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sábado, 8 de setembro de 2018

TEMPO DE CRAIBEIRAS FLORIDAS

*Rangel Alves da Costa

Nesta época do ano, os sertões já começam a se enfeitar com roupagem nova de suas craibeiras. Quando florescem, contrastando com as paisagens entre o esverdeado e o acinzentado, as craibeiras passam a deslumbrar os olhares pela beleza de sua copa tomada de flores amareladas, douradas, que brilham ao sol e se derramam ao leito como majestoso tapete.
Perante as craibeiras nas ruas, avenidas e estradas, o sertanejo até se sente em outro lugar. Difícil é imaginar que de seu chão tantas vezes tão ressequido e tão sofrido, de repente floresça algo assim tão majestoso e encantador. Não só nas craibeiras como em outras árvores de ornamentação que a partir deste mês florescem em cores vivas, lilases, avermelhadas, sempre bem fortes e chamativas. Ora, quem é sempre acostumado com a flor amarelada da catingueira ou a esbranquiçada do mandacaru, logo se sente num mundo diferente.
Mas apenas o mundo sertanejo com suas surpresas e seus encantos. Por isso mesmo que as craibeiras são vistas como simbologias de um outro sertão possível de existir: o sertão bonito, frutificante, grandioso e de inigualável beleza. Também a sensação de que por cima da aridez da terra há muito mais a ser descoberto, tanto na natureza como no próprio homem. O sertanejo poeta de sua própria vida, o sertão poesia na sua própria existência.
E conheço uma craibeira de beleza especial: a craibeira na beira da estrada do Curralinho. Mas não uma simples craibeira, mas a craibeira mais linda e mais suntuosa do mundo, a craibeira mais florida e mais viva da terra. E o que mais desperta aos sentimentos: tamanha beleza em meio a uma paisagem sofrida, de pouca chuva e pouco verde, onde o marrom e o acinzentado se alastram e a poeira do chão se levanta a cada passagem. Mas é nesta moldura que está a craibeira.


O retrato: a estrada de chão batido, entremeada de pontas de pedras e secura, num caminho tipicamente sertanejo, pois ladeado por cercas de arames farpados, plantas rasteiras e ressequidas, tufos de matos, tendo alguma vegetação carcomida de sol pelos arredores, numa angustiante desolação, mas ao mesmo tempo a presença, bem no beiral da estrada, da imponente craibeira. Quem, entre a surpresa e o fascínio, não duvidará de estar em outro mundo que não o sertanejo?
Mas está no sertão, sim senhor. A craibeira é tão sertaneja como o próprio homem da terra, é tão matuta quanto a catingueira, o mandacaru e o xiquexique. Contudo, não é fácil de ser encontrada. Daí sua beleza ainda maior ao surgir como surpresa ao olhar, daí sua magia ao ser avistada até como uma impensável florada sertaneja: flores amareladas, vivas, de um dourado ora mais singelo ora mais suntuoso, sobressaindo perante tudo o que houver na paisagem ao redor.
A verdade é que o florescer das craibeiras se torna a mais bela poesia sertaneja. Mesmo ainda distantes, logo os olhos divisam aquelas cores majestosas tomando a copa das árvores defronte às moradias, casebres longínquos, beiras de estradas, sempre se sobressaindo nas paisagens. Talvez vaidosa demais, mas a verdade é que as craibeiras gostam de crescer afastada de outras árvores, em local onde possam florescer e logo serem reconhecidas pela beleza de suas cores.
A partir de setembro, em plena estiagem, com tudo ao redor acinzentado e quando o clima começa a esquentar ainda mais, eis que elas desafiam a paisagem e irrompem com suas folhas amareladas. E basta o florescer imponente para que tudo se transforme ao redor, vez que as atenções não serão outras que não para a árvore símbolo da beleza em meio ao impensável.
E não obstante as copas douradas, revestidas de um amarelo tão vivo que chega a brilhar à luz do sol, o chão logo abaixo também se transforma num tapete de incomparável formosura. E o mais incrível é que as flores surgem desnudadas de folhas; ou seja, vão desabrochando junto aos galhos e tomam toda a copa das árvores, atraindo pássaros, borboletas, abelhas e principalmente o olho humano. 
Eis, assim, retratos de um sertão florido, cativante e belo, pelas floradas das craibeiras.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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A COLUNA PRESTES E O REI DO CANGAÇO.

Por Beto Rueda

Coluna Prestes, Movimento Tenentista que pretendia 

promover uma insurreição contra o governo Arthur Bernardes e o poder das oligarquias, ainda no período da República Velha, entre os anos de 1925-1927.

Foi uma marcha de 25 mil quilômetros, começando pelo Rio Grande do Sul, incorporou no Paraná, a Coluna Paulista, entrou no Paraguai, retornou ao Brasil pelo Mato Grosso, cruzou Goiás, subiu ao Maranhão, entrou no Piauí em direção ao Ceará.


O Estado Maior da Coluna era constituído por Luiz Carlos Prestes, Miguel Costa e Juarez Távora e seus comandados.

Ao entrar no Ceará com estimados 1.500 homens, as autoridades locais se alarmaram; tinha que ser feito alguma coisa para conter aquele movimento de revoltosos.


O Deputado Federal Floro Bartolomeu, designado ao posto pelo então Presidente do Brasil a comandar as tropas federais, por intermédio do Padre Cícero, mesmo contra a vontade deste, convidou Lampião a combater a Coluna Prestes pelos "Batalhões Patrióticos", instituindo com isso a promessa de armamentos e a patente de Capitão a Lampião, Primeiro Tenente a Antônio Ferreira da Silva e Segundo Tenente a Sabino Gomes de Melo.

Lampião, atendendo ao pedido do Padre Cícero, do qual era devoto, foi a Juazeiro do Norte. Chegou no dia 04 de março de 1926 com 49 homens.
Na verdade, por conta do destino e pelo descrédito das patentes e pelas promessas não cumpridas, Lampião e a Coluna Prestes nunca se encontraram.

Fonte: MACIEL, Frederico Bezerra. Lampião, seu tempo e seu reinado. Vol. III. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1986. p. 20.
IRMÃO, José Bezerra Lima. Lampião, a raposa das caatingas.
Salvador: JM gráfica e Editora, 2014.
LUCETTI, Hilário. Histórias do Cangaço. Crato: Gráfica Encaixe Ltda, 2001.

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XIII JORNADA CULTURAL I FEIRA DE LIVROS DE AUTORES MOSSOROENSES



Prof. Benedito Vasconcelos Mendes -
MARY FREIRE COSTA

Escritora - Artista Plástica e Artesã da Academia Mossoroense de Artistas Plásticos-AMARP - participou da I feira de Livros de Autores Mossoroenses do Museu do Sertão.


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FERNANDO DA GATA


(3 versões sobre o homem que aterrorizou a vida de muita gente)

Um simples de chinelo ou um pirangueiro

Na década de 80, um bandido cearense, da cidade de Russas, de 21 anos, tornou-se famoso no Brasil inteiro por aterrorizar a população de várias cidades em sequências de assaltos e fugas que deixavam a Polícia atônita. Fernando Soares Pereira, o "Fernando da Gata" acabou morrendo à bala, no dia 3 de setembro de 1982, durante uma perseguição policial, no município mineiro de Santa Rita do Sapucaí, que vivia em clima de terror em decorrência das ações bandidas. Mas de repente o transformou numa espécie de "herói". A morte de Fernando da Gata que era acusado pela Polícia, na época, de 21 assaltos e 19 estupros somente em São Paulo foi noticiada com destaque na imprensa de todo o País, principalmente nos noticiários de televisão. O corpo dele foi sepultado, mesmo como indigente, de terno e gravata e urna de luxo, doados pela população da cidade mineira de Pouso Alegre, que também viveu em clima de terror. Lá um industrial muito conceituado na cidade, por conta do terror que se criou sobre Fernando da Gata, matou em casa, de madrugada, a própria filha ao confundi-la com o assaltante. Mas no Ceará o mito Fernando da Gata também não foi diferente. Na época me reportei sobre o assunto nos noticiários policiais do O POVO. O corpo de Fernando da Gata, depois de exumado no cemitério de Pouso Alegre foi trazido de avião para Fortaleza. No momento do seu desembarque no Aeroporto Pinto Martins, dezenas de curiosos estavam lá e houve até quem o aplaudisse como herói. Do Aeroporto Pinto Martins, o corpo de Fernando da Gata foi levado para Russas, na Região Jaguaribana. Na tarde do dia 21 de setembro foi sepultado. Dezenas de pessoas dormiram no portão principal do cemitério aguardando a hora do enterro. A Rádio Progresso de Russas anunciava em sucessivas edições extraordinárias a chegada de caravanas de cidades e distritos vizinhos, em ''paus-de-arara" para assistirem o sepultamento. Muitos traziam flores. Um locutor de uma TV de Fortaleza disse que a emissora estava no ar extraordinariamente naquele momento (do enterro) por causa da importância do fato. Depois do sepultamento de Fernando da Gata, a imprensa cearense voltou a se reportar sobre o assaltante maníaco que aterrorizou cidades do Pais. O repórter Francisco Taylor, o "Mão Branca", da TV Cidade, questionou o fato de que o assaltante cearense morreu mais por fome do que pelo único tiro levado. Disse quando caçado nas matas de Santa Rita do Sapucaí passou dias sem se alimentar. O jornalista Oswald Barroso, do O POVO, na época questionou a fama que se formou sobre o assaltante e escreveu uma reportagem intitulada: "Fernando da Gata, um simples de chinelo ou apenas um pirangueiro".

Landry Pedrosa
FERNANDO DA GATA

Russas nunca gerou um individuo de mais alto grau de quociente de inteligência e imaginação excessivamente projetadas pelo seu próprio idealismo criminoso, como Chagas da Gata e Fátima Paz, ao tornarem vulto, o famoso bandido Fernando da Gata, Francisco Soares Pereira. Menino pobre, bonito, inteligente, esperto, rápido, educado, diferente dos outros, cresceu na infância, calmo, sem traumas, maus-tratos e violência, no desejo de ser cantor sem pensar em ser bandido, o seu maior sonho era ser soldado do exército. Por conta desse sonho, aos 13 anos de idade, partiu para Fortaleza e trabalhou com o seu tio. Estudou e terminou o ginasial, mesmo no ofício de encanador. Aos 17 anos, partiu para São Paulo, trabalhou e conheceu aquela imensidade. Quando veio o recrutamento voltou para Russas e convocado para servir o Tiro de Guerra, raspou logo a cabeça como soldado, e ao se apresentar com cabelo de militar, fizeram uma investigação e ele foi preso. Prisão essa que findou o sonho de ser sargento do exército e começou o seu tormento. Fernando da Gata só tinha na sua ficha policial um crime de furto com a sua primeira prisão no distrito de Redenção, quando fora autuado em flagrante delito. Mas, para distanciar do fantasma de menino pobre, Fernando, com aplicação em tudo que fazia, sua ambição era ganhar muito dinheiro para tirar a sua mãe da pobreza. Por conta dessa extrema generosidade, na pretensão de ser militar, consegui uma farda e se passando por sargento do exército, em Russas, pegou mais um apelido, o de sargento. Embora considerado o mais célebre dos estupradores, Fernando da Gata foi um bandido romântico, escrevia cartas para a mãe e mandava flores para a namorada, a desaprovar qualquer negação de Deus, com a oração de São Francisco do Canindé que lhe dava sorte e protegia a vida. Com as cem mulheres estupradas com um sorriso no rosto, nem mesmo no disfarce da face do mal, e no pesadelo dos ataques, nunca demonstrou ódio do terror e do espanto como prática de assassinos tenebrosos que estupram e matam por prazer. Desconhecia as crueldades dos bizarro, loucos, cruéis e assustadores monstros que desfilaram mundo afora nas galerias dos serial Killers. Como os que matam quem mais ama, que planejam fantasias sexuais, estupram, torturam, estrangulam e retalham as suas vítimas. A imprensa simplesmente escrupulosamente sobre o perigoso bandido dava notícias de análises e impactos de crimes absurdos e violentos, de forma atroz e odiosa a pintar como Michelangelo, as terríveis cenas do inferno com as façanhas e a famigerada alcunha de Fernando da Gata, muito embora que esse apelido infernal e duvidoso, terrivelmente bizarro de Fernando da Gata, tenha surgido por uma extrema brutalidade, de quando criança, perante ao comandante do quartel de Russas, ao fulminar friamente uma gata ao jogá-la na parede. A outra pelo estigma do destino de que como um fantasma o desgraçado corria por cima dos muros e dos telhados com agilidade dos felinos. E a última, particularmente, por o seu genitor chamar-se Chagas da Gata. E a sua avó conhecida como a velha gata. Para quem era considerado como um bandido perigoso, nunca cometeu nenhum crime violento, homicídio ou assalto a mão armada, mas deixou o país perplexo com os furtos e os estupros. Um dos casos de maior repercussão na trajetória do maníaco, foi quando em Minhas Gerais, o empresário Jair Siqueira, atirou e matou sua filha adolescente, pensando ser o estuprador Fernando da Gata, que invadira a sua residência. Com as histórias de que Fernando da Gata estuprou mais de cem mulheres, o que renegou a sua própria mãe: “100 mulheres estupradas, essa história está errada, meu filho estuprava moça.” Embora que Fernando da Gata tenha estuprado somente moça. Nunca se ouviu dizer que ele tivesse drogado, espancado ou assassinado uma delas. Nem cometido crime de rapto, corrupção de menores ou lesão corporal. Pois por muitos policiais e pelas próprias mulheres estupradas, todos afirmaram que ele era um rapaz, calmo, educado, meigo e muito afável, embora considerado um dos maiores criminosos de todos os tempos. E de tanto vivificarem o bandido, fizeram samba enredo, filme, poesia, literatura de cordel, embora temido, para muitos tornou-se querido até pela polícia que dele tinha medo. Fernando da Gata não nasceu em nenhum mundo-cão, nem fora a besta humana que pintaram, não teve parceiro, nunca usou arma, droga e nem álcool, nem apresentava distúrbio psíquico. Apenas no triunfalismo dos mistérios e invocações demoníacas, Fernando da Gata, sabia ler o destino nos olhos dos gatos, ao ponto de se tornar invisível diante dos policiais e dos cães que quando o farejam voltavam espavoridos. Assim como o homem tentou descobrir o elixir da eterna juventude e o segredo da invisibilidade, Fernando da Gata considerado um dos bandidos mais astucioso e inteligente que esse país conheceu, no uso da extrema manifestação sobrenatural desaparecia diante dos olhos da polícia sem deixar rastro. Assim como furou vários cercos policiais, no Ceará, São Paulo e Minas Gerais. Assim, como nas inúmeras perseguições, com helicóptero, cães treinados e centenas de policiais experientes. Principalmente com a fuga cinematográfica da cadeia de Mossoró, pondo fogo no teto do xadrez e com o grampo de cabelo de sua namorada abriu o cadeado da cela, fugiu e nunca mais foi preso. Ele entrava nas casas, pedia para a mulher fazer comida, descansava, estuprava e depois ligava para a policia e sumia. Era um facínora de malícia, orgulhoso e astuto. Ameaçava juiz e delegado, telefonava, mandava bilhete e recado que ia estuprar, escalava o muro e invadia as casas com maior tranqüilidade deixando o General Assis Bezerra desmoralizado. Fernando da Gata, Francisco Soares Pereira, morto pela polícia mineira foi enterrado quatro vezes, a última no cemitério de Russas.

Airton Maranhão
POR AIRTON CHIPS

Fernando Soares Pereira nasceu em 1961 na pequena Russas-CE e aos 21 anos, depois de meteórica carreira na capital paulista e em Pouso Alegre, tornou-se a pessoa mais temida e mais popular do Brasil. Sua fama começou na própria Russas onde mais tarde ele voltaria de avião fretado pelo governo do Estado e, sob o ruflar de tambores seria….. enterrado, como herói e mártir. Suas estripulias, brincadeiras com a polícia e abusos sexuais começaram ainda na adolescência e aos vinte anos Fernando já era o mais ilustre ladrão e estuprador da cidade… e o maior fujão do velho hotel de Russas. Prendê-lo até que não era tão difícil. Bastava chantageá-lo. O difícil era mantê-lo na cadeia. Diziam que ele tinha parte com o demônio, praticava magia negra ou algo assim, pois simplesmente desaparecia da cadeia na hora que queria. Quando os policiais não conseguiam prendê-lo, diante da pressão da população, prendiam algum de seus familiares e então ele se entregava e o chefe da polícia o exibia na sacada da delegacia para acalmar a população. Esta última parte até que pode ter acontecido, pois naqueles tempos, antes do advento da Carta Magna do jurássico Ulisses Guimarães, nos mais distantes rincões do nosso brasilsão verde-amarelo, especialmente nas pequenas cidades, políticos e policia faziam as leis de acordo com suas conveniências – Faziam…? 

Mas o baixinho que na lá no Ceará gostava mesmo de meninas novas de família, cansou-se da farra, da rotina e da pobreza do nordeste e resolveu descer para o rico sudeste. Fixou residência na periferia de São Paulo e se tornou Manoel Rufino da Silva, trabalhador da construção civil. Casou-se com Maria de Fátima, mas logo recomeçou a vida de crimes contra o patrimônio e contra os costumes. Seis meses depois estava em todos os noticiários impressos, radiofônicos e televisivos do país. Agora, o Fantástico Show da Vida já o apresentava ao Brasil como o misterioso “Fernando da Gata”. Em São Paulo ele pulava muros e quintais usando apenas um calção, dominava cães ferozes com um simples estalar de dedos, entrava nas ricas mansões de revolver em punho, estuprava a dona da casa no seu quarto com o marido trancado no banheiro ao lado ou na presença dele mesmo, comia refeições frias ou quentes preparadas pela dona da casa. As vezes fazia xixi – e o ‘dois’ também – nos pratos e panelas e ia embora levando somente objetos que pudesse carregar nas mãos ou numa sacolinha presa à cintura; joias. 

Herói, bandido, demônio, mito, folclore. Não sabemos o que é fato e o que é boato, mas foi com este perfil que Fernando da Gata chegou a Pouso Alegre em meados de agosto de 82. Aqui começa a história que podemos atestar sobre o maior bandido que conhecemos, o qual passou como um furacão por Pouso Alegre e morreu na margem direita do rio Sapucaí, no bairro Pouso do Campo, em Santa Rita do Sapucaí. Morreu tão solitário quanto sua vida criminosa, duas semanas depois de adentrar o Estado mais eficiente do Brasil no combate ao crime. 

Um pouco de sua fama era verdadeira, pois os mais famosos policiais de São Paulo vieram para Pouso Alegre tão logo souberam de sua presença… para espantá-lo. 

Quando um próspero comerciante da cidade recebeu a visita sorrateira de um baixinho seminu, na calada da noite, sem ser incomodado pelos dobermans, o cão de guarda da época, a polícia se lembrou da principal reportagem do Fantástico na noite anterior e ligou os fatos ao bandido. Mas somente depois da terceira visita noturna, três estupros e roubo de cerca de um quilo de joias diversas, é que a polícia de mobilizou à altura do perigo que enfrentava. As principais autoridades da cidade se reuniram formando uma mesa redonda, composta pelo General Carlos Aníbal Pacheco, comandante da AD4, Dom Jose D´Ângelo Neto, bispo arquidiocesano, Candido de Souza, prefeito Municipal, Abel Lobo Cordeiro, Delegado Regional, Capital Odilon Jose Gomes, comandante da 56ª Cia do 8º BPM e Jose Murilo Maia, radialista proprietário da Rádio Clube – coincidentemente conterrâneo do meliante – para manter a população informada do que estava sendo feito para capturar o perigoso marginal, supostamente Fernando Soares Pereira, O Fernando da Gata, bem como transmitir à população orientação de como evitar pânico, pois este era o caso.

Todos os policiais da cidade foram convocados, independentemente de escala de serviço, para participar da caçada ao maníaco. Era uma operação de guerra. Foi aí que eu entrei na história de Fernando da Gata. Eu acabara de sair do plantão de 24 horas e fui chamado para voltar para a Delegacia e continuar de plantão enquanto os colegas saiam na captura. Eram mais de 60 policiais rondando a cidade a noite toda, em carros particulares, pois não havia viatura para todos. Na cidade todos se trancavam em casa, mas ninguém dormia, tamanho o medo que sentiam de ser a próxima vítima. Duvido que alguém tenha passado tanto medo quanto eu ali naquelas três noites frias de agosto. Meu raciocínio era que se o meliante era ousado o suficiente para enfrentar cães ferozes e pais de famílias assustados e armados, ele devia saber que eu estava sozinho na delegacia assistindo “Starsk & Hutch” na tv Philips preto branco. O que o impediria de visitar o jovem policial com um caquético HO enferrujado e seis balas com a pólvora solta, na cinta? 

Em Pouso Alegre Fernando da Gata fez apenas três visitas nas quebradas da noite. Só anfitrião escolhido, dois ricos empresários e o mais famoso advogado criminal da cidade e região, todos tiveram suas joias levadas… e a honra de suas mulheres também. Numa das casas, a de um empresário do ramo de automóveis, ele chegou com fome… de arroz com feijão de corda, buchada de bode ou jabá com farinha como estava acostumado no Nordeste e ficou mais tempo que o habitual, pois tinha também fome de sexo. Após satisfazer seus apetites sexuais, exigiu que a dona da casa fosse para a cozinha preparar-lhe um banquete. Somente depois de encher o ‘pandu’, e fazer suas necessidades fisiológicas em pratos e panelas ele foi embora levando as joias, a dignidade e a paz da família.

No entanto, o maior dano que Fernando da Gata causou em Pouso Alegre, viria três dias depois de sua última visita noturna, já com dezenas de homens na sua sombra e ele a centenas de quilômetros da cidade.

Um prospero empresário, que se tornaria um dos maiores políticos da história recente de Pouso Alegre, apavorado como todos os pais de família da cidade, dormia com o revolver na cabeceira da cama. No meio da madrugada a porta de seu quarto se abriu lentamente. Ele despertou sobressaltado, pegou a arma e atirou…. Não era o bandido. Era sua filha adolescente de 13 anos, que sem conseguir dormir, fora buscar abrigo no seu quarto, e tombou sem vida. O tiro disparado no meio da madrugada despertou toda a vizinhança e atraiu os policiais que faziam a ronda, mas não havia nada mais a fazer. Desnecessário dizer que o empresário recebeu o perdão judicial, pois o mal que ele causou a si mesmo foi muito maior do que o que a justiça poderia lhe impor.

Desde que todas as forças policiais da cidade se mobilizaram para prender o maníaco, os crimes cessaram. Mas as investigações continuaram e dias depois Fernando da Gata fez contato com sua esposa Maria de Fátima, dizendo que estava na histórica Mariana, na região metropolitana de Belo Horizonte. Marcaram um encontro no posto Mavesa, no trevo da “Brasilinha”, entroncamento da BR 381 com 459, onde ele entregaria a ela as joias roubadas, para fazer dinheiro.

O encontro foi marcado para as duas horas da tarde do dia seguinte, no “play graund” do restaurante ao lado do posto e desde a manhãzinha, frentistas e garçons viraram policiais à paisana, prontos para dar o bote. O dia passou sob imensa tensão e somente às quatro da tarde um baixinho com pinta de somongó, levando mochilinha nas costas aproximou-se do fiat 147 que aguardava na sombra frondosa de um Ficus. Ao volante estava o advogado de Maria de Fátima e ela ao seu lado. No banco de trás estavam o famoso investigador Fininho e um delegado paulista, que fizeram questão de participar da prisão. – Na verdade, concluímos depois, o objetivo dos policiais paulistas era exatamente o contrário. Queriam afugentar Fernando da Gata, para que ele não fosse preso em solo mineiro. Eles queriam ter a honra de prender o mais famoso bandido do país – Ao reconhecê-los, O gatuno fugidio nem chegou a falar com a esposa, saiu correndo em direção à rodovia e embrenhou-se no mato. Fininho e seu parceiro saíram primeiro na perseguição e despistaram nossos policiais, informando que o bandido se refugiara à direita da Fernão Dias, sentido São Paulo. O cerco foi feito rapidamente e toda a área varrida até a noite. Sem sucesso. No dia seguinte o assaltante estuprador foi visto no município de Cachoeira de Minas, do lado oposto da rodovia indicada por Fininho. Reiniciada a perseguição, ele rumou-se para Santa Rita do Sapucaí, de onde sairia no rabecão do IML com um único balaço no lado direito do peito.

O diretor da Guarda Municipal de Santa Rita, que era sargento comandante da polícia militar na época e participou da caçada, disse-me que durante as duas semanas da presença do bandido na região, a criminalidade na cidade de Santa Rita caiu a zero. “Até mesmo os bandidos da cidade ficaram com medo de sair de casa”, conta ele.

A bala que acabou com a farra do famigerado Fernando da Gata, o terror dos ricaços e devolveu a paz e a tranquilidade a milhares de famílias da região, saiu do revolver particular do sargento da Policia Militar Ambiental José Lúcio Campos. – A polícia de Minas Gerais não fornecia armamento a seus policiais na época.

Vinte e sete anos depois, Sargento Campos como é conhecido, aposentado desde 88, atendendo meu convite, voltou ao local do fato e me contou como foi. 

“Como todos os policiais da nossa área, eu estava à disposição do comando para caçar sem tréguas o perigoso bandido. Eu subi o Rio Sapucaí de barco com minha equipe e quando me preparava para voltar por terra, com o barco a reboque, recebi informação do meu comandante de que o suspeito fora visto próximo à cidade de Santa Rita, nas proximidades da Moore, descendo para o rio Sapucaí. Depois de vasculhar a área indicada, sem sucesso, determinei ao soldado que retornasse ao ponto de partida para buscar a viatura. Enquanto aguardava sua volta, me abriguei deitado ao chão numa restinga há menos de cem metros da margem direita do rio, atrás de uma moita de ‘assa-peixe’. Fiquei ali uns 20 ou 30 minutos até que começou a escurecer e os curiangos começaram a cantar. Eu estava numa pequena depressão do terreno e então me levantei para ter melhor visão do local. Ao dar os primeiros passos, surgiu à minha frente, há menos de dez metros, um vulto vindo do rio. Apesar da penumbra de início de noite pude ver que ele usava apenas calção. Ordenei;

- “Quem estiver aí, pare ou eu atiro”.

Não houve dialogo. Neste momento vi um movimento que parecia seu braço se levantando ao lado do corpo e puxei o gatilho do meu revolver que trazia engatilhado, ao mesmo tempo em que me jogava ao chão. Ouvi dois tiros, o meu e o dele e o vulto caiu ao chão. Caiu mas levantou-se rapidamente e saiu correndo. Levantei e corri atrás gritando:

- “pare, você está cercado”, e dei mais um tiro mas ele não parou, soltou uma praga qualquer que não entendi e se embrenhou na restinga ciliar. Como eu estava desprotegido em campo aberto, parei para me abrigar e fui lentamente contornando a restinga de onde o fugitivo talvez pudesse sair. Cerca de 25 minutos depois chegaram ao local o capitão Calçado, o tenente Ponzo, um civil e dois cães farejadores. Após narrar os fatos ao superior, voltamos ao local onde acontecera os disparos e encontramos no chão o revolver branco calibre 38 banhado de sangue. Deduzimos que meu tiro havia atingido o bandido e passamos a vasculhar as imediações. Por volta de nove da noite, ainda sem sucesso, pedi ao capitão calçado para me liberar para ir para casa, pois eu estivera desde a manhãzinha num patrulhamento florestal no município de Bom Repouso e teria que retornar às cinco da manhã seguinte. Dispensado, fui para casa e dormi tranquilamente, como de costume depois de um dia cansativo. Por volta de uma e meia da manhã, fui acordado pelo cabo Paula Costa, que me disse:

– “Você matou o bandido”. Nós achamos seu corpo há poucos metros de onde você o baleou, com um tiro no peito. “O comandante quer você no batalhão para prestar esclarecimentos”.

Eu soube então que meu tiro havia acertado o lado direito do peito do bandido e como ele estava de perfil, a bala caminhou e atingiu o coração. Com o impacto ele caiu ao chão levando a mão com a arma ao peito e com a dor derrubou o revolver e não conseguindo achá-lo no escuro e não querendo se entregar, fugiu de mim desarmado. Seu corpo foi encontrado por volta de onze e meia da noite, de bruços, junto a uma moita de capim, há poucos metros do local onde eu o acertei.”

A vida do mais famoso, misterioso, solitário e aterrorizador bandido que já passou pela região acabou ali, há poucos metros da margem direita do rio Sapucaí, num pastinho de capoeira da fazenda do Sr. Huet Moreira no bairro Pouso do Campo, na altura da Moore Formulários, onde hoje, 27 anos depois, cresce um viçoso milharal.

Acabou a vida, mas não a saga.

Ele ainda daria trabalho e renderia muita história “post mortem”, inclusive a mim.

O maior terror do Brasil no momento tornara-se um troféu, não poderia ser simplesmente enterrado, tinha que ser exibido – sua família demoraria um pouco para reclamá-lo. Seu velório aconteceu nos corredores da 13ª Delegacia Regional de Polícia de Pouso Alegre. Lá estava eu novamente para coordenar a entrada da multidão de curiosos na delegacia, para ser apresentada e se despedir do gigante, do terror, do endiabrado bandido de 1,68m de altura que deixava cães ferozes choramingando nos cantos de quintais com sua passagem.

Não foi bem um velório, foi mais uma exposição à visitação, até porque, as pessoas não acreditavam que o perigoso bandido havia morrido. ‘Matada a cobra, era preciso mostrar o pau’… e não foi uma boa ideia. Menos de duas horas depois o corpo do baixote ossudo, fortinho e sereno, quase angelical, teve que ser retirado da delegacia no rabecão, sob forte aparato policial, revolta e descontrole da população que queria invadir a delegacia. Talvez para esquartejá-lo. Confesso que não sei onde ele passou as próximas horas esperando a população se acalmar. Somente à noite com a poeira assentada, seu corpo desceu à terra numa cova rasa no cemitério municipal.

O epílogo da história de Fernando da Gata em Pouso Alegre seria escrito quase três semanas depois devido a uma falha profissional. Esquecemos de colher suas impressões digitais. Romeu Norte Pereira, um baixinho invocado filho de fazendeiro do Triangulo Mineiro, fora meu colega no curso de detetive da Acadepol e como cursava medicina, exercia as funções de Auxiliar de Necropsia. Foi ele que desenterrou o gatuno naturalmente nauseabundo e fez a coleta das impressões papiloscópicas. E a coleta foi feita na garagem da delegacia regional… Mas apenas os dedos foram levados para lá numa baciinha, ‘delicadamente’ cortados com uma tesoura. O resto do corpo não saiu do tosco caixão.

No dia 20 de setembro de 1982, já sem alarde, sem clamor e sem glamour, sem saudade e sem os dedos, Fernando da Gata embarcou num carro funerário em Pouso Alegre e desceu no aeroporto de Guarulhos. De lá fez sua primeira e única viagem de avião – da morte – rumo ao aeroporto Pinto Martins em Fortaleza. ‘… foi-se o bandido… ficaram-se os dedos…’ numa lata de lixo qualquer. Seguiu pela madrugada de carro fúnebre para Russas, onde era esperado como herói, com centenas de pessoas dormindo na porta do cemitério para recebê-lo enquanto uma rádio local anunciava de hora em hora sua chegada.

Os fatos, mitos e boatos que se passaram antes de sua chegada e depois de sua partida de Pouso Alegre, continuarão por conta do imaginário popular. “O que se passou em terras manduanas, plagiando Chico Lorota”, são fatos “acontecido”. Eu estava lá. E tem mais…

Santa Rita do Sapucaí tem mais a ver com a história de Fernando da Gata do que se imagina. Meses depois da passagem do terror dos ricaços por aqui, uma pescadora – não seria o Portelinha? – que margeava o rio Sapucaí depois de um dia frustrado de pescaria, teve seu dia de gloria. Olhando por acaso para o alto, talvez para perguntar à Deus: “ Ó Pai, porque não me deixa pegar um dourado de 15 quilos?” Teve sua recompensa. Viu alguma coisa pendurada num galho de um ingazeiro, parecia uma meia. Cutucou com a vara de pescar e choveu pulseiras, brincos, anéis e correntes de ouro em sua cabeça. Talvez por medo de levar para casa, levou para a Delegacia e entregou ao delegado Jose Eustáquio Nicolau de Lima e os dois levaram o ‘pescado’ para o delegado Abel Lobo Cordeiro de Pouso Alegre. As joias roubadas por Fernando da Gata voltaram aos seus donos. Dizem as más línguas que teve vitima que recebeu até mais do que lhe fora roubado. O ‘pescador de ouro’ do Sapucaí, naturalmente recebeu uma gorda gorjeta.

Um ano depois de acabar com a raça do famigerado ladrão e estuprador que fez até os bandidos de Santa Rita tremerem e se esconderem debaixo da cama, Sargento Campos, hoje com 67 anos, sentou-se no banco dos réus, diante do homem da capa preta. Ele tinha a seu favor duas excludentes de criminalidade, “legitima defesa” e “estrito cumprimento do dever legal”, por isso, como manda o figurino, foi absolvido pela morte do facínora. Apesar de ter sido eleito vereador de Pouso Alegre por duas legislaturas, e ter desistido de continuar na política por questão de princípios, Sargento Campos disse que o fato de ter matado Fernando da Gata não mudou nada em sua vida. 

- “Eu era um profissional a serviço da sociedade”, concluiu.

E nós que conhecemos o cidadão, o policial e o político, que vive na mesma casa desde antes do fato, em Pouso Alegre, acreditamos. Porém, não conhecemos muitos profissionais que teriam a coragem de adentrar aquela restinga de várzea no crepúsculo daquele 03 de setembro, sozinho.

Você teria?

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FORTALEZA SE PREPARA: ANGICO...


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QUELÉ DO PAJEÚ 1969 COMPLETO

https://www.youtube.com/watch?v=42pYsAy3maU

Publicado em 10 de set de 2017

SINOPSE:O filme mostra o dia-a-dia de um grupo de policiais no sertão e a vida de um capitão do cangaço. Clemente Celidônio, mais conhecido como Quelemente, toca a boiada rumo à sua casa, em Pajeú das Flores, Pernambuco. Ao chegar, encontra a tragédia na família: Marizolina, sua irmã, fora violentada por um desconhecido. Sedento de vingança, Quelemente sai em busca do homem de quem Marizolina guardara dois detalhes: uma cicatriz no rosto e a falta de um dedo. Para esta busca, uma longa jornada, durante a qual viverá Quelemente muitas aventuras e conhecerá Maria do Carmo, que por ele se apaixona. Quando do Carmo já esperava criança sua, aparece Cesídio, o homem com as características do malfeitor. Na luta para deter Cesídio, Quelemente mata um soldado, o que o torna um perseguido pela justiça. Em dramática caminhada, Quelemente leva Cesídio e o Padre para sua casa, onde obrigará o sedutor a casar-se com Marizolina e ele próprio com do Carmo, iniciando logo após com o primeiro, uma luta de morte, interrompida pela chegada da polícia, que vem ao seu encalço. Quando as esperanças de sobrevivência são poucas frente ao cerco da volante, chega o Bando de Lampião, que dispara os policiais. Quelemente ingressa no Bando, batizado por Lampião como Quelé do Pajeú, um bravo. Do Carmo morre de vítima das balas da volante e Quelé, movido pela fúria de vingança, se integra definitivamente no cangaço.

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