.be&fbclid=IwAR0DA5v3DK6okJ2Khqv243igGwuhD27vbrBBrHuEhIFweqOlw2gm5rsFtvo

Encenação do ataque de Lampião a cidade de Mossoró RN
Música neste vídeo
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CANGAÇO - A VINGANÇA DE ZÉ BAIANO

Por Aderbal Nogueira
https://www.youtube.com/watch?v=mc_fTEIvkSQ&fbclid=IwAR1wyCToayeLsAf969rlNGpcqfkuLOPme0iRv5Kca0CZRwJLKlJhDUGuqfI


Cangaço - A vingança de Zé Baiano O ex-volante Teófilo Pires narra uma história de muito sangue e sofrimento no sertão no tempo do cangaço. Link desse vídeo: https://youtu.be/mc_fTEIvkSQ

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JOSÉ CORDEIRO

Por Aderbal Nogueira


José Cordeiro foi um dos combatentes das trincheiras de Mossoró, durante a tentativa de invasão do bando de Lampião.

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OS BANQUETES DO PADRE CÍCERO

Do acervo do José João Souza

Padre Cícero era um grande anfitrião e sabia da importância de uma boa mesa como instrumento de convencimento de decisões difíceis. Tal foi o famoso banquete servido em 04 de outubro de 1911, comemorando simultaneamente a inauguração do recém - criado município de Joazeiro, a posse de Cícero no cargo de prefeito e a assinatura do chamado Pacto dos Coronéis. Outro grande banquete foi oferecido o dia 10 de setembro de 1925, ao Presidente do Estado do Ceará, Desembargador José Moreira da Rocha.


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LAMPIÃO É NOSSO SANGUE

drama de Virgolino analisado por um ângulo diferente

Nessa reportagem da revista O CRUZEIRO de 26 de setembro de 1953, encontramos uma experiência patrocinada por esse periódico, onde ficou para a história do cangaço. Trata-se da visita do irmão de Lampião às terras de seu passado, tendo contato com familiares de pessoas que traíram seu irmão Lampião, entrando em assuntos que ele preferia não tocar mais, assim como o autor da matéria, em entrevista a familiares, percebeu.

 
A vida é efêmera e todos nós sabemos disso. Acontece conosco aquilo que o velho adágio popular diz: Quem planta ventos, colhe tempestade." e outro que diz "Colhemos o que plantamos." Isso aconteceu com Lampião. E para lembramos disso, no final dessa reportagem, que nos informa, como o irmão de Lampião, João Ferreira, ao visitar pela primeira e única vez, o local que seu mano tombou, cortar um galho de árvore, fazer uma cruz e fixou-a entre pedras, no local onde jazera o corpo decapitado do irmão, e o repórter perguntar: 

— Enterraram o corpo? 

— Não, a água levou. Respondeu o guia.

Vamos então ler a reportagem de Luciano Carneiro e ver também as fotos que ele próprio tirou:

"Lampião é nosso sangue" 

Pela primeira vez a família do "Capitão" Virgulino defende de público a sua memória.

Jornada sentimental de um irmão de "Lampião" pelas terras que serviram de marco à carreira do "rei do cangaço" — João Ferreira revê o seu berço natal após uma ausência de 37 anos e planta uma cruz onde o mano Virgulino foi morto e decapitado — A outra irmã sobrevivente mora em Alagoas — O CRUZEIRO localiza e fotografa a filha e o netinho de "Lampião" — Deve uma filha envergonhar-se do pai cangaceiro? 

Texto e fotos de LUCIANO CARNEIRO 

ESTA reportagem nasceu de um encontro com Rachel de Queiroz. Conversa vai, conversa vem, nossa grande Rachel abriu a bolsa e tirou uma carta para me mostrar "Um primo de "Lampião" foi quem escreveu", ela disse. 

O primo, Antônio Ferreira Magalhães, advogado em Recife, dizia a Rachel, entre outras coisas: "Nós da família Ferreira... não pretendemos justificar ou legitimar os crimes de "Lampião" mas julgamos... lamentável erro de observação... o situar-se Virgulino no plano comum dos malfeitores..." 

A carta fascinaria qualquer repórter. Se esse primo achava que "Lampião" não foi um criminoso comum, é que a família Ferreira tinha uma interpretação dos fatos. Nesse caso, por que não se dar a palavra aos Ferreira? Permitir que eles, pela primeira vez, apresentassem o seu lado da história seria colher um elemento valioso para futuras pesquisas históricas.

Mas os parentes de Lampião não gostam de falar. Eles dizem ter uma profunda mágoa de que a figura de Virgulino apareça por aí tão deformada. Além do mais, queixam-se muito do que sofreram por causa do parentesco. Seria melhor não reavivar mágoas. O irmão de Virgulino, João Ferreira, manteve-se até 1953 sem falar a jornalistas sobre o drama da família, revoltado com as perseguições que lhe valeram anos de prisão e até uma condenação à morte. 

E ele jamais compactuara com os feitos do irmão. Quando procurei o advogado Ferreira Magalhães em Recife, ele afirmou que preferia que "esse drama fosse esquecido". Disse por que: — Para muitos a vida de "Lampião" foi apenas um rosário de atrocidades. Sua morte: um alívio. Para nós, os parentes. Lampião era também o rapaz ordeiro e trabalhador dos primeiros tempos, lançado ao crime por circunstâncias estranhas à sua vontade. Por isso, enquanto o Nordeste se alegrava com as noticias de sua morte, nós nos ajoelhávamos. Nós perdíamos apenas um parente. 

Um parente que se pusera fora da lei para vingar injustiças. Havia pois uma divergência de base entre esses dois modos de pensar, acrescentou Ferreira Magalhães. E se eram opiniões inconciliáveis, "para que rememorar a vida heroica mas inglória de "Lampião", erguendo uma controvérsia sobre a sua cabeça insepulta?" 

A resistência dos Ferreira à ideia da reportagem terminou por ser vencida e em conseqüência O CRUZEIRO localizou os dois irmãos sobreviventes de "Lampião", levou João Ferreira aonde "Lampião" nasceu e aonde foi morto, obteve de João a versão dos Ferreira sobre os acontecimentos que lançaram Virgulino ao crime, fotografou em primeira mão a filha e o netinho de "Lampião" e Maria Bonita. 


QUANDO uma volante alagoana matou "Lampião" em 1938, ele usava tudo isso que aparece na página da esquerda: chapéu, óculos, lenço, bornais, cartucheiras, cantil, alpercatas, pistola, punhal e apito. Só a roupa (no foto) não lhe pertencia. O rosto é uma máscara de morte mandada fazer em cera pelo Instituto Histórico de Alagoas, onde estas fotografias foram feitas. 

UMA CABEÇA em bronze de "Lampião" e uma estatueta de cangaceiro trabalhada em madeira — símbolos do drama nordestino focalizado agora nesta reportagem. Foram adquiridos pelo cineasta Lima Barreto.  





JOÃO FERREIRA reviu terras que não pisava havia 37 anos, O único irmão de "Lampião" que não ingressou no cangaço vive hoje na cidade de Propriá, no Estado de Sergipe, levando a vida honesta que sempre levou. Sofreu bastante por ser irmão de "Lampião". 
PARA OS OUTROS A MORTE DE "LAMPIÃO" FOI UM BEM, UM ALIVIO.

ESTA REVISTA proporcionou a João Ferreira uma viagem de automóvel que ele jamais sonhara realizar. 

NO ALTO SERTÃO de Pernambuco João abraçou parentes que não via desde os seus quinze anos de idade.

NÃO HAVIA choro quando partia. Estivera ausente 37 anos. E ausência é madrasta de apego. 

JOÃO FERREIRA mandou cortar um galho de árvore e fazer urna cruz. Fincou-a no local onde jazera o corpo do mano. Foi recolher flores silvestres e veio depositá-los ao pé da cruz. Para homenagear o irmão. 

A iniciativa de O CRUZEIRO proporcionou a João Ferreira uma jornada sentimental que ele jamais sonhara realizar Esse homem alto, careca, desconfiado, das fotografias ao lado, passou seis dias em cima dum automóvel, varando 2.000 km de Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Vocês precisavam ver que arroubos de entusiasmo o alto sertão arrancava de João. 

Como seus olhos brilhavam. Como o semblante irradiava alegria, pelo menos enquanto ele podia esquecer as razões que o haviam afastado das terras de seu bem-querer. 

No município de Serra Talhada, em Pernambuco, ele abraçou parentes que não via desde os seus 15 anos de idade. E ele agora está com 52 anos. Levado à Fazenda Serra Vermelha, onde nasceu, e onde também nasceu "Lampião", João Ferreira encontrou xique-xique brotando nas ruínas do casarão de sua infância. Voltou-se para mim e disse com desalento: 

"A vida é assim mesmo..." Há 37 anos não pisava ali. Pensava que ia morrer sem voltar. Conversava (incógnito) com os novos donos da terra, fazia perguntas sobre a vida na fazenda. 

Tudo agora lhe parecia diferente. Não havia mais aquela atmosfera dos seus tempos de menino, dos seus tempos de rapaz. Não havia mais.

O ADVOGADO pernambucano Antônio Ferreira Magalhães, primo de "Lampião". 
"LAMPIA0" - MOÇO 
Virgulino Ferreira do Sirva aos 26 anos de idade, numa fotografia rara que se encontrava em poder do umas tias, em Pernambuco. Foi nessa época que ele recebeu a "patente" de capitão das mãos de Padre Cícero, do Juazeiro do Norte. Reparar o olho direito cego. 
João VIAJANDO de barco, ouvia histórias sobre os últimos dias de "Lampião". À direita, deitado, o primo Manuel. 

EM ANGICO desembarcou para ver a local onde, há 15 anos, o seu mono foi traído, morto e decapitado.

EM DELMIRO, no casa da mana Mocinha, tomou leite no pé da vaca (com farinha). 

EM SERRA Talhada, João Ferreira viu xique-xique brotando nas ruínas do casarão onde "Lampião" nasceu. 

"O CRUZEIRO" DESCOBRE EM ARACAJU A FILHA E O NETO DE MARIA BONITA. NUNCA FORAM FOTOGRAFADOS.

A FILHA, O NETO, E O GENRO DE LAMPIÃO, Expedita, as lado de seu esposo Manuel Messias Neto, segura o filhinho Dejair, de 9 meses de idade, neto de "Lampião". Pelo primeira vez a família posou para o objetiva de um repórter. 


A FILHA DE "LAMPIÃO" 
Expedita Ferreira Nunes, que a família Ferreira aponta como única filha deixada por "Lampião" com Maria Bonita, foi localizado pelo repórter em Aracaju. É uma jovem esposa e mãe, com 21 anos de idade. Normal. Bonita. De tez morena. 

Foi educada por João Ferreira e, seguindo o exemplo de seu tio, não gosta de falar sôbre "Lampião". Mas lê tudo que se publica sobre seu pai e até mesmo o filme "O Cangaceiro" ela foi ver e não gostou. 

Ela guardava a edição de O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sobre "Lampião". 

DIZIA-SE que "Lampião" e Maria Bonita haviam deixado um filho. João Ferreira nega, assinando a declaração cujo "fac-símile" estampamos abaixo:

"Declaro ao repórter Luciano Carneiro que a senhora Expedita Ferreira Nunes, de 21 anos de idade, esposa do sr. Manoel Messias Nunes, 4 filha de meu irmão Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampeão, e de sua companheira Maria Bonita. 
Quando ela nasceu Virgolino me pediu que eu a fizesse uma mulher de bem. Ele não estava em condições de faze-lo. Não me consta que alem de Expedita, tivesse havido qualquer filho da união de Virgolino e Maria Bonita. Se houve, se há, eu nunca soube." 

 
RECIFE, 19 de Agôsto de 1953 

OS CORPOS de "Lampião", Maria Bonita e seus nove comparsas haviam ficado realmente no leito seco de um riacho. Uma ligeira camada de terra os cobria. Os urubus descobriram e deram em cima. 
Veio uma alma piedosa, enxotou-os, foi buscar veneno e o espalhou pelo local com o fito presumível de manter afastados os urubus. Sem poder adivinhar que aquilo fosse veneno, os urubus voltaram à carga. Três ou quatro tombaram ali mesmo. 

E o próximo visitante que chegou, encontrando os urubus mortos sobre os restos dos cangaceiros, pensou rápido e saiu com a boca no mundo a dizer que "Lampião" não havia sido morto a bala, não. Havia sido envenenado. 

Assim se formam certas lendas no Brasil. Aliás, ninguém pôde atestar se os despojos estavam envenenados ou não. Quando as chuvas chegaram, o riacho ganhou águas e as águas mesmas cuidaram de decompor e destruir o que restava do estado-maior de "Lampião". João Ferreira se esquivava de ouvir essas histórias. 
Seus anos de vida estavam cansados de ouvir histórias tristes sobre Virgulino. 

Em vez, ele andava pelo mato a procurar qualquer coisa. Até que voltou, trazendo um punhado de flores silvestres. 
Aproximou-se da cruz tosca. que fixara entre as pedras, tirou o chapéu da cabeça e se ajoelhou. Após alguns momentos de reflexão, depositou as flores ao pé da cruz. Para João. a morte perdoara os crimes de Virgulino. Ali ele não era mais o rei dos cangaceiros. Era um finado. Quando João se levantou, alguém identificou entre os presentes o Sr. Oséias Cândido, irmão de Pedro Cândido. 
Pedro Cândido era um fazendeiro que negociava com "Lampião" e foi quem guiou a volante alagoana ao esconderijo de Angico. "Lampião" morreu por causa dessa traição. — Meu irmão — disse Oséias — foi posto num dilema: morrer, ou mostrar onde "Lampião" estava. 

E contou que o bando foi surpreendido às 5 horas da manhã, quando presumivelmente dormia. João Ferreira ficou ouvindo de longe, como a não querer misturar-se com o irmão de Pedro Cândido. Ficou mudo o tempo todo. 

Só abriu a bôca no momento em que Oséias contou que Pedro morrera assassinado, em 1942. Quando perguntei a Oséias: "Que é de Pedro?", e ele respondeu: "Mataram", João comentou lá de traz: — Bem feito. E então nos retiramos, deixando a cruz e as flores dentro da paisagem. 
Voltamos a Piranhas peio Rio São Francisco, à noite, debaixo duma lua cheia linda e comovente. Horas mais tarde, quando os quatro passageiros de nosso carro jogaram-se às camas de um hotel em Santana do Ipanema, Manuel Ferreira tirou um livro de sua pasta e pediu que ouvíssemos alguns versos. 

O livro era "Bandoleiros das caatingas", excelente reportagem de Melquiades da Rocha. Os versos, do cantador 'Zebelé'. Versos que nos desviaram o pensamento da lua se derramando sobre o São Francisco, para recordar, mais adiante, aquela cruz e aquelas flores no matagal da Fazenda Angico. Diziam assim: 

Ninguém no mundo se livra
Do gorpe duma traição. 
Inté Jesus foi traído 
Por um judeu sem ação, 
E morreu crucificado 
Sexta-feira da Paixão.
Lá na grata dos Angico, 
No meio da escuridão, 
Cercado por todos lado, 
Ferido de supetão, 
Foi pegado, foi traído. 
O gigante do sertão. 

Era brabo, era marvado
Virgulino, o Lampião, 
Mais era, pra que negá, 
Nas fibra do coração 
O mais prefeito retrato 
Das catingas do sertão 

A viola tá chorando 
Tá chorando com razão 
Soluçando de sódade, 
Gemendo de compaixão. 
Degolaram Virgulino, 
Acabou-se Lampião.

Havíamos atingido Santana do Ipanema, em Alagoas, para investigar o boato de que o vigário local criara um filho de "Lampião". Padre Bulhões não vivia mais, porém sua família podia esclarecer. O saudoso vigário realmente educara o filho de um cangaceiro. Mas filho de "Corisco", não de "Lampião". Retomamos viagem, para descobrir 12 horas mais tarde em Aracaju, a filha de "Lampião" e Maria Bonita. 

Sim, o rei do cangaço deixara uma filha. Dizia-se que era um filho. Esta própria revista recentemente divulgou declarações que defendiam essa versão. Mas João Ferreira não dá fé. Ele sabe apenas que um dia Virgulino lhe mandou uma menininha, com um bilhete para que ele a educasse. "O nome é Expedita", dizia o bilhete. 

Expedita, hoje, é ainda uma criança. Mas já mãe. Tem 21 anos de idade, um marido da mesma idade, um filhinho de 9 meses, Dejair. 
É uma cabocla forte e bonita, que não apresenta qualquer Sinal de degenerescência, nenhuma tara. Em julho de 1938, quando as cabeças de seus pais estiveram no Serviço Médico Legal de Maceió, o exame não denunciara estigmas que caracterizassem "Lampião" ou Maria Bonita como criminoso nato. Não surpreendia, que a filha fosse também normal. 

— O que tem é gênio forte. Herdou do pai — disse João. Nós a avistamos quando cuidava do filho. Dava-lhe leite em mamadeira, ai pelas 6 horas da tarde. Tinha um semblante tranquilo, os gestos delicados. Parecia feliz. 

A casinha modesta estava que era um mimo. Havia poltrona na sala, berço no quarto, jogo de panelas na cozinha. Tudo arrumado, tudo limpo que fazia gosto. Expedita dava leite ao nenê enquanto esperava o marido, Manuel Messias Nunes, para jantar, Manuel chegou loga. Tão criança quanto a mulher. 

Vê-los caducando com Dejair era ver dois meninotes que brincassem de papai e mamãe com um bebê. Educada por João, Expedita sabe porém de quem é filha. Na mesa da sala descobri O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sobre o livro "Lampião" de Optato Gueiros. 

Sinal de que ela não era indiferente ao assunto. Mas que gosta de falar nele, não gosta. Tive de sondar pessoas de sua intimidade para conhecer-lhe as reações ante o tema "Lampião". Ela jamais falaria a um estranho sobre esse caso. Sempre tem medo de que sua condição de filha de "Lampião" atraia vexames para o marido, mais tarde para o filho. Pude colher que, embora evitando conversar sobre cangaceiros, ela devora toda leitura que se refira ao pal. Algo mais: foi ver o filme 
"O Cangaceiro", de Lima Barreto. Voltou de lá aborrecidíssima" com a deformação do caráter do pai". Pois identificou "Lampião" no personagem central do filme. Expedita, como de resto todo o Nordeste, ligava pouco para o fato de Lima Barreto fazer arte. Queria apenas história. Interpretação honesta dos fatos. E ficou revoltada em ver os cangaceiros só viajando a cavalo, feito "cowboys" americanos, eles que só atravessavam e caatinga andando com os próprios pés. E revoltada em ver que não davam descanso a seu pai nem depois de morto.

Achei bonito que os Ferreira não se envergonhassem do parentesco com "Lampião". Lembro uma reportagem que fiz no Oriente sobre um australiano que amava uma japona. 

Proibido de casar, pois a Austrália àquele tempo não queria australiano casado com japonesa, o soldado Frank Loyal Weaver, achou que o coração tinha razões mais fortes, e se casou. Foi deportado sete vezes para a Austrália; clandestinamente voltou sete vazes ao Japão. Pois bem: os pais de Weaver, envergonhados, repudiaram o filho, nunca mais quiseram saber dele. 

Quando é que um sertanejo nosso abandonaria o filho por ter casado com quem queria? É como me diziam os primos de João no meio da viagem: "Lampião" é nosso sangue. E sangue é sangue". Achei bonito que os Ferreira reverenciassem o parente morto. Terem a coragem de não negar. A bravura de defender. 

Lá em Serra Talhada uma senhora me disse: — Meu pai é Antônio Matilde. Ouviu falar nele? Era do bando de "Lampião". Pois olhe: tenho orgulho de ser filha de Antônio Matilde. Então vou renegar o homem que me deu a vida só porque o mundo o condena? E com um ar de desprezo pelo juízo dos homens ela rematou: — Ora, moço, só Deus é o dono do mundo. 


NO CURSO de uma das várias palestras mantidos durante a viagem, no própria fazenda "Serra Vermelha'', onde ele nascera, João Ferreira ouviu expressões incômodas sobre "Lampião" e seus feitos. Ficou firme. Ninguém sabia quem era ele. Os novos senhores da terra o trataram bem, sem saber a quem tratavam. Tudo bem. 

OSÉIAS CÂNDIDO contava por que seu irmão Pedro guiara os matadores de "Lampião" ao esconderijo no grota de Angico. Fora forçado por ameaça de morte. João Ferreira ficou espiando, desconfiado, como o não querer misturar-se com o irmão de quem traíra Virgulino e o empurrara para a morte.

Antônio, o irmão mais velho. Nem os outros irmãos mais velhos, Livino, Virgulino e Virtuosa. Ele, João, era o quinto filho do velho José Ferreira e da "cumadre" Maria José. Abaixo vinham Angélica, Maria, Ezequiel e Anália. A família era grande e próspera. Pai e mãe vivos, nove filhos, gado no campo, terra trabalhada, dinheiro nos baús. Agora, tudo diferente. Por que? — Por que não nos deixaram viver em paz? —perguntou ao ar. 

MOCINHA é o única irmã que restou a João Ferreira. Ela aparece aqui tomando café, sentada, em sua casa de Delmiro, cidade alagoana próximo à Cachoeira de Paulo Afonso. De costas, o marido de Mocinha. 

Deixando a fazenda, João foi abraçar a única irmã que lhe restava, Maria. "Chamo-a de Mocinha", explica. Ela mora em Delmiro, Alagoas, é bem casada e mãe de duas moças e um rapaz. João passou uma noite inteira contando-lhe os detalhes da sua viagem. 

Depois ele atingiu as margens do Rio S. Francisco, tomou um barco e foi à Fazenda Angico. Ver o local onde mataram o mano. Manuel e Antonio Ferreira, os dois primos que o acompanhavam na viagem, alguns tripulantes do barco e gente da vizinhança, seguiram João até a grota famosa onde a volante do capitão Bezerra liquidou "Lampião" em 1938. João olhou em volta sem dizer uma palavra. Então tinha sido aquele o palco da cena final... 

Botou a mão na mesma pedra onde o pescoço de Virgulino recebeu o golpe do facão. Depois mandou cortar um galho de árvore, fazer uma cruz. E fixou a cruz entre pedras, no local onde jazera o corpo decapitado do irmão. 

— Enterraram o corpo? — perguntei ao guia. 
— Não a água levou.


Pescado no essencial Caiçara dos Rios dos Ventos


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