Por: José Mendes Pereira
Lampião e Maria Bonita
Sou um humilde estudante do cangaço e tenho acompanhado os diversos escritores, pesquisadores e cineastas do cangaço, e encontrei no meu caminho cangaceiro, o amigo Francisco das Chagas do Nascimento, sendo este membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, aqui em Mossoró, o qual me fez ficar iludido pelas boas histórias sobre o movimento social dos cangaceiros.
Francisco das Chagas do Nascimento
Não sei o porquê de não ter escolhido o curso de “História” quando fiz faculdade. Tudo sobre história é além de fantástico, e principalmente quando se tem tempo suficiente para acompanhar esses cangaceiros pelas caatingas do Nordeste, observando os seus coitos, as suas invasões, os constantes tiroteios; jogar cartas ao anoitecer nas bancadas improvisadas, vez por outra bebericar uma bela pinga de qualquer fabricante.
Rezar juntamente com eles o ofício de Nossa Senhora, assistir de perto as covardias de alguns cangaceiros e cangaceiras. Fofocar sobre as traições das mulheres. Fugir do acampamento quando Zé Baiano se preparou para assassinar a sua linda Lídia.
Zé Baiano
Presenciar uma bronca de Lampião com um dos seus comandados. Acompanhar o mensageiro cangaceiro Candeeiro até à fazenda de um latifundiário, com um bilhete, solicitando boas quantias em valores.
Participar dos bailes perfumados que os cangaceiros e cangaceiras faziam nas caatingas. Fugir com eles quando a polícia não dava trégua. Testemunhar a grande discussão que aconteceu de Lampião com o seu comandado Volta Seca, causada pela sua desobediência.
Ficar ouvindo os conselhos de Virgínio Fortunado da Silva, ex-cunhado de Lampião, dirigido ao cangaceiro Volta Seca, que bem melhor seria ficar calado e obedecer ao seu grande chefe.
Virgínio ao lado de Lampião
Fechar os olhos para não ver Lampião decepando cabeças de policiais pegos pelos cangaceiros. Participar de acampamentos lá no Raso da Catarina. De metido, participar dos treinos de guerra do bando. Sair correndo para não ser pego pelas volantes como se fosse marginal. Tudo isso para se estudar, é fascinante.
Ver de perto e escondido entre as pedras que repousam lá pelo Raso da Catarina, a linda Maria Bonita se banhando, mas com um olho para frente e o outro em direção ao coito, temendo a suçuarana humana perceber.Alcino Alves da Costa
Todos nós, loucos, como nos chama o escritor Alcino Alves Costa, apesar de várias décadas passadas, para nós estudantes, escritores e pesquisadores, é como se tudo isso estivesse acontecendo nos dias atuais.
A literatura lampiônica mudou a minha maneira de viver, pois se me tirarem das pesquisas sobre o cangaço, é como se estivessem me enterrando vivo.
Observação
Senhor leitor: Não confundir estudar com maldades.
Nós que gostamos do tema cangaço, jamais queremos
que isso volte a acontecer.
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