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domingo, 10 de junho de 2018

(UMA DAS ÚLTIMAS DAMAS DO CANGAÇO NORDESTINO)


Por Guilherme Machado Historiador

Durvalina Gomes de Sá, Josina Maria da Conceição Souto ou Durvinha. Todas esses nomes levam a mesma pessoa. Nascida na Bahia, em 1915, precisamente em Paulo Afonso, Durvinha nutria forte paixão por Virgínio, cunhado de Lampião e que pertencia ao bando.


Um ano depois da emboscada policial em Angicos (SE), em 1938, que resultou na morte de Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros, um bebê com 30 dias foi entregue ao padre Frederico Araújo, de Tacaratu, no sertão de Pernambuco, a cerca de 450 quilômetros a oeste de Recife. Um bilhete anônimo, ilustrado com garranchos que imitavam letras, identificava os avós e a mãe, Durvalina Gomes de Sá. Durvalina era Durvinha, cangaceira do bando de Lampião. Com a morte do chefe, caíra na clandestinidade. Fugia da polícia rompendo a caatinga, ora na Bahia, ora em Pernambuco, sempre ao lado do companheiro, Antonio Inácio da Silva, o cangaceiro Moreno. O menino - primeiro dos seis filhos do casal - foi registrado como Inácio Carvalho Oliveira, sobrenome da família que o adotou quando estava com 6 anos, após a morte do padre. Adulto, Inácio mudou-se para o Rio. Entrou para a Polícia Militar. Tornou-se segundo tenente. Em 2005, com 66 anos de idade e já reformado, soube enfim que os pais estavam vivos e formavam o último casal sobrevivente do cangaço. Moravam em Belo Horizonte e se chamavam Jovina Maria da Conceição e José Antonio Souto, nomes registrados em carteiras de identidade e com os quais buscaram afastar os fantasmas do passado. Toda esses fatos foram contados ontem por parte dos protagonistas, no encerramento do 1º Congresso Nacional do Cangaço: Cultura e Memória, realizado no Museu da República, mais um prédio futurista projetado por Oscar Niemeyer na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Durvinha, de 92 anos, estava lá, para narrar seus feitos; Moreno, de 96 anos, sofreu uma queda pela manhã e teve de ser levado para o Hospital de Base. "Me sinto tão culpada. Ele caiu porque foi pegar um sapato meu. Nós dois já não enxergamos quase nada." A informação do hospital é de que Moreno está bem e deve ser liberado hoje. O crachá da cangaceira registrava o nome da identidade, Jovina Maria da Conceição. Inácio, porém, não a chama assim. Para ele, é Durvalina ou Durvinha. Do pai, nem conseguiu se lembrar o nome todo na identidade. "Acho que é José Antonio, e tem um sobrenome aí que não sei. Para mim, ele é o Antonio Inácio da Silva ou o Moreno." Inácio disse ter por hábito visitar Tacaratu quase todo ano. FUGA Durvinha nasceu em 1915 no povoado de Arrasta-pé, em Curral dos Bois, hoje Paulo Afonso (BA). Ainda mocinha abandonou a casa dos pais para correr atrás do cangaceiro Virgínio, cunhado de Lampião. Não sabe quantos anos tinha. "Não havia registro. Era tudo na bruta. A gente se juntou. Não chegamos a ir ao padre". Disse que teve dois filhos com Virgínio, dos quais nunca mais teve notícias depois dos tempos do cangaço. Virgínio foi morto em 1936. "No bando não podia haver viúvas. Pelas leis lá, ou elas se casavam com outro cangaceiro ou eram mortas. Moreno se propôs a ficar comigo", disse Durvinha. Com ele teve outros seis filhos: Inácio, que só conheceu há dois anos, e outros cinco, todos morando em Belo Horizonte. Durante as fugas pela caatinga, o jeito era pegar um pedaço de rapadura aqui, um punhado de farinha ali, driblar a fome e a polícia. "Morria de medo de ser degolada, como Lampião." No filme Baile perfumado (1996), direção de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, aparecem imagens do bando de Lampião feitas entre 1935 e 1936 pelo libanês Benjamin Abrahão. Numa delas, Durvinha dança com Moreno, embora estivesse na companhia de Virgínio. Noutra, avança sobre a câmera com o revólver na mão. Durante os combates, ela levou um tiro na coxa esquerda. "A carne rasgou de fora a fora. Os cangaceiros me salvaram jogando um litro de pimenta." Durvinha disse que só teve uma razão para aderir ao cangaço: a paixão por Virgínio.

Observação: A fotografia é fonte do livro! O Cangaceiro do escritor João De Sousa Lima de Souza Lima. Esta fotografia foi pouco explorada pela internet.

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ENCONTRO DE PERSONALIDADES

Por Guilherme Machado

Luiz Gonzaga, Marcos Maciel, ex-presidente João Batista de Figueredo.  Logo atrás está o advogado e compositor Humberto Teixeira.

A foto é em Brasília em 1979.

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HOJE NA HISTÓRIA DE MOSSORÓ


Por Geraldo Maia do Nascimento

Em 16 de agosto de 1907 nascia em Martins (RN), Raimundo Nonato da Silva, filho do casal lavrador João Cardoso da Silva e Ana de Lima e Silva. Teve seus primeiros anos enfrentando dias difíceis em trabalhos rudes, de ajudas aos seus pais na tarefa do campo. 

Raimundo Nonato da Silva

Emigrou jovem para Mossoró, trazido pela seca que pôs abaixo as esperanças paternas de aurir proveito no amanho da terra, tendo enfrentado dificuldades para se firmar num aprendizado de primeiras letras e noções gramaticais indispensáveis às necessidades educacionais. A mão benfazeja de Raimundo Reginaldo da Rocha o aperfeiçoou para seu ingresso na Escola Normal de Mossoró, de onde saiu professor primário na sua segunda turma em 1925. Cursou-a com a maior distinção em todas as matérias. Foi aluno de tirocínio, o que lhe valeu ter sido um dos primeiros a ingressar no magistério público como professor e diretor de Grupos Escolares de São Miguel, Serra Negra, Apodi e Natal, onde serviu adido à Secretaria de Educação do Estado. Sua atuação, quando fixando residência em Mossoró, foi das mais proveitosas nos círculos educacionais, intelectuais e jornalísticos. Exerceu magistério secundário na Escola Normal de onde saiu diplomado, no Colégio Santa Luzia, Sagrado Coração de Maria e na Escola Técnica de Comércio União Caixeiral, organização esta de ensino profissionalizante que ajudou a fundar e de que foi diretor. Colaborador da imprensa local, ora escrevendo artigos, comentários e suetos, ora versejando com sua revelação poética que somente mais tarde ficou a descoberto. Em vários anos, durante as festividades religiosas da padroeira, levantou jornais humorísticos da temporada. Em Natal manteve esse mesmo ritmo, jamais se negando em participar da responsabilidade de editar jornais e revistas literárias e de associar-se a entidades cívicas. Formando em Direito pela Faculdade de Alagoas, ingressou no Ministério Público, sendo nomeado Juiz de Direito da Comarca de Apodi, em cuja função se aposentou. Fixa-se hoje no Rio de Janeiro, sem nunca ter esquecido seu estado, principalmente sua terra adotiva, de onde é assíduo participante do maior dia de sua história – o 30 de Setembro. Raimundo nonato da Silva é professor, magistrado, jornalista, cronista, historiador, escritor e poeta, possuindo uma bagagem literária que o faz escritor de grandeza no Estado, somente sendo ultrapassado pelo historiador Câmara Cascudo. São de sua autoria mais de quarenta trabalhos de fundo literário, historiado e biográfico, dentre os quais “Quarteirão da Fome (romance), “História de Lobisomem” (folclore), “Lampião em Mossoró” (já em 4a edição), “Serra do Martins” (os homens, o tempo e os fatos), “Jesuíno Brilhante – o Cangaceiro Romântico” (servindo como tema para filmagem cinematográfica), “Bacharéis de Olinda e Recife” (norterriograndenses formados entre 1832 e 1932), “ Em revista o Centenário de O MOSSORONESE”, em colaboração com Walter Wanderley, “Evolução Urbanística de Mossoró”, “Visões e Abusões Nordestinas” (1º e 2 º volumes). Raimundo Nonato pertence, dentre outras, às sociedades culturais – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Academia Norte- riograndense de Letras, Federação das Academias de Letras do Brasil, Instituto Genealógico Brasileiro de São Paulo, Associação Brasileira de Escritores, Sindicato dos Advogados do Brasil, Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, Associação de Professores do Rio Grande do Norte, Associação Brasileira de Imprensa, Sindicato dos Jornalistas Liberais da Guanabara, Sociedade Brasileira de Folclore de Natal e Instituto Cultural do Oeste Potiguar de Mossoró. 

Todos os direitos reservados 

É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor. 
Autor: Jornalista Geraldo Maia do Nascimento 
Fontes: http://www.blogdogemaia.com/#

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CARIRI, CANGAÇO, IDENTIDADE !

Por Damião Rodrigues

Nos últimos dias movido pela grande expectativa da chegada do Cariri Cangaço em Poço Redondo, de forma mais intensa assistir vários vídeos sobre a história do cangaço bem como li livros, artigos entre outros registros sobre esse grandioso fenômeno que por anos desbravou nas caatingas do sertão, entre outras descobertas e curiosidades despertadas me deixou mais convicto ainda o quanto o cangaço foi e é importante para história do nosso povo.

Não se trata em si no discurso aprofundado se Lampião era bandido ou herói, mais sim pela importância e contribuição que o cangaço nos deu para compreender um sertão dos coronéis, um sertão do banditismo, do messianismo e misticismo e o quanto esses elementos foram importantes para construção da nossa identidade Cultural, além de uma grandiosa demonstração de resistência de Lampião e seu bando mergulhados nos imensos desafios de sobreviver na caatinga seguiam desafiando as forças políticas do estado.

 Damião Rodrigues

O cangaço sem nenhuma sombra de duvida além de fazer parte da história de Poço Redondo contribuiu imensamente para a formação de nossa identidade cultural que hoje temos. O Cariri Cangaço que hoje é uma realidade ha muito tempo já podia ter acontecido nas nossas terras, pois não se trata apenas da figura de Lampião e os divisores de águas que os envolvem mas sim por se tratar de tantos outros personagens do chão de Poço Redondo que foram protagonistas nessa pagina da história mundial como exemplo de Sila, Zé de Julião, Adília entre outros, além de compreendermos outras passagens históricas nessas terras, que não foi e é apenas terra de cangaceiros mais também terras de conselheiro e terras de tantas figuras sertanejas que vão desde as ribeiras do São Francisco até os limites caatingueiros desse chão, por isso o Cariri Cangaço veio pra ficar.

Damião Rodrigues Souza, Poço Redondo
07 de Junho de 2018

http://cariricangaco.blogspot.com/2018/06/cariri-cangaco-identidade-pordamiao.html

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LANDINHO PÉ DE BODE


Por Guilherme Machado Historiador

O Velho tocador de 8 baixos do Canudos Velho... Landinho Pé de Bode. Mora em Canudos desde a Construção do acude do Cocorobó. 


Landinho fala que ouviu muito Luiz Gonzaga! e até tentou tocar 120 baixos mais desistiu quando ouviu um outro velho sanfoneiro por nome Zé do X e seus 8 Baixos. 


E nos altos dos seus 90 anos afirma que a harmônica de 8 baixos a famosa pé de bode ele consegue tira muito mais melodia que nos tradicionais acordeons com teclados e registros... Landinho Pé de Bode do Canudos Velho!!!

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PRIMEIRO VÍDEO CANGAÇO


Por Aderbal Nogueira

PRIMEIRO VÍDEO CANGAÇO - à exceção desse, que conta uma versão de como começou a intriga da família de Virgulino "Lampião" com seu vizinho José Saturnino, todos os vídeos vão ser de acontecimentos isolados e não vão seguir uma ordem cronológica. 

https://www.youtube.com/watch?v=WVVQGHDmOO4

Resolvi colocar esse primeiro para as pessoas entenderem como uma coisa tão simples pode levar a 20 anos de cangaço Lampiônico no nordeste "o cangaço existe desde bem antes de Lampião". Esses vídeos já são bastante conhecidos por aqueles que pesquisam o cangaço, mas para a grande maioria das pessoas, não. 


Aqueles que quiserem fazer seus comentários o façam, bem como se achar interessante a história, pode e deve compartilhar para as pessoas ouvirem os relatos de quem viveu aqueles tempos difíceis; um tempo de SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS. São vídeos curtos que vão trazer dor, heroísmo, sede, fome, choro, alegrias, política, religiosidade, combates, ferimentos, emboscadas, coronéis e tudo mais desse mundo estranho dos cangaceiros. 

Quero deixar aqui meu agradecimento a pessoas que me abriram as porteiras das histórias do sertão e literalmente as porteiras poeirentas do nordeste. Sem eles eu não teria conseguido fazer o tanto que fiz: Alcino Alves Costa, Jairo Luiz OliveiraJoão De Sousa Lima, José Alves Sobrinho e Antonio Vilela a eles meu eterno obrigado.




Uma agradecimento especial a Paulo Gastão, meu grande companheiro de viagens por mais de 20 anos. Agradeço também a todos aqueles que estiveram a meu lado durante as gravações desses relatos, sem falar claro nos depoentes e suas famílias que sempre me receberam tão bem e criamos um vínculo grande de amizade.

Luiz de Cazuza_o início

Publicado em 8 de jun de 2018
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Luiz de Cazuza narra como se deu o desentendimento entre José Saturnino e a família Ferreira
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EM QUE ESTADO E CIDADE DO NORDESTE BRASIEIRO FORAM ASSASSINADOS OS REIS DO CANGAÇO LAMPIÃO E MARIA BONITA?

Por José Mendes Pereira
Maria Bonita e Lampião

Interessante!

Muitos brasileiros ficam perguntando a si mesmo: "Em que Estado e cidade do Nordeste do Brasil foram assassinados os reis do cangaço Lampião e Maria Bonita?"

O mais interessante é que muitos que nasceram em Mossoró, no Rio Grande do Norte, acreditam que Virgolino Ferreira da Silva o Lampião, e Maria Gomes de Oliveira, sua rainha Maria Bonita, foram assassinados no rio Angicos, aqui bem perto de Mossoró, no máximo 12 quilômetros. 

http://joatamaria-mossorovenezarn.blogspot.com/

Já outros mossoroenses, acreditam que o casal de cangaceiros foi assassinado em Angicos, sendo esta uma cidade distante de Mossoró, aproximadamente 100 quilômetros. Mas estas dúvidas são apenas para aqueles que nunca leram nada sobre Lampião e Maria Bonita, apenas escutam do "disse me disse".

http://www.rnvip.com.br/p/angicos-rn.html

Mas, principalmente os mossoroenses que acreditam nesta possibilidade, que o casal de cangaceiros morreu em terras potiguares, precisam saber que Lampião só esteve um única vez no Rio Grande do Norte, e foi no ano de 1927, do mês de junho, só entrando em Mossoró,  no dia 13 de junho, e quarta-feira 13 deste mês e ano de 2018, estarão completando 91 anos que Lampião e seu bando pisou nas terras mossoroenses, e nunca mais voltou no Rio Grande do Norte. 

Foto de Maria Bonita colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Em 1927, Lampião ainda nem sonhava em colocar uma mulher em seu bando, pois Maria Bonita só entrou para o grupo do velho guerrilheiro três anos após dele ter feito uma visita à Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Grota do Angico em terras da cidade de Poço Redondo-SE.

Lampião e Maria Bonita foram assassinados na madrugada de 28 de julho do ano de 1938, na Grota do Angico, no Estado de Sergipe, e não no rio de Angicos (terras de Mossoró), nem tão pouco na cidade de Angicos, no Estado do Rio Grande do Norte.

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ENTREVISTA DO TENENTE JOÃO BEZERRA AO GLOBO

POR “O GLOBO” – 26/06/1957

CANGACEIROS TENTARAM FUGIR, QUANDO AS PRIMEIRAS CABEÇAS ROLARAM

Para “Restabelecer a Verdade Histórica”, o Coronel João Bezerra Descreve, Quase Vinte Anos Depois, Com Detalhes Impressionantes, a Carnificina Que Marcou o Fim de Lampião e Seu Bando Sinistro – “Suspense” em Plena Caatinga, Numa Madrugada Chuvosa de Outubro de 1938 – “O Degolamento Foi uma Medida Acertada e Não me Provocou Remorso”, Diz a “O GLOBO” o Oficial da Força Pública de Alagoas, hoje Reformado e Fazendeiro

MACEIÓ, junho (De Ivan Alves, enviado especial de O GLOBO) – Assegurando que o degolamento de Lampião foi “uma medida acertada” – pois, se não houvesse ocorrido, muita gente no sertão não acreditaria que ele tivesse sido eliminado – e que o célebre cangaceiro não era o “cabra” mais valente e o melhor estrategista do seu grupo, o coronel João Bezerra, que combateu, também, contra o Sr. Luiz Carlos Prestes e serviu sob as ordens do general Gois Monteiro e do então major Eduardo Gomes, encontrando-se, hoje, na reserva da Força Pública do Estado, acedeu em falar a este repórter, rompendo um silêncio de vários anos, sobre a chacina desenrolada, sob seu comando, há quase duas décadas, em Angicos, às margens do São Francisco.

O coronel João Bezerra, que conta atualmente 52 anos de idade e é um tranquilo fazendeiro no interior das Alagoas, nega, porém, tenha mandado decapitar o mais famoso chefe do cangaço, revelando ainda que pretende figurar, em breve, como ator, num filme do deputado Tenório Cavalcanti, em torno da vida e da morte do homem cuja série de crimes interrompeu numa manhã chuvosa de outubro de 1938, “para desafogo e alegria das caatingas nordestinas, que amanheciam e anoiteciam sob a alça de mira dos trabucos de Virgulino Ferreira”, como hoje relembra, friamente, ante a memória da sangueira celebrada em prosa e em verso, e em tom legendário, por todo o Brasil.

CAPITÃO, NÃO: CORONEL

Tipo clássico de caboclo, grosso e atarracado, cabelos e bigodes grisalhados pela ação do tempo e das lutas na caatinga, olhos brilhantes, mas sempre ressumbrando desconfiança, o dizimador do mais terrível conjunto de cangaceiros que já atuou no árido Nordeste avistou-se com a reportagem no saguão do principal hotel da capital alagoana. “É ao capitão João Bezerra que temos o prazer de nos dirigir?” – perquirimos. E o nosso interlocutor, erguendo-se da poltrona: “Não. É ao coronel João Bezerra”. Tentando contornar o equívoco, observamos: “Creio que seria dispensável dizer que seu nome é conhecido em todo o País”. E ele, fitando o repórter ainda sem muita identificação: “Parece que sim.”

Vencido o constrangimento inicial, provocado pelo engano relativo à patente, o coronel João Bezerra dispôs-se a falar fluentemente, sem peias. Mais adiante, chegaria a confidenciar ao major Ataíde, assistente-militar do Governador do Estado e coordenador da entrevista, que gostara do repórter, que se lhe afigurara “um bom cabra perguntador”, salientando, ademais, que demonstráramos grande confiança em sua narrativa. 

SAUDADE DOS PÉS DE ÁRVORE

Perguntamos ao coronel João Bezerra como e onde vive, atualmente. E completamos:

- Sente saudades daqueles tempos árduos de militança na Força Pública estadual?

O coronel João Bezerra prendeu no lábio um tênue sorriso que se insinuava e afirmou:

- Trago no peito a nostalgia da minha Polícia Militar e mais até dos pés de árvore, a cuja sombra eu descansava durante os dez anos que combati.

Contou-nos, a seguir, que se reformou há seis meses, no posto de coronel. Quando liquidou o bando de Lampião era um simples tenente, de 33 anos de idade, nascido em Afogado das Ingazeiras, município de Pernambuco, nos lindes desse Estado com a Paraíba. “A comuna divide-se na serra”, explicou melhor. Abeirando-se dos cinquenta anos, passou a se dedicar por completo à fazenda Aquidabã, de sua propriedade, localizada no distrito de Ibateguara, município de São José de Lajes, em Alagoas.

ONDE O ARADO SUBSTITUI A ESPINGARDA

- Na minha propriedade rural – informa o entrevistado, com indisfarçável orgulho – desenvolve-se uma apreciável criação de gado. Demais disso, planto café, cana de açúcar e cereais. Raramente, em consequência, venho à capital do Estado.

O repórter indaga se ele se enquadrou no novo regime. A resposta vem, sem titubeio:

- Integrei-me perfeitamente na qualidade de fazendeiro, após os meus trinta e quatro anos de farda.

E quando o repórter comenta que, assim, o arado está substituindo a espingarda, ele contravém, reticencioso:

- Mais ou menos...

ALGUMAS “BRIGUINHAS” EM 1930

Já mais à vontade com o jornalista, o coronel João Bezerra adianta que sua primeira filha se formou recentemente em comércio; outra está terminando o curso ginasial em São José de Lajes, enquanto o terceiro filho, de apenas seis anos de idade, ainda não se afastou da fazenda para estudar. E, reportando-se a um aspecto pouco vulgarizado de sua vida, acrescentou:

- Fiz todas as campanhas contra o banditismo organizado e ofereci combate ao Sr. Luiz Carlos Prestes. Como sargento, em 1926, incorporei-me à 6ª Companhia de Alagoas. Em 1930, fiz excursão deste Estado ao Rio de Janeiro. Viajei três meses, enquanto durou aquela questão, a saber, as briguinhas que então surgiram no País.

RECORDANDO GÓIS E O BRIGADEIRO

O coronel João Bezerra acaricia gostosamente uma faca – e o fotógrafo opera a chapa. O entrevistado larga o instrumento e pede a repetição da fotografia. É atendido e agradece:

- Agora, eu fiquei mais bonito...

Retoma, então, o fio do relato:

- Em 1932, participei da Revolução Constitucionalista de São Paulo. Estive sob o comando do general Pedro Aurélio de Gois Monteiro, de quem fui amigo e a quem sempre considerei um extraordinário tático. Fui aproveitado, outrossim, como chefe da tropa de vigilância no Campo de Aviação de Rezende, dirigido, inicialmente, pelo então capitão Dyott Fonte nele e, em seguida, pelo então major Eduardo Gomes. Servi, também, com o “Melo Maluco”.

PRIMEIROS ELOGIOS NAS FOLHAS

O vento ligeiro de Maceió – réplica nordestina do minuano dos pampas – arremessa-se com violência de encontro à janela, junto à qual se desenrolava a entrevista. Perguntamos ao coronel João Bezerra se o vento o estava importunando. E ele:

- Deixa ficar, que não dá pra derrubar nenhum cabra de raça. O nosso entrevistado é homem de memória realmente excepcional: afiança que um graveto que tenha estalado sob sua bota nas longas andanças pelos sertões atormentados do Nordeste certamente será lembrado, caso se faça necessário. Voltando a discorrer sobre o movimento de 1932, acrescenta:

- Ainda hoje, lamento tenha sido desmoronada uma tropa nossa em Bocaina, onde se travaram diversos combates machos. Os jornais referiram-se elogiosamente à minha atuação, por eu ter tomado a vanguarda da porfia.

LUIZ PEDRO, SUPERIOR A LAMPIÃO

A janela, a pedido de um amigo comum, se fecha. Oferecemos um copo de água mineral ao entrevistado e ele recusa: “Por ora, não”. Em sequência, entrando propriamente no objeto da reportagem garante:

- Homem, o bandido que criou nome foi Lampião, mas no grupo dele havia estrategistas mais hábeis, como Luiz Pedro, que também era mais valente e mais esperto do que o chefe.

O coronel João Bezerra percebe o nosso espanto e adita:

-Todavia, Lampião também era um cabra valente da peste.

DETALHES INÉDITOS SOBRE O FIM DO BANDOLEIRO

O repórter solicita ao coronel João Bezerra que focalize a morte do famigerado Virgulino Ferreira, comissionado como capitão por decreto do Governo Bernardes. O entrevistado parece comprazer-se com a solicitação:

- Está certo: vou devassar para vocês passagens que nunca pude devassar sobre os meus passos para chegar a Lampião.

E, segurando o braço do repórter:

- Reconstituirei a verdade histórica, que alguns tentam vulnerar.

PROCURANDO LOCALIZAR A “GANG”

O coronel João Bezerra, ereto na cadeira e policiando todas as anotações do repórter, reconta, então, desde o seu início, a caçada que, desencadeando-se na hinterlândia das Alagoas e de Pernambuco, mobilizou a atenção nacional. Seu tom de voz, agora, torna-se mais duro:

- Fortemente apoiado pelas autoridades, comecei por efetuar sindicâncias para a localização do grupo. Numa diligência que eu fizera, quando eles passaram no município de Palmeira dos Índios, eu soube que ali haviam tiroteado com o sargento Porfírio, em Craibeiras. Eu me achava em Olho d’Água das Flores, de ordem superior, por acreditarmos que eles procurariam aquele centro. Encontrava-me, dessarte, na boca da barra, mas lá eles não compareceram.

REMUNICIANDO O CONTINGENTE

Deduzimos que a primeira tentativa fora frustrada. E o coronel João Bezerra, ajeitando o laço da gravata, sem maior convicção:

- Homem, cangaceiro, como mosca, a gente não derruba com o primeiro tapa.

E continuou:

- Somente depois do tiroteio, já mencionado, entre os facínoras e a Força Pública, ocasião em que, confirmando o adágio, entre mortos e feridos se salvaram todos,segui para Santana de Ipanema, em caminhão, onde apanhei munição suficiente para reabastecer a tropa, que demandaria o homizio dos cangaceiros. Chegando a um povoado de nome Tiririca, embosquei casas de caboclos – alguns prisioneiros do grupo – e, às 8 horas do dia seguinte, eu os peguei, assombrados, obrigando-os a orientar a tropa até o sítio onde haviam deixado o grupo, que era nas caatingas fechadas, onde havia numerosas macambiras.

LAMPIÃO DA TAPA EM LUGAR DE ESMOLA

- Lobrigando algumas macambiras com folhas quebradas, interroguei um ex-prisioneiro do bando. Ele me asseverou que fora ele que ali caíra. Ao pedir uma esmola a Virgulino Ferreira, deste recebeu violento tapa, projetando-o ao solo. Dispensei o prisioneiro, porquanto já levantara todos os vestígios da passagem dos delinquentes, e ative-me aos seus rastros durante doze dias, perdendo-os nas caatingas de Guaribas, perto da vila de São Domingos, município de Buíque, Pernambuco.

MAIS DE DUZENTOS QUILÔMETROS ENTRE ESPINHOS

A um quesito do repórter, o entrevistado esclarece:

- Cumpri, aproximadamente, nesse percurso, quarenta léguas, com as voltas e revoltas da caatinga. Eis os lugares que me lembro de ter percorrido, na pista dos cangaceiros, nessa viagem: Lagoa do jirau, Riacho do Mel, Riacho de Traipu, Serra dos Tocos, Poço do Cosme, Lagoa da Camiso, Serra do Uruçu, Serra das Antas, Currais Novos, Serra de São Pedro, Sete Lagoas, Uamaro. Saí de lá emplastrado de espinhos.
DESENHA-SE O DESÂNIMO

- Em face do escondimentodos rastros dos criminosos, verifiquei que eles se iam acampar ocultamente, porém já na proteção de alguém, no povoado. Distante cerca de quinhentas braças do local, escolhi entre os 95 homens 20 soldados dos mais carrancudos – que mais facilmente se poderiam assemelhar com osmarginais – para poder fazer investigações diretas. Percebendo que nas maiores casas de negócios havia um aspecto de indignação, abordei um comerciante sobre a existência ou passagem de cangaceiros por ali. Ele redarguiu que ignorava totalmente o fato. Sondei os demais, mas nenhuma informação obtive a respeito. Meu ato subsequente foi retornar ao seio da tropa, no acampamento. Um leve desânimo desenhou-se em mau espírito.

ABATE DE BODES CRIA UMA PISTA

- Chegando ao acantonamento, vi que já haviam abatido quinze bodes. Inquirindo de quem era a criação, responderam-me que parecia ser do subdelegado local. Mandei chamá-lo, apresentando-se ele imediatamente para cobrar a despesa. Fê-lo, porém, a preço exorbitante. Chamei-lhe a atenção, frisando que não deveria deslembrar-se do convênio sobre o custo de gado e de bode para tropas volantes. Ele concordou e eu ainda o interpelei com certo rigor, acentuando que quem não era amigo dos soldados passava a sê-lo dos cangaceiros.

COMUNICAÇÃO COM AUTORIDADES PERNAMBUCANAS

O coronel João Bezerra relata, adiante:

- O subdelegado demonstrou, então, que já tinha estabelecido contato com os cangaceiros, naquele dia. Compreendendo que eles se achavam perto, talvez escondidos pelo próprio subdelegado e temeroso de argui-lo sozinho, porque no “aperto” ele poderia morrer, daí surgindo más consequências e aborrecimentos entre unidades federadas, resolvi telegrafar ao Comandante Optato Gueiros, que se encontrava em Águas Belas, nos seguintes termos: “Venha urgente para tratarmos do plano para a campanha, pois, desta feita, obteremos os melhores resultados de toda a ofensiva contra o banditismo”. Não quis ser mais explícito, visto como, naquela época, os telegrafistas eram quem mais prevenia os cangaceiros. Obtive, pouco depois, a resposta que transcrevo: “Deixo de atender ao vosso chamado, por motivo de os veículos se acharem em reparos. Opino, entretanto, por uma batida nas caatingas dos Guaribas”. Diante do exposto, deliberei pegar o subdelegado, desse no que desse. Mandei buscá-lo, mas ele se evadira, ganhando o mato. Esperei mais três dias, mas ele não regressou.

TENTANDO DESPISTAR

- Aproveitei a boa vontade do sargento Domingos Cururu e ordenei-lhe que, regressando o subdelegado, ele lhe batesse duro. Retirei-me, pois com a minha presença ele não tornaria. Segui, então, para Águas Belas, onde o comandante Optato Gueiros me aguardava. Lá, trocamos ideias a respeito da questão em lide, tendo eu rumado, a seguir, para Santana, a fim de prestar contas da diligência de quatorze dias ao coronel Lucena, de quem obtive oito dias para descansar. Transcorrido esse período, fui cientificado pelo próprio coronel Lucena, comandante-chefe das tropas volantes com sede em Santana, de que circulavam boatos segundo os quais Lampião atravessara a fronteira de Pernambuco, entrando em Alagoas, pela zona de Pilão do Gado, já município de Mata Grande. Tocando num lugarejo circunvizinho, tomou umas cargas de rapadura dos matutos, fazendo com que estes o ouvissem anunciar que ia direto a Moxotó. Compreendi logo que era justamente o contrário, pensando o coronel Lucena como eu.

NO COMANDO DA TROPA

- Segui imediatamente com a tropa, tendo convidado, por telegrama, o coronel Lucena, a fim de nos juntarmos no Barro Branco. Acertamos aí o esquema da ação policial, com o coronel Lucena passando-me o comando de toda a tropa em manobra, determinando, ainda, que eu fosse para Mata Grande com o aspirante Ferreira, que ele, três dias após, iria levar nossos vencimentos e ultimar providências porventura não assentadas até àquele instante. Vencido o prazo, chegando o coronel Lucena ao local, eu já havia ordenado as buscas em Moxotó, verificando-se a existência de vestígio de bandidos na região. Combinei com o mesmo coronel Lucena telegrafar ao comandante Opitato Gueiros, em Aguas Belas, chamando-o a Maravilha, com o objetivo de acertarmos o envio de tropa pernambucana para Moxotó, enquanto eu pegaria a pista da “gang” de Lampião, para saber o local em que se havia homiziado. Providenciei a mudança de comando da tropa em Mata Grande, deixando elementos de minha absoluta confiança sob a liderança do então sargento Aniceto, segui ribeira abaixo, onde, com quatro léguas, peguei a pista, deixando-os na Serra da Cachoeira, entre Pão de Açúcar e Piranhas.

APROXIMANDO-SE DO GRUPO

O coronel João Bezerra sorve rapidamente um cafezinho, assiná-la que as minúcias que nos está dando nunca foram antes enunciadas, e ajunta:

- Verifiquei, então, que no rumo por eles escolhido iriam diretamente à Serra do São Francisco, que estava próxima, às margens do rio do mesmo nome. Propus-me demandar Piranhas, objetivando abastecer a tropa e, como era dia de feira, estudar psicologicamente a fisionomia de cada um dos coiteiros que por ali aparecessem, o que foi feito com precisão.

POR TRÁS DOS ÓCULOS ESCUROS

- Na ocasião em que o mercado estava reunido, sentei-me em uma cadeira de loja cujo dono era o maior coiteiro da zona, do lugar onde desembocavam os caminhos vindos das caatingas onde se achavam os bandidos. Eu usava óculos escuros, para esconder minhas reações. Elementos procedentes daquelas bandas – aproximadamente uns vinte – quando batiam com os olhos em mim passava no intimo de cada um deles, fui ao telégrafo e passei um telegrama a mimmesmo, assim redigido: “Tenente João Bezerra. Piranhas, venha urgente. Lampião está com todo o grupo em Moxotó. Capitão Elpidio. Delegado de Policia”. O despacho fora feito falsamente como sendo de Mata Grande.Com isso, visava a bigodear os coiteiros e verificar a sua reação. Entreguei o documento ao estafeta, depois de carimbado, eretornei à minha cadeira.
O coronel João Bezerra faz um parêntesis para sublinhar:

- Eu nunca disse essas coisas a nenhum repórter.

Agradecemos a deferência e ele narra:

- Chegou o estafeta, entregou o telegrama e passei o recibo. Comentei, então, em tom provocativo: “Cangaceiro não é qualidade de gente!” Li, a seguir, o telegrama em voz alta e grande número de coiteiros se acercou para ouvir-me melhor. Através dos óculos escuros, vi que eles estavam mangando de mim...

COM A NOTA DE LAMPIÃO NO BOLSO

O coronel João Bezerra toma o quarto cafezinho da entrevista, que foi escrita entre 19h10m e 23h20m, e descreve:

- Assim foi que o notório coiteiro Pedro de Cândida, que viera fazer feira para o próprio grupo, foi quem mais me olhou e mais riu, uma vez que se achava com a nota da despesa de Lampião no bolso e Cr$ 2 500,00 em espécie, quantia essa pertencente ao bandido. Depois de lido o despacho, mandei tocar “reunir”, embarquei a tropa num caminhão e propalei que me dirigia a Moxotó, onde consoante o telegrama, se achavam os cangaceiros.

A VOLTA INESPERADA (Para os Coiteiros)

Dezenove anos passados, o coronel João Bezerra parece feliz com sua estratégia. Sorri com certo entono ao referi-la:

- Chegando a Pedra, estacionei, aguardando a noite para voltar, o que fiz, reforçando a tropa. Às 18h30m, eu estava em Piranhas, onde, evidentemente, ninguém me esperava. Os meus agentes tinham notícias mais frescas, declarando-me que o Pedro de Cândida há três dias havia passado na beira da roça de um cidadão, nas caatingas, com duas bandas de bode nas costas, rumo à Serra de São Francisco, onde eu suspeitava achar-se o grupo.

PRENDER PEDRO DE CÂNDIDA, EIS A QUESTÃO

- Inferi logo que, detendo Pedro de Cândida, estaria tudo resolvido, o que logrei às 2 horas da madrugada. Com três canoas pequenas, atreladas umas às outras, por não dispor de canoa grande, e sob os maiores perigos de naufrágio, cheguei ao local de nome Remanso, distante do povoado de Entremontes, onde morava o coiteiro. Mandei bater na porta e fazer o sinal de tropa, dizendo-lhe que eu queria falar-lhe. Pedro de Cândida, ao ver o miliciano, apavorou-se, conseguindo ludibriá-lo. Deixou de comparecer, pretextando que um boiadeiro da Bahia poderia descobrir que ele estava tendo entendimento com a milícia estadual e isto lhe seria fatal.

SINAL DE CANGACEIRO ABRE A PORTA DE COITEIRO

- Indignei-me com a recusa e determinei ao soldado insistisse, trazendo Pedro de Cândida de qualquer maneira, ainda mesmo disparando-lhe o parabélum, o que foi cumprido dentro de dez minutos, comparecendo Pedro de Cândida à minha presença. O soldado usou de estratégia, fazendo o sinal de cangaceiro, o que levou Pedro de Cândido a abrir a porta da frente, quando já se aprestava a fugir pela de trás. Ao ver, então, o soldado, exclamou: “Você voltou para me matar?” Ao que o praça retrucou: “O tenente me ordenou que, se não pudesse trazê-lo, eu o matasse, aqui mesmo”. Pedro de Cândida resolveu comparecer.

BEM PERTO DOS MALFEITORES

- De posse desse achado, peguei Pedro de Cândida na abertura da camisa e, com pequeno gesto com o joelho, o coiteiro caiu ao chão. Fiz-lhe, na oportunidade, um susto gostoso, puxando o punhal e colocando-o abaixo de sua costela mindinha. Perguntei-lhe se estava disposto a mostrar os assaltantes. Ele concordou, contando-me, ainda, a mangação que fizera, supondo que eu estava, mesmo, em Moxotó. E, sem mais preâmbulos, atravessamos o rio na mesma embarcação, sem rumor, pois estávamos bem perto do grupo.

UM “INTERMEZZO” SENTIMENTAL

- Quando saltamos do barco, Pedro de Cândida me requereu, em prantos, que eu assentisse em que ele fosse tomar a benção à sua mão, cuja residência era ali próximo, como apontou com o dedo. Consenti. O aspirante Ferreira e eu o acompanhamos de perto, enquanto as minhas forças gozavam uma trégua. Eram 3 horas da madrugada e chovia torrencialmente. Ao passar por debaixo de duas quixabeiras frondosas, nas proximidades do domicílio, Pedro de Cândida parou repentinamente e assinalou: “Seu tenente, o senhor deveria ter trazido mais soldados. Cangaceiro é a peste! Talvez a minha casa esteja cheinha deles”. Revoltei-me: “Por que não me advertiu antes, miserável, mas só agora?”

UM ALVO BRANCO SE RECORTA NO NEGRUME DA NOITE

A expectativa dos que ouvem as palavras do coronel João Bezerra é inocultável. Ele, porém, não denota qualquer exaltação:

- Nesse momento, ordenei ao aspirante que destravasse a metralhadora e se colocasse atrás da residência. Quanto a mim, coloquei o pente de cinquenta tiros na minha metralhadora possante e recomendei a Pedro de Cândida que batesse na porta, fazendo o sinal de cangaceiro, e chamasse o irmão. O irmão respondeu logo: “Pedro?” E este: “Venha cá!” Imediatamente, abriu-se a porta e o irmão de Pedro de Cândida saiu com uma camisa muito branca, que se recortava bem na escuridão. Olhou bem pertinho da minha cara e espantou-se: “Uai! Já está aqui?” Ao que Pedro de Cândido aconselhou: “Meu irmão, conte logo tudo, que nós vamos morrer por causa dos cangaceiros e eu já sofri o diabo”.

FORNECENDO A PISTA DEFINITIVA

- Aí eu perguntei: “Os cangaceiros estão por aqui?” Ele, antes de proferir qualquer frase, olhou para o irmão, que o encorajou: “Diga tudo, meu irmão, senão nós vamos se acabar!” Ele virou-se, então, para mim e se abriu: “Estão, sim, seu tenente. Os cangaceiros estão lá”. E eu: “Como é que você sabe que estão lá?” E ele, rápido: “Porque eu estive lá, na boquinha da noite, para ver uma máquina de costura que o capitão (Lampião) me prometeu, mas dona Maria (Maria Bonita) estava cosendo e ele me disse que eu fosse buscá-la bem cedinho, devendo eu, então, procurá-la no pé da pedra, debaixo das macambiras, onde ele, se não estivesse mais lá, deixaria o aparelho escondido”. Sorri: “Então vamos ver logo, senão você perde a sua máquina”. E o cabra, tremendo: “Ave Maria! Nesse caso, eu preferia perder!” Fiquei, por motivos óbvios, com esse coiteiro, entregando seu irmão ao aspirante. Sentenciei, logo depois: “A camisa é branca; se correr, é um bom alvo”.

PREPARANDO A TROPA PARA O COMBATE

Perguntamos ao coronel João Bezerra qual era o seu estado de espírito, naquele momento. Ele nos olha de lado: “Nenhum nervosismo. Eu tinha a tranquilidade de quem vai para um batizado de cabra que acaba de nascer”. Reintegra-se na história:

- Voltamos para junto da tropa: clareando-os com uma pilha elétrica, acordei os praças que já dormiam: “Vamos embora”. Subimos a margem do São Francisco, num lugar muito íngreme, pelo lado, justamente, em que não esperavam a tropa, pois me julgavam já em Moxotó. Na chegada, esperei todo o contingente, que vinha em coluna por um, e, após reuni-lo, em círculo, 3h30m da madrugada, dei-lhes ciência de que, se Deus ajudasse, dentro de mais trinta minutos, se decidiria a parada entre a força e os cangaceiros. Grande parte dos presentes respondeu, de uma só vez: “Já andamos desesperançados de brigar; essas pestes são encantadas”. E num segundo tempo: “E porventura qual é o grupo a que o senhor se refere?” E eu, lacônico: “O de Lampião”. Ao que eles se admiraram: “É o cego?” Confirmei: “Ele mesmo”.

EM MARCHA RASTEJANTE

- O coronel João Bezerra poderia mencionar o número de homens que tinha a seu dispor, naquela noite? – indagamos.

- Eu tinha45 homens.

E adivinhando o nosso quesito seguinte:

- Lampião tinha 48 homens. A minha tropa, eu a dividi em quatro grupos: três de 10 homens e um de 15, sendo este o meu, pois dele partiria o ataque. Assim foi que ao grupo capitaneado por Ferreira de Melo eu ordenei que seguisse com o coiteiro Pedro de Cândida, que conhecia toda a disposição do adversário, e rumasse em direção ao riacho, onde se achava o sentinela, colocando-se entre o mesmo e o grupo. Em sequência, seguiria ainda riacho acima, em marcha rastejante, até avistar os cangaceiros, que dormiam ao ar livre. Ali deveriam aguardar o aviso da minha metralhadora.

CANGACEIROS EM PILHÉRIAS

- Segui margeando o riacho pela direita – chovia ainda torrencialmente e, meia centena de metros adiante, mandei descer outro grupo de 10, para ficar à direita de Ferreira de Melo, aguardando as mesmas ordens. Segui com 25 homens, realizando prodígios de equilíbrio, pelos bicos das pedras, e abaixando-me pelos matos. Aí eu já batia com a testa em celas dos cangaceiros, as quais, juntamente com as dos coiteiros que com eles foram ter, estavam dependuradas. Lembro-me que um cavalo, que se achava apeado e tinha um grande chocalho ao pescoço, espantou-se com a tropa e deu um formidável sopro pelas narinas. Tive que recuar quase uns trinta metros para que o animal não corresse, espavorido, balançando o chocalho. Os cangaceiros já estavam acordados, pilheriando uns com os outros, falando em trocar o bornal e reclamavam contra o café, que estava frio. O ataque de surpresa já iria desencadear-se.

DEFLAGRA-SE O COMBATE

O coronel João Bezerra chega ao ponto culminante da entrevista:

- Disposta toda a tropa, quando eu me preparava para transpor uma pedra comprida, da altura de 1 metro, ouvi diversos disparos pelo lado em que colocara a tropa do aspirante e outros tentos para o nosso lado. Recebi, nesse momento, uma pancada na perna e outra na mão: vi o sangue descer, o que provava que eu tinha recebido umas balinhas. Porem, quando me levantei, fazendo força na perna, constatei que o osso estava íntegro. Olhando para a direita, vi sair fogo de quatorze fuzis, cadenciadamente, na altura de metro abaixo. Gritei, então: “Avancem!” Cinco minutos depois, notei, com satisfação, que a tropa se misturava com os cangaceiros, que, desse modo, tiveram que passar a lutar em várias frentes.

PISANDO SOBRE CADÁVERES

O coronel Joao Bezerra ainda alisa a lâmina da faca, mas tem os olhos postados sobre as notas do repórter. Acompanhemo-lo:

- Fui passando, então, por cima dos cangaceiros mortos, cujas vestes estavam ensopadas de sangue e de água de chuva. Lembro, também, que um soldado meu, de nome Adriano, exclamou: “Estou baleado, tenente!” E, antes que eu pudesse auxiliá-lo, ele estava com a barba serenada.

- Que significa barba serenada, coronel?

- Morto. Logo a seguir, outro soldado, Antônio Jacó, me preveniu: “Seu tenente, o cabra lhe mata!” E, de fato, o cabra atirou, mas, como o mosquetão estava descalibrado, a bala foi alojar-se num toco de catingueira, ao meu lado. Apontei a metralhadora para ele, mas logo o vi caindo por cima das macambiras, pois Antônio Jacó – cuja pontaria parecia uma olhada de machado – já o havia alvejado.

O GRITO DE VITÓRIA: “O CEGO MORREU!”

O chão e as macambiras cobriam-se de sangue. Luiz Pedro, cabra valente pra danar, vinha ao nosso encontro, sem nos ver. Fui, de dentro do riacho, enquadrando-o na mira da metralhadora, até 10 metros. Quando me preparava para matá-lo, vi, com tristeza, que um soldado atirou primeiro. Com mais vinte metros, vimos quatro cangaceiros caídos. Junto a eles, um soldado gritava: “O cego morreu!” Eu respondi que o cego (Lampião) não morreria assim. E ele, convicto: “Se este não for Lampião, quero ser cabra da peste, pois eu fui coiteiro dele durante dois anos”. E eu, ainda desconfiado: “Verifiquei se o olho direito dele é cego”. Ao que ratificou o praça: “É cego, sim, tenente”. Mandei trazer o cangaceiro, no caso Lampião, mas o praça trouxe a cabeça. Alguns cabras, entrementes, conseguiam escafeder-se, enquanto as cabeças de seus comparsas rolavam pelo barro.

MEDIDA ACERTADA

O coronel João Bezerra observa que a lembrança do degolamento de Lampião e de seus sequazes ainda constitui um impacto. Elucida, por isso:

- O degolamento se enquadrou perfeitamente num processo antigo. Demais disso, não poderíamos trazer todas as cabeças. Quando os meus subordinados cortaram as cabeças, não protestei também por um outro motivo: uma falange de dedos amputada não modificaria uma fisionomia. Determinei fosse feito o reconhecimento dos cadáveres, mandando respeitar os mortos.

E repisou o entrevistado:

- O degolamento foi uma medida acertada. Se não tivesse ocorrido, muita gente, até hoje, não acreditaria na morte de Lampião.

VERSÕES QUE DIVERGEM

O nosso entrevistado vai além.

- Um dos ex-combatentes da época, coronel Manuel Neto, da Polícia de Pernambuco, e ex-prefeito de Irajá, escreveu, levantando dúvidas quanto às reais circunstâncias que rodearam o fim de Lampião. Forçou, com isto, os meus colegas das Alagoas a censurá-lo e levou-me igualmente, a lhe escrever uma carta, que dizia, a certa altura, mais ou menos o seguinte: “Deixe, meu bom colega, que os paisanos venham em cima de nós, militares, com seu despeito, sua inveja, não um velho militar, nas suas condições, que, muitas vezes, imitando-me ou tentando imitar-me, se amparou no seu mosquetão, aguardando o pronunciamento da Justiça. Você sabe bem, está bem lembrado, de quando lhe telegrafei, chamando-o, e que você, em lugar de comparecer, para me ajudar, mandou o sargento Davi Surubeba(que ainda hoje é vivo e está lembrado), que chegou retardado, encontrando-me nas mãos de dois médicos, que me pensavam dos ferimentos recebidos no combate meia hora antes. E Davi Surubebae o sargento Odilon Flores, de saudosa memória, pegaram as cabeças dos cangaceiros, tendo o primeiro, ao erguer a de Lampião, asseverado, chorando: “Queria que fosse eu que tivesse morto Lampião.Mas foi o meu amigo, tenente João Bezerra, quem o matou”.

MEMÓRIAS EM TERCEIRA EDIÇÃO

Perguntamos ao coronel João Bezerra sobre Volta Seca, atualmente no Rio de Janeiro, onde até se iniciou como cantor. A resposta é áspera: “É um cachorro!” Narra-nos, então, um episódio, impublicável, marcado pela maior brutalidade, cujo protagonista principal foi aquele ex-integrante do grupo de Lampião. E arremata o entrevistado, após acentuar que a fita “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, foi uma pantomima, sem guardar qualquer relação com a verdade histórica, e que pretende figurar, em breve, como ator, num filme sobre a vida e a morte de Lampião, produzido pelo seu amigo, deputado, Tenório Cavalcanti.

- Dessa forma é que vou publicar a terceira edição do livro sob o título “Como dei cabo de Lampião”, com capítulos interessantes para o momento, inclusive o desmentido a algumas notas escritas irrefletidamente por pessoas inescrupulosas.

Terminara a entrevista, quatro horas e dez minutos após se haver iniciado. Conduzimos o entrevistado até à porta do hotel. “Não lhe ficou, portanto, qualquer remorso da liquidação de Lampião e seu bando?” – reinquirimos. E o coronel João Bezerra, firme:

- Nenhum remorso. O degolamento enquadrou-se, como já disse, num processo histórico. Depois, era mais cômodo trazer as cabeças que os corpos, dada a distância em que nos encontrávamos. Trazer os corpos seria impraticável.

O coronel João Bezerra pede que lhe enviemos exemplares do número de O GLOBO em que foi publicada a entrevista. Quando apertava a mão do repórter, um hóspede do hotel, identificando-o, comentou com o companheiro:

- Olhe o degolador de Lampião...

E o coronel João Bezerra, já ganhando a calçada:

- Aí começa a lenda. A verdade termina no que lhe contei. Foram feitas as despedidas e o coronel João Bezerra afastou-se, tranquilo, como se estivesse na santa paz dos céus, sem que lhe angustiassem o espírito aquelas cabeças que rolaram, um dia, pelo chão calcinado dos sertões, há quase duas décadas. Certamente os espectros não transpõem a porteira da sua fazenda, onde se erguem as sombras dos cafezais e dos canaviais e onde o gado muge as suas mágoas – as únicas existentes na queda fazenda Aquidabã.

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