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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

LIVROS DO ESCRITOR ANTONIO VILELA DE SOUZA


NOVO LIVRO CONTA A SAGA DA VALENTE SERRINHA DO CATIMBAU
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O livro "DOMINGUINHOS O NENÉM DE GARANHUNS" de autoria do professor Antonio Vilela de Souza, profundo conhecedor sobre a vida e trajetória artística de DOMINGUINHOS, conterrâneo ilustre de GARANHUNS, no Estado de Pernambuco.

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O CANTOR JOÃO MOSSORÓ FARÁ SHOW AMANHÃ, DIA 06 DE FEVEREIRO DE 2016, NO RIO DE JANEIRO


O cantor João Mossoró fará show amanhã, 06 de fevereiro de 2016, no Rio de Janeiro, no bairro Benfica, no"Mercadão Cadeg".
Uma festa portuguesa, no "Cantinho das Concertinas".

 Será uma festa bastante animada, quando o artista cantará as mais lindas canções.

Você que mora no Rio de Janeiro prestigie o artista, participando do seu show.

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BEATA MOCINHA RELIGIOSA


Há controvérsia quanto à cidade de origem, de Joana Tertulina de Jesus, mais conhecida por Beata Mocinha. Alguns dizem ter sido Quixadá outros Jaguaribe, ambos municípios do Ceará, no final do século XIX .

Após ter sido adotada por João Mota e sua esposa, conhecida por, Dona Professora (nome atribuído a ela por ter sido a primeira a montar uma escola, paga pelo governo, naquela região), foi conduzida a Juazeiro Norte, Ceará. Poucos anos após a adoção, Dona Professora teria sido transferida a Quixadá. Tendo em vista a fragilidade da saúde da jovem Joana Tertulina, que nos seus 11 anos vivia tossindo e sofrendo hemoptises, Dona Professora ressentia-se dos riscos que a viagem causaria a frágil saúde da jovem adotada. O casal submeteu o impasse ao parecer do Padre Cícero, que prontamente dirimiu a questão, sugerindo ao casal deixar a jovem sob seus cuidados.

A índole conciliadora, da jovem Joana e seus dotes administrativos, a conduziria, em futuro próximo ao gerenciamento da casa de padre Cícero. Segundo o pároco Azarias Sobreira, durante decênios seria como um "..anjo de boa inspiração..." para o padre Cícero, em horas das mais aflitivas de sua existência. Era ela que conseguia que o padre tomasse os medicamentos prescritos pelo médico, convencê-lo a fazer as parcas refeições de cada dia, nos momentos críticos de sua saúde, era ela também, que impedia que a multidão, chegada de terras distantes e desejos de um contato com o padre Cícero entrasse de roldão casa adentro - eram homens e mulheres de todo o Nordeste. Joana, com sua capacidade de coordenar, sua voz firme e poder de comando, foi providencial na organização da vida econômica e administrativa do lar de Padre Cícero, assim como exímia zeladora de sua saúde.

O codinome Beata tem a ver com a realidade da época e da região. Nesse período não existia Congregação Religiosa de mulheres, alguns padres, naquela região, conferiam mantos, véus e hábitos de monja a jovens que desejassem consagrar a Deus a sua virgindade. E a essas moças eram dadas a qualificação de Beatas, através de cerimônia pública e vestidura de hábito. A jovem Joana Tertulina de Jesus, ainda jovem, passou a fazer parte desse seleto grupo.

Fonte: Wikipédia

A governanta e tesoureira do Padre Cícero

Aos 62 anos, a solteirona Mocinha assumira o papel não só de governanta e tesoureira, mas também passara a responder pela administração dos bens do padre Cícero.

Era ela quem recebia as esmolas e doações deixadas pelos romeiros, mas também quem cuidava da compra, venda e arrendamento de imóveis.

Mocinha autorizava procurações, consentia permutas, abonava doações, decidia hipotecas.

Nos arquivos do cartório do Juazeiro do Norte ficaria documentada a vultosa movimentação financeira feita sob a rubrica da beata. As cifras alcançavam a vultosa a várias centenas de contos de réis.

Até a empresa encarregada de fornecer a energia elétrica para o município de Juazeiro do Norte, cujo capital somava a pequena fortuna de sessenta contos, estava no nome de Mocinha.Também eram oficialmente dela o matadouro e uma usina beneficiadora de algodão, além de casas, prédios e sítios espalhados no Cariri. Embora se soubesse que todas as propriedades, em última análise, fossem de Cícero, era a beata quem assinava os papéis e respondia legalmente por elas.

Nada na residência do padre Cícero se fazia sem o consentimento da velha, o que inclusive lhe rendera o epíteto de "Mandona". Sempre vestida com o hábito escuro, dona de personalidade forte, a onipresente Mocinha administrava com rédea curta a rotina da casa.

Fonte: "Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão", Lira Neto, São Paulo, Companhia das Letras, 2009.

http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Beata+Mocinha&ltr=B&id_perso=5295

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ABC DE LAMPIÃO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Como sabemos, algumas estórias sobre Lampião são desencontradas dos fatos reais. Nessa reportagem de Nonato Masson encontramos algumas disparidades com historiadores e pesquisadores do cangaço lampiônico. De qualquer forma, mesmo com algumas colocações diferentes, não deixa de ser literatura histórica mesmo tendo sido escrita muito depois da morte de Lampião. Aqui trago mais uma dessas matérias para os que gostam de estórias do cangaço.


NONNATO MASSON
escreve as reportagens da história
A AVENTURA SANGRENTA DO CANGAÇO
Seu rifle era a sua lei: tinha uma lampejante e mortífera capacidade de repetição. Daí lhe veio o apelido de Lampião

ABC DE LAMPIÃO


NUMA LUTA FEROZ ENTRE FAMÍLIAS FORJOU-SE O REI DO SERTÃO Reproduções fotográficas de Nelson Santos e Juvenil de Sousa.



ATÉ 1912, o cangaço era um fato normal nos sertões do Nordeste. As façanhas de Lucas da Feira, Cabeleira, Jesuíno Brilhante e Antônio Silvino corriam de boca em boca, com sabor de lenda, a par de histórias que falavam dos jagunços do Bom Jesus Conselheiro e do padre Cícero Romão Batista, o santo de Juazeiro. Foi nesse ano que o Governador Castro Pinto, da Paraíba, tomou a iniciativa de uma convenção, para combater o banditismo entre os governos dos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará. Além da ajuda mútua, foram eliminadas as fronteiras entre os estados, podendo a fôrça policial de um penetrar em outro, sem qualquer pedido de autorização. Dessa convenção participariam depois os governos da Bahia, Alagoas e Sergipe. Assim, com o Nordeste sem fronteiras, as tropas volantes, que não seguiam um plano de combate pré-estabelecido, e sem um comando único, enfrentaram-se várias vêzes na suposição de estarem lutando contra os cangaceiros. No ano de 1914, após uma luta feroz em Taquaretinga, Manuel Batista de Morais, conhecido por Né Batista e por Antônio Silvino, e que há cérea de 20 anos era o rei do sertão, foi baleado e entregou-se ao Alferes Teofanes Tôrres. Prêso Antônio Silvino, os cangaceiros Casemiro llonório e Né Pereira refugiaram-se na ribeira do Pajeú das Flores, de onde passaram a comandar o cangaço em toda a extensão que vai de Pernambuco à zona baiana do rio São Francisco. 

BALEADO em Inhamuns, Ceará, por questões de terras, Antônio Alves Feitosa fugiu com o seu filho José Feitosa depois de ter morto um fazendeiro. Foi para Pernambuco, onde passou a viver como lavrador em Passagem, Distrito de Carqueijo. Morrendo o velho Feitosa, José, para se ,livrar definitivamente da polícia cearense, trocou o nome para José Ferreira da Silva, casou-se com Maria José Lopes e comprou uma fazenda em Ingazeira, às margens do riacho São Domingos, em Serra Vermelha, no Município de Vila Bela, hoje Serra Talhada. Da união de José com Maria, nasceram Antônio, Livino, Virgulino, João, Anália, Ezequiel, Virtuosa, Maria e Angélica. Virgulino Ferreira da Silva nasceu a 12 de fevereiro do ano de 1900, depois de Antônio e Livino. 

COUBE à avó de Virgulino, de nome Jocosa, mãe de Maria, criá-lo dos cinco aos doze anos de idade. Ela morava em Poço do Negro, onde, a seu pedido, o seu filho Manuel Lopes matriculou Virgulino na escola particular de Domingos Soriano e Justino Nenéu. Quando tinha doze anos e estava no terceiro ano primário, Virgulino abandonou a escola e passou a domar potros bravos, amansar animais no campo, ganhando logo a fama de ser um dos melhores vaqueiros do Pajeú. Aprendeu a fazer selas, gibões, arreios, perneiras, chapéus de couro, alforjes e embornais, que vendia nas feiras de Nazaré, São Francisco (atual Pajeú), Triunfo, Custódia e Salgueiro. Aprendeu com o pai a tocar sanfona de oito baixos. Tinha boa voz para cantar e muita inspiração para tirar toadas, repentes, baiões e xaxados. Uma das suas músicas, a toada "Muié Rendera", seria, tempos depois, o canto de guerra das suas guerrilhas pelos serrotes e pelas caatingas. 

DUAS famílias — a dos Pereiras e a dos Carvalhos, esta tendo os Nogueiras como aliados — travavam entre si uma luta fratricida, desde a revolução pernambucana de 1817, em torno da liderança política da região do Pajeú. O pai de Virgulino foi agregado dos Pereiras e por eles combateu. Um dia, depois de um combate com os Carvalhos, com Antônio e Livino feridos, teve de fugir de Serra Ver-melha, levando tôda a família, passando a morar perto da Vila de Nazaré, no Município de Floresta. Em Nazaré, Virgulino despontou para a aventura sangrenta do cangaço. 


Aconteceu assim: o filho do inspetor de quarteirão José Saturnino inventou que Virgulino lhe havia roubado uns chocalhos de bode. Preso por José Saturnino, de nada adiantaram os pedidos do velho José Ferreira e as declarações de inocência do acusado, que era então um menino de 16 anos. Seu pai e seus irmãos não tiveram outra alternativa: foram soltá-lo a bala. Era a lei do sertão. E dias depois, Virgulino, Antônio, Ezequiel e Livino surpreenderam o filho do inspetor e o mataram. Depois de morto, ainda foi sangrado no pescoço por Virgulino Ferreira, com uma faca pajeú. 


EM Mata Grande, para onde os Ferreiras se mudaram, alguns meses depois, unia tropa de cachimbos (nome dado aos civis contratados para perseguir criminosos) cercou, de surpresa, a casa do velho Ferreira, sob o comando do Cabo José Lucena — que era o delegado volante —, a pedido do inspetor José Saturnino, para prender Virgulino e seus irmãos. No ataque foi morto o velho Ferreira, quando debulhava, na cozinha, uma espiga de milho, e preso o seu filho João. Os outros escaparam porque tinham ido à feira vender bodes. A mulher de José Ferreira, vendo-o morto, caiu fulminada por um ataque do coração. 

FEITO o sepultamento do pai e da mãe, no cemitério de Mata Grande, Virgulino reuniu os irmãos e as irmãs e foi para Vila da Pedra, onde passou a trabalhar como comboieiro para o Coronel Delmiro Gouveia. Corria o ano de 1917. O Coronel Delmiro, que havia construído a primeira usina hidrelétrica no Nordeste, com a energia da cachoeira de Paulo Afonso, e montado a primeira fábrica de linhas da América do Sul, foi misteriosamente assassinado nesse ano, sendo o crime atribuído a elementos ligados aos trustes ingleses que moviam uma guerra sem quartel ao pioneiro alagoano. Sentindo-se inseguro em Vila da Pedra depois da morte do Coronel Delmiro, Virgulino deixou as irmãs e João — que não era bom da cabeça — aos cuidados da família de Raimundo Peba, operário da fábrica de linhas. E retornou à Floresta, com os irmãos, à procura do bando de Sinhô Pereira e Luís Padre.

GRANDE foi a surpresa de Sinhô Pereira ao ver, já homenzinhos e afoitos, os filhos do velho José Ferreira, que lutara ao seu lado contra os Carvalhos. Virgulino era quem liderava os irmãos e, por isso, passou a merecer mais atenção de Sinhô Pereira, que lhe deu logo uma espingarda papo-amarelo, novinha. Dias depois, após um choque com uma volante comandada pelo Sargento Optato Gueiros, Virgulino, todo cheio de si, disse a Sinhô Pereira que, no tiroteio com a volante, a sua espingarda não deixou de ter clarão, tal qual um lampião. Os cabras acharam muita graça e Luís Padre disse que não seria mais à falta de lampião, para iluminar os caminhos, que eles cairiam na tocaia das volantes. Desde esse dia Virgulino Ferreira da Silva passou a ser chamado de Lampião. E, da bôca da sua espingarda, trocada, anos depois, por um fuzil do Exército, que lhe foi oferecido por autoridades federais, jorrou um clarão, cuja luz, lívida e sinistra, iluminou por mais IS anos os sertões do Nordeste. 

HOUVE, porém, o seguinte: Sinhô Pereira e Luís Padre foram a Juazeiro do Norte, no Ceará, pagar uma promessa a padre Cicero Romão Batista e ali o velho taumaturgo os convenceu a abandonar o cangaço. Eles atenderam e seguiram, com recomendações do padre, para o interior de Goiás, deixando Virgulino e seus irmãos.

INDO a uma festa em Juazeiro, Lampião foi avisado por um beato do padre Cícero que o Deputado Floro Bartolomeu havia prometido ao governador de Pernambuco que o entregaria à policia. Disse-lhe o devoto não acreditar que o padre Cícero concordasse com a prisão, porque quem chegasse Juazeiro ficava garantido com a santidade mas que era bom tomar cuidado, porque "doutor Floro é homem capaz de tudo". 

JUNTANDO seus teréns, Lampião deixou Juazeiro, atravessou Pernambuco e chegou Alagoas, onde encontrou o bando dos irmãos Porcino, Antônio e Manuel, juntando--se a eles. Ficou com os Porcino, até junho de 1922. Nesse ano, os Porcinos decidiram abandonar o cangaço e, dos seus trinta cabras, vinte e um debandaram e nove ficaram com Lampião, que passou a chefia-los. Começou assim Lampião a sua carreira de chefe de bando, comandando doze cabras, inclusive seus três irmãos Antônio, Livino e Ezequiel. 

"LAMPIÃO é rapaz moço, pode ter vinte e dois ano. Tem cartucheira de prata e um rife americano."


MATINHA de Água Branca, em Alagoas, foi a primeira cidade que Lampião saqueou como chefe de bando. A frente de cinquenta cabras e com cerca de oitocentos soldados da polícia de três estados no seu rastro, entrou em Matinha de Água Branca sem dar um tiro. Distribuiu seus homens pelos pontos estratégicos da cidade e mandou Cravo Roxo intimar o delegado a fazer uma coleta de dinheiro entre o povo. A seguir, entrou numa igreja e foi rezar para o padre Cícero. Depois da reza, seguido pelas crianças que viam nele um herói, foi ao palacete da viúva Joana Vieira da Siqueira Tôrres, Baronesa de Água Branca, de onde levou todas as jóias que ela guardava em três grandes baús de cedro. Não molestou ninguém e saiu de Matinha de Agua Branca debaixo dos gritos das crianças: "Viva Lampião, Viva Lampião." Isso a 22 de junho de 1922. 

NO dia 6 de julho do mesmo ano, Lampião assaltou em Olhos d'Agua a fazenda do Coronel José Rodrigues, levando cinco contos de réis para deixá-lo vivo. Invadiu, a seguir, a Vila do Espírito Santo, e, após essas três investidas, foi-se acoitar numa grota em Tacaratu, onde passou cerca de seis meses sem dar sinal de vida.


"Ô muié rendá. ô muié rendá. Chorô por mim não fica. soluçô vai no borná. O Ceará tá de luto, Pernambuco de sentimento, Alagoa de porta aberta, Lampião xaxando dento." 

PARA fugir à ação das volantes, que passaram a não lhe dar trégua, Lampião permanecia durante meses num esconderijo, onde eram promovidos bailes em que a cachaça corria à solta. Ele mesmo animava os forrós, tocando sua sanfona de oito baixos e tirando toadas que se transformavam em cantos de guerra, como essa "Muié Rendera". Nos bailes, à falta de mulheres, os cabras dançavam uns com os outros, dias e noites seguidos. Lampião fumava pouco e bebia menos. Não gostava muito de cachaça: preferia vinho ou conhaque.

QUANDO pressentia ter-se afrouxado o cerco policial, mandava um dos seus cabras às feiras para assuntar o ambiente. Esses cabras eram os chamados pombeiros e muitos deles foram afastados do bando por Lampião, que lhes dava casa e sustento, mantendo-os como coiteiros, que eram os seus informantes sobre todas os movimentos da polícia. 

RECAIU sôbre os coiteiros, tempos depois, o segredo do terrível domínio de Lampião nos sertões do Nordeste. Em pouco tempo, ele conseguiu organizar e manter, do Ceará à Bahia, uma poderosa rede de espionagem, e até padres, juízes, comerciantes, coronéis de barranco, e mesmo soldados da polícia, uns por temor e a maioria por interesse, passaram a dar o serviço a Lampião. 

SOFRENDO de um glaucoma no olho direito desde que nasceu, Lampião passou a usar óculos a partir dos 22 anos. A cegueira total desse olho, que se manifestaria quatro anos depois, foi uma consequência natural do glaucoma. Segundo depoimento de seus cabras, alguns ainda vivos, ele costumava dizer que "dois óio é luxo", porque para fazer pontaria "basta só um; o outro inté atrapaia".

As ordens de Lampião eram cumpridas à risca. Não falava duas vezes, porque não era de conversa. Lampião gostava de romance de capa e espada, mas não largava o rifle, que era sua bengala. 


TINHA 1 metro e 80 de altura, cabelos pretos e escorridos, dentadura perfeita, braços finos e mãos compridas, cheias de veias intumescidas. Era amulatado e magro. 

UM punhal de 73 centímetros de lâmina, atravessado na cartucheira do cinturão, duas outras cartucheiras cruzando o tórax, dois embornais, onde carregava iodo, algodão, sabonete, pasta e escova, um prato de alumínio, duas pistolas "parabellum", um rifle com a bandoleira enfeitada de libras esterlina e antigas moedas de ouro portuguesas, e enrodilhado na cintura o cofre papo-de-ema, a sua burra portátil, cheia de cédulas — esse equipamento, pesando cerca de quarenta quilos, era o de Lampião, que vestia invariavelmente paletó de brim caqui e calça de riscado,  lenço vermelho ao pescoço e calçava alpercatas de couro cru e meias de cores vistosas. Usava óculos de de aros de ouro, vários anéis nos dedos, sendo um deles de médico, medalhas do Padre Cícero e Nossa Senhora das Dores e rezas fortes costuradas em panos bentos. Na cabeça, um grande chapéu de couro de viado, batido na frente e atrás, destacando-se, na testeira, um signo-de-salomão colorido de ilhoses. 

VENTANIA, Cobra Verde, Cravo Roxo, Azulão, Criança, Pancada, Maria, mulher de Pancada, Carrapicho, Cobra de Cipó, Asa Branca, Pinto Cego, Come Cru, Patorí, Marreco, Graúna e Mergulhão fo-
ram os cabras que formaram o primeiro bando de Lampião.

XEXÉU, Chá Preto, Besta Fera, Canjica, Jurema e Beija-Flor entraram a seguir. Era ele que os apelidava, com o objetivo de lhes esconder a verdadeira identidade, a fim de livrar a família de cada um das represálias da polícia. Ezequiel, seu irmão, apelidou de Ponto Fino, porque ele era mesmo o fino na pontaria.

ZABELE entrou para o bando de Lampião em 1923. Era um caboclo que vivia repinicando a sua viola nas feiras dos sertões de Alagoas. Um dia, tirou um repente criticando arbitrariedades do delegado de Santana de Ipanema. Foi preso, espancado a chicote de umbigo de boi e marcado a ferro em brasa, pelos soldados, como novilho em curral. Conseguiu fugir da prisão e foi juntar-se ao bando de Lampião. Era sempre assim. Para os injustiçados nos sertões do Nordeste, Lampião era a última instância. 

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REVENDO - LAMPIÃO CONCEDEU UMA ENTREVISTA E CONTOU COMO SE FEZ BANDOLEIRO

Por Antônio Corrêa Sobrinho

AMIGOS,

O que dizer desta publicação de “O Globo”, edição de 16 de maio de 1927, senão que intrigante e questionadora?

Este importante jornal, em 1926, conforme pude observar, nada disse a respeito da famosa entrevista concedida por Virgulino Ferreira, Lampião, ao senhor Otacílio Macedo, tudo sob o auspício do padre Cícero Romão Batista, exatamente na ocasional da visita do cangaceiro a Juazeiro com o objetivo de receber a prometida patente de capitão do Exército, e a incumbência de ajudar no combate à Coluna Prestes. Para, mais de um ano depois, trazer a lume a matéria que acabo de descobrir, alardeando tratar-se da Entrevista que Lampião concedera na terra do padre Cícero, à inominada pessoa, e sob patrocínio deste chefe político e reverenciado vigário.

Ora, se não consta da historiografia do cangaço que Lampião, no ano seguinte de 1927, estivera mais uma vez com Padre Cícero, o que podemos dizer deste intempestivo artigo do diário carioca? Estaria "O Globo" querendo dizer aos seus leitores ser esta a autêntica entrevista de Lampião dada no Juazeiro, ou apenas se referir à famosa entrevista de Lampião, publicada no jornal “O Ceará”, nos dias 17 e 18 de março de 1926, de cujo conhecimento eu presumo o grande jornal do Sul saber, entrevista esta, a por nós conhecida, dada ao sobredito Otacílio, matéria que, por sinal, só voltou a ser republicada nas décadas de 1970 e 90, mesmo assim, com as palavras ditas por Lampião adaptadas à linguagem convencional pelo renomado escritor Nertan Macedo, segundo leio.

Gostaria, por fim, de dizer que, em relação à informação de “O Globo” de que sua postagem é uma reprodução de publicação do “Jornal de Aracaju”, salvo melhor informação, este extinto jornal sergipano teve seus dias nos idos do século XIX, portanto não poderia ter publicado tal artigo; e que desconheço, nos jornais sergipanos dos anos de Lampião, especialmente o “Correio de Aracaju” (porque o único que se assemelha no nome ao citado "Jornal de Aracaju"), alguma coisa neste sentido.

À consideração e apreciação dos amigos.

"O GLOBO" - 16/05/1927 - LAMPIÃO CONCEDEU UMA ENTREVISTA E CONTOU COMO SE FEZ BANDOLEIRO

Nos domínios do padre Cícero.

O “Jornal de Aracaju” publica, em sua edição de 5 do corrente, a seguinte entrevista, obtida do célebre bandoleiro dos sertões do Nordeste, denominado “Lampião”.

Juazeiro:

A multidão se aglomerava. O jornalista estranho ao meio interrogava a população adventícia.

- Qual a razão desse ajuntamento?

- É Lampião, senhor, que está na terra.

- “Lampião”?!

- Sim.

- Onde?

- Na casa do padre Cícero.

O terror lampionesco, se bem tenha afastado os jornalistas pusilânimes, não foi bastante para desviar a curiosidade do jornalista estranho. Fomos para lá.

“Lampião saíra há dois minutos da residência do patriarca de Juazeiro.

Dirigimo-nos ao reverendo; e, depois dos cumprimentos protocolares, abordamos o assunto.

- Então, reverendo, é certo que “Lampião” se encontra aqui?

- Sim, meu filho. Por uma razão de hospitalidade, sem procurar acoitar bandidos, fui obrigado a franquear esta cidade à sua entrada (!).

- Seria difícil, reverendo, falar a esse homem?

- É fácil, meu filho, contanto que não lhe peça entrevistas.

- ? ?

E o reverendo, curvado, o ombro penso, mostrou-nos o sobradinho onde estava Lampião. Para lá fomos.

Lá chegados, a imagem de um arsenal guerreiro se patenteava aos olhos curiosos.

Entramos. A escada íngreme, estreita e longa nos extenuara. Chegamos ainda sob a impressão das tragédias passadas em que a arma dos bandidos levava de roldão a vida, o sossego e a conservação das famílias.

Estacamos de pronto.

Um caboclo de estatura mediana, lenço grande e vermelho em forma de gravata, com um anel fazendo o laço, dedos cheios de brilhantes, roupa caqui, cintada à “touriste”, óculos, para nós se dirigiu, ar espantado, tímido e como que receoso...

- Coronel “Lampião”! – dissemos, por ter distinguido pelo aparato com que os asseclas o cercavam.

Depois de um “shake hand” sentamo-nos.

- Estivemos, agora mesmo, em casa do padre Cícero e, mostrando nós desejo de conhecer sua pessoa, disse-nos ele que poderíamos vir falar-lhe, adiantando, porém, que nós não pedíssemos uma entrevista, por ser contra o seu gênio concedê-la a jornalistas.

- Sim! Os homens dos jornais não dizem a verdade.

O doutor carcule que o meu nome, hoje, está explorado de tal forma que, se eu faço dez (textual), dizem que eu fiz cem.

- Mas, no fim de contas, nós queríamos tão somente uma palestra, de cuja discrição não abusaremos.

- Sendo assim, eu só poderei ser grato a V. Ex. (sic).

- Como começou sua vida armada?

- Ah! Foi uma tragédia. Calcule o senhor que éramos uma família pacata. Nunca fôramos incomodados pela polícia. 
Um dia, por umas questões de terras, fomos obrigados, eu e meus irmãos a agir de pronto. Houve luta, e da luta saíram três feridos e um morto. Eu fui o mais perseguido por ter “estirado” o que morreu. Homiziei na casa de um fazendeiro conhecido. A polícia soube e foi lá buscar-me. Eu estava na roça, e o fazendeiro, por ser amigo, negou que eu ali estivesse acoitado. Quando cheguei, após a retirada da polícia, 25 praças comandadas pelo tenente Rangel, o fazendeiro me disse que para não se reproduzirem tais cenas era conveniente que eu me retirasse. Desde então começou a minha vida errante. Ora aqui, ora ali, sempre só, fugindo dos lugarejos onde havia quarteis; levei uma temporada de um ano e tanto. Depois, encontrando outros que tinham crimes e andavam também foragidos, juntei-me a eles e fizemos o primeiro grupo composto de nove homens. Arranjamos rifles e saímos, depois de termos bebido muito, e saquearmos uma população onde não havia soldados. Ali exigimos pela força, de uma família, cujo chefe se chamava Pedroso, um conto de réis. Ele não tinha essa importância e nos deu trezentos mil réis, dois cavalos e uma vaca que adiante vendemos por noventa mil réis. Distribuímos entre nós o dinheiro, e continuamos a nossa marcha. Nas proximidades de Afogados de Ingazeira, num rancho, em conversas, descobrimos que ali estavam dois criminosos de morte, Sabino Pinto e Joãozinho, justamente dois “cabras” de minha confiança.

- E ainda andam consigo?

- Sim, o Sabino é este que está nas costas do doutor.

Olhando para trás, vi, com a mão apoiada no espaldar da minha cadeira, um tipo alto, forte, trigueiro, bigodes grandes e espessos, fisionomia fechada, sério e carrancudo.

- Mas, coronel Lampião, porque não deixa essa vida?

- Por que não deixo? 
Pois se os governos me perseguem? O que se dá comigo já se deu com Antônio Silvino. O homem queria deixar a vida do cangaço, queria trabalhar, mas os governos não consentiram. É justamente o que se dá comigo.

- Sim, nos Estados do Norte.

- Porque não vai o coronel para o Sul, disfarçadamente? 
Era melhor: descansavam o povo, os governos, a sua família e a sua vida também.

- Não! Enquanto eles me perseguirem, esses tenentezinhos de polícia, eu não descanso. Ou morro ou mato.

Era um dilema terrível. Levantamo-nos. À saída, ouvimos um rumor na escada que levava ao sótão. Era uma romaria que subia. Aguardamos sua chegada. 

Vencendo os últimos degraus que levavam ao sobradinho, tirou do seio uma moldura tosca, com uma moldura tosca, com uma imagem estranha e falou:

- “Seu” coronel, eu queria que o senhor me comprasse esta santa.

Lampião pegou da moldura, olhou-a, virou-a, e disse?

- Obra milagre?

- É muito milagrosa. É Nossa Senhora das Vitórias. Quem tem esta santa, bala não entra no corpo, inimigo não o vence.

- Quanto custa, perguntou Lampião?

- O coronel dá o que quiser.

Metendo a mão no bolso das calças o bandido retirou dali um maço de cédulas e separando uma de 50$000 deu à romeira. 
Ficamos estáticos, diante, não da prodigalidade, senão da quantidade de dinheiro que o bandido carregava consigo. Tinham-no em todos os bolsos, em avultadas somas.

Despedimo-nos e regressamos à casa do patriarca de Juazeiro.

Beata Mocinha

Lá chegados batemos à porta, fechada, contra a invasão dos romeiros. Veio abrir-nos a porta a beata Mocinha, depois de termos, em uma placa de níquel colada à fechadura da porta, batido com uma moeda.

- O reverendo está ocupado?

- Não, senhor, pode entrar.

Entramos.

Duas mocinhas sentadas em frente às máquinas de escrever, tratavam da correspondência do padre.

Passados instantes apareceu o reverendo.

Contamos a nossa palestra com Lampião e dirigimos a conversa para o caso em foco, qual fosse a candidatura do senhor Juvêncio Sant’Ana, juiz de direito local para deputado federal, candidatura esta imposta pelo patriarca, mas repugnada pela coligação dos partidos democrata e conservador.

O velho padre, pensativo, após nossa estranheza sobre o motivo por que não fora aceita a candidatura de seu amigo, rematou, num tom sentido e triste:

- O senhor já leu a fábula Fedro?

- Sim, Reverendo.

- Pois eu, hoje, sou como o leão de Fedro, quando me manso se tornou cordeiro até os burros lhe deram couces.

E ficou em atitude contemplativa e vaga, ombro penso, como a gozar ou a sofrer o conceito e a moralidade dessa história...”

Fonte: facebook

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OBJETOS DO CANGAÇO


Sanfona pertencente ao acervo do Historiador Guilherme Machado (Serrinha/BA).

Segundo informação passada pelo antigo dono ao atual proprietário, essa sanfona teria pertencido ao cangaceiro Zabelê.

Fonte: facebook
Página: Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)

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O EX-CANGACEIRO ANTONIO SILVINO RIFLE DE OURO

Por Semira Adler Vainsencher

Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Antônio Silvino passou vinte e três anos, 2 meses e 18 dias recluso. Mas, após esse período, recebeu um indulto do Presidente Getúlio Vargas. Na época, ele declarou:

"Minha vida todo mundo conhece. Vinte e três anos de reclusão alteraram o meu destino. Mas, diga lá fora, que eu nunca roubei, nem desonrei ninguém, e, se matei alguma pessoa, foi em defesa própria, evitando cair nas mãos de inimigos".

Saiu feliz da vida da prisão, como um passarinho que escapou da gaiola. Tinha 62 anos de idade.

Liberto, ele decidiu andar pela rua Nova, olhar as vitrines, ir até à Sorveteria Pilar, conhecer a praia de Boa Viagem, admirar Recife e Olinda. Chegou, inclusive, a conhecer o Rio de Janeiro e o Presidente Vargas.

Desejando se estabelecer no interior do Estado, Antônio Silvino resolveu mandar uma carta para José Américo de Almeida, um político de renome na Paraíba, solicitando-lhe um emprego, por conta dos "seus serviços prestados ao Nordeste". Mas, o escritor e político jamais lhe respondeu a carta.

O ex-detento viaja para o sertão da Paraíba. Ficou vagando de cidade em cidade, se hospedando nas casas de alguns amigos antigos, porém jamais obteve recursos financeiros para comprar a tão sonhada pequena propriedade e dedicar-se de corpo e alma à agricultura.

Terminou indo viver com uma prima, Teodulina Alves Cavalcanti, que morava com o seu esposo em uma casa modesta na rua Arrojado Lisboa, em Campina Grande, na Paraíba.

Considerando-se que Antônio Silvino permaneceu vinte anos arriscando a vida e enfrentando o perigo no cotidiano, é possível afirmar que o ex-cangaceiro teve uma vida longa. Lampião, por exemplo, foi morto em Sergipe no ano de 1938, aos 41 anos de idade. Na ocasião de sua morte, Antônio Silvino estava cumprindo a sua pena e, quando indagado acerca do ocorrido, ele declarou:

"Não me causou admiração porque a vida é incerta, mas a morte é certa. Não me interessam mais esses assuntos de cangaço, pois sou um homem regenerado. Só quero, agora, descanso na minha velhice".

Do perigoso cangaceiro que fora no passado, ele era hoje um homem idoso, mas que possuía uma mente esclarecida e respondia bem à todas as perguntas que lhe faziam. Dele, foi esse depoimento:

"Nunca tive medo de morrer em pé, quando campeava pelo Nordeste, mas, agora, deitado, não quero morrer, se bem que não tenha medo do inferno, pois se para lá for, disputarei um lugar de chefe, um posto de comando qualquer. Pro céu é que eu não quero ir, pois, ao que me consta, lá não há campo pra luta, nem lugar para Capitão de mato como sempre fui. Quero viver mais um pouco, mesmo com esta agonia que estou sentindo, com esta falta de ar, com esta falta de conforto".

E acrescentou:

"A justiça dos homens me condenou. A justiça da Revolução de 30 me absolveu, dando-me liberdade. A doença agora me prende e eu tenho que aguardar o pronunciamento da justiça de Deus. É ela maior de que todas as justiças da terra".

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