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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

LIVRO

  


O destino de cada pessoa,
Na terra ninguém risca.
E nem se pode alterar.
E nem mudar a escrita.
O plano já tá traçado,
Cada um dar seu recado,
E na história ela fica.
Na malhada da caiçara,
No município de glória.
Ninguém jamais imaginou,
Que lá teria uma história.
Que ia ter uma dimensão,
E ia mecher com o sertão,
E espalhar no mundo afora.
Em mil novecentos e onze,
A oito de março nasceu.
Uma menina morena,
No sertão apareceu.
Numa casinha singela,
Uma menina bela,
Seus pais a recebeu.
Os seus pais não imaginava,
Que destino ela teria.
Se trazia com ela tristeza,
Ou se trazia alegria.
Isso o futuro ocultava,
Sua vida tava traçada,
E o tempo revelaria.
Maria Gomes de Oliveira,
Foi o nome que deram a criança.
Maria,nome da Santa,
Que Gera a esperança.
O nome da mãe de Jesus,
Que foi morto na cruz,
Ela recebeu por herança.
Ela cresceu ficou formosa,
E logo virou uma mulher casada.
E seu nome ganha um acréscimo,
Maria de Déa, era chamada.
Assim era conhecida,
Por vizinhos e amigas,
Assim era apelidada.
Mas ,o casamento não deu certo,
Ela para casa dos pais voltou.
Era para se cumprir o roteiro,
Que o destino traçou.
Um dia um cidadão,
Apelidado de lampião,
Em sua casa chegou.

Aqui começa um romance,
O qual o destino pois um laço.
Maria ganha outro apelido,
Ao lado rei do cangaço.
Maria bonita era chamada,
A sua história traçada,
No sertão tem seu espaço.

Sou um poeta amador.
Que gosta de fazer rima.
Quem conhece bem essa história,
E o escritor João de Sousa Lima.
Junto com outros escritores,
Que são pesquisadores,
Do cangaço da caatinga.

Autor.
Cleumir Ferreira

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste

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LIVRO

    Por José Bezerra Lima Irmão

Diletos amigos estudiosos da saga do Cangaço.

Nos onze anos que passei pesquisando para escrever “Lampião – a Raposa das Caatingas” (que já está na 4ª edição), colhi muitas informações sobre a rica história do Nordeste. Concebi então a ideia de produzir uma trilogia que denominei NORDESTE – A TERRA DO ESPINHO.

Completando a trilogia, depois da “Raposa das Caatingas”, acabo de publicar duas obras: “Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste” e “Capítulos da História do Nordeste”.

Na segunda obra – Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste –, sistematizei, na ordem temporal dos fatos, as arrepiantes lutas de famílias, envolvendo Montes, Feitosas e Carcarás, da zona dos Inhamuns; Melos e Mourões, das faldas da Serra da Ibiapaba; Brilhantes e Limões, de Patu e Camucá; Dantas, Cavalcanti, Nóbregas e Batistas, da Serra do Teixeira; Pereiras e Carvalhos, do médio Pajeú; Arrudas e Paulinos, do Vale do Cariri; Souza Ferraz e Novaes, de Floresta do Navio; Pereiras, Barbosas, Lúcios e Marques, os sanhudos de Arapiraca; Peixotos e Maltas, de Mata Grande; Omenas e Calheiros, de Maceió.

Reservei um capítulo para narrar a saga de Delmiro Gouveia, o coronel empreendedor, e seu enigmático assassinato.

Narro as proezas cruentas dos Mendes, de Palmeira dos Índios, e de Elísio Maia, o último coronel de Alagoas.

A obra contempla ainda outros episódios tenebrosos ocorridos em Alagoas, incluindo a morte do Beato Franciscano, a Chacina de Tapera, o misterioso assassinato de Paulo César Farias e a Chacina da Gruta, tendo como principal vítima a deputada Ceci Cunha.

Narra as dolorosas pendengas entre pessedistas e udenistas em Itabaiana, no agreste sergipano; as façanhas dos pistoleiros Floro Novaes, Valderedo, Chapéu de Couro e Pititó; a rocambolesca crônica de Floro Calheiros, o “Ricardo Alagoano”, misto de comerciante, agiota, pecuarista e agenciador de pistoleiros.

......................

Completo a trilogia com Capítulos da História do Nordeste, em que busco resgatar fatos que a história oficial não conta ou conta pela metade. O livro conta a história do Nordeste desde o “descobrimento” do Brasil; a conquista da terra pelo colonizador português; o Quilombo dos Palmares.

Faz um relato minucioso e profundo dos episódios ocorridos durante as duas Invasões Holandesas, praticamente dia a dia, mês a mês.

Trata dos movimentos nativistas: a Revolta dos Beckman; a Guerra dos Mascates; os Motins do Maneta; a Revolta dos Alfaiates; a Conspiração dos Suassunas.

Descreve em alentados capítulos a Revolução Pernambucana de 1817; as Guerras da Independência, que culminaram com o episódio do 2 de Julho, quando o Brasil de fato se tornou independente; a Confederação do Equador; a Revolução Praieira; o Ronco da Abelha; a Revolta dos Quebra-Quilos; a Sabinada; a Balaiada; a Revolta de Princesa (do coronel Zé Pereira),

Tem capítulo sobre o Padre Cícero, Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, o episódio da Pedra Bonita (Pedra do Reino), Caldeirão do Beato José Lourenço, o Massacre de Pau de Colher.

A Intentona Comunista. A Sedição de Porto Calvo.

As Revoltas Tenentistas.

Quem tiver interesse nesses trabalhos, por favor peça ao Professor Pereira – ZAP (83)9911-8286. Eu gosto de escrever, mas não sei vender meus livros. Se pudesse dava todos de graça aos amigos...

Vejam aí as capas dos três livros:


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franpelima@bol.com.br

Ou com o autor através deste:


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LIVRO

   

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rostandmedeiros@gmail.com

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LIVRO

 Por Luma Hollanda

Gratidão a Deus e a todos que compareceram ao lançamento do meu 3⁰ livro, na Livraria do Luiz. "Lugares de Memória" do Cangaço, reuniu familiares e amigos que estavam tão distantes! Um beijo no coração de cada um.



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franpelima@bol.com.br

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LIVRO

 

LAMPIÃO EM SERRINHA DO CATIMBAU é o livro mais completo sobre a incursão de Lampião e seu bando ao Agreste de Pernambuco em julho de 1935, que resultou no "fogo de Serrinha", no qual Maria Bonita foi baleada, quase perdendo a vida naquele dia.

Adquira já o seu diretamente com o autor pelo Facebook, Instagram ou no WhatsApp 87 9 9824 4582.

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LIVRO

 Por Helton Araújo

Novidade na livraria sebo do nobre professor Francisco pereira lima. Uma obra rara essencial aos leitores do tema Lampião, cangaço e nordeste. Livro "Lampião e as cabeças cortadas" ao preço de 75.00 reais , frete incluso. Aos

Que desejam adquirir entrar em contato

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E-mail franpelima@bol.com.br

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VISITEI A ESCOLA

 Clerisvaldo B. Chagas, 18/19 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.828


Ontem (terça) visitei a Escola Estadual Prof. Aloísio Ernande Brandão, na região do Complexo Educacional.  Programado também, um encontro com o prof. Marcello Fausto, tendo em vista programações literárias em andamento. Matei a saudade dos arredores onde estão situados também o Colégio Estadual Mileno Ferreira e o Colégio Estadual Laura Chagas. E se a satisfação retorna em rever a educação, outras visões negativas no perímetro deixam entristecidos qualquer profissional do ramo ou aluno dos áureos tempos do Ensino pelas imediações. Muito abandono em obras físicas do entorno e flagrantes de descasos interno que chocam, revoltam e comovem ao mesmo tempo. Prefiro, porém não detalhar meus olhares no negativo e, correndo o risco de ser otimista para o Complexo, acreditar em inúmeras providências que deverão ser tomadas.

Somente para falar de uma coisa não boa, no tempo em que estávamos, ainda na ativa, uma chuvarada derrubou parte do muro que cerca o complexo. Anos e anos depois, a fatia derrubada do muro aumentou tanto que em percentagem não sabemos calcular. Sozinho por ali, tentei fotografar gado bovino, ovino, equino e muar que fazem do complexo verdadeiro paraíso de fazendeiros sem fazendas que teimam em criar os bichos no terreno escolar e do governo. Como ainda estava muito cedo, a bicharada ainda não havia chegado. Sem nada dizer da minha impressão, fui conversar com o professor  Marcello sobre temas literários e aí sim, muitas notícias boas que fazem flutuar a esperança.

E no terreno insalubre onde estão assentados hoje os três colégios do estado, repasso para o professor Marcello minha teoria sobre o riacho Camoxinga que na última cheia invadiu as três unidades de ensino. Há milhares de anos toda aquela área por onde passava o riacho, foi aterrada pelo próprio riacho obstruindo seu leito e fazendo o córrego abrir novo caminho para chegar até o rio Ipanema. Hoje escorre por trás do casario da rua Gilmar Pereira de Queiroz e prossegue contornando a área aterrada (onde estão os colégios), fazendo meandros mais ravina nas proximidades da foz, sob a Ponte Cônego Bulhões. Mas nunca encontrei estudioso na cidade para rebater minha tese, teoria, opinião ou mentira geográfica. Enquanto isso, no período de cheias, o riacho continua ameaçador. Fazer o quê?   



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CONHEÇAM NOSSO CANAL

 Por Helton Araújo

Foto : Benjamin Abrahão Calil Botto / Aba Film

Boa noite pessoal, vamos dar seguimento as postagens de fotos do meu acervo digital como prometido ontem.

Na foto abaixo, podemos ver em meio as caatingas em um coito seguro, Lampião bem mais a vontade, sem estar completamente equipado, ao centro Maria Bonita e logo depois, Cristina de Português.

O curioso é que em um futuro não tão distante, Maria Bonita seria peça fundamental na sentença de morte de Cristina, após a mesma ser pega traindo o cangaceiro Português com o cabra de vulgo Gitirana.

E aí, gostou dessa foto ? O que achou desse caso citado acima ?

Se ainda não é um inscrito do canal, venha conhecer nosso trabalho com muitos vídeos e postagens cheios de informações sobre o tema CANGAÇO.

ADENDO:

http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2016/01/cristina-de-portugues.html

Segue Helton Araújo:

https://youtube.com/@cangacoeterno

https://www.facebook.com/photo/?fbid=206556028521440&set=gm.700841125036712&idorvanity=414354543685373

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A MORTE DE MANÉ MORENO, ÁUREA E CRAVO ROXO NO COMBATE DO POÇO DA VOLTA

Por José Mendes Pereira

O primeiro livro que li sobre cangaço foi, "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico", do famoso escritor Alcino Alves Costa, e este, me foi indicado e emprestado pelo bancário e pesquisador do cangaço Chagas Nascimento, natural de Porto do Mangue, no Rio Grande do Norte, mas radicado por muitos anos em Mossoró. E o primeiro blog sobre este tema, foi o "Cariri Cangaço", do pesquisador Manoel Severo, e logo o "Lampião Aceso" do pesquisador Kiko Monteiro, ambos indicados ainda pelo Chagas Nascimento. Mas depois vieram outros, como o Tok de História do historiógrafo Rostand Medeiros, seguido do blog do escritor João de Sousa Lima, e o aparecimento do pesquisador Kydelmir Dantas, e outros, e assim, tomei gosto ao tema, não tendo muito domínio, mas já tenho boas informações registradas nas minhas páginas sociais e gravadas na minha mente.

O escritor Alcino Alves Costa diz no seu famoso livro que após ter assassinado o vaqueiro Antonio Canela nos Camarões, o cangaceiro Mané Moreno com o seu poderoso bando de marginais, tomam rumo a Porto da folha. Com o grupo está um jovem chamado Chiquinho de Aninha, sendo que este serviu para trazer os animais de volta que os cangaceiros levaram consigo.

O bando faz parada em Jaramataia para descansar, e naquela localidade, trabalha um senhor conhecido por Pedro Miguel, sendo este pai do futuro cangaceiro Elétrico. A presença do grupo de cangaceiros ali, deixa Pedro Miguel chateado, e resolve procurar o proprietário da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica Cia" o falado e perverso capitão Lampião, e faz sua queixa contra aqueles malfeitores, e dele, Pedro recebe apoio do capitão, prometendo-lhe que os cangaceiros não iriam mais atanazá-lo.

Mas mesmo assim, o cangaceiro aparece com os seus comandados, talvez ainda não havia sido encontrado pelo capitão, para proibir a sua visita naquela área. E lá, permaneceu com os seus homens por alguns dias, e depois foram para Porto da Volta, na intenção de passarem o São João por lá.

O comandante de volante policial, Odilon Flor, está na região à procura de cangaceiros, e conversa com Pedro Miguel, sobre paradeiros de malfeitores, e ele informa que os cangaceiros estão no Poço da Volta.

Nessa região, um riacho passa entre Poço da Volta e Palestina. É na fazenda Palestina que está havendo um baile, e lá, os bandidos estão na maior farra, bebendo e dançando. Mané Moreno rodopia no salão com a sua amada Áurea; os outros aconchegam às mulheres, que não faltam no momento. A bebida é franca por lá e deve já existir alguém bêbado.

Leitor, vamos chegar mais perto do forró. Ficaremos distantes.

Na calada da noite e escura Odilon Flor vem chegando ao forró. De longe, ele ouve os gritos dos festeiros. O fole ronca e demais instrumentos, juntos, no ritmo, provocam o som, divertindo os dançarinos, festa na base do candeeiro, que a luz avermelhada, faz com que a volante descubra o local do forró. A noite está mais para volante do que para cangaceiro. Os malfeitores brincam despreocupados, e a morte está por ali, só observa e imagina qual será a melhor maneira de ataque.

E sem muita dificuldade, a volante se aproxima, e de imediatamente, coloca-se em posição de extermínio ao grupo. Escolhido o primeiro alvo, o casal de cangaceiros Mané Moreno e sua querida, caem já sem vida. Os festeiros gritam em pânico e correm sem direção. Todos querem sair o mais rápido possível daquele inferno.

O cangaceiro Gorgulho, mesmo com a perna quebrada, consegue furar o cerco dos policiais, e se salva, e aos poucos, se arrastando, desaparece na escuridão da noite, sem nenhuma perseguição policial contra a ele.

Segundo o escritor Alcino Alves Costa, os escritos afirmam que Gorgulho foi morto neste combate, mas na verdade, quem foi assassinado ali, foi o cangaceiro Cravo Roxo. 

Mané Moreno, Cravo Roxo e Áurea.

Gorgulho foi se tratar nos altos do Cajueiro, onde recebe a ajuda de Lisboa, um dos irmãos Félix. Quando se recuperou, deixou o cangaço e foi embora para a sua terra Salgado do Melão

Segundo a fonte "Lampião Além da Versão..." a cabeça do meio não é a de Gorgulho. É a de Cravo Roxo. Foto extraída do livro "Lampião entre a Espada e a Lei" Autor Sérgio Augusto de Souza Dantas

A vitória do policial Odilon Flor e seus comandados foi muito valiosa, agora era só tomar para si os pertences dos cangaceiros Mané Moreno, Cravo Roxo e Áurea.

O facínora Mané Moreno era primo legítimo dos cangaceiros Zé Baiano e Zé Sereno. Zé Sereno era primo carnal de Zé Baiano.

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MANOEL DUARTE FERREIRA TIDO COMO ASSASSINO DO CANGACEIRO COLCHETE E TERIA BALEADO O JARARACA.

 Por José Mendes Pereira

Manoel Duarte Ferreira 

Manoel Duarte Ferreira tido como assassino do cangaceiro Colchete e teria baleado o Jararaca, pertencia a uma das mais tradicionais famílias (Duarte) de Mossoró. Nasceu no dia 15 de novembro de 1895 e faleceu no dia 31 de janeiro de 1982 em sua cidade de nascimento.
Médico Duarte Filho

Era irmão do médico, ex-prefeito de Mossoró, e ex-Senador da República Francisco Duarte Filho (Duarte Filho), como era chamado, e filho dos maiores latifundiários no leste de Mossoró, Francisco Duarte Ferreira e Maria Vicência Duarte. Manoel Duarte é acusado de ter assassinado o cangaceiro Colchete e baleado o Jararaca.

 
Francisco Duarte Ferreira e Maria Vicência Duarte

Como já é do conhecimento dos leitores, meus irmãos e eu nascemos na propriedade do Manoel Duarte, no sítio Mururé, mas que fazia parte da antiga Fazenda Barrinha, distante de Mossoró 8 km, município de Mossoró, e a como a cidade está crescendo horizontalmente, já caminha para ocupar as suas terras. Já os meus pais e seus irmãos, todos nasceram nas terras do seu pai Francisco Duarte, ou simplesmente Chico Duarte, porque, a propriedade ainda não tinha sido dividida. 

A propriedade era uma só, mas quando a Maria Inácia sua mãe faleceu, o Chico Duarte fez o inventário, e alguns dos filhos que gostavam da vida camponesa, edificaram as suas fazendas, independentes da fazenda do pai. Em 1955, Chico Duarte faleceu, e dona Chiquinha Rodrigues Duarte, 2ª. esposa do fazendeiro, fez o segundo inventário, entregando mais outra parte de terras a cada um dos seus enteados.

Historiadores Raimundo Soares de Brito e Geraldo Maia do Nascimento 

Segundo o saudoso historiador Raimundo Soares de Brito, o Raibrito, em seu livro "Ruas e patronos de Mossoró" - coleção mossoroense, afirma que na defesa de Mossoró contra o bando de Lampião, Manoel Duarte ocupou a trincheira de onde se comenta terem saído os tiros que abateu Colchete e alvejaram Jararaca.

Paulo Nobre de Medeiros

Após o falecimento do Manoel Duarte, em em 31 de janeiro de 1982, o jornal "O Mossoroense" comentando o fato informou:

"num reconhecimento ao seu valor e acatando a sugestão de Paulo Nobre de Medeiros, delegado do Oriente Independente Maçônico do Rio Grande do Norte, o prefeito João Newton da Escóssia decretou luto Oficial por três dias, permitindo que fosse coberto o esquife do conterrâneo com a bandeira do município".

DÚVIDAS QUE AINDA NÃO FORAM ESCLARECIDAS:

Sobre a morte do cangaceiro Colchete, ainda não se tem uma certeza quem foi o seu matador. Na literatura cangaceira aparece o nome do civil Manoel Duarte Ferreira, como sendo o assassino do cangaceiro Colchete e ter baleado o José Leite de Santana o Jararaca. 

O cangaceiro Jararaca ao centro da foto.

Certa vez, um jornalista e escritor nascido em Mossoró, mas atualmente reside em Natal, me falou que não se tem certeza que foi o Manoel Duarte que assassinou o Colchete e baleou o Jararaca, e que precisa de um estudo mais profundo. Tenho a dizer ao leitor que ele é quem sabe, e não eu, já que no mundo jornalístico é bastante famoso, e não posso nunca discordar dos sábios.

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BANDITISMO NO NORDESTE BRASILEIRO

 Trecho de ‘Guerreiros do sol’, de Frederico Pernambucano de Mello, relançado pela Cepe Editora 

Volante pernambucana do tenente Sinhozinho Alencar, em Belmonte, Pernambuco, 1926. Notar o à vontade das crianças em meio às armas dos soldados Foto Cortesia de Valdir Nogueira

CANGAÇO: DO ENDÊMICO TOLERADO AO EPIDÊMICO REPELIDO

Vejamos agora o cangaceiro, indiscutivelmente a personagem mais destacada e complexa de todo o elenco que estamos analisando.

Em estudo de comparação entre as culturas dos dois grandes ciclos nordestinos, afirmou Câmara Cascudo que o ciclo da cana-de-açúcar não poderia ter produzido o cangaceiro.1 À parte algum exagero retórico que a assertiva parece conter, não resta dúvida de que o homem do cangaço disputa com o próprio vaqueiro a primazia no representar do modo mais completo o conjunto dos atributos e qualidades que caracterizam o homem do ciclo do gado. As noções de independência, improvisação, autonomia e livre-arbítrio conheceram nele seu cultor máximo. Ninguém o excedeu no dar asas soltas ao aventureirismo e ao arrojo pessoal. Ninguém mais que ele soube gozar e sofrer, a um só tempo, as peculiaridades do viver nômade. Foi, a ferro e fogo, senhor de suas próprias ventas, atuando — como se diria com expressão do velho Nordeste colonial — sem lei nem rei.

Ao contrário do que teimam em afirmar certos intérpretes, não é possível surpreender uma relação de antagonismo necessária entre cangaceiro e coronel, tendo prosperado — isto sim — uma tradição de simbiose entre essas duas figuras, representada por gestos de constante auxílio recíproco, porque assim lhes apontava a conveniência. Ambos se fortaleciam com a celebração de alianças de apoio mútuo, surgidas de forma espontânea por não representarem requisito de sobrevivência nem para uma nem para outra das partes, e sim, condição de maior poder. Por força dessas alianças, não poucas vezes o bando colocava-se a serviço do fazendeiro ou chefe político, que se convertia, em contrapartida, naquela figura tão decisivamente responsável pela conservação do caráter endêmico de que o cangaço sempre desfrutou no Nordeste, que foi o coiteiro. 

Sobre o relacionamento — muito mais convergente que divergente — do cangaceiro com o proprietário rural, é interessante assinalar uma outra opinião de Graciliano Ramos, contida em seu livro Viventes das Alagoas. Com a autoridade de ter sido ele próprio, durante largos anos, um ativo vivente de uma Alagoas que era chão e tempo de cangaço, sustenta Graciliano que a aliança mostrava-se “vantajosa às duas partes: ganhavam os bandoleiros, que obtinham quartéis e asilos na caatinga, e ganhavam os proprietários, que se fortaleciam, engrossavam o prestígio com esse negócio temeroso”.2

Deve restar bem claro que o relacionamento não produzia vínculo de subordinação exclusiva para qualquer das partes. A característica principal do cangaceiro, vale dizer, o traço que o faz único em meio aos demais tipos já aqui analisados, é a ausência de patrão. Mesmo quando ligado a fazendeiros, por força de alianças celebradas, o chefe de grupo não assumia compromissos que pudessem tolher-lhe a liberdade. A convivência entre eles fazia-se de igual para igual, agindo o cangaceiro como um fazendeiro sem terras, cioso das prerrogativas que lhe eram conferidas pelo poder das armas, sem dúvida o mais indiscutível dos poderes.

Houve cangaços dentro do cangaço — convém timbrar aqui. Em nosso estudo Aspectos do banditismo rural nordestino, publicado pelo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais em 1974, tivemos oportunidade de identificar modalidades criminais bem distintas, abrigadas sob o rótulo indiferenciado de cangaço.3

Com base no que já havia sido sentido e acusado de forma não sistemática por autores como Câmara Cascudo, Irineu Pinheiro, Coriolano de Medeiros, Gustavo Barroso, Ariano Suassuna e, principalmente, Xavier de Oliveira,4 foi possível isolar, dentro do quadro geral do cangaço nordestino, formas básicas perfeitamente caracterizadas, com traços peculiares inconfundíveis, capazes de atribuir colorido próprio exclusivo e fácil distinção entre si. Os que conhecem, ainda que superficialmente, a história do nosso banditismo rural sabem que a existência criminal desenvolvida por um Lampião, por exemplo, não pode ou, ao menos, não deve ser confundida com aquela levada a efeito por um Sinhô Pereira ou um Jesuíno Brilhante. No campo subjetivo, diferiam as motivações, os interesses, as aspirações, como diferiam os gestos, as limitações e as atitudes, no plano objetivo. Diversos foram os fatores que condicionaram a adoção do viver pelas armas em cada modalidade, como diversa se mostraria sempre a medida da conduta no respeito a certos valores, no comedimento das ações e na própria violência empregada.

São em número de três essas formas básicas: o cangaço-meio de vida; o cangaço de vingança e o cangaço-refúgio, tais como as intitulamos no estudo citado.

A primeira forma caracteriza-se por um sentido nitidamente existencial na atuação dos que lhe deram vida. Foi a modalidade profissional do cangaço, que teve em Lampião e Antônio Silvino os seus representantes máximos. O segundo tipo encontra no finalismo da ação guerreira de seu representante, voltada toda ela para o objetivo da vingança, o traço definidor mais forte. Foi o cangaço nobre, das gestas fascinantes de um Sinhô Pereira, um Jesuíno Brilhante ou um Luís Padre. Na terceira forma, o cangaço figura como última instância de salvação para homens perseguidos. Representava nada mais que um refúgio, um esconderijo, espécie de asilo nômade das caatingas, como dissemos no trabalho mencionado.


Lampião. Foto: Lauro Cabral de Oliveira, cortesia de Raul Fernandes,
Natal, Rio Grande do Norte

Se deixarmos de lado já agora as distinções — a serem estudadas com rigor ao longo do capítulo seguinte — fixando-nos na acepção de abrangência mais ampla da palavra cangaço, acepção que traduz apenas as linhas essenciais do fenômeno, tais como, o seu caráter grupal, a sua ambiência rural e o seu traço marcante da não subordinação a patrões ou chefes situados fora do bando, veremos que essa forma criminal conhece tradição bem antiga, sendo mesmo uma das mais antigas dentre todas as modalidades que floresceram e, em alguns casos, ainda florescem na região, especialmente em sua área seca.

Aprendida do índio, ao longo das primeiras escaramuças com que o colonizador português procurou firmar sua presença no solo que lhe cumpria conquistar, a guerrilha — essa mimética e eficientíssima forma de guerra sem cerimônias ou protocolos, de estonteantes avanços e recuos, emboscadas e negaças — cedo se poria a serviço do próprio colonizador, tanto se prestando a causas nobres, como a da Restauração Pernambucana de 1654, por exemplo, como a alimentar a técnica criminal trazida do Velho Mundo por alguns dos primeiros povoadores, em parte — como se sabe — sentenciados remetidos aos novos domínios pela Coroa portuguesa. 

Com efeito, a necessidade de sustentar combates numa terra de topografia frequentemente irregular, coberta de vegetação de densidade variável mas de presença contínua, exuberante nas matas, nos canaviais e nos mangues das areias e do massapê litorâneos, encapoeirada e espinhosa nas faixas agrestadas ou propriamente sertanejas, terras às quais mostravam-se estranhos os grandes espaços abertos à europeia, responsáveis pela formação de toda uma doutrina militar clássica, impôs ao colonizador uma atitude de humilde atenção para com os modos de guerrear dos nativos. E ainda que tais modos parecessem, a princípio, pouco dignos a olhos reinóis, porque baseados em procedimentos traiçoeiros, à luz dos quais a emboscada e o assalto revelavam-se procedimentos recomendáveis, e o movimento de retirada, longe de merecer censuras, impunha-se sobre avanços temerários e mesmo sobre entrincheiramentos pouco práticos, vão sendo assimilados e desenvolvidos empiricamente por um imperativo de respeito à ecologia da terra por conquistar. 

Crescentemente, vai-se produzindo a assimilação de técnicas militares indígenas pela gente luso-brasileira, a ponto de, no século XVII, já ser comum a essa gente “a consciência de uma arte ou estilo militar próprio do Brasil e melhor adaptado às suas condições do que qualquer outro”.5 

Os movimentos de resistência ao holandês invasor, muito particularmente os que se desenvolvem após 1644, assistem à vitória sobre os padrões europeus da chamada guerra brasílica, ou guerra do mato, que nada mais era que uma guerra volante em que a espingarda de pedernal preferia aos mosquetes e arcabuzes de mecha facilmente inutilizados pela chuva e de difícil emprego nos assaltos; onde o desprestígio das europeíssimas praças-fortes resultava da convicção de que não há lugar mais protegido do que o mato; onde a estrepitosa cavalaria cedia lugar ao cauteloso caminhar a pé, e onde, finalmente, os valores tradicionais da ética militar, como a bravura, a lealdade e a honradez, viam-se substituídos pela mais completa velhacaria. Num ponto, em especial, as lições indígenas mostraram-se preciosas, para além dos aspectos do viver e do guerrear ecológicos que comentamos. 

Trata-se da fundamentalíssima arte de rastejar no mato os passos e vestígios de qualquer natureza da passagem do inimigo. Numa pedra mal rolada, galho deslocado, folha levemente acamada ou de colorido esmaecido, e não só na impressão de marcas plantares, os rastejadores iam buscar todo um roteiro de descoberta do inimigo, fornecendo ainda aos perseguidores informações adicionais às vezes sofisticadas, como a disposição física dos marchadores, se iam lépidos ou estropiados, leves de peso ou carregados, se levavam feridos, se estavam sóbrios ou haviam feito uso do álcool, sutilezas nada desprezíveis na urdidura de planos de ataque ativos ou de emboscada. Nas suas Memórias diárias da guerra do Brasil, Duarte de Albuquerque Coelho fala com entusiasmo do “capitão índio João de Almeida”, por demonstrar este “filho da terra” notável habilidade em “descobrir e assegurar os caminhos”. 

Também a um outro memorialista das guerras com os holandeses, frei Manuel Calado do Salvador, não passaria despercebida a importância da contribuição militar do rastejador. Ele refere um certo capitão Francisco Ramos, índio ou mameluco, assinalando tratar-se de “um dos mais espertos homens em diligência que há no Estado do Brasil, para tomar o rastro e descobrir emboscadas e andar por entre os matos e de ânimo e valor para qualquer perigosa facção, e sobretudo grande espingardeiro e mui certo no atirar”.6

Quase três séculos depois, este rastejador estará presente nas campanhas de repressão ao cangaceirismo como uma espécie de periscópio de que dependiam as volantes a cada passo. Ranulpho Prata nos dá um retrato muito vivo de seu papel e de sua condição nos primeiros anos da década de 1930. Vale a pena, num parêntese ao assunto geral que estamos comentando, reproduzir-lhe o depoimento autorizado de sertanejo contemporâneo dos fatos que narra e com os quais nos fornece um perfil irretocável dessa figura fundamental para a compreensão da arte guerreira de cangaceiros e de macacos, seus perseguidores:

Ganha quatro mil-réis diários e, à testa das volantes, que se lhe entregam de corpo e alma, numa cega confiança à proverbial lealdade sertaneja, ele as conduz meses a fio em marchas incessantes pelo deserto. O bom ou mau êxito das batidas depende dele, exclusivamente. É tudo na coluna porque é a visão, maior do que o cérebro, no sertão ínvio. Detém-se, de repente, em lugar onde a vegetação rala e o solo entorroado e pedrento nada evidenciam a olhos vulgares. Esbarra, acocora-se, examina com simples toque de dedo grosso, seixos e cascalhos, “assunta” de mão no queixo, “magina” minutos, e, volvendo a face tostada de sóis, onde chispam olhos vivazes, conta ao tenente, em fala remorada, o seu achado, apontando, com segurança inabalável, a pista do bando. Segue-a a tropa pressurosa, com o batedor à frente, “escanchado” no rastro. 

Sem perdê-la, trazendo-a sempre debaixo dos olhos atentos, a marcha se estira por dias e semanas, até que as feras humanas, acuadas longe, ofereçam combate, negaceiem e escapem em fuga precípite. Recomeça novo trabalho de pesquisa de rumo, descobrimento de novo rastro, seguindo-se a caminhada exaustiva que tem como remate escaramuça quase sempre descompensadora. 

Não é adivinho nem mágico, porém, o matuto privilegiado. Ele enxerga “realmente” vestígios, baseia-se, nas suas afirmativas, em indícios tangíveis, concretizados em pequena folha machucada, cinza de cigarro ou borralho, um fósforo, toiças de capim acamado, pegadas de levíssimo desenho. 

O mais é ilação, agudeza, experiência de gerações, trabalho de inteligência vivacíssima e o que eles chamam o “dom”. Ao debruçar-se sobre um rastro diz se é fresco, isto é, recente ou se velho, de dias, e de quantos dias. Pormenoriza estupendamente, adiantando se após o grupo passou gente que lhe é estranha, e dissociando os sexos. E não é só pegada humana que o batedor descobre e segue. Rasteja todos os animais, avantajando-se, muita vez, aos próprios cães, dando, muito antes deles, com o rastro da caça que lhes atrita no focinho para avivar-lhes o olfato. Segue os pequenos animais, o preá, de pata minúscula, o teiú, que mal acama a vegetação sob o seu peso leve, o tatu-bola, todo delicadeza, a pisar o chão com sutileza de quem traz veludo nos pés. As próprias abelhas são “rastejadas” nos ares, seguidas no seu pesado voejo, mato adentro, até os troncos onde têm as suas “casas”. Para neutralizar, porém, a ação do rastejador, os bandidos contrapõem artimanhas e ardis. Com o fito de o desnortear, passam a andar trechos e trechos de caminho a um de fundo, todos a pisarem cuidadosamente a mesma pegada, simulando um só viajor. Invertem as alpercatas, ficando os calcanhares para a frente, produzindo atrapalhação de rumo. Quando sentem a tropa perto, pega não pega, trepam nas cercas e a firmarem-se como equilibristas desengonçados, varam quilômetros e quilômetros, suspensos do solo, onde não ficarão vestígios delatores. Vezes outras, em estradas largas, um deles desloca-se do grupo, e armado de espesso e folhudo galho de árvores, segue-o à distância, apagando sinais da marcha, “baraiando” o rastro.7

Não esquecer também que essa forma especial de guerra “oferecia a única maneira de utilização militar da camada mais ínfima e economicamente marginalizada da população local, mestiços ociosos, malfeitores, foragidos da justiça d’El-Rei, inábeis para a disciplina das guarnições como antes já se tinham revelado refratários à rotina dos engenhos”.8

Eis aí a eficiente escola militar informal em que se graduariam tanto o heroico “capitão de emboscadas” da guerra contra os holandeses, responsável, muito mais do que o soldado do Reino e mesmo o veterano de Flandres, pelo terror da gente batava, quanto o “facinoroso” e “desprezível” chefe de bandidos, o cangaceiro avant la lettre. Nas mãos de um e outro, a sabedoria comum representada pela assimilação e pelo aperfeiçoamento de um ecológico modo de brigar indígena, ao qual se juntariam seletivamente alguns dos modernos artefatos e processos militares europeus para a consolidação de uma ainda tão pouco teorizada arte militar brasileira, que irá mostrar-se aplicável, mutatis mutandis, com a mesma eficiência diabólica, em trópicos de ecologia bem diversificada, no úmido da guerra contra o holandês, tanto quanto no seco das lutas de Canudos, mais de dois séculos depois, quando a gente de Antônio Conselheiro novamente ensinará ao nosso soldado que aqui não se combate à europeia.

Descrevendo os primeiros tempos da capitania de Duarte Coelho, Oliveira Lima refere várias vezes a insegurança que a caracterizava, pela irrefreada atuação de criminosos em correrias sem fim. No século XVII, ainda mais intensa revela-se a ação de “salteadores” e “bandidos”, segundo palavras do mesmo cronista.9 Ao longo do período de colonização holandesa no Nordeste, vamos surpreender o nosso banditismo caboclo enriquecido pela presença de estrangeiros, desertores das tropas de ocupação, sendo de franceses e holandeses o contingente mais expressivo que se mesclava aos aventureiros da própria terra e aos negros fugitivos. E não ficamos nisso, apenas. Houve mesmo chefes de grupo que eram holandeses. Assim o caso do célebre Abraham Platman, natural de Dordrecht, ou ainda, de um certo Hans Nicolaes, que agia na Paraíba à frente de trinta bandoleiros por volta do ano 1641. Três anos após esta data, em 1644, os manuscritos holandeses fazem referência a um outro chefe de bandidos que já se tornara notório: Pieter Piloot, igualmente holandês.10 Eram os boschloopers, salteadores ou, literalmente, “batedores de bosque”, da designação holandesa do século XVII.


Na esteira das depredações na Bahia, a melhor revista nacional à época
coloca Lampião na capa, em maio de 1931, valendo-se de fotografia
de cinco anos antes. Foto de Lauro Cabral de Oliveira.
Foto: Cortesia, arquivo Nirez, Fortaleza, Ceará

O século XVIII não fugiria à tendência até aqui vista, mostrando-se pródigos os registros históricos no que diz respeito ao assinalamento de violências cometidas por bandidos. Não esquecer que foi na segunda metade desse século que o bandoleiro pernambucano José Gomes, o célebre Cabeleira, desenvolveu sua atividade, tão rica em peripécias que viria a fazer dele o primeiro desses campeadores a ser perpetuado pela literatura erudita da região e não apenas pela popular, campo este último em que sua presença legendária vem atravessando séculos, em versos como o pernambucaníssimo:

Fecha a porta, gente
Cabeleira aí vem
Matando mulheres
Meninos também

Ou as seguintes formas variantes, igualmente populares:

Feche a porta, gente
Cabeleira aí vem
Fujam todos dele
Que alma não tem 

Fecha a porta, gente
Fecha bem com o pau
Ao depois não digam
Cabeleira é mau

Corram, minha gente
Cabeleira aí vem
Ele não vem só
Vem seu pai também11

No século XIX, presentes os mesmos fatores e condicionamentos, assiste-se ao mesmo panorama de insegurança do século anterior, mas com uma novidade: o sertão, que já se acha à época razoavelmente povoado, embora dispondo de uma economia pecuária apenas incipiente, além de envolvida em luta tenaz contra processo de decadência prematura cujos primeiros sinais datam de fins do século XVIII, começa a se converter no cenário por excelência do banditismo, até porque, no litoral, a colonização florescia em todos os sentidos, permitindo uma repressão mais eficaz como fruto da estruturação social que crescentemente se aperfeiçoava.

É evidente que com o deslocamento do foco central do banditismo para o sertão, onde aliás ele viria a receber o batismo de “cangaço” ou “cangaceirismo”,12 não desapareceria o banditismo litorâneo. O que se quer dizer é que, a partir da primeira metade do século XIX, as evidências históricas demonstram que essa forma de criminalidade passa a se desenvolver no sertão em ritmo idêntico ao da sua decadência no litoral. E mais: no sertão viria o cangaço a se requintar notavelmente, tanto sob o aspecto quantitativo quanto sob o qualitativo, pelo aporte de uma rica tradição de violência, muito própria — como vimos — do ciclo do gado, de que este sertão não foi apenas cenário, mas condicionante ecológico-cultural decisivo.

Fornecendo ao banditismo um nome próprio de sabor regional, um tipo de homem vocacionado à aventura, um meio físico de relevo adequado à ocultação, coberto por malha vegetal quase impenetrável, e uma cultura francamente receptiva à violência, o sertão não poderia deixar de se converter no palco principal do cangaço.13 Principal, mas não exclusivo, havendo algum exagero nas palavras de Graciliano Ramos quando diz do cangaço ser “fenômeno próprio da zona de indústria pastoril, no Nordeste”.14 A nosso ver, mais certo anda Gustavo Barroso, para quem “não somente nessas zonas sertanejas existem cangaceiros”. Barroso amplia ainda mais a sua concepção ao sustentar que “os bandidos não são produtos exclusivos das terras brasileiras do Nordeste”, isto porque “em todos os povos têm existido com denominações diversas”.15

Também a Câmara Cascudo essa uniformidade universal do banditismo não passou despercebida, entendendo ele que “o cangaceiro não é um elemento do sertão” e sim uma figura que “existe em todos os países e regiões mais diversas”.16 Entre os estudiosos estrangeiros que se ocuparam do banditismo rural de suas e de outras terras, poderíamos apontar, filiado a essa linha universalista, o italiano de uma Itália tão fortemente contaminada em sua época pelo banditismo, que foi Garofalo, autor do clássico Criminologia.17 A esses registros já históricos de Garofalo, de Barroso e de Cascudo, datados, respectivamente, de 1891, 1917 e 1934, veio juntar-se, nos dias correntes, o de Hobsbawn que, em seu livro Bandidos, lançado em 1969, reafirma a tese da universalidade. “Geograficamente, o banditismo social se encontra em todas as Américas, na Europa, no mundo islâmico, na Ásia meridional e oriental, e até na Austrália”, diz Hobsbawn, com base em amplo estudo comparado.18

Não somente a realidade do fenômeno se mostra assim abrangentemente universal em suas características estruturais: o mito que sobre este vai-se formando, em decorrência do adensamento da gesta que envolve o nome dos mais bem-sucedidos capitães, parece ser o resultado de processo igualmente invariável e universal, e que visto sob ângulo particularizado, com base no estudo do caso nordestino, apresenta duas facetas tão curiosas quanto frequentes: a de seu surgimento ainda em vida da personagem celebrada — não raro isto se dá muito cedo na carreira do bandido — e a da sua permanência e mesmo crescimento após a morte dessa personagem. Não havendo, após isto, novas façanhas a comentar, a permanência faz-se muitas vezes às custas de um desprezo cada vez maior pelos temas deste mundo, em benefício do sobrenatural, em cujos domínios o cangaceiro desaparecido passa a conviver sem-cerimoniosamente com os residentes do céu e do inferno.19

A despeito do que há de exato na fixação desse caráter universal — e, portanto, nem originária nem exclusivamente sertanejo ou nordestino ou brasileiro — do cangaceirismo e do processo de mitificação que parece acompanhá-lo invariavelmente, convém não esquecer o enorme papel do nosso sertão, com todas as contradições e peculiaridades da cultura pastoril, na formação da imagem que temos hoje do fenômeno cangaço. A imagem que ficou, e se conserva de modo mais generalizado em nossos dias, é cronologicamente a última. É a da década de 1920, com seu auge: 1926. Esta é a imagem de um cangaço gigante, cangaço do mosquetão, do parabelo, da bala de aço furando pé-de-pau e exigindo trincheira de pedra, do bando de 150 homens, do ataque a cidade de luz elétrica, das primeiras páginas quase diárias dos jornais, da orgia — até financeira — dos trovadores populares, da frequência às conversas do Catete e do Monroe, dos três, dos cinco, dos sete Estados da Federação. Aqui, sim, está-se diante de um cangaço tipicamente sertanejo e talvez a este e só a este tenha-se referido Graciliano Ramos quando disse ser fenômeno próprio da nossa zona pastoril. No Nordeste, com esse volume todo, de fato foi. Mas pelo volume, não pela forma, fique sempre claro.

Do casamento de modalidade criminal de si mesma rica em violência — como é o caso do cangaço — com ambiente natural e social profundamente predisposto a esta — caso da área sertaneja do Nordeste — resultaria o surgimento, a partir do meado do século XIX, de um banditismo rural cada vez mais desenfreado, findando por levar a região a clima que beirava o socialmente convulso, nas duas últimas décadas daquele século, e que foi capaz de produzir, na primeira metade do seguinte, sagas criminais de dimensões nunca vistas em qualquer outro período anterior da história do Nordeste, como as de Antônio Silvino e principalmente a de Lampião.


Cartaz distribuído no governo Frederico Costa, da Bahia, no meado de 1930, em vias de ser apeado pelo movimento revolucionário. Em 1938, morto Lampião, o tenente Bezerra receberá esses 50 contos de réis, em Salvador — valor de 10 automóveis novos — e mais outro tanto no Rio de Janeiro, da Perfumaria Lopes. Recuperação de imagem por Sandra Rodrigues

Convém particularizar melhor o assunto, o que faremos através da indicação de dois momentos máximos de recrudescimento do cangaço, selecionados a partir dos vários registros que compõem a história do fenômeno no Nordeste, na qual ele figura quase ininterruptamente como ocorrência de sentido crônico em largas áreas da região, desde as primeiras etapas do esforço colonizador.

Embora as indicações impliquem sempre em algum subjetivismo indesejável, cremos não se mostrar historicamente temerário apontar o ciclo da grande seca “dos dois setes”, no século XIX, e a já referida década de 1920, no passado, como dois momentos nos quais o paroxismo da ação desenvolvida pelos grupos em armas faz com que a habitual cronicidade do cangaço se aqueça até o ponto de ceder lugar à instalação de quadro agudo, muito próximo de uma convulsão social generalizada.

A importância de que se assinalem esses dois momentos, nos quais o fenômeno evolui do ordinário-endêmico para o extraordinário-epidêmico, está no fato de ter sido sempre possível à sociedade sertaneja — e dela não excluímos aqui o componente representado pelo poder público — conviver, sem maiores traumas, ou, ao menos, sem traumas insuportáveis, com o cangaço. Não custa relembrar que a sociedade surgida da pata do boi, da luta permanente contra o meio hostil e da afirmação cruenta sobre os primitivos habitantes era uma sociedade violenta, que vivia sob a égide do épico, naquela atmosfera “admirável nos seus efeitos dramáticos” a que se referiu Caio Prado Júnior ao comentar precisamente o tipo humano da pecuária setentrional no Brasil.20

Ninguém mais que o cangaceiro encarnou esse épico tão querido, dando-lhe vida ante os olhos extasiados do sertanejo. Por força disso, ajusta-se perfeitamente à realidade uma representação da sociedade pastoril do Nordeste em que o contingente populacional se mostre dividido entre os que apenas convivem bem com o cangaceiro e os que — como geralmente se dava com os jovens — chegam francamente a admirar-lhe os feitos guerreiros.

A palavra à idoneidade do poeta sertanejo Francisco das Chagas Batista, contemporâneo e biógrafo de um grande do cangaço como Antônio Silvino, para retratar com fidelidade o ambiente sertanejo e neste, a imagem social do cangaceiro:

Ali se aprecia muito
Um cantador, um vaqueiro
Um amansador de poldro
Que seja bom catingueiro
Um homem que mata onça
Ou então um cangaceiro21

Os surtos de cangaço epidêmico, em cuja etiologia acham-se sempre presentes fatores de desorganização social e de consequente inibição das atividades repressoras, tais como, revoluções, disputas locais, agitações de fundo místico ou político ou social, lutas de família e principalmente as prolongadas estiagens, provocavam o rompimento do equilíbrio que permitia à sociedade sertaneja viver, produzir e continuar crescendo lado a lado com o cangaceiro, com base em compromisso tácito de coexistência.

Falando inicialmente de um tempo de cangaço apenas endêmico, em que “cangaceiros bonachões preguiçavam”, mandando aqui e acolá emissário que “chegava à propriedade e recebia do senhor uma contribuição módica”, Graciliano Ramos, em artigo contemporâneo ao segundo dos momentos epidêmicos aqui analisados, assinala que “tudo agora mudou”, denunciando em seguida que “os bandos de criminosos, que no princípio do século se compunham de oito ou dez pessoas, cresceram e multiplicaram-se” e que “já alguns chegaram a ter duzentos homens”. E ele próprio conclui que, em consequência disso, “as relações entre fazendeiros e bandidos não poderiam ser hoje fáceis e amáveis como eram”.22

Nada de diverso se passou durante o outro apogeu mencionado, o que corresponde ao período da seca de 1877-79, em que também se rompe o especialíssimo compromisso de coexistência que ligava o sertanejo ao cangaceiro, por força de uma admiração mal-disfarçada pela liberdade selvagem que este último encarnava e que lhe permitia materializar, no aqui e no agora do cotidiano, o conteúdo talvez mais forte do arquétipo mental do sertanejo do Nordeste: o individualismo arrogante, aventureiro e épico, plantado ali nos primeiros momentos da colonização e conservado sem contraste, ao longo de séculos, pela ausência de contaminação externa que o isolamento sertanejo proporcionou. Mas nada disso importa agora. 

 Com o rompimento do compromisso, impõe-se ao sertanejo denunciar o cangaceiro mais próximo, o que passa em sua porta, malsinar o cangaço em geral, protestar, fazer tudo o que estiver ao seu alcance para obter a restauração de um clima que, se não chegava a ser jamais de inteira e completa segurança individual e da propriedade, era ao menos tolerável, no relativismo das garantias oficiais deficientes, sob cujo império mambembe sempre viveu o sertão. A seca de 1877-79, talvez a maior de todos os tempos, representa momento bem eloquente no demonstrar esse jogo de substituição momentânea do banditismo endêmico pelo epidêmico mais desabrido, a suscitar empenhos de governo igualmente especiais, em consequência do alarido do povo, multiplicado pela imprensa. Na fala com que encerrou a primeira sessão e abriu a segunda, da legislatura da Assembleia Geral do Brasil do ano de 1879, lamentava o Imperador a quebra “em alguns lugares” da “segurança individual e da propriedade”. “Às causas notórias — dizia ele aos parlamentares — por mais de uma vez trazidas ao vosso conhecimento, acresceram outras provenientes da calamidade da seca e consequente mudança da condição e hábitos da população. O governo empenha-se em combater essas causas e acredita que cessando os efeitos daquele flagelo e mediante a enérgica repressão ao crime, seja mantida a segurança individual e respeitada a propriedade”.23  

Na superposição das causas extraordinárias oriundas da seca, e como tal transitórias, àquelas de caráter ordinário e crônico — “causas notórias”, segundo as imperiais palavras — contém-se toda a estrutura da criminalidade rural tornada epidêmica. A história nos mostra que esse beijo trágico une condições socioculturais básicas a uma causalidade episódica deflagradora. 

À fixidez das primeiras, opondo-se à mutabilidade da segunda, que tanto pode ser uma seca como uma agitação política ou qualquer outra convulsão socialmente traumática responsável pelo afrouxamento das estruturas sociais e consequente inibição do aparelho repressor. Não esquecer o importante indicador representado pela quebra nesses momentos do compromisso tácito de coexistência entre o homem do sertão e o cangaceiro, capaz de eclipsar a admiração daquele por este e de, em decorrência, decretar uma perigosa — para os cangaceiros, já se vê — suspensão de determinadas atitudes comissivas ou omissivas com as quais o sertanejo exercia uma espécie de militância tácita e difusa em favor do cangaço endêmico, vale dizer, do cangaço moderado e tolerável dos tempos normais. Citando Bournet, autor do La criminalité en Corse, de 1887, afiança Garofalo que “na Córsega, a criminalidade endêmica, uma ou outra vez comprimida por uma forte repressão, ressurge sempre que esta afrouxa”.24 

Como entender essa realidade irmã gêmea da nossa e de tantas outras que vimos acima senão pela admissibilidade de uma colaboração popular ao banditismo, representada ao menos por uma conduta omissiva? Ainda assim, pareceu-nos bem clara a ideia de que antes de demonstrarmos a quebra, por ocasião dos surtos epidêmicos, do especialíssimo compromisso que unia o homem pecuário do Nordeste ao cangaceiro, cumpria-nos evidenciar ao menos alguns aspectos dessa mais que complexa aliança, além de, como é natural, demonstrar a sua própria existência. 

Aliás não é outra coisa o que vimos fazendo nestas últimas páginas: mostrar o quanto o cangaceiro realizava os valores de uma sociedade peculiar em muitos de seus aspectos, abafada pelo isolamento, agredida por todo um conjunto de fatores naturais e sociais hostis, além de inviabilizada crescentemente, sobretudo a partir de fins do século XVIII, por processo de decadência econômica que negava ao homem maiores oportunidades de ascensão pelas vias ditas normais ou legais, fornecendo ao mesmo tempo a esse homem uma via atapetada por inegável chancela cultural — que era o cangaço — através da qual ele poderia saciar os humaníssimos requerimentos de mando, prestígio, patrimônio e notoriedade, exercendo uma “profissão” cheia de aventuras, nada monótona, sedutora mesmo, pelo que nela é oportunidade de protagonizar o épico tão do gosto do sertanejo. 

Que as especificidades socioculturais sertanejas mostravam-se capazes de empurrar os temperamentos jovens e mais vibrantes na direção do cangaço, não temos qualquer dúvida. Mas daí a cair neste vai um passo, a ser dado pela predisposição psicológica. Porque havia sempre os recursos heroicos da resignação e da fuga, capítulo este último em que a maniçoba do Piauí, a seringueira do Amazonas e o industrialismo de São Paulo, ao menos no período que corresponde aos dois surtos epidêmicos de cangaço aqui comentados e em ordem de sucessão no tempo, desempenharam papel de não pouca expressão. 

Assim, parece-nos exagerado ver no cangaço o que a passionalidade de Manuel Bonfim o conduziu a ver: caminho “inevitável” e “único” para uma “população forte e a quem a ordem normal nenhuma possibilidade oferece de boa atividade social e política”.25 

Certo na essência, ou seja, no caráter criminógeno da sociedade sertaneja por tantos de seus aspectos, o sergipano nos parece pouco sensato na dose.

Os que conhecem os fatos históricos do cangaço e os a este vinculados diretamente, como os que resultam da reação oficial à sua existência, sabem não ser fácil encontrar registros diretos dessa colaboração dada pelo sertanejo ao bandido. Na boca da polícia tais registros sempre pareceram desculpa para os reiterados insucessos, o que não deixava, em algumas ocasiões, de ser verdade. Em todo caso, por basicamente suspeitos, não surgiram em profusão e, quando surgidos, não mereceram muita importância. Igual impedimento tocava aos políticos, só que por uma outra razão: a de não desagradar a um eleitorado que jamais poderia encarar racionalmente sua condição de colaborador, não o do tipo específico, o coiteiro — não é a este que nos estamos referindo aqui — mas o genérico, aquele que, espécie de coiteiro cultural do cangaço, fez da sociedade sertaneja toda ela uma sociedade coiteira, a justificar frase que ouvimos de velho e ilustre sertanejo que mascateara, ainda menino, no Pajeú de 1914, Gerson Maranhão, que insistia em afirmar que “naquela época, todo mundo era cangaceiro”. E explicava: “todo mundo tomava partido pelo cangaceiro”. (…)

FREDERICO PERNAMBUCANO DE MELLO possui formação em História e Direito, sendo procurador federal (aposentado). Na Fundação Joaquim Nabuco, integrou a equipe do sociólogo Gilberto Freyre, de 1972 a 1987, período em que se especializou, sob a orientação deste, no estudo da História Social do Nordeste do Brasil, com maior foco em seus conflitos.

Publicado originalmente pela Revista Continente

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