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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Livro "Lampião a Raposa das Caatingas"


Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.

Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.

O autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.
Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.

Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.
O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345

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Luiz Ruben F. de A. Bonfim
Economista e Turismólogo
Pesquisador do Cangaço e Ferrovia

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HISTÓRIAS ANTIGAS

Por Rangel Alves da Costa*

Ainda meninote, assim que amanheceu entrei num dos quartos de casa e aí encontrei, sentada numa cama, uma mocinha cabisbaixa e um tanto envergonhada. Não a conhecia, nunca a tinha avistado nem como visita nem como amiga da família. Então resolvi perguntar a Dona Peta, minha mãe, de quem se tratava.

“É uma moça que Dero roubou e trouxe para esconder aqui, até que seu pai converse com a família dela e resolva a situação”. Era realmente costume que os rapazes roubassem as moças quando os pais delas não aceitavam de bom gosto o namoro ou não aprovavam de jeito nenhum o romance matuto.

Ante o problema surgido, com pretensões de casório, então o rapaz planejava retirá-la de casa às escondidas, na calada da noite. Dizia-se, assim, que ia roubar a escolhida do coração. Para evitar qualquer desconfiança e o plano fosse por água abaixo, a mocinha juntava somente umas poucas roupas numa bolsinha e fingia que ia dormir. Em hora acertada, ela saia pé ante pé, cuidadosa como uma pluma, e se dirigia até a porta dos fundos. Num canto ou no outro lado carca, o cabra estava aflito esperando.

Assim aconteceu diversas vezes. Roubava-se a moça e amanhecia à porta de um líder político ou pessoa de renome, contando a situação e pedindo guarida até que a fornalha dos embrutecimentos se transformasse em cinzas. Pedia guarida ao político, principalmente prefeito, por duas razões principais. O pai da mocinha ia pensar duas vezes em invadir a casa e retirar à força a filha. E também porque a liderança possuía poder de influência para resolver a situação da maneira menos conflituosa possível.


Mas não foram poucas as vezes que a mocinha, por conta própria, resolveu deixar o apaixonado chupando dedo e voltar para casa. E não havia que se falar em desonra, pois àquela época só se chegava ao bem-bom depois de juntado os panos ou colocado aliança no dedo. Assim, virgem a mocinha havia sido roubada e virginal retornava ao lar familiar, e sempre sabendo que não estava livre de tomar uma boa surra para deixar de ser desavergonhada.

“Ora quem já se viu uma moça de famia fugino de casa no meio da noite e com um cabra que num vale um tostão furado”, dizia o pai, antes de pegar a taca de couro e dar umas boas relepadas na filha. E ela, na firmeza sertaneja, apenas sentia o corpo ser lanhado, porém sem dar o gosto de um ai ou uma lágrima sequer. Depois a mãe acorria para chorar todas as dores que a filha havia se negado a chorar. Sempre assim com as mães.

Casar desvirginada era coisa raríssima naqueles tempos. Ao menos para as moças que viviam sob as rédeas familiares, e que eram muitas. Namorar só se fosse na casa dos pais, em duas cadeiras de mesa, um tanto separadas, com os dois sentadinhos comportadamente. Nada de beijo, de abraço, de passar a mão pela perna. Impossível qualquer proximidade maior, pois a mãe sempre sentada, costurando ou fazendo renda, bem defronte aos dois. Por isso que quando se noticiava uma “gravidez de moça virgem” o mundo parecia que ia acabar. Era falatório pra mais de ano.

Certamente que havia aquelas mais desavergonhadas que namoravam nos escondidos, por detrás dos muros, nas beiradas do riachinho, até mesmo por dentro do mato ou nas proximidades do cemitério. Mas a vigilância dos pais produziu consequências hoje impossíveis de acontecer. Num tempo de honra, de respeito, o rapaz viajava em busca de dias melhores no sul do país e deixava sua namorada ou noiva esperando. Passava um, dois anos, e ela virtuosamente o aguardando como uma Penélope a seu Aquiles.

Hoje os tempos são outros, muito diferentes, desavergonhados, pecaminosos e adulterinos. Muitos não namoram mais, apenas “ficam” ou se se conhecem por dentro, outros se banqueteiam das promiscuidades e devassidões. Traição de casais nem se fala, pois mais parecendo modismo. E o que resta mesmo é recordar de um tempo onde a moça se vestia de luto eterno quando o compromissado se despedia da vida sem tê-la levado ao altar.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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TESTEMUNHA DE LAMPIÃO EM AURORA.

Por José Cícero

Com o saudoso e nonagenário Sr. Joaquim Branco(foto) - uma das últimas pessoas que avistou Lampião em Aurora no ano de 1927 em passagem com seu bando pelo riacho das Antas. 

Um mês após esta entrevista Seu Joaquim faleceu aqui em Aurora - CE. Seu depoimento é uma relíquia que conservamos para à posteridade, bem como para os anais da história lampiônica no Cariri cearense e alhures. Depoimentos inéditos que também integrarão o meu novo livro: 'Lampião em Aurora: antes e depois de Mossoró'. 


Fonte: facebook
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste
Link: https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?fref=ts

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NOVO LIVRO DO ESCRITOR SABINO BASSETTI - LAMPIÃO O CANGAÇO E SEUS SEGREDOS


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O Livro custa apenas R$ 40,00 (Quarenta reais) com frente já incluído, e será enviado devidamente autografado pelo autor, para qualquer lugar do país.
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DR. FLORO BARTOLOMEU DA COSTA ( Série: Grandes artigos)

Por: (Fernando Maia da Nóbrega)

I – A CHEGADA

Em princípio de maio de 1908 (01), dois homens montados a cavalos e puxando duas burras, carregadas com apetrechos, sob um sol escaldante, cruzaram as ruas empoeiradas de Juazeiro e pediram informações sobre onde morava o padre Cícero. Um chamava-se Floro Bartolomeu da Costa e o outro Adolfo Van den Brule. Diferentemente da maioria dos emigrantes em busca dos milagres ocorridos na cidade, os dois forasteiros vinham com o objetivo declarado de explorar as “minas de cobre do Coxá”, pertencentes ao sacerdote, localizadas na cidade de Aurora. O primeiro era um médico baiano e o segundo, um francês, engenheiro de minas, intitulado de Conde. Este fixou-se na cidade definitivamente, constituiu família e se tornou amigo íntimo do sacerdote. Já o doutor Floro, de simples ádvena, com o correr dos anos, transformou-se no comandante dos destinos políticos da cidade por quase duas décadas consecutivas.

Nascido em Salvador, Bahia, a 17 de agosto de 1876, sendo filho legítimo de Virgilio Bartolomeu da Costa e de dona Maria Josefina da Costa de Jesus Batista (02), recém-formado em medicina, clinicou em Patamuté, município de Capim Grosso e depois em Vila Ventura, distrito de Morro do Chapéu. Foi no primeiro povoado que conheceu o conde Adolfo Van den Brulle, do qual se tornou sócio na exploração do garimpo local. O êxodo da dupla para o sul cearense não foi única e exclusivamente o intuito de explorar as minas do Coxá, porquanto seria trocar o certo pelo duvidoso. Há indícios que o motivo tenha sido a fuga da justiça ou o medo da vingança, em razão de um assassinato praticado pelo doutor na cidade baiana. Há duas versões sobre o a motivação do delito praticado. Em uma, Floro Bartolomeu se defende, alegando legítima defesa ao ser agredido por um garimpeiro; noutra fala-se em crime passional, posto ter o médico se apaixonado pela primeira esposa do conde, dona Albertina e tendo, por essa razão, morto um Don Juan local que cortejava a condessa. (03).


O primeiro encontro entre o padre Cícero com os dois recém-chegados teve um caráter estritamente comercial no tocante à exploração das minas do Coxá, grande parte pertencente ao sacerdote. Embora exercendo a medicina, Floro era advogado provisionado e orientou ao reverendo sobre a necessidade da demarcação judicial com o intuito de assegurar legalmente a posse da terra. Coube aos visitantes essa incumbência. Nascia um forte vínculo de amizade entre o padre Cícero e doutor Floro que duraria quase vinte anos. Foi a união perfeita de duas pessoas que se completavam. Um era a luva; o outro, a mão.

II - FIXANDO-SE NA CIDADE.

O padre Cícero foi muito além de um simples anfitrião para o doutor Floro: foi o pai que recebe de braços abertos o filho pródigo. Deu-lhe casa, comida e emprego. Afagou-lhe o ego a tal ponto de mandar fazer calça e paletó de linho e presentear, de surpresa, ao médico que usava uma só vestimenta rota e velha.

Por seu lado, Floro que havia saído de sua terra natal no mínimo em situação embaraçosa, encontrou em Juazeiro a boa semente para seus sonhos. Em troca da receptividade, defendeu com unhas e dentes através do jornal o Rebate, as críticas deferidas pelo bispo interino D. Manuel Lopes, quando em visita ao Crato, dirigidas ao povo de Juazeiro.
Abraçou ao lado do padre Alencar Peixoto, José André de Figueiredo, major Joaquim Bezerra de Menezes, José Marrocos e outros a causa da independência administrativa do distrito em relação a Crato.

Sua residência tornou-se ponto de encontro de políticos e pessoas da alta sociedade juazeirense. Lá eram realizados saraus literários com leitura de poesias e músicas. Os serões varavam a madrugada onde a boa prosa e piadas divertiam os participantes.

Tratando as pessoas com delicadeza e atenção, logo despertou a confiança de todos, a ponto de tornar-se padrinho de “São João” de muitos garotos da cidade. É bom realçar que na cultura nordestina daquela época existiam dois tipos de batismo: na pia batismal e na “fogueira de São João”, ambos com relevante expressão social. Se cabia ao Padre Cícero ser o padrinho oficial com aspersão de água, era do doutor a preferência sobre a labareda de fogo. O compadrio era levado a sério criando forte vínculo entre as partes envolvidas. (04) 

Tornou-se de imediato o médico particular do padre Cícero e abriu uma farmácia na rua São Pedro denominada “Ambulância de Dr.Floro”, local onde fazia pequenas cirurgias e receitava gratuitamente as pessoas desvalidas de recursos. (05) Pouco a pouco doutor Floro foi consolidando sua imagem de homem prestativo, caridoso, amigo incondicional do padre Cícero e defensor da cidade.

III - O POLÍTICO.

É evidente que o sonho de ser prefeito do novel município, quando veio a independência, havia povoado a mente do doutor Floro. Porém, como homem prático fez, de pronto, uma análise da conjuntura, esboçou o retrato dinâmico da realidade local e do período, e foi além das aparências, deduzindo haver pouquíssimas chances de ser o escolhido por simples razão: era um adventício! Faltavam-lhe tanto as raízes genealógicas na região, quanto a posse de propriedades, qualidades exigidas então pela cultura da época.

Arguto, sutil, engenhoso, Floro tinha plena consciência que era alter ego do padre Cícero e sendo conhecedor da inabilidade do venerando para situações práticas e técnicas do dia a dia, posto dedicar-se total e exclusivamente da parte pastoral, viu a oportunidade de tornar-se o senhor absoluto da política local usando o sacerdote! Sendo o braço direito do padre certamente conduziria o destino político da cidade em tendo-o como prefeito! Para tanto, teria de eliminar os pretendentes ao cargo afastando algumas pessoas formadoras de opinião que circulavam em torno do reverendo. E foi assim que passou a agir.

Seu primeiro e grande empecilho foi José Marrocos, sem sombra de dúvida, o amigo mais íntimo do reverendo e nutridor de clara antipatia ao médico baiano, a ponto de chamá-lo de aventureiro. Padre Azarias Sobreira o define o seminarista da seguinte forma:

“(...) era um grandioso abolicionista cearense, jornalista experimentado, professor de profissão, teólogo da questão religiosa local e, além do mais, alvo de rasgada estima de Alencar Peixoto (...)” (06).

Após pequeno incômodo, decorrente talvez de uma pneumonia, Marrocos foi medicado pelo doutor Floro vindo a falecer em 14 de julho de 1910, gerando a suspeição de envenenamento perante o povo.

No campo político, dois adversários deviam ser removidos: padre Alencar Peixoto e José André de Figueiredo. Quanto ao primeiro, devido à virulência e gênio atribulado, logo se afastou do convívio do reverendo; ao segundo, Floro divulgava inverdade e estimulava intrigas com políticos adventícios.

Em 1911, como nome de consenso, padre Cícero tornou-se o primeiro prefeito da cidade, ficando com doutor Floro a presidência da Câmara de Vereadores.

A construção do raciocínio do doutor fora perfeita. Nomeado prefeito, padre Cícero entregou-lhe o destino da cidade! Floro de imediato fez modificações na localidade. Providenciou a coleta sistemática do lixo e pavimentou algumas ruas, embora cobrasse dos proprietários das casas certo valor por metro de calçamento e arbitrariamente destinava a si as receitas provenientes da arrecadação:

“(...) e pagando aos empreiteiros apenas a metade das mencionadas quantias.

A outra metade ele embolsava em pagamento de seu trabalho de administrador de tais obras. (“...)” (07).

De tal forma Floro apoderou-se da prefeitura que levou ao padre Cícero afirmar:

“Sôbre o governo do município eu nada sei: quem faz tudo é o Doutor Flóro” (sic) (08)

Em 1913 comandou a revolução que depôs o governador do Estado, Franco Rabelo, ocasião em que foi eleito presidente da assembleia, reunida em Juazeiro, assumindo, logo após, o cargo de governador até março de 1914.

Na primeira eleição após a emancipação do município foi eleito deputado estadual para o biênio 1915\16. Reelegendo-se para os anos 1917\1920. Caracterizou-se como parlamentar combativo nos interesses de Juazeiro e temido por seus pares.

Também exerceu o cargo de deputado federal por dois mandatos; 1921\1924 e 1925\1926. Repeliu corajosamente a injúrias cometidas ao padre Cícero pelo deputado Paulo Morais e Barros.

Em 1925, o presidente da República Arthur Bernardes encarregou Floro Bartolomeu, na época deputado federal, de defender o Ceará dos ataques da Coluna Prestes. Tem-se, então, uma ideia do prestígio do doutor em escala nacional.

A fama de tirano, déspota, extrapolava as fronteiras do Juazeiro. Na Assembleia Legislativa do Ceará Floro Bartolomeu era denunciado por mortes acontecidas na cidade do padre Cícero. O deputado Godofredo Maciel defendendo o colega juazeirense assim se pronunciou:

“Só pode extinguir bandido, matando bandido!”
Martins Rodrigues, outro membro da Assembleia, retorquiu:
-“Nesse caso, o Floro deve suicidar-se.” (09).

IV – COMPORTAMENTO MÓRBIDO

Quais os fatores que levaram o doutor Floro a modificar tão bruscamente seu modo de ser e agir? Do homem polido, tratável, festeiro e amigo, foi-se transformando, dia a dia, numa pessoa ríspida, bruta, insociável e perigosa!

Amália Xavier atribui essa mudança comportamental a dois fatores. O primeiro, decorrente de uma doença, a osteíte, causadora de sua irritabilidade a todo o momento. Num segundo plano estaria o poder adquirido pela sua ascensão política, transformando-o num déspota.

O historiador Irineu Pinheiro, seu amigo particular, mostra essa modificação na personalidade do Floro:

“[...] “mas com o tempo com as lutas que teve de sustentar, se lhe foram aos poucos acidulando o caráter até atingir-lhe o estado da alma as raias de extrema irascibilidade, de nítida morbidez”(10)

Mas não devemos deixar de lado a propensão do médico às crises de explosões de temperamento desde sua saída da Bahia onde cometeu um crime independente do motivo que o levou a ceifar a vida de um homem. Esse fato, em si, já denotava o espírito bélico existente desde cedo. Se conseguiu ocultar seu mórbido temperamento sob a pele de cordeiro, quando aqui chegou, é porque se fazia necessário numa terra estranha. Como bem frisou padre Azarias Sobreira:

“Para ele pesavam, mais do que tudo as vantagens políticas imediatas” (11), Enfoquemos essa transformação psicológica do doutor Floro nos seguintes campos:

a) O Criador e a Criatura

O próprio padre Cícero foi vítima dos impulsos coléricos do médico baiano. Certo momento, durante a revolução de 1914, Floro insistia em fazer saques nas cidades vizinhas para poder sustentar a tropa. Padre Cícero ao discordar foi acintosamente confrontado:

“Ou faz assim, ou vou-me embora, deixando Você nesse cipoal” (sic) 12.

Noutra ocasião ao ser contrariado pelo padre Cícero quanto à prisão injustificada de pessoas por serem apenas amigas do seu adversário político Zé Geraldo, Floro respondeu-lhe aos gritos:

--(...) “Você é um Padre Velho besta”! Quem entende de política sou eu! Trate de seus romeiros bestas e não me azucrine a paciência, que padre para mim é m. (13).

O domínio do doutor sobre o Patriarca foi cada vez mais absoluto e crescente. Chegou a transferir coercitivamente o padre Cícero para um pequeno quarto ao lado da cadeia municipal, alegando que a residência do reverendo era insalubre. E, por duas vezes em público, proibiu o padre Cícero de realizar suas vontades.

Certa feita, cansado do seu cativeiro, quis visitar uma pessoa amiga. Quando pôs o pé no estribo do carro ouviu os gritos do Floro que se aproximava:

-“Volte padre; não vai não!” (14).

Doutra feita, quis visitar a Serra do Horto. O farmacêutico Zé Geraldo da Cruz providenciou um transporte para levar o sacerdote e quando padre Cícero entrou no carro, o médico simplesmente o puxou pelo braço e ordenou:

-“Não vai!” (15) 

O padre Cícero já não possuía vontade própria fora de sua área religiosa; Floro era o mandachuva local.

b) O Coronel

Senhor absoluto do baraço e do cutelo doutor Floro tornou-se o Luiz XIV regional e se apoderou da frase "L'État c'est moi!” Desrespeitava a todos e a tudo se sentindo a cima da moral e da lei. O povo lhe dera a delegação de representá-lo como deputado, porém, ele estendeu esse poder agregando o de delegado, promotor, juiz e déspota supremo da cidade. Sem a devida competência legal, o deputado tomou as seguintes providências em alguns casos mais notórios:

I – Tendo o padre Cícero recebido um touro da raça zebu, presente de Delmiro Gouveia, entregou o animal aos cuidados do beato Zé Lourenço, morador do sítio Baixa da Anta. Diferente do gado mestiço existente na região e principalmente por pertencer ao padre Cícero, o touro foi tratado com carinho especial. Além de capim novo, era banhado com frequência e ornamentado com laços e fitas. Não custou muito para que o povo acreditasse que o “Boi Mansinho” operasse milagres através de sua urina e fezes. 

Criticado pela imprensa, Floro prendeu o beato Zé Lourenço e alguns seguidores, mandou executar o animal, distribuiu a carne à população e no almoço destinado aos presos havia bife extraído do boi.

II - Os penitentes, conhecidos como Corte Celestial, era um grupo constituído por pessoas que acreditavam ser a reencarnação de santos católicos e perambulava pelas ruas cantando ladainha e entoando cânticos religiosos. Sob a suspeita de haver agredido um homem, Floro mandou prender todos e deportou alguns membros do grupo. 

III – Ele reuniu em Juazeiro os mais famosos cangaceiros de Pajeú de Flores e Riacho do Navio, Pernambuco, formando um verdadeiro exército para a deposição do governador do Estado major Franco Rabelo. Percorreu do sul do Ceará até Fortaleza, espoliando e matando adversários na chamada “Revolução de Juazeiro”.

IV – Comandou o “Batalhão Patriótico” onde arregimentou 1.200 cangaceiros e combatentes para enfrentar a Coluna Prestes.

V- Em 1925, mandou executar sumariamente ladrões e malfeitores. Eram indefesos ladrões de galinha retirados da cadeia à noite e executados na rodagem ligando Juazeiro a Crato, chegando a número superior a 70!

“(...) Foi ordenado o fuzilamento de dezenas de homens nem sempre os acusados de crime de morte ou roubos e isto trouxe revolta ao povo que se escandalizou com as barbaridades cometidas(...)” (16).

VI - Ao denunciar as barbaridades praticadas por doutor Floro, o hebdomadário ”O Ideal”, pertencente a José Geraldo da Cruz, foi empastelado e seu editor teve que se mudar para Crato sob pena de ser assassinado! 

c) Casos Famosos

Uma faceta que deve ser desmitificada do doutor Floro é a pecha de valente. Seria mesmo Floro um homem de coragem comprovada, intimorato, ou simplesmente uma pessoa poderosa capaz de se fazer temido pelo poder absoluto que detinha e pelas maldades praticadas?

Ao analisarmos miudamente algumas atitudes do doutor, veremos que muitas vezes se esquiva das situações difíceis, adoece nos momentos de luta e noutras se acovarda. Deduzindo-se, então, que Floro era frio analista e passava ao arrepio do perigo iminente e evitava confrontos que não lhe eram propícios. Eis alguns casos:

I - Quanto à imputação sobre os “Crimes da Rodagem” defendia-se dizendo que apenas deixava a polícia agir...

II – Ao comandar o “Batalhão Patriótico” que enfrentou a “Coluna Prestes” ao passar por Campos Sales, Floro adoeceu. Geraldo Menezes Barbosa assim comenta:

“(...) os 2 mil homens do Batalhão Patriótico deslocavam-se à cidade de Campos Sales sob o comando do Dr. Floro. Durante a viagem o valente líder sentiu-se doente e logo agravado na sua enfermidade, sendo obrigado a voltar a Juazeiro, porém comandando seu Batalhão à distância. (...)” (17). (sic)

III – Durante a “Revolução de Juazeiro”, ao invadir Barbalha, Floro determinou que não houvesse nenhuma algazarra em virtude do prefeito ser amigo do padre Cícero. Ficando os revoltosos embaixo de uma frondosa tamarineira, Floro com dois auxiliares se dirigiu à prefeitura. Ao confabular com o chefe da municipalidade, Floro ouviu tiros provenientes do local onde ficaram os revoltosos. Inconformado com a desobediências da ordem anteriormente dada, dirigiu-se ao local, apeou-se do cavalo, colérico, com uma chibata em punho gritou: 

“_ Quem foi quem deu o primeiro tiro?”

Após estupefação geral, um silencio sepulcral, morno, tenso, tomava conta do grupo.

Repetiu Floro:

-“Quem foi o cabra sem-vergonha que deu o primeiro tiro?”.

Após alguns instantes de tensão, um vulto assomou à frente do chefe e disse sereno: 

-“Seu doutor não foi um cabra sem-vergonha que deu o primeiro tiro. Quem deu o primeiro tiro foi um de bem. Fui eu!” (18).

Era a voz firme de Canuto Reis.

Inconformado com a desobediência, Floro dirige-se a Canuto Reis com o objetivo de lhe tomar o rifle de suas mãos. O revoltoso dá um passo atrás e diz com firmeza:

_ “Seu doutor, se vosmicê passar o pé daí prá diante, por Deus que nos ouve, a tora de cima cai primeiro que a debaixo” (19) (sic).

Acovardado ou aconselhado por amigos, Floro deu meia volta e foi embora.

III - Outro fato que demonstra a tibiez do médico diante de pessoas determinadas e intimoratas aconteceu durante a invasão da “Coluna Prestes” que acampara no sítio “Izidoro” por mais de uma semana e se dirigia ao baixo Jaguaribe. Doutor Floro, mais uma vez doente, deitado numa rede no vagão de trem, em rumo a Fortaleza, soube que uma composição ferroviária, com a Força Policial do Piauí, sob o comando do capitão do exército Gaioso e Almendra, chegara a Iguatu. Mandou chamar o militar e aos gritos indagou:

- “Então os revoltosos vão para o Jaguaribe e o senhor vai com sua tropa em direção de Lavras?”

Gaioso perfilado, calmo retrucou:

- “A linha não tem desvio para Jaguaribe. E V.Excia. que vai para Fortaleza? (20).”

c) Suspeição em alguns crimes.

O grande orador e cônsul romano Cícero teve a coragem de acusar Catilina de conspirador do estado romano ao pronunciar a frase: “O Senado tem conhecimento destes fatos, o cônsul tem-nos diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo”! 

Em Juazeiro todos eram sabedores das barbaridades e dos hediondos crimes praticados por doutor Floro Bartolomeu, mas silenciavam sobre os fatos por uma única razão: o medo! Padre Azarias Sobreira bem descreve esse receio:

“(...) Floro Bartolomeu não era somente pouco ou nada convidativo, mas também perigoso” (21).

Somente o padre Manuel Macedo Filho não se calou e intimorato como Cícero, o senador romano, teve a firmeza e a intrepidez cívica de denunciar essas atrocidades através de acirrada campanha!

Alguns escritores juazeirenses utilizaram de certos artifícios literários para denunciar, de forma indireta, os crimes cometidos pelo doutor Floro. Ora se debruçavam sobre a técnica do subtendido onde expõem os fatos evitando se comprometer, ou como no caso de Xavier de Oliveira que usando de pressupostos expõe suas ideias de maneira não explícita, mas que nos leva à conclusão que Floro teve participação direta em vários crimes.

Muito embora doutor Floro jamais tenha deixado provas de sua participação em alguns homicídios, usando constantemente o álibi de nunca estar no local e data do crime, mas é do saber geral que um delito dessa magnitude partia de uma pessoa de alto cargo e que tinha autorizado a execução.

Vejamos algumas mortes 

1- José Marrocos

No tocante a morte repentina e inexplicável de José Marrocos comentava-se à boca miúda ter sido Floro Bartolomeu o autor, posto que, logo após medicar o professor que tivera um pequeno incômodo, este veio a óbito suspeitando-se de envenenamento. Mais uma vez o médico usara seu álibi preferido: ausentara-se de Juazeiro, indo para sua fazenda em Missão Velha, só voltando para o sepultamento no dia seguinte.

2 - Paulo Maia

Assassinado no dia 09 de julho de 1914, a mando de Nazário Landim, delegado local, e tendo como executor o pistoleiro Mané Chiquinha.

Teve doutor Floro participação nesse homicídio? As evidências confirmam os fatos. Havia razões pessoais e políticas para que Floro tivesse consentido e aprovado a execução. No dia do crime, Floro encontrava-se em Fortaleza. Vejamos:

a) Paulo Maia era filho do ex-deputado Aristides Ferreira de Menezes, amigo e correligionário de José Belém de Figueiredo, deposto do cargo de prefeito do Crato a “manu militari” por Antonio Luiz Alves Pequeno III, uma das pilastras do doutor Floro na “Revolução de Juazeiro”;

b) Paulo Maia, embora parente do padre Cícero, sempre acompanhou politicamente seu cunhado José André de Figueiredo inimigo figadal de doutor Floro;

c) Nazário Landim, autor intelectual do homicídio, fora nomeado delegado de Juazeiro por Floro Bartolomeu;

d) Mané Chiquinha, o executor, fora trazido de Pajeú das Flores, Pernambuco, e era um dos cangaceiros preferidos do médico.

O deputado e escritor Xavier de Oliveira no seu livro “Beatos e Cangaceiros” acusa Floro da participação da morte de Paulo Maia através de ideias não explícitas, mas percebíveis através de pressupostos quando afirma sobre esse crime:

“(...) No sertão os cangaceiros só cometem um crime quando teem as costas quentes. (...) Fulano me dá cem mil réis p’réu dá um carreira... em sicrano, que vosmecê acha? “Ganhe seu dinheiro, responde um chefe (...) um coronel ou doutor, nunca um padre” (15) (sic).

Xavier de Oliveira acusa diretamente Floro, inocentando a participação do padre Cícero.

V – A MORTE

Floro Bartolomeu da Costa foi o deputado federal nordestino mais prestigiado da “Velha República.” O presidente Arthur Bernardes em reconhecimento aos feitos do deputado ao depor o governador Franco Rabelo, encarregou-lhe a missão de combater a “Coluna Prestes” em nossa região.

Com correr dos anos, sua saúde abalada pela osteíte causadora de terríveis dores de cabeça, doutor Floro, solteiro e pobre, falece no Rio de Janeiro em 08 de março de 1926, acometido de uma “angina pectoris”.

Em virtude dos relevantes serviços prestados ao Brasil, Floro foi sepultado, no Rio de Janeiro, com as honras de “General Honorário do Exército Brasileiro”.

N o t a s
1- OLIVEIRA, Amália Xavier de. O padre Cícero que eu conheci. Rio de Janeiro 1969 p. 217. Acesso em março 2015. Depoimento de Carlos Navarro
2- OLIVEIRA, Amália Xavier de. O padre Cícero que eu conheci. Rio de Janeiro 1969 p. 217.
3- http://www.fotosmcba.com.br/pagina.php?id=180 Acesso em março 2015. Depoimento de Carlos Navarro
4- OLIVEIRA, Amália Xavier op.cit. p.218.
5- op.cit.
6- SOBREIRA, Azarias padre. O patriarca de Juazeiro.Ed vozes Fortaleza 1968 p.73
7- DINIZ, M. Mistérios do joazeiro. Tip. do “O Joazeiro”.Joazeiro-Ce,1935
P.68
8- OLIVEIRA Amália Xavier op.cit p.220
9 MACEDO joaryvar. Império do bacamarte. Universidade federal do ceará.Fortaleza 1990 p.212 s apud MACEDO,Nertan. Floro Bartolomeu o Caudilho dos Beatos e Cangaceiros. Rio de Janeiro.Ag.Jorn.Image,1970, p.164
10- PINHEIRO, Irineu. O Joaseiro do Padre Cícero e a Revolução de 1914.2ª Ed.Ed.IMEPH.Fortaleza 2011 1 p.24
11- SOBREIRA, Padre Azarias oc. P 76.
12- Ibidem p227
13- DINIZ, M oc. p 70. Muito embora Manuel Diniz, talvez para não ferir a imagem do padre Cícero, afirme que essas palavras foram direcionadas ao padre Macedo, discordo, posto ter sido ditas aos gritos e diretamente ao padre Cícero.
14- FILHO,B.Lourenço. Obras Completas de Lourenço Filho volume I 3ª Edição Juazeiro do Padre Cícero. Edições Melhoramento p 80. Apud P.Manuel Macedo,Juazeiro em Foco,Fortaleza 1925 p 9.
15- Id. IBID
16 - OLIVEIRA Amália Xavier op.cit p224
17- BARBOSA, Geraldo Menezes. História do Padre Cícero ao Alcance de Todos. Ed ICVC.Juazeiro do Norte 1992. P.69
18- OLIVEIRA, Antonio Xavier. Beatos e Cangaceiros. Rio de Janeiro 1920 p.
19- Id. ibidem
20- GUIMARÃES, Hugo Victor. Deputados Provinciais e Estaduais do Ceará. Assembléias Legislativos de 1835 a 1947 Ed.jurídica Ltda. apud

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BARBALHA/CEARÁ.


Rua principal da cidade de Barbalha no estado do Ceará, por onde Lampião e seu bando passaram no ano de 1926, quando se dirigiam à cidade de Juazeiro do Norte/CE, onde Lampião receberia a polêmica patente de Capitão dos Batalhões Patrióticos que dariam combate a Coluna Prestes/Carlos Costa.

Foto: Blog “O Povo”.
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)

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CONSIDERAÇÕES GEOHISTÓRICAS SOBRE A CONURBAÇÃO CARIRIENSE CRA-JU-BAR

Por José Romero Araújo Cardoso

Entende-se por conurbação como a contínua, progressiva ou lenta conexão urbana interligando cidades, sendo mais constante em importantes pólos que concentram de forma efetiva o grande capital. Encontramos exemplos disso, respectivamente correspondentes aos mundos desenvolvido e subdesenvolvido, nas megalópoles que foram sendo estruturadas entre Boston e Washington (EUA) e Rio de Janeiro e São Paulo (Brasil).

Fenômeno interessante vem sendo registrado no sul do Ceará, região fertilíssima que perfaz verdadeiro oásis, no qual se intercalam espécies vegetais características de quatro biomas (Mata Atlântica – Caatinga – Floresta equatorial Amazônica – Cerrado), na qual o Juazeiro do Norte se destaca como o mais importante centro, constituindo-se na segunda cidade do Estado do Ceará em população e importância econômica, status não muito tempo desfrutado por Sobral.

Surgida entre Crato e Barbalha, a atualmente importante cidade cearense de Juazeiro do Norte fôra outrora, no século XIX, pousio de tropeiros que iam e vinham pelas trilhas tortuosas das quebradas do sertão central, palmilhando a extensa zona que tinha Aracati como destino dos velhos almocreves que marcaram toda uma fase econômica no sertão nordestino. O Joazeiro, onde descansavam os importantes agentes econômicos sertanejos, os quais eram os responsáveis da condução do transporte de cargas, em um passado não tão remoto, foi abrigando ao seu derredor pessoas de várias procedências, já existindo, no ano de 1872, modesta capela dedicada a Nossa Senhora das Dores.

Integrante do espólio do Padre Pedro Ribeiro, o pequeno lugarejo do Joazeiro era composto de setenta e duas casas humílimas quando da chegada daquele que se tornaria o principal personagem da história do lugar. Acompanhado da mãe e das irmãs, vindos do Crato, Padre Cícero Romão Batista encontrou na localidade farta matéria-prima a fim de trabalhar vocação sacerdotal, tornando-se respeitado em razão da forma como efetivou reversão da penosa realidade moral do Joazeiro, verificada quando de sua fixação, a qual se revelaria definitiva e profundamente marcante para a expressão espaço-temporal do mais importante município que integra a conurbação Cra-Ju-Bar.

Protagonizando “milagre” quando ministrou comunhão a uma beata de nome Maria de Araújo, em missa celebrada na capela de Nossa Senhora das Dores, no início do mês de março de 1888, Padre Cícero, sem perceber de imediato, dava início a complexo processo de crescimento e conquista de importância político-econômica contínua, avassaladora e impressionante do mísero lugarejo, cuja população ainda era formada em boa parte por gente extremamente sofrida, excluída inflexivelmente da estrutura abastada e exclusiva formada a partir das práticas fomentadas a partir do final do século XVII pela “nata” da sociedade sertaneja agro-pastoril, responsável pelo implemento colonizador das perigosas porções interioranas, principalmente as do semi-árido nordestino.

Mitos antes mesmo da morte do velho vigário, no ano de 1934, o ícone Padre Cícero e o culto à sua figura assumiram proporções inacreditáveis, crescendo de forma impressionante nas décadas seguintes. Representam, em nossa época, uns dos mais importantes elementos culturais que singularizam o nordeste brasileiro.

Romarias contínuas, ano após ano, foram implementando fixação populacional em Juazeiro do Norte, a qual foi sendo direcionada em rumo dos vizinhos municípios do Crato e de Barbalha. Com significativo percentual de alagoanos e descendentes, tendo em vista que, de forma interessante, ecos do “milagre da hóstia” ressoaram impressionantemente em Alagoas, as manifestações da religiosidade popular nordestina refletem-se sobre os territórios dos três municípios caririenses, através da crescente massa de romeiros que decide ficar morando na terra em que o Padim Ciço deixou as marcas de seus calçados.

Molas propulsoras da dinâmica economia Juazeirense, os romeiros transgridem enraizadas tradições e disputas que marcaram as relações históricas entre os centros urbanos que integram a conurbação caririense conhecida por Cra-Ju-Bar. Lócus de disputas políticas acirradas, as quais marcaram indelevelmente as primeiras décadas do século XX, Juazeiro do Norte e Crato, principais cidades que integram o intrigante e interessante fenômeno urbano que singulariza a geografia urbana do sul do estado do Ceará, interconectam-se como fossem metáfora, referente às formas assumidas pelas exigências do capital, pois se faz necessária explicação sobre impossível processo em tempos pretéritos, a qual é compreendida através da divisão radical entre os dois núcleos, registrada pela história quando da mais impressionante demonstração de força efetivada pela articulação inusitada do messianismo com o coronelismo, cujo ponto culminante foi a guerra de 1914.

Rabelistas e Aciolistas, sendo que os primeiros, quando da guerra de 1914, se concentraram no Crato, enquanto os segundos ocupavam as trincheiras defensivas no Juazeiro do Padim Ciço, digladiaram-se em feroz luta armada que culminou na ocupação de Fortaleza pelos romeiros do Padre Cícero, comandados pelo caudilho Floro Bartolomeu da Costa, os quais retiraram à força, do comando no governo do estado do Ceará, Marcos Franco Rabelo, militar que representou a experiência salvacionista na terra de Iracema, cuja prática política foi enfatizada na gestão Hermes da Fonseca enquanto medida severa contra o eterno predomínio de tradicionais oligarquias que enfeudaram todas as regiões brasileiras durante maior parte da denominada república velha.

Em Barbalha, terra da matriarca Bárbara de Alencar, a ênfase à conurbação caririense segue sem se chocar de forma significativa com a história e a memória locais. Espaço e tempo, em ambos núcleos urbanos, estando Barbalha localizada a cerca de 15 km do segundo município do estado do Ceará, enquanto o Crato dista 16 km da terra do Padim Ciço, frisam às categorias harmonia efetiva da primeira cidade, acima mencionada, com o Juazeiro do Norte, em razão que não houve confrontos sérios como os que marcaram profundamente as relações sócio-culturais entre a terra que o Padre Cícero elegeu para efetivar-se e a que ele nasceu, velho burgo caririense comandado, por longo período, pelo “Coronel” Antônio Luís Alves Pequeno, padrinho e protetor do vigário Joazeirense.

A conurbação compreendida pelo eixo urbano formado pelos municípios cearenses do Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, se constitui em um dos mais curiosos fenômenos apresentados na paisagem e no espaço da geografia urbana estruturada pela ação do homem em território brasileiro, pois tal efetivação exige que explicações complexas articulem holística expressão de interdisciplinaridade enquanto fundamento às análises científicas concisas acerca da dimensão assumida pela importante estrutura geográfica que continuamente se efetiva, ano após ano, alicerçada indubitavelmente nas práticas culturais que permeiam a preservação e permanência das tradições populares nordestinas quanto ao culto devotado ao Padre Cícero, célebre figura de sua época, a qual tornou-se expressão tentacular e multifacetada da complexidade e dos desdobramentos do movimento que liderou e o tornou figura de proa da única manifestação messiânica brasileira que conquistou sucesso e respeito entre os donos do poder, os quais, experts na arte de ludibriar, há tempos imemoriais manipulam complexas estruturas que garantem a reprodução da hegemonia e da dominação.

Espaços nos quais se localizam no presente importantes atividades econômicas, responsáveis pelo fomento à lógica do capital, o eixo Crato-Juazeiro-Barbalha se caracteriza pela variedade das estruturas antrópicas apresentadas em suas paisagens artificiais, sejam no âmbito econômico-financeiro-industrial ou sócio-cultural, além das manifestações contraditórias do espaço, definidas pela forma como as relações sociais de produção são fomentadas. O fenômeno urbano que singulariza o cariri cearense desperta interesse pela forma ímpar como se concretiza, principalmente entre os geógrafos, em razão de permitir necessária compreensão da totalidade geo-histórica que embasa o polivalente e valioso objeto de estudo daqueles que enxergam o nordeste como fonte inesgotável de implemento a estudos científicos sobre a região que se singulariza pela proeminência de problemas e urgentes necessidades de se enfatizar proposta para soluções de dolorosos dramas sociais que persistem, tornando indignas as condições de vida da maioria, na qual se encontram diversas famílias de romeiros, entregues à própria sorte em espaços extremamente desconfortáveis, nos quais a carência impera, personificando, dessa forma, dramática injustiça social que desafia as lutas por melhores condições de vida para os excluídos da riqueza produzida na rica região polarizada pela “Meca Nordestina”.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

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A AFILHADA DE CORISCO E DADÁ


Abaixo, veremos uma página da revista veja, da edição de julho de 1985.

A matéria, relacionada ao cangaço, trata da ex-cangaceira Dadá e, na época da reportagem, a senhora Sérgia, que morava em salvador, capital baiana.

Como em outras, a matéria da revista, sensacionalista e, por vezes, nos traz equívocos históricos. Citando um, da notícia abaixo, “...(...) o casal estava com uma filha de 8 anos(...)”.


Corisco e Dadá, na verdade, não estavam com uma filha, e sim, com uma menina que levaram de um coiteiro, Braz Francisco de Almeida, conhecido pela alcunha de ‘Braz do Couro’, para despistar eventuais curiosos e indagadores sobre cangaceiros. (“Corisco – a Sombra de Lampião” – 1ª edição. Dantas, Sérgio Augusto de Souza.).

Seu nome era Josefa Erundina de Almeida, por todos conhecida como ‘Zefinha’.

Os fugitivos, Corisco, Dadá, Rio Branco com sua companheira e a menina Josefa(Zefinha), ao chegarem no terreiro da casa sede da fazenda Cavaco, área aquela que era conhecida por ‘Pulgas’ no, hoje, município de Barra do Mendes, Ba, um deles diz ao proprietário, José de Souza Pacheco:

“(...) Boas tarde, senhor! Nós viemos de longe, das Alagoas, e estamos de passagem para ‘Lapinha’ do Bom Jesus para pagamento de promessa. Meu nome é Silva (Corisco), e essa é a minha mulher, Amália (Dadá). A menina é minha afilhada e se chama Zefinha. Os outros dois são Antônio e Flor (Rio Branco e companheira), e também vão para ‘Lapinha’. Será que o senhor teria um local onde a gente pudesse descansar uns dias antes de prosseguir viagem? Qualquer telheiro serve(...).” ( Ob. Ct.)

Foto Ob. Ct.


Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
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