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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

CARIRI CANGAÇO NA I FLICAN - FEIRA LITERÁRIA DE CANUDOS



Cariri Cangaço homenageia a realização da I Flican em Canudos

Aconteceu entre os dias 22 a 24 de novembro de 2019, a 1ª Feira Literária de Canudos - Flican , uma iniciativa do Centro de Estudos Euclydes da Cunha (CEEC) da UNEB e apoio da Prefeitura Municipal de Canudos, das secretarias estaduais de Educação , da Cultura , da Justiça e Direitos Humanos e Desenvolvimento Social como também com o apoio da Fundação Pedro Calmon, a Universidade do Sudoeste da Bahia (Uesb), da Universidade Católica de Salvador e do Instituto Popular Memorial de Canudos (IPMC).


Professor Luiz Paulo Neiva

Com o tema “O Sertão vai virar arte”, a Feira Literária de Canudos celebrou os 122 anos da guerra de Canudos, e homenageou dois de seus principais protagonistas do episódio, cada um a partir de sua trincheira: O peregrino Antônio Conselheiro e o escritor Euclides da Cunha. Sob a curadoria do professor Luiz Paulo Neiva, a Feira reuniu participantes de todo o Brasil numa festa digna do resgate de um dos movimentos mais importantes do país.

De acordo com o professor Luiz Paulo Neiva"o evento é fundamental para celebração do livro, da literatura, da cultura e da arte. Aqui o público vai encontrar uma programação rica, com forte compromisso de preservação da memória, da história desse lugar e da cultura regional”. Além do grande significado cultural e histórico da Feira, também foi possível confirmar a grande movimentação que refletiu em toda a economia local. Toda rede de hospedagem ficou totalmente lotada como também os reflexos mais que positivos puderam ser sentidos nas áreas de alimentação, transporte e comércio em geral. 
Cariri Cangaço presente na I FLICAN
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Pesquisador e escritor Bruno Paulino representando o Cariri Cangaço na I Flican
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A I FLICAN acontecida no município de Canudos contou com forte participação do Cariri Cangaço, representado pelos escritores; Bruno Paulino, Oleone Coelho Fontes, José Bezerra Lima Irmão, Pedro Igor Pimentel e a artista Rita Pinheiro; tendo como ponto alto dessa participação a entrega solene de Comenda ao curador Luiz Paulo Neiva pela realização do encontro. 

Escritores Oleone Coelho Fontes, Bruno Paulino, Zé Bezerra e Pedro Igor passam às mãos do professor Luiz Paulo Neiva, comenda do Cariri Cangaço pela realização da Flican

Para os organizadores a I Feira Literária de Canudos - Flican, abre uma espetacular janela para a consolidação de um turismo diferenciado Rica em atrativos naturais e culturais, a região tem vocação para o turismo, e o evento abre uma janela de oportunidades para geração de emprego e renda. Canudos oferece diversas opções de lazer aos visitantes que querem conhecer sua história e belezas. Algumas delas, inclusive, fazem parte do roteiro das visitas guiadas que serão oferecidas no último dia de evento, das 7h às 11h, e levarão o público ao Parque Estadual de Canudos, Mirante do Conselheiro, Instituto Memorial Popular de Canudos e ao Museu Manoel Travessa.

Quixeramobim berço de Antônio Vicente Mendes Maciel; estreita a cada dia a profunda ligação com o berço do Peregrino Antônio Conselheiro. 
Paula, Neto Camorim, Pedro Igor, Bruno Paulino e Antônio Rabelo: "Com essa galera massa, fazendo o que o famigerado Moreira César prometeu, mas não cumpriu: almoçando em Canudos!" Diz Pedro Igor Pimentel
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Canudos, um museu a céu aberto: A sugestão para começar a explorar tudo que se tem nesse território é saber um pouco mais sobre a saga do líder de Belo Monte no Memorial Antônio Conselheiro, no qual estão expostas fotos, documentos, textos de Euclides da Cunha e objetos relacionados à guerra. Já no Parque Estadual de Canudos; no cenário da batalha; impressiona a exposição permanente de imagens a partir dos imponentes painéis de vidro, onde também se pode encontrar vestígios da batalha; como balas, restos de armas e pedaços de cerâmica  como também nos períodos de seca é possível vislumbrar as ruínas da enigmática igreja da Canudos nova.
Rita Pinheiro, a "Garimpeira da Cultura"
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"No município de Canudos há também o Museu Histórico de Canudos, cuidado por particulares e com mais vestígios do conflito. Outras opções são apreciar a bela vista do Mirante do Conselheiro, com a cidade de um lado e o açude do outro, ou caminhar até o topo da Serra do Cocorobó, o local mais alto da região.Ir à Toca das Araras, uma reserva biológica situada nos arredores da cidade, é mais um passeio recomendado. Composta por morros, é um dos raros lugares onde ainda se observa a ararinha-azul." 

Em Canudos, durante a FLICAN, escritor Oleone Fontes saúda o Bom Jesus Conselheiro de quem ora escreve biografia. 

Canudos é uma Festa ! 

Com a palavra Oleone Coelho Fontes, "a Feira Literária de Canudos (Flican), entre os dias 21 e 24 passados, foi sucesso sem precedente no município. O curador da Flican, prof. Luiz Paulo Neiva foi alvo de elogios, homenagens e reconhecimento por conta da organização e funcionalidade do evento a que não faltaram exposição de livros, sessão coletiva de autógrafos, show musical, rodas de conversa e de diálogos, mostras de desenho, pintura e artesanato, apresentação teatral. Foram conferencistas, entre muitos: Leopoldo Bernucci, Pedro Lima Vasconcelos, Éldon Canário, Oleone Coelho Fontes, Dionísio Nóbrega, Marielson Carvalho, Pedro Barbosa, Manoel Neto e Antônio Olavo." 


Zé Bezerra, Oleone Fontes e Leopoldo Bernucci, euclidianista de escol, professor nos Estados Unidos; em Canudos durante a FLICAN. 
Antônio Barreto Cordel, Roberto Maciel (de Quixeramobim), Oleone Fontes e o José Bezerra Lima Irmão, durante a Feira de Livros de Canudos.


E continua o escritor Oleone Coelho Fontes, "o Cariri Cangaço se fez presente por intermédio dos professores Bruno Paulino, Neto Camorim e Pedro Igor, assim como Roberto Maciel, por mim e por Zé Bezerra. Assim em solenidade, entregamos ao curador do evento, prof. Luiz Paulo Neiva uma comenda assinada pelo curador Manoel Severo Barbosa. Duas orquestras e os cantores Gereba e Fábio Paes complementaram festa cultural que marcou época e deixou saudades e que venha o Cariri Cangaço Canudos 2021."  

I FLICAN - Feira Literária de Canudos
22 a 24 de Novembro de 2019
Canudos, Bahia

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LANÇAMENTO DE "LAMPIÃO E O NASCIMENTO DE MARIA BONITA" NA BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Por Manoel Severo
Lançamento!


Nesta próxima sexta-feira; dia 29, a partir das 18h:30; será lançado no auditório da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, o livro intitulado "Lampião e o nascimento de Maria Bonita" (1a.edição, 2019, 192p.; il., pela Editora Oxente - Produção Cultural e Editoração de Publicações, Paulo Afonso, Bahia - de autoria do sociólogo e escritor Voldi Moura Ribeiro.

Luiz Ruben, Manoel Severo, Voldi Ribeiro e Frederico Pernambucano de Melo
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A obra, prefaciada pelo historiador Frederico Pernambucano de Mello - que estará presente ao evento -, dentre outras coisas traz a verdadeira data do nascimento de Maria Bonita, cuja descoberta deu-se através de intensa pesquisa e com a localização do batistério de Maria Gomes de Oliveira - verdadeiro nome de Maria Bonita - na paróquia de São João Batista de Jeremoabo, Bahia. Na ocasião, o livro será vendido ao preço de R $50,00. O autor conta com a presença de todos.

Wasterland Ferreira 
Pesquisador, Presidente do GECAPE
Recife, Pernambuco

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HOJE TEM ANTÔNIO CONSELHEIRO NA FLIACE EM FORTALEZA

Por Manoel Severo


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QUATRO LÉGUAS E MEIA DE CORDEL


Por Kydelmir Dantas

Recebendo devidamente autografado o mais novo 'rebento-livro' do Mestre dos Cordéis Potiguares e da Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ANTÔNIO FRANCISCO - com um singelo oferecimento que nos honra (Ao Kydelmir Dantas, anjo da guarda dos meus escritos)... 

A apresentação do caro amigo e Dr. Professor da UERN Ailton Siqueira é mais que uns traçados, é uma outra obra poética... Conhecer antes de impressos e rever em livro estes cordéis de Mestre-amigo de Mossoró é uma viagem no tempo e no espaço. Obrigado Poeta!


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PRECONCEITO... NA VISÃO DO POETA ANTÔNIO FRANCISCO... DO LIVRO VERENDAS DE SOMBRAS...

Por Kydelmir Dantas




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QUANDO EU MATO BORBOLETAS E COLIBRIS

*Rangel Alves da Costa

Passei, e então um menino de repente se aproximou tocando em minha camisa, tentando dizer alguma coisa, mas não dei a menor atenção. Que coisa mais chata, inoportuna, e minha camisa tão limpa! Logo tentei me afastar daquela mão de mendicância e seguir adiante.
Mais à frente, achando-me no conforto do distanciamento da miséria humana, olhei para trás e avistei o menino. Que olhar mais tristonho! Certamente mais uma vez desapontado pelo que eu fiz. E ele só queria dizer que estava com fome e precisava de uma moeda pra comprar um pão.
Que traste humano eu sou. Quando e onde eu me esqueci das velhas lições de minha avó, sempre dizendo que a bondade faz bem ao coração e que não se deve negar àquele que está precisando. Minha avó certamente ficaria muito desgostosa com o neto que tem e com o que ele faz, assim como fez com o menino faminto por um pão.
É assim que a gente mata borboletas e colibris. É também assim que a gente esmaga flores, joga pedra em vidraças, chuta o lixeiro do jardim, arranca e joga fora o ninho de passarinho. Quem nega um pão a um faminto faz oração ao contrário, cospe na imagem sagrada, diz não quando pode dizer sim.
Que coisa mais sádica, mais insensível e humanamente degradante é matar borboletas e colibris, alguém poderia, acertadamente, dizer. Mas a gente vive matando borboletas e colibris a todo instante. A todo o momento a gente dizima pintassilgos, vaga-lumes, beija-flores, esperanças e pirilampos. Não há um segundo sequer que a gente não esteja maldizendo o sol, o lua, a estrelas, os astros do firmamento.
Não, não precisa que eu lance ferozmente meu sapato sobre a borboleta que mansa e belamente repousa no umbral da janela. Não, não precisa que eu mire a peteca atiradeira na direção do colibri para vê-lo cair despedaçado ao chão. Não, não precisa que eu faça assim. Mato borboletas e colibris com minha insensibilidade, com o descaso e a omissão, perante as coisas boas e belas da vida. Dizimo indefesos no jardim sem precisar devastar cada um, mas tão somente pelo meu desapego ao que há de mais singelo na vida: os encantos da natureza.


Mato colibris e borboletas quando não deixo que o menino de rua toque em minha camisa nem fale comigo, nada me peça. Ora, se eu faço isso com um ser infantil, marcado pelo sofrimento, carente e faminto, o que eu poderia fazer perante uma borboleta e um colibri? Também matá-los. E até mesmo pela ideia de que humanos podem ser simplesmente ignorados nas suas insignificâncias e os seres da natureza meramente dizimados, pois nada além que espécies sem nenhuma importância.
Quanta covardia em mim, quanta barbárie em mim. Sou gente, sou humano, possuo algum valor? Acaso eu tenha, ou ache que tenha, e por que não teria a borboleta e o colibri? Talvez a vida das espécies não valha nada, de nada é o viver de um sabiá, de uma seriema, de um galo de campina. E talvez pensem que uma gaiola é pouco: tem que matar. Vivemos num egoísmo que cega, num soberba que faz ignorar a tudo e a todos, numa vaidade que nem o ouro do Rei Midas nos servirá de exemplo de como não ser e não fazer.
Quantos rios eu penso que são colibris e vou simplesmente matando. Ora, sou humano e o homem gosta de destruir nascentes, leitos, bordas, vegetação ciliar. Sou pessoa, e coisa que a pessoa gosta é de envenenar água corrente, lançar esgotos doentios, tornar imprestável a vida nas águas. E quem mata colibris pode também matar cardumes, fazer com que as espécies aquáticas fiquem sem seu habitat natural para, que mais tarde, reste apenas o leito entristecido e vazio. E também para dizer: não fui eu, não tenho culpa alguma, nada tenho a ver com isso!
Se o bicho, o passarinho, a folhagem e a roseira, pudessem falar, não seria injusto se dissessem o quanto eu sou imprestável. Qual valia possui alguém que derrama a água da cuia para o bicho não ter o que beber, que corta a machado a árvore centenária, que envenena as gramíneas que nascem e verdejam pelos campos? Qual valia possui quem arranca cabeça de calango, assa passarinho em braseiro, aprisiona eternamente o canto de um coleirinho numa gaiola?
Aquele pobre menino não foi minha única vítima, certamente que não. Na sua inocência faminta, o garotinho ainda não entende bem das entranhas do mundo, ainda que padeça demais perante sua idade. Mais adiante, contudo, verá que os homens nasceram humanos e foram se bestializando por esforço próprio. A mais asquerosa das artes, mas no coração humano parece gestado o ofício do fazer sempre o pior.
Faz isso com o próprio homem, com o semelhante. E por isso de nenhuma importância será matar borboletas e colibris.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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ARMAS


Por Fábio Carvalho

Como costumo dizer não sou versado em cangaço como muitos dos confrades. Entendo um pouco sobre armas de fogo, e só.

Estes dias vi uma postagem sobre a metralhadora Hotchkiss, e vi que algumas lendas (ou “Fake News” pra usar um termo moderno), ainda persistem no meio dos estudiosos do cangaço (que como discutia estes com o amigo Geraldo Antônio De Souza Junior, são especialistas em cangaço, não em armas, daí algumas incorreções).

Mas sobe a metralhadora Hotchkiss há uma incorreção que beira a “heresia” para um estudioso de armamentos. Não sei de onde alguém tirou que Hotchkiss, na verdade um nome próprio, significaria “beijo quente”. Jamais ouvi falar de tal nomenclatura ou apelido nos meios de colecionadores ou militares. Certamente usou da pronuncia fonética e deduziu tal sandice.

As armas Hotchkiss eram fabricadas pela Société Anonyme des Anciens Etablissements Hotchkiss et Cie, fundada por Benjamin B. Hotchkiss, cidadão americano que inicialmente fabricou nos EUA, tendo se mudado para a França funcionando sua indústria inicialmente em Viviez em 1867, e depois em Saint-Denis a partir de 1875.



Esta importante fábrica iniciou a fabricação de armamento automático comprando uma patente do Barão Adolf Odkolek Von Újezd, um oficial do exército austro-húngaro. A patente dele era para uma arma automática refrigerada a ar, operando com o princípio de pistão a gás, e serviu de base para as metralhadoras Hotchkiss Mle 1897, Mle 1900, e Hotchkiss Mle 1914 (foto abaixo), armas que foram usadas maciçamente por muitos exércitos. O modelo 1914 foi adotado como metralhadora pesada pelo Exército do Brasil, e usada até os anos 60.

Depois se adotaram aqui os outros modelos da Hotchkiss, a metralhadora leve (ou fuzil-metralhador segundo outros) Hotchkiss Benet-Mercier 1909, que aqui foi chamado de Fz Mtr M921 A1 (“Tipo II"), já aparecendo num manual do EB de 1925 classificadas para “Metralhadora Leve Hotchkiss”, estas eram armas problemáticas de mecanismo complicado. E os posteriores FMH (Fuzil Metralhador Hotchkiss 1922), estes bem usados nos episódios do combate ao cangaço.


A Etablissements Hotchkiss et Cie, também fabricou automóveis.

Sei que a lenda da “metralhadora beijo quente” não desaparecerá fácil, pois já escrevi sobre isso antes, mas espero ter levado alguma informação sobre esta importante fábrica.


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LAMPIÃO. MORTES E DESTRUIÇÕES NA FAZENDA SERRA VERMELHA DOS NOGUEIRAS.


Por Antonio Martins - Caraúbenses

João Nogueira Neto filho de Luiz Alves Nogueira e sobrinho de Raimundo Alves Nogueira, filhos de José Alves Nogueira, conta com riqueza de detalhes a história a respeito de um dos ataques do bando cangaceiro à Fazenda Serra Vermelha, onde seu pai Luiz Nogueira, seu tio Raimundo Nogueira e amigos da família foram encurralados e atacados pelo bando de Lampião, tendo a frente o temível e sanguinário Antônio Ferreira, que buscava a todo custo eliminar os filhos de José Nogueira e aliados.

A fazenda Serra Vermelha que fica situada no município pernambucano de Serra Talhada, foi no passado, palco de fatos marcantes e sangrentos envolvendo Lampião e a família Nogueira.

Uma história sangrenta que tem sido passada de geração em geração e que ainda hoje se mantém preservada na memória das pessoas daquela região. Uma história que ao longo dos anos tem despertado e aguçado a curiosidade de curiosos e estudiosos do tema cangaço e servido como fonte de estudos e aprendizado para dessa forma entendermos melhor o passado e seus acontecimentos.


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UMA ENTREVISTA COM O BRAVO TENENTE ARLINDO ROCHA, O MATADOR DO CANGACEIRO SABINO GOMES


Por José Tavares de Araújo Neto

Arlindo Rocha, (nascido em 23 de março de 1883 e falecido em 07 de outubro de 1956), na condição de delegado da cidade de Salgueiro, Pernambuco, tinha sob sua guarda o indivíduo conhecido por Antonio Padre, suspeito de ter cometido um crime na região. Inocentado, Antonio Padre roga um emprego ao delegado, que o leva para trabalhar em uma de suas fazendas de nome Barrocas, onde reside com sua família. Nessa relação próxima à família, nasce em Antonio Padre uma forte paixão por uma das filhas de patrão, que chega a propor que a jovem fuja com ele. Ao ter conhecimento da intenção do seu empregado, Arlindo o expulsa imediatamente de sua propriedade.

Injuriado pela humilhação a que foi submetido, Antonio Padre declara guerra ao seu ex-patrão, e vai em busca de proteção junto ao coiteiro Francisco Pereira de Lucena, o temível e poderoso Chico Chicote, proprietário da fazenda Guaribas, no município Brejo dos Santos (hoje Brejo Santo), localizado no cariri cearense, na divisa com Pernambuco e Paraíba.

Antonio Padre, vez por outra, enviava bilhetes extorsivos e recado ameaçadores dizendo que além de roubar a filha, iria “partir a MELANCIA, aterrar as BARROCAS e derrubar as CAEIRAS”, referências as três propriedades de Arlindo Rocha. Diante dessas ameaças, Arlindo Rocha forma um grupo armado, com pessoas de sua extrema confiança, constituído por parentes e agregados, pois sabia da alta periculosidade do seu antigo empregado, agora um afamado bandoleiro do bando do famigerado Lampião.


Em meados de 1924, Arlindo articula uma bem-sucedida emboscada contra o subgrupo de Antonio Padre, ocorrendo uma forte troca de tiros, no episódio que ficou conhecido como o “Fogo de Pilões”, que resultou nas mortes de Antonio Padre e Gavião. Em 26 de novembro de 1926, já promovido tenente, Arlindo Rocha participa da sangrenta Batalha de Serra Grande, considerada a mais importante vitória de Lampião sob as forças volantes. Nesta batalha, que havia dito que os cangaceiros iriam comer bala, foi acertado por disparo na boca que quase lhe destruiu a mandíbula, que lhe trouxe problemas de mastigação e cicatriz pelo resto da vida, sendo então chamado pelos cangaceiros pelo apelido pejorativo de “Queixo de Ferro”. Em fevereiro de 1927, Arlindo comanda uma as das volantes no histórico cerco a Fazenda de Chico Chicote, evento que ficou conhecido como o “Fogo de Guaribas”, no qual é morto o temível fazendeiro e coiteiro cearense.

Em 13 de março de 1928, três forças volantes, comandadas pelos tenentes Arlindo e Eurico Rocha e o bravo sargento nazareno Manoel Neto, intensificam o cerco ao bando de Lampião no cariri cearenses, precisamente no município de Macapá, atual Jati, na fazenda Jati, do fazendeiro Antonio Teixeira Leite, o celebre coiteiro Antonio da Piçarra. Já era tarde da noite, sob forte chuva, o céu entrecortado por raios e trovões, que um dos soldados da volante de Arlindo Rocha deflagrou um tiro certeiro no vulto de uma pessoa que atravessava um passadiço, pondo fim a vida do célebre Sabino Gomes, o mais importante cangaceiro do bando de Lampião, que, em entrevista em Juazeiro/CE, já o havia apontado como seu potencial sucessor.

Após a malfadada tentativa de Lampião de atacar a cidade de Mossoró, no oeste potiguar, ocorrida em 13 de junho de 1927, os governos do Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Pernambuco, uniram esforços no intento de eliminar definitivamente o cangaço dos seus territórios. A bem-sucedida “Campanha de 1927”, comandada pelo oficial cearense major Moisés de Figueiredo, em solo cearense, mas que também contava com contingentes policiais militares advindos do Rio Grande do Norte e da Paraíba, promoveu baixas, forçou deserções e fugas de cangaceiros rumo ao Estado Pernambuco. Em 21 de agosto de 1928, Lampião e seu bando, reduzido a apenas seis componentes (Ele; Ezequiel, seu irmão; Virgínio, seu cunhado; Luiz Pedro; Mariano e Mergulhão), em fuga, atravessam o Rio São Francisco e vão se homiziar na Bahia.

Em 20 de outubro de 1929, o Jornal Pequeno, de Recife/PE, veiculou uma entrevista concedida pelo tenente Arlindo Rocha, que reveste-se de importante documento para se entender melhor o mundo do cangaço.

Segue abaixo a transcrição integral da entrevista:

O tenente Arlindo Rocha, anteontem chamado ao Recife, é atualmente o comandante da forças pernambucanas no sertão.

Vimo-lo ontem, à noite, na chefatura, conferenciando demoradamente com o dr. Eurico de Sousa Leão. As indicações que se prestava, no mapa todo assinalado da Repartição Central da Polícia, e o justo renome que usufrui aquele policial em todo o sertão nordestino, levaram-nos a procurá-lo no intuito de conseguirmos um testemunho seguro da situação do cangaceirismo, afora o prazer natural de ouvir um homem que, anos a fio, dia e noite, tem batido cerrados e caatingas numa luta de vida e morte contra os mais ferozes bandoleiros. O tenente Arlindo Rocha é um homem moreno, alto e magro, muito tímido e que não fala nunca; tem que ser provocado então. Na face esquerda ostenta uma cicatriz profunda: uma bala de rifle em pleno rosto, às duas e meia da tarde, no dia 26 de novembro de 1926, no combate de Serra Grande.

Onde foi esse combate? Perguntamos logo, com nossa curiosidade despertada!

_ Serra Grande fica perto de Custódia. Comandava as forças o bravo tenente Hygino José Belarmino. Foi o início da campanha do atual governo estando no poder o saudoso Júlio de Melo contra Lampião. Este tinha, ao tempo, sob seu comando 125 homens. Estavam todos entrincheirados no alto da serra. A brigada começou as 8 da manhã e terminou as 6 horas da tarde. Nós tínhamos duas metralhadoras que Antonio Ferreira, irmão de Lampião, procurou cercar três vezes e gritava: _ Hoje tomo uma costureira dessa.

E tomou?

_ Não. Parece que tomou foi uma bala, pois morreu três dias depois do tiroteio. Os bandidos fugiram e desde então começou a debandada. O grupo fragmentou-se em quadrilhas que operavam em zonas diferentes. Ferido, nesta luta, acrescentou o tenente Arlindo, só escapei devido a meu irmão que me amparou. Os cangaceiros me alvejaram a pouco passos de distância, no momento em que eu chamava por Manoel Neto, ocupado em botar uma retaguarda.

Mas foi esse, tenente, o seu primeiro encontro com Lampião?

O tenente Arlindo riu e respondeu, a voz pausada:

_ Não. Eu já tinha brigado há tempos. Desde em que era subdelegado em Salgueiro, quando fui atacado e procurei tomar desforra. Mas isso no tempo em que, no sertão, cada qual se defendia por si mesmo. Eu e meus parentes demos uma brigada em Pilões. Brigada boa, aquela. Morreram de Lampião dois cangaceiros dispostos: Gavião e Antonio Padre. De lá p´ra cá tem sido essa marcha. Mas, de verdade, só melhorou a coisa com os drs. Estácio de Coimbra e Eurico de Sousa Leão. Foram eles quem me ajudaram, fizeram minha carreira militar; e é pór isso também que venho combatendo satisfeito sempre.

_ O sr. pode alto e bom som, disse o tenente Arlindo Rocha, que o sertão do Pernambuco está livre de cangaceiros. Pode acrescentar mais: os crimes de sangue e os assaltos a fortuna alheia se acabaram de vez.
E Lampião, tenente?

_ Lampião é, agora apenas, uma lembrança dos outros tempos. Dos tempos em que fora o rei do cangaço, dominando de Vila Bela a Salgueiro, do Ceará às margens do São Francisco. Avalie que eu mesmo, de uma feita, ao sair de Vila Bela com 12 homens, fui atacado na estrada pelos cangaceiros. Eram 26. Foi uma emboscada que me deu trabalho. Agora, no atual governo, jamais se viu Lampião procurar as forças para lutar.

Sempre na emboscada?

_ Nunca. É a fuga pela caatinga. O trabalho dos contingentes é todo para alcançá-lo e dar-lhe combate. Agora devemos argumentar com deficiência de comunicações, de aviso, de transporte e de víveres, etc. Entra-se pela caatinga adentro cinco, dez dias, um mês inteiro sem descanso. A comida é fruta e garapa de açúcar. E a cama é de pedra – um pedaço de jurema ou angico como travesseiro.

Mas onde anda Lampião? Inventam tantas coisas, às vezes ...

_ Bem sei, dr. Mas há muita mentira. O sr. argumente pelo pelos fatos da capital. Dá-se um conflito ali na esquina e na outra rua os mortos e feridos já estão triplicados. Basta notar o seguinte: seis meses atrás, Lampião com seis homens, pretendeu atravessar Pernambuco com direção ao Ceará. Não o pode fazer. Perseguimos o reduzido grupo um mês em Alagoas com o concurso esforçado e leal das forças daquele Estado. Encurralado, o bandido fez uma coisa que sempre se arreceara: Atravessou o São Francisco, rumo à Bahia. As nossas fronteiras, de acordo com o plano traçado pelo dr. Chefe de Polícia, se acham inteiramente resguardadas de um impossível retorno dos bandoleiros. O próprio Lampião, por onde passa, diz que em nosso Estado não poderia mais viver. Na Bahia mesmo, a perseguição lhe foi terrível. Nossas forças como as daquele Estado, lhe moveram uma guerra tenaz. Na última corrida que lhe demos fomos pelo alto sertão baiano botá-lo a uma distância de mais de 100 léguas além de Juazeiro.

_ Quando Estive em Juazeiro da Bahia, contou-nos o tenente Arlindo, o prefeito perguntou-me porque sendo eu um homem doente e Lampião já em completa fuga, não mandava eu os meus homens em perseguição do bandoleiro e me arriscava aos percalços da caatinga. Respondi-lhe: É um entusiasmo que tenho pelo meu governo; quero ajudá-lo, assim de perto, cumprindo o meu dever. Lampião só tem cinco cangaceiros, segundo corre pelos sertões baianos, o seu objetivo é alcançar Goiás. E diz que não se entregou às nossas forças porque não tinha certeza se o trataríamos bem.

Sabe quais os cangaceiros que vão com ele?

_ Sei. Ezequiel Ferreira, seu irmão; Virgínio Fortunato, seu cunhado; Mariano; Menino Oliveira e Luiz Pedro do Retiro.

E o famigerado Sabino?

_ Afirmam que morreu em Piçarra, no Ceará, num combate com minhas forças. O choque foi a meia noite. Debaixo de muita chuva e muita trovoada. Era um velho inimigo meu, o terrível Sabino. Lembro-me que num tiroteio ele gritava pra mim: “Arlindo das Barrocas, já te arranquei um queixo, quero levar o resto”.

Mas não levou, tenente ...

_ Não. Nem se cumpriram as promessas de Lampião, que me mandava dizer nos seus tempos folgados: _ ”Quando passar na tua casa só deixo o chão molhado.”


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