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domingo, 18 de novembro de 2018

DESNAMORADO

*Rangel Alves da Costa

Desnamorado não significa ter deixado de namorar ou ter sido relegado por um coração afoito. Não. Desnamorado significa não namorar mesmo, não dividir com ninguém os cacos de um coração melancolicamente poeta.
Desnamorada é a pedra que optou pela solidão debaixo da chuva e do sol. Desnamorado é o mandacaru que se contenta estar de braços abertos perante os espaços. Desnamorada é a noite solitária e só. Desnamorado é o tanque que secou de vez e outra coisa não quer ser senão o barro.
Pois sou assim, sou um desnamorado. E completamente desnamorado. A última vez que namorei faz tanto tempo que foi Matusalém (aquele mesmo bíblico, de uma infinidade de anos) quem primeiro me viu roubando um beijo.
Certa feita, matuto até na alma, fui apresentado a uma menina e a deixei de namorar por não saber o que era nem aonde ia o tal namoro. Emudecido sentei ao lado dela num banco da praça, aos pés do Cruzeiro, e emudecido fiquei. Não sabia o que dizer. Todo envergonhado, sequer atinei que bem poderia ir devagarzinho com a mão e acarinhar a sua mão. Então ela, que não era besta quanto eu, simplesmente levantou e foi embora sem olhar pra trás. E fiquei contando as pedrinhas brancas tão fartas naqueles tempos.
Outra vez, beijei uma boca com gosto de bolacha Maria e recuei na hora. Ainda hoje sinto asco e repulsa quando me lembro. Jurei nunca mais beijar. E jura que prevalece até hoje. Sinceramente, não sei nem como funciona um beijo de língua, um arranca-tudo ou carícia no lábio.
Nunca fui de escrever pequenos poemas e bilhetes para encantar corações. Não gosto de amor rimado, previsível demais, adocicado demais. Mas já recebi muito “batatinha quando nasci esparrama pelo chão, Rangel (ou Delzinho) quando se deita bota a mão no coração...”. Deus me livre de namorar uma assim. Dava vontade de responder: “vou ali, volto já, vou buscar maracujá...”.


Uma vez, num desses namoros de Festa de Agosto, uma menina me fez sentir um calor tão grande que pensei incendiar. Atrevida demais para a minha timidez matuta, puxou-me para um canto e avançou de vez. Acho que perdi os sentidos. Não lembro bem o que aconteceu depois disso. Melhor deixar isso pra lá, né? Tempo bom danado, e ai como dói recordar.
Mas quase sempre sendo filho de prefeito, todo arrumado, cheio de importância sem ter, então menina chovia mais que pingo d’água no sertão. Bonito de verdade eu nunca fui, mas de beleza forjada no que eu era naqueles tempos. Hoje sou completamente feio (ora, não posso pensar diferente, pois nenhuma mocinha sequer olhar pra mim).
Sim, mas depois disso até que experimentei coisa mais séria. Com diz a música cantada por Martinho da Vila, já tive mulheres de todas as cores, de todas as idades, de muitos amores. Já experimentei cores e sabores diferenciados, já arrisquei encontrar e muito já fui encontrado.
Já namorei uma alagoana por doze ou treze anos. Já namorei com musas e deusas, com monstros e assombrações. Já namorei mulher descasada e até casada. Convivi pouco tempo com uma e algum tempo com outra. Mas nunca casei. E meu estado civil até hoje é o de sempre: solteiro. Contudo, releva que agora eu me sinto um verdadeiro desnamorado.
Talvez uma mulher de barro ou uma desenhada em papel de pão, mas de carne e osso quero mais não. A não ser que uma chegue e consiga me fazer retornar aos treze, quinze, dezesseis anos: e coloque a minha cabeça no seu colo, me chame de seu menino, e me mostre a real felicidade do amor. E eu preciso tanto.

Escritor
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O CANGAÇO QUE DESCONHECEMOS


Material do acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho

Se os chefes cangaceiros Antônio Silvino e Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) tivessem vivido 100 anos antes, ou seja, nos meados do século XIX, durante o Segundo Império, quando a imprensa nacional, a grande divulgadora do banditismo protagonizado por estes dois personagens, ela, a imprensa, que naqueles idos, de uma forma geral, pouco ou quase nada se interessava ou se importava com os acontecimentos que ocorriam no interland do Brasil, a exemplo do sertão nordestino, penso que a contemporaneidade, a respeito da vida e da atuação criminosa de Silvino e Lampião, pouco saberia, e, por certo, estes dois bandoleiros não gozariam da fama que terminaram por conseguir, principalmente este último. 

Fico aqui a imaginar as desgraças e barbaridades ocorridas no rincão brasileiro nestes longínquos tempos, destes mais de 300 anos que nem imprensa tínhamos. 

O fato é que nestes 518 anos de história do Brasil, bandidos outros houveram antes de Silvino e Lampião, tão perversos e matadores quanto estes dois pernambucanos.

Leiam o voto proferido pelo deputado cearense, Sr. Albuquerque, na sessão da Câmara Federal, em 1843, repito, 1843, para discussão da aprovação ou não de uma resolução autorizando o governo a fazer as despesas necessárias para mandar vir da Itália missionários capuchinhos, para o trabalho nas missões indígenas; um voto que trago para amparar o que acima afirmo.

O Sr. ALBUQUERQUE: - Sr. Presidente, eu voto pelo artigo primeiro da resolução, porque não me parece que ele seja desnecessário, e porque muito simpatizo com a ideia, e nem posso descobrir, na matéria de que se trata, o epigrama que o nobre deputado por Santa Catarina considera que por esta resolução se fez ao clero brasileiro.

Reconheço, Sr. Presidente, a necessidade que há de que no interior do Brasil se espalhem esses missionários, esses soldados da milícia da igreja, e exerçam a sua sublime e santa profissão; porquanto não só os indígenas, esses infelizes selvagens, mas o geral da população, me parece que ao menos tanto quanto aqueles necessitam da exortação da igreja, da explicação de suas leis e da moral santa de Jesus Cristo, porque estou convencido de que somente a arma poderosa da palavra de Deus poderá contê-la e fazer arrepiar a carreira dos vícios e dos crimes a um sem número de indivíduos que parecem não conhecer outro Deus, outra religião senão as suas paixões, as suas inclinações e seus hábitos criminosos. Talvez que com esses tenham de ter mais trabalho os missionários do que com os índios selvagens.

Este talvez será o meio por que possamos chegar a ter o prazer de ver o país mais moralizado; será talvez por estes meios que possamos ver restaurado o respeito devido à religião (apoiados) e fazer com que a população adquira outra vez aquelas salutares ideias de escrúpulo que antigamente tinha de infringir as suas leis, e, por conseguinte, também as leis do Estado; pois indubitavelmente o hábito de observar e guardar aquela acostuma os homens a respeitar as leis da sociedade.

Senhor Presidente, é inegável que nos sertões reina um desabuso extraordinário; furta-se, rouba-se, mata-se quase sem receio algum; em muitos pontos o país está quase barbarizado; porque por uma parte a impunidade acoroçoa os perversos, e por outra a falta de princípios religiosos faz com que se não tenha pelo crime o horror que ele deve necessariamente inspirar aos corações bem formados; e não é do nosso clero atual que deveremos esperar a reforma dos costumes por meio da predica.

O clero do Brasil está tão reduzido, que mal há quem preencha os lugares de párocos e coadjutores, e por consequência menos poderemos ter quem se ocupe privativamente de propagar a fé, a doutrina e a moral cristã: os párocos têm obrigações especiais que os privam de aplicar-se exclusivamente a este ramo do seu ministério.

A experiência demais a mais nos convence da utilidade do estabelecimento das missões: os resultados obtidos pelas santas doutrinas e esforços destes missionários apostólicos são patentes na Bahia, Pernambuco, Maranhão e outras províncias, e me persuadem de que, empregando-se iguais meios nos outros pontos do império, colheremos iguais resultados.

Mas disse o meu nobre amigo e colega pelo Ceará que o artigo em discussão é desnecessário, por isso que o governo tem mandado vir e despendido a soma necessária com o transporte de missionários, sem que tenha necessitado autorização do corpo legislativo; e que tanto mais desnecessário é por se ter votado já nesta sessão a quantia de 6 contos de réis para catequese e civilização dos índios. Sr. Presidente, a quantia que se votou, além de insuficiente para todas as despesas do estabelecimento das missões no império, quanto a mim, não deve ter essa aplicação. Essa quantia, entendo eu, deve ser aplicada, e ainda assim me parece muito diminuta para civilização e colonização dos índios, pois estão convencido de que a catequese será sempre infrutífera se os missionários não forem habilitados a estabelecerem colônias dos mesmos índios, a reuni-los em pequenas povoações, e lhes proporcionarem meios de se darem à agricultura e outros ramos de indústria, de os aplicar enfim a qualquer gênero de trabalho. É necessário mesmo fazer certas despesas com os presentes que se costumam oferecer aos principais ou chefes das tribos indígenas, e não se cuide que se pode prescindir disso, porque a experiência tem mostrado que eles facilitam o comércio, digo a comunicação com os índios. Se o governo pois distrair essa quantia aplicando-a para as despesas do transporte dos missionários e sai manutenção e subsistência, enquanto pelo recurso à piedade dos fieis não adquirem os meios de sua parca subsistência, nada restará que se possa aplicar às despesas da colonização dos índios, e por consequência será sem dúvida infrutífera a missão por esse lado.

Parece-me pois ter demonstrado que o artigo em discussão não é desnecessário, por isso que já foram votados 6 contos de réis para catequese e civilização dos índios; resta-me dizer que se o governo tem feito despesas com o transporte de alguns missionários apostólicos sem expressa autorização do corpo legislativo, naturalmente terá empregado para isso alguma quota da quantia que se lhe tem consignado para despesas eventuais. E deveremos nós, senhores, entregar a uma tal contingencia o estabelecimento das missões, uma medida de utilidade tão vital para o país? Parece-me que não: creio que para uma medida desta ordem ou se devem aplicar fundos especiais, ou autorizar o governo a fazer a despesa necessária, pois que o governo nos dará conta; e que será quase indispensável deixar ao prudente arbítrio do governo calcular o número de missionários que for preciso para as diferentes províncias do império (apoiados). Não tenho receio de que o governo inunde o país de missionários; e quando mesmo isso fosso possível imaginar-se, seriam estes os colonos da maior utilidade; destes nenhum mal pode vir ao Brasil; pelo contrário, todo bem podemos esperar de se propagarem as doutrinas apostólicas pelo interior dos nossos sertões; colonos destes eu receberei sempre de braços abertos.

Na minha província mesmo, onde não há índios selvagens, onde o idioma indígena é até já absolutamente desconhecido por esses mesmos de pua raça indígena que existem: aí mesmo estou certo de que importantíssimos serviços farão os missionários; e é por igual convicção que à assembleia provincial na sessão do ano passado decretou certa soma para despesas de transporte de alguns missionários capuchinhos; tenho fé de que eles poderão obter por suas palavras o que se não tem conseguido por meio das autoridades armadas de todo rigor das leis; tenho uma lisonjeira esperança de que muita gente que hoje vive como errante, carregada do competente “cangaço” (permita-me a expressão, por ser própria e muito usada no sertão) dispa sua armadura, conheça seus erros, se arrependa, e, fazendo uma verdadeiro contrição, se tornem cidadãos úteis. Enfim, Sr. Presidente, eu tenho um tal entusiasmo por esta medida, que voto pelo artigo tal qual, e até votaria ainda por mais amplitude, se se lhe pudesse dar.

“Jornal do Comércio” (RJ) - 04.05.1843 

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SÍTIO SÃO FRANCISCO


Por José Mendes Pereira

Fotos do Sítio São Francisco do meu pai Pedro Nél Pereira (Barrinha dos Néo 11-11-2018. 

Aliás, atualmente o sítio é nosso, porque meu pai faleceu em 2011, mas nós ainda não fizemos inventário.

Nesta foto está à esquerda Sobrinho meu irmão, no meio o Nilton também meu irmão e por último à direita sou eu. Retratista: Aldeir Carlos da Silva. 

Nesta outra: O que está em pé é o Sobrinho meu irmão. O que está sentado à direita é Nilton meu irmão, e o que está à esquerda. sou eu. - Retratista: Aldeir Carlos da Silva. 

Retratista: Aldeir Carlos da Silva.

Nesta o que está em pé é o Sobrinho meu irmão e o que está lá dentro sou eu. 
Retratista: Aldeir Carlos da Silva.

A capelinha foi construída pelo meu pai Pedro Né Pereira em 1960, e durante muitos anos, neste mesmo local, no aniversário do São Francisco de Assis  tinha leilão, e após este, a sanfona roncava até o dia amanhecer. Era uma festa tradicional. 

Devido a idade já avançada o meu pai deixou de promover as festividades da igreja, sendo que nenhum dos filhos quis continuar as comemorações.

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PREFEITURA DE MOSSORÓ PREPARA CONCURSO PÚBLICO PARA 2019

Foto: Secom/PMM

Município publicará em breve comissão responsável pelo levantamento das vagas que serão oferecidas na área da Educação.

Maricelio Almeida/Jornal De Fato

A Secretaria Municipal de Educação prepara para 2019 a realização de novo concurso público, com vagas inicialmente previstas para professores. A informação foi confirmada ao JORNAL DE FATO pela assessoria de comunicação da pasta.

Segundo a assessoria, em breve o Município publicará no Jornal Oficial de Mossoró (JOM) portaria constituindo a comissão responsável pelo estudo da real necessidade de profissionais para a Secretaria de Educação. É desse levantamento que poderão surgir vagas para outras funções, além de professores.

O último concurso realizado pela Prefeitura de Mossoró para a Educação ocorreu no final 2013, sendo homologado em 2014. Esse certame venceu no início deste ano, impossibilitando o Município de contratar novos docentes efetivos. Para amenizar o déficit de professores, enquanto não acontece um novo concurso o Poder Executivo local realizou processo seletivo simplificado.

Atualmente, a Rede Municipal de Ensino possui aproximadamente 1,2 mil professores, distribuídos em 96 escolas e Unidades de Educação Infantil (UEIs) da zona urbana e rural de Mossoró.

Calendário Escolar de 2019 é preparado

A Secretaria Municipal de Educação deu início ao processo de definição do Calendário de Matrículas 2019 e do Calendário do Ano Letivo 2019. A comissão designada para elaborar a minuta dos dois documentos se prepara agora para apresentar a sugestão aos gestores e secretários escolares e ao Conselho Municipal de Educação.

Nesta terça-feira, 23, às 8h, a comissão estará reunida com os diretores e secretários escolares no auditório da Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte, para apresentar a minuta e ouvir deles as sugestões que possam melhorar o processo de matrícula que acontecerá nas escolas. Posteriormente a sugestão do Calendário do Ano Letivo 2019 será apresentado ao conselho.

vhttps://www.maricelioalmeida.com/l/prefeitura-de-mossoro-prepara-concurso-publico-para-2019/?fbclid=IwAR0xptv8-R217Q0EvwYAsNgoPzsgDMEhhAWqF4mbnKqoB2ZdwsfpwrXQcv8

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CAÇADAS SAZONAIS... 4. CAÇA DE MARRECA POR ESPERA, COM CHAMAS VIVAS

Por Benedito Vasconcelos Mendes

No inverno (período chuvoso), um dos  principais  passatempo do meu avô, José Cândido Mendes, era a caça de marrecas em tocaia, usando chamas vivas. Ele criava em sua Fazenda Aracati, vizinha a Vila Caracará, no Município de Sobral, no Estado do Ceará, vários casais de marreca-viuvinha (Dendrocygna viduata)  e  de marreca-verdadeira (Dendrocygna autumnalis  autumnalis ), que eram usados como chamas em suas caçadas de tocaia (caçada de espera).                                                                  
As marrecas são aves anseriformes, silvestres, aquáticas (possuem membranas natatórias), gregárias, de carne saborosa e muito usada na culinária sertaneja.     


A marreca-viuvinha é nativa da América do Sul e África, tem cabeça e pescoço brancos, asas, bico e pés cinzentos escuro, mede aproximadamente 35 centímetros, pesa até 850 gramas, alimenta-se de sementes e pequenos invertebrados, nidifica no chão e põe até 12 ovos por postura. Não se reproduz facilmente em cativeiro. No Nordeste é conhecida como marreca-viuvinha e no restante do País por  irerê e marreca-piadeira.                                                                                                                     
A marreca-verdadeira ou marreca-cabocla mede 45 a 55 centímetros e pesa até pouco mais de um quilo. Tem bico e pés vermelhos, sua face é acinzentada e a barriga é preta. Quando em voo apresenta uma mancha branca nas asas,  é  maior do que a marreca-viuvinha, alimenta-se de sementes, vermes, pequenos crustáceos, larvas de insetos e gosta muito de grãos de arroz. É uma ave gregária, podendo formar grandes  bandos. Nidifica no chão, às vezes em ocos de pau, põe de 7 a 15 ovos, gosta de empoleirar-se nos galhos das árvores, das margens de rios, açudes e lagoas. No Nordeste brasileiro, reproduz-se uma vez por ano, na quadra chuvosa.                                                                                                             
Na Fazenda Aracati, estas marrecas nativas eram criadas no oitão da casa grande, em uma área separada por cerca de faxina das outras aves (galinhas, patos, capotes e perus). As marrecas não voavam, pois uma de suas asas tinha sido operada (junta da asa cortada). Além de não voarem, as marrecas eram muito mansas, acostumadas a se manterem amarradas pela canela, por longo período de tempo. Na área de criação das marrecas,  tinha um tanque de alvenaria de 3 m X 2 m e 60 cm de profundidade, para banho e natação das aves. Ao redor do tanque de água, situavam-se os marrequeiros, que eram pequenos chiqueiros de varas de marmeleiro,  cobertos  de palha de carnaúba, onde as marrecas dormiam. Em cada marrequeiro vivia  um casal de marrecas. Dentro deles ficavam o depósito para receber  alimento (milho) e o alguidarzinho de barro,  para  água de beber. Ao meio dia,  as marrecas eram soltas na área comum do tanque, para pegarem sol e tomarem banho juntas. À tardinha, cada casal era colocado em suas casinhas (marrequeiros). As portas eram de varas finas de marmeleiro, com dobradiças de couro cru de boi. Tinham que dormir dentro do marrequeiro, devido às raposas e gambás.                                                                                                                 
Por ocasião da caçada, dois ou três casais de cada espécie de marreca (verdadeira e viuvinha) eram levados  em cestos de cipó com tampas para próximo da tocaia. Elas eram mantidas amarradas  por um cordão grosso de fio de algodão (punho de rede),  com cerca de meio metro de comprimento,  sobre uma laje de pedra  arredondada, de mais ou menos 80 centímetros de diâmetro, colocada dentro d’água.                                                                                                          
No inverno,  quando as lagoas, rios  e açudes já  tinham pegado bastante água,  meu avô e o vaqueiro Sales saiam, ao escurecer, para caçar marrecas, na margem da lagoa. Levavam as marrecas mansas para a beira d’água e amarravam as mesmas nos cordões presos à laje de pedra. A laje arredondada colocada dentro d’água, funcionava como uma ilha, onde as marrecas ficavam presas e em cima dela. A laje era previamente preparada, de modo a deixar várias pontas de cordão para receber as marrecas mansas (chamas).                                                                        
Meu avô e seu auxiliar Sales entravam na tocaia em forma de cone e feita de varas de marmeleiro e palhas de carnaúba. As marrecas mansas, sobre a pedra, na beira d’água, ficavam alegres e querendo descer da pedra para  nadar. Noite clara de lua cheia, silêncio quebrado aqui e ali pelo  coaxar dos sapos e rãs ou pelo canto do caboré ou de algum pássaro noturno aquático. De repente, ao pressentir a passagem de um bando de marrecas voando sobre a lagoa, as marrecas mansas começavam a cantar, chamando as que passavam, para pousar na margem da lagoa. Ao pousarem na área estrategicamente preparada para receber as marrecas selvagens, que distava uns três metros de distância da pedra onde as chamas estavam, meu avô armava sua espingarda, mirava o bando e atirava. Meu avô era o atirador e o Sales era o ajudante. A espingarda usada era do tipo bate-bucha e era espalhadeira de chumbo. Cada tiro matava duas ou três marrecas, às vezes mais. Quando as marrecas feridas caiam dentro d’água, o  Sales,  usando um cavalete de mulungu (tronco de mulungu que funcionava como boia), ia apanhar a ave moribunda ou já morta. O mulungu é leve e não afunda e dele se faz o cavalete (boia).                                                                                                         
As espingardas bate bucha de meu avô eram fabricadas pelo mestre Tião Ferreiro, cuja tenda de ferreiro localizava-se na Vila de Santo Antônio do  Aracatiaçu, que pertencia ao município de Sobral e que ficava próxima de sua fazenda.                                                                                    
As marrecas mansas permaneciam sobre a pedra, chamando novos bandos de marrecas silvestres. Meu avô e o Sales ficavam na tocaia até às 10 horas da noite, depois iam dormir, pois no dia seguinte tinha muito leite para tirar das vacas. Geralmente, ele dava um ou dois  tiros por noite, raramente três, pois, algumas vezes, as marrecas selvagens, que passavam voando sobre a lagoa,  não aterrizavam. Meu avô era um exímio atirador e tinha ótimas marrecas-chama, mansas e chamadeiras, que ele criava com muito zelo.                                                                           
Meu avô, ao chegar em casa com as marrecas mortas, as entregava à minha avó, que mesmo sendo tarde da noite,  ia depenar, tratar e salgar, pois na fazenda não havia geladeira. Minha avó, sob a luz de lamparina a querosene e usando o fogão a lenha, mergulhava as marrecas em uma panela de barro grande com água fervendo, depenava as aves, cortava a cabeça e os pés, retirava as vísceras e colocava-as em uma panela com salmoura de sal grosso pilado até a manhã do dia seguinte, quando as mesmas eram penduradas em uma corda de caroá, amarrada entre dois armadores de rede,  no alpendre lateral da casa. Depois de secar um pouco à sombra, as aves eram preparadas na forma cozida ou frita em banha de porco, e depois servidas  com farinha de mandioca ou cuscuz de milho e arroz. Era um almoço delicioso, que agradava a todos os paladares.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes

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MEUS PROFESSORES!

Por Wasterland Ferreira
Cortesia do professor Itamar Baracho. 

Aqui estão meus amigos o professor Itamar Da Silva Baracho e Paulo Britto.

Paulo é filho do Coronel da Polícia Militar de Alagoas, João Bezerra da Silva, e que comandou a Força Policial Volante que matou o cangaceiro Lampião.

Aqui o amigo Itamar aparece usando um quepe militar que pertenceu ao Coronel João Bezerra. 

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APAGANDO O LAMPIÃO VIDA E MORTE DO REI DO CANGAÇO


Por Lucena Blues

O personagem da história brasileira que é tema deste livro já foi apontado por muitos como bandido e por outros como produto das injustiças sociais. Polêmicas à parte, não restam dúvidas de que Lampião permanece magnetizando a curiosidade de todos que já dele ouviram falar. Mito ainda em vida, sua morte só fez aguçar toda a mística que cerca sua trajetória. Afinal de contas: quem matou Virgulino Lampião? 

Muita tinta já foi gasta procurando dar conta deste imbróglio. E o historiador Frederico Pernambucano de Mello traz aqui ao leitor um retrato vivo e completo deste homem de coragem e inteligência cuja trajetória já foi objeto de música, filme, novela e tantas outras manifestações da arte. Através de uma linguagem certeira e ancorado por caudalosa documentação escrita e ampla gama de depoimentos orais, o autor deste livro contextualiza historicamente as ações de Lampião e seu bando nas primeiras décadas do século XX e desata o nó que até então existia a respeito do assassinato de uma das figuras mais admiradas e, ao mesmo tempo, temidas de nossa história.

Sopro renovador na historiografia do cangaço brasileiro, Apagando o Lampião – Vida e morte do Rei do Cangaço joga luz definitiva sobre um dos enigmas que ainda persistiam na rica seara da história nacional.)

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Amigo leitor, dê um pulinho até Cajazeiras no Estado da Paraíba e saiba se o professor Pereira tem este livro!

O seu e-mail é:

franpelima@bol.com.br

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FOI TRISTE A MORTE DO EX-CANGACEIRO MARIANO LAURINDO GRANJA O INSEPARÁVEL AMIGO DA VELHA GUARDA DO REI LAMPIÃO!

Por José Mendes Pereira
Cangaceiros Mariano (Mariano Laurindo Granja) e Mourão. -http://cangacologia.blogspot.com/…/cabras-de-lampiao-marian…

O famoso e ex-cangaceiro Sebastião Pereira da Silva o Sinhô Pereira, primeiro e único patrão no mundo fora-da-lei de Virgolino Ferreira da Silva o Lampião, disse ao seu parente Luiz Conrado de Lorena e Sá em uma entrevista no ano de 1971, que quando estava no meio de tiroteio com as volantes, naquelas circunstâncias matar ou morrer para ele, seria a mesma coisa. Isso faz a gente entender que cangaceiro além da perversidade contra os homens de bem, se morresse, estava ali para isso mesmo. Quer dizer: o risco que corria o pau corria o machado.

Diz o escritor, pesquisador e colecionador do cangaço Dr. Ivanildo Alves da Silveira que o cangaceiro Mariano Laurindo Granja nasceu em 1898 em Afogados da Ingazeira (terra também do ex-cangaceiro Antonio Silvino), no Estado de Pernambuco. Entrou para a “Empresa de Cangaceiros lampiônica & Cia" no ano de 1924. Foi um dos poucos que em Agosto de 1928 cruzou o Rio São Francisco em companhia do capitão Lampião em direção à Bahia. Esta fera faleceu no dia 10 de outubro de 1936, entre os municípios de Porto da Folha e Garuru, sendo esta região conhecida como Cangaleixo.


O cangaceiro Mariano no cangaço era genro do afamado vaqueiro Lé Soares, sendo ele companheiro da cangaceira Rosinha, irmã da cangaceira Adelaide que vivia com o cangaceiro Criança. E segundo a pesquisadora do cangaço Juliana Pereira afirma que a companheira de Mariano a Rosinha foi morta a mando do capitão Lampião, só porque ela não obedeceu uma das suas ordens após a morte do Mariano, seu companheiro.

Ela queria visitar os seus familiares e solicitou a autorização ao chefe capitão. Ele permitiu, mas na seguinte condição: que não se demorasse. Mas a Rosinha não obedeceu o que lhe dissera o chefe, ficou em companhia dos familiares, assim, quase despreocupada. Vendo a desobediência e o perigo que ela oferecia se caso às volantes a encontrassem em sua casa, Lampião deu ordem para que alguns cangaceiros fossem atrás da Rosinha e a matasse. E assim foi feito. A cangaceira foi cruelmente assassinada pelos seus próprios companheiros.

http://rdopombal.blogspot.com/20…/…/6-visita-de-lampiao.html.

Mariano era um facínora que não gostava de praticar morte quando não achava necessária. Tinha um respeito enorme pelo o seu chefe Lampião, também pudera! Eram amidos deste 1924, e passou 12 anos naquela vida, tempo da velha guarda quando ele entrou para o cangaço. Tinha grande habilidade para tocar gaita e dono de uma simpatia. Estava sempre com gestos risonhos.

Diz ainda o escritor Ivanildo Alves da Silveira que Mariano teve um fim doloroso, onde foi baleado e apunhalado várias vezes pelo soldado Severiano vulgo, Bem-Te-Vi, que era comandado pelo tenente Zé Rufino. Segundo o Bem Te-Vi estava vingando a morte do seu pai feita por Mariano.

O volante Bem-Te-Vi à esquerda e o tenente Zé Rufino. -http://blogdomendesemendes.blogspot.com/…/filho-de-cangacei…

Assim que o capturou apoderou-se do punhal e a mão subia e descia furando as carnes do assecla. Apunhalava-o com tanta ira, que quem assistiu a crueldade, ouviu o ranger da ponta do punhal atravessando as carnes e os nervos da vítima, saindo do outro lado do corpo, fincando-se na terra seca.

Jamais um homem matou com tanta ira um bandido. Os dedos do assecla tentavam afastar dos olhos a pasta de sangue que cobria a sua visão. A cabeleira derramava um líquido formado de suor e sangue. O seu corpo todo era um vermelhão só. O corpo estava totalmente aberto, pelos profundos golpes aplicados pelo o policial. Era a vingança do Bem-Te-Vi.

O tenente Zé Rufino apenas assistia a violência de seu comandado, sem dizer uma única palavra. Passado alguns minutos, o tenente Zé Rufino disse-lhe: “- Tenha cuidado com a cabeça que eu preciso dela”.

Os dois tinham certeza de que o assecla já havia morrido. Enganaram-se totalmente! Mariano continuava vivo. E num momento, o facínora tentou se levantar do chão, todo coberto por um enorme lençol de sangue vivo e escarlate. Quem assistiu disse aos que lhe perguntavam que era horroroso de se ver o seu estado.

O vingador quando viu o cangaceiro tentando apoiar-se para se levantar, mesmo com o corpo todo aberto pelas punhaladas aplicadas por ele, engatilhou a arma e encostando-a no peito do assassino do seu pai, preparou-se para dar o último tiro de misericórdia.Foram dados tiros à queima-roupa, perfurando o corpo do bandoleiro, que já era uma verdadeira peneira de britador. Agora sim, o bandido, finalmente chegou o fim. Sem mais tentativa, findou a vida do chefe de subgrupo de Lampião.

Mariano fez muita falta ao bando, pois todos os companheiros gostavam bastante dele. Em fim, foi-se a vida de um querido aliado dos justiceiros injustos.

Até mesmo alguns que não eram cangaceiros falavam bem do Mariano. Os remanescentes de Lampião disseram que Mariano era um dos que tinha mais humanidade. Afirmaram até que ele era incapaz de uma crueldade desnecessária contra seres humanos. Mas fazia, caso fosse necessária.

No meu entender, com tanta humanidade assim, Mariano estava no cangaço por um respeito a Lampião, já que eram bastantes amigos. Teria sido ele mesmo o autor da morte do pai de do volante Bem-Te-Vi?
Segundo disseram os companheiros aos repórteres: “- Mariano Laurindo Granja foi injustiçado”.

Fonte de Pesquisa:
A terrível morte do cangaceiro Mariano - Ivanildo Alves da Silveira.
Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angicos - Alcindo Alves da Costa.

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