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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Aniversário de Lampião


Segundo a sua certidão de batismo, Virgolino Ferreira da Silva teria nascido no dia 04 de Junho de 1898. Essa data é a mais citada nas literaturas de cordel, sendo que em sua certidão de Registro Civil a data de nascimento consta como sendo 07 de Julho de 1897.

Este dia (04/06/1898) é geralmente aceito por muitos devido ao antigo costume das regiões do semiárido nordestino de primeiro batizar as crianças e registrá-las tempos depois, devido a um misto de religiosidade e desconfiança, existente naquela época, em relação ao poder civil constituído.

Fonte: Facebook
Página: Geraldo júnior o cangaço

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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Wilson Ribeiro de Souza - filho de Sila e Zé Sereno


Hoje 04 de junho de 2014, Wilson Ribeiro de Souza filho do famoso casal de cangaceiros Sila e Zé Sereno, estaria completando 67 anos de vida.

Wilson Ribeiro foi casado com Susi Ribeiro campos, membro de nosso grupo. Era irmão de Gila Souza Rodrigues e Ivo Ribeiro de Souza (falecido).

Wilson Ribeiro faleceu no dia 12 de fevereiro de 2003, aos 55 anos.

E em respeito a essa família que sempre nos acompanha e nos prestigia, achei-me no direito de fazer essa simples homenagem, em nome daqueles que fazem o grupo o cangaço.

Fonte: Facebook
Página: Geraldo JúniorO Cangaço

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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Lampião em entrevista a Dr. Otacílio Macedo – 1926


“Não confiando na ação da justiça pública, que os assassinos contavam com escandalosa proteção dos grandes. Resolvi fazer justiça por minha própria conta, isto é, vingar a morte do meu progenitor. Não perdi tempo e, resolutamente, arrumei-me e enfrentei a luta. Não escolhi gente das famílias inimigas para matar e, efetivamente, consegui dizimá-las consideravelmente.”


http://www2.uol.com.br/lampiao/

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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Primeiro ataque valioso feito por Lampião


Baronesa Joana Vieira de Siqueira Torres, nonagenária, viúva do Barão de Água Branca (AL). 

Acervo João de Sousa Lima

Teve a sua residência saqueada pelo grupo de Lampião em 26.06.1922.

http://www2.uol.com.br/lampiao

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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Lampião em entrevista - 1926


“Tenho cometido violências e depredações vingando-me dos que me perseguem e em represália aos inimigos. Costumo, porém, respeitar as famílias, por mais humildes que sejam, e quando sucede algum do meu grupo desrespeitar uma mulher, castigo severamente”.

Lampião em entrevista - 1926

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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Material usado pelos cangaceiros


1. Pente de bala de fuzil.
2. Pente de Corisco e Dadá.

3. Pequena caixa levada à cintura na qual Lampião carregava fumo desfiado, papel de cigarro e fósforo.

4. Torno, usado na parede das casas para pendurar objetos como rede, bolsas, etc.
5. Bala de rifle 44.

Notícias da imprensa da época. Jornal do Commercio - 2 de dezembro de 1926



PARAHYBA - Comentando recente encontro da polícia pernambucana com o grupo de Lampião, os jornaes destacam a nova e decidida orientação do actual governo desse estado, em face do angustioso problema do banditismo que assola largos trechos da região sertaneja.


A União de hoje dá conta das providências tomadas pela nossa polícia, reforçando a fronteira a fim de resistir em qualquer emergência.


Jornal do Commercio 19 de dezembro de 1926

Realizar-se-á no próximo dia 28, reunião com os chefes de polícia da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Parahyba, Rio Grande do Norte e Ceará, por iniciativa do governador do estado, Estácio Coimbra.

Visa o chefe do executivo combinar meios efficientes e seguros de ação em confronto, no combate ao banditismo. Os chefes são:
Madureira de Pinho - Bahia
Julio Lyra - Parahyba
Ernandi Basto - Alagoas
Eurico Souza Leão - Pernambuco
Benício Filho - R/G. Norte
José Pires de Carvalho - Ceará

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Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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Lampião, uma viagem pelo cangaço


Como todas as lendas que tendem a tornam-se maiores que os fatos, Lampião e sua saga pelo nordeste brasileiro contêm todos os elementos de aventura, romance, violência, amor e ódio das grandes histórias da humanidade.

Jogado na clandestinidade após o assassinato de seu pai, Lampião foi o maior cangaceiro (nome dado aos fora-da-lei que viveram de forma organizada, no final do século passado e início deste, na região do nordeste brasileiro) de todos os tempos.

Percorreu sete estados da região nordeste durante as décadas de 1920 a 1930, levando sangue, morte e medo à população do sertão.

Causou grandes transtornos à economia do interior e sua história é um misto de verdades e mentiras.

No início da década de 30, mais de 4 000 soldados estavam em seu encalço, em vários estados.

Seu grupo contava então com 50 elementos entre homens e mulheres. Tornou-se amigo de coronéis e grandes fazendeiros que lhe forneciam abrigo e apoio material.

Lampião é odiado e idolatrado com igual intensidade, estando sua imagem viva no imaginário popular mesmo após 60 anos de sua morte. Sua influência nas artes - música, pintura, literatura e cinema - é impressionante.


Neste site você vai encontrar uma parte dessa história, fartamente ilustrada com fotos e documentos da época. Todo este material é uma reprodução dos painéis que compõem a exposição LAMPIÃO - UMA VIAGEM PELO CANGAÇO, parte do projeto CULTURA ITINERANTE DANA.

http://www2.uol.com.br/lampiao/

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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Guaribas e Chico Chicote no Cariri Cangaço 2013

Por Manoel Severo
Guaribas na Rota Cariri Cangaço

O sol já havia se escondido por detrás da majestosa Chapada do Araripe quando a caravana Cariri Cangaço, vinda da fazenda Piçarra e do distrito de Simão, chegou na emblemática fazenda Guaribas, palco e cenário de um  dos mais sangrentos combates daquela época.

Os episódios daqueles distantes anos 20 , quando se perpetrou em Guaribas um dos mais sangrentos e covardes embates do ciclo cangaceiro, quando tombaram mortos 37 pessoas, entre cabras de Chico Chicote e soldados das volantes do Ceará, Paraíba e Pernambuco, sob o comando de José Bezerra, Arlindo Rocha e Manoel Neto, pareciam se desenvolver sob os nossos olhos, a partir dos escombros da velha casa da fazenda e das muitas testemunhas mudas do grande épico porteirense.

 Ivanildo Silveira e Juliana Ischiara em Guaribas no Cariri Cangaço 2013
Leandro Cardoso e Manoel Severo e a Roda de Conversa "Guaribas de Chico Chicote"

O lendário Chico Chicote se configurou como um dos personagens mais marcantes do cangaço no Cariri. Homem de renomada valentia e coragem, respeitado por todos e posteriormente inimigo confesso de Virgulino Ferreira acabou sendo vítima de um plano ardiloso que contou com a participação de seus principais inimigos; da família de Sinhô Salviano; que contava com a proteção do poderoso Cel. Zé Pereira de Princesa. 




Por volta das sete da manhã de 01 de fevereiro de 1927, Chico Chicote teve sua Fazenda Guaribas cercada por cerca de 150 homens sob o comando do Ten. José Gonçalves Bezerra; na tropa estavam ainda, a força de Pernambuco com Arlindo Rocha e Manuel Neto e homens de Zé Pereira, de Princesa. Conta-se que as forças de Pernambuco foram induzidas a entrar no combate pensando que combatiam Lampião.

Depois de um fogo cerrado de 31 horas de bala e com apenas Manel Caipora, Sebastião Cancão e Vicente Chicote, cai a resistência de Chico Chicote que é encontrado morto, ainda em posição de tiro. Virgulino a tudo ouviu, pois estava a pouco menos de uma légua do acontecido, mas não participou: “Se fosse amigo ia da uma retaguarda...” teria afirmado o rei dos cangaceiros.

Prefeito Manoel Novaes e Manoel Severo, a Caravana Cariri Cangaço pela primeira vez nas Guaribas em 2011. Na foto abaixo, também de 2011, vemos Antonio Amaury, Lívio Ferraz, Severo, Sousa Neto e o mestre Alcino Costa

Essa foi a segunda visita da Caravana Cariri Cangaço à fazenda Guaribas de Chico Chicote; ainda na edição de 2011, quando Porteiras se tornou cidade sede do evento, estivemos pela primeira vez naquele emblemático cenário, sendo anfitrionados pelo prefeito Manoel Novaes e Napoleão Tavares Neves e tendo contato com essa que foi umas das maiores e mais violentas sagas  do cangaço no Cariri.

Manoel Severo
Cariri Cangaço 2013

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2013/12/guaribas-e-chico-chicote-no-cariri.html

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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DOIS PRIMOS DA SERRA NEGRA

Por Rangel Alves da Costa*

Nos tempos de outrora, quando o progresso ainda não havia cortado o chão batido e chegado por lá, o sertão era praticamente uma comunidade só. Havia um vínculo de amizade tamanho que a chegada de alguém duma povoação num município vizinho era certeza de acolhimento e guarida. Verdadeiramente os sorrisos estampavam e braços e portas se abriam.

Poço Redondo mantinha consideração especial por alguns municípios vizinhos, mesmo em outros estados. Exemplo disso acontecia com os alagoanos Pão de Açúcar e Piranhas, bem como o baiano Pedro Alexandre, então Serra Negra. Canindé do São Francisco, bem ao lado, possuía um vínculo quase umbilical, verdadeiramente fraternal. Mas o mesmo nunca ocorreu com Monte Alegre de Sergipe, que antigamente mantinha uma disputa acirrada com Poço Redondo.

A bem dizer, boa parte daquela juventude de Monte Alegre chegava a Poço Redondo, principalmente em dias de festas, com o único e exclusivo objetivo de arranjar briga, confusão e arruaça. O mesmo acontecia com parte dos jovens poço-redondenses quando se dirigiam até lá para revidar. Até no futebol as brigas se faziam constantes, vez que não havia uma só partida que não fosse encerrada no tapa.

Canindé antigo morava de forma especial no coração do vizinho Poço Redondo. Aqueles moradores, principalmente os que habitavam naquela cobra grande, subindo e descendo ladeira, quase a única rua do lugar e na beirada do Velho Chico, eram como irmãos e famílias para os de Poço Redondo. E pessoas do quilate de Ananias e Dona Aidê e filhos, Epifânio e esposa e filharada, e todos os outros que por ali viviam e recebiam os vizinhos de braços abertos. Braços abertos também quando vinham para o lado de cá.


Reconhecia-se melhor aqueles municípios mais amigos de Poço Redondo nos períodos de festanças, principalmente na festa de Agosto. De canoa pelo lado de Curralinho, Bonsucesso, Jacaré ou Cajueiro, chegavam os alagoanos, mas também pelas estradas espiçarradas e nos lombos de animais. De carro ou de montaria os que chegavam das terras baianas. E chegavam ao alvorecer da festança, bem antes de tudo pegar fogo, e ali permaneciam até o dia seguinte do último dia festa, eis que o forró continuava comendo solto.

As portas da cidade se abriam festivamente para os visitantes. Os que não ficavam em casas de parentes possuíam acolhida do mesmo modo. Uma turma boa chegava de Pão de Açúcar e era uma gente festeira que não perdia baile ou forró de jeito nenhum. O sorriso largo e simpático de Maria, os proseados amigueiros dos irmãos Pirré e Messias, e tantos outros que enchiam Poço Redondo de alegria e satisfação.

Mas dos lados da Bahia, da vizinha Serra Negra, dois primos mantinham cadeiras cativas nas festanças de agosto: Heraldo de Carvalho, ou Dr. Heraldo, e Evaldo de Carvalho, ou simplesmente Evaldo da Serra Negra. Ainda moços, ricos, políticos (comandaram por dezenas de anos os destinos da Serra Negra), de raízes coronelistas e de mando, mas que se sentiam em casa quando resolviam se bandear pelos lados de cá. Em meio à festa, certamente havia outra festa com a chegada dos primos e comitiva.

Evaldo de Carvalho era mais comedido, porém chegada a uma bebedeira que não tinha hora de acabar. Mas o copo sempre cheio não impedia que fosse tido e havido como verdadeiro Don Juan. Namorador que só ele, de repente estava na companhia de uma e mais tarde era avistado com outra. Mulheres das redondezas, como Edinha de Monte Alegre, parecem que vinham no cheiro do namorador da Serra Negra. Como dito, boa pinta, e gentileza em pessoa, político importante, uma saudoso vizinho que faz aumentar a recordação dos bons tempos de Poço Redondo.

Se Evaldo era o verso, o seu primo Heraldo de Carvalho era o reverso. De anelão de médico no dedo, líder maior de seu lugar, filho do famoso coronel João Maria de Carvalho da Serra Negra, era a imponência em pessoa. Contudo, exuberante sem deixar de ser um bondoso amigo. Tudo nele era grandioso, desde o chapéu ao cavalo, passando pelas sobrancelhas e espalhafatos quando se danava a beber de uísque a cerveja. Não perdia uma festa de agosto, mas seu cavalo chegava primeiro. E nele, um agigantado raçudo branco, saia de porta em porta, principalmente de bar em bar.

E foi com o Dr. Heraldo que aconteceu um fato marcante, folclórico, até hoje fincado na memória festeira poço-redondense. No Bar de Delino, em pleno dia de festa, com Zé Aleixo puxando a sanfona e Zelito botando o gogó pra gemer, com salão apinhado de gente dançando e bebendo, eis que desponta Dr. Heraldo montado no seu cavalo. E foi entrando de porta adentro até chegar ao pé do balcão.
Você reclamou? Nem eu...

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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Lampião faria hoje 116 anos

http://laeti.photoshelter.com/image/I00009UbGPEJzGHU

Hoje dia 04 de Junho de 2014, Virgolino Ferreira da Silva, Lampião faria 116 anos. Nascido no dia 04 de Junho de 1898, no Sítio Passagem das Pedras, município de Serra Talhada, no Estado de Pernambuco. Tornaria futuramente o capitão Lampião, o rei de todos os cangaceiros. (às 12;00 entrevista na Radio Cana Brava FM, Belém do São Francisco-Pernambuco).

Fonte: facebook
Página: Paulo George

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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FACA, FACÃO E PUNHAL: PODER E VAIDADE NO CANGAÇO

Por William White

Um projeto da envergadura e abrangência deste catálogo sobre Facas Brasileiras precisa tratar, mesmo que em rápidas palavras, de um movimento  típico do Nordeste brasileiro que fez uso permanente e intensivo de diversos tipos de armas brancas: o cangaço. Cangaço  era o agrupamento de indivíduos em bandos de variados tamanhos, desde 3 ou 4 a mais de uma centena, em geral jovens oriundos da zona rural  que se juntavam para cometer crimes diversos, sempre motivados por três objetivos: vingar-se de alguém, proteger-se de alguma vingança ou simplesmente ter uma “profissão” rendosa.


Não se sabe exatamente com quem, onde ou quando esse tipo de atividade teve início. Entretanto, se a localizarmos nos Estados de Pernambuco e Bahia nas primeiras décadas do século 19 e, mais precisamente, de 1850  em diante, certamente estaremos muito próximos da realidade. Importante para os objetivos desta publicação é saber que seu apogeu ocorreu nas décadas de 1920 e 1930 do século XX,  período que coincidiu com o domínio absoluto do mais terrível  dos chefes cangaceiros: Virgulino Ferreira da Silva que, sob o vulgo de Lampião, aterrorizou sete estados do Nordeste brasileiro.

Lampião nasceu a 4 de junho de 1898 no Sítio Passagem das Pedras, município de Vila Bela, atual Serra Talhada, no Estado de Pernambuco. Desde muito cedo mostrou-se dono de inteligência anormalmente desenvolvida para os padrões da classe social a que pertencia.  Era almocreve por profissão, além de hábil produtor de arreios e roupas de couro, sanfoneiro, vaqueiro de primeira ordem, amansador de burros e sabia ler e escrever regularmente. Por motivos ainda hoje controversos, tornou-se cangaceiro com cerca de 16 anos juntamente com seus irmãos Antônio, Livino e, posteriormente, Ezequiel. Os irmãos Ferreira acabaram por unir forças com Sinhô Pereira, chefe do até então principal grupo de cangaço em atividade na área e que, ao abandonar a vida de bandoleiro por volta de junho de 1922, deixa seu bando sob o comando de Lampião que à época contava apenas 24 anos. Foi agraciado com a falsa patente de Capitão em 1926 por pressão de personalidades do Juazeiro do Norte (CE), entre eles o Deputado Federal Floro Bartolomeu e o próprio Padre Cícero Romão Batista com a intenção de que combatesse a Coluna Prestes, de passagem pela região.  Morreu na Grota de Angico, município de Porto da Folha (SE), atualmente pertencente ao município de Poço Redondo, em 28 de julho de 1938, aos 40 anos de idade e após 22 anos de atividade cangaceira ininterrupta.


Os bandos do cangaço lampiônico, se assim podemos chamar o período áureo desta atividade, eram prioritariamente compostos por jovens oriundos de algum latifúndio pertencente a um coronel-de-barranco, tremenda força política de então nas caatingas, onde exerciam a função de vaqueiros ou simples moradores e parceiros. Assim sendo, e por força das próprias atividades que desempenhavam, estes indivíduos desde a mais tenra idade se familiarizavam com o sangue de animais que abatiam e com as lâminas com que desempenhavam esta função. Era tudo muito mecânico, normal e rotineiro. A intimidade que tinham com facas e a indiferença pelo sangue e a morte eram fatores importantes quando entravam para um bando cangaceiro. Além deste aspecto, os jovens delinqüentes eram vistos com extrema admiração pelas moças de vilas e fazendas, pois que andavam sempre vestidos à sua maneira vistosa característica, endinheirados e exalavam poder já que muito raramente encontravam resistência em suas andanças e ataques. Parece inclusive ter ocorrido uma certa reordenação na hierarquia do poder sertanejo, já que de certa forma  o coronel latifundiário também foi cerceado em seu mandonismo absoluto pelo rifle insolente do cangaceiro, de maneira que a arma substituía a posse da terra na estrutura social da caatinga. O cangaço usava do seqüestro a dinheiro, do fogo em pastos, casas e currais, da matança indiscriminada de rebanhos e de uma série de outras ameaças largamente cumpridas para obter recursos e manifestar seu efetivo poder não apenas em relação ao coronel, mas à população sertaneja em geral.


Alguns autores têm se ocupado em pesquisar a estética do cangaço apesar da escassa fonte de informações existente. Muita divergência surge desses trabalhos, mas há unanimidade quando se referem à vaidade do cangaceiro. E por muitos aspectos. A citada intimidade do homem em geral e do cangaceiro em particular com as armas brancas é histórica, ficando até a dúvida de que se seria mesmo o cão o melhor amigo do homem do cangaço. A estética de sua indumentária lembra algo de mouro trazido pelos portugueses durante o período colonial e particularizada ao sertão. A marca registrada dessa composição, não há dúvida, é o grande chapéu de couro com a aba rebatida na frente e atrás, fortemente adornado com medalhas de santos, moedas de prata e ouro, signos de Salomão e outros penduricalhos. Apesar de haver um padrão relativamente bem definido de suas vestimentas e adornos, cada indivíduo do grupo tinha o direito, e o exercia com capricho, de manifestar sua vaidade como melhor entendesse. Isso ia do tipo de meia que usavam  à aplicação de enfeites nas alças dos mosquetões e fuzis, ao número e tipo de anéis que adornavam suas mãos, muitas vezes um em cada dedo - sendo alguns destes premiados com dois -, o comprimento dos cabelos e o trato de brilhantina e perfume que recebiam, os óculos de grau ou de sol,  a luneta e uma infinidade de outros quesitos com particular atenção dedicada às facas, facões e punhais.


Quanto à importância de cada lâmina carregada pelo cangaceiro pode ser dito que o facão era utilizado nas tarefas mais duras como o corte de galhos de árvores para montagem de suas barracas, o esquartejamento de bovinos e outros. No geral não chamavam muito a atenção com a honrosa exceção de um que Lampião portava e possuía cabo de prata lavrada com muito esmero e apresentando em sua porção final uma cabeça de águia esculpida. Mas por serem de feitio comum e carregados por poucos elementos do cangaço, eram praticamente escondidos sob a axila de seu proprietário,  de forma que permaneciam muito pouco visíveis. Ressalte-se aqui que mesmo feiosos e sem grande prestígio, tais facões acabaram, por ironia do destino, participando do ato final da epopéia cangaceira ao serem utilizados para decapitar os onze cangaceiros mortos na grota sergipana naquela garoenta madrugada do inverno de 1938. Dois anos antes, a 7 de junho de 1936, o cangaceiro José Baiano, violento chefe de um subgrupo, foi morto à traição juntamente com outros 3 companheiros e teve sua cabeça “separada do pescoço por sucessivos golpes de facão”,  conforme atesta a Certidão de Exumação emitida pela Secretaria de Segurança Pública de Sergipe.

Rasparam minha cabeça
Como quem raspa um leitão
Botaram água fervendo
Caía pêlo no chão
Eu berrava como um bode
Minha barba e meu bigode
Raparam com um facão
Em vez da noiva enxerguei
De cartucheira na mão
Um grupo de cangaceiros
E o bandido Lampião
Pensei que estava sonhando
Quando acordei fui levando
Uma surra de facão¹
(...)

A faca talvez tenha sido a lâmina de maior utilidade pois servia a muitos fins,  como matar, esfolar e retalhar pequenas criações, castrar animais e, vez por outra, homens, cortar couro e tecidos para a produção de arreios e roupas, retirar balas alojadas em seus corpos, descascar frutas, cortar queijo e o que mais fosse necessário. Estas facas apresentavam características muito diversas umas das outras e algumas eram verdadeiras obras de arte muitíssimo trabalhadas. Apresentavam lâminas de cerca de 20 a 30 cm com cabos caprichosamente executados por alguns cuteleiros que se tornaram famosos, casos da família Caroca na Paraíba e da família Pereira no Cariri cearense. Eram cabos compostos por pequenos discos de materiais diversos como chifre bovino, caprino ou ovino, madeira, prata, cobre, níquel, alpaca, marfim, osso e eventualmente até ouro. No entanto, o uso deste metal estava longe de ser a regra.   Comumente, para o uso cotidiano, as facas eram lâminas simples e com cabo de madeira ordinária, especialmente com o advento da industrialização por volta de 1930, fato que colaborou bastante para a extinção da cutelaria artística como era até então conhecida. Era mais importante que seu aço pegasse bom fio do que tivesse alto senso estético.  Estas também pouco apareciam na indumentária do cangaço. Quase sempre estavam guardadas no cós da calça, nas costas, ou na mesma posição do facão, ou seja, sob as axilas.

Porque na ponta da faca
Uma barriga não erro
E um ladrão que me rouba
Até o cabo eu enterro
Pule o que for mais valente
Para eu corrê-lo no ferro²
Dei uma volta na rua
Encontrei um camarada
Com uma faca de ponta
Feita de aço de espada
No momento que eu cheguei
Sem desejar encontrei
Um princípio de zoada³
(...)

Finalmente, e com notável destaque, havia o punhal. Utilizado apenas como arma perfurante, posto não possuir fio em nenhum dos lados, mas apenas a ponta extremamente aguçada própria para sangrar animais em geral, inclusive homens, como atestam inúmeros registros de diversos autores. Tratamento especial e diferenciado sempre foi dedicado aos punhais, estes sim, motivo de orgulho e vaidade de seus proprietários. Eram sempre carregados de forma ostensiva, transversalmente ao abdome que lhes servia de perfeita moldura, e sustentados pelo cinturão de balas.  A vaidade de cada um se manifestava neles de diversas maneiras: pelo material com que era produzida sua lâmina, a composição de sua empunhadura e sua bainha, o cuteleiro que o confeccionou, seu comprimento e a habilidade que cada um possuía ao manejá-lo. Material para as lâminas era quase sempre importado: espadas quebradas, ferramentas agrícolas e especialmente pedaços de trilhos de ferrovias  e do sistema de vagonetes utilizados na indústria açucareira. A forja e montagem desses punhais eram feitas em locais denominados tendas, que nada mais eram que rústicas cutelarias bastante disseminadas pelo Nordeste, em especial nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará, onde a movimentação de cangaceiros era intensa. A estética e características gerais de forma, tipo de cabo, comprimento de lâmina e material e modelo da bainha era função da criatividade do cuteleiro e dos recursos de quem encomendava o produto. De maneira geral,  o punhal tinha forma bastante esguia, longa e fina, arrematado pela empunhadura de estilo muito semelhante ao utilizado pelas facas artesanais acima descritas. Mesmos materiais, mesmas formas. As bainhas também eram caprichosamente elaboradas, quase sempre por terceiros, podendo ser de couro ou metal. Quando metálicas, por vezes eram forradas de couro ou veludo e podiam possuir uma ou duas articulações, ao logo de seu comprimento, como delicadas dobradiças, de forma a facilitar o andar e o montar de quem as usasse.

Prestando mais atenção
Eu vi um grande punhal
Fabricado com três quinas
De um tamanho desigual
O cabo de ouro e prata
Nunca se viu então igual
(...)
Conduzia o seu punhal
Passado na cartucheira
Com setenta e três centímetros
Respeito da cabroeira
Moedas de prata e ouro
Lhe enfeitavam a bandoleira
(...)

No cangaço parece não ter havido uma relação direta entre o tipo de punhal e faca utilizados e a hierarquia interna do grupo.  Tudo era exatamente uma questão de gosto, vaidade e dinheiro. Embora nem fosse de uso mais freqüente, os punhais longos exerciam especial fascínio entre os cangaceiros, sendo curioso reproduzir aqui parte do “Inventário dos objetos apreendidos, pertencentes ao famigerado “Lampeão””, produzido pelo Regimento Policial Militar de Maceió, em 26 de novembro de 1938:

FACA: de folha de aço, com 67 cm de dimensão, com cabo e terço de níquel, adornado o cabo  com três anéis de ouro, notando-se na lâmina,  umamossa  produzida naturalmente por bala; bainha toda de níquel,    com forro interno de couro, notando-se também na parte interna    superior o estrago produzido por bala.

Sabe-se pela literatura a respeito do tema que aos 67 cm de lâmina são acrescidos 15 cm de cabo, perfazendo um comprimento total de 82 cm. Qual a utilidade prática de tamanho exagero? Talvez nenhuma, exceto manifestar o que vem sendo escarafunchado aqui: poder e vaidade. Muito embora este relato se refira aos despojos particulares de Lampião, outros membros do bando também possuíam punhais igualmente longos, o que é visível na famosa “foto das cabeças” e que viria reforçar a tese da inexistência de vínculo entre o comprimento dos punhais e a posição hierárquica do indivíduo no grupo.  Para sangrar um homem ao estilo do cangaço, ou seja, fazendo o punhal penetrar pela fossa clavicular esquerda para atingir coração e pulmão não era necessário esse exagero de comprimento, coisa de 70 cm. O tamanho de punhal mais disseminado entre os cangaceiros era de aproximadamente 35 a 40 cm, incluída a empunhadura. Claro está que o fato de a arma ser de menor porte em nada atrapalhava a expressão da vaidade em sua confecção. Era carregada com o mesmo orgulho e tinha o mesmo poder especialmente frente a adversários civis.

Vale ressaltar que muito provavelmente existia um aspecto psicológico, mórbido e doentio quando se considera o significado que o sangramento tinha, e tem, para o homem rústico do sertão nordestino. Ao usar sua arma esteticamente  mais expressiva para esse fim, o indivíduo manifestava, a um só tempo, sua vaidade em relação ao punhal,  e também um importante poder sobre a vítima, não apenas porque esta sempre se encontrava subjugada pelo grupo mas também porque sangrar era, e é, ato de extrema ofensa para quem o sofria,   extensiva a toda a família da vítima. Ou seja, para o sertanejo, o drama não estava em morrer,  mas sim em ser sangrado. Ofensa inadmissível, passível de vingança necessária e obrigatória e muitas vezes origem das famosas brigas de família. Sangrar era para porco, cabrito, boi – não para o homem.


Finalmente, é importante mencionar um vínculo havido entre a morte de Lampião, decretando o início do fim do cangaço, o poder e a vaidade que aqui se explicou. Após mais de vinte anos de atividade em circunstâncias quase sempre muito adversas, “morando debaixo do chapéu”, como certa vez disse o Rei do Cangaço, parece que a atividade já não exercia nele o mesmo fascínio de outros tempos. Sua mobilidade era bastante menor e sua área de ação estava mais ou menos restrita ao baixo rio São Francisco, ora em Alagoas, ora em Sergipe onde, até por influência das mulheres do bando, passaram a tomar muito mais cuidado com a higiene pessoal, fato demonstrado pela adoção de novos costumes tais como banhos freqüentes, lavagem de roupas e um acesso mais rotineiro a melhores alimentos mandados buscar em feiras através de seus coiteiros. Esses fatos, acrescidos à onipresente sensação de impunidade, à extorsão praticada à larga contra as elites urbana e rural apenas via bilhetes, à confiança exacerbada em sua rede de coiteiros, à  cada vez maior delegação de autonomia aos chefes de subgrupos, à enorme quantia de dinheiro em espécie e ouro que acumulara e portava e à venalidade dócil e obediente dos militares responsáveis por sua captura parecem ter provocado o afloramento simultâneo de sua sensação de poder e vaidade pelo que já obtivera e não mais perderia. Lampião certamente tinha ciência de que sua morte não era conveniente a muitos caatingueiros que, de uma forma ou outra, dele dependiam para sobreviver ou auferir maiores ganhos. Inclua-se aí desde grandes latifundiários e militares até o mais simples morador que fazia e vendia queijos. Lampião sempre pagou regiamente pelos produtos que adquiria, fossem alpercatas, rapaduras ou mosquetões e sua munição. Certa vez perguntaram ao Cel. José Lucena de Albuquerque Maranhão que quando sargento havia sido responsável pela morte do pai de Lampião:

- Cel. Lucena, quem matou mesmo Lampião?
- O dinheiro dele!
- Nem só, Coronel, nem só!

¹ Macedo, Nertan. Lampião-Capitão Virgulino Ferreira. Rio de Janeiro: Editora Renes,1975. pp. 84-85.
² D’Almeida, Manoel, Os Cabras de Lampião – São Paulo, Ed. Prelúdio Ltda. 1970, pág 19
³ Macedo, Nertan, obra citada, pág.82
⁴Macedo, Nertan, obra citada, pág. 57 - D’Almeida, Manoel, obra citada, pág.9

http://www.colecaoorsini.com.br/cangaco.php

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas

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