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segunda-feira, 23 de março de 2020

HOMENAGEM AO PESQUISADOR/ESCRITOR ANTONIO AMAURY

Por Luiz Ruben F. A. Bonfim


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DOIS EDIFÍCIOS IMPONENTES

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de março de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.279
MUSEU E SALÃO PAROQUIAL. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

Uma volta pelo Centro Comercial de Santana do Ipanema, Alagoas, representa um passeio no anfiteatro da história. Hoje apresentamos dois prédios de destaque entre tantos outros que registram os passos importantes de Santana vila, Santana cidade, em busca do seu futuro. À esquerda da foto, o Museu de Artes Darras Noya com seu amarelão, guarda um acervo importantíssimo das relíquias preservadas do nosso município. O próprio edifício simboliza esse relicário com suas inúmeras janelas, portas e parte do piso de madeira. Lembra muito bem a elite e o fastígio da época em que foi construído. Pertenceu ao coletor federal e maestro Manoel Vieira de Queiroz, fundador da primeira banda de música da vila, em 22 de novembro de 1908, com o nome de Filarmônica Santa Cecília. Manoel foi ainda fundador do 1teatro de Santana. Ali também morou o ilustre baiano, Dr. Arsênio Moreira, 10 médico a clinicar em Santana do Ipanema.
Ao lado do Museu Darras Noya, à direita, vê-se o Salão Paroquial da Matriz de Senhora Santana. Foi construído pelo saudoso pároco Luiz Cirilo Silva, onde antes era um terreno baldio da Igreja e parte do jardim da casa vizinha. O salão visava maior conforto de atendimento aos fiéis da burocracia da igreja: marcar data de casamento, batizado, pegar batistério e mesmo um espaço para guardar charolas e outras coisas mais. Muitas vezes foi cedido à sociedade para reuniões às mais diversas. Na frente, uma bela varanda com vistas para a parte mais ladeirosa do Comércio; abaixo da varanda o padre Cirilo construiu uma gruta em homenagem a Nossa Senhora, bastante admirada pela população e visitantes.
O museu não iniciou suas atividades nesse local. Quando fundado, funcionava no prédio multiuso da prefeitura à Avenida Nossa Senhora de Fátima, prédio que ainda hoje existe com placa de bronze na parede externa. Existe um sótão (porão) com saída para a rua que foi e ainda é usado por sapateiros, vendedores e como depósito de feirantes.
Ambos os edifícios estão na parte central do Comércio, sendo que o museu ajuda a estreitar a passagem entre o largo das feiras semanais e a outra parte que compreende a Praça Manoel Rodrigues da Rocha. Esteja mais atento ao que o cerca no seu cotidiano. Você está cercado de História.


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UMA FLOR NA FLOR DA IDADE

*Rangel Alves da Costa

Quem avista uma flor da manhã está avistando ela; quem imagina a fruta morena espelhando doçura está imaginando ela; quem se encanta com as singelezas da vida, com as belezas escondidas na natureza e com os desejos repousando nos olhos, certamente se fartará dos maravilhamentos diante dela.
Solta, sempre descalça, sempre feliz, sempre tão bela, assim era a mocinha. Digo era porque o despertar do amor tudo fez para colocar naquele semblante um laivo de dor, uma feição de tristeza, um aspecto de melancolia. Contudo, a inafastável realidade não conseguiu adormecer a doçura existente no seu coração.
Quando não passava faceira de lápis e caderno à mão, dessa vez calçada por ofício da aprendizagem, era encontrada em cada canto dos arredores de sua moradia. Saindo da casa humilde, de barro socado, gostava de passear pelas matarias, na beirada do riachinho, subir nas mangueiras e goiabeiras para se deliciar da fruta mais doce.
Dizem que até tinha modos estranhos demais para uma mocinha, ou moça feita como os olhos da rapaziada insistiam em confirmar. Quem já se viu menina daquele tamanho, já desde muito tirado o cheiro de mijo, ainda passar com boneca de pano na mão, tomando banho de chuva em época de trovoada, correndo feito uma doidinha atrás de uma bolinha de sabão?
Quem já se viu uma mocinha já moça, tão bonita e tão vistosa, sem se importar com o desleixamento da roupa de chita, gostar de viver com assanhamento nos seus cabelos longos e escorregadios, fazer de conta que a vida era uma brincadeira sem fim, que os bichos e passarinhos eram seus amigos, que as pedras tinham conversas interessantes? Ora, conversava e muito com as pedras.
Quando não estava nas brincadeiras, nas voações descontraídas, estava cantando na lavagem de roupas no ribeirão, estava conversando com as velhas senhoras nas cadeiras de balanço ao entardecer, estava preparando mingau ralinho para que Sinhá Totonha conseguisse engolir. Depois contava um causo bonito pra doente se alegrar. E a velha ria de se acabar. Mas depois chorava, e chorava de se acabar.
Todo mundo gostava dela, sentia sua falta, perguntava onde havia se metido que nunca mais apareceu para alegrar coração. Ela não dizia onde estava quando sumida por pura vergonha. Não queria que ninguém soubesse que caçava folhas secas na mataria para escrever uns versinhos. Tinha medo que soubessem desse lado inspirado e logo começassem a falar que estava apaixonada.
Mas um dia uma dessas folhas secas lhe fugiu às mãos, e bem quando estava na janela pensando coisa muito diferente do que o normal. Seu coração inocente segredava-lhe coisinhas que a deixava atordoada. Somente assim começou a pensar em menino bonito, em rapazinho que segurasse na sua mão nas paisagens sertanejas.
Era coisa de querer namorar. Sentia, mas não queria. Ou queria, mas temia. Não se achava com idade ainda. Mas então, mocinha, por que escrevia versos dizendo assim: A semente um dia vira flor, e fica contente com o beijo do passarinho, mas quer sentir mais sabor, e da boca que venha de outro ninho.
E a folhinha que lhe fugiu da mão foi sendo levada pelo vento até cair em cima do banco da praça. E chegaram mais, muito mais versos levados no vento porque ela se enraiveceu por pensar em namoro e jogou pelo ar todos os versinhos escritos nas folhas. E o sopro da tarde parecia um livro de poesia.
Mas um olhar avistou uma poesia, outros olhares avistaram folhas secas estranhamente riscadas, e tantos olhos se admiraram e se apaixonaram pelos versos simples, pequeninos, mas cheios de encantamentos amorosos. E, de folha à mão, os meninos passavam tristonhos, apaixonados, diante de sua janela. Procuravam a poetisa, a dona daqueles versos, alguém que pudessem oferecer uma flor.
E pela fresta da janela entreaberta, de coraçãozinho apertado, ela sofria por querer continuar sendo apenas menina levada e por não poder fazer daquela sensação amorosa uma brincadeira. Sabia que o despertar ao amor era coisa muito mais séria do que bolhinha de sabão.

Escritor
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CAMINHOS DO PAJEÚ


O livro "Caminhos do Pajeú" é de autoria do escritor Luiz Cristovão dos Santos uma bela obra prefaciada pelo escritor de nome e renome José Lins do Rego. 

Escritor José Lins do Rego

O livro "Caminhos do Pajeú" é de autoria do escritor Luiz Cristovão dos Santos uma bela obra prefaciada pelo escritor de nome e renome José Lins do Rego. 

Adquira-o o quanto antes através deste e-mail: 

franpelima@bol.com.br

É um excelente trabalho, presente que recebi do proprietário da livraria Professor Pereira, lá da cidade de Cajazeiras no Estado da Paraíba. 

Não deixa para depois!.Livros que conta histórias sobre cangaços são arrebatados e você poderá ficar sem o seu.

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REPÚDIO



Bom dia caros amigos da família Cangaço Eterno, venho através deste demonstrar todo meu repúdio e indignação com o um senhor que tem uma página no YouTube referente ao cangaço ( Rico Ingles ). Esse senhor tem todo o direito de ter suas convicções e apresentar suas versões sobre o cangaço, porém este mesmo senhor atacou de forma covarde um dos maiores mestres do tema cangaço, o Dr. Amaury.

Desmereceu anos de trabalhado de um homem que dedicou a vida a história do cangaço. Graças ao Dr. Amaury e outros mestres do tema, podemos hoje ter as maravilhosas informações que conhecemos.

Dr. Amaury não pode se defender devido seu estado de saúde e sua avançada idade, então cabe a nós amantes do cangaço defender nosso mestre. Erros, contradições e incertezas sempre existiram com relação ao tema, ninguém é perfeito e todos estamos sujeitos a erros, porém devemos sempre respeitar os que dedicaram e dedicam grande parte de sua vida ao mundo do cangaço ou qualquer outra arte.

Não nos calemos quanto a isso, não deixem alguém desmerecer o trabalho do Dr. Amaury dessa maneira.

Fica aqui meus sinceros agradecimentos e admiração a esses cardeais do estudo do cangaço : Dr. Amury, Frederico Pernambucano de Melo, Aderbal Nogueira, Alcino Alves Costa e Paulo Gastão, esses homens são mestres e referências dentro do tema.

Claro que temos inúmeros outros estudiosos que tem contribuido para o tema, Sandro Lee, Geraldo do Cangaçologia, Robério do Cangaço na Literatura, Tiago o trovoada do Odisséia Cangaço, Ivanildo do historiografia, bem são inúmeros, me perdoem os que eu não citei.

Cada um de vocês, entre tantos outros grandes pesquisadores e amantes da história do cangaço contribuíram a sua maneira particular para a propagação do amor e da admiração por esse fenômeno cultural que ocorreu a tanto tempo.

Deus abençoe cada um de vocês e dos fãs do tema. Vamos nos unir em prol do bem da história, sempre nos respeitando e buscando o mútuo aprendizado.

Att: Helton Araújo — sentindo-se incomodado.



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GROTA DO ANGICO



Madrugada do dia 23 de março de 2020. Grota do Angico inundada. Você já tinha visto o riacho assim tão cheio? Foto por James Cardozo


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23 DE MARÇO DE 1924, APÓS SER FERIDO GRAVEMENTE NO PÉ, O REI DO CANGAÇO BUSCOU REFÚGIO NA “CASA DE PEDRA” DA LENDÁRIA SERRA DO CATOLÉ, EM SÃO JOSÉ DO BELMONTE (PE).


Por: Valdir José Nogueira

Frondosa e ainda existente, a árvore do tipo “pau-ferro”, localizada bem às margens da lendária Lagoa do Vieira, a pouca distância da Pedra do Reino, testemunhou o combate travado no dia 23 de março de 1924, com uma volante comandada pelo major da polícia de Pernambuco Theophanes Ferraz, onde o cangaceiro Lampião foi seriamente atingido no pé e morta sua montaria, tombando o animal sobre sua perna. Tendo se livrado do peso do animal morto e mesmo ferido, o cangaceiro consegue reagir à altura da situação. Na gruta conhecida como Casa de Pedra, na Serra do Catolé município de São José do Belmonte, Lampião se refugiou e iniciou sua recuperação.

Interessante apontar que da Casa de Pedra onde se refugiou Lampião, tem-se uma magnífica visão do vale onde fica a famosa área histórica conhecida como Pedra do Reino, retratada no romance de Ariano Suassuna – O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. A Lagoa do Vieira também é citada nesse famoso romance através de uma explicação dada pelo personagem Luís do Triângulo:


“Naquele momento, chegávamos a uma Lagoa rasa, situada à direita da estrada, Luís do Triângulo explicou:

- Essa é a Lagoa do Vieira! Os Vieiras eram parentes do Rei João Ferreira e estiveram, também, metidos na “Guerra do Reino”! Diziam eles que esta Lagoa era encantada e que, aqui, Dom Sebastião tinha uma mina de ouro para os pobres!”.


A lendária Serra do Catolé em São José do Belmonte. Nas suas encostas existe a gruta, conhecida como "Casa de Pedra de Lampião", onde o famoso cangaceiro se refugiou logo após que foi gravemente ferido no pé, no combate na Lagoa Vieira, nas proximidades.

Durante Seminário do Cariri Cangaço em São José do Belmonte, em outubro de 2018, na visita à “Casa de Pedra de Lampião” na Serra do Catolé. Ensaio fotográfico de Rodrigo Honorato com o confrade Quirino.

O “pau-ferro” que testemunhou o combate onde Lampião foi ferido, localizado na Lagoa do Vieira, proximidades da Pedra do Reino Encantado.

A Lagoa Vieira, nas proximidades da Pedra do Reino, local onde se deu o confronto da força do major Theophanes com o grupo do bandido Lampião.

Entre os oficiais da polícia pernambucana que desejavam capturar, ou abater, Lampião estava o major Theophanes Ferraz Torres. Este militar era considerado uma verdadeira lenda no seio da corporação em que atuava. Ferraz havia se notabilizado pela prisão do famoso cangaceiro Antônio Silvino, em novembro de 1914.



Valdir José Nogueira de Moura - Pesquisador / escritor


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MARIA BONITA E DADÁ

Por Francisco Alvarenga Rodrigues
Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) e Dadá mais reais através das cores de Rubens Antonio
(Foto: Rubens Antonio/divulgação)

Maria Bonita e Dadá eram dois polos opostos. Maria, apesar de ser a companheira do chefe do grupo, não se prevalecia disso, comportava-se de forma cordata, sóbria, até humilde. Mesmo quando dava uma ordem, fazia-o pedindo por favor. 

Dadá, pelo contrário, conforme observa Rodrigues de Carvalho, não era apenas intolerante e intolerável, mas rancorosa e perversa qual uma pantera, de modo que, dentre as mulheres que fizeram parte do bando de Lampião, era a que merecia, com justiça, o qualificativo de bandida, tendo muita mulher de fazendeiro dançado o sorongo na ponta de sua famigerada faquinha de cabo de prata, com a qual furava as vítimas devagarinho, mordendo o lábio inferior, enquanto os olhos cintilavam de sadismo. 

Nas festas, Maria Bonita dançava não só com Lampião, mas também com outros cangaceiros e com coiteiros amigos. Nas danças improvisadas nas fazendas, ela mesma chamava o dono da casa ou os filhos dele para dançar, o que eles faziam se pelando de medo, com receio de que Lampião ficasse com ciúme. 

Os cabras divertiam-se quando Maria fazia troça das zangas e manias de certos companheiros. Por exemplo, os apelidos. Embora fosse comum todo mundo ter um apelido, Luís Pedro, o braço direito de Lampião, não gostava de ser apelidado. Mas ele tinha, claro, apelido: Caititu. Quando, nos momentos de descontração do bando, no meio de todo mundo, Maria Bonita chamava Luís Pedro de "Caititu", a cangaceirada adorava. Ela podia; eles, não. 

Outro que implicava com o apelido era Mané Moreno. Quem quisesse ver o diabo era só chamá-lo de Bico Aberto (por ser banguelo – não tinha os dentes superiores da frente). O feroz cangaceiro Juriti, além deste tinha mais dois apelidos – Gavuzinho e Maçarico. Gavuzinho ele aceitava, mas não tolerava ser chamado de Maçarico, porque soava como “marico" (maricas, efeminado). Mas quando era a mulher do Capitão quem pronunciava o nome proscrito até ele achava graça. 

Corisco era contra esse negócio de mulher no bando. Quando entrava um novato, ele avisava:

- Venha só. Nun traga muié. De muié pra dá trabaio já basta a mia.


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AMOR DE CHICO PEREIRA



 Jarda, a esposa menina
 Por Wanessa Campos

“Esconde essa aliança e casa com  outro. Chico já morreu”. Era o que Jardelina Nóbrega ouvia das pessoas aconselhando-a a desistir de se casar com Chico Pereira, que virou cangaceiro. Jarda, como era chamada começou a namorar com Chico aos 12 anos, noivou aos 13, casou aos 14  e ficou viúva aos 17 anos de idade, com três filhos pequenos. O caçula tinha apenas seis meses.

Fonte: www.umolharsobresaojoao.blogspot.com.br

Sua vida daria um filme, como já tentaram fazer. Tudo começou em 1920, na localidade de São Gonçalo,  Sertão da Paraíba, quando Jarda conheceu Chico, então com 20 anos, um pacato comerciante de cal. Filho do coronel João Pereira, pessoa bem relacionada na redondeza. De repente, o coronel viu-se envolvido numa briga na sua mercearia. E nela, foi morto o coronel. Uma morte encomendada por questões políticas. Agonizante, João Pereira pediu aos filhos que não queria vingança como ditava o código de honra da época.

Chico, o filho mais velho conseguiu prender Zé Dias, que matou seu pai e o entregou à polícia achando que assim a justiça seria feita. Mas na semana seguinte, Zé Dias estava solto, para revolta de todos. Chico era insuflado pelo povo a vingar-se e ao mesmo tempo não queria revidar, mas percebia a má vontade da polícia em prender Zé Dias. Tinha receio de ser chamado de frouxo.

Então, o jeito foi fazer justiça com as próprias mãos, como fez Virgolino. A cidade de Souza perdeu a tranquilidade e a briga entre famílias Pereira e Dias ganhava corpo. Chico vingou a morte do pai e tornou-se cangaceiro. Formou um bando e sua vida mudou totalmente e a de sua noiva também. Passou a ser foragido da polícia.

Entretanto, sua preocupação maior era Jarda, sua noiva adolescente. Após uma longa conversa com ela, alertou para o tipo de vida que levava e, se ela quisesse desistir do casamento prometido, ele iria entender. “É com você que quero me casar”, foi a resposta. E como seria esse casamento?

Conseguiram celebrar por meio de procuração, na manhã de  26 de maio de 1925, na igreja de Pombal. Jarda continuou morando com a família e os encontros com o marido eram escondidos. Nasceu o primeiro filho, Raimundo. Depois vieram Dagmar e Francisco. Houve uma menina, mas morreu prematura. Jarda teve uma vida marcada por mortes trágicas: pai, sogro, cunhado e marido.

Chico Pereira comandou vários ataques, inclusive com cangaceiros de Lampião. Passou seis anos nessa vida até encontrar a morte misteriosa numa estrada do Rio Grande do Norte, aos 28 anos de idade, a 24 de agosto de 1928. Uma morte até hoje não esclarecida.

 Chico Pereira

Jarda, com três filhos pequenos, pensava o que seria dela. E dos filhos? Futuros cangaceiros? Como iria educar os meninos com salário de professora rural? A solução foi deixar cada um com um parente. Periodicamente viajava a cavalo para ver os filhos. Uma vida sacrificada. Os três irmãos só se encontraram  bem mais tarde.

Certo dia,  recebeu um bilhete anônimo por meio de um cavaleiro desconhecido montado num cavalo branco, quando estava pensativa no alpendre da casa. O bilhete dizia:” Se queres ser feliz, perdoa seus inimigos”. Uma cena quase irreal.  E Jarda tinha muito a quem perdoar. Decidiu queimar todas as cartas, livros de cordel, jornais, tudo que falava de Chico Pereira. Estava queimando seu passado para salvar o futuro dos filhos, escreveu  Francisco no seu livro “Vingança, não”.

Os anos foram passando e a primeira alegria veio com  Raimundo que se formou em engenharia civil no Recife. Depois, foi a vez de Dagmar, que se tornou frade franciscano com o nome de frei Albano. Surpresa maior veio com  Francisco,  ordenado padre em Roma, onde estudou. Com ele, a alegria de Jarda foi maior, pois assistiu sua ordenação, recebeu bênção especial do papa e a comunhão pelo próprio  filho na sua primeira missa. Jarda encontrou a felicidade através do perdão.

Dos três filhos, apenas frei Albano está vivo, no Convento de São Francisco, em Salvador, Bahia. Jarda ficou viúva para sempre e morreu em João Pessoa onde morava e o filho Francisco também*.


Jarda foi uma Maria Bonita.

NOTA – Conheci e convivi com dona Jarda desde menina até a idade adulta, na minha casa e na da minha irmã mais velha, Wanice, casada com  Raimundo com que ela morou durante muito tempo. Dona Jarda, muito alva, cabelos castanhos, bonita e vaidosa que me pedia para comprar batons de cores claras. Falava baixinho, gostava de conversar e contava com naturalidade sua vida com Chico Pereira. Demonstrava serenidade e nem parecia ter um passado sofredor. Os filhos diziam que ninguém conseguiu ver Jarda chorar. Gostava dela.

Pescado no açude de comadre Wanessa
 www.mulheresdocangaco.com.br

Adendo
Francisco "O Padre Pereira" filho de Jarda e Chico faleceu em João Pessoa no dia 22 de janeiro de 2007.


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LUTO!



Hoje, dia 22 de março de 2020 o 
Nordeste perde um dos seus maiores repentistas Valdir Teles.


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“O GLOBO” – 27/11/1976 ANTÔNIO AMAURY



Ele não nasceu no Nordeste. Mas sabe tudo sobre Lampião e o cangaço Ele sabe tudo da vida de Lampião e dos cangaceiros. Tem 80 horas gravadas sobre o assunto, um livro publicado, um segundo esperando por uma editora e mais dois em preparação. Aos 42 anos de idade, está quase abandonando a odontologia para se dedicar somente às pesquisas e, se chegar aos Cr$ 800 mil, fará isso sem sombras de dúvidas.

Há pouco mais de dois meses, a vida do dentista Antônio Amaury Corrêa de Araújo se transformou. Num belo sábado ele deixou a tranquilidade de um fim de semana junto com a mulher e os três filhos em sua casa no bairro Jardim Paulistano (SP), pegou um avião e veio se trancar no apartamento de um hotel no Rio de Janeiro esperando o dia seguinte para participar do programa “8 ou 800”. Hoje, faltando apenas três semanas para chegar aos Cr$ 800 mil, o consultório em São Paulo está quase fechado, junto com os 40 diplomas de pós-graduação. Se antes Lampião e o cangaço eram um hobby em sua vida, hoje passaram a ser o assunto mais importante.

- Antes eu trabalhava no consultório de segunda a sábado, agora trabalho só segunda e sábado e, mesmo assim, com dificuldades. Se eu levava 30 minutos para fazer um trabalho, agora levo duas horas. Os clientes estão muito mais interessados em saber histórias de Lampião do que tratar dos dentes.

Foi quase por acaso que aos 16 anos de idade caiu nas mãos de Amaury um folheto sobre Corisco.

- Trazia a notícia da morte de Corisco e de mais quatro pessoas. Passei a procurar mais informações em jornais e revistas e aguçou a minha curiosidade ver que as notícias se conflitavam. Com isso despertou também o meu interesse e, num estilo Sherlock Holmes, passei a procurar saber qual era a verdade.

Em 1959, Antônio Amaury saiu de Araraquara e foi para São Paulo, aumentando assim as possibilidades de se dedicar ao assunto.

- Fui ser dentista da Companhia de Gás, e dizem que 95% dos nordestinos que vão trabalhar em São Paulo, vão pra lá. Foi o mesmo que jogar sapo n’água. Comecei a conversar com quem havia vivido o problema e gravando tudo.

Aos poucos, a casa de Amaury foi se transformando num república de ex-cangaceiros.

- A Dadá, mulher de Corisco, ficou lá em casa seis meses. O irmão e a filha de Lampião também ficaram 20 dias.

Para não ficar fora do assunto, a família passou a ajudá-lo nas pesquisas e a acompanhá-lo nas viagens pelo interior. Foi assim que nasceu o primeiro livro e ainda inédito “Minha vida com Corisco”, depoimento que a viúva do ex-cangaceiro lhe deu com exclusividade. O segundo livro, “Assim morreu Lampião”, foi lançado e editado por conta própria em agosto de 1975 e foi baseado nele que a Blimp Filmes produziu o documentário “O último dia de Lampião”, apresentado no programa “Globo Repórter”. Amaury colaborou também na produção do documentário: “As mulheres no Cangaço” e do filme “Corisco, o diabo loiro”, feito pela Cinedistri.

- Se não aparecer nenhuma editora lanço por conta própria o livro sobre Corisco, pois foi uma promessa que fiz a Dadá que está com 66 anos de idade. Já planejei o terceiro e o quarto livro, mas acontece que a história sobre o cangaço ainda está para ser contada e não vai ser eu quem vai contá-la.

No programa, para cada pergunta ele tem duas respostas. Uma correspondente a um dos 9 livros que entregou para a produção do programa e outra retirada de seus 26 anos de estudos sobre o assunto. Amaury é capaz de gaguejar quando se pergunta a idade ou a data do nascimento de seus filhos, mas, sobre o cangaço suas respostas são exatas e sabe todas as datas sem precisar pensar duas vezes.

- Existem pessoas que fazem uma ideia errada sobre mim, pois sempre digo que conheço os cangaceiros. Acontece que pra cada cangaceiro conheço dez policiais que os perseguiram.

Dona Renée, os filhos Junior, 13 anos, Carlos Elídio, 12, e Sérgia de 11 anos, que tem esse nome em homenagem à viúva de Corisco, acompanham de São Paulo as apresentações do pai no programa. Eles estão tranquilos, pois sabem que se depender dos conhecimentos de Amaury sobre o cangaço, os Cr$ 800 mil já estão ganhos.

- Aos sábados, eu chego ao Rio e vou para o claustro. Ainda não fui a lugar nenhum e aproveito para estudar. Durante a semana em São Paulo me tranco no consultório, desligo o telefone para poder ter sossego. Lá em casa, toda hora chega gente querendo conversar e contar histórias sobre o cangaço. No primeiro dia do programa eu me lembrei do Zé Baiano, um ex-cangaceiro, que quando lhe perguntaram se não tinha medo de brigar respondeu: “Antes do tiroteio me corre um friozinho pela espinha, depois quando esquenta ninguém me segura.” Eu também fiquei assim.

Caso ganhe os Cr$ 800 mil, Amaury ainda não sabe o que vai fazer.

- Andam dizendo que vou construir uma estátua, outros dizem que vou dividir com os cangaceiros, mas nem mesmo minha mulher sabe o que vou fazer. Não quero me preocupar com o dinheiro enquanto não tenho. Já me acostumei a ser pobre e não é isso que vai mudar a minha vida.

Como as possibilidades da vitória são muitas, o mais provável é que ele coloque o dinheiro para render juros e se dedique somente a pesquisas.
- Há 11 anos pesquiso sobre um movimento que aconteceu em 1938 na Bahia e em Pernambuco chamado Pau de Colher. É muito mais difícil que o cangaço pois ninguém quer reconhecer que participou dele. Já trouxe gente desse grupo para ficar em minha casa e minha intenção é escrever um livro sobre esse assunto.

Livros, recortes, um objeto onde Lampião guardava cigarros e dinheiro, muitas histórias, povoam a casa de Amaury em São Paulo. Muitos cangaceiros já foram ajudados por ele, apesar de não gostar de contar esses fatos. Da odontologia, profissão que exerce há 20 anos, aos poucos está se afastando. Quem sabe conseguindo os 800 mil se afaste totalmente para se dedicar às pesquisas, a maior paixão na sua vida.


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