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sábado, 30 de junho de 2012

Game de cangaço no Facebook

 
O Cangaço Wargame foi lançado no dia 9 de junho de 2012, e pode ser jogado gratuitamente através do Facebook. A idéia do jogo nasceu há cinco anos, a partir da vontade de se desenvolver um jogo com base em nossa própria cultura, fugindo dos tradicionais cavaleiros medievais e soldados da segunda guerra mundial. Naquele momento, o Cangaço Wargame foi idealizado como um jogo de tabuleiro para tablets e smartphones.

Essa ideia inicial foi desenvolvida como um protótipo para tabuleiro com peças pintadas à mão, que foi utilizado para se testar e evoluir as mecânicas, regras e idéias do jogo. A experiência de desenvolver um protótipo de tabuleiro foi bastante gratificante e mostrou que o jogo e o tema se encaixam de uma forma muito divertida.


Durante os testes, notou-se que as batalhas eram muito competitivas, e os dois jogadores duelavam e interagiam com afinco durante a partida. Nesse momento, percebeu-se que o jogo possui características sociais muito marcantes e que o melhor ambiente para sua utilização seria o Facebook.

O jogo
No cangaço Wargame, você lidera um bando de cangaceiros em batalhas épicas nas fazendas, cidades e brejos da caatinga. Cada batalha é jogada em turnos contra um amigo de sua rede social no Facebook. Isso significa que você pode fazer a sua jogada sem que o seu amigo esteja necessariamente online. Dessa forma, uma partida pode ser jogada imediatamente, ou ao longo de um dia, ou até mesmo uma semana.

Ao iniciar uma partida, você irá comandar o seu bando de cangaceiros contra a temida volante, que será controlada pelo amigo escolhido na sua rede do Facebook. À medida que você vai vencendo seus amigos, sua pontuação vai aumentando e você poderá se tornar o “Rei do Cangaço”.

Em cada turno, você irá movimentar os seus personagens, atacar os seus inimigos, e se posicionar de forma a dominar o time adversário ou defender seu território, dependendo do tipo de batalha sendo jogada e do grupo que você está controlando: cangaceiros ou a volante, que possuem personagens e estratégias diferentes.

Para desbravar a aridez do sertão, você terá que racionalizar o uso da água, que é o recurso mais escasso e importante tanto para os cangaceiros quanto para a volante. No jogo, a água é usada para se “treinar” novos personagens e assim tentar obter uma vantagem tática na batalha.

História

Todos os elementos do Cangaço Wargame estão sendo baseados no movimento brasileiro que batizou o jogo. Muito do cotidiano dos cangaceiros será retratado, como por exemplo o fato dos cangaceiros atirarem de lado, pois assim, eles eram “meio homem” e ficavam mais difíceis de acertar. As roupas, cores, armas e as estratégias do jogo são cuidadosamente embasadas na historia do movimento. Para isso, a Sertão Games contou com a
consultoria de um dos maiores especialistas sobre o assunto, o médico e escritor Leandro Cardoso Fernandes.


O primeiro desafio que será apresentado ao jogador é completar a campanha de batalhas sob o ponto de vista de um bando de cangaceiros. A sequência de batalhas nessa campanha retrata diversos lugares onde ocorreram importantes eventos ligados ao cangaço. Para completar a campanha, o jogador precisará vencer seus amigos em cada uma dessas batalhas.

A época e os lugares em que o fenômeno do cangaço aconteceu também estão retratados no estilo, nos textos e na música do jogo, cuja trilha sonora está sendo composta pela banda Validuaté.

O cangaço foi lançado no dia 09/06/2012, e pode ser jogado gratuitamente, de qualquer lugar do mundo, através do Facebook.

Para notícias e mais informações, acompanhe a fanpage da Sertão Games:
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Para jogar :
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Videos





    Açude: Cangaço.com

E eu no açude do KIKO Monteiro

lampiaoaceso.blogspot.com

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 1 (PADRE ARTUR E O BANDO DE LAMPIÃO)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 1 (PADRE ARTUR E O BANDO DE LAMPIÃO)

Tornou-se célebre o episódio do encontro entre Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e o Padre Artur Passos, ou simplesmente Padre Artur, na residência dos amigos comuns Teotônio Alves China, o China do Poço, e sua esposa Dona Marieta, na povoação sergipana de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo. 

Segundo as narrativas, o mês era o de agosto, no tríduo dedicado às comemorações em louvor à santa padroeira da povoação, Nossa Senhora da Conceição. No dia 15, data do festejo principal, havia celebração de missa pelo vigário da Paróquia de Porto da Folha, município sertanejo ao qual estava vinculado Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo.


Assim, no dia 15, antes do meio-dia, chegou à localidade o Padre Artur Passos no intuito de celebrar a tão aguardada missa. Cansado, depois de uma longa viagem em lombo de burro, desceu do animal defronte à casa do seu amigo China, local onde ficava todas as vezes que até ali se dirigia. Descansaria um pouco, almoçaria, e depois emendaria nos preparativos da celebração.

Mas a casa da família China, pessoa renomada e das mais influentes na povoação, se enchia de convidados nesse período festivo. E eis que chega um matuto em disparada para avisá-lo que a cangaceirada já dobrava a curva da estrada naquela direção. China sabia que era pra sua casa que o Capitão Lampião se encaminhava juntamente com o seu bando. Já o havia recebido ali outras vezes.

Antes de sair à porta para esperar a comitiva trajada de sol, China gritou por Dona Marieta, que acorreu esbaforida perguntando pra qual lado o mundo estava se acabando. Quando ouviu a novidade da boca do esposo quase desmaia pra trás. Quando conseguiu abrir a boca, disse ao marido que coisa pior não poderia acontecer. E se danou a rezar.

Se benzendo, logo apontou em direção a uma porta, em cujo local o Padre Artur descansava antes do almoço, e perguntou como haveria de ser agora com a chegada de Lampião e o velho sacerdote estando por ali. E disse ainda que não esperava nada de bom nesse encontro da valentia bandoleira com a cruz da cristandade.

Verdade é que China também não sabia o que fazer, mas resolveu apenas dizer que não haveria de acontecer nada de ruim. Ademais, se de um lado não podia deixar de acolher o da igreja, por outro lado não podia nem pensar em deixar de receber o da guerra sertaneja. Contudo, o desespero do homem não era maior porque conhecia segredos entre os dois que ninguém mais sabia.


Coisa de não acreditar, mas China já sabia, pois ele mesmo intermediário, de uma velha amizade travada às escondidas entre Lampião e o Padre Artur. Ele mesmo já havia enviado diversas missivas para o padre dizendo o local exato onde o bando estava acoitado e que em tal dia o Capitão lhe esperava para o que sempre faziam nessas visitas mais que escondidas. E tudo mantido em segredo tão bem guardado que somente o coiteiro Mané Félix tinha conhecimento.

E durante essas visitas, sempre saindo no lombo de burro mas chegando à pé e depois de vencer os desafios das pontas de paus, xiquexiques e mandacarus, pedrarias e verdadeiros abismos, o velho sacerdote se transformava totalmente. Ou quase, pois sempre guardava alguns momentos para confessar os cangaceiros, ouvir o que lhes afligia, proporcionar algum conforto espiritual diante daquelas durezas cotidianas.

E como sempre chegava acompanhado do coiteiro carregado de tecidos, bebidas e mantimentos, nem se sentia culpado por passar horas e horas jogando baralho com Lampião, bebericando vinho de jurubeba, taliscando uma perna de preá assado na brasa. Não só o vinho, mas também, cachaça, e da limpinha, da boa mesma. E dizem até que quando o fogo lhe chegava às ventas, logo gritava pedindo um fole e se danava a dedilhar. E era uma festança só no meio da cangaceirada.

Antes de retornar, e quase sempre no outro dia, chegava o momento daquilo que mais apreciava fazer, que era lançar o olhar pidão sobre as mãos do Capitão Lampião e pedir devotadamente que fosse presenteado com aquele anel maior e mais brilhoso. E por mais que o rei dos cangaceiros dissesse que não podia se desfazer assim do presente enviado por este ou aquele coronel do sertão, acabava cedendo aos rogos do amigo vigário.

Com o valioso presente escondido debaixo dos panos, voltava o velho sacerdote em direção à sua paróquia, onde já no dia seguinte começava a esbravejar contra aqueles malditos assassinos, bandoleiros imprestáveis que andavam assolando o sertão de mortes e atrocidades, pecadores que mereciam o tacho fervente ainda em vida. Mas tudo da boca pra fora, pois enquanto falava o anel cangaceiro reluzia na sua mão. E que coisa mais bonita de se ver.

Por ter conhecimento da velada amizade entre os dois é que China procurou se acalmar e dizer à esposa que tudo logo seria resolvido da melhor maneira possível. E ao chegar e tomar conhecimento de que o padre já estava hospedado ali, Lampião foi logo dizendo que tinha grande interesse em encontrá-lo o mais rapidamente possível.


Talvez por momentâneo esquecimento de que China sabia de tudo, ao tomar conhecimento da proposta o padre quis espernear e jurar que jamais colocaria a cruz do Senhor diante de um cangaceiro. Mas em seguida lembrou-se da asneira que dizia ao amigo, porém pediu por todos os santos que não deixasse ninguém perceber que os dois mantinham grande relacionamento de amizade.

Então Padre Artur revestiu-se de falsa ojeriza ao rei dos cangaceiros e saiu do quarto como se quisesse matar uma fera apenas com o olhar. Mas baixou a guarda diante do Capitão e nem pensou duas vezes quando o mesmo lhe chamou num canto e disse que naquele dia todo o bando assistiria a celebração da missa. E a única exigência ouvida foi que deixassem as armas do lado de fora da igreja. Ao menos as de cano longo.

E assim foi feito, depois de uma maravilhosa buchada de bode gordo, coisa de lamber os beiços e repetir o prato. E quanta alegria esfomeada no da batina, e quanta voracidade no da pistola.


(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

COCOTA – O MAIOR SERESTEIRO DE MOSSORÓ

Por: José Mendes Pereira
Cocota

Participações Especiais:

Do cantor Carlos André, irmão do seresteiro Cocota,


e do poeta, escritor e pesquisador do Cangaço Kydelmir Dantas


Francisco de Almeida Lopes era carinhosamente alcunhado em Mossoró por Cocota. Seresteiro de primeira categoria; amigo dos amigos, conduzia consigo uma admirável popularidade. Nasceu na cidade de Santa Luzia, e era filho do senhor  Messias Lopes de Macedo e da honrada dona Joana Almeida Lopes, e irmão dos cantores Oséas Lopes (o atual Carlos André), Hermelinda Lopes e João Batista Almeida Lopes, que artisticamente é conhecido por João Mossoró.

Uma jovem que era empregada doméstica dos seus pais conduzia consigo uma paixão louca pelo seresteiro. O mais interessante, a jovem tinha um irmão ainda criança, que não se sabe o que ele havia feito contra o Cocota, fazendo com que ele o castigasse, dando-lhe uma terrível surra. A agressão do Cocota foi tão violenta, que seus irmãos, juntos, quase não conseguiram arrancar a criança dos braços do agressor. Salva das violências praticadas pelo seresteiro, a criança saiu em choro, prometendo-lhe que quando crescesse iria matá-lo, ou de um jeito ou de outro.


João Mossoró, Hermelinda Lopes e Carlos André

Anos após, quando os irmãos formaram o Trio Mossoró, Cocota não fazia parte do grupo, mas no auge do sucesso, e já morando no Rio de Janeiro, os irmãos resolveram levá-lo para o Rio, para tentar "carreira solo", com o apoio do Trio Mossoró.

Não se sabe se o que acontecera contra o Cocota tenha sido causado pela paixão da jovem, mas tudo indica que sim, já que ele estava de viagem pronta para juntar-se aos irmãos, que já brilhavam no mundo artístico; sabendo que tão cedo ele não voltaria a Mossoró, sua terra natal, é provável que ela tenha sido a idealizadora de um plano triste e doloroso.  

Já que o Cocota viajaria para a “cidade maravilhosa”, a jovem o convidou para fazer uma festinha em sua residência, onde lá ele cantaria as mais belas músicas que faziam sucesso na época.  Como ele era um jovem conhecido na cidade, amigo de muitos, não negou a sua solicitação, dando-lhe a palavra que à noite estaria presente em sua residência.  

Cocota era um jovem que não dispensava um bom gole, e nessa noite, bebeu vários goles a mais, chegando a ficar totalmente embriagado. É claro que a jovem sentindo a perda da sua paixão, e talvez, não se sabe, premeditou o crime, tenha lhe dado ainda uns goles a mais. Já muito embriagado ela o convidou para deitar-se, prometendo-lhe que no dia seguinte o levaria para casa dos seus pais. Cocota concorda, e caminha para o quarto, onde lá se deitou.   

Mas o seresteiro não imaginava que a sua viagem e carreira artística estariam prestes a serem encerradas, e por má sorte ou coisa arquitetada, o Cocota estava marcado para morrer. E na noite do dia 12 de fevereiro de 1962, a criança que Cocota açoitara, que agora já era um jovem, chegou ao local da festa. Apoderado de uma tesoura, o rapaz começou a furar-lhe. Foram 38 perfurações. Cocota tentou escapulir pela porta da cozinha, mas sobre o muro da casa da jovem era cheio de cacos de vidro, e por mais que ele tentou subir, não conseguiu se livrar da morte, caindo logo em seguida.

Seu Messias e Dona Joana Lopes tiveram o desprazer de ver o seu ente querido morto, com o corpo e os punhos banhados em sangue, saindo pelas perfurações feitas pela maldita tesoura e pelos cortes dos vidros.   

Cocota tentou se livrar da morte, fez tantos esforços para  viver, no intuito de apresentar a sua invejada profissão aos brasileiros, principalmente aos seus conterrâneos mossoroenses. Mas infelizmente  não conseguiu, calando assim e acabando com os sonhos daquele que foi o maior seresteiro da nossa cidade Mossoró

Os donos do poder, desde então, nada fizeram de maior importância para homenageá-lo. Mas seus irmãos ainda não perderam as esperanças que esse dia venha acontecer, que na Praça dos Seresteiros seja colocado o seu busto, talhado em bronze, para apresentar às futuras gerações, que ele foi o maior seresteiro de todos os tempos em Mossoró. 
 
Nota: Todas as informações deste artigo foram gentilmente cedidas pelo cantor Carlos André, quando de sua visita a minha residência, em companhia do irmão João Mossoró e Kydelmir Dantas, no dia 12 de Junho de 2012 

Contatos com Oseas Lopes (Carlos André):

Tel. 55 (81) 3422.0605 / (81) 9121.4485