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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

REPENTISTAS

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.971

Repentista filosofando sobre seca no Piauí:
Repentistas Clerisvaldo Braga e Zé de Almeida. (Arquivo do autor).
Repentista filosofando sobre seca no Piauí:

“Eu tava me sustentando
De fruta de macaúba
Mas o galho ficou alto
Eu não conheço quem suba
De vara ninguém alcança
De pedra ninguém derruba”.

Repentista, após receber bom dinheiro de prostituta, na feira:

“Muito obrigado dona
Pela paga verdadeira
Mal empregado esse nome
Que lhe dão, mulher solteira
Rapariga é essas pestes
Que andam lisas na feira”.

Repentista recebendo no prato dinheiro mínimo de um pobre:

“Parece que seu Joaquim
Passou a noite no mato
Com uma faca amolada
Tirando couro do rato
Deixou o rato sem couro
Botou o couro no prato”

Repentista Zé de Almeida em Paulo Afonso:

“Já cantei com Manoel
Agora canto com Jó
Um é cobra caninana
Outro é cobra de cipó
Eu no mei me defendendo
C’um taco de mororó”.

Repentista de ganzá, cego Zequinha Quelé, do sítio Travessão, pedindo dinheiro na feira: “Perdoe, ceguinho”.

A bacia do perdoe
Deixei lá no Travessão
Sou homem não sou menino
Todo ser é assassino
Só meu padre Ciço, não.


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QUANDO

*Rangel Alves da Costa

Quando passou um pedinte e depois mais outro, mais outro e mais outro, sempre cada vez mais famintos e magros, então eu temi pelo destino dos homens.
Quando minha avó deixou de me fazer cafuné e meu avô deixou de contar histórias do outro mundo, e tudo entristeceu pela casa, então eu aprendi que a velhice florescia demais.
Quando a criancice se despediu, a meninice foi embora e a adolescência sumiu, então eu resolvi parar de crescer e voltar a ser o que ainda estava presente dentro de mim.
Quando a nuvem não veio, a chuva não veio, o pingo d’água não veio, e tudo murchou e tudo secou, então cavei mais o barro do chão até surgir um veio de esperança.
Quando eu esperei a primavera e chegou o outono, e no lugar das flores apenas a secura da solidão e a tristeza do silêncio, então molhei mais meu jardim e fiquei esperando.
Quando pedi que ela segurasse minha mão para seguir pela estrada e ela negou minha proteção, então sozinho segui até ouvir o seu grito aflito desejando a mim.
Quando cansei pela estrada e não encontrei nenhum sombreado e nenhuma guarita para descansar, então caminhei mais ainda em busca do meu destino.
Quando procurei a igreja e a encontrei de portas fechadas e procurei um altar e nada encontrei que fosse santificado, então abri as portas do templo do meu coração e orei.
Quando minha vela de oração começou a se apagar antes do tempo e a minha oração era esquecida antes do fim, então me ajoelhei e abaixei a cabeça para reencontrar a minha fé.


Quando fui jogado às feras, fui lançado aos lobos, fui arremessado às peçonhentas serpentes, então esperei sobreviver e espantar as feras, os lobos e as serpentes, de toda estrada.
Quando eu amei e por esse amor me vi na ilusão de uma felicidade inexistente, pois amante e desamado, então preferi sofrer na solidão até que o sorriso chegasse ao meu coração.
Quando abri a panela e nada encontrei de comida, revirei a despensa e nada encontrei para matar a fome, então abri a porta para catar os grãos da sobrevivência.
Quando bati à porta e ela não se abriu e chamei à janela e ela continuou bem fechada, então sentei do lado de fora e esperei as coisas acontecerem.
Quando me tomaram as vestes e lanharam minha pele, depois me jogaram ao relento e ao frio, então simplesmente esperei o sol chegar.
Quando me forçaram a ir até a beira do abismo e lá me empurraram beiral abaixo, então eu abri minhas asas para voar.
Quando levantaram a arma e apontaram o cano sangrento em minha direção, então eu, mesmo de peito aberto, levantei meu escudo de proteção.
Quando soltaram palavras de aleivosia e sobre a minha pessoa lançaram as desonras do mundo, então eu silencie por saber de onde chegariam as respostas.
Quando me dizem que tudo é assim mesmo, que tudo deve assim acontecer, então simplesmente peço que leiam o Eclesiastes: nada é assim mesmo!

Escritor
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LUIZ GONZAGA FERRAZ

Por Sousa Neto
'Sinhô' em foto de Antonio Amaury

O MASSACRE DE SÃO JOSÉ DO BELMONTE

Ouvindo amiudadas vezes as gravações feitas pelo amigo Amaury Correa de Araújo com Sinhô Pereira e Cajueiro no final dos anos sessenta sobre esse episódio tão marcante na historia daquela cidade, fui algumas vezes averiguar “in loco” e extrair por mim mesmo determinadas conclusões.

É certo que os homens ricos do inicio do século passado, na ausência de estruturas financeiras formais com suficiente segurança, tinham que guardar o seu dinheiro e objetos de valor em suas próprias residências, despertando assim o interesse de todos os ripários.

Por essa época grupos de cangaceiros e salteadores infestavam os sertões nordestino roubando, assaltando, extorquindo e muitas vezes até sequestrando. A ausência do estado e o diminuto contingente de agentes da lei favoreciam essas ações.

Luiz Gonzaga Gomes Ferraz havia se destacado na região do Pajeú como próspero comerciante. Era alheio a guerra travada entre as influentes famílias Pereira e Carvalho por questões políticas naquela e em outras províncias da região. Até comentavam o interesse de Gonzaga de ingressar na política por anseio de algumas outras famílias amigas, mas Gonzaga Ferraz era mesmo um grande empreendedor.

Em março de 1922 o principal protetor de Sebastião Pereira e Luiz Padre, “major” Zé Inácio do Barro devido à austera perseguição do Governador do Ceará Justiniano de Serpa, seguiu os mesmos passos de Luiz Padre rumo ao estado de Goiás onde se homiziaram. Ficara ainda Sebastião Pereira (Sinhô Pereira) com os mesmos planos já frustrado uma vez.

Sem o auxilio do major Zé Inácio e do coronel Antônio Pereira em declínio financeiro, mantenedores do bando, Sinhô Pereira se obriga a pedir ajuda a outros parentes mais abastados, fazendeiros amigos e comerciantes afortunados. Manter um grupo armado naqueles tempos não era tarefa das mais fáceis.

No mês de maio daquele mesmo ano um comboio conduzindo mercadorias para Luiz Gonzaga foi interceptado pelo bando de Sinhô que saqueou todos os artigos. Sinhô Pereira já era avesso a Gonzaga por esse lhe negar ajuda financeira por varias vezes, inclusive recebeu certo dia como resposta da esposa de Gonzaga Dona Martina, “que se quisesse dinheiro, que fosse trabalhar como o seu esposo”.

Havia, entretanto um destacamento do Ceará sob o comando do Tenente Peregrino Montenegro, homem versado pelas barbáries cometidas em busca de arrancar qualquer informação a cerca do major Zé Inácio e seus asseclas, ultrapassando inclusive as fronteiras de seu estado para saciar o seu desejo e alcançar os seus intentos.

Nas cercanias do vilarejo de Belmonte havia a fazenda Cristóvão, pertencente a Crispim Pereira de Araújo, conhecido como Yoio Maroto, casado no seu primeiro matrimônio com Maria Océlia Pereira, irmã de Luiz Padre. Ao ficar viúvo casa-se com a prima da primeira esposa por nome Francisca Pereira Neves e por ocasião do falecimento de Francisca, casa-se pela terceira vez com a cunhada de nome Generosa.

Ioiô Maroto era amigo e duas vezes compadre de Gonzaga aonde o respeito era recíproco. - (Acervo Heitor Feitosa Macedo)

Por ocasião da passagem do tenente Montenegro a vila de Belmonte ficou sabendo por Gonzaga Ferraz das tropelias do bando de Sinhô Pereira naquela região e da amizade e parentesco entre o chefe cangaceiro e Yoio Maroto e rumou sem demora a fazenda Cristóvão. Ao chegar, ao finalzinho da tarde o perverso oficial já mostra a que veio e começa o seu interrogatório, como de costume a base de boas chicotadas nos criados da fazenda que acudiam pelo nome de Zé Maniçoba e Zé Preto. Foi uma noite de terror para a honrada família que ouviam palavrões dos mais alarmantes por parte da soldadesca embriagada que humilharam Yoio Maroto por algumas vezes. O ex- cangaceiro Cajueiro disse a Dr. Amaury que a sua mãe só não morreu por um milagre de Deus. 

Logo de manhã cedo sem as informações almejadas a volante cearense tratou de sair da fazenda Cristóvão e talvez pela falta de caráter que lhe era peculiar, Montenegro afirmou que estava ali por informação e solicitação de Luiz Gonzaga. Para alguns uma justificativa herética e totalmente sem crédito.

O fato é que dali por diante a semente da desavença foi cultivada, Luiz Gonzaga jurando inocência e Yoio Maroto fingindo acreditar.

Sedento de vingança sempre triste e acabrunhado Yoio Maroto mandou avisar a Sinhô Pereira o ultraje sofrido juntamente com a família. Sinhô já decidido a seguir para Goiás pede então a Lampião que resolvesse essa questão de Belmonte. Sinhô Pereira tinha enorme gratidão e apreço a Yoio, que além de ser seu primo era casado com Maria, irmã de Luiz Padre.

Luiz Gonzaga Gomes Ferraz avisado de um possível ataque por parte de cangaceiros parentes de seu compadre contratou um efetivo armado para lhe garantir proteção. Semanas após resolveu deixar Belmonte retirando-se para a Bahia e depois Sergipe buscando se estabelecer quando foi convencido a voltar ao Pernambuco com todas as garantias, inclusive do governo do estado. Esse fato provocou ainda mais a ira de Yoio Maroto que começou a ponderar ser Belmonte pequeno demais para os dois, vez por outra murmurava: aqui ou um ou outro!

Luiz Gonzaga Lopes Gomes Ferra - (Acervo Valdir Nogueira)

Entra em cena Antônio Maroto, irmão de Yoio que para conseguir um empréstimo de três contos de reis, convenceu Gonzaga a não acreditar na boataria de uma possível vingança por parte de Yoio e que se empenharia no sentido de convencer o seu irmão de sua inocência. O avisa da saída de Sinhô Pereira do sertão nordestino o que deixa Gonzaga exultante, e em uma demonstração de placidez despensa a sua guarda pessoal recolhendo as armas e munições. Acreditou que tudo havia acabado. Mero engodo. Ainda alertado pelos habitantes de Belmonte para não dar crédito a Antônio Maroto, alguns amigos diziam: “Gonzaga em cangaceiro não se pode confiar, Yoio está preparando o bote"!

É certo que todos tinham razão. Yoio Maroto ia pouco a pouco arregimentando homens para o ataque. Entre outros contou com Tiburtino Inácio (Gavião), filho do major Zé Inácio do Barro que tinha uma irmã casada com um primo de Yoio. Depois Cícero Costa e mais alguns familiares.

Em recente entrevista que fiz com o Sr. Vilar Araújo, filho de Luiz Padre no estado de Tocantins, esse afirmou que José Terto (Cajueiro) já se encontrava na região central do país há mais de dois anos ao lado de seu pai, quando da chegada de Sinhô Pereira lhe ordenando a voltar ao sertão nordestino comandar essa ação. Vilar conta que o seu tio Quinzão (Cajueiro) quando tomava umas doses de aguardente, sempre narrava esse episódio.

É certo que a mãe de Cajueiro D. Antônia Pereira da Silva foi ultrajada pela força volante de Peregrino Montenegro como ele mesmo narra. O que me causou mais curiosidade foi o fato do cangaceiro tão distante ser enviado para comandar uma ação já designada a outro.


Questionei com o senhor Vilar essa motivação de Sinhô Pereira e Luiz Padre. A resposta veio sem pestanejar: “Tio Chico (Sinhô Pereira) acreditava que Lampião pudesse não atender ao seu pedido”.


Cajueiro chega e se integra ao pequeno grupo liderado por Lampião e principia os preparativos para o ataque.

Yoio Maroto escolheu o dia ideal para o ataque. Belmonte estava em festa, outubro era o mês dos festejos celebrados ao Sagrado Coração de Jesus. Dia 19 de outubro o “noitário” ou patrono da festa era justamente Luiz Gonzaga Gomes Ferraz e o ataque teria que ser no dia seguinte logo cedo, pois com certeza Gonzaga estaria em casa.

Lápide do antigo túmulo de Luiz Gonzaga Ferraz exposta na casa de Cultura de S. J. do Belmonte
Foto: Sousa Neto


Ao romper o dia 20 de outubro o casarão de Gonzaga estava completamente cercado. O povoado é acordado ao som de machadadas, pernadas e várias outras formas de conseguir arrebentarem as portas da residência. As pancadas pouco a pouco iam despertando os vizinhos e outros moradores que logo perceberam se tratar de um violento ataque a residência do homem mais prestigiado daquele vilarejo.

Segundo o cangaceiro Cajueiro na aludida entrevista, disse ser ele o primeiro a penetrar no interior da residência após escalar o muro do quintal. Ficou dando apoio enquanto os seus companheiros arrombavam um portão que dava para a rua dos fundos. Outro grupo tentava o arrombamento da porta da frente. Foi justamente nesse momento que Cajueiro assistiu a morte de Baliza, um dos que tentavam despedaçar o portão. A morte de Baliza ainda não está de tudo esclarecida, há mais razões para esse assassinato e em breves dias irei explanar. Isso é outra história.

Alguns moradores já acordados vieram em socorro de Gonzaga e assim começa o tiroteio.

Gonzaga que ao ouvir as pancadas e perceber que o bando sinistro havia penetrado na residência subiu a escadaria por um dos quartos que dava para o sótão da casa. Ainda segundo Cajueiro uma senhora apavorada pergunta quem é o chefe, ele responde: “nóis num tem chefe”, nesse momento um cangaceiro tenta contra uma jovem que parte em sua direção e lhe agarra dizendo: valha-me senhor pelo amor de Deus! Cajueiro manobra o rifle e diz: Agora você escolhe, ou solta à moça ou me mata ou morre. Então o seu companheiro a soltou e essa foi em direção a sua mãe que se encontrava na cozinha. Cajueiro então pergunta: - Cadê o “major” tá ai? Ela respondeu “tá ai dentro sim senhor”. Ato continuo Cajueiro tranca a família em um quarto e chama o cangaceiro Livino para nas palavras dele “dar uma busca na casa”.

Cajueiro dando boas risadas, confessa ao Dr. Amaury que Gonzaga havia caído do sótão e estava escondido atrás da porta. 

Estive recentemente observando o sótão da casa de Gonzaga e pude perceber que a parte que compreende a sala de estar, bem como todos os quartos do lado esquerdo do grande corredor estavam forrados. O lado direito da casa, o sótão estava em construção. O detalhe é que a parte acima dos quartos por onde tinha a escada de acesso, eram de tábuas fornidas e pregadas de cima para baixo, ambiente propicio para armazenar objetos, alimentos etc. A parte da sala de estar era toda forrada de madeira fina, toda ela pregada com pregos de baixo para cima, apenas para adornar ainda mais o bonito recinto.

Luiz Gonzaga aterrorizado tentando se ocultar naquele ambiente escuro, caminhou para o mais distante possível da escada e foi para a parte da sala de estar. Penso haver ele esquecido que aquele adorno não suportaria o seu peso. Foi ai que o assoalho cedeu, ele caiu e tentou se abrigar atrás da porta, mas a casa já estava infestada de bandidos que pensavam apenas em passar a mão nos objetos de valor. 

Ainda segundo Cajueiro Livino Ferreira foi quem fez o serviço, matou o “major” Gonzaga. Morreram nesse episódio o cangaceiro José Dedé “o Baliza”, Antônio da Cachoeira (sofreu um ataque cardíaco fulminante) e o soldado Heleno Tavares hoje homenageado com o nome da rua que combateu o bando nefasto. Saíram feridos do bando de Lampião, Yoio Maroto com um tiro no braço, o valente Zé Bizarria e Cícero Costa.



Essa é uma das primeiras imagens de Lampião.  - O Rei do Cangaço está sentado, é o segundo da esq. para a direita

Anos depois foi aberto um inquérito para apurar essa ocorrência e em 07 de outubro de 1929 todos os 42 implicados foram condenados.

Yoio Maroto refugiou-se no Barro, debaixo da proteção de Justino Alves Feitosa que dias depois lhe deu carta de recomendação endereçada ao Coronel Leandro da Barra, homem influente na região dos Inhamuns que o acolheu. Yoio passou a viver usando o nome fictício de Coronel Antônio Alves. Com muito esforço e trabalho adquiriu a fazenda Malhada Vermelha aonde veio a falecer em 19 de maio de 1953.

Fontes Pesquisadas:

 ARAÚJO, Vilar (Entrevista em julho 2013)
 FERRAZ, Marilourdes – O Canto do Acauã
 MOURA, Valdir José Nogueira (HISTORIADOR E ESCRITOR)
 CORRÊA, Antônio Amaury – LAMPIÃO Segredos e Confidências do Tempo do Cangaço.
 REVISTA - A Província – O universo pelo Regional – Fevereiro de 1998

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A OCTOGENÁRIA ALZIRA MARQUES RECORDA OSBAILES ANIMADOS, ORGANIZADOS PELO REI DO CANGAÇO

Por Denize Guedes*

Noite de sábado para domingo, fim de setembro de 1936. Faltava só passar o pó no rosto, espalhar o perfume atrás da orelha e calçar as alpercatas. Cabelos negros e encaracolados na altura da cintura, dentro do seu melhor vestido, a menina de 12 anos, que, se os pais se descuidassem, trocava o estudo pela dança, estava pronta para o seu primeiro baile no alto sertão sergipano com o bando do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

Não havia escolha, só mesmo confiar na bênção da tia de criação antes de sair de casa engolindo o medo.

“Eles mandavam apanhar a gente. Vinha aquela ordem e tinha de cumprir. Se não, causava prejuízo depois”, conta Alzira Marques, que completa 86 anos em agosto. Ela lembra detalhes das incontáveis festas cangaceiras a que foi em fazendas que já não existem mais e que deram lugar à planejada Canindé de São Francisco, com o início da construção da hidrelétrica do Xingó, em 1987. Canindé Velho, como a sertaneja chama o local onde nasceu, à beira do Velho Chico, foi demolida por conta da usina, hoje fonte de renda para a cidade – atrai quase 200 mil turistas por ano com o Cânion do Xingó.

O auge de Lampião em Sergipe vai de 1934 a 1938, quando o cangaceiro foi morto ao lado de Maria Bonita e outros nove do bando, em 28 de julho, na Grota do Angico, município de Poço Redondo. “Este é o estado onde ele encontrava mais proteção, aliando-se aos poderosos locais, como o coronel Hercílio Porfírio de Britto, que dominava Canindé como se fosse um feudo”, explica Jairo Luiz Oliveira, da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço. “São os chamados coiteiros (quem dava proteção ao cangaço), políticos de Lampião. Melhor ser seu amigo que inimigo.”

Foi nas terras de Porfírio de Britto que Alzira mais arrastou as sandálias. “Na primeira vez, encontrei Dulce, que foi criada comigo em Canindé Velho e tinha virado mulher do cangaceiro Criança. Eles também eram de muito respeito e nunca buliram com gente minha. Pronto, não tive mais medo”, relembra. Temporada de baile era fim de mês, quando as volantes da Bahia e Pernambuco – as polícias mais algozes no rastro de Lampião – voltavam a seus estados para receber o soldo. “Aí os cangaceiros viam o Sertão mais livre para fazer festa”, diz.

Dia de dança, Alzira tinha de sair e voltar à noite para não levantar a suspeita dos vizinhos. Às 22 horas, punha-se a andar 2 quilômetros até o local onde um coiteiro escondia os cavalos. Outras meninas iam junto. Montavam e seguiam morro acima por uns 15 minutos. “Quando a gente chegava, ia direto dançar o xaxado, forró, o que fosse, até 4 horas da manhã.” Mesmo caminho de volta, chegava com um agrado do rei do cangaço: uma nota de 20 mil réis. “Era tanto do dinheiro, mais de 300 reais na época de hoje. Dava tudo para minha tia.”

Apesar de festeiro, não era sempre que o líder do bando dava o ar da graça. Quando ia, porém, não se fazia de rogado: no mato à luz de candeeiro, onde o arrasta-pé comia solto, brilhantina no cabelo, dançava com as moças do baile sem sair da linha. Média de 20 homens para 15 mulheres. “Ninguém era besta de mexer com a gente. Eles nos respeitavam demais. Lampião era o que mais recomendava: ‘Olha o respeito!’” Maria Bonita – que para Alzira “não era lá essa boniteza, Maria de Pancada era mais bonita” – não tinha ciúme.

O cangaceiro mais conhecido do Brasil gostava de cantar e levava jeito para compor. Quem não se embalou ao som de Olé, mulher rendeira / Olé, mulhé rendá? Ou de Acorda, Maria Bonita / Levanta, vai fazer o café? Alzira conta que era comum ele pedir ao sanfoneiro Né Pereira – outro intimado do povoado – para tocar essas canções, enquanto ele mesmo cantava. “Letra e música dele, além de ser um exímio tocador de sanfona”, confirma Oliveira.

Os bailes eram como banquetes. “Tinha comida e bebida de toda qualidade. Peixe, galinha, porco, carneiro, coalhada, bolo, cachaça limpa”, diz Alzira. Outro ponto que se notava era o aroma: os cangaceiros, que podiam passar até 20 dias sem tomar banho, gostavam de se perfumar. O coronel Audálio Tenório, de Águas Belas (PE), chegou a dar caixas de Fleurs d’Amour, da marca francesa Roger & Gallet, para Lampião. “Era perfume do bom, mas misturado com suor. Subia um cheiro afetado. A gente dançava porque era bom”, afirma a senhora, que se entrosava mais com Santa Cruz e Cruzeiro.

Mais de 70 anos depois, Alzira ainda sonha com aquelas noites e sente falta da convivência com os amigos: muitas festas aconteciam em Feliz Deserto, fazenda que Manuel Marques, seu então futuro sogro, tomava conta. Não raro, o brilho da prata e do ouro das correntes, pulseiras e anéis dos cangaceiros visitam sua memória, assim como a imagem de Lampião lendo a Bíblia num canto da festa. “Ele era muito religioso.” No seu pé de ouvido fica o xa-xa-xá das sandálias contra o chão, som que deu nome ao xaxado, segundo Câmara Cascudo, ritmo tipicamente cangaceiro que não se dança em par.

Testemunha de um período importante da história do País, conta que nunca teve vontade de entrar para o cangaço nem considerava Lampião bandido: “Não era ladrão, ele pedia e pagava, fosse por uma criação, por um almoço. Agora, se bulissem com ele, matava mesmo”. Na cidade é conhecida como a Rainha do Xaxado. No último São João, que antecipou as comemorações do centenário de nascimento de Maria Bonita (8/3/1911), foi uma das homenageadas.

Balançando-se na rede na entrada de sua casa, satisfeita com os dez filhos, 40 netos e 37 bisnetos, Alzira aponta para um dos locais onde dançou com Lampião: uns 100 metros adiante, a Rádio Xingó FM. “Continua lugar de música.” Mas e Lampião, dançava bem? “Ah, ele dançava bom.”

(Foto: Cesar de Oliveira)

*A repórter viajou a convite do Ministério do Turismo e da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa).

Publicado originalmente na coluna Brasilianas, edição nº 604 da essencial revista Carta Capital. 

link para conteúdo online: CLIQUE AQUI

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O CANGAÇO EM FLORES - PE

Sobrinha de membro da Volante fala do encontro com Lampião.

Com tantas evidências, município busca integração na Rota do Cangaço.

Na busca de provar a passagem de Lampião e seu bando no município de Flores, fomos até a casa de Maria Severa da Conceição, conhecida na localidade por Maria Grande. 94 anos. Dona Maria ganhou o apelido ainda jovem, no tempo do cangaço e nos revelou  o porque do apelido , como também do seu encontro com o cangaceiro e como seu tio,  Pedro Ferreira (Paisano), teria matado Livino Ferreira irmão de Lampião.

Confira o vídeo, reportagem de Alberto Ribeiro:



Pescado em:  Flores,PE.net

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FALECEU DONA ASSUNÇÃO FELIX ROSA EM MONTE ALEGRE

Por Orildes Holanda

(Ontem) Acabou de falecer em Monte Alegre aos 100 anos, dona Assunção Felix Rosa, com ela morre uma das maiores histórias do Cangaço em Sergipe. Vá com Deus, minha Flor, foi bom te conhecer e ouvir sua história.

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SEU SENHORZINHO


Por Guilherme Machado

Um velho cruza a soleira! 
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar,
Na laje fria onde quarava
Sua camisa e seu alforje de caçador!


Este é o Senhor Leopoldo Carneiro Rios o Popular ( Seu Senhorzinho) Um Patriarca do Clã dos Carneiros e Rios da Região Sisaleira, um dos percussores Caçador e agricultor do semiárido do Município de Valente Bahia. Senhorzinho é pai de um grande autodidata de Valente o saudoso amigo Fernando Trabuco e é avô de um dos grandes empresários do ramo moveleiro da região Flaviano Rios.

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Por Francisco Pereira Lima

Indicação Bibliográfica. Alguns bons livros sobre o Cariri Cearense. Quem desejar adquirir estes e mais 550 títulos: 

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O MONSENHOR AFONSO PEQUENO E A VELHA RIXA DE CARVALHO E PEREIRA

Por Valdir José Nogueira
Monsenhor Afonso


Filho do coronel Antônio Teixeira Pequeno e de dona Maria Antero Pequeno, ambos naturais de Icó (Ceará), o Monsenhor Afonso nasceu nessa cidade no dia 24/07/1871. Sacerdote exemplar e culto assumiu a Paróquia de Belmonte no dia 06 de janeiro de 1903, ficando encarregado também das Paróquias de Vila Bela e Floresta. Desde o distante ano de 1901, inaugurou-se no Cariri, sul do Ceará, um período de inquietação política e social, que perdurou por duas décadas. Naquele mundo de canaviais, os “coronéis” alimentados pela rapadura, fizeram valer a força das armas, porquanto os mais fortes eleitoralmente nem sempre tinham como evitar a sanha dos seus adversários (inimigos), quase sempre mais fortes pelo bacamarte.

Proveniente daquele mundo de caudilhos, mas precisamente do Crato, quando chegou à Vila Bela e Belmonte, o Monsenhor Afonso Antero Pequeno, logo pediu as lideranças políticas locais armas, munição e cangaceiros para ajudar ao primo “coronel” Antônio Luiz Alves Pequeno na luta pela deposição do “coronel” José Belém de Figueiredo, que na época ocupava o cargo de vice-presidente (vice-governador) do Estado do Ceará. O “Coronel” Antônio Pereira, líder na época da família Pereira, negou-se categoricamente a participar dessa bravata.

A família Carvalho concordou com o Monsenhor em tudo e decidiu mandar Antônio Clementino de Carvalho (Antônio Quelé) com um grande contingente armado, tendo à frente o próprio sacerdote.Iniciado o tiroteio, em dias do mês de junho de 1904, só após 55 horas de combate, o “coronel” Belém recuou e fugiu. Vitorioso, o Monsenhor Afonso  volveu à Belmonte e Vila Bela, decidido a hostilizar a família Pereira. Logo participou da eleição municipal de Vila Bela, elegendo-se prefeito. Numa visita que lhe fizera, Antônio Quelé assassinou em praça pública o delegado de polícia Manoel Pereira Maranhão. No júri de Quelé, além do advogado que contratou, o Monsenhor participou pessoalmente da tribuna de defesa. O Monsenhor renunciou ao mandato de Prefeito e retirou-se para Garanhuns. Antes, porém, segundo alguns, o sacerdote conseguiu reacender a fogueira de ódio entre as famílias Pereira e Carvalho.

As gestões políticas do Monsenhor Afonso Pequeno em Vila Bela e Belmonte foram com toda evidência, as grandes responsáveis pelo estado beligerante deflagrado na ribeira do Pajeú, “a ribeira medonha”. Alguns historiadores afirmam que tudo degenerou em banditismo, com a formação de grupos de cangaceiros para defender a própria família e por fim, o de Lampião, que perturbou a vida dos sertanejos em 07 estados da federação. Outros afiançam que foi o Monsenhor Afonso o responsável pela fase do obscurantismo no Pajeú no período de 1904 a 1930. O Monsenhor Afonso Antero Pequeno permaneceu na Paróquia de Belmonte até 12/03/1907, tendo falecido na cidade de Garanhuns no dia 26/03/1918. Para homenageá-lo, uma das antigas ruas de Belmonte possui o seu nome.

Valdir José Nogueira, pesquisador e escritor

e vem ai...

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