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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

RESTOS MORTAIS DO CANGACEIRO JESUÍNO BRILHANTE NÃO FORAM ENTREGUES AOS PATUENSES

Por José Mendes Pereira


Jesuíno Alves de Melo Calado era o famoso cangaceiro Jesuíno Brilhante, tendo nascido no ano de 1844, no sítio Tuiuiú, no município de Patu, no Estado do Rio Grande do Norte, e era filho de José Alves de Melo Calado e D. Alexandrina Brilhante de Alencar.

Em dezembro de 1879, na região das Águas do Riacho de Porcos, Brejos da Cruz, na Paraíba, Jesuíno Brilhante foi atingido no braço e no peito, sendo levado por seus amigos. Mas infelizmente ele não resistiu aos ferimentos e faleceu no lugar chamado "Palha", tendo sido  enterrado onde morreu. 

Os restos mortais do cangaceiro Jesuíno Brilhante saíram de lá, e vieram desnecessariamente para Mossoró

 Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro 

No ano de 1883, o Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro que era médico em Mossoró, visitou o túmulo do cangaceiro e trouxe para cá os seus restos mortais, abrigando-os em sua residência.

 (Segundo o professor, escritor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes me afirmou por g-mail que o médico trouxe apenas o crânio do cangaceiro).

Após sua morte, em 22 de junho de 1922, os restos mortais  de Jesuíno Brilhante foram levados para o Grupo Escolar "30 de Setembro". No ano de 1924, eles foram transferidos para a Escola Normal. E tenho informação que, posteriormente eles foram transferidos para o Rio de Janeiro, para estudos, e ninguém teve mais informações sobre os mesmos

Por que o Dr. Almeida Castro meteu a sua colher na ossada do cangaceiro se ele não era perito nisto? 

O Dr. Almeida Castro nascera em Maranguape-Ce, e era médico em Mossoró, mas não era perito, legista ou outra coisa semelhante, em relação à estudos em ossadas, restando apenas o prejuízo para a cidade de Patu, que sem merecer, perdeu um pouco da sua história, quando os restos mortais do cangaceiro deveriam ter sido entregues à população patuense. Se ainda existem por aí, ninguém sabe.

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XVI JORNADA CULTURAL DO MUSEU DO SERTÃO


Por Benedito Vasconcelos Mendes

PROGRAMAÇÃO 

Dia 31 de agosto ( sábado)

8:00 horas - Missa de Ação de Graças, celebrada pelo Capelão da Marinha do Brasil no Rio de Janeiro, Padre Agostinho Justino dos Santos.                                 
                                          

9:00 horas- Lançamento do livro “Vivências de um Menino em uma Fazenda Sertaneja”, de autoria do Prof. Benedito Vasconcelos Mendes e abertura pelo Ex-Governador Gonzaga Mota, da Terceira Feira de Livros de Autores Cearenses .         
                                      
9:30 horas - Interpretação do Hino Nacional, do Hino do Museu do Sertão e da Ópera do Baobá, pela Juíza de Direito, escritora e cantora Welma Menezes.                                             

10:00 horas - Apresentação da Acadêmica e cantora Goretti Alves, com acompanhamento do coral infantil da Escola Municipal Leôncio José de Santana, coordenado pelo Professor Erialdo Souza.                         
10:30 horas - Outorgas de Comendas e Diplomas à diversas personalidades, que se destacaram no setores Cultural e Educacional.                                                                                   
ENTREGA DA COMENDA “Alcino Alves Costa” aos pesquisadores do cangaço Wasterland Ferreira Leite e Rangel Alves da
  Costa e ao empresário Antônio Gentil de Souza.                                                                                               
OUTORGA DA COMENDA “Paulo Medeiros Gastão” ao cineasta Aderbal Simões Nogueira, ao turismólogo Jairo Luís Oliveira e às empresárias Maria das Graças Gurgel Gastão e Patrícia Gurgel Medeiros Gastão.                                                                             
OUTORGA DA COMENDA “Rodolfo Fernandes” ao empresário Herbert de Souza Vieira e à escritora Marcela Fernandes de Carvalho, bisneta do Prefeito Rodolfo Fernandes.                                   

11:00 horas - Visita aos pavilhões do Museu do Sertão, guiada pelo Prof. Benedito Mendes e pela pedagoga Susana Goretti Lima Leite.                                                           
12:00 horas - Momento de cultura e lazer.

Enviado pelo autor

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O MUSEU DE DONA ANTÉA

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.162

  Bibliotecas e museus guardam grandes tesouros da história. Santana do Ipanema, Alagoas, possui apenas um museu. Cidades outras possuem dois, três, cinco... Ou nenhum. O de Santana do Ipanema continua no casarão de esquina, vizinho à Matriz com o salão paroquial. Primeiro funcionou no prédio pequeno multiuso da municipalidade, à Rua Nossa Senhora de Fátima. Na época, entre outras peças, guardava uma das rodas do primeiro automóvel das Alagoas, pertencente ao coronel Delmiro da Cruz Gouveia. Não foi fácil sustentar um museu no tempo da ignorância. A marcha continuava entre vexatórias situações, mas conseguiu chegar vivo ao ano de 2019 com significativas vitórias. Sua organização atual tem atraído alunos e professores de várias escolas bem como pesquisadores e curiosos.
ESQUINA, MUSEU DARRAS NOYA (FOTO: B. CHAGAS).
        
          No quadro comercial sua presença também é destaque no local em que divide as feiras semanais.
          Residir em casarões era sinal de prestígio. Ali morou o maestro Manoel de Queirós (Seu Queirós) também fundador da primeira banda de música, ainda no tempo de vila. Chamava-se Santa Cecília e durou alguns anos após a emancipação. Seu Queirós ainda foi fundador do primeiro teatro na década de 20.
          Alcançamos ainda sua filha Antéa, já em idade avançada, morando e depois tomando conta do museu em que virou a sua residência. Pessoa culta, educada, comunicava-se bem com a pouca clientela da casa. Ficavam mais fáceis para ela às explicações sobre as peças expostas, algumas do seu próprio tempo. Foi relevante para a cultura santanense tanto o pai quanto a filha. Lembramo-nos levemente das suas narrativas sobre as pontes de madeira sobre o riacho Camoxinga, sempre levadas por ele, especialmente a de 1915.
          O museu de Dona Antéa, digo, o Museu Darras Noya, em organização atualmente, nada deixa a desejar em relação a nenhum outro do país. É a cultura tão massacrada antigamente, ganhando terreno e atraindo as novas gerações.
         Foi uma honra ministrar uma palestra no Espaço Cônego Bulhões, sobre prédios públicos históricos e o museu da cidade.
       

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UMA CASA PARA RECORDAR

*Rangel Alves da Costa

Eis, como fotografia perante o meu olhar, a moradia mais importante que já existiu no solo sagrado de Poço Redondo. Daquelas criações arquitetônicas marcadas pelo esmero e pela beleza em cada curva.
E talvez também a mais bela, imponente, um marco histórico ainda recordado por muitos. A casa já não existe, pois um dia foi abaixo para dar lugar a uma nova construção, e esta tão feia e tão fria como a insensatez humana.
Falo de uma casa familiar, de meus avôs maternos, em cujas dependências passei grande parte de minha infância. A casa de Teotônio Alves China, o China do Poço, e de Marieta Alves de Sá (ou simplesmente Mãeta).
Moradia sertaneja que um dia acolheu o Padre Artur Passos e Lampião, que era parada obrigatória para os ricos senhores das terras adiante, passagem obrigatória para comboeiros e outros desbravadores dos grandes sertões.
Sinhôzinho Britto chegava aí, proseava aí, descansava aí. Uma rede armada na varanda, o chapéu em riba de tamborete, e o repouso do latifúndio, da riqueza, dos senhorios daqueles sertões antigos.
A fortuna de meu avô China eram as amizades muitas. Ele mesmo, depois que se desfez das fazendas, passou a se contentar em ser vendeirim no pequeno salão ao lado da moradia.
Mantinha a vendinha não porque necessitasse da venda de um quilo disso ou daquilo pra sobreviver, mas principalmente para manter um balcão onde amigos chegavam para falar sobre a vida e o viver sertanejo.
Minha avó Marieta, a querida Mãeta, vivia comungando mais com os céus do que com as coisas mundanas. Extremada devota, beata de xale e promessa, mulher de rosário de conta e de fé de vela e oratório. Não tinha salvação quem não fosse abençoado por ela.
Depois que o seu China partiu em adeus, o entardecer de Mãeta era para sua calçada e para dar a benção a quem passasse. “Bença, Mâeta!”. “Deus abençoe, meu filho. Deus abençoe!...”.

E ainda recordo em vivez
aquelas portas e janelas
as salas e os corredores
entre paredes largas e fortes
entre passos que percorriam
aquele mundo entre histórias
entre as lutas e as devoções
entre rosários de esperanças
e as lágrimas inevitáveis da vida
e eu um meninote de pés no chão
lanhado pelas correrias no mato
adentrava aquele mundo meu
sem imaginar que aquele meu
já era do tempo e da história
já era um marco para um amanhã
a tudo entristecido recordar
pela certeza de tudo um dia acabar.

Hoje a casa não existe mais. Sua feição apenas nos velhos retratos, nas velhas fotografias. Mas eu ainda não fechei suas portas nem suas janelas. Eu ainda sou aquele menino que ia tomar água no pote e depois deitar no colo de minha avó para receber cafuné.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

FAZENDA ABÓBORA – UM IMPORTANTE LOCAL PARA HISTÓRIA DO CANGAÇO E DO NORDESTE

By Rostand Medeiros

Desde que comecei a ler temas relacionados ao ciclo do cangaço, a sua figura maior, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e a história do Nordeste no início do século XX, um local em especial me chamava atenção pelas repetidas referências existentes em inúmeros livros. Comento sobre uma antiga propriedade denominada Abóbora, localizada na zona rural do município de Serra Talhada, próximo a fronteira com a Paraíba e não muito distante das cidades pernambucanas de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo.

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A cidade de Triunfo a Noite

Vamos conhecer um pouco de sua história e da visita que realizei a este local.
Uma Rica Propriedade

Quem segue pela sinuosa rodovia estadual PE-365, que liga as cidades de Serra Talhada a Triunfo, antes de subir em direção a povoação de Jatiúca e as sedes dos municípios de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo, percebe que está em um vale cercado de altas serras, que dão uma beleza singular a região. Atrás de uma destas elevações se encontra a Fazenda Abóbora.

Até hoje esta fazenda chama atenção pelas suas dimensões. Segundo relatos na região, suas terras fazem parte das áreas territoriais de três municípios pernambucanos. Aparentemente no passado a área era muito maior. Ali eram criados grandes quantidades de cabeças de gado, havia vastas plantações de algodão, engenho de rapadura e se produziam muitas outras coisas que geravam recursos. No lugar existem dois riachos, denominados Abóbora e da Lage, que abastecem de forma positiva a gleba. [1]

Com tais dimensões, circulação de riquezas, no passado o lugar era ponto de parada de muitos que faziam negócios na região e transportavam mercadorias em lombo de animais, os antigos almocreves. No lugar estes transportadores do passado eram recebidos pelo “coroné” Marçal Florentino Diniz, que junto com irmão Manoel, dividiam o mando na propriedade.

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Documento que aponta os proprietários da
Fazenda Abóbora na década de 1920

Informações apontam que Virgulino Ferreira da Silva, quando ainda trabalhava como almocreve, realizou junto com seu pai e os irmãos vários transportes de mercadorias entre as regiões de Vila Bela (sua cidade natal, atual Serra Talhada) e Triunfo.[2].

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Sentado vemos Marcolino Diniz e seus "cabras"

Certamente em alguma ocasião, o jovem almocreve teve a oportunidade de conhecer a fazenda do “coroné” Marçal e de seu irmão Manoel. Além destes o almocreve da família Ferreira conheceu o impetuoso filho do fazendeiro Marçal, Marcolino Pereira Diniz.[3]

Uma ótima Relação

Chefe de bando inteligente e perspicaz, Lampião buscava antes do confronto, o apoio e as parcerias com os antigos proprietários rurais e assim agiu junto aos donos da Fazenda Abóbora.
 
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Após assumir a chefia efetiva de seu bando, depois da partida do seu antigo chefe, o mítico cangaceiro Sinhô Pereira, Lampião frequentou em várias ocasiões as terras da Abóbora, onde o respeito do chefe e dos seus cangaceiros pelo lugar estava em primeiro lugar.

Rodrigues de Carvalho, autor do livro “Serrote Preto” (1974), informa nas páginas 252 a 254 que ocorreu uma intensa e positiva relação de amizade entre Lampião e a família Diniz principalmente com o “jovem e pretensioso doutor” Marcolino Diniz, que chegou há cursar durante algum tempo a Faculdade de Direito em Recife, mas não concluiu.[4]

Esta relação ambígua de amizade entre estes ricos membros da elite agrária da região e o facínora Lampião foi posta a prova em duas ocasiões.

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Antiga Cadeia Pública de Triunfo,
em breve um novo centro cultural

A primeira no dia 30 de dezembro de 1923, quando Marcolino Diniz é preso pelo assassinato do juiz de Direito Ulisses Wanderley em um clube de Triunfo. Marçal solicita apoio de Lampião para tirar Marcolino da cadeia, se necessário a força. Juntos vão acompanhados de um grupo que gira em torno de 80 a 100 cangaceiros armados. Não Houve reação dos carcereiros.

A segunda ocorreu no mês de março do ano seguinte. Após o episódio do ferimento do pé de Lampião na Lagoa Vieira e o posterior ataque policial na Serra das Panelas, onde o ferimento de Lampião voltou a abrir e quase gangrenar, é a família Diniz que parte em socorro do cangaceiro. Marçal e Marcolino cederam apoio logístico para a sua proteção, transporte, medicamentos e plena recuperação com o acompanhamento dos médicos José Lúcio Cordeiro de Lima, de Triunfo e Severino Diniz, da cidade paraibana de Princesa. Sem este decisivo apoio, certamente seria o fim do “Rei do Cangaço”.[5]

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Lagoa Vieira-Foto-Alex Gomes

Foi igualmente na propriedade Abóbora que Lampião conheceu Sabino Gomes de Gois, também conhecido como “Sabino das Abóboras”.[6]


Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), nas páginas 243 a 246, informa que Sabino efetivamente nasceu na Fazenda Abóbora, sendo filho da união não oficial entre Marçal e uma cozinheira da propriedade. Consta que ele trabalhou primeiramente como tangedor de gado, o que certamente lhe valeu um bom conhecimento geográfico da região.

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Sabino

Valente, Sabino foi designado comissário (uma espécie de representante da lei) na região da propriedade Abóbora, certamente com a anuência e apoio do pai. Organizava bailes e em um destes envolveu-se em um conflito, tendo de seguir para o município paraibano de Princesa. [7]

Depois, entre 1921 e 1922, acompanhou seu meio irmão Marcolino para Cajazeiras, no extremo oeste da Paraíba. Marcolino Diniz desfrutava nesta cidade de muito prestígio. Era presidente de clube social, dono de casa comercial, de jornal e tinha franca convivência com a elite local. Sabino por sua vez era guarda costas de Marcolino e andava ostensivamente armado. Nesta época Sabino passou a realizar nas horas vagas, com um pequeno grupo de homens, pilhagens nas propriedades da região.

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Outra imagem de Lampião

O autor de “Guerreiros do Sol” informa que teria sido Sabino que coordenou a vinda do debilitado Lampião para ser tratado pelos médicos José Lúcio Cordeiro de Lima e Severino Diniz. A amizade entre o “Rei do Cangaço” e o filho bastardo de Maçal Diniz, nascida na Fazenda Abóbora, teria então se consolidado a ponto deste último se juntar a Lampião e seu bando, em uma posição de destaque, no famoso ataque de cinco dias ao Rio Grande do Norte, ocorrido em junho de 1927.

Outros Episódios do Ciclo do Cangaço na Fazenda Abóbora

Pelos muitos autores que se debruçaram sobre o tema cangaço e pelos relatos da região está mais que provado a franca convivência entre os membros da família Diniz e os cangaceiros no seu verdadeiro feudo na Abóbora.

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Oficiais de forças volantes que perseguiram Lampião
e outros cangaceiros ao longo da história

Mas no meio desta história, onde estava o aparato de segurança do estado?

Segundo informações colhidas pelo autor deste artigo, que esteve na região em várias ocasiões, a polícia frequentava a Fazenda Abóbora, mas o poder dos Diniz era tal, que os homens da lei tinham que avisar com antecedência que iriam lá.

Daí, no caso de cangaceiros estarem acoitados na grande gleba, estes eram informados por Marçal, Marcolino ou alguém de confiança, e seguiam tranquilamente para coitos nas Serras Comprida, da Pintada, ou da Bernarda, ou nas propriedades denominadas Xiquexique, Pau Branco, Areias do pelo Sinal e outras.

Essa verdadeira promiscuidade praticamente só vai ter um fim diante da extrema repercussão do ataque dos cangaceiros a cidade de Sousa, na Paraíba. Ocorrido na noite de 27 de julho de 1924, o fato logo ganha destaque nas páginas de vários jornais e assusta as autoridades nas capitais da Paraíba e de Pernambuco. Em pouco tempo os líderes sertanejos são instados a negarem a proteção dada aos bandos de cangaceiros. [8]

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Theophanes Ferraz Torres

Tanto assim que três dias após o assalto a Sousa, ao meio dia, uma força volante sob o comando do major Theophanes Ferraz Torres, trava um combate contra um grupo de cangaceiros comandados por Sabino, que foge sem dar prosseguimento à luta. Certamente Sabino tentava chegar ao seu conhecido “lar” e teve esta desagradável surpresa. [9]

Ao longo do mês de agosto de 1924 vários combates serão travados na região. Tiroteios nos lugares Areias do Pelo Sinal, Serra do Pau Ferrado, Tataíra e outros vão marcar a história de luta contra os cangaceiros. Não havia propriedade que não pudesse ser adentrada e varejada pela polícia.

Mas não seria o fim da presença de cangaceiros no local.

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"Diário de Pernambuco", 4 de agosto de 1926

Em uma pequena nota existente na página quatro do jornal “Diário de Pernambuco”, edição de quarta feira, 4 de agosto de 1926, encontramos a informação que por volta das três horas da tarde do dia 30 de julho, na área da Fazenda Abóbora, foram mortos pela polícia pernambucana e paisanos, depois de demorado tiroteio, os cangaceiros Juriti e Vicente da Penha.

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Juriti era erroneamente apontado pelo jornal como sendo o comandante de um ataque ocorrido no dia 7 daquele mesmo mês, a uma casa comercial em Triunfo. No caso o comandante da ação foi Sabino.

O “Coito” do Coronel José Pereira

Com o declínio da ação de cangaceiros na região de Triunfo, discretamente a Fazenda Abóbora deixa de ser local de combates, mas não deixaria de servir como um ótimo esconderijo.

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O Coronel José Pereira

Em 1930, eclodiu um grave conflito armado na vizinha Paraíba, mais precisamente no município de Princesa.

Entre as origens deste sério problema, estavam as divergências entre o governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, e os coronéis monopolizadores da economia e política do interior do estado.

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João Pessoa

João Pessoa discordava da forma como este grupo político, que o elegera, conduzia a política paraibana. Entre estes poderosos era valorizado o grande latifúndio de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo de algodão e na pecuária.

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Casarão de onde José Pereira comandava suas
forças no conflito de Princesa

Estes fazendeiros, como vimos no exemplo de Marçal Diniz, atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupos de jagunços armados, da conivência com cangaceiros e outras ações as quais o novo governo não concordava.

Um dos pontos mais fortes da discórdia era cobrança de taxas de exportação do algodão. Os ditos coronéis paraibanos exportavam a produção desta malvácia pelo porto do Recife, causando perdas tributárias para o estado da Paraíba. O governador estabelece diversos postos de fiscalização nas fronteiras do Estado. Por esse motivo os coronéis do interior passaram a apelidar João Pessoa de “João Cancela”.

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José Pereira (em destaque) e seu estado maior
durante a chamada Guerra de Princesa

O fazendeiro e líder político José Pereira Lima, mais conhecido como “Coronel Zé Pereira”, da cidade de Princesa, era o mais poderoso entre todas as lideranças do latifúndio na sua região. Para muitos ele é descrito como verdadeiro imperador do oeste da Paraíba, na área da fronteira com o estado de Pernambuco. Zé Pereira contava com o apoio dos governadores de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, respectivamente Estácio de Albuquerque Coimbra e Juvenal Lamartine de Faria.

Diante do impasse com o governador João Pessoa, Pereira declarou Princesa “Território Livre”, separando-o do estado da Paraíba, tornando-o absolutamente autônomo. 

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Combatentes durante o conflito

A reação do governo estadual foi pesada e uma verdadeira guerra começou. Princesa se tornou uma fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais ao governador João Pessoa. O exército particular do Coronel José Pereira era estimado em mais de 1.800 combatentes, onde diversos lutadores eram egressos das hostes do cangaço e muitos eram desertores da própria polícia paraibana.

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Combatentes da Guerra de Princesa-Fonte

A força do governador João Pessoa possuia cerca de 890 homens, organizados em colunas volantes. Essas colunas eram chefiadas pelo coronel comandante da Polícia Militar da Paraíba, Elísio Sobreira, pelo Delegado Geral do Estado, o Dr. Severino Procópio e José Américo de Almeida (Secretário de Interior e Justiça).

Marçal Florentino Diniz e Marcolino, ligados por parentesco com José Pereira, se juntam a luta na região. Houve muitos episódios sangrentos na conhecida Guerra ou Sedição de Princesa.

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João Pessoa assassinado. Estopim da Revolução de 30

Após a morte do governador João Pessoa, ocorrida em Recife, houve a consequente eclosão da Revolução de 30 e o conflito em Princesa acabou. Durante os quatro meses e vinte e oito dias que durou sua resistência, Princesa não foi conquistada pela polícia paraibana. Após a eclosão da Revolução, as tropas do Exército Brasileiro, de forma tranquila, ocuparam a cidade.

Para muitos pesquisadores José Pereira Lima organizou de tal maneira a defesa dos seus domínios, que provocou baixas estrondosas à força pública paraibana.

Diante da derrota, José Pereira e muitos dos que lutaram com ele fugiram da região. A família Diniz se retraiu diante do novo sistema governamental imposto e a fortuna de Marçal e Marcolino ficou seriamente comprometida.

O tempo dos caudilhos do sertão estava chegando ao fim, pelo menos naquele formato utilizado por Marçal Diniz e José Pereira.

José Pereira deixa Princesa no dia 5 de outubro de 1930 e fica escondido em propriedades de pessoas amigas, em diversas localidades existentes em outros estados. Segundo o Sr. Antônio Antas, depois de percorrer vários locais, segundo lhe informou o próprio Marcolino Diniz, José Pereira passou muito tempo escondido na Fazenda Abóbora, até que em 1934 o novo regime lhe concedeu anistia e ele decidiu permanecer em território pernambucano.

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Antônio Antas, conviveu quando jovem com Marcolino Diniz, seu parente.
Um grande amigo e memória viva da história de sua região

Mas segundo o Sr. Antônio Antas, a situação na Fazenda Abóbora não foi fácil. Um ano depois da anistia, por ordens de Agamenon Magalhães, então Interventor Federal em Pernambuco, a polícia estadual cerca a Fazenda Abóbora. José Pereira escapa, volta a Princesa e recebe garantias dos líderes estaduais paraibanos.

Visitando a Fazenda Abóbora

Em recente ocasião estive na cidade de Triunfo, onde mantive contato com Lucivaldo Ferreira e André Vasconcelos. Há tempos que mantemos parcerias entre o nosso blog “Tok de História” e o ótimo blog que eles comandam, chamado “Boom! Triunfo”.

A principal igreja católica de Triunfo e a névoa
 da época de inverno na serra

Tive oportunidade de travar contato com ambos, onde pude entregar-lhes meu último livro “João Rufino-Um Visionário de Fé” e conversar muito sobre cangaço. Os dois são verdadeiramente apaixonados por Triunfo, sua história, sua cultura e lutam para que isso seja divulgado entre os mais jovens.

Lucivaldo é professor de artes da Escola Nova Geração Triunfense, atua como produtor cultural independente. Ele concilia o trabalho de Regente da Filarmônica Isaias Lima, com o de cantor, compositor, arranjador, vocalista da Banda Templários e participante da Orquestra Maestro Madureira.

O autor deste artigo e André Vasconcelos

Já André é bacharel em hotelaria, já foi secretário de cultura de sua cidade, é funcionário do SESC-Serviço Social do Comércio, trabalhando no belo hotel que esta entidade mantem na cidade serrana e é um grande pesquisador do tema cangaço. Acredito que tudo que diz respeito ao cangaço em Triunfo e região, se ele não souber, chega perto.

Com extrema boa vontade, ambos se colocaram a disposição para apresentar as características e fatos históricos de Triunfo, de uma forma tranquila e aberta.

Nas nossas andanças me chamou a atenção como às pessoas na região são extremamente tranquilas e comunicativas, sempre buscando ajudar. Percebi que na busca de informações, é difícil alguém que não tenha algum fato em sua história familiar, relacionado a episódios relativos ao cangaço.

Na busca da Fazenda Abóbora, com a Serra Grande ao fundo.
 Mais de 900 metros de atitude

Em um dos dias em que lá estive, busquei alugar uma moto 125 e fui com André desbravar os difíceis, longos e enlameados caminhos até a Fazenda Abóbora. Devido às chuvas, o trajeto foi bem complicado e quase caímos em algumas ocasiões. Mas o legal foi que André não perdeu a animação.

Durante o trajeto foi bonito ver a distância a famosa Serra Talhada. Neste caso não era a cidade, mas a elevação com mais de 800 metros de altitude que nomeia o lugar.

A Serra Talhada

A sede da Fazenda Abóbora fica praticamente escondida pelos contrafortes da chamada Serra Grande e seus mais de 900 metros de altitude. Já a passagem dos Riachos Abóbora e da Lage foi uma verdadeira aventura, pois ambos estavam com água corrente e, devido a ser final da tarde, não dava para ver a profundidade. Mas o negócio era encarar e seguir em frente. Graças a Deus deu certo.

Percebe-se com clareza no trajeto o quanto a região ainda é isolada. Existem serras cercando todos os quadrantes da propriedade, o que de certa maneira deixa a área bastante intocada. Tudo é muito bonito em termos naturais e paisagísticos.

Aspecto da Região

Em meio a tantas situações interessantes, em um ponto mais alto, avistamos a casa grande da fazenda Abóbora. À primeira vista, à distância, confesso que fiquei até um pouco decepcionado. Achei que era “história demais, para casa de menos”. Mas não era bem assim.

Sede da Fazenda Abóbora

Devido à distância e as condições da estrada, chegamos praticamente à noite. Era estranho tentar imprimir velocidade na 125, em meio a uma estrada terrível, desconhecida, cheia de curvas, altos e baixos e o medo de não conseguir as fotos devido a falta de iluminação natural. Ainda bem que André foi um passageiro bem tranquilo na moto. Mas deu certo.

Na casa os proprietários não se encontravam, mas os moradores foram extremamente solícitos em nos receber e abriram as portas do local.

Oratório de São Sebastião

O interessante é que a residência está mantida praticamente na sua forma original. Com exceção do pequeno pátio, do murinho, portal e escadarias localizados na parte frontal, eles afirmaram que o resto da casa é todo original e a intenção dos donos é mantê-la como está. Ao redor existem muitas antigas casas de moradores, a grande maioria desocupadas, mostrando que a quantidade de trabalhadores que havia no local já foi bem maior.

A antiga e preservada cozinha

Fizemos muitas fotos, mas por questão de respeito aos proprietários, apresentamos apenas o interessante oratório com a figura de São Benedito e a original cozinha com seu fogão a lenha.

Os caseiros do local informaram que vivem há anos no lugar e tiveram oportunidade de ouvir através dos moradores mais velhos, a maioria já falecidos, inúmeras histórias sobre a passagem de Lampião pela casa . Ele nós garantiram que era a primeira vez que conheciam pessoas que vinha à casa da Fazenda Abóbora em razão do tema cangaço.

A nossa visita foi rápida, mas valeu e muito.
Mas uma vez agradeço ao André Vasconcelos pelo apoio.

[1] Relatos transmitidos em entrevista gravada junto ao Sr. Antônio Antas, da cidade paraibana de Manaíra, em dezembro de 2008. O Sr. Antônio, parente de Marcolino Diniz, conviveu com o filho de Maçal quando este estava idoso e vivendo na Comunidade de Patos do Irerê. Vale ressaltar que é relativamente pequena a distancia da sede da Fazenda Abóbora para a cidade de Manaíra.

[2] Relato transmitido ao autor em entrevista gravada junto ao Sr. Antônio Ramos Moura, em agosto de 2006, em Santa Cruz da Baixa Verde.

[3] Para Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), na página 244, afirma que Maçal Diniz conheceu Lampião e seus irmãos quando os mesmo já eram membros do bando de Sinhô Pereira, cangaceiro que igualmente recebeu proteção e apoio deste fazendeiro em 1919.

[4] Entrevista gravada com Antônio Antas, dezembro 2008.

[5] Sobre o combate de Lampião na Lagoa Vieira ver – tokdehistoria.wordpress.com/2011/02/10/quando-lampiao-quase-foi-aniquilado

[6] Segundo Frederico Pernambucano de Mello, Sabino também era conhecido como Sabino Gomes de Melo, Sabino Barbosa de Melo, ou ainda com os denominativos Gore, Gório ou Goa. Ver “Guerreiros do Sol-Violência e banditismo no Nordeste do Brasil” (2004), pág. 243.

[7] Rodrigues de Carvalho (pág. 164) afirma que Sabino nasceu na Paraíba, no lugar denominado Pedra do Fumo, então município de Misericórdia, atual Itaporanga. Pela lei estadual nº 3152, de 30 e março de 1964, o antigo distrito de Pedra de Fumo foi desmembrado do município de Itaporanga e elevado à categoria de município com a denominação de Pedra Branca, localizado a cerca de 20 quilômetros de Itaporanga. Pelo que escutamos durante nossas visitas a região, acreditamos que a versão do autor de “Guerreiros do Sol” é mais correta.

[8] Sobre o ataque a Sousa ver o livro “Vingança, Não”, de Francisco Pereira Nóbrega.

[9] Sobre este combate ver “Pernambuco no tempo do Cangaço – Theophanes Ferraz Torres, um bravo militar (2 volumes)”, de Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho, págs. 379 e 380.

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Extraído do Blog "Toque de História"
 do autor deste trabalho, Rostand Medeiros


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