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quinta-feira, 28 de março de 2013

Revista Formas Edição de Março 2013


Bom dia,

Acabou de sair mais uma edição da Revista Formas.
Segue o link para leitura:


A Formas está aí mais uma vez com uma edição bem dedicada ao que temos de melhor: os projetos de ambientação e interiores, sem esquecer a multiplicidade de temas que sempre estampam nossas páginas.

Começamos com entrevista de um dos arquitetos mais comentados nos últimos meses. Ricardo Dantas é o responsável pelo projeto de dois dos três atuais estádios de futebol em construção. O outro é o Arena das Dunas.

Nas ambientações, um caprichado projeto de Cypriana Pinheiro para uma residência voltada ao mar, cercada do que há de melhor.

As arquitetas do escritório de Franzé Arquitetos elaboraram a ambientação de um apartamento de 120² amparadas no fator sobriedade e funcionalidade, sem deixar de lado o conforto.

Larissa Cardoso fornece boas dicas para montagem de um living, cheio de sofisticação e um projeto luminotécnico diferenciado.

Se você quer dar uma repaginada em uma antiga residência sem tirar dela o charme da época, Luzia Emerenciano e Mychelle Araújo mostram como se faz nas próximas páginas.

Maria Luzia Negreiros transformou um amplo apartamento em um espaço clean e ao mesmo tempo arrojado no uso de materiais modernos.

Se o seu estilo primar mais pelo conservadorismo e o gosto pelas peças clássicas, os arquitetos Anderson Costa e Patrícia Diniz dão algumas ideias de como montar sua ambientação.

Para fechar, mais uma vez contemplamos um município potiguar para mostrar suas riquezas naturais, potenciais turísticos e características peculiares. Desta vez é Patu, detentor de alguns recordes mundiais.

É isso.
Boa leitura!

Demétrius Coelho Júnior

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O CANGAÇO EM PRESENTES QUE MARCARAM AS DUAS FACES DE CONFRONTO DAQUELA ÉPOCA.

Por: João de Sousa Lima

Em minhas pesquisas e entrevistas, tenho adquirido além das informações, materiais que serão disponibilizados em um Museu que será criado em Paulo Afonso.


Confesso que o que mais me impressiona na catalogação histórica são as fotografias antigas, sou fascinado por fotos de épocas e além de fotos coleciono várias coisas, entre elas: canivetes, selos, antiguidades, moedas e outra infinidade de materiais.


Durante minha estadia em  Belo Horizonte para entrevistar os cangaceiros Moreno e Durvinha, adquiri peças e fotos antigas que eles me presentearam. 

As balas de 1930.

Das coisas que guardo com carinho em meu acervo foi um par de abotoaduras e um canivete que o cangaceiro Moreno me deu.

Canivete que guardo com carinho, verdadeira relíquia dos tempos passados.

O ex-soldado de volante Teófilo Pires do Nascimento me presenteou com balas de 1930, quando ele perseguia os cangaceiros. 

Teófilo me presenteando balas da época que ele perseguia os cangaceiros.

Essas balas estarão expostas também no Futuro  Museu, em uma ala destinada ao tema cangaço.

João e Teófilo Pires do Nascimento

São presentes que marcam e que no futuro contarão histórias de uma época que aos poucos vai perdendo seus participantes diretos. 


Dos dois amigos que me presentearam só o Teófilo ainda está vivo.

Par de abotoaduras de Moreno.

As peças guardo com cuidado e agradeço pela oportunidade de além de tê-las ter convividos com esses personagens de um tempo que marcou as páginas do meu nordeste.

Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

DOIS ANOS DA SUA MORTE

ANTONIA MENDES PEREIRA

Hoje está completando dois anos que Antonia Mendes Pereira faleceu. 

Era filha de Manoel Mendes da Câmara e Apolinária Maria da Conceição. Natural de Mossoró, nascida no dia 22 de Janeiro de 1925.

Pedro Nél Pereira

Era esposa de Pedro Nél Pereira, ele filho de Manoel Francisco Pereira e Herculana Maria da Conceição (Primos de segundo grau).

Antonia Mendes teve 16 filhos, dos quais, 3 faleceram com idade de 1 ano de vida. 

São eles:

Nilton Mendes Pereira
Francisco Mendes Pereira - falecido - (aos 63 anos)
Eneci Mendes Pereira
Antonio Mendes Pereira
Maria das Graças Pereira
José Mendes Pereira
Luzia Mendes Pereira 
Anzelita Mendes Pereira
Maria do Carmo Mendes Pereira - falecida - (com 1 ano de vida) 
Antonio Mendes Sobrinho
Raimundo Mendes Pereira - falecido - (com 1 ano de vida)
Laete Mendes Pereira
Eliete Mendes Pereira - falecida (com 1 ano de vida)
Elizabete Mendes Pereira - falecida
Vera Lúcia Mendes Pereira
Lúcia do Carmo Mendes Pereira


Todos os filhos nasceram no Sítio São Francisco, propriedade do casal, saindo de lá, duram oito minutos de automóvel até a cidade de Mossoró

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O Cangaço no Cinema Brasileiro.



Cangaço foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início  do século XX.  O  cangaço  tem  suas  origens  em  questões  sociais  e   fundiárias  do Nordeste  brasileiro,  caracterizando se  por  ações  violentas  de  grupos  ou  indivíduos isolados:  assaltavam  fazendas,  sequestravam  coronéis  (grandes  fazendeiros)  e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo. Os  cangaceiros  conheciam  a caatinga e  o  território nordestino muito  bem,  e    por  isso era  tão  difícil  serem  capturados  pelas  autoridades.  Estavam  sempre  preparados  para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso. Consta que o primeiro cangaceiro teria sido o "Cabeleira" (José Gomes), líder nascido em Glória do Goitá - cidade da zona da mata pernambucana - em 1751, que aterrorizou a região, inclusive, Recife. Mas foi somente no final do século XIX que o cangaço ganhou força e prestígio, principalmente com "Antônio Silvino”, "Lampião" e "Corisco O  cangaceiro  mais  famoso  foi  Virgulino  Ferreira  da  Silva,  o  Lampião, denominado  Senhor do Sertão" e também "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do Nordeste brasileiro. O Nordeste sempre teve uma forte presença na cultura brasileira em todos os ramos da arte, e no cinema não poderia ser diferente. Se os americanos possuem seus westerns imortalizados pela figura do cowboy, o Nordeste do Brasil possui os cangaceiros, tema que há muito tempo faz parte do cenário cinematográfico brasileiro, tendo se tornado um gênero bastante singular no cinema nacional, conhecido como a "versão tropical do western americano".O cangaço foi retratado no cinema brasileiro em várias épocas e de diversas formas. Desde a década de 20 a temática fascina cineastas e espectadores. Até o momento, há cerca de 50 filmes sobre o assunto, entre curtas, médias e longas-metragens, documentários e ficções.

OS PRIMÓRDIOS-

1925 - Filho sem Mãe - Tancredo SEABRA. (Filme Desaparecido)- 
1926 - Sangue de Irmão - Jota Soares. (Filme Desaparecido)- 
1927 - Lampião: o Banditismo no Nordeste - Autor Desconhecido. (Filme Desaparecido)- 
1930 - Lampião, a Fera do Nordeste - Guilherme Gáudio. (Filme Desaparecido)-
1936 - Lampião, o Rei do Cangaço - Benjamin Abrahão Lampião, o Rei do Cangaço é, certamente, o filme mais importante desse período e um dos mais significativos para o   gênero, sendo um documento chave para a compreensão   antropológica do cangaço e um registro histórico no cinema   brasileiro.

 “NORDESTERN”-

1950 - Lampião, o Rei do Cangaço - Fouad Anderaos. (Filme Desaparecido)-
1953 - O Cangaceiro - Lima Barreto.- 
1960 - A Morte Comanda o Cangaço - Carlos Coimbra.- 
1962 - Três Cabras de Lampião - Aurélio Teixeira.- 
1962 - Nordeste Sangrento - Wilson Silva.- 
1962 - Lampião, o Rei do Cangaço - Carlos Coimbra.- 
1963 - O Cabeleira - Milton Amaral. (Filme Desaparecido)- 
1965 - Entre o Amor e o Cangaço - Aurélio Teixeira. (Filme Desaparecido)- 
1966 - Riacho do Sangue - Fernando de Barros.- 
1967 - Cangaceiros de Lampião - Carlos Coimbra.- 
1968 - Maria Bonita, Rainha do Cangaço - Miguel Borges. (Filme Desaparecido)
1969 - O Cangaceiro Sanguinário - Osvaldo de Oliveira. (Boca do Lixo)- 
1969 - O Cangaceiro sem Deus - Osvaldo de Oliveira. (Boca do Lixo)- 
1969 - Meu Nome é Lampião - Mozael Silveira.- 
1969 - Corisco, o Diabo Loiro - Carlos Coimbra.- 
1969 - Quelé do Pajeú - Anselmo Duarte. (Filme Desaparecido)- 
1970 - A Vingança dos Doze - Marcos Faria.- 
1971 - Faustão - Eduardo Coutinho.- 
1971 - O Último Cangaceiro - Carlos Mergulhão. (Filme Desaparecido)- 
1972 - Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro - William Cobbett.- 
1974 - O Leão do Norte - Carlos Del Pino. (Filme Desaparecido)- 
1978 - Os Cangaceiros do Vale da Morte - Apollo Monteiro. (Filme Desaparecido)- 
1980 - O Cangaceiro do Diabo - Tião Valadares.

COMÉDIAS- 

1955 - O Primo do Cangaceiro - Mário Brasini.- 
1961 - Os Três Cangaceiros - Victor Lima.- 
1963 - O Lamparina - Glauco Mirko Laurelli.- 
1969 - Deu a Louca no Cangaço - Nelson Teixeira Mendes/Fauzi Mansur. (Filme Desaparecido)-
1977 - Pedro Bó, o Caçador de Cangaceiros - Mozael Silveira.- 
1983 - O Cangaceiro Trapalhão - Daniel Filho.

PORNOCHANCHADAS

 1974 - As Cangaceiras Eróticas - Roberto Mauro. (Pornochanchada)- 
1976 - A Ilha das Cangaceiras Virgens - Roberto Mauro. (Pornochanchada)- 
1976 - Kung-fu contra as Bonecas - Adriano Stuart. (Pornochanchada)- 

 DOCUMENTÁRIOS-

1959 - Lampião (o Rei do Cangaço) - Al Ghiu.-
1964 - Memória do Cangaço - Paulo Gil Soares.- 
1975 - O Último Dia de Lampião - Maurice Capovilla. (Docudrama)- 
1976 - A Mulher no Cangaço - Hermano Penna. (Docudrama)- 
1977 - No Raso da Catarina - Hermano Penna. (Docudrama) (FilmeDesaparecido)- 
1982 - A Musa do Cangaço - José Umberto Dias. (Curta)

CINEMA NOVO O CANGAÇO DE GLAUBER ROCHA

1964 - Deus e o Diabo na Terra do Sol - Glauber Rocha.- 
1969 - O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro - Glauber Rocha.

CINEMA RETOMADA (releituras)

1994 – A Cidade de 4 Torres – Alberto Sales. Curta que faz referencia a derrota de Lampião em Mossoró, a 13 de junho de 1927.
1996 - Corisco e Dadá - Rosemberg Cariry.
1997 - Baile Perfumado - Paulo Caldas/Lírio Ferreira.
1997 - O Cangaceiro - Aníbal Massaíni Neto O filme foi gravado no  Vargem Grande do Sul,  povoado de Pão de Açúcar,  interior do estado de  município de Poção no  São Paulo.  a paisagem da  cidade se parecia muito  com a nordestina FICHA TÉCNICA Título Original: O Cangaceiro - Diretor: Lima Barreto Gênero: Aventura - Elenco: Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton  Tempo de Duração: 110min. Ribeiro, Vanja Orico, Ricardo Campos, Galileu  Ano de Lançamento (Brasil): 1997Garcia, João Batista Giotto Direção: Anibal Massaini Neto Produção: Aníbal Massaini Netto Argumento: Lima Barreto Roteiro: Lima Barreto, Raquel de Queiroz  Roteiro: Antônio Carlos Fontoura(diálogos) Adaptação: Galileu Garcia, Anthony Foutz e Carlos Fotografia: Chick Fowle CoimbraTrilha Sonora: Gabriel Migliori Produção: Anibal Massaini Neto Duração: 105 min. Produtor Associado: Alexandre Adamiu Ano: 1953 Direção de Produção: Ary Fernandes País: Brasil Co-produção: Cinearte Produções Cinematográficas e Gênero: Drama Ramona Constellacion e Film Company Cor: Preto e Branco Vicente Salvia Distribuidora: Columbia Pictures Sonografia: Juarez Dagoberto da CostaEstúdio: Companhia Cinematográfica Vera Cruz Fotografia: Cláudio Portiolli Direção Artística: Carybé Maquiagem: Victor Merinow Montagem: Luiz Elias

BIBLIOGRAFIA: 
·         
 CAETANO, Maria do Rosário. Cangaço: o Nordestern do cinema brasileiro. Brasília: Avatar Soluções Gráficas, 2005.
GOMES, Paulo Emílio Sales. Cinema: Trajetória e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
         MIRANDA, Luiz Felipe e RAMOS, Fernão - Enciclopédia do Cinema
·         OLIVEIRA, Adriano Messias de. O cangaço no Brasileiro. São Paulo: Senac, 2004.cinema brasileiro dos anos 90: um certo olhar sobre nossa identidade cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2001 (História, Dissertação de mestrado).
         QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Os cangaceiros. São Paulo: Duas Cidades, 1977.
        SOUZA, Marcelo Dídimo. O Cangaço no Cinema Brasileiro. São Paulo: UNICAMP, 2007 (Instituto de Artes, Tese de doutorado em Multimeios). :VIANA, Nildo  Jornal Opção, 19 jul. 2006. Disponível em: 28/06/2010. 

Enviado pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
 Kydelmir Dantas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

OS CRIMES de LAMPIÃO


Por: (Ranulfo Prata)

Teria sido Lampião, realmente, um homem violento, cruel, frio, capaz de cometer os mais horrendos homicídios? Sim. A descrição de alguns dos seus crimes feita por Ranulfo Prata, não deixa dúvida alguma de que, antes de ser o Robin Hood descrito por alguns de seus historiadores, o cangaceiro-chefe, foi acima de tudo desapiedado para com suas vítimas.

"Vila Queimadas é uma humílima estação da estrada de ferro que liga a capital baiana a Juazeiro, aquela mesma que nos tempos da campanha de Canudos fez-se conhecida por ser ponto de desembarque das tropas expedicionárias.

Euclydes da Cunha assim a ela se refere:

"O casario pobre, desajeitadamente arrumado pelos lados da praça irregular, fundamente arada pelos enxurros, um claro no matagal bravio que o rodeia e, principalmente, a monotonia das chapadas que se desatam em volta, salteadamente pontilhadas de morros desnudos, dão-lhe um ar tristonho, completando-lhe o aspecto de vilarejo morto, em franco descambar para tapera em ruínas"

Ainda hoje é assim.

Como todos os povoados da região parece sempre em "franco descambar para tapera em ruínas", mas não morre nunca, perdura num estado miserável de cachexia, animado de eterno sopro de vida.
Lampião uma manhã fez-lhe uma surpresa de bater-lhe as portas. Tomou de assalto o quartel e nele prendeu todo o destacamento, composto de sete soldados e um sargento. Deixando-o sob a guarda dos cabras, que assim transformaram os pobres policiais, de carcereiros que eram, em encarcerados, foi a uma pensão e pediu que lhe servissem lauto almoço, fazendo questão de que todos os hóspedes, viajantes e pessoas outras, sentassem também à mesa para comer em sua companhia.

Houve quase um banquete. O dono da casa apressou-se em servir o hóspede, matando galinhas, e preparando pratos especiais, atulhando a mesa de iguarias e bebidas várias.

O senhor dos sertões abancou-se à cabeceira e a refeição correu sem novidade, o anfitrião a sorrir amável para todos, principalmente aos viajantes que riam um tanto forçados, deglutindo mal, com espasmos no esôfago.

Ao findar, pagou largamente e encaminhou-se para o quartel onde os seus prisioneiros, lívidos e com o coração a bater forte, aguardavam a sentença, que não demorou muito.

Paga um deles e leva-o para o oitão da cadeia. Ordena que se ajoelhe. O homem dobra as pernas que mal sustém o corpo e finca os joelhos no chão. Tem um olhar intraduzível de pavor. E friamente, serenamente, o matador bárbaro saca do punhal de 78 centímetros de lâmina e crava, num golpe certeiro e veloz, na região preferida – a fossa supra-clavicular. A arma, agudíssima, vara facilemnte o mole dos tecidos, como um palito à manteiga.

A experiência ensinou-lhe ser ali ótima região, sem obstáculos ósseos que lhe resvalem o punhal. Ao introduzi-lo oblíqua à direita ou esquerda, conforme o lado ferido, transfiando, assim, o mediasno. O homem, sangrado como uma rez, dá um salto, lança nos ares um urro medonho e cai de borco, já cadáver.

Ele volta à prisão, retira o segundo condenado e repete a cena com a mesma indiferença e frieza. O mesmo golpe certeiro, o mesmo salto, o mesmo urro medonho que põe nos nervos mais equilibrados um tremor de angústia mal definida.

Arrasta para fora o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo. Quando chega a vez do sargento Evaristo muitas pessoas do lugar intercedem, pedem, imploram em favor do desgraçado. Que, o poupe, ao menos, que o poupe, animam-se a dizer alguns. Já correu muito sangue, deixe a vida ao pobre sargento que tem família numerosa e é homem bom, e querido. Lampião fita-o, nota-lhe os beiços alvacentos a tremerem, a brancura das feições transtornadas, as pernas mal firmes, e diz numa zombaria macabra:

Não sei pruque nunca vi homem corado na minha frente!

E consente-lhe a esmola da vida, num gesto desdenhoso de vencedor terrível.

Manda enfilerar os cadáveres.

Quando eu sai que enterre, ordena.

E virando as costas vai bebericar numa venda próxima.

Além desta mortandade ultraja o juiz e exige da população miserável mais de uma dezena de contos.

Trabalhavam alguns homens na estrada de rodagem, no sítio Carro Quebrado, entre Chorrochó e Barro Vermelho, sob a direção do capataz José Grande, quando foram surpreendidos pelos bandoleiros. Lampião desce da sua montada e caminha para eles de cara fechada, sobrecenho carregado e diz aos trabalhadores estarrecidos:

- Já avisei a todos Qui não quero este negóço de estrada, Qui só serve p’ra passar macaco atrás de mim, vocês não ligaro o que eu apreveni e por isto vão morrê.

Estabeleceu-se enorme confusão, durante a qual muitos fogem em louca corrida pelo mato.

Nove deles, porém, são pegados, subjugados e juntamente com o capataz, que não conseguiu escapulir, foram sangrados.

E a malta, minutos depois, abalava num galope, deixando nove corpos ensangüentados a esteirar a estrada deserta.

Aproxima-se a caterva de Capim Grosso. Os espiões informam, porém, que a vila se acha guarnecida. Lampião torce caminho, receoso e cheio de cautelas. Ladeia a população e toca para adiante na sua caminhada perene.

Mas tem "boa" estrela, o acaso entrega-lhe nas mãos uma presa valiosa.

Aprisiona nas vizinhanças da vila o seu escrivão, parente do coronel João Borges, de Uauá. Como usa também dos processos civilizados de americanos, exige cinco contos da família da vítima em troca de sua liberdade. Vai o emissário à povoação e estipula o negócio.

A mulher não possui tão grande quantia. O seu marido é um simples escrivão de roça, mal ganha para passar com a família numerosa.

Entra em desespero. Quer salvar a vida do esposo seja a que preço for. Corre, numa aflição de meter dó, à casa dos parentes, dos conhecidos, de toda a gente que possa socorrer com uma esmola. Pede pelo amor de Deus que lhe dêem, que lhe emprestem qualquer coisa. É uma vida a ser poupada com ele, a vida preciosa de seu marido.

Diante daquela angústia imensa, toda a vila se comove e faz-se uma coleta. Povoação paupérrima, para somar cinco contos foi preciso que quase todos concorressem com um auxílio. E a quantia, afinal, após penoso angariar, se completa. A mulher pega do volume de cédulas, aperta-o entre os dedos trêmulos, e com o coração repousado numa grande alegria, entrega ao emissário.

- Pelo amor de N. Senhora, diga ao capitão que o solte logo, implora, numa ânsia, desejosa de libertar-se sem demora daquele pesadelo.

O povoado fica à espera do refém.

Lampião recebe o dinheiro, conta-o lentamente, molhando os dedos na língua, desaperta da cintura "o papo de ema" que está túmido de notas graúdas, desdobra-o e acondiciona, meticulosamente, mais aquele pacote.

Depois, lerdo, caminha para a vítima e lhe diz:

- Pro mim você tá livre, mas os meus meninos precisa ajustá conta com você.

Era a quebra infame da palavra que garantira a vida do prisioneiro. Da sua palavra, cujo cumprimento ele alardeava nos sertões, dizendo, arrogante, como num juramento:

Palavra de bandido!

E afasta-se, indiferente.

Corisco apossa-se do preso, apunhala-o e mutila o cadáver, abrindo-o em bandas, como aos bodes nas feiras sertanejas.
* * *
Manuel Salina e sua numerosa família, composta de cinco filhos e duas filhas, moravam no sítio "Almacega", de sua propriedade, distante de Geremoabo quatro léguas.

Vive tranquilo, feliz, do plantio rudimentar da mandioca e de cereais, nos bons invernos, e de limitada criação de gado, cabras e carneiros.

Certo dia, dia fatídico que lhe havia de trazer aniquilamento total, fornece a uma volante que lhe passa na porta, ligeiros informes sobre a direção tomada pela horda que ali transitara dias antes. E foi só.

Graças ao seu serviço de espionagem soube Lampião da denúncia, crime para ele sem apelação nem recursos, e para o qual só há uma sentença: - a morte. Não esquece, não perdoa. Cedo ou tarde, vinga-se. Mandou recados ao velho Salina, dizendo que lhe havia de pagar.

O sitiante sabendo com quem tratava, tendo certeza de que a promessa se realizaria, mudou-se para Geremoabo, onde estaria bem guardado pelo fuzis que protegiam o quartel-general da campanha. Abalou com toda a família, deixando ao abandono completo casa, roça e criações.

E os dias correram.

Antonio Salina gastava as horas perambulando tristemente pelas ruas da "vila secular", debruçando-se nos balcões das bodegas ou estirado na rede, em sestas longas, numa ociosidade de afligir seus nervos de homem acostumado aos trabalhos roceiros, braçais, de labuta constante, de sol a sol.

A inatividade o adoentava.

E não era só a inércia. Em casa, a farinha, base de alimentação, estava a faltar, os últimos sacos se esvaziavam como se fossem despejados. A família era grande e de gente sadia que comia bem. Que fazer? Comprá-la, pelo preço da seca que estava nas feiras, não era possível, não tinha dinheiro para tanto. O remédio para a aflição em que se achava era ir ao sítio colher umas mandiocas e fazer uma farinhada. Mas, e a ameaça terrível que lhe pesava sobre a cabeça branca e já cansada?

Consultou amigos.

Não vá, foi o conselho unânime.
Mas é só por um dia e uma noite.
Explicava:

- Vou com os meninos de madrugada, e quando o sol clarear já estaremos de mandioca arrancada. Pelo meio-dia a raspação está no fim e o forno já quente. Ao esfriar do sol as primeiras fornadas estão saindo, e antes do galo amiudar estaremos, de novo, dentro de Geremoabo. Será serviço ligeiro, de quem tem pressa.

E assim foi. O velho com toda a família partiu para Alma cega, para a farinhada trágica. E na tarde de 13 de maio de 30, quando o serviço ia mais animado, todos entregues as suas ocupações, Lampião risca o cavalo, repentinamente, no terreiro varrido. A malta invade, num atropelo ruidoso, a casa de farinhar. É um momento angustioso para os presentes. A primeira menção é de fuga, mas se acham tão rapidamente envolvidos por todos os lados que o desejo logo se esvai, ficando todos como paralisados nos lugares em que se encontram, as mulheres chorando, os homens de olhos e braços caídos como se fossem manequins.

Pai e filhos são logo presos.

Lampião com ares solenes, relembra ao velho a perfídia de o Ter denunciado à tropa e diz que agora irão pagar novos e velhos.

Lança mão de um dos rapazes, sertanejo hercúleo, de mais de 20 anos, e cuidadosamente o amarra a corda e relhos, ao pai, braço com braço, perna com perna, só de um lado, tronando-os estranhamente xifopagos. Saca da cinta a pistola "parabellum" e dispara à queima roupa, na nuca do moço, cuja massa muscular toda se agita em extremeções violentas e emborca para a frente, arrastando na queda o pai. É um cadáver que faz cair um vivo.

Lampião curva-se sobre o bolo formado pelos dois corpos, e os separa a golpe de punhal, cortando as amarras. Ergue o velho pela gola, num violento impulso e o põe de pé, de novo. Pega no segundo filho e o ata do mesmo modo ao pai, braço com braço, perna com perna. Outro tiro de "parabellum" na nuca e outro baque de corpos embolados. Repete mais uma vez a cena com o terceiro filho, sem omitir um detalhe, com os mesmos cuidados lentos. Escapa o quarto, o mais moço, porque um dos bandidos ordenara-lhe subir no teto da casa e quebrar todas as telhas para maior castigo dos culpados. Apanhando-se no telhado, o rapaz pula do alto e desaparece na caatinga, indo parar em Geremoabo.

As mulheres são poupadas. Mas não o são os companheiros de farinhada de Salina, abatidos, um a um, como animais de corte: Boa Batata, Cirillo Batata, José Grande e Antonio Batata.

Finda esta parte voltam-se então para o velho, que até ali estivera a espectar o morticínio. Cortam-lhe as duas orelhas, furam-lhe um olho, quebram-lhe os dentes e castram-no.

Obrigam esta figura miserável de homem a subir num animal encangalhado e partem. Lampião exige que ele vá lhe mostrar a morada de um outro filho, distante três léguas. O rijo sertanejo, que não se abate de todo, apesar das lesões graves, lá se vai pela estrada como um símbolo vivo e doloroso e sangrento de toda aquela gente que vive abandonada, naquele deserto de espinhos, de Deus e dos homens. Segue aos cambaleios, com a cabeça branca toda vermelha de coágulos, o olho vazado a porejar lágrimas de sangue, a boca cheia de espuma escarlate.

Adiante, muito adiante, já noite avançada, chegam à casa do filho, vaqueiro do capitão Angelo, de Geremoabo.

- Eu vou batê na porta mas quem responde é você, seu véio safado, diz Lampião, apeando-se.

Bate com os nós dos dedos na porta humilde. Alguém fala de dentro. O velho responde, cá de fora. Reconhecendo a voz, o filho ergue-se ao abrir a porta recebe a queima-roupa, um tiro no peito.

Faz-se silêncio de novo. O suplício de Manoel Salina continua, num lento arrastar, para o seu calvário, que não chega. Caminham...caminham... Só na fazenda Bandeira, distante léguas, é que lhe fazem a misericórdia de acabar de matá-lo, abrindo-lhe o peito e retirando-lhe o coração, na visão rubra de cujo órgão o facínora dá por satisfeito a sua vingança.

O cadáver ficou estendido no alpendre da fazenda, e só teve sepultura dias depois, quando um volante ali passou.

No dia da chacina, em Geremoabo, base de operações, quartel-general, distante quatro léguas do local do crime, havia nada menos de 60 soldados sob o comando de três oficiais. O filho do velho Salina, de nome Fabiano, como vimos, milagrosamente escapou do massacre, vara, de um fôlego, as quatro léguas, detendo-se dentro das ruas da vila, onde a força goza de ócios amáveis. O jovem sertanejo chega a ofegar, e pálido de morte, desvairado de espanto, com as roupas em tiras, pernas a sangrar, cabelos ao vento, conta o sucedido, engasgado de medo e de emoção.

Pede um socorro urgente que lhe salve o pai. Já é noite.

Os três comandantes fitam-se, e o quadro horrível da mortandade passa-lhe, num relance, ante os olhos, numa visão apavorante de sangue e corpos apunhalados. Consultam-se em conselho demorado de pusilanimes e poltrões. E só no dia seguinte, às 9 horas da manhã, um deles depois de ter dormido até às 8, feito vagarosamente a "toilette", barbeado, escovado, e bebido com lentidão aristocrática o seu café com leite e torradas, é que partiu no encalço dos bandoleiros que, durante a noite, no terreiro da fazenda Bandeira, com o cadáver de Manuel Salina ao lado, levaram a sambar, embriagados, ao toque de harmônica e pandeiro."

( Texto transcrito da obra LAMPIÃO/Ranulfo Prata/Editora Traço)

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