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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

SÉRGIO DANTAS E O ESPETACULAR “LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA”


O livro ‘LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA’ não foi concebido com a intenção de se tornar uma obra revolucionária. O objetivo do autor foi apenas elaborar um registro perene e confiável sobre a atuação do célebre cangaceiro em terras paraibanas. Com 363 páginas e cerca de 90 fotografias de personagens envolvidas na trama – e lugares onde os episódios ocorreram -, o trabalho certamente será de grande utilidade aos estudiosos de hoje e de amanhã.
Dividido em 19 capítulos, com amplas referências e notas explicativas, tenta-se recontar, entre outros, os seguintes episódios:
“A invasão a Jericó; fazendas Dois Riachos e Curralinho; o fogo da fazenda Tabuleiro; os primeiros ferimentos sofridos por Lampião; as lutas com Clementino Furtado, o ‘Quelé’; combate em Lagoa do Vieira; Sousa: histórico do assalto e breve discussão sobre as possíveis razões políticas para a invasão da cidade; a expulsão dos cangaceiros do município de Princesa; combates em Pau Ferrado, Areias de Pelo Sinal, Cachoeira de Minas e Tataíra; o cangaceiro Meia Noite; Os ataques às fazendas do coronel José Pereira Lima; morte de Luiz Leão e seus comparsas em Piancó; confronto em Serrote Preto; Suassuna e Costa Rego; a criação do segundo batalhão de polícia; Tenório e a morte de Levino Ferreira; ataque a Santa Inês; combates nos sítios Gavião e São Bento; chacina nos sítios Caboré e Alagoa do Serrote; Lagoa do Cruz; assassinatos de João Cirino Nunes e Aristides Ramalho; Mortes no sítio Cipó; fuga de paraibanos da fronteira para o Ceará; confronto em Barreiros; invasão ao povoado Monte Horebe; combates em Conceição; sequestro do coronel Zuza Lacerda; o assalto de Sabino a Triunfo(PE) e Cajazeiras (PB); mortes dos soldados contratados Raimundo e Chiquito em Princesa; Luiz do Triângulo; ataques a Belém do Rio do Peixe e Barra do Juá; Pilões, Canto do Feijão e os assassinatos de Raimundo Luiz e Eliziário; sítios Vaquejador e Caiçara; Quelé e João Costa no Rio Grande do Norte; combates com a polícia da Paraíba em solo cearense; o caso Chico Pereira sob uma nova ótica; Virgínio Fortunato na Paraíba: São Sebastião do Umbuzeiro e sítios Balança, Angico e Riacho Fundo; sítio Rejeitado: as nuances sobre a morte do cangaceiro Virgínio”.
A obra certamente não abrangerá o relato de todas as façanhas protagonizadas pelo célebre cangaceiro no estado da Paraíba. Muito se perdeu com o passar dos anos. Os historiadores de ontem, em sua maioria, não tiveram grande interesse em dissecar os episódios por ele protagonizados no território do estado.
A presente obra busca resgatar o que não se dissipou totalmente na bruma do tempo.

Lançamento em Natal do livro de Sérgio Dantas “Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito (2006)”.

LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA, Polyprint, 2018, 363 pgs. Disponível em outubro de 2018.
Sobre o autor: Sérgio Augusto de Souza Dantas é magistrado em Natal. Publicou os livros Lampião e o Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada (2005), Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito (2006), Lampião Entre a Espada e a Lei (2008) e Corisco – A Sombra de Lampião (2015).
PARA ADQUIRIR LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA,  VENDAS A PARTIR DE OUTUBRO DE 2018, SENDO REALIZADAS EXCLUSIVAMENTE PELO PROFESSOR FRANCISCO PEREIRA, DE CAJAZEIRAS, PARAÍBA, QUE ENTREGA PARA TODO O BRASIL PELO CORREIO.
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https://tokdehistoria.com.br/2018/10/01/novo-livro-sobre-o-cangaco-na-paraiba-sergio-dantas-lanca-seu-quinto-livro-sobre-o-tema/
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LIVROS PARA ADQUIRI-LOS

Por Francisco Pereira Lima

Indicação Bibliográfica. Alguns livros sobre Padre Cícero, Juazeiro e o Cariri.
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Por Francisco Pereira Lima

Novo livro na praça: Fideralina Augusto Lima: Política, Papéis Sociais, Parentesco e Educação Sertaneja. Autor: Rui Martinho Rodrigues. 249 páginas. Preço 50,00 como frete incluso. 

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PADRE BULHÕES E A IGREJA

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de fevereiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.061

  Em 1787 foi construída uma capela em Santana do Ipanema pelo padre visitante Francisco Correia. No ano de 1900, a capela recebeu reforma através do pároco da época, Capitulino, natural do município ribeirinho de Piaçabuçu. Somente depois, final da década de 40, foi realizada reforma definitiva através do Cônego Bulhões. Sua arquitetura foi baseada na capela original do padre Francisco, ganhando torre, campanário, coro e relógio, baseada em 35 metros de altura. Francisco Correia era natural de Penedo e chegou a conselheiro do estado. Bulhões nascera no povoado Entremontes, município de Piranhas. E Capitulino, além de pároco e intendente de Santana, exerceu ainda o cargo de governador por algum tempo. Foi ele quem elevou Santana à cidade no cargo interino de governador.

MATRIZ DE SENHORA SANTANA E BUSTO DE BULHÕES. (FOTO: B. CHAGAS).

       Bulhões já estava bem doente e precisou da ajuda do padre Medeiros, de Poço das Trincheiras, para concluir a obra. O cônego Bulhões passou cerca de 30 anos mandando em Santana através do seu prestígio. Com a chegada do batalhão em Santana, para combater os cangaceiros, o cônego dividiu esse prestígio com o, então, major Lucena Maranhão, comandante militar, em 1936 (daí o livro: O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema). A igreja de Santana passou a ser a grande atração física de toda a região sertaneja. O seu conjunto de sinos era ouvido a quilômetros e seu relógio repetido nas quatro faces da torre, marcava a hora oficial do Comércio.
O cônego Bulhões deixou assim a sua bela história para ser escrita, mas ninguém se interessou pelo tema. Apenas fiapos surgem vez em quando. Além da sua história, ficou imortalizado pelo grande monumento elaborado no centro da cidade. Ganhou o nome “Ponte Cônego Bulhões”, no liame Centro/Bairro Camoxinga (onde morou) e um busto de bronze na Praça Cel. Manoel Rodrigues da Rocha, defronte à Matriz de Senhora Santa Ana que por muitos anos dirigiu.
       A Matriz continua sendo o cartão postal de Santana do Ipanema e do interior. Tá falado.

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/02/padre-bulhoes-e-igreja.html

QUEM VAI ABSOLVER A MORAL DEPOIS DA ABSOLVIÇÃO JUDICIAL?

*Rangel Alves da Costa

De antemão, urge fazer algumas indagações. Como os olhos da sociedade passam a avistar um condenado pela justiça? Como o próprio condenado passa a se sentir após a sentença contra si lançada? Qual a relação que passa a ter os círculos de amigos, conhecidos e familiares, após um decreto condenatório? Quais as consequências morais, psicológicas, sociais e afetivas, que passam a emoldurar alguém tido pela justiça como culpado? Tais indagações são demasiadamente conhecidas, mas suas respostas nem sempre tidas com clareza.
Nas indagações acima, que se imagine envolvendo alguém que realmente praticou um erro, uma ilicitude, sendo merecedor de reprimenda penal. As esferas pessoais e sociais serão penosamente afetadas. Não há dúvidas disso. E se o sujeito carregar consigo a convicção de que não errou, não cometeu nenhum crime, e ainda assim teve sua condenação prolatada por juiz de primeiro grau? O mundo desaba, como se diz. E o desabamento desse mundo recairá principalmente na personalidade e no ser interiorizado. Alguém sabe dizer a dimensão do sofrimento íntimo pela certeza de uma injusta condenação?
As pessoas até podem imaginar as consequências dessa tempestade vorazmente gestada na alma do injustamente condenado. Contudo, apenas por suposição e de forma sequer aproximada, vez que nem sempre a própria pessoa consegue delimitar as dimensões de seu sofrimento, de sua angústia, de sua aflição. É que o mundo verdadeiramente desaba, a cabeça desanda, o ânimo moral e espiritual se esvai, a noção de vigilância negativa se alastra como se um ser imprestável estivesse ao redor. Dói. Dói demais, faz exaurir todo o sentido de vida existente. E tal fato acontece a cada dia, com inúmeras pessoas.
E agora um fato que envolve fúria e calmaria. A pessoa é condenada em instância inferior, com o decreto condenatório citando provas e mais provas, entrelaçando situações até chegar à conclusão da culpa. Ora, a sentença parece irretocável, um primor de inteligência jurídica. Mas então, o normal inconformismo faz com que o condenado busque as instâncias superiores na tentativa de reverter a situação, buscando a absolvição. E eis que consegue, que é absolvido. Quer dizer, nada daquilo fundamentado na sentença de origem passa a ter validade, vez que não havia prova nenhuma e o entrelaçamento dos fatos não ocorreu daquele modo. E agora?
Em termos de liberdade, em termos de reconhecimento de a justiça enfim sendo feita, não há coisa mais positiva e festiva para aquele que já estava em vias de ser encarcerado. Contudo, o livramento da prisão é apenas uma consequência que não afasta a permanência de outros problemas, e ainda mais gravosos. Quem vai absolver a moral depois da absolvição judicial? Sim, qual decisão jurídica é capaz de reverter uma personalidade ferida, perdida, dizimada, após aquela primeira injusta condenação?
Antecipo uma conclusão: não há absolvição judicial que seja capaz de purificar, de absolver, de libertar das amarras psicológicas, ou mesmo minimizar os sofrimentos apresados não espírito e na alma, após um injusto indiciamento ou uma condenação que depois se revele errônea. Mesmo que depois seja revista e revertida a decisão condenatória, nos termos legais, não há como o novo entendimento judicial proferido apagar de vez a condenação já imposta no âmago do indivíduo e perante o seu meio e além.
Quando o indivíduo, intimamente, sabe que errou, reconhece a ilicitude de seu ato, não se vê diante de um injusto abismo, esperando apenas que a sua pena não vá além dos limites aplicáveis ao seu ato. E se terá como injustiçado acaso o seu sentenciamento seja maior que o merecido. Por consequência, aquele mesmo abismo se abrirá a seus pés e as piores sensações chegarão como penalização até maior que a decisão judicial. Mas que se imagine uma condenação eivada de erros e vícios, julgada à revelia da lei, e lançada sobre o indivíduo como a penalização dos mais imprestáveis dos seres.
Qualquer sentença condenatória, por mínima que seja, recai sobre o acusado como um fardo insuportável. Mesmo a culpa não afasta o espanto, o medo, o temor, a sensação de injustiça. Ora, mas eu não merecia uma pena dessas pelo erro cometido, é o que diz o sujeito em qualquer situação condenatória. Dependendo da situação, além do afastamento do convívio social para ser recolhido à prisão, há outras carceragens ainda mais aflitivas. Nada mais angustiante que a carceragem psicológica, moral e social do indivíduo. Tamanhas são suas consequências que mesmo a soltura não consegue reabrir as celas para o enfrentamento das realidades interior e exterior.
Por isso mesmo que em situações tais, estar em liberdade é ainda estar aprisionado. O sistema prisional passa a ser o meio social, os olhares, as palavras, as fofocas, as insinuações. Ora, mas o recurso não foi aceito e a sentença modificada, com o reconhecimento da inocência? Sim. Mas os olhos do mundo não perdoam. As pessoas maldosas não perdoam. E até que a pessoa abra as celas de si mesmo, muito já foi penalizado pelo injusto.


Escritor
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NA MISSA DE 80 ANOS DA MORTE DE LAMPIÃO E MARIA BONITA


Na missa de 80 anos da morte Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros na Grota de angico com o amigo Pedro Popoff, muito bom te encontrar meu amigo, grande abraço!! — com Pedro Popoff.

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JOSÉ FERREIRA, O PAI DE “LAMPIÃO”


Por Sálvio Siqueira

O pai dos terríveis cangaceiros Lampião, Esperança, Vassoura e Ponto Fino, Virgolino, Antônio,Livino e Ezequiel, respectivamente, José Ferreira é tido pelos pesquisadores como tenha sido uma pessoa de respeito, honra e digna. Que sempre procurou cumprir com seus deveres sem ir à busca de brigas e/ou desavenças com quem quer fosse, era uma pessoa pacífica.

Falar da descendência, dos ancestrais, de alguma personagem histórica relacionada ao Fenômeno Social Cangaço é quase impossível. A falta de registros nos faz penar em pesquisas bibliográficas que ao serem confrontadas não ‘batem’, não concordam entre si. Distorcendo até mesmo nome e sobre nomes dos pesquisados. Documentos importantes como o Registro Civil e o Batistério, da mesma, não batem em suas informações quanto aos nomes dos pais do registrado e batizado.

Usaremos como exemplo a Certidão de Nascimento e o Batistério de Virgolino, o futuro cangaceiro que aterrorizou sete Estados da Região Nordeste na época do seu reinado sangrento, 1916/17 a 1938.

Certidão de Nascimento: Cartório Oficial do Registro Civil de São José do Barro Vermelho, ¨º distrito de vila Bela, Serra Talhada, PE. São José do Barro Vermelho hoje é Tauapiranga.

As informações sobre a Certidão de Nascimento foram retiradas do livro de registro de nascimento “Nº 2-A, foljas 8v – 9.

As informações retiradas sobre o Batistério foram colhidas na Paróquia Senhor Bom Jesus dos Aflitos, na cidade de Floresta, PE. Contidas no livro nº 13, folhas 145v e 146, assento nº 462, do ano de 1898.

Em ambos os documentos notamos apenas o nome, e nenhum sobrenome da criança: Virgolino. 

Obs.: Com “o”, e não com “u” como tantos escrevem.
A data de nascimento diverge entre os dois documentos no dia, mês e ano:

Certidão de Nascimento: 7 de julho de 1897
Certidão de Batistério: 4 de junho de 1898
O nome do pai também tem diferença, em um há dois sobrenomes, no outro apenas um:
Certidão de Nascimento: José Ferreira dos Santos
Certidão de Batistério: José Ferreira
O nome da mãe muda completamente seus sobro-me de u para o outro:
Certidão de Nascimento: Maria Sulena da Purificação
Certidão de Batistério: Maria Vieira da Solidade
Quanto aos avós só constando na Certidão de Nascimento
Paternos:
Antônio Ferreira de Barros e dona Maria Francisca da Chaga
Maternos:
Manoel Pedro Lopes e dona Jacoza Vieira da solidade
Os padrinhos são citados apenas na Certidão de Batistério:
Manoel Pedro Lopes e dona Maria José da Solidade

Obs.: No livro “O Espinho do Quipá”, de Vera Ferreira e Antônio Amaury, consta o nome de José Ferreira como ‘José Ferreira da Silva’. Numa nova edição do mesmo livro, porém, com o título mudado: “De Virgolino a Lampião”, o nome vem ‘José Ferreira dos Santos’. Esse sobrenome, “Santos”, é o que consta na Certidão de Nascimento de Virgolino. Na Certidão do Casamento Religioso do casal pais de Virgolino está assim escrito, registrado, José Ferreira dos Santos.

Segundo o pesquisador/historiador José Bezerra Lima Irmão em seu livro “Lampião – A Raposa das Caatingas” – 2ª edição, 2014, a árvore genealógica do pai de Virgolino é assim: “Os ancestrais de Virgulino pelo lado paterno – família Ferreira Lima – eram de uma região entre Surubim e Timbaúba, no agreste setentrional pernambucano, com ramificações pela Paraíba. Descendiam do “Alves Feitosa”, da povoação de Inhamuns, à época município de Tauá, no Ceará, família antiga, dos primeiros povoados do sudeste do Ceará. A Sesmaria de um dos patriarcas da família, Lourenço Alves Feitosa, ficava onde hoje é Cococi, atual distrito de Parambu. Seu irmão Francisco Alves Feitosa era dono da fazenda barra do Jucá, no Vale do Jaguaribe. Vários membros da família Alves Feitosa debandaram do sertão dos Inhamuns em virtude de questões com a família Monte, da região do Riacho do Jucá, afluente do Jaguaribe. Para não serem localizados pelos inimigos, muitos mudaram de nome, trocando o “Feitosa” por “Ferreira”, acrescido, ora de “Barros”, ora de “Lima”.

O bisavô de paterno de Virgulino, José Alves Feitosa, passou a identificar-se como José Ambrósio Ferreira Lima. Tinha dois filhos: Antônio Ferreira Lima e João Ferreira Lima.

Antônio Ferreira Lima é o avô de Virgulino. Seu nome antes era Antônio Alves Feitosa, porém passou a se identificar ora como Antônio Ferreira Lima, ora como Antônio Ferreira de Barros, ora como Antônio Ferreira da Silva, ora como Antônio Ferreira Magalhães. Natural da Serra do Surubim, ele andou pela Paraíba, voltou para Serra do Surubim, indo residir em Lagoa Seca (atual Upatinga), município de Aliança, na zona da mata de Pernambuco, e depois se mudou para o sertão, indo fixar-se nas fertilíssimas terras da Serra da Baixa Verde, onde comprou um sítio, duas léguas a sudeste de Triunfo, pouco acima de Medéia (atual Jatúca). Mudou-se mais tarde para Carrapicho, nos arredores de Vila Bela. Casou com uma moça do lugar Peru, na ribeira do São Domingos, chamada Maria Francisca da Chaga (dona Maria Chaga), tecedeira, crida pelo grande fazendeiro Manoel gomes, do São Miguel, e foi morar por algum tempo lá, no Peru, e depois na Situação.

Tiveram três filhos e duas filhas, retornando depois para Carrapicho e em seguida para região da Baixa Verde, passando a morar num sítio na Serra da Bernarda, ao poente de Triunfo.

O filho mais velho de Antônio Ferreira e Maria Chaga chamava-se João Ferreira Sobrinho, alcunhado de João Rola. Não se conhece maiores detalhes sobre ele, sabendo-se apenas que era almocreve.

O segundo filho foi José Ferreira (pai de Virgulino), nascido na serra da Bernarda. O terceiro chamava-se Venâncio Ferreira. Este, já adulto, se mudou para Juazeiro do Norte, onde botou uma venda (mercearia). Por motivos de doença, gastou tudo que tinha no tratamento e foi para Picos, no Piauí.

Além desses três filhos legítimos, Antônio Ferreira Lima teve ainda um filho bastardo com uma bela jovem de olhos azuis e cabelos ruivos, chamada Matilde, filha de José Ambrósio, um fazendeiro residente no Poço do Negro. Antônio Ferreira e Matilde se conheceram em São Francisco, ao tempo e que ele morava ele mora na fazenda Peru e fazia a feira naquela vila. Conversa vai, conversa vem, tiveram um filho, que recebeu o nome de Antônio José Ferreira e ficaria conhecido como Antônio de Matilde , ou simplesmente Antônio Matilde. Esse personagem viria a ter enorme influência na vida de Virgulino, seu sobrinho (...)”. (Transcrição na íntegra)

Bem, as informações constante no livro citado nos trazem uma José Ferreira de estatura mediana para baixa, que usava bigode aparado, tinha uma conversa mansa, meiga, porém sincera e direta. Nasceu em 1872 e foi batizado na capela de São Francisco tendo como padrinho Manoel Pereira da Silva Jacobina, o conhecido por Padre Pereira.

Os pais de Lampião

Reza a historiografia de José Ferreira ter sido um apaixonado por sua mulher muito antes de terem se casado. Para ver seu amor, José sempre passava na casa dos pais dela, como desculpa, e pedia água. Ela, claro, sabia disso e era quem corria em levar água para ele. Sabendo que Maria estava havia ficado noiva do rapaz chamado Venâncio Barbosa Nogueira alcunhado de Venâncio da Mutuca. Não tendo outra solução em vista, a ‘sede’ de José acaba e ele deixa de passar no terreiro da casa, e pedir água de Manoel Pedro, pai de Maria...
Um dia como outro qualquer, José por acaso encontra-se com Maria Lopes e ela cita o desaparecimento dele.

“- Zé Ferreira, o que foi que aconteceu que você nunca mais passou lá em casa?”

“- Nada não... – ele desconversou. – Eu soube que tu vais casar...”

“- Ia, Zé. Eu estou grávida, mas Venâncio não quer casar. Sabe como é: ele é filho de gente rica. Não sei o que vai ser de minha vida... Meu pai, quando souber, vai matar-me.”

Diálogo retirado do livro citado acima, com modificação na grafia.

Além de ser um cabra honesto, José Ferreira estava arriado os quatro pneus mais o de suporte pela cabocla do Pajeú. Não pensou duas vezes. Prontifica-se no mesmo instante em assumir ela e a gravidez. Sem se importar com o futuro. O que importava realmente, o que era importante naquele momento, era estar ao lado daquela mulher que balançou seu coração. E sem pensar diz:

“- Olha Maria, se você quiser caso contigo.” (modificação na grafia do monólogo)

Não deu outra. Naquele tempo, uma filha aparecer ‘buchuda’, grávida na casa de seus pais era uma desonra muito grave. Sabemos de casos ocorridos aqui mesmo, na Terra da Poesia, São José do Egito, PE, aonde os pais da moça a desprezaram e ela só teve o baixo meretrício como saída, para exercer a profissão mais antiga do mundo afim de sobreviver e dar assistência ao filho(a), exemplo: a poetisa “Severina Branca”. Severina, muito nova tinha um corpo bem feito, era muito bonita de rosto e tudo o mais. Vai que um rapaz da alta sociedade egipciense “transa” com ela e a engravida. Ela, com o desprezo que teve da família, procurou o cabaré local, usando seu corpo para servir de ganha pão e moradia e assim poder alimentar uma filha que nasceu.
Pois bem, voltando ao assunto de José Ferreira, o casamento ocorreu na Paróquia Senhor Bom Jesus dos aflitos, em Floresta, PE, aos 13 dias de outubro de 1894. Quem fez o casamento foi o cônego Joaquim Antônio de Siqueira Torres.

Com isso vimos, a saber, que o primeiro filho de Maria Lopes não era filho de José Ferreira. Portanto, o irmão mais velho de Virgolino, Antônio Ferreira, era só seu irmão por parte de mãe. Alguns autores citam esse fato como sendo o próprio fazendeiro a ter tido relações com Maria Lopes. Citam ainda que ela ganhou, pela gravidez inesperada e não assumida, uma parte de terra, sítio, denominado Passagem das Pedras, local aonde viveram os primeiros dias de casados e berço do nascimento de todos os filhos de Maria Lopes.

Com a continuação, os filhos cresceram e começaram as desavenças com o vizinho de propriedade. José Ferreira um homem do bem, como sempre, um apaziguador, vai à casa do pai de José Alves de Barros, o Zé Saturnino tido como primeiro inimigo de Lampião, o Sr. Saturnino Alves de Barros, pedir providência sobre o sumiço de algumas criações e que a pele das mesmas foram encontradas enterradas próximos a casa de um de seus moradores chamado Zé Caboclo. 

As relações entre as duas famílias sempre foram bem, tanto que a esposa do velho Saturnino, dona Alexandrina Honório Dantas, conhecida por todos como “Dona Xanda”, era madrinha de apresentação de Virgolino. As consequências sobre o desaparecimento das criações acabou dando no que deu. Uma briga de sangue.

Com todos os Ânimos acirrados, vendo a hora uma desgraça maior ocorrer entre seus filhos e o filho caçula de Saturnino Alves de Barros, José Ferreira resolveu mudar-se. Vende o sítio Passagem das Pedras por um valor bem abaixo do de mercado ao senhor Manoel Justino do Nascimento, o conhecido Néo das Barrocas, não chega nem a receber a quantia no total, e compra um sitiozinho no lugar chamado Poço do Negro.

As encrencas entre seus filhos e Zé Saturnino em vez de pararem, fazem é aumentar e este, agora, tendo o apoio de outras pessoas residentes próximos à próspera povoação chamada Nazaré, obrigam ao pacífico José Ferreira, mais uma vez, vender o que tem e partir novamente. Desta vez o patriarca daquela família destinou-se a procurar terras mais distantes, pensando assim em poder seguir sua vida e criar sua família na paz. Porém, o destino reservou outro destino para José Ferreira.

“(...) José Ferreira pensou inicialmente em mudar-se para a Baixa Verde. Porém, dona Maria Lopes considerava que o melhor seria mudarem para mais longe. Havia parentes dela em alagoas, na região de Inhapi, na Serra do Sobrado e em Santa Cruz do Deserto. Além disso, Antônio Matilde, irmão por parte de pai de José Ferreira, depois dos problemas com Zé Saturnino, tinha fugido para Alagoas e estava vivendo em Matinha de Água Branca sob a proteção do coronel Ulisses Luna. José Ferreira concordou com a mulher: iriam para Alagoas (...).” (Lima Irmão, pg 91, 2014)

Assim, mais uma vez, o velho roceiro arruma as tralhas em cima de um carro de bois, no lombo dos burros que fazia almocrevia, e parte em busca de um novo destino em terras alagoanas. Já tinham andado um bom pedaço de chão quando, já em terras da fazenda Poço Novo, “na ribeira do Riacho dos Mandantes, município de Floresta”, PE, a caravana se assusta a verem uns rapazes conhecidos das encrencas com Zé Saturnino. Eles dizem aos rapazes que não estão mais a ‘serviço’ e Zé Saturnino. Que estava indo pedir proteção a um dos coronéis acoitadores daquela região, Ângelo da Jia.

Depois de dias e noites de viagem, José Ferreira, ao chegar à fazenda Olho D’água de Fora, propriedade de Manoel Francelino, porém, alcunhado por Antônio Porcino, ergue as mãos para o alto e com seus olhos voltados para o céu, agradece a Deus. Ferreira não tinha mais a burrada completa para fazer seu serviço de almocreve, mas, mesmo com o pouco dinheiro que restava, pensava em retornar aos serviços e tocar sua vida pra frente, alugando, por enquanto, alguns animais... No entanto, precisava de grana urgentemente. Procura por pessoa conhecida, menos os parentes de sua esposa, para ver se conseguia fazer um empréstimo. Aos poucos começa a colocar suas atividades em dia.

Segundo alguns autores a primeira pessoa que José vai a procura e o padre Manoel Firmino, vigário de Mata Grande. Esse sacerdote era padrinho de crisma de seu filho Virgolino. Para vermos como são as coisas desse mundão de meu Deus: tenho certeza que a maioria das pessoas, sertanejas, nordestinas, brasileiras, não sabem o que é a Confirmação da Apresentação. Tão pouco seus pais, ou os idosos, preocupam-se em, pelo menos, lhes dizerem do que se trata, a época, amaneira de viverem e conviverem, não permite mais, infelizmente.

Bem, Ferreira recebe do vigário uma carta de apresentação que deveria entregar ao coronel Gervásio Luna, conhecido naquelas redondezas como Capitão Sinhô, que tinha como propriedades as fazendas Piedade e Chupeta. Esse dito cujo, o Capitão Sinhô, diz não poder dar cobertura a José Ferreira. Então escreve outra carta de recomendação para que o patriarca peregrine em busca do coronel Zezé Abílio. Esse coronel os acolhe e lhes dar total proteção.

Porém, como o destino é pré-marcado, as coisas, que iam de vento em popa, recebem um grande choque. Zé Saturnino, sabedor de onde estava José Ferreira e família, escreve uma carta com um conteúdo pesado:

“Quando Zé Saturnino soube da mudança de seus desafetos para Olho D’água de Fora, escreveu várias cartas para as autoridades e pessoas importantes de Água Branca, denunciando os irmãos Ferreira e Antônio Matilde como bandidos perigosos, assassinos e ladrões. Pelo menos quatro pessoas receberam tais cartas: o coronel Ulisses Luna e seu irmão Sinhô, a Baronesa de Água Branca e o comissário de polícia de Água Branca, Amarílio Batista Vilar (...).” (Lima Irmão, pg 93, 2014).

Ao tomar conhecimento do conteúdo da carta, ou das cartas, José Ferreira procura o delegado de Água Branca e expõe ao mesmo os ocorridos em Pernambuco. O delegado, vendo que Ferreira era homem de respeito, aceita e concorda, porém, avisa que nada pode fazer em relação ao comissário de polícia. O coronel Ulisses, que era um protetor de jagunçes, pistoleiros e cangaceiros, não deu tanta importância. Porém, a Baronesa começa a aperta o coronel e o comissário para que ambos tomem uma providência quanto aos ‘bandidos’.

Ocorrem vários incidentes depois de esses fatos acontecerem. Antônio Matilde perde a proteção do coronel Ulisses e o comissário, em “28 de abril de 1921”, começa a caça as bruxas terminando por prender João Ferreira, quando esse foi a Água Branca, para comprar remédios para sanar uma otite contraída por uma de suas sobrinhas, Lica, filha de sua irmã Virtuosa Ferreira que era casada com Luís Marinho. A coisa engrossa e os irmãos mais velhos de João, Antônio, Livino e Virgolino, ao saberem, veem para casa dos pais e terminam por darem um ultimato ao comissário de polícia. Por fim, depois de muita conversa e ameaças João foi liberado.

Depois desse ocorrido, muito triste, José Ferreira, depois de analisar o que aconteceu recentemente, sabe que não pode mais ficar naquela ribeira. Deixando a maioria dos filhos naquela casa, o casal, José e Maria Ferreira, levando com eles seu filho João, saem ainda na noite para procurarem um lugar aonde pudessem viver em paz. Segundo algumas informações de pesquisadores, a tendência de José Ferreira seria voltar para Pernambuco e irem morar em seu sítio na Baixa Verde. Ao ir fazer as contas com o dono da fazenda, Manoel Francelino, José Ferreira recebe a proposta de que ele seguisse até a fazenda de seu pai, Fazenda Engenho, mandasse os filhos mais velhos para algum local, e ficassem ali até resolverem com calma, seu destino. José aceitou de bom grado aquela sugestão.

No caminho, ainda próximo à fazenda Olho D’água de Fora, dona Maria Lopes tem um mal súbito e passa instantes desacordada à beira do caminho. Esse mal vinha ocorrendo com frequência de uns dias para aquela data, 30 de abril, num sábado.

Os donos da Fazenda Engenho, “Sinhô Fragoso e dona Totonha”, os recebe como manda o figurino. Diz dono da fazenda dizem que há três casas, uma ele mora, outra estava ocupada por um de sues filhos e a outra estava vazia. Que na vazia poderia se arranchar. Esqueceu, ou não quis dizer, que um dos filhos estava sendo procurado pela Força Pública das Alagoas por ter cometido um crime de morte e que o mesmo estava na fazenda.

José Ferreira deixa a fazenda e segue para Mata Grande a fim de comprar mantimentos. João segue para amarrar os animais no roçado. Nesse momento, após ter armado algumas redes, dona Maria Lopes vai até a casa sede prosear um pouco com dona Totonha. De repente, cai no chão da casa e o pessoal dana o grito pedindo que João corresse para acudir a mãe. Porém, quando o filho chega, mesmo botando o que tinha nas pernas, já encontra a mãe morta. Um dos moradores da fazenda passa a perna no lombo de um animal e sai em disparada para avisar José Ferreira que distava uma faixa de três quilômetros, meia légua. Sua esposa morreu, segundo o pesquisador José Ferreira Lima Irmão, aos 48 anos de idade, em 30 de abril de 1921, na sede da fazenda Engenho.

Os demais filhos veem para o sepultamento da mãe. Após esse, cada um volta para seu lugar, porém, José Ferreira e João tinham que permanecerem naquela fazenda, pois José estava a esperar um almocreve com seus animais, Zé Dandão, que deveria vir da Bahia. Para depois tomar outro destino, provavelmente, retornar ao Leão do Norte, para sua terra na Baixa Verde, onde já estavam alguns de seus filhos.

Os acontecimentos que narraremos a seguir, divergem de um autor para outro.

Em busca de uma narrativas sensatas, com altivez e de melhor compreensão fomos ao ‘açude’ de vários pesquisador , Antônio Amaury, Rual Meneleu no seu blog Caiçara do Rio dos Ventos, Clerisvaldo B. Chagas no seu blog clerisvaldobchagas.com e etc... E pescamos essas transcrições:

“MORTE DE JOSÉ FERREIRA (29 de junho de 1920)

Penúria...

O pobre do José Ferreira, com tanta coisa amarga e trágica sem trégua se sucedendo, ficou desatinado, abatido, sem gosto pra nada na vida, curtindo os penares da dor e da saudade e os sobressaltos de uma desgraça ameaçadora e iminente. Chamou os três filhos que continuavam ocultos, e lhes disse: — "Vocês aqui não podem mais ficar. Vão para Pernambuco que depois eu tomo o mesmo caminho". Não podia, de súbito, se afastar de perto da sepultura da finada esposa. Seguiram os três filhos para Espírito Santo do Moxotó, onde ficaram; trabalhando na propriedade de seu Terto. José Ferreira vendeu os dois burros para comprar roupa de luto para todos de casa.

A diligência do diabo...

Cartas do delegado de Água Branca — comprado por Zé Saturnino — ao Chefe de Polícia de Alagoas, carregando em cores os assucedidos mais recentes: a revolta dos Porcinos; a invasão de "perigosos bandidos" vindos de Pernambuco, onde cometeram "muitos crimes"; o caso do soldado Jagunço em Mata Grande; a desfeita à polícia em Água Branca quando ela, "com bons modos", procurou desarmar aqueles "criminosos bandidos", os quais ao depois desfeitearam o comissário de Paricônia;. um "bandido, ainda jovem, comprando armas"; "a ameaça e o terror ganhando as populações"... Alarmado diante de tudo isso, resolveu o Governo cortar pela raiz todos esses males. Para tal, determinou ao delegado de Viçosa, 2° Tenente José Lucena, famoso por excessos de severidade, fazer uma diligência por aquelas bandas conflitadas. Ao chegar em Água Branca, foi Lucena inteirado de tudo o que ocorrera. Inclusive por carta de Zé Saturnino tivera conhecimento do nome dos "três perigosos bandidos e criminosos": os irmãos Virgulino, Antônio e Livino, além de Antônio Matilde, que, armados, haviam descido do Navio para aquele município alagoano. De primeiro, dirigiu-se Lucena à fazenda Chupete, para perguntar ao Capitão Sinhô pelos irmãos Ferreiras. — "Despachei eles para o Coronel José Abílio, de Bom Conselho; não costumo ter bandido comigo" — descartou-se o capitão. Carecia não se inocentar. Lucena não ofendia coronel e protegido da política de cima. Mas somente cabra solto, isolado ou de grupo. Seguiu, então, Lucena, na pista deles, em direção de Santa Cruz do Deserto.*

* Da fazenda Chupete seguiu Lucena no sucaro dos Ferreiras guiado por Zé Batista Quirino e outros mais da mesma família. Zé Batista sabia exatamente paro onde se havia mudado o velho José Ferreira. Tinham os Quirinos transações com os Ferreiras em razão do carguejamento de mercadorias. A aproximação dos Ferreiras com os Marcos, inimigos dos Quirinos, levou estes à denúncia de traição. Além de seus soldados, compunham a tropa de Lucena alguns cachimbos, juntamente com Amarílio e os Quirinos.


O assassínio...

Na casa de José Ferreira, só tristeza. Tinha ele ido ao cemitério e não compreendia por que desta vez chorara muito mais do que das outras. Revelara aos filhos o que dissera à falecida, já na cova enterrada, que não havia mais sentido para ele continuar a viver. Queria ir pra de junto dela. Repassou, de minúcia e fagueiro, os bons tempos de antanho, de paz e ternura. Recordou particularmente a última festa; do Senhor São João, há dois anos atrás, em que a finada, tão bonita e saudável, tão vistosa e alegre, dançara com ele... Hoje, era ele mais morto do que ela morta! No dia seguinte, 29 de junho, terça-feira, precisamente 38 dias depois da morte de D. Maria Lopes, de manhãzinha, o tempo chuviscoso, ele com mais João e as três meninas fora adjutorar, como alugados, os trabalhos de um roçado vizinho, a modo de trazer para casa alguma coisa de ganho para o de-comer carecente. Voltara logo para casa José Ferreira, cansado e escanchado em Condave, trazendo dependurados, de cada lado das ancas do velho burro, dois sacos contendo quatro mãos de milho plantado em São José e colhido agora para o São João.*

* A mão de milho em Alagoas: 25 espigas não debulhadas; em Pernambuco: 50.

Ao chegar no terreiro de frente da casa, bem perto do lugar em que a esposa falecera, apeiou-se. Correram pressurosos e choramingando de fome os dois menores e lhe tomaram a bênção. Abraçou-os o pai, afetuosa e longamente, acarinhando e beijando. Em seguida tirou os sacos e derramou as espigas num balaio. De cócoras, apanhava as espigas, tirava a palha, que avoava para Condave comer. Debulhava o milho numa gamela para depois fazer xerém no pilão, facilitando assim o trabalho das meninas que, ao regressarem, era só preparar o angu. O qual dessa vez não seria comido puro. Tinha ele comprado um bom taco de carne de bode e um litro de farinha. O "café" (almoço) seria sustancioso.

Estava José Ferreira dessa maneira entretido quando, escornetando a concha da mão na orelha, ouviu um tropel. Com mais, estava sua casa cercada de soldados. A uma distância de três braças gritou Lucena para o velho José Ferreira: — "Cadê os seus três filhos bandidos?" Ferido em seus brios e honra, José Ferreira retrucou, com todo o desassombro e altivez, alto, firme e pausadamente: — "Não, sinhô! Bandidos, não! Meus filhos não são bandidos. Querem forçar eles a ser. Mas eles são é home!..." — "É assim que responde a um oficial, velho malcriado, cachorro da mulesta" revidou furioso Lucena.


E, sem mais, descarregou ele próprio a pistola no peito daquele pobre velho, pacifico e indefeso, que caiu, por estranha coincidência, ali, no mesmo chão onde falecera sua esposa. Na queda, de chofre e de bruços, por cima do balaio, o corpo esparramado, o braço direito estirado segurando na mão um cabucé, torceu o rosto de lado e balbuciou:

— "Coma... coma..."

Pareceu, nessa única palavra, que a derradeira preocupação de seu coração paterno era desafaimar 'as crianças. Elas, as crianças, apavoradas, dispararam, aos berros, por dentro do mato. Um soldado para agradar ao comandante deu na direção delas um tiro de fazer medo, provocando gargalhadas nos seus companheiros de selvageria. Lucena vasculhou a casa de Zé. Ferreira, encontrando de arma apenas um quicé!

Ao retirar-se notou dois homens ,vindo, desconfiados e irriquietos, na sua direção. Sem saber nem perguntar quem eram, ordenou uma descarga de fuzil, matando um e ferindo o outro, que correu. Uma senhora e u'a moça que vinham a certa distância ficaram levemente feridas. Não era ele o senhor absoluto da vida e da morte?!


Os dois eram o velho Fragoso e seu irmão Zequinha. Aquele, viúvo e dono da fazenda Engenho, onde, por caridade, cedera uma humilde casa de morador para José Ferreira ficar até que resolvesse seu destino. A senhora era a dona da casa e a moça sua filha. Atentando nos disparos, tinham ido ver, desarmados, o que acontecia, sendo seguidos pelas duas mulheres.*

* É absolutamente autêntica, _ com todos os seus pormenores, a descrição. 'assassínio doi. pobre; manso e indefeso velho José Ferreira., assim como das outras circunstâncias. Em vez de debulhando milho, alguém fantasiou José Ferreira tirando leite de uma vaca ...

Vezo da polícia, para justificar seus crimes: alegar que houve "resistência". Assim fez Lucena: O cúmulo do grotesco: o alquebrado velho José Ferreira enfrentando sozinho uma formidável volante e "tiroteiando" com uma quicé, isto é, com um toco do facas Quando João Ferreira, filho da vítima, em entrevista, usou a palavra "tiroteio", entendeu dizer que houve tiros de um lado, o da volante.

Quase profético o Padre Epifânio Moura, vigário de Água Branca: — "Esse crime vai trazer muita desgraça para o sertão". O povo: — "Mataram dois cidadãos de bem só pru gosto de matar!" — "É do esperar que não fique nisso, não". E, de fato, o povo não se enganou. Tão revoltante crime lançou Virgulino e seus irmãos no cangaço. Criou Lampião! A situação piorou. Diante do ressurgimento do cangaceirismo, agora em forma diferente, recrudescido e desafiador. Chamou o Governador alagoano aquele homem de sua confiança, o único, a seu ver, que enfeixando poderes absolutos e indiscriminados, poderia liquidar, de um golpe, todo aquele mal, muito embora enegrecendo o seu nome e o da História. Este homem: — Segundo Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão. Esteve confabulando no Palácio do Governo, em Maceió, no dia 4 maio de 1921. Depois destituído da delegacia policial de Viçosa, iria com carta branca, acabar com o banditismo em todo o estado. E assim e vexado com uma poderosa volante de vinte e quatro homens, deixaria no dia 10 de maio, a cidade de Palmeira dos Índios “na direção do sertão.” A ação repressiva de Lucena chegou a ser "desumana", conforme ele próprio reconheceu. (Cfr. Adendo ao capítulo 45.)

A desolação da abominação! *

Alarmados pelos tiros, João Ferreira e as três irmãs abalaram para casa.

No maior desespero reviraram o cadáver, fecharam-lhe os olhos e o conduziram para dentro de casa. — "Mas, cadê Ezequiel e Anália?" — "Onde estavam escondidos?" — "Ou será que foram roubados?" — perguntavam-se angustiados uns aos outros, noutro desespero somado. . Feito loucos, saíram João e Angélica às procura deles, chamando-os repetidamente com toda a força dos gritos. Encontraram, enfim, os coitadinhos, com bem cem braças, num estado horrível, assombrados e atordoados, rasgados dos espinhos e tocos de pau, sujos de terra, quase sem mais falar de tão roucos, caídos no chão, semimortos de fome e pavor! Tragédia de rara concepção ou de difícil visualização nesse quadro desumano de miséria e barbaridade! — "Pareciam (as crianças) dois filhotes de ema perdidos no mato, piando de fome!..." Atirados os irmãos aos ombros, retornaram às pressas. No entanto, o grave da situação era que ninguém cia vizinhança, com medo de Lucena, queria se aproximar, para amortalhar e sepultar as vítimas. João Ferreira mandou comunicar o triste acontecido ao delegado de Mata Grande, Maurício de Barros** que atendeu prontamente e pessoalmente veio ao local, providenciando, por sua conta e risco, o enterro, mas de um modo tão atabalhoado, dadas as circunstâncias de terror, que João Ferreira nem viu quando os corpos, altas horas da noite, candeeiro aceso na frente, foram levados! - "José Ferreira também era filho de Deus e não bicho para os urubus..." — dissera Maurício, essa destemida autoridade e mais tarde integrante da polícia pernambucana. Sem que, ninguém da família assistisse, José Ferreira foi sepultado numa cova do cemitério de Mata Grande, na manhãzinha do dia 30 de junho de 1920, a última quinta-feira do mês.***

Unidos à mesma gleba do Pajeú, que os viu nascer, unidos numa vida de vinte e seis anos de amor conjugal; unidos ao mesmo chão do Moxotó em que expiraram o último alento, deveriam seguir o mesmo destino de continuar diante de Deus.

* Naquela época, culto sacerdote-vigário, corajosamente vergastou do púlpito e censurou severamente, condenando esses abomináveis fatos, tomando por tema de confronto as Sagradas Escrituras no famoso texto, cap. 9, v. 27, do profeta Daniel": — "O maldito Coronelismo, simbolizado no deus pagão-político, prepotente, cruel e desumano foi erigido sobre o altar da Justiça — divina por natureza — sob à qual procuravam se abrigar os humildes e ofendidos, os pobres e fracos, cuja vida é um perpétuo holocausto de seus direitos sagrados! Profanação, na linguagem bíblica chamada de "abominação da desolação" ou desoladora e horrorosa abominação".

**. Maurício Vieira de Barros. Lampião, a 29 de novembro de 1930, o prendeu juntamente com um soldado, nas Negras (Aguas Belas), quando ainda estavam deitados e dormindo. Levou-os presos até Pau Ferro (hoje Itaíba) município de Águas Belas. A porta da casa de Maurício, disse Lampião: — "Vou matar o soldado. Você não, porque lhe devo um grande favor: enterrou meu pai! Lhe poupando a vida, paguei a dívida. Se continuar a me perseguir e eu lhe pegar você não tem jeito, não. Morre, visse?!" Apesar das súplicas de Maurício, Lampião matou ali mesmo o soldado e soltou o prisioneiro. Maurício havia verificado praça na Polícia Militar de Pernambuco, chegando a ser sargento. Foi comandante de volante. Era perverso, cometendo muitos crimes. Etelvino Lins, Interventor do Estado, expulsou-o da polícia. Chamava a atenção seu bigodão, Ainda vive com seus noventa anos.

*** Defronte da igreja de Santa Cruz do Deserto visitou o autor deste livro um velho, em sua casa, o qual ajudou no enterro e, sem registro de óbito, no sepultamento de José Ferreira em Mata Grande, território da jurisdição policial do delegado Maurício Vieira de Barros. O nome do velho, o autor não guardou, mas tem como testemunhas o Dr. Tarcísio de Freitas então engenheiro chefe do DNOCS, emt Palmeira dos Índios.”
Em uma versão um tanto diferente, Antônio Amaury e Clerisvaldo narram assim a morte do almocreve:

“Quem matou José Ferreira, pai de Virgolino, foi o volante Benedito Caiçara, intempestivamente, sem saber nem quem ele era, na hora da invasão a casa. (Essa versão é sustentada por uma das maiores fontes do cangaço que nos pediu para que não colocasse o seu nome, por motivo de amizade com a família de Caiçara). Por essa digna e insuspeita fonte, confirmada pelo saudoso batedor da tropa de Lucena, Manoel Aquino, homem de bem, que ouvira de seus colegas de farda. Como era um homem de princípios, Lucena recriminou duramente a Caiçara, mas assumiu a morte do senhor José Ferreira, uma vez que se achava responsável pelos atos dos seus comandados.

Existe uma versão que diz que o volante Caiçara fora duramente recriminado pelo comandante, teve sua farda rasgada, levado uma surra e expulso da polícia. A mesma fonte inicial, que tinha fácil acesso a ambos, diz não conhecer essa versão. E que o soldado Caiçara era perverso, mas Lucena gostava muito dele. Depois da polícia, Caiçara passou a ser sacristão do padre Bulhões e não antes. Ainda como volante Benedito matou a pedradas um dos irmãos Porcino (José) ferido, em uma das diligências de Lucena, e que nunca pertencera ao bando. (Ver adiante e no último capítulo, o fim de Caiçara).

Quanto à morte de Luís Fragoso, é sabido por todos, que Lucena não gostava de colecionar prisioneiros. Ladrões em geral, especialmente ladrões de cavalos, assaltantes, desordeiros, perturbadores da ordem pública, muitos foram executados em cova aberta. A ordem para limpar o Sertão já vinha de cima (Autores).

Na morte de José Ferreira não houve combate. Os três filhos mais velhos não estavam presentes. O depoimento de João e de Virtuosa são bem claros, explanados por Vera e Amaury.

Na versão de Bezerra e Silva, houve forte tiroteio na fazenda Engenho. Além da morte de José, ficou ferido Antônio Ferreira, na perna. Os Ferreira juntaram-se aos Porcino, conduziram Antônio numa rede e com um grupo de 25 homens, partiram para Pernambuco, pernoitando na vila Mariana. Pela manhã viajaram.

Lucena chegou à vila, tachou seus habitantes de coiteiros; os soldados ocuparam as ruas praticando absurdo e o comandante ainda andou seviciando pessoas (...).”

·Do livro “Lampião em Alagoas”, pág. 98-99.

Na Referências e Notas de seu livro “Lampião, Entra a Espada e a Lei”, o autor Sérgio Dantas se refere assim ao acontecimento:

“(1) Já Antônio Amaury e Vera Ferreira, in “De Lampião a Virgolino”, atestam, com base unicamente em depoimentos de João Ferreira e Maria Ferreira de Queiroz, ambos irmãos de Virgolino Ferreira e filhos da vítima fatal – que a morte de José Ferreira se deu por que José Lucena e Amarílio Batista estavam apenas perseguindo o bandido Luiz Fragoso. Assim, ainda segundo os autores citados, a polícia teria ido procurar o fugitivo na casa de seu pai, e, por azar, José Ferreira ali se encontrava, sendo friamente assassinado. O que nos chama atenção é que – segundo a tese defendida pelos autores acima referidos – a vítima fora arrastada a um cômodo da casa e executado pelo tropa do sargento José Lucena. Neste ponto, é importante por em relevo as informações no processo-crime instaurado em 1921, na Comarca de Água Branca. O documento judicial, em vários pontos, refere-se à perseguição policial a Antônio Matildes e seus homens, dentre os quais Virgolino e irmãos. A perseguição feita a Luiz Fragoso é citada nos autos apenas de passagem, e como consequência de uma pista obtida por Lucena durante a perseguição ao bando de Antônio Matildes. De efeito, ainda hoje, os habitantes mais velhos da localidade sustentam integralmente a versão contida no processo judicial.”

E assim, procuramos relatar e transcrevermos as narrativas sobre a morte de José Ferreira, O Pai de Lampião.

As imagens do monumento, pedestal e placas, em homenagem a tão ilustre pessoa, José Ferreira, uma pessoa que sempre procurou a paz, o bem e a harmonia vemos abaixo. Capturas realizadas pelo olho afiado atrás das lentes do pesquisador, historiador autor de inúmeras obras literárias sobre a saga cangaceira, principalmente no que diz respeito ao cangaço lampiônico, nosso amigo, Sérgio Dantas.

Sérgio Dantas nos informou que a cruz, o monumento, não fica exatamente aonde era a casa da fazenda Engenho, local do assassinato de José Ferreira. Ele, o monumento, foi erguido distando uns 50 a 60 metros do local exato onde ficava a casa que se deu o fato. Colocaram-no na beira da estrada, acreditamos para melhor ser visualizado pelos transeuntes.

Foto
Blog Caiçara do Rio dos Ventos
Pesquisador/historiador Sérgio Augusto de Souza Dantas

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