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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

DOIS RANCOROSOS PATENTEADOS SE ENCONTRAM PARA AMENIZAREM RIXAS PASSADAS.

 Por José Mendes Pereira 

Coronel Joaquim Resende e Melchiades da Rocha

Conta o escritor Alcindo Alves Costa em seu livro: “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico” que o rio São Francisco foi um grande agasalhador do povo sertanejo. E lá, o povoamento foi se formando nos alarmados declives de sua margem.

Já no ano de 1611, um minúsculo povoado nascera lá, onde os sofridos sertanejos construíram as suas barracas, na intenção de sobreviveram através da pesca, uma vez que as dificuldades alimentares eram presentes. Como o rio era favorável à pesca, mesmo faltando-lhes outros alimentos necessários à sobrevivência, todos preferiam viver ali mesmo, no intuito de não morrerem de fome em outras regiões. E nessa época, o lugarejo pertencia ao município de Mata Grande, conhecido em todas as regiões adjacentes por Jaciobá. Os tempos foram se passando, e a cada ano eram construídas mais casinholas, fazendo com que o lugarejo fosse se expandindo gradativamente. E no ano de 1881, no dia 18 de junho, através da lei nº. 756, finalmente o lugarejo foi emancipado, tomando posse como primeiro intendente, ou seja, prefeito, um senhor chamado Serafim Soares Pinto. E assim que passou a ser cidade, começou a se desenvolver mais ainda, tornando-se um importante município nas terras alagoanas. Mas posteriormente, este valoroso município passou a ser chamado definitivamente de Pão de Açúcar. 

E já no século XX, o município passou a ser comandado pelo coronel Joaquim Resende, um senhor de grande força política que chegou a ser odiado por alguns e admirado por outros. Era um homem rancoroso ao extremo, uma vez que não temia a ninguém. Mas apesar de ter seus adversários, mesmo assim, era um homem muito respeitado por todos que moravam lá, e pelos povoados adjacentes. O coronel Joaquim Rezende tinha as suas intrigas, tendo como inimiga, a família Maia, uma das mais tradicionais que também não se rendia ao patenteado.
           
No ano de 1935, dois rancorosos e poderosos pela primeira vez se encontraram, ambos patenteados. Por um lado, o poderoso e zeloso da sua patente militar, o coronel Joaquim Resende. E pelo outro, o afamado e considerado o governador dos sertões, o amante das armas, o perverso e sanguinário capitão Lampião. No encontro marcado para os afamados a única finalidade era discutirem os desejos de ambos, como donos da lei.

Como Lampião queria na força e na raça ser governador do sertão e o coronel Joaquim Resende achando que o rei não podia lhe dar ordem, o assecla se sentindo desprestigiado, organizou uma maneira de atormentar a administração de Joaquim Resende. E sempre que colocava os pés naquela região sertaneja fazia invasões com depredações e ainda praticava mortes. 

Sendo disposto e exigente com a sua soberania o coronel Joaquim Resende dizia abertamente, que os arrufos de qualquer ser humano não lhe metiam medo. E nem tão pouco de cangaceiro, assim como Lampião.
                                                            
Como o rei ficou chateado com o que dissera o oficial contra a sua pessoa o capitão Lampião resolveu fazer uma perseguição a alguns dos seus amigos. E assim que principiou o ataque aos amigos do coronel, este não querendo deixá-los sozinhos, isto é, entregue às vontades do perigoso Lampião, passou a apoiar as decisões que os seus aliados tomavam contra o assecla.
                                               
Com a decisão tomada por Joaquim Resende tanto os amigos do patenteado como os do outro o  rei Lampião, ficaram bastante preocupados, afirmando que, se o oficial não medisse as palavras que soltava ferindo o rei do cangaço, a vingança não tardaria acontecer. E a partir dessa desavença entre os poderosos, os protetores das duas autoridades deram início a uma forma de a quieta, a quieta, na finalidade de acabarem com a briga entre as suçuaranas humanas. O medo que eles tinham era se Joaquim Resende continuasse usando certos termos desrespeitando a majestade, uma vez que este não o perdoaria, e com certeza, a sua vingança seria devastadora. 

Na verdade, quem não quisesse ser desmoralizado ou derrotado não adiantava criar problemas com Lampião, pois além de ser destemido, era altamente perigoso e vingativo. E quando não conseguia dominar os seus inimigos e perseguidores iniciava uma destruição em massa, sem reservar ninguém e nem a quem, tentando vencê-los na força, com combates e na coragem. Mas era do conhecimento de todos que o rei Lampião sempre dizia: 

“-Tenho respeito por juízes e coronéis. E só brigo com estes patenteados quando eles querem, pois se depender de mim, eu não brigo”.

Mas como em todas as brigas tem sempre uma pessoa que faz o papel de sossega leão, um senhor chamado Zuza Tavares, foi um dos incumbidos pelos amigos para resolver a questão entre os dois indomáveis leões. 

Os amigos de ambas as partes marcaram uma reunião, e decidiram que o importante para os dois se entenderem, seria organizar um encontro entre as duas feras humanas. 

- E quando seria este encontro? 

- Logo no início do ano de 1936. 

- E o local do encontro?  

- Seria na Fazenda Floresta, lá nas terras sergipanas, no Maitá, já que o rei e sua respeitada saga estavam de redes armadas e cachimbos acesos naquele lugar. 

- E quem ficaria encarregado de providenciar o transporte até à fazenda? 

- O grande honrado para adquirir o transporte foi um senhor chamado Messias de Caduda. 

- E qual seria a locomoção que o famoso rei iria até a casa do coronel Joaquim Resende? 

- Lógico que seria em uma bela e zelada canoa, já que no lugar não tinha iates, barcos ou outra coisa parecida. 

- E de quem seria esta canoa? 

- Seria a canoa  de um senhor de nome João de Barros porque apesar de ser pescador, era um homem de grande confiança. 

Este foi o confiado para levar o rei ao encontro do coronel. E sem muita demora, foi feito o contrato do aluguel da canoa para este fim.

João de Barros se sentindo importante, por ter sido escolhido para transportar a majestade, deu início a uma grande limpeza no honrado transporte, tirando o excesso de salmouras de peixes entre as tábuas. Afinal, nele iria entrar um dos homens mais importantes do nordeste. Depois o higienizou com um cheiroso detergente. E em seguida, partiu para o local combinado. Canoa pronta, sua majestade dentro dela. E sem mais tardar, João de Barros remou o belo transporte em direção a Pão de Açúcar, até a Fazenda Floresta.    

Mas, desconfiado, sagaz e cuidadoso com a sua vida e as dos seus comandados o rei Lampião achando que poderia existir alguma armadilha na fazenda Floresta, antes de chegarem ao local combinado, mandou que o João de Barros encostasse a canoa à beira do rio. Este obedeceu a sua ordem. O assecla incumbiu que o Messias descesse e fosse até à fazenda Floresta, e lá, fizesse uma rigorosa vistoria, olhando todos os cômodos da casa, revistasse tudo, tim-tim por tim-tim. Assim que terminasse a revista por dentro da mansão, fosse vistoriar as suas laterais, e não deixasse nada por revistar. E ainda o rei o advertiu que não queria nenhuma novidade inesperada, pois se isso acontecesse contra ele e os seus asseclas Messias já sabia muito bem que ganharia uma penalidade horrorosa. Ou o rei o mataria com um tiro, ou o enfiaria o seu longo punhal na sua clavícula.
                                                              
Messias ao entrar na casa deu início à revista.  E enquanto fazia a revista, olhou para um dos lados e viu um senhor que pelo seu jeito de se vestir, pareceu-lhe ser  uma autoridade. E era mesmo. Sem dúvida, o coronel Joaquim Resende, o grande e respeitado oficial. O Messias que ainda não o conhecia, depois de algumas conversas, pediu que o perdoasse por ter entrado ali sem a sua generosa autorização, e alegou que era ordem do capitão Lampião para revistar o ambiente.   

O coronel Joaquim Resende não tendo nada a opor disse-lhe que Lampião tinha razão, pois ele estava mais do que certo. É claro que o coronel não iria tirar a razão de Lampião em mandar alguém para uma averiguação, pois a majestade precisava de proteção, tanto para ele como para os seus comandados.  E sem querer usar os seus poderes, apesar de ser uma autoridade, disse ao coiteiro que naquele momento aquela mansão estava entregue a ele. Autorizando-lhe que percorresse todos os cômodos e dependências, inclusive revistasse as laterais da residência.  Terminada a revista o Messias retornou ao local onde estava a majestade e os seus valiosos asseclas.                            

Mas o capitão Lampião podia ficar tranquilo pois o coronel Joaquim Resende e os seus comandados não eram covardes para prepararem uma armadilha contra ele. O que ali iria acontecer era simplesmente um acordo entre os dois arrogantes, e jamais seria feita uma traição. O rei quando dava uma palavra, cumpria. E por que Joaquim Resende não poderia cumprir a sua? Assim que o coiteiro retornou à presença do rei, ainda meio preocupado com a segurança, e  não acreditando, Lampião exigiu que o coronel fosse até a beira do rio São Francisco onde ele se encontrava.                                             

Não temendo o chamado, mas o respeitando, o coronel Joaquim Resende dirigiu-se para o local sem se sentir inferiorizado e sem nenhum problema. Na hora do encontro, todos foram abraçados pelo assecla, principalmente o patenteado. Em seguida, tomaram rumo ao palacete do oficial. Lá, foi necessário que o Zuza Tavares se retirasse do local, pois Lampião precisava conversar com o famoso coronel Joaquim Resende  um assunto a dois.  A reunião muito se demorou e só terminou lá pela madrugada. E com certeza, foi de grande interesse entre os dois poderosos.

Quando terminou o encontro os amigos de ambas as partes se sentiram realizados, uma vez que as queixas de Lampião contra o pessoal do coronel Joaquim Resende, principalmente uma que ele tinha com um fazendeiro de nome Juca Feitosa, as rixas, e as amizades foram vistas com carinho, bons olhos e reconquistadas.

O coronel Joaquim Resende que se tornou amigo de Lampião, prefeito de Pão de Açúcar e chefe político do partido UDN foi assassinado numa manhã do mês de setembro do ano de 1954 em São José da Tapera. Na época este era um pequeno povoado do município de Pão de Açúcar. Foi morto com tiros de parabelum. 

Seus assassinos foram Elísio Maia e seu irmão Luiz Maia que se diziam perseguidos pelo mesmo. Inclusive, conforme declarações do próprio Elísio Maia, feitas na fase do inquérito policial, a vítima vinha armando várias emboscadas para matá-lo, que era Prefeito na época do ocorrido. Após ter  assassinado o coronel Joaquim Resende Elísio Maia abandonou o  mandato de Prefeito e se mandou  para o Sul do Brasil.

Fonte de pesquisa: "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico".

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ASSASSINATO DO CORONEL JOAQUIM RESENDE

 

Joaquim Resende e Melchiades da Rocha

Segundo informações no site acima, o Coronel Joaquim Resende, que antes havia se tornado amigo do cangaceiro Lampião, e fora prefeito de Pão de Açúcar e chefe político da UDN, partido do governador Arnon de Mello, foi assassinado em São José da Tapera, a época, pequeno povoado do município de Pão de Açúcar, numa manhã de setembro de 1954, a tiros de parabelum. 

Os assassinos foram o então prefeito Elisio Maia e seu irmão Luiz Maia, que se diziam perseguidos pelo mesmo. Inclusive, conforme declarações do próprio Elisio Maia, feitas na fase do inquérito policial, a vítima vinha armando várias emboscadas para matá-lo, que era Prefeito na época do ocorrido. 

Mas após a morte do Coronel Joaquim Resende, Elisio Maia abandonou o seu mandato na Prefeitura e foi embora para o Sul do país.

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OLIVENÇA ABRE O PRESENTE

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de fevereiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.656

Ordem de serviço dada pelo governador, Olivença vibra de contentamento com tamanho presentão estadual. Seu atalho Olivença – Batalha sendo finalmente asfaltado tirando a cidade de final de rota; aquela que só vai lá quem tem negócio!  Assim Olivença, antiga Capim, integra-se de uma vez por toda à Economia comandada por boa rede rodoviária onde a entrada e saída da produção flui com rapidez. O exemplo maior é para o leite, produto perecível que refrigerado percorre hoje grandes distâncias com a velocidade que os tempos modernos exigem. Assim será com tantas outras produções que precisam chagar com urgência ao destino. Todo o alto sertão via Santana do Ipanema, agora inda para Arapiraca ou Maceió não precisarão mais rodear por Olho d’Água das Flores, Monteirópolis e Jacaré dos Homens, bastará entrar por Olivença e continuar pelo antigo atalho de terra diretamente até à cidade de Batalha.

Foto em Olivença - (Foto IBGE)

Esse atalho sai bem pertinho do Parque de Exposição e da entrada de Batalha pela via principal. O marco da emancipação de Santana do Ipanema, parece receber novamente carta de alforria rodoviária que permitirá à cidade e todo o município um novo horizonte de progresso para o povo oliventino.

Olivença, antes chamada povoado Capim, foi emancipada de Santana do Ipanema através da Lei 2092, no dia 2 de fevereiro de 1959. Os nomes de famílias de lideranças formaram a denominação Olivença e assim continua após 63 anos como município. Tem acesso asfáltico ligado a AL-120, meio Santana, meio Olho d’Água das Flores.  A nova construção asfáltica prossegue com este acesso, atravessa a cidade saindo pelo lado oposto diretamente para a cidade de Batalha.

Dois festejos importantes de Olivença é a data da Emancipação e a homenagem à Nossa Senhora do Carmo realizada em 16 de julho o que de certa maneira coincide com a da padroeira de sua antiga sede, Santana do Ipanema.

A festa da ordem de serviço para construção da estrada Olivença – Batalha, não é somente “presentaço” para a aniversariante, mas um pacotão de benefícios para o Médio e o Alto Sertão alagoanos.

Lembrando Juscelino: “Governar é abrir estradas”.

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2022/02/olivenca-abre-o-presente-clerisvaldo-b.html

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TURISMO PELOS CAMINHOS DE LAMPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE

 By Revista Turismo

Para muitos, apenas uma história local, mas quando Virgulino Ferreira da Silva, o temido Lampião, avistou as primeiras terras do sertão do Rio Grande do Norte, vindo da Paraíba, teve seus planos arruinados e seu destino e do seu bando traçado. Muitos desconhecem a trilha feita pelo cangaceiro pelo território potiguar, mas Lampião deixou sua marca por muitas cidades do interior do Estado.  A cultura popular nordestina, que preserva parte da memória do Cangaço é enorme e, vale a pena fazer uma trilha por esses lugares no interior do RN e conhecer um pouco da história e suas raízes. 

Adendo:

"Conheça também a história contada pelo historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros, sobre Lampião no Rio Grande do Norte. 

https://tokdehistoria.com.br/tag/lampiao-no-rio-grande-do-norte-a-historia-da-grande-jornada/ - Clique no link acima: José Mendes Pereira".

A ideia do cangaceiro era entrar em Mossoró, na época cidade mais rica do oeste potiguar, em busca das riquezas dos coronéis, sua invasão contou com a ajuda do jagunço local, Massilon.  Mas, a invasão fracassou e o dia 13 de junho de 1927, entrou para a história e o folclore potiguar.  A derrota de Lampião foi registrada por historiadores e pelos poetas em versos de cordel, ressaltando o heroísmo dos mossoroenses que expulsaram o famoso bando de cangaceiros. 

Mas por onde mais Lampião esteve? Nos dias que antecederam a sua chegada a Mossoró, o bando cruzou a cavalo um território que se estende por 14 municípios do Rio Grande do Norte, incluindo Pau-do-Ferros, Major Sales, Luiz Gomes, Marcelino Vieira e Martins, entre outras cidades, deixando um rastro de violência, medo e várias histórias que o tempo não apagou da memória dos potiguares.

O eterno rei do cangaço, temido, odiado e amado por muitos, Lampião circulou por 96 horas por terras potiguares deixando um rastro de violência, que o tempo não foi e muito provavelmente não será capaz de apagar. Mas, deixou um legado a ser explorado, conhecido e divulgado, assim como em outros Estados, conhecer esses caminhos se tornou fonte de renda fundamental para o turismo local e desenvolvimento econômico da região. 

Nos caminhos de Lampião

No dia 10 de junho de 1927, Lampião e seu bando entraram em terras potiguares, cruzando a divisa dos Estados e se instalando no alto oeste potiguar. Sua trajetória começou no pé da Serra de Luís Gomes, onde teve abrigo na fazenda que pertencia a familiares dos cangaceiros Massilon Leite e Pinga-fogo. 

A recepção durou pouco. Quando amanheceu os cangaceiros se embrenharam pela mata. Galopavam por veredas, saqueavam fazendas e faziam prisioneiros. Onde hoje é o município de Major Sales, o rastro de terror e feitos heroicos ficaram na história da cidadezinha, que até hoje lembra na tradicional festa dos caboclos a invasão. Seguindo para outras cidades do Alto Oeste potiguar, foi em Marcelino Vieira onde teve o primeiro combate militar contra o cangaceiro no Estado. 

Cheia de histórias, Marcelino Vieira guarda na memória o fim trágico daquele dia em seus monumentos e nos contos locais, repassando de geração em geração. Nos 14 municípios onde o rei do cangaço passou deixou muitas lembranças, marcos históricos, objetos perdidos e encontrados com o tempo. 

A chegada em Mossoró

Na terra que expulsou Lampião, o turista poderá conhecer a trajetória do cangaceiro e seu bando na cidade, sendo o ponto alto desta viagem os locais da batalha travada a igreja de São Vicente, casa do ex-prefeito Rodolfo Fernandes, Estação Ferroviária atual Estação das Artes, antigo Matadouro Público e o cemitério da cidade, onde se encontra enterrado o cangaceiro Jararaca e o ex-prefeito Rodolfo Fernandes. Os turistas que tiverem a oportunidade de conhecer a cidade no mês de junho poderão ainda assistir ao espetáculo ‘chuva de bala no País de Mossoró’, que irá contribuir para uma melhor compreensão deste fato histórico: a resistência dos mossoroenses ao ataque de Lampião e seu bando. 

Onde ficar nas outras cidades por onde passou Lampião? 

É possível fazer o mesmo trajeto ficando em Martins ou até mesmo em Páu-dos-Ferros. Será necessário visitar as cidades de carro para conhecer a história do sertão potiguar que abrigou e expulsou Virgulino Ferreira da Silva, o temido Lampião, um período que marcou o início do fim do reinado do capitão do cangaço pelo sertão nordestino. O tempo que ele levou trilhando pela caatinga, deu tempo para Mossoró se preparar para o confronto e expulsar de vez o famoso cangaceiro das terras potiguares. 

Nessas cidades é possível ficar em pousadas confortáveis, provar comidas típicas e conhecer ainda a arquitetura antiga, que é preservada pelas gerações e conhecer os cantos locais preservados na memória dos sertanejos.

O Cangaço

O cangaço é definido como um fenômeno do banditismo brasileiro, ocorrido no nordeste do país em que os homens com seus chapéus de abas largas, roupas de couro, punhais e armas de fogo na cintura, vagavam pelas cidades em busca de justiça e vingança pelo desemprego, alimento e cidadania, causando uma verdadeira desordem da rotina dos camponeses. 

Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião (1897 -1938), foi o cangaceiro de maior destaque na história. Virgulino Ferreira, companheiro de Maria Bonita, liderou um bando que confrontou policiais, coronéis e bandos rivais. Perseguido, Virgulino vulgo Lampião, acabou sendo assassinado em 1938, na divisa entre os Estados de Alagoas e Sergipe. Com a sua morte, o cangaço perdeu força. No entanto, entrou para a história do nordeste tendo inclusive passeios ‘Na Rota do Cangaço’, em Alagoas, onde a história do bando de Lampião e Maria Bonita é contada por guias fantasiados de cangaceiros, que conduzem os visitantes até a Grota de Angico, ponto do massacre que deu fim ao mais famoso clã de cangaceiros do país.

Alagoas Rotas do Cangaço e Morte de Lampião

Para os turistas que visitam Piranhas, no sertão de Alagoas, têm a oportunidade de conhecer também a ‘rota do cangaço’, uma trilha em meio à vegetação seca da caatinga até a Grota do Angico, que fica no Estado vizinho, Sergipe.

Lampião e Maria Bonita, foram mortos no dia 28 de julho de 1938, na Grota do Angico. A Rota do Cangaço é uma trilha que explora os últimos passos e o confronto fatal de Lampião e seu bando de cangaceiros com a volante alagoana. Além da trilha, é possível ao turista visitar em um só dia o Museu do Sertão e o Centro Histórico da região.

https://revistaturismo40.com.br/index.php/2021/11/27/turismo-pelos-caminhos-de-lampiao-no-rio-grande-do-norte/

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A CONVERSA DO CORONEL JOAQUIM REZENDE COM LAMPIÃO

 Por Ticianeli em Eventos Joaquim Rezende (à esquerda) conversa com Melchiades da Rocha. Foto: Maurício Moura - A Noite

A Noite de 28 de julho de 1938, edição das 19 horas, anuncia a morte de Lampião

A notícia da morte de Lampião, em 28 de julho de 1938, chegou ao conhecimento dos jornais da então capital do país, Rio de Janeiro, pelas mãos de um alagoano, Melchiades da Rocha, que era repórter do jornal carioca A Noite.

Foi ele quem recebeu o telegrama do seu irmão Durval da Rocha, despachado de Santana do Ipanema, em Alagoas, comunicando que “onze bandidos, inclusive Lampião, foram mortos pela polícia alagoano na fazenda Angicos, em Sergipe”.

Naquele dia, às três horas da tarde, Melchiades havia deixado a redação quando a última edição do jornal já estava sendo impressa. Já na rua, lembrou que tinha uma carta para levar ao correio e voltou para apanhá-la.

“Nesse momento fui abordado por um solícito contínuo que me entregou um telegrama, dizendo-me: ‘é para o senhor e chegou agorinha mesmo'”, relatou o repórter.

Essa informação gerou um dos maiores furos de reportagem daquela época. Meia hora depois uma edição do jornal circulava com a seguinte título: “Morto Lampião“.

A título de curiosidade, a participação da família da Rocha no episódio não foi somente esta. Quando as cabeças dos cangaceiros chegaram à Santa Casa de Misericórdia de Maceió, foram autopsiadas pela equipe chefiada pelo Dr. Ezechias da Rocha, outro irmão de Melchiades.

Como prêmio pelo furo de reportagem, e também porque era alagoano, Melchiades recebeu a incumbência de viajar no dia seguinte para a sua terra natal e acompanhar os acontecimentos.

Na madrugada do dia seguinte, 29 de julho, o alagoano e seu colega Maurício Moura, repórter fotográfico, embarcaram no avião Tupã, do Sindicato Condor, no aeroporto do Caju, com destino a Maceió, onde chegaram às 15 horas.

Da capital alagoana, o repórter se dirigiu imediatamente para Santana do Ipanema, onde as cabeças iriam ser expostas.

No dia 30 de julho de 1938, Melchiades, já em Santana, descobriu que naquela cidade do sertão alagoano se encontrava também o prefeito recém-eleito de Pão de Açúcar, Joaquim Rezende, identificado por alguns como sendo um amigo de Lampião.

Coronel Joaquim Rezende foi prefeito de Pão de Açúcar entre 1938 e 1941. Segundo Etevaldo Amorim no livro Terra do Sol, Espelho da Lua, a sua administração foi marcada por investimentos importantes para cidade, principalmente na melhoria das condições de moradia da população mais pobres.

Morreu assassinado em 1954, quando ocupava o cargo de delegado de Polícia. Os assassinos formam os irmãos Elísio e Luiz Maia. Elísio era então prefeito do município.

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Melchiades da Rocha, em Bandoleiros das Catingas, lançado em 1942, recorda do encontro que teve com Joaquim Rezende em Santana do Ipanema.

Ele se refere ao prefeito de Pão de Açúcar como sendo “um abastado proprietário em seu município” e que ele estava em Santana também “à espera da cabeça de Lampião, pois desejava certificar-se se de fato ele havia morrido”.

A condição de amigo de Lampião ostentada por Joaquim Rezende aguçou os instintos do repórter, que começou a se perguntar o que teria levado um rico cidadão a “se tornar um afeiçoado do Rei do Cangaço”, quando era prefeito de uma cidade que poderia ser alvo das ações do bandido.

A narrativa a seguir é um valioso documento de como se davam as relações de Lampião com o poder político e econômico das regiões sertanejas vítimas do cangaço. Com a palavra Melchiades da Rocha:

Sem quaisquer etiquetas, pois nós sertanejos não somos, apenas, iguais perante a lei, apresentei-me ao Cel. Rezende e lhe disse à moda da terra:

— “Seu” Rezende, eu queria uma palavrinha do senhor!

— Pois não! — respondeu-me, amavelmente, o prefeito de Pão de Açúcar.

Momentos depois o Sr. Rezende e eu nos achávamos na sede da Prefeitura de Santana. Em poucas palavras relatei os meus propósitos ao cavalheiro que me fora apontado como sendo grande amigo de Lampião.

Após ter-me oferecido uma cadeira, o Sr. Rezende sentou-se e narrou, pormenorizadamente, como e por que se tornara amigo do Rei do Cangaço, amigo ocasional, bem entendido, pois não poderia ter sido de outro modo.

Fala o Coronel Rezende

Conheci Lampião em 1935, época em que me escreveu ele, pedindo mandasse-lhe a importância de quatro contos de réis, prometendo-me, ao mesmo tempo, tornar-se meu amigo se fosse atendido.

Frente do Salvo-conduto entregue por Lampião ao Coronel Joaquim Rezende

Frente do Salvo-conduto entregue por Lampião ao Coronel Joaquim Rezende

Em resposta à carta do terrível bandoleiro, mandei dizer-lhe pelo mesmo portador que lhe daria de muito bom grado o dinheiro, mas que só o faria pessoalmente.

Três dias depois Lampião mandou-me outro bilhete do seu próprio punho, dizendo-me que me esperava às 10 horas da noite na fazenda Floresta, município de Porto da Folha, em Sergipe, recomendando-me que fosse até ali, mas não deixasse de levar o dinheiro.

Não obstante os naturais receios que tive, à hora aprazada cheguei ao local do encontro, onde permaneci até uma hora da manhã, quando surgiu um cangaceiro que, ao ver-me, perguntou-me se eu era o moço que desejava falar ao capitão. Respondi que sim.

Dentro de poucos minutos, então, o Rei do Cangaço ali se apresentava acompanhado de quatro homens, “Juriti”, “Zabelê”, “Passarinho” e “Nevoeiro”.  Ao ver o grupo aproximar-se, identifiquei logo Virgulino e a ele me dirigi, cumprimentando-o.

O famoso bandoleiro, ao contrário do que eu esperava, recebeu-me amavelmente e foi logo perguntando sobre o que lhe havia levado. Sabendo que o Rei do Cangaço gostava de beber, eu, que levava comigo três litros de conhaque, lhos ofereci.

A fim de que desaparecesse logo qualquer suspeita do bandoleiro, prontifiquei-me a ser o primeiro a provar a bebida. Encarando-me com olhar firme, Lampião me disse em tom natural: “Concordo em que o senhor beba primeiro, mas não é por suspeita e sim porque o senhor é um moço decente e eu sou apenas um cangaceiro”.

Verso do Salvo-conduto, com os seguintes dizeres: "Au Amo Joaquim Rezendis, como prova di amizadi e garantia perante os Cangaceiro. Offereci C. Lampião."

Verso do Salvo-conduto, com os seguintes dizeres: “Au Amo Joaquim Rezendis, como prova di amizadi e garantia perante os Cangaceiro.
Offereci C. Lampião.”

Tomamos, então, o conhaque e, em seguida, abordei o Rei do Cangaço sobre o dinheiro que ele me havia pedido. Como resposta, disse-me ele: “O senhor dá o que quiser, pois eu dou mais por um amigo do que pelo dinheiro”.

— Esse fato — disse o conceituado comerciante de Pão de Açúcar — teve lugar no mês de agosto de 1935, e a minha palestra com Lampião durou três horas, tendo ele me falado de vários assuntos, entre os quais o relativo à perseguição de que era alvo, acrescentando que, de todas as forças que andavam em seu encalço, a que mais o procurava era a do então Major Lucena, dada a velha inimizade que o separava desse oficial da polícia alagoana, a quem reconhecia como homem de fato e dos mais corajosos.

Quanto às forças dos outros Estados, disse-me Lampião que se arranjava “a seu gosto…”, fazendo nessa ocasião graves acusações a vários oficiais dos que andavam em sua perseguição.

— Aí está como foi o meu primeiro encontro com o Rei do Cangaço. — Depois — acrescentou o prefeito de Pão de Açúcar — Lampião mandou pedir-me bebidas, charutos e também objetos de uso doméstico. Mais tarde, porém, fui informado de que ele estava empregando esforços no sentido de matar o Sr. José Alves Feitosa, ex-prefeito de minha terra que, como eu, o esperara muitas vezes ali, a fim de fazer-lhe frente, pois foi das mais terríveis a ação de Virgulino em nosso município.

Tratando-se de um amigo meu o homem que estava destinado a morrer às mãos de Lampião, procurei um pretexto para me avistar com este e não me foi difícil encontrá-lo. Todavia, após uma série de considerações, em que fui até exigente demais, Lampião, dizendo ao mesmo tempo que só fazia tal “sacrifício” para me satisfazer, prometeu-me sustar a realização de sua sanguinária intenção, declarando-me naquele momento que já tinha em campo dois homens para fazer o “serviço” lá mesmo na cidade de Pão de Açúcar, já que o visado andava resguardado, não saindo para parte alguma.

Tal conhecimento com Lampião, deixou-me, aliás, em situação crítica, pois inimigos meus denunciaram ao Coronel Lucena que eu era um dos coiteiros do celerado cangaceiro.

Ao ter ciência de tal acusação, dirigi-me ao referido oficial e lhe expus as razões que me levaram a ter contato com o Rei do Cangaço, após ter andado prevenido contra ele, longo tempo. Jamais faria isso se não fosse a situação em que, como muitos outros sertanejos, me encontrei durante longo tempo.

Intercedi, depois disso, em favor de várias firmas comerciais de Maceió e Penedo, cujos representantes teriam caído às garras do bando sinistro se não fora a minha intervenção junto a Lampião. Há dois meses passados, fui forçado, do que não guardei reserva ao Coronel Lucena, a intervir novamente em defesa de algumas vidas preciosas, no que fui feliz, conseguindo que Virgulino desistisse dos seus sinistros propósitos.

Outras informações

Expedita Ferreira Nunes, filha de Lampião aos 21 anos de idade, com seu filho Dejair. Foto de setembro de 1953 Revista O Cruzeiro

Após este depoimento, Joaquim Rezende continuou a conversar informalmente com o repórter e revelou que Lampião confessara a ele que tinha uma filha fruto da relação com Maria Bonita. A menina, então com 12 anos, (possívelmente ele disse 2 anos e o Joaquim Resende entendeu 12), estava sob a guarda de um vaqueiro no município de Porto da Folha, que a adotara.

Lampião também disse a ele que entrou para o cangaço aos 16 anos de idade, aderindo ao grupo do bandoleiro Antônio Porcino. Tinha a intenção de vingar a morte do pai e de um irmão que tombaram num choque com a Polícia alagoana.

Joaquim Rezende contou ainda que Lampião tinha vontade de abandonar o cangaço para se dedicar à pecuária, pois gostava da vida no campo. O cangaceiro disse ainda que havia adquirido duas fazendas no município de Porto da Folha pela quantia de nove contos de réis e comprado dois belos cavalos em Xorroxó, na Bahia, arreando-os luxuosamente.

Diante da possibilidade apresentada pelo prefeito de Pão de Açúcar de negociar a sua rendição às autoridades de Alagoas, poupando-lhe a vida, Lampião achou boa a ideia, mas argumentou que seria impossível isso acontecer por considerar que os governos da Bahia e de Pernambuco fariam tudo para eliminá-lo.

“Não tenho dúvidas de que Lampião, se tivesse podido, havia mudado de meio de vida, pois sei que nestes últimos tempos ele não atacava senão quando se via forçado a assim proceder”, concluiu Joaquim Rezende.

A filha de Lampião citada por Joaquim Rezende era Expedita Ferreira Nunes. Foi criada em Porto da Folha pelo casal Manoel Severo e Aurora, que também tomavam conta de duas fazendas — provavelmente as que Lampião citou como suas, mas que são citadas numa entrevista de Expedita como de Juca Tavares, padrinho dela.

Quando Lampião morreu, Expedita tinha cinco anos e nove meses. Isso indica que a informação de Joaquim Rezende sobre a idade da filha, 12 anos, estava errada. É possível que Lampião tenha falado 2 anos e não 12.

Expedita, depois dos 8 anos, foi viver com seu tio João Ferreira da Silva, o Joca Ferreira.

https://www.historiadealagoas.com.br/a-conversa-do-coronel-joaquim-rezende-com-lampiao.html

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