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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

RAIMUNDO JACÓ



Raimundo Jacó Mendes Nasceu em 16 de Julho de 1912 no município de Exu, era primo legítimo de Luiz Gonzaga. Apesar da pouca idade, sua inteligência e coragem lhe renderam a experiência que foi reconhecida pelo proprietário do Sítio Lajes, em Serrita, que lhe deu o emprego de vaqueiro, em sua grande fazenda.

Jacó se destacou através de feitos que despertaram a admiração de muitos e a inveja de outros. Entre os invejosos está Miguel Lopes, com quem passou a ter uma rixa.

Narra a lenda que, o dono da fazenda ordenou que Jacó e Miguel Lopes fossem pegar na caatinga uma rês, arisca e estimada, que se afastou do rebanho, a data era 8 de julho de 1954.

Ao fim do dia Miguel Lopes volta à sede da fazenda, sozinho, sem comentar sobre Jacó e a rês. Os outros vaqueiros preocupados, no dia seguinte saíram à procura de Raimundo Jacó e em meio a caatinga encontraram-no morto, ao lado da rês ainda amarrada e o seu fiel cachorro latindo, sem sair de perto. Uma pedra manchada de sangue denunciava a covardia do assassinato.

Miguel Lopes foi incriminado, abriu-se um processo, mas foi arquivado por falta de prova e o crime ficou sem solução, caindo no esquecimento. Tomando conhecimento disso, Luiz Gonzaga protestou com música A Morte do Vaqueiro[1]

O assassinato de Raimundo Jacó deu origem a um evento religioso chamado Missa do Vaqueiro.[2]


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THEÓPHANES FERRAZ


Poucos sabem que Theophanes entrou na Força Pública de Pernambuco,em janeiro de 1912, com 17 anos. Em agosto, já era oficial, ocupava o posto de Alferes (correspondente ao atual segundo tenente). 


Em 1918, no início daquele ano, com 18 anos, tinha participando de uma diligência no Município de Serra Talhada (outrora Villa Bella), onde teve seu batismo de fogo em luta contra cangaceiros do grupo de Né Pereira. 

Em maio, daquele mesmo ano, é nomeado delegado de Serra Talhada. Prende cangaceiros afamados e possibilita certa tranquilidade no município. 

Meados de 1914, é nomeado delegado de Taquaritinga, em atenção ao plano de cercar aquele que era considerado o"Rei do Norte", ou seja, o primeiro Rei do Cangaço. No final de novembro teve a glória de prender, ferido,o Antônio Silvino. 

Foi ovacionado por onde passava e promovido ao posto de tenente, por ato de bravura, pelo Governador Dantas Barreto. Maiores detalhes, leiam no Centenário da prisão de Antônio Silvino.


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TEÓFANES FERRAZ TORRES - BRAVO OFICIAL QUE ACABOU COM O BANDITISMO COMANDADO PELO CAPITÃO ANTÔNIO SILVINO.

DO BLOG: MUNICIPALISMO POR NEWTON THAUMATURGO

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CASA DE TAIPA

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.219

(BLOG: FOTOS E FATOS DA CAATINGA).
Casa de taipa no Brasil está em todas as regiões com variações de nomes. Seu formato é coisa antiga da África, do Oriente e mesmo da Europa. Mas estamos apresentando a residência rude do nosso sertão nordestino, com suas peculiaridades. A casa de taipa é mais comum na zona rural, principalmente feita por pessoas de baixíssimo poder aquisitivo. Sua construção artesanal tem a sua eficiência diretamente ligada as habilidades do seu construtor. Pode ser erguida com o próprio barro do local, podendo também ser transportado em carro de bois. Primeiro se faz um entrançado de varas e outras madeiras. Varas verticais, varas horizontais que formam uma espécie de gaiola. Quando a parte de madeira se encontra apta, vem à parte do barro, molhado, mexido e até pisados por muitos em dança de coco de roda.
O mestre vai jogando com a mão o barro no entrançado da madeira, enquanto os convidados bebem, dançam e cantam o coco misturando o barro com os pés, ao som de instrumentos musicais  como o pandeiro e a “peneira”. Esse ritual recebe o nome de “Tapagem de Casa”. Um cantor ou uma cantora canta o coco, geralmente improvisado. Depois o teto é coberto com palha de coqueiro (mais comum nos litorais) ou telhas. As paredes, após o serviço, podem ficar perfeitas ou não, dependendo do mestre construtor. Muitas casas surgem com rachaduras onde insetos e roedores costumam se esconder, como o barbeiro transmissor da doença de Chagas. Entretanto as paredes podem receber acabamento e até reboco semelhante às casas de alvenaria.
Muitas cidades do sertão nordestino têm em suas ruas casas importantes feitas de taipas com reboco que de longe não demonstram suas origens.
Mesmo com programas governamentais para substituir essa modalidade de construção, a casa de taipa nunca foi erradicada totalmente desse Brasil, velho de guerra.
Os costumes vão desaparecendo com a evolução, mas aqui, acolá, pode surgir um convite ao amigo para uma Tapagem de Casa.
E haja coco de roda, namoro suado e cachaça “rinchona”!

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O CAFÉ SAGRADO

*Rangel Alves da Costa

De vez em quando a gente sente uma vontade danada de dividir um cafezinho com algum amigo, com alguém que a gente gosta muito. Um reencontro, uma palavra, um afago ao coração. Mas hoje está tão difícil de ter verdadeiros amigos que mereçam um cafezinho, então apelei demais nos meus desejos e sentimentos.
Como Deus é também onipresente, está por todo lugar, eis que de repente decidi surpreendê-lo. E convidei-o para tomar um cafezinho. Para minha surpresa, o bom homem aceitou. Só impôs uma condição: café batido em pilão, peneirado em quintal, preparado em bule de fogo de chão.
Ora, a grandiosa expectativa de ter Deus dividindo um cafezinho comigo me fez conseguir o que desejava ainda no entardecer do mesmo dia. Assim, quando a noite abriu a sua boca para chamar a lua, os poleiros dos quintais já ficando apinhados e o homem do sino se preparando para o anúncio da Ave Maria, bastou que eu abrisse um pouquinho a chaleira e do nada o bom homem surgiu já sorridente.
Uma xícara apareceu na sua mão com o café já dentro. Começou a saborear sem necessitar levar a borda à boca. Em seguida gesticulou convidando-me a acompanhá-lo. Segui-o levando xícara, apreensivo pelo que poderia ouvir. E então, do lado de fora da porta, perante as sombras do anoitecer já com raio de lua, ele colocou a mão no meu ombro e disse:
“Quem faz o grão do café também faz o açúcar. Mas a mistura cabe ao homem. O amargo e o doce estão na medida de cada um. Há quem não goste de açúcar, há quem adoce demais. Porém nada disso possui relevância se não souber sentir o sabor. Mesmo o sabor amargo pode possuir a doçura da lição para o amanhã. E a próxima xícara da vida certamente saboreada de forma diferente”.


Eis o bom homem falando suas verdades através de parábolas, logo imaginei. Mas tão ricas suas palavras que uma só imagem servindo para as mais diversas situações. Pela boca de Deus, por exemplo, o sal não significa apenas o elemento granulado e ácido, mas a própria luta, o trabalho, as dores, os sofrimentos, o sentido da preservação. E assim é que surge o sal da terra como a força poderosa de renascimento, eis que em seu seio a química da conservação do homem, da vida, da própria terra.
Ainda com o braço colocado em meu ombro, caminhava lentamente como se guiasse pelos arredores. Minha xícara de café já estava vazia, mas a dele sempre renovada e cada vez mais perfumada. Eu olhava e sentia que ele bebia aos poucos – sem levar a xícara à boca – e também que parecia mais animado a cada gole tomado. E continuava falando perante a natureza e o mundo ao redor:
“Há o homem que semeia o grão. Há o homem que cuida da plantação. Há o homem que faz o recolhimento da safra. Há o homem que vai dar a destinação final. E também há aquele que por último recebe os frutos de todo esse percurso ao derramar sobre a xícara o café e prazerosamente bebê-lo. Ninguém vai com a xícara ao pé de café. Ninguém recolhe o grão de dentro da chaleira. Por que assim acontece? Em verdade, em verdade vos digo: cada um tem a sua parte no mundo, cada ser deve colocar seu quinhão de terra para cimentar o alicerce da vida, pois somente assim poderá dizer que foi útil na grande realização do mundo”.
De repente percebi que a xícara de Deus havia esvaziado de vez. Certamente que logo se encheria sozinha, mas não. Contudo, minha mão que segurava a xícara sentiu um peso maior e quando a levantei percebi que a xícara estava quase transbordando. Espantado com a situação, porém sem querer fazer qualquer pergunta a Deus a esse respeito, levei a xícara à boca. Mas antes de experimentar, ouvi de sua voz já parecendo distante:
“Toma de minha palavra e saciai tua sede. Aquele que bebe de minha palavra terá sempre xícara e pão, pois bebe de mim pelo que foi concedido pelo meu Pai”.

Escritor
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O FILHO DE ESCRAVOS QUE LIDEROU "A REVOLTA DA CHIBATA" NA ENTÃO CAPITAL DO PAÍS, CIDADE DO RIO DE JANEIRO


MATÉRIAS  BRASIL
JOÃO CÂNDIDO, O ALMIRANTE NEGRO
Conheça o filho de escravos que liderou a Revolta da Chibata no Rio de Janeiro
MARCO MOREL PUBLICADO EM 21/11/2019, ÀS 11H13

Se o Brasil necessita de heróis, não é preciso ir muito longe para encontrar um deles. João Cândido Felisberto (1880-1969) foi o principal líder da Revolta da Chibata, ocorrida no Rio de Janeiro em 1910, que acabou com os castigos corporais na Marinha de Guerra.

Filho de escravos, nascido nove anos depois da lei do Ventre Livre (que não considerava cativos os filhos de escravos nascidos a partir dali) numa fazenda em Encruzilhada do Sul, interior gaúcho, entrou para a Marinha aos 14 anos, onde teve carreira exemplar.

Durante 15 anos navegou pelas águas doces e salgadas de todo o Brasil, percorreu quatro continentes, aprendeu técnicas e ofícios, foi instrutor de marujos iniciantes, encharcou-se das paisagens exuberantes, das realidades sociais e suas contradições, conheceu personagens e episódios políticos importantes – até ser expulso da corporação, por causa da rebelião de que participou com destaque, nas águas da Guanabara, defendendo a dignidade da condição humana.

João Cândido não corresponde ao estereótipo construído sobre sua imagem de um homem sem instrução. Ele foi, sim, instruído e instrutor. Frequentou a Escola de Aprendizes de Marinheiros em Porto Alegre, em 1895.

Depois, já engajado, esteve lotado na mesma Escola em Recife, durante quatro meses em 1903, como instrutor. Além disso, exerceu as funções de artilheiro, maquinista, faroleiro, sinaleiro, gajeiro e timoneiro em diferentes navios. Dominava saberes complexos. 

Lotado na Divisão de Instrução do navio-escola Benjamin Constant, participou de atividades variadas, como artilharia, torpedo, evolução, tiro ao alvo, bloqueio de portos, levantamento hidrográfico e reconhecimento de portos.

O marinheiro gaúcho serviu como instrutor na Divisão Naval de Instrução do navio-escola Primeiro de Março, quando ensinou exercícios militares para aspirantes da Escola Naval, em agosto de 1908. O que não lhe faltou foi instrução. 

Ao explicar as origens da Revolta da Chibata, o próprio João Cândido, em depoimento no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, fez uma síntese do aprendizado das viagens e experiências daquela geração de marujos brasileiros: “A revolta nasceu dos próprios marinheiros para combater os maus-tratos e a má alimentação da Marinha e acabar definitivamente com a chibata. E o caso era esse. Nós que vínhamos da Europa, em contato com outras marinhas, não podíamos admitir que na Marinha brasileira ainda o homem tirasse a camisa para ser chibatado por outro homem”. 

O movimento tomava corpo havia dois anos. Os marinheiros se rebelavam principalmente contra os castigos físicos que a Marinha aplicava em seus homens. Seu estopim foi em 21 de novembro de 1910, com a sessão de chibatadas que o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes recebeu.

Cerca de 2.300 marinheiros, entre os dias 22 e 27 de novembro daquele ano, tomaram os mais possantes navios de guerra e, apontando os canhões sobre o Rio de Janeiro (capital do Brasil da época), ameaçavam bombardear a cidade. A revolta trouxe para a cena pública setores oprimidos da população no papel de agentes históricos transformadores.

A rebelião revelou rostos, nomes, falas e gestos de homens até então anônimos, com destaque para a figura do negro João Cândido. Foi uma revolta multiétnica, com expressiva presença da população negra, e de caráter político. 

Compuseram a Revolta da Chibata os encouraçados Minas Gerais, São Paulo e o cruzador-ligeiro Bahia (recém-construídos na Inglaterra) e o antigo encouraçado Deodoro. Dessas embarcações ouviam-se gritos de “Viva a liberdade!” e “Abaixo a chibata!” A tripulação do cruzador República abandonou-o e se distribuiu entre os navios rebelados. Os marujos do cruzador-torpedeiro Timbira também se insurgiram e expulsaram os oficiais, mas a embarcação não acompanhou os movimentos dos demais navios em rebelião. 

Os marujos enviaram um manifesto e diversos telegramas ao governo com suas reivindicações. Na declaração – manuscrita em bela caligrafia – apresentavam-se como “cidadãos brasileiros e republicanos” e exigiam: “Desapareça a chibata”. Caso não fossem atendidos, estavam dispostos a bombardear a capital do país e as embarcações que os hostilizassem. Pediam, também, anistia. O governo do marechal Hermes da Fonseca, empossado havia uma semana, e o Congresso Nacional, acuados, aceitaram todas as condições.

O capitão da Marinha e então deputado federal José Carlos de Carvalho, a pedido do senador Pinheiro Machado (figura política dominante no Brasil, líder do recém-criado Partido Republicano Conservador, capa da edição 150 de AVENTURAS NA HISTÓRIA), serviu como intermediário e negociador.

O emissário do governo, ao perguntar aos tripulantes do encouraçado São Paulo quem era o responsável pela revolta, ouviu a resposta: “Todos”. Acertadas as condições de parte a parte, o capitão Pereira Leite, à frente de outros oficiais, foi enviado para assumir o comando dos navios, em 27 de novembro.

João Cândido e os demais marujos receberam o oficial batendo continência. As bandeiras vermelhas da insurreição foram retiradas dos mastros. A chibata estava oficialmente abolida da Marinha de Guerra brasileira.

A explosão revolucionária teve como saldo cinco oficiais mortos (quatro combatendo e um suicídio), muitos marinheiros feridos (alguns defendendo os oficiais, outros do lado da revolta) e, pelo menos, dois mortos.

Tiros de advertência dados pelos rebelados mataram acidentalmente duas crianças no Morro do Castelo, destruíram casas comerciais e atingiram as dependências do Mosteiro de São Bento. Os oficiais mortos foram o capitão-tenente José Cláudio da Silva Junior, o capitão de mar e guerra João Batista das Neves, e os primeiros-tenentes Mario Lahmayer, Mario Alves de Souza e Américo Sales de Carvalho. Este, acuado pelos revoltosos, se matou.

Ao desembarcar do encouraçado Minas Gerais, no Arsenal da Marinha, João Cândido foi cercado por dezenas de fuzileiros armados e imediatamente preso. Detido no Quartel Central do Exército, incomunicável, passou por interrogatórios duros e afrontosos, até então sem tortura física.

No dia 24 de dezembro, foi conduzido à Ilha das Cobras, no litoral fluminense. Sob pretexto de que todas as cadeias da cidade estavam lotadas, foi levado a uma cela solitária, encravada na rocha úmida, lúgubre e apertada. Apesar da denominação do local – solitária –, foram depois ali depositados mais 17 marujos. Na “solitária” ao lado ficaram outros 13 marinheiros. Ao todo, 31 detidos, nus, num espaço feito para duas pessoas. Eram os considerados “elementos perigosos”, no linguajar dos oficiais.

O comandante do Batalhão Naval, capitão de fragata Francisco José Marques da Rocha, levou as chaves das celas com ele ao se retirar da guarnição à noite. Na madrugada de 25, ouviram-se gritos de desespero dos encarcerados, debaixo de um “calor sufocante”. Durante o dia, o carcereiro jogou cal sobre os detentos, para “higienizar” o local.

No dia 26, oficiais abriram a porta da cela e perguntaram se João Cândido vivia. O marujo gaúcho, com o rosto colado numa fresta da porta, ainda respirava, e cadáveres se amontoavam ao seu lado, inchados, envoltos em fezes e urina. Somente no dia 27, quando a notícia da violência começou a vazar, o capitão Marques da Rocha mandou retirar os detidos, que estavam desde o dia 24 sem qualquer alimento ou água.

Na cela de João Cândido, ele e o também gaúcho João Avelino Lira, 26 anos, apelidado de Pau da Lira, saíram inanimados, porém vivos. Nos sobreviventes das duas celas jogou-se ácido fênico, como forma de desinfecção. A pele de alguns se soltava do corpo. Ficaram ainda mais uma noite jogados no chão, nus e “ao dispor das moscas”, como lembrou João Cândido, acrescentando: “Era assim que se morria. Eu vi”. 

Anistiados, os marinheiros devolveram os navios e largaram as armas em 27 de novembro de 1910. No dia seguinte, o marechal Hermes da Fonseca driblaria a anistia e assinaria o decreto 8 400, que permitia a exclusão da Armada de todos os marujos cuja presença fosse julgada inconveniente por seus superiores.

Discretamente, começava a se armar a teia que desaguaria numa repressão em massa, intensa e arbitrária.  O saldo da repressão resultaria em 1 216 expulsões da Marinha, número equivalente a quase metade dos participantes da Revolta da Chibata; centenas de prisões, inclusive dos líderes do movimento; degredo e trabalho escravo para centenas dos rebelados. E ainda um número não contabilizado de assassinatos, poucos dos quais se conhecem os nomes e como foram mortos. 

O marinheiro de primeira classe João Cândido, da 16ª Companhia da Marinha nacional, foi o principal líder da Revolta da Chibata, seja pela atividade que exerceu durante a rebelião, seja pelo reconhecimento dos companheiros de Armada que o aclamaram líder. Também oficiais, governo, parlamentares, imprensa e a população em geral assim o consideravam, ainda na época do episódio.

Em cinco dias o marujo gaúcho transformou-se de ilustre desconhecido na maior celebridade do Brasil daquele momento, atraindo sobre ele entusiasmo e admiração, mas também ódios implacáveis, vinganças e difamações que o acompanhariam por toda a vida. Atesta isso a quantidade de fotos, charges e artigos publicados em destaque nos principais jornais, os discursos na Câmara Federal e no Senado, diálogos registrados nas ruas, casas e cafés. “Depois da revolta da esquadra, João Cândido tornou-se a conversa de todas as rodas”, registrava o jornal Correio da Manhã.

O papel de João Cândido como “dono do Brasil” durante aqueles dias foi proclamado, entre outros, pelo escritor e jornalista Gilberto Amado com um artigo em O País, na edição de 27 de novembro, quando ainda os marujos não tinham devolvido os navios, chamando-o de almirante, árbitro da nação, marinheiro formidável, herói e homem que “violentou a História”, concebendo que os navios por ele comandados faziam “parnasianismos de manobras”.

Surgia assim, no calor dos acontecimentos, o apelido mais recorrente do marujo, que na Gazeta de Notícias, em 1912, era tratado de Almirante Negro pelo escritor João do Rio. Da mesma forma, o jovem Oswald de Andrade registrou o episódio como “a primeira revolução política que o Brasil teve nesse século – a do marinheiro João Cândido”, a quem o futuro modernista em seu livro de memórias, Um Homem sem Profissão, o chama de Almirante Negro. Ele era o primeiro almirante negro da Marinha brasileira.

Depois de deixar a Marinha, João Cândido viveu por quatro décadas como pescador artesanal, na mesma condição de milhões de trabalhadores pobres: lutando com dificuldade e criatividade para ganhar o sustento, sentindo na carne a “chibata” da negação dos direitos humanos básicos. 

Embora ele e seus companheiros de revolta tenham sido anistiados em 1910, o governo desrespeitou a anistia concedida. Quase um século depois, em 2008, receberam perdão póstumo, no qual o governo federal reconhecia os valores de dignidade e justiça por que os rebeldes lutaram. Ainda assim, essa nova anistia é parcial, ficando de fora as promoções e indenizações a que os descendentes teriam direito

João Cândido Felisberto faleceu em 8 de novembro de 1969, no hospital público Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Viveu seus últimos anos num casebre na Baixada Fluminense, numa rua sem saneamento básico nem luz elétrica. Seu enterro, em plena ditadura militar, ocorreu sob forte temporal e cercado de policiais à paisana. 

+ Marco Morel é historiador e professor do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Organizou o livro que foi base desta reportagem, A Revolta da Chibata, escrito pelo seu avô, Edmar Morel, que por causa da obra teve os direitos políticos cassados e sofreu perseguições.

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CARIRI CANGAÇO E O III ENCONTRO DA FAMILIA PEREIRA DAS RIBEIRAS DO PAJEÚ DAS FLORES

Por Cícero Aguiar
A Homenagem do Cariri Cangaço no III Encontro da Família Pereira

No dia 16 de novembro de 2019, ocorreu na cidade de Serra Talhada-PE, o III Encontro da Família Pereira do Pajeú. Família que tem grande importância desde o início da colonização desta parte do interior do Nordeste brasileiro. Em meados do século XVIII chega na região do Pajeú egresso da região dos Inhamuns no Ceará, José Pereira da Silva, que se casa com Jacintha Océlia de Santo Antonio (Jacinta Rodrigues) filha do português José Carlos Rodrigues do Nascimento e de Ana Joana Batista Pereira da Cunha, foi a partir da fazenda Carnaúba, de propriedade do casal, que a família Pereira do Pajeú dar início a sua grandiosa história de lutas nesse sertão nordestino. 

O capitão José Pereira da Silva (Cap. Zezinho) patriarca da maior parte dos Pereiras do Pajeú, é quem inicia essa saga do clã na região, que depois é exercida por muitos outros de seus descendentes, figuras como: Cap. Simplício Pereira da Silva, considerado por muitos o maior revolucionário do sertão; Vitorino Pereira da Silva, foi presidente da câmara em Vila Bela; Manoel Pereira da Silva, Coronel da Guarda Nacional, Comandante Superior das Ordenanças de Flores, Ingazeira e Vila Bela, Cavaleiro de Cristo e Comendador da Imperial Ordem da Rosa; Andrelino Pereira da Silva (Barão do Pajeú), primeiro prefeito de Vila Bela, hoje Serra Talhada-PE; Antonio Andrelino Pereira da Silva filho do Barão, terceiro prefeito de Vila Bela; Manoel Pereira da Silva Jacobina (Padre Pereira), segundo prefeito de Serra Talhada; Major Sebastião Pereira da Silva; Arcôncio Pereira da Silva, bacharel e primeiro deputado provincial da família; Tenente Coronel José Sebastião Pereira da Silva, primeiro prefeito de São José do Belmonte-PE; Antonio Cassiano Pereira da Silva, segundo prefeito de São José do Belmonte.


Seguimos com o Cel. José Pereira de Aguiar, terceiro prefeito de São José do Belmonte; Izidoro Conrado de Sá, também foi prefeito de Belmonte; Manoel Pereira Lins (Né da Carnaúba) sétimo prefeito de São José de Belmonte, e vereador por três legislaturas em Serra Talhada; Argemiro Pereira de Menezes, filho de Né da Carnaúba, foi vereador em Serra Talhada e deputado estadual por 8 legislaturas, seus filhos Hildo Pereira de Menezes foi prefeito de Serra Talhada por duas vezes, e Nildo Pereira de Menezes uma vez; Leônidas Pereira de Menezes, filho de Né da Carnaúba, foi vereador, presidente da câmara e vice prefeito de São José do Belmonte, sua esposa Dona Zuleide Carvalho foi vereadora por quatro legislaturas, sua filha Cicera Pereira foi vereadora por dois mandatos, seu filho Marcelo Pereira recentemente foi prefeito de Belmonte; João Pereira de Menezes (João de Ciba) foi prefeito de Belmonte; Manoel Pereira de França (Padre Mina) foi vereador em Belmonte, seu filho Genivaldo Pereira Leite (Geni Pereira) foi vereador por dois mandatos e prefeito de Serra, Gilson Pereira Leite, também filho de Padre Mina, vem exercendo o mandato de vereador de Serra já a algumas legislaturas; Custódio Conrado de Lorena e Sá, foi vereador por dois mandatos e vice prefeito de Serra Talhada; Isivaldo Conrado de Lorena e Sá, vereador por três mandatos em Serra; Carlos Evandro Pereira de Menezes, vice prefeito e prefeito por dois mandatos em Serra Talhada; Luiz Conrado de Lorena e Sá (Lorena) grande memorialista, foi prefeito de Serra Talhada por quatro mandatos. Aqui citados alguns que participaram e participam da luta política administrativa de municípios da região do sertão do Pajeú.

Richard Pereira e Cícero Aguiar, representantes do Cariri Cangaço 
no III Encontro da Família Pereira em Serra Talhada

O III Encontro da Família Pereira das Ribeiras do Pajeú das Flores aconteceu nas dependências do Rufino Fest Club de Serra Talhada durante todo o sábado, dia 16 e reuniu membros da família Pereira de todo o Brasil, numa autentica demonstração de integração de harmonia.

Um dos pontos de destaque do III Encontro foi a homenagem prestada pelo Cariri Cangaço à tradicional família Pereira. Na oportunidade o Cariri Cangaço foi representado oficialmente pelos pesquisadores Richard Pereira Torres e Cícero Aguiar, que em momento solene realizaram a entrega de Comenda Comemorativa à Família Pereira pelo transcurso do III Encontro em Serra Talhada.

 Helvécio Feitosa, Richard Pereira, Valdenor Feitosa

Para o pesquisador Richard Pereira: "Entregar a comenda Cariri Cangaço-10 anos à família Pereira do Pajéu; um reconhecimento do maior grupo de estudos da história nordestina e do cangaço; tive o privilégio junto com o primo Cícero Aguiar; de sermos os escolhidos de representar o seu presidente Manoel Severo ao qual eu quero deixar o nosso muito obrigado pelo carinho e reconhecimento em nome de toda  FAMÍLIA PEREIRA DO PAJÉU"

Cícero Aguiar e Paulo Lampião

Para o pesquisador Cícero Aguiar: "Nossos parabens a todos os membros da família Pereira que compareceram ao encontro, também agradecer a comissão organizadora: Auridete Pereira, Ceiça Sá e Myrella Gomes e ao Cariri Cangaço em nome do nosso curador Manoel Severo pela honrosa homenagem a Família Pereira do Pajeú."

Palavras de Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço, lidas pelo pesquisador Cícero Aguiar na solenidade do III Encontro da Família Pereira: "Quem estuda a historia e a memoria do querido nordeste, sabe que obrigatoriamente precisa abrir um capitulo todo especial a homens e mulheres que se destacaram a partir da força de seus laços familiares e foram decisivos na construção da força dessa imensa nação sertaneja. Já vão longe os primeiros séculos da nossa colonização, já vai longe o tempo em que um verdadeiro desbravador, vindo dos sertões do meu Ceará aportou no querido Pernambuco para ser origem de um dos mais destacados troncos familiares do sertão nordestino. A partir do pioneiro; Capitão José Pereira da Silva se consolidava a origem da Família Pereira das Ribeiras do Pajeú de Flores!" 

E continuou Severo,"desde a época do Brasil Colônia, passando pelo Brasil do Império e da República o sertão do Pajeú veio produzindo nomes de peso e destaque a partir da augusta família Pereira; de Vila Bela, Flores, Ingazeira, São José de Belmonte... Nomes impolutos como o do Capitão José Pereira da Silva, e mais tarde sua descendência; Coronel Manuel Pereira da Silva, o grande Coronel Andrelino Pereira da Silva, o “Barão do Pajeú”, Cazuzinha da Fazenda Cachoeira; Coronel Manuel Pereira da Silva Jacobina o “Padre Pereira” ; Coronel Antônio Pereira da Silva, da Fazenda Pitombeira; Manoel Pereira Lins o “Né da Carnaúba” ; Crispim Pereira de Araújo o “Ioiô Maroto” sem esquecer dois dos principais personagens desta imensa e gloriosa família: Luiz Pereira da Silva Jacobina o “Luiz Padre” e o grande Sebastião Pereira da Silva o “Sinhô Pereira”. Revendo todos esses nomes e suas historias e diante de todos os senhores permitam unir o sentimento de todos nós que fazemos o CARIRI CANGAÇO, ao sentimento de Celebração e Festa pela harmonia e união da memoria da família Pereira das Ribeiras do Pajeú de Flores! Dessa forma é como muita honra que representados pelos senhores Richard Torres Pereira e Cícero Aguiar o Cariri Cangaço outorga Comenda Comemorativa ao grande momento, desejando a todos, saúde e prosperidade e que venham o IV, o V, o VI e inúmeros outros encontros da Família Pereira; família essa pela qual temos estima e respeito; para fortalecer ainda mais o valor da verdadeira Alma Nordestina. Muito Obrigado.Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço, em nome do Conselho Alcino Alves Costa."


Ainda sobre a força da Família Pereira. Além da militância na luta política, alguns membros do clã dos Pereiras têm importante destaque em eventos que marcaram a história de todo o sertão nordestino, exemplo foi a participação no desalojamento dos fanáticos da Pedra do Reino no ano de 1838 em São José do Belmonte-PE, participaram decisivamente desse evento, o então Major Manoel Pereira da Silva, que depois veio a se tonar Comandante Superior, Cap. Simplício Pereira da Silva, Alexandre Pereira da Silva e Cipriano Pereira da Silva, esses dois últimos, Alexandre e Cipriano, morreram neste referido episódio, todos filhos do Cap. José Pereira da Silva o patriarca da família Pereira do Pajeú. Se destaca também a questão entre a família Pereira e a importante família Carvalho, assim como a Pereira, também povoadora de todo o sertão do Pajeú. Foi a renhida luta entres os clãs Pereira e Carvalho, que surgiram personagens como: Manoel Pereira da Silva Filho (Né Dadu), com o assassinato do seu tio Manoel Pereira da Silva Jacobina (Padre Pereira), tomou para si a tarefa de fazer a vingança, tendo a participação em alguns desses eventos de Manoel Pereira Valões (Neco Valões) e Pedro Pereira Valões, Né Dadu sendo morto a traição enquanto dormia no dia 16 de outubro de 1916, pelo um cabra chamado Palmeira. 

Sinho Pereira e Luiz Padre

Com a morte de Né Dadu, seu irmão mais novo Sebastião Pereira da Silva (Sinhô Pereira) junto com o primo Luiz Pereira da Silva Jacobina (Luiz Padre) que era filho de Padre Pereira, entram na questão para vingarem a morte de Padre Pereira, pai de Luiz Padre e também a morte de Né Dadu, irmão de Sinhô Pereira, foi a partir de 1916 que Sebastião Pereira da Silva (Sinhô pereira) e Luiz Pereira da Silva Jacobina (Luiz Padre) se tornam o braço armado da família na luta contra a família Carvalho. Além da luta aqui no sertão do Pajeú e depois em Goiás, Sinhô Pereira fica conhecido como o homem que comandou Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), entregando o comando de seus homens em agosto de 1922, quando deixa o sertão nordestino e vai viver em Goiás no Planalto Central do Brasil. Outra figura que marcou a história da família, foi Crispim Pereira de Araújo (Ioio Maroto), que em outubro de 1922 participa junto com José Pereira Terto Brasil (Cajueiro), José Pereira Bizarria (Zé Bizarria) e outros membros da família e mais o bando de Lampião, do celebre episódio da invasão da cidade de São José do Belmonte-PE, resultando na morte do Cel. Luiz Gonzaga Gomes Ferraz.

A história dessa família também foi feita por aqueles que de forma anônima sem a visibilidade da história, deram sua grande contribuição com luta e honradez, e que hoje, muitos de seus descendentes têm um imenso orgulho por todo esse legado deixado por seus antepassados.

Por: Cicero Aguiar Ferreira, 
Penta neto do casal José Pereira da Silva e Jacintha Océlia de Santo Antonio.
Fonte: Genealogia Pernambucana, site familiapereira.net. 
O livro “O Patriarca” de Venício Feitosa Neves.
16 de novembro de 2019, Serra Talhada-PE


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INFORMAÇÕES TIRADAS DO LIVRO DE ANTONIO AMAURY


Por Fernanda Cecília

Lampião e seu bando saquearam as pequenas cidades de Apodi e Gavião do Estado do Rio Grande do Norte, em Maio de 1927, além de saquear o comércio e as residências, Lampião colocou os produtos dos saques a disposição da população mais carente, logo depois ele iria adentrar em Mossoró. Essa não foi a primeira vez, que os saques foram doados a população. Desde esse ano isso se tornou costume no bando de Lampião.

Em 1929, na Bahia, Lampião e seu bando executaram 7 soldados de joelhos a punhaladas ou tiros sem chances de defesas, um dos soldados chegou a desafiá-lo pedindo uma arma para lutar em pé de igualdade, mas foi executado como os 7.

De acordo com o Dr. António Amaury, execuções como essa nunca havia ocorrido antes, e não se sabe dos motivos que o levaram a tal atitude de destempero.

Já no mesmo ano que ocorreu o massacre em Queimadas, antes dos acontecimentos do mesmo, o bando de Lampião efetuou um "saque elegante" na cidade de Nossa Senhora das Dores, vendo muitas moças belas os cangaceiros pensaram em fazer um baile, mas não ocorreu porque o escrivão da cidade, "Corrêa" pai de cinco moças solicitou a gentileza a Lampião para que as moças ficassem de fora, o cangaceiro interpretalo determinou que não haveria dança por ali. Os moradores locais ficam surpresos com ascendência de Lampião sobre os comandados. Depois passeou pela cidade acompanhado pelo povo que reparava nele.

Já no mesmo período, Lampião e seus homens saquearam a cidade rival Capela, no mesmo modo da cidade anterior, como um saque elegante. Nisso os cangaceiros buscam se esconder na estação de trem da cidade, se aproximava daí um trem vindo da capital, quando houve o desembarque dos passageiros, um soldado foi interpelado pelo cangaceiro, que perguntou se ele era da Bahia ou não. Por sorte o soldado era de Aracaju. Ao ser liberado por Lampião este ainda fez ser acompanhado por um de seus companheiros, com o intuito de que os outros cangaceiros não atacassem o soldado.

Informações tiradas do Livro de Antônio Amaury.


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A MORTE DE “BATISTÃO”

Por Sálvio Siqueira

(Pedro Baptista Rufino de Almeida, o “Batistão”, pai de Manoel Batista de Moraes, o futuro chefe cangaceiro Antônio Silvino)

Naquele tempo, época do ainda desbravamento do sertão nordestino em determinadas partes, as leis quase que não existiam nas poucas povoações existentes. E quando existiam, eram ‘feitas’ por aqueles que detinham um poder maior financeiramente perante a população. Se estivesse com ‘eles’, estariam protegidos. Não estando, a coisa pendia para um rumo cruel, sangrento e devastador.

Alguns que se destacavam pelo poder territorial passavam a serem procurados por algumas pessoas, moradoras destes e vizinhos de propriedades, para que resolvessem questões diversas. Essas questões eram sobre marcos em limites das propriedades, questões de ‘moças bulidas’, meias e terças de cereais, bebedouros d’água para seus animais e etc...

Cruz Cruzeiro no acesso à Fazenda Colônia

O dono da fazenda Colônia, sr. Pedro Baptista Rufino de Almeida, casado com a senhora Balbina Pereira de Moraes, foram pais de vários filhos de ambos os sexos. A fazenda Colônia está localizada no município de Carnaíba, próximo ao Distrito de Ibitiranga. Mesmo estando muito perto da divisa e cidade de Afogados da Ingazeira, o histórico acervo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, nos revela que jamais pertencera a essa cidade, tão pouco a cidade de Ingazeira. Ingazeira foi sede por vários anos e Afogados da Ingazeira foi povoado e Distrito. Com o desenvolvimento de Afogados da Ingazeira este passou a ser sede e aquele distrito. Hoje são dois municípios distintos.

Como sempre acontecia no sertão, os filhos seguiam os pais, desde tenra idade, nas obrigações diárias do dia a dia, assim como as filhas eram mais aprendizes na labuta diária como dona de casa.

Os filhos de Pedro Baptista eram Francisco, Manoel e Zeferino Baptista de Moraes. Francisco logo se casou e fez família a parte, já os outros dois continuaram a ajudar o pai nos afazeres da fazenda.

O sertão nordestino sempre foi acometido por fenômenos naturais cruéis, duros, secos e que trazem flagelos junto à comunidade. Alguns estudiosos referem que muito do banditismo rural surgira exatamente devido a essas grandes secas que de tempos em temos recaem sobre aquela região. Por ser uma microrregião com clima semiárido, os reservatórios das águas das chuvas temporárias sempre se fizeram necessário. Ou se faziam as barragens, os açudes, ou não se tinha condições de criar reses, animais e criações. Ao longo dos rios e riachos temporários aqui acolá se forma e ficam algumas poças d’água, cacimbas, que ajudavam, porém, de porte pequeno, não tinham condições de segurarem e acabarem com a sede dos animais de toda região circunvizinha nas estações de estiagem.

Pesquisador/poeta Edinaldo Leite em frente à sede da fazenda Colônia

A ordem e a lei na pequena Afogados da Ingazeira, naquele tempo, era regida a base de punho forte, obrigatória e temerosa sob o comando do coronel Luiz Antônio Chaves Campos. O coronel Chaves procurava manter toda a população da região submetida as suas determinações. Quando encontrava alguém que não queria submeter-se, ‘arrumava’ um jeito de dobrar aquele adversário, ameaçando-o, incriminando-o, mandando dar-lhe uma pisa ou mesmo mandando mata-lo. Sempre encontrava um jeito, maneira, de acabar com aquela adversidade. O pior é que não fora só o coronel Chaves nem tão pouco Afogados da Ingazeira que sofreram esse tipo de imposição à força, mas todo o interior da Região Nordeste, não deixando de ser, também, o Vale do Pajeú das Flores. Pois bem, o coronel Chaves encontrou em Pedro Baptista, que tinha a alcunha de “Batistão”, um adversário valente, destemido e que jamais passou a cumprir com suas ‘ordens’, principalmente as políticas e o pior, tinha uma propriedade que se limitava com a fazenda Colônia, de ‘Batistão”.

Ao passar do tempo, gerou-se grande inimizade entre os dois devido, exatamente, a um bebedouro situado no limite das duas propriedades. Gustavo Barroso, em seu livro “Almas de Lama e de Aço”, assim nos descreve o início da contenda, desentendimento, gerida entre os dois:

“Tendo discutido com Chaves, que possuía uma fazenda encostada à sua, por causa do assentamento de um bebedouro para o gado, encarregaram-se as intrigas de envenenar essa pequena e naturalíssima divergência entre vizinhos, numa região onde as terras são mal determinadas, havendo sempre dúvidas quanto a sua posse e limites. A política se intrometeu no caso e azedou os ânimos. O bebedouro era imprescindível para Batistão, pois no sertão ressequido as boas águas são difíceis. Se o seu gado não pudesse beber no lugar que escolhera, somente encontraria uma aguada dali a duas léguas. Insistiu, portanto, em manter o bebedouro. O Dr. Chaves mandou desmanchá-lo. Declarou-se a guerra.”

A partir daquele momento, o coronel Chaves passou a procurar uma maneira de desmoralizar seu desafeto, prende-lo ou mesmo mata-lo.

Outro vizinho da fazenda Colônia, o sr. José Ramos da Silva, também tinha desavenças com Pedro Baptista. José Ramos tinha um filho chamado Desidério Ramos que, ao ficar sabendo do desentendimento entre o coronel e Batistão, procurou o primeiro e ofereceu seus serviços os quais o manda chuva de Afogados da Ingazeira aceitou prontamente.
Sérgio Dantas, em seu livro “Antônio Silvino – O cangaceiro, O Homem, O Mito”, assim nos mostra como Desidério ofereceu seu ‘trabalho’ ao coronel Luiz Antônio Chaves Campos de Afogados da Ingazeira:

“Desidério Ramos – filho de José Ramos da Silva, também figadal inimigo de Batistão – procurou o coronel e ofereceu-lhe graciosamente seus serviços.

Em pouco, abjeto plano foi traçado por Desidério, José Ramos e o próprio Antônio Chaves. A ordem deste último não deixava margem a dúvidas: “- Se Batistão reagir, é para atirar e matar!”.”

Sálvio Siqueira em frente àsede da Fazenda Colônia

Coragem não faltava a Desidério e outros da região, porém, havia o empecilho do ‘comandante da região’ de como reagiria ao concluírem o fato de matar o inimigo. Com a desavença entre o coronel Chaves e Pedro Batista, para “os Ramos”, foi mesmo que a mosca cair no mel. Nada mais natural do que prestar esse tipo de ‘serviço’ estando protegido pelo todo-poderoso local. Seriam dois coelhos mortos com um só tiro: resolveriam o seu problema particular e, ao mesmo tempo, o do coronel que lhes davam proteção. Então, mãos a obra...

Sabedores de que Batistão vinha todas as feiras livres em Afogados da Ingazeira, sempre andava sozinho, era desassombrado, não tinha medo de nada, inclusive escapou de várias emboscadas feitas por seus inimigos, o plano seria de que, encontrando-o no meio da multidão de feirantes, dando-lhe voz de prisão, seria mais difícil uma reação por parte dele.


O dia 3 de janeiro de 1897 foi o escolhido para colocar o plano em ação, devido tratar-se de um dia de feira em Afogados da Ingazeira. Manoel Ramos, irmão de Desidérios Ramos, era, na ocasião, Delegado de Polícia e, juntamente com Desidério e alguns militares, vão à feira procurar por Pedro Baptista Rufino de Almeida e prende-lo. Devido à estatura do procurado não foi difícil localizar aonde se encontrava. Chegaram o cercaram e lhe deram voz de prisão.

Ao ouvir a ordem dada, Batistão, sem assombro algum, pergunta aos militares de que estava sendo acusado. Não obteve resposta, mesmo por que não houve tempo. Desídério, sem medo nenhum do inimigo a sua frente, parte para pegá-lo e amarra-lo. Também não chega a prender o mesmo, pois, nesse momento vão as armas e um tiroteio se forma rapidamente aonde o dono da Fazenda Colônia cai sem vida no solo empoeirado daquela cidade.

O autor Sergio Augusto de Souza Dantas, na obra referida, descreveu:

“À sombra de toldas de chita ou de brim grosso, mercadorias restaram abandonadas. Estivas, carnes, cereais e peças de couro atiradas ao chão. Em pouco, curiosos cercaram o cadáver, desde logo reconhecido. Parecia mentira, porém “Batistão” estava morto. O corpanzil caído, envolto em grotesca nódoa de sangue misturado ao barro. Da boca aberta vertia tênue filete rubro.”

Alguém corre a fazenda Colônia e leva a triste notícia aos filhos de Pedro Baptista. Seus filhos Francisco, Manoel e Zeferino correm até a cidade e não se conformam com seu genitor morto. Cumprem o doloroso compromisso de transportar o corpo do pai e velá-lo na fazenda, enterrando-o no dia 4 de janeiro daquele ano.

A dor cortante, as lágrimas teimando em cair dos olhos, a família arrasada pelo assassinato do genitor, marido e patrão. Porém, dor maior daqui a pouco viria para abrasar mais ainda o fogo do desgosto que queimava dentro do corpo dos filhos.

Na noite do dia 4 de janeiro de 1897, algumas pessoas da família Ramos, embriagados e tomando muita aguardente, invadem as terras da fazenda Colônia, adentram no cemitério e começam a profanar a cova recém-fechada onde estava o corpo de Pedro Baptista. Aquela afronta, aquela desconsideração, aquela profanação era maior do que saber quem era o assassino do pai. “À noite, membros da família Ramos romperam as cercas da Colônia e se dirigiram à necrópole familiar. Realizaram uma “festa” em cima da cova de Batistão. Um deles gritava em direção à casa da fazenda:

- “Aqui se plantou uma semente tão ruim que jamais vai nascer!”.” (SD. 2012)

Aí não tem passividade que não acabe. Não tem raiva nem valentia que não aflore, mesmo porque todo ser humano as possui dentro de si. E foi o que aconteceu com Manoel Baptista de Moraes. A ira veio à tona e ele pegou um rifle municiado e um bornal com farta munição, chegou próximo aos ‘baderneiros de túmulo’ e abriu fogo. Sozinho, porém, com uma valentia imensa, maneja a alavanca do 44 com destreza, rapidez e boa pontaria, ponto fim a vida de três pessoas daquelas que estavam festejar sobre o túmulo de seu pai. Os restantes correm de mata adentro mesmo sendo noite fechada. Em pouco tempo a lua surge no horizonte, dando para identificar dois dos três mortos. “A luta cessou em pouco. No terreno do cemitério, os três cadáveres de João Rosa, Manoel Cabeceira e um terceiro não identificado, todos ligados a Desidério Ramos.” (MOURA, 1979, P. 136/137).

Daí pra frente o jovem Manoel Baptista entra na trilha escura e sangrenta do cangaço. Mas, será um outro fato histórico que contaremos em outra oportunidade.

Fonte:

“Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 2ª edição, 2012.
“Almas de Lama e de Aço” – BARROSO, Gustavo. 1930.
“História de Frei Miguelino: O Bandoleiro, A Fonte e o Frade” – MOURA, Severino Rodrigues de. 1983.
Fotos
Sálvio Siqueira
“Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 2ª edição, 2012.


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