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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Cidade de Brasiléia está quase toda debaixo d’água; 95% atingida

Brasileia foi atingida pela cheia do rio Acre e está em situação de emergência (Sérgio Vale/Secom)
Brasileia foi atingida pela cheia do rio Acre e está em situação de emergência (Sérgio Vale/Secom)


As informações da medição realizada ao meio-dia ainda não foram repassadas pela dificuldade de comunicação via telefone. A cidade também está sem energia elétrica e sem internet.

Brasileia foi atingida pela cheia do rio Acre e está em situação de emergência. De acordo com o boletim divulgado pela Defesa Civil no domingo, 19, o nível era de 12,32 metros, e hoje pela manhã estava com 13,50 metros.

As informações da medição realizada ao meio-dia ainda não foram repassadas pela dificuldade de comunicação via telefone. A cidade também está sem energia elétrica e sem internet.

Na manhã  de hoje o governador Tião Viana esteve em Brasileia para acompanhar de perto a situação das cinco mil pessoas que foram atingidas pela cheia.

700 famílias já foram retiradas de suas residências e transferidas para casa de familiares ou para abrigos públicos. Homens do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Exército, da equipe de governo da cidade e de populares estão trabalhando em conjunto para minimizar o sofrimento dos alagados.

“Esta é a alagação mais agressiva que Brasileia já sofreu. O governo presta integral apoio. Estamos autorizando a prefeitura a fazer uso do que for necessário em relação à alimentação, medicamentos, fortalecendo as ações nos abrigos. Todos os insumos serão enviados à Brasileia”, destacou o governador.

A prefeita de Brasileia, Leila Galvão, decretou situação de emergência em razão do número de pessoas que foram obrigadas a deixar suas residências. A praça Hugo Poli, por exemplo, está totalmente embaixo d’água. “95% da cidade está alagada. A situação só não está pior porque há quatro dias, nós já estávamos trabalhando com a divulgação da informação de que as águas que atingiram Assis Brasil chegariam a Brasileia. Quero agradecer o apoio irrestrito do governo do Estado, da população de nossa cidade e de nossa equipe que tem se dedicado neste momento. Estamos organizando os abrigos, disponibilizando alimentos e ações de saúde para dar mais conforto para as pessoas”, pontuou a prefeita.

A prefeita de Brasileia, Leila Galvão, decretou situação de emergência em razão do número de pessoas que foram obrigadas a deixar suas residências (Sérgio Vale/Secom)
A prefeita de Brasileia, Leila Galvão, decretou situação de emergência em razão do número de pessoas que foram obrigadas a deixar suas residências (Sérgio Vale/Secom)

Apoio aos desabrigados de Brasileia

O Governo já  autorizou a assinatura de um convênio no valor de R$ 200 mil com a prefeitura de Brasileia. O recurso será utilizado na compra dos itens de primeira necessidade dos desabrigados. Já foram enviados ao município três mil litros de combustível, colchões e caminhões com água potável. “Estamos empenhados para ajudar as famílias que estão vivendo este momento delicado”, ressaltou o comandante do Batalhão da Polícia Militar de Brasileia, coronel Aires.

Adquiri no blog do Eurico Paz



Sobre Gênios e Loucos

Por:  Ulrich Kraft
O ESCRITOR RUSSO Liev Nicoláievitch Tolstói (1828-1910), em quadro de Ilia Repin (1891). Liev Tolstói durante Repouso na Floresta. Coleção da Galeria Tretiakov, Moscou

Munch, Van Gogh, Picasso - De muitos artistas sempre se disse que não batiam lá muito bem da cabeça. Pois agora aumentam as evidências científicas de que criatividade e doença mental andam de fato muito próximas

Muitas pessoas já me caracterizaram como louco", escreveu certa vez Edgar Allan Poe (1809-1849). "Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência." Nessa sua suspeita de que genialidade e loucura talvez estejam intimamente entrelaçadas, o escritor americano não estava sozinho. Muito antes, Platão mostrara acreditar em uma espécie de "loucura divina" como base fundamental de toda criatividade.

Uma lista interminável de artistas célebres, parte deles portadores de graves transtornos psíquicos, parece confirmar o ponto de vista do filósofo grego. Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Lord Byron, Liev Tolstói, Serguei Rachmaninov, Piotr Ilitch Tchaikóvski, Robert Schumann - o célebre poder criativo de todos eles caminhava lado a lado com uma instabilidade psíquica claramente dotada de traços patológicos. Variações extremas de humor, manias, fixações, dependência de álcool ou drogas ainda hoje atormentam a vida de muitas mentes criativas.


SERÁ MERA COINCIDÊNCIA? 

No início do século XX, a busca pelas raízes da genialidade era um dos temas mais palpitantes da investigação psicológica. Cientistas de ponta tinham poucas dúvidas de que certos males psíquicos davam asas à imaginação. "Quando um intelecto superior se une a um temperamento psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de genialidade efetiva que entra para os livros de história", sentenciava o filósofo e psicólogo americano William James (1842-1910). Pessoas assim perseguiriam obsessivamente suas idéias e seus pensamentos - para seu próprio bem ou mal -, e isso as distinguiria de todas as outras.

Sigmund Freud também se interessou pelo assunto. Convicto de que encontraria "algumas verdades psicológicas universais", analisou vida e obra de artistas e escritores famosos, buscando pistas de transtornos mentais. Mas foi somente a partir dos anos 70 que Nancy Andreasen, psiquiatra da Universidade de Iowa, começou a investigar de forma sistemática a suposta ligação entre genialidade e loucura. Participaram de sua experiência 30 escritores cujo talento criativo havia sido posto à prova na renomada oficina de autores da universidade.


Ulrich Kraft é médico e jornalista científico.

Fonte: 

28 de julho de 1932, no “Diário de Notícias”

Por: Rubens Antonio

ABANDONAM OS FILHOS!

Ha varias mulheres que acompanham o bando de Corisco. 


esse facinora é dado a aventuras amorosas, bem como os seus cabos de ordem 


Virginio 


e Mariano.

Estes, há cerca de um mês, no logar denominado Tingui, abandonaram duas filhas. Uma conta quatro mêses e outra nove. São duas caboclinhas interessantes de olhos vivos. A pessoa que as recebeu das mãos dos bandidos, teve ordem de entragal-as á policia pra criar.
Dias depois, o sargento Mineiro recebia o presente...
O Chefe de Policia teve occasião de vê-las, na sua passagem pelo Sitio do Quinto. estão gosando perfeita saúde e bem dispostas.
Não é sem tempo a sua remoção para o Asylo dos Expostos, onde são dispensados ás crianças cuidados especiaes.


Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço: 
Rubens Antonio
http://cangaconabahia.blogspot.com

UM POEMA-HOMENAGEM À AURORA ANTIGA...

Por: José Cícero
José Cícero Silva

UMA VEZ...


Era uma vez...
Uma cidadezinha
fantasticamente bela e aprazível.
Vivendo toda a calmaria provinciana
dos sertões da vida.
Lida histórica e cotidiana.
Lugarejo pacífico e hospitaleiro.
Notório vilarejo,
vivendo a monotonia dos rincões do mundo
como que perdido
ou mesmo esquecido
nos grotões do Cariri a dentro.
Vila aldeã
da mais meridional do Ceará.
Era uma vez.
Uma pequenina vila alegre e próspera
Um punhado de casinhas
beirando o rio.
Uma capela - a São Benedito.
Uma vivenda-hospedaria
de uma bela senhora – Dona Aurora
em sua brava lida cosmopolita.
Encontro dos almocreves
rancho e tenda.
Uma cidadezinha
bucólica e ribeirinha.
Outrora denominada: Venda
agora chamada fulgidamente - Aurora.




De: José Cícero(inédito 2011)
Jccariry@gmail.com


Luiz e Tico da Lindomar

Por: José Mendes Pereira


As grandes empresas de Mossoró vão se indo aos poucos

Dois grandes empresários de Mossoró que vieram da pobreza, mas conseguiram os seus objetivos, que era montarem uma empresa de "Móveis". 

Iniciaram as suas atividades, juntos, numa pequena oficina nas proximidades do centro da cidade, e posteriormente se transferiram para o bairro Alto da Conceição, frente à Rua Alberto Maranhão.

Ganharam a fama de bons fabricantes de Móveis, e consequentemente construíram a grande fábrica na Avenida Presidente Dutra, no grande Alto de São Manoel, onde centenas de marceneiros trabalhavam na fabricação de móveis.

Luiz e Tico não foram os primeiros fabricantes de móveis em Mossoró, pois já existiam as fábricas de:


Clóvis Ciarlini, sendo este, pai da ex-prefeita e atualmente Governadora do Rio Grande do Norte, 

Rosalba - blusa rósea

Rosalba Ciarlini, e Móveis Silvan, do empresário e ex-prefeito de Mossoró, Sílvio Mendes, mas foram os donos da maior empresa de fabricação de Móveis em Mossoró. Nos dias de hoje, todas extintas, apenas algumas pequenas fábricas tentam sustentar o comércio de móveis na grande cidade mossoroense. Infelizmente, quando Mossoró dá dois passos para frente, com certeza, dá meio passo para trás.

Mossoró já foi proprietária de fábrica têxtil, de óleo de cozinha, solda cáustica, óleo de algodão, óleo de oiticica, fábrica de sapatos, de confecções, saboarias, redes..., mas por falta de apoio por parte dos governantes, foram todas fechadas, restando apenas os prédios, e muitos deles já foram vendidos para outros empresários que os transformaram em outras atividades, que a sua duração no ramo, só Deus saberá até quando. Hoje, quem sustenta esta cidade é o ouro negro... 

Entrevista com Crispiniano Neto

Por: Alexandre Gurgel
Crispiniano Neto - Crispiniano Neto, poeta da Literatura de Cordel e gestor cultural

Como foram suas primeiras letras em Santo Antônio do Salto da Onça?

Eu estudei no Grupo Escolar Manoel Dantas. Naquela época, ninguém sabia quem era o Manoel Dantas. É preciso divulgar mais a obra desse grande intelectual. A primeira professora foi dona Altair, que era professora da escola pública. A outra professora era dona Lourdes Barba, que tinha uma escola na minha rua onde estudei alguns anos no tempo em que "argumento" era o nome de uma palmatória. A professora Lourdes fazia meia dúzia de perguntas e se você não soubesse, levada uns bolos de palmatória feita de tábua de aroeira, que os meninos saíam com a mão vermelha. Raramente, eu levava esses bolos. Essa era a pedagogia da época. Meu pai era um agricultor que vinha de uma família de paraibanos. Meu avô era de Bananeiras e minha avó era de Solânia. Meu pai trabalhava basicamente com duas culturas: fumo e mandioca. Quando ele juntava o povo para fazer a farinhada ou ajeitar as folhas de tabaco para fazer os rolos de fumo, ele me botava para ler cordel. Isso desenvolveu minha desenvoltura para a leitura.

Então, foi nessa época que você foi inspirado a fazer Literatura de Cordel?

No interior, o folheto de Cordel é também conhecido como professor porque as pessoas acabam se soltando com a leitura. E isso tudo ficou na minha consciência. Algum tempo depois, eu vim estudar no Colégio Agrícola de Jundiaí. Um dia, o professor Ivo, que era cunhado de Woden Madruga, fez alguns versos comigo, me chamando de irreverente porque eu tinha feitos algumas presepadas por lá. Eu também respondi em versos. A partir de então, eu comecei a fazer poesias e pesquisar um poeta da minha cidade chamado Nestor Marinho. Quero deixar claro que não é o Nestor Marinho de Nova Cruz, pai do deputado federal Djalma Marinho. Estou falando do poeta e violeiro Nestor Marinho, que adoeceu de asma e deixou de cantar. Mas, ele continuou fazendo versos maravilhosos.

De que maneira sua poética foi conduzida para a cantoria de viola?

Quando eu cheguei à Mossoró, eu já trazia todo essa bagagem e me entrosei com os cantadores de viola no Bar Tamandaré, que era localizado por trás do Mercado Público, um reduto de violeiros. Toda manhã, eles se reuniam para bater papo, falar da via alheia, recitar versos e criticar uns aos outros. Ali era onde se encontrava os apologistas, aquelas pessoas que promovem as cantorias. A maioria vinha do interior como Luis Campos, Elizeu Ventania, Chico Pedra, João Liberalino, Manoel Calisto e tantos outros, que iam ao Bar Tamandaré para marcar as cantorias do final de semana e também pegar os pedidos de mote, glosa e poemas que as pessoas faziam para eles cantarem nos programas das rádios Rural e Difusora. Então, eu me entrosei com eles e comecei a escrever meus poemas. Junto com Aldivan Honorato, criamos a Casa do Cantador do Oeste Potiguar, que funcionava onde hoje é a Arte da Terra, as margens do Rio Mossoró. Eu fui um dos diretores da Casa. Ali, eu comecei a escrever. Com a convivência com os cantadores, eu percebi que podia cantar também. Nunca cantei profissionalmente.

Mas, você já teve sua fase de cantar viola e declamar versos por dinheiro?

É verdade. Por causa de perseguições políticas, onde me tiraram meu emprego, fiquei cantando para os turistas no Hotel Thermas, em Mossoró durante um ano. Durante esse tempo, eu sustentei minha família no braço da viola, como se diz no jargão dos violeiros.

Certa vez você declarou que Literatura de Cordel inexiste nos tempos atuais, existiria sim, uma "Literatura de Mala". Você mudou de opinião ou ainda está valendo sua declaração?

Nos últimos cinco ou seis anos, a Literatura de Cordel passou por uma mudança muito significativa. Houve uma retomada ao Cordel, aparecendo uma nova geração de editores. Havia uma produção de Cordel muito grande com João Martins de Ataíde, Leandro Gomes de Barros, Manoel Caboco e Silva, além de outras 40 editoras fazendo Literatura de Cordel pelo Nordeste. Mas, o papel ficou vinculado ao dólar, se tornado inviável a produção da Literatura de Cordel pelo preço barato que se cobrava nos livretos. Então, surgiu a geração de Gustavo Luz, da editora Queima Bucha, um nome nacional na área, que nos últimos cinco anos publicou mais de 150 títulos de Literatura de Cordel. Depois, surgiu a editora Coqueiro, em Pernambuco, através de um rapaz chamado Igor; Arievaldo Viana e Cledson Viana, em Fortaleza, com a editora Tupinanquim; em São Paulo, o Marcos Aurélio, da Louzeiro; no Rio de Janeiro, Gonçalo Ferreira, da Academia Brasileira de Literatura de Cordel; e a Fundação José Augusto, em Natal, fazendo a coleção "Chico Traíra", ajudaram a revitalizar a Literatura de Cordel. O que está precisando ser feito é criar uma rede de vendedores para que esses cordéis possam ser distribuídos. Acredito que daqui a dois meses, já estará criada a Cooperativa Brasileira de Literatura de Cordel para viabilizar essa rede cordelista.

Como funcionará a Cooperativa Brasileira de Literatura de Cordel?

A Cooperativa terá sede em Natal, mas ela terá como sócios todos esses editores que citei, além do Piauí, da Bahia, de Sergipe, etc... A idéia e formar uma rede com mais de 200 representantes pelo país inteiro, começando pelo Nordeste. Na hora em que for lançado um folheto em Mossoró, a Cooperativa receber mil exemplares e distribuir nessa rede. Aquele que não venderem os cordéis, devolvem o material com três meses, como faz as bancas de revistas. Nós temos que encarar a Literatura de Cordel como um grande negócio que gera emprego e faz cultura. O Nordeste tem mais de oito mil poetas populares espalhado na Região. Dentre esses, há os que vivem da poesia e os que têm outros negócios. Mas, acredito que 300 a 500 poetas vivem da Literatura de Cordel e, entre cinco ou seis anos, a gente possa construir uma grande rede de negócios.

Você assumirá uma cadeira na Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Inclusive, com as presenças confirmadas do Ministro da Cultura Gilberto Gil e do Presidente Lula. Qual a importância desse título?

Eu acho que é um reconhecimento. Há muita gente fazendo Literatura de Cordel. Inclusive, há muita gente falsificando a Literatura de Cordel. Há aqueles que acham que pegar um papel e colocar versos a esmo, sem as normas técnicas de Literatura de Cordel, sem a poética do Cordel, dobrando uma folha de ofício em quatro partes e dizer que aquilo é Cordel. Quando minha candidatura foi aprovada na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, a presidência me deu a missão para criar a Academia de Literatura de Cordel do Rio Grande do Norte, ligada a ABLC. Nessa Academia, só vai entrar quem faz o Cordel verdadeiro.

Qual sua contribuição para a Literatura de Cordel?

O que eu acrescentei de novo no Cordel foi dentro da abordagem e na temática. Aquilo que faz parte do folclore não vira fóssil, pode mudar. Agora, mudar sem se perder, mudar sem falsificar. Ser reconhecido pela ABLC significa que minha literatura continua original.

Você é autor do texto "Auto da Liberdade", um grande espetáculo teatral que ocorre em Mossoró no dia 30 de setembro. As peças teatrais estão sendo fieis ao texto e qual foi a mudança do texto para os palcos?

Há uma mudança significativa do texto para o palco. Quando eu fiz a peça a pedido de diretor de teatro Amir Haddad, foi sugerido para não usar a estrutura da dramaturgia, dos diálogos, etc. Eles disseram para eu fazer um poema contando os quatro episódios da história mossoroense (o pioneirismo mossoroense de Celina Guimarães, primeira mulher a ter direito ao voto direto no Brasil; a abolição da escravatura, em 30 de setembro de 1983; a resistência ao bando do cangaceiro Lampião; e o motim das mulheres, movimento contra o alistamento de jovens mossoroenses) e deixaria para que ele montasse o que iria para o palco. Nem Amir e nenhum outro diretor que seguiu a frente do espetáculo não falsificaram a mensagem, eles adaptaram. Antes de ser feita qualquer alteração, todos os diretores tiveram a sensibilidade de me chamar para conversar e saber minha opinião.

Numa entrevista à revista Papangu, o sebista e editor Abimael Silva declarou que Mossoró só tem um poeta, que é Antônio Francisco, os outros seriam "enfeites de bolo". Na pele de um poeta mossoroense, como você avalia essa declaração?

Sem nenhum trauma em relação a minha pessoa. E também como reconhecimento do direito de Abimael em declarar sua opinião. Antes de Abimael ser fã de Antonio Francisco, eu já admirava. Aliás, o primeiro folheto de Antonio Francisco nasceu de um curso que eu ministrei sobre as normas técnicas da Literatura de Cordel. Quando ele me apresentou o primeiro poema, ele disse: "Crispiniano, se você disser que os versos estão bons, eu continuo. Se você disse que não estão bons, eu não faço mais". E eu disse que aqueles versos estavam no nível de Patativa de Assaré. Antonio foi meu aluno e, tempos depois, começou a fazer Cordel melhor do que eu. Eu respeito o gosto de Abimael. Acredito que ele foi injusto, não comigo, mas com Luis Campos, Chico Pedra, Luis Antonio, José Ribamar, Concriz, Eliseu Ventania, Manoel Calisto, Nestor Bandeira, Onésmo Maia, só para citar alguns poetas mossoroenses.

Hoje, você é engenheiro-agrônomo, bacharel em Direito, jornalista, poeta e dramaturgo e uma história de vida entrelaçada com a cultura no Rio Grande do Norte. Como foi assumir a Fundação José Augusto?

Além dessas qualificações que você colocou, eu tinha sido membro do Conselho Diretor da FJA, que não existe mais, que agora eu vou retomar. Fui também da Comissão da Lei Cascudo durante cinco anos. Fiz o projeto Seis e Meia durante quatro anos em Mossoró. Sempre tive uma afinidade muito grande com a FJA. Por outro lado, fui indicado pelo PT, onde sempre trabalhei com cultura dentro do Partido e participei em todas as lutas pela cultura de Mossoró nos últimos anos, independente de quem era o prefeito ou a prefeita. A minha vinda para FJA tornou-se um processo natural na medida em que a governadora convocou o PT para indicar o presidente da FJA. Algumas pessoas da imprensa tentaram fazer uma guerra entre eu e a professora Isaura Rosado. Mas, não havia essa disputa porque se a indicação para a FJA continuasse com a cota pessoal da governadora, a professora continuaria no cargo.

E qual é o grande desafio que você ainda está enfrentando dentro da FJA? Afinal, qual é a real situação da FJA?

Encontramos uma FJA que cresceu muito, mas foi um crescimento artificial. A substancia não correspondeu ao crescimento. A FJA ficou com uma espécie de elefantíase, aquela doença que cria um inchaço. Foram criadas 45 Casas de Cultura, mas não pensaram na programação. Temos os agentes de cultura com empregos precários e as Casas não têm um quadro definitivo. Os vigias e ASG's para as Casas são contratos provisórios que a gente teve que suspender porque acabou o prazo e a gente não renovou. Já faz quase um ano que as Casas não têm esse pessoal. A FJA só tinha o Teatro Alberto Maranhão e foram incorporados três novos teatros (teatro de Mossoró, teatro de Caicó e o teatro de Cultura Popular) e não há uma estrutura para corresponder a isso. Nós temos uma orquestra sinfônica que já morreram músicos, já saíram músicos e a gente não tem condições para fazer um novo concurso. O concurso está autorizado, mas nós não podemos fazer por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal que está no limite prudencial que o Estado atingiu. O concurso para o Coral Canto do Povo foi feito, dois anos se passaram, mas não foi possível contratar e prorrogamos para poder contratar. Então, a estrutura cresceu e não há suporte.

E quais são os planos para sair dessa elefantíase?

No ano passado, nós tivemos que dar um mergulho para fazer um salto pra dentro. Esse ano, a gente começa a saltar pra fora. Eu tenho dito que o ano passado foi péssimo e este ano ainda será um ano ruim, mesmo tendo melhorado muito com tudo que a gente está conseguindo fazer como os 53 Pontos de Cultura; um milhão de reais em editais; 30 cineclubes; Festival Nacional de Hap Repente; a retomadas da revista Preá; a recuperação das Casas de Cultura e uma programação para todas as Casas. Agora, se esse ano for ruim, eu tenho certeza que 2009 vai ser bom e 2010 vai ser ótimo.

Você tem sua história cultural ligada a cidade de Mossoró, onde você militava no PT e era atuante na área cultural. Por essa razão, muitos mossoroenses ficaram entusiasmados com a escolha do seu nome para a FJA. Qual foi a participação da FJA nos projetos culturais em Mossoró e Região Oeste?

Em Mossoró, nós temos vários projetos apoiado pela FJA como o Canto Potiguar, Feira do Livro, Circo da Luz que não é de Mossoró, mas esteve por lá, projeto Aonde o Povo Está, o Oratório de Santa Luzia, entre outros projetos. Mas, tem algumas coisas que estamos devendo à Mossoró como a volta do Projeto Seis e Meia. Eestamos lutando por isso e eu só anuncio quando eu tiver a absoluta certeza que vai dá certo e vamos ter dinheiro para bancar o projeto. A outra coisa é uma reforma no Teatro Lauro Monte que custará, no mínimo, R$ 300 mil e temos quer ter paciência. O Teatro está numa situação deplorável com o desgaste natural do tempo. Espero que esse ano, a gente consiga salvá-lo.

Apesar de serem as maiores cidades do RN, Natal e Mossoró ainda não foram agraciadas com Casas de Cultura. Qual a perspectiva para que essas duas cidades tenham suas Casas de Cultura?

A Casa de Cultura foi um projeto concebido na administração François Silvestre para atender as cidades que não têm um auditório para teatro, que não tem um museu, uma pinacoteca e ou uma boa biblioteca. Então, o projeto vai contemplar o que está faltando. A Casa de Cultura tem auditório, biblioteca, uma galeria de arte, um museu, além de alguns boxes para a venda de artesanato e produtos culturais, além de um espaço aberto para grandes eventos. Uma cidade como Mossoró que já tem seus teatros, seus museus, galerias e bibliotecas, não é necessário criar uma Casa de Cultura. Nós temos é que estruturar esses equipamentos já existentes. Agora, dentro do Programa Mais Cultura, lançado pelo ministro Gilberto Gil em Natal, vai existir um "Centro Multiuso de Cultura", que foi inspirado nas Casas de Cultura do Rio Grande do Norte.

Como vão funcionar esses Centros Multiuso de Cultura?

Esse é um projeto de R$ 3 milhões que será implantado nas regiões mais pobres e com indicadores sociais mais negativos, principalmente em lugares com maiores índices de violência. O Governo Federal, em sintonia com o Governo Estadual e o Governo Municipal, vai implantar esses Centros Multiuso de Cultura. Nessa primeira leva de recursos através do PAC da cultura (leia-se o programa Mais Cultura), já foi definida uma unidade para Natal. Mas, nós vamos lugar por outra unidade em Mossoró. Em Natal, o Centro Multiuso será instalado numa comunidade carente na Zona Norte, provavelmente o bairro Nossa Senhora da Apresentação, que tem esses indicadores sociais.

O ministro da Cultua Gilberto Gil veio à Natal para assinar convênio na ordem de R$ 4,7 bilhões de Reais para a construção de 53 novos Pontos de Cultura no Estado. Como serão administrados esses recursos?

4,7 bilhões é o volume total de recursos para a Cultura brasileira nos próximos três anos. Dentro desse montante, vai caber ao Rio Grande do Norte uma verba de acordo com os projetos apresentados. Por exemplo: vamos ter uns R$ 7 milhões para os Pontos de Cultura, R$ 3 milhões para o Centro Multiuso, além do dinheiro para a modernização de museus e bibliotecas. E assim por diante

A revista Papangu, que tem publicado uma edição todo mês durante os últimos 4 anos e meio, pode ser transformada em Ponto de Cultura e se candidatar para obter uma verba do Programa Mais Cultura?

Ponto de Cultura é um espaço cultural que já existe, tem CNPJ há dois anos e tem uma ação cultural desenvolvida. Não se inventa Ponto de Cultura. Então, a Papangu tem mais de dois anos e durante esse tempo tem feito cultura. Teria que ser feito um trabalho para levar a revistas às escolas, às comunidades pobres para que o pessoal possa discutir seus artigos, de maneira que levassem os jovens a participar do projeto fantástico que é a revista Papangu. É preciso que haja um trabalho com um raio de ação maior e que haja uma conseqüência cultural e social. E não simplesmente fazer a revista e distribuir.

Ano passado, você declarou que seria construído o "Teatro de Natal" com capacidade para duas mil pessoas e outro teatro na Zona Norte, através do Governo do Estado. Como anda os projetos desses dois novos teatros para Natal?

O Complexo Cultural da Zona Norte, onde foi a Penitenciária João Chaves, é um projeto de mais de R$ 5 milhões e já se encontra com mais de 40% de área construída. Eu acredito que até o final do ano será inaugurada. Quanto ao Teatro de Natal é um projeto muito caro, um montante de R$ 30 milhões e a governadora Wilma está buscando parcerias para que se faça um teatro a altura da demanda de Natal, com 2300 lugares. Se houver um show de Caetano Veloso, ou outro grande nome da MPB em Natal, no Teatro Alberto Maranhão, para 600 lugares, o preço do ingresso vai para vai para R$ 200 ou mais ou quem trouxe vai ter um prejuízo grande. Com 2300 lugares pode ser cobrado um preço razoável, tirar as despesas e ainda ganhar dinheiro.

No início da sua gestão, você tinha a idéia de interiorizar a cultura. Até que ponto a FJA conseguiu fomentar a cultura pelo sertão?

O termo "interiorizar a cultura" está dentro do Regimento Interno da FJA. Porém, nós sentimos que era um termo inadequado. Se alguém quiser interiorizar a indústria, vai implantar um pólo industrial em Venha Ver, Santo Antônio do Salto da Onça ou Carnaubais. Outros segmentos são passíveis de interiorização. Porém, o termo "interiorizar a cultura" causa uma sensação que o interior não tem cultura, que a cultura está na capital e a cidade grande vai civilizar o interior. Essa é uma visão estúpida que parece aquela idéia "euro-centrista" da época do Renascimento, onde se pensava que só a Europa era civilizada e queriam civilizar o mundo da maneira deles. Imagine a estupidez! A China com seus milênios de cultura, o Egito, o Japão, etc...

Então qual o termo certo?

Hoje, a FJA trabalha com a idéia de "intercambiar" culturas. Na hora que você tem uma filarmônica de Cruzeta, lá no Seridó; Dona Militana, em São Gonçalo do Amarante; Gilvan Lopes, em Açu; Antonio Francisco, em Mossoró; Xexéu, lá no sítio Lajes, em Santo Antonio do Salto da Onça; os Caboclos de Major Sales ou a banda de Parelhas, é preciso intercambiar essas manifestações, levando os grupos para as outras regiões. Falar em interiorizar a cultura é uma agressão! Natal precisa receber esses grupos porque eles têm muito a ensinar aos artistas e aos intelectuais da capital.

Em agosto do ano passado, a Fundação deixou de fazer uma homenagem ao mamulengueiro Chico Daniel durante a Semana do Folclore. O que houve naquela época que inviabilizou a justa homenagem ao bonequeiro?

Não houve nada disso. Eu diria que houve uma ação de alguém desleal que gosta de "botar boneco" sem ser bonequeiro. Alguém que estava na FJA mais para atrapalhar, apesar de ter uma obrigação de ajudar. O que houve foi o seguinte: O filho de Chico Daniel, Josivan, nos pediu um apoio, que foi dado, para fazer um vídeo sobre Chico Daniel. Ele lançaria durante a Semana de Cultura, que normalmente acontecia no período do Dia do Folclore, 22 de agosto. Ocorre que no ano passado, nós conseguimos uma verba, através do Ministério da Cultura, para fazer a Semana de Cultura e devido às dificuldades da FJA porque não tínhamos as Certidões Negativas. É bom falar a verdade. Então, o dinheiro não chegou e todas as despesas geradas naquela semana e que nós não tínhamos a datação orçamentária disponível, nós teríamos que pagar através de indenização. Como nós já tínhamos mais de 1200 processos para pagar por indenização, nós tivemos o cuidado de suspender a Semana e fazer o Dia do Folclore com o dinheiro que tínhamos em caixa. Só faríamos as outras atividades quando o dinheiro do Ministério chegasse. Por isso, fizemos em novembro a Semana de Cultura Popular. Nunca houve discriminação com ninguém. Tempos depois, o filho de Chico Daniel deu um depoimento dizendo que tinha sido usado.

No início da sua gestão, você tinha a idéia de criar vários pólos, atendendo cada seguimento cultural. Como está funcionando os pólos de cinema, dança, literatura, teatro, música, etc?

Alguns pólos estão bem adiantados, outros menos. Tudo depende do ritmo dos artistas e intelectuais dos setores. A Câmara Setorial não é da FJA, ela está na FJA. Nós convidamos a sociedade civil organizada que faz a cultura para vir aqui e dizer como quer fazer. O pessoal da música tem avançado bastante. Nós lançaremos um edital de R$ 200 mil, prêmio Núbia Lafayette, fruto desse pólo de cinema. O pessoal dos quadrinhos fez uma proposta de edital para o prêmio Moacy Cirne e vamos fazer.

De que maneira a FJA está planejando fomentar a cultura seridoense?

Já temos a confirmação da governadora que vamos transformar o Castelo do Engady, em Caicó, num Centro de Formação de Artistas do Seridó, dando condições de funcionamento para as mais diversas manifestações artísticas seridoenses.

Há grandes projetos que são beneficiados com a Lei Câmara Cascudo acima de R$ 500 mil Reais e há dezenas de projetos com valores abaixo de R$ 50 mil que não conseguem decolar. Como a FJA está gerenciando essa situação?

A gente tem que cumprir a Lei. Nós estamos num processo de mudança da Lei e eu acho que deve ter um limite. A Paraíba tem o Fundo de Cultura Augusto dos Anjos, que uma vez aprovado o projeto o dinheiro é garantido. As empresas depositam a isenção fiscal no fundo de cultura e não para fulano ou para beltrano. Enquanto a Paraíba tem um Fundo de Cultura no valor de R$ 1 milhão e 300 mil, financiando uns 60 ou 70 projetos de boa qualidade, nós temos uma Lei com orçamento previsto em R$ 5 milhões por ano que financia uns 20 projetos. Em nove anos, a Lei Câmara Cascudo só conseguiu financiar 140 projetos, num montante de R$ 40 milhões. Só no Governo Wilma, foram investidos R$ 27 milhões. Estamos mostrando a governadora que essa forma está errada porque há uma concentração muito grande de dinheiro nas mãos dos poucos, mesmo bem intencionados, que tem acesso aos gabinetes dos grandes empresários.

O deputado Cláudio Porpino tem um projeto de lei criando um Fundo de Cultura para gerenciar os recursos dos Incentivos Fiscais da Lei Cascudo. O que o senhor pensa sobre essa iniciativa?

Acho que é o grande caminho. Mas, precisa preservar a Lei Cascudo. Temos que domar a lei do mecenato para evitar que alguns recebam R$ 500 mil e outros não consigam R$ 20 mil. Com a Lei Cascudo, o Fundo de Cultura e os Pontos de Cultura, nós vamos ter três linhas de financiamento para projetos culturais no Estado e vamos atender um espectro infinitamente maior e mais democrático.

E o futuro do poeta Crispiniano Neto? Há alguma coisa no prelo para publicação?

Eu estou me dedicando a FJA. Sou hipertenso, obeso e tenho histórico de diabetes na família. Ainda não tenho, mas sou candidato. Eu tento me cuidar, mas meu ritmo de trabalho não tem permitido. Normalmente, quando saio da FJA às 9 ou 10 da noite, ainda trabalho em casa. Dentro de no máximo dois meses, na minha posse na Academia de Literatura de Cordel, eu quero lançar o livro "Lula na Literatura de Cordel", que estou trabalhando nele. Ainda no prelo, eu tenho "20 anos de poesia de Crispiniano Neto" com 800 a 1000 páginas. Devo terminar em um ano, um livro em que estou trabalhando chamado "Improvisos Decorados". O título pode parecer estranho, mas é o tipo de improviso que os cantadores fizeram e de tão bons que são os versos o povo decorou. Até hoje, os versos são recitados por ai afora. Há mais de 30 anos, lá em Mossoró, Luis Campos escreveu um poema que é assim: "Cantar sem ganhar dinheiro /é viajar numa pista / num carro velho quebrado /um chofe curto da vista / e um doido gritando em cima/ atole o pé motorista". E tem outro de João Ferreira, lá de Pernambuco: "saudade é um parafuso / que dentro da rosca cai /que tem que entrar torcendo / porque batendo não vai/ depois que enferruja dentro / nem destorcendo não sai".

Fonte: Grande Ponto

REVENDO - Mané Véio : O feroz da Santa Brígida - Parte I

Por: Alcino Costa

Em meu livro, “Lampião além da versão”, página 361, sob o título “O carrasco de Angico”, eu discorro sobre pedaços da vida de Manoel Marques da Silva, o celebrado Mané Véio de Jacó. Para não sermos repetitivos deixaremos de lado os seus espetaculares feitos da Grota de Angico e vamos discorrer um pouco mais sobre a sua história durante e depois do cangaço.
Mané Véio iniciou a sua vida militar na condição de “contratado”. Evento que aconteceu no dia 29 de outubro de 1929, quando tinha apenas 17 anos. O seu primeiro comandante foi o 1º tenente Francisco Moutinho Dourado, famosamente chamado de tenente Douradinho. Em 1930, na fazenda Arrasta-pé, então município de Santo Antônio da Glória, hoje Paulo Afonso, na Bahia, Mané Véio teve o seu primeiro batismo de fogo em um combate em que ninguém foi morto e nem ferido. O 2º combate foi mais cruento. Dele participaram as volantes do 1º tenente João Macedo, este da Bahia, e a do sargento Luiz Mariano, de Pernambuco. As duas “forças” tinham um efetivo de 40 homens. Os inimigos formavam um contingente de mais 50 cangaceiros. O combate foi vigoroso e forte. O tenente e o sargento foram baleados.
Nesta altura o menino de Santa Brígida começava a se destacar pela sua coragem e valentia. O cangaço dizimava o Raso da Catarina. O 1º tenente do exército brasileiro, Liberato Carvalho, irmão de João Maria da Serra Negra, foi enviado de Salvador para o sertão baiano. A sua missão era caçar sem trégua Lampião e seus bandoleiros que estavam assolando aquele pedaço de sertão. Mané Véio foi transferido para a companhia do famoso tenente. Como se sabe, o mocinho de Santa Brígida estava ao lado dos tenentes Liberato e Mané Neto quando do célebre “Fogo da Maranduba”, naquele início de janeiro de 1932, quando Lampião obteve uma de suas mais espetaculares vitórias na sua guerra particular contra os nazarenos; em especial com o seu figadal inimigo Mané Neto.
Foi neste combate que um dos valentões de Santa Brígida, Elias Barbosa, tio de  Mané Véio, foi baleado e morreu. Pocidônio, que era filho de Elias, também foi baleado, e Mané Véio ficou surdo pelo resto de sua vida em virtude do estouro do fuzil que usava naquele memorável tiroteio.         
Uma terrível desgraça aconteceu com Mané Véio. Dominado por um ciúme doentio mata a sua esposa Cidália. Processado, o descendente dos Jacó teve que mudar de Estado. O seu destino foi Alagoas. No dia 26 de novembro de 1936 chegou a Maceió. Imediatamente foi posto a disposição do 2º Batalhão aquartelado em Santana do Ipanema, no Alto Sertão Alagoano e engajado na volante do tenente João Bezerra da Silva.       
Documentou Mané Véio, de seu próprio punho, que antes de Angico ele participou de um combate, acontecido no dia 2 de fevereiro de 1938, na fazenda Riacho Preto, município de Mata Grande, nas Alagoas, oportunidade em que morreram três cangaceiros, porém ele não cita nomes.
Sobre Angico, Mané Véio se coloca como proeminente personagem daquele notável acontecimento da vida nordestina e brasileira. Os seus registros dão conta que a força militar era composta de quarenta homens, sendo vinte pertencentes à volante do aspirante Francisco Ferreira de Melo, dezenove soldados e contratados e um civil que era o bagageiro do tenente, estes sob as ordens de João Bezerra. Lampião estava em Angico, segundo as suas afirmativas, com 55 homens e ainda esperando Corisco, com mais 9 asseclas.

O moço da Bahia atesta que foi ele o responsável pelas coordenadas que culminaram com o cerco e o jamais esperado resultado daquela inesquecível empreitada. Mané Véio, pleno de convicção, afirma ter sido ele quem orientou João Bezerra no instante final do ataque dizendo-lhe que dividisse os quarenta homens em grupos de cinco e todos investissem sobre o riacho e o coito de uma só vez. No dizer do baiano, assim foi feito e o lendário combate demorou aproximadamente trinta minutos. E o resultado todos conhece. Em Angico morreram Lampião, Maria Bonita, Enedina, mais oito cangaceiros, e o próprio cangaço.


Diz à história que após tirar a vida de Luís Pedro, Mané Véio decepou as suas mãos, na pressa de se apossar dos anéis que enfeitavam os dedos do famoso assecla. Enriquecido com o saque e não querendo perder todo aquele cabedal: dinheiro, jóias, ouro e outros objetos, o valentão da Santa Brígida deixou à volante e arribou no mundo. Não podia retornar para a Bahia, o seu sertão e nem a sua tão amada Santa Brígida. Ali havia praticado um bárbaro crime. Num instante de completa insanidade, e acometido de extremado ciúme, assassinou a sua esposa Cidália. O processo era sério e grave. Se caísse nas mãos da justiça iria ser condenado.
Seguiu um novo caminho. Coragem tinha de sobra para enfrentar qualquer desafio. E lá se foi o matador de cangaceiro para o distante e desconhecido Estado de Goiás; mas, esse capítulo fica para a próxima postagem, aguardem...

Continua...
Alcino Alves Costa
O Decano, Caipira de Poço Redondo
Sócio da SBEC, Conselheiro Cariri Cangaço


Extraído do Cariri Cangaço

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


É CADA UMA! (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

É CADA UMA!

Outro dia li alguma coisa a respeito de um adolescente que estava sendo velado por sua mãe e uma amiga, quando surgiu um grupo armado e começou a atirar sobre o caixão. Esvaziaram as armas e o corpo já morto teve que voltar ao instituto de medicina legal para nova autopsia. Quer dizer, resolveram confirmar a morte do morto matando-o novamente.

Só mesmo no Brasil que autoridades do judiciário e do parlamento recebem salários tão baixos, irrisórios, insignificantes, uma coisa de dar pena. E se os salários fossem realmente dignos com as funções que exercem não receberiam por fora auxílio-moradia, auxílio-paletó, auxílio-gabinete, auxílio-gasolina e mais tantos outros salários-auxílio, além de mais de quinze salários por ano. Não é de dar pena não?
  
Em Aracaju, após o recente falecimento de um ex-governador e membro da Academia Sergipana de Letras, homem reconhecidamente culto e com dois livros de peso publicados, resolveram que para o seu lugar na Academia não haveria sequer eleição. Bateram o martelo e afirmaram que vão convidar o atual governador petista Marcelo Déda por ser bom de discurso. Se isso bastasse, então meio mundo de pastor expert em ludibriar rebanhos teria sua cadeira garantida por lá.

É sempre a mesma coisa. Todas as vezes que chove mais forte determinados pontos nas ruas ficam alagados, ruas intransitáveis, lama jorrando pelos bueiros feito gêiseres. O problema é que isso se repente sempre nos mesmos lugares e com as mesmas terríveis consequencias. As televisões mostram a bagaceira que fica e todo mundo ouve o secretário ou até mesmo o prefeito dizendo que não acontecerá mais aquilo. E basta o sol chegar para tudo ficar esquecido, sem obra ou reparo algum, até a chuva chegar e causar os mesmíssimos problemas.

Afinal de contas, a ciência, a medicina, os pesquisadores tem de chegar prontamente a um consenso e responder logo e de uma vez por todas: água engorda ou não, café faz bem à saúde ou não, cerveja engorda e acumula gordura na barriga ou não, o que realmente significa colesterol bom ou ruim, existe uma gordura boa e uma ruim, o que é realmente diet ou light, comer várias vezes ao dia não engorda quanto um prato cheio no almoço? Precisa responder e com urgência, e sem aquele velho discurso de que tudo em demasia faz mal. Isso todo mundo já sabe, porém eles que são estudiosos tem que chegar a uma conclusão e parar de ficar agora dizendo uma coisa e mais tarde dizendo outra.

Uma coisa intrigante: por que a toalha do banheiro suja tanto se somente a usamos quando estamos limpos? Outra coisa mais intrigante ainda: por que a Lei de Murphy (Se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará) sempre se confirma e o pão só cai ao chão com o lado que estiver com manteiga, a bola não vai a outro lugar senão numa vidraça estreitinha, na calçada larga se pisa logo no lugarzinho que está sujo? Agora respondam: por que a pessoa espera outra o tempo inteiro, mas basta que saia um instantinho pra outra aparecer?

Algumas vezes já presenciei pedintes receberem alimentos numa porta e ao perceberem que é pão imediatamente joga-os no meio da rua; já ouvi ceguinho de porta de igreja, rapaz jovem, chamar de gostosas as moças que passaram à sua frente; já vi ceguinho guardar imediatamente as notas e as moedas maiores que são oferecidas e deixar na cuia apenas aquelas de menor valor. Tinha um que recebia dinheiro de uma falsa beata para relatar tudo que se passava por ali com as outras beatas e com as madames que chegavam encobertas de falsa honradez.

Certa vez um cabra se olhou no espelho, cuspiu raivoso na vidraça e disse que imediatamente iria vingar sua própria morte. Saiu de lá e foi metendo o pau em toda vidraça e todo espelho que foi encontrando nas vidraçarias. Foi internado em hospital psiquiátrico jurando que quando saísse dali sua revolta seria contra os seus pais que o fizeram assim tão feio.

Só mesmo gente idiota achar que comprar um cd ou dvd por trinta reais é mais vantajoso do que adquirir um genérico ali na esquina, com a mesma qualidade, por dois ou no máximo três reais. No país dos absurdos, dizer que livros e cds originais são baratos é comprovar que não gosta de música nem de leitura, pois duvido que comprem pelo preço que estão à venda.


Rangel Alves da Costa* 
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Metade do sonho (Poesia)


Metade do sonho

Rangel Alves da Costa 


Por mais que a noite
silenciosamente me traga
os sonhos que quero sonhar
e ainda que essas viagens
voos alados em corpos atados
sejam sempre ao seu lado
traçando no céu da esperança
tudo aquilo na realidade
queremos sempre ter e viver
ainda assim eu não queria
sonhar e apenas sonhar
mas sonhar metade do sonho
para sentir que a outra parte
semeia e brota ao amanhecer

quero sempre ter sonhos
viver mais do que fazemos agora
mas apenas a metade da felicidade
a outra metade na nossa realidade.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com