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domingo, 20 de julho de 2025

O TEMPO DAS BOTIJAS.

 By Rostand Medeiros

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O povo nordestino tem certas peculiaridades que o distinguem dos de outras regiões brasileiras. São tradições e costumes que o pintam de maneira singular.
Quando criança, comecei a ouvir lá no meu interior, histórias de descobridores de botijas, era o tempo das botijas que creio eu ainda não findou-se.
FONTE - http://my.opera/.
Contavam os mais velhos que nos séculos XVIII, XIX e ainda quase metade do século XX. O povo do interior costumava guardar suas moedas de ouro, prata e cobre escondidos em latas de metal onde podiam ser conservadas ou em baús revestidos de chapa de metal e enterrados. O lugar era marcado por pedras, acidentes geográficos ou embaixo de grandes e velhas árvores.
As latas eram colocadas nas paredes grossas das casas e os baús, longe, como já dito fora delas.
O costume se fazia pela falta de bancos, pelo medo do roubo e por não ter com que gastar o muito lucrado. Sertanejos faziam quase tudo, e se às vezes tinham o que comprar, guardavam uma minguada economia que sobrava sempre e assim se mantinham.
Em Ipueiras, foram encontradas várias botijas no correr de sua história, a mais recente na década de 1970. O descobridor derrubando as paredes de uma antiga casa encontrou socado numa grossa parede de canto uma lata, cheia de moedas de prata e ouro, não se sabe o valor, o certo é que silenciosamente em pouco tempo mudou-se com a família para uma capital do sudeste e só depois por parentes se soube do fato.
Contornando o morro do Cristo, em Ipueiras , se via no caminho serpenteado, covas quadradas na medida de um grande ou médio baú, quase a beira da estrada carroçal.
Não havia dúvida, e isso era fato corrente daquela região, muitas botijas foram certamente achadas.
Dizem os mais velhos que às vezes o felizardo sonhava com o lugar, ou por pura sorte cavando encontrava. Para completar o quadro,era corrente a história de que ao cavar o astuto e ambicioso tinha visões macabras, como fogo queimando o corpo, cobras se enroscando nas penas e espíritos penados a mandar que parasse a escavação. O certo era que das histórias que ouvi muitos fugiram e se desequilibraram mentalmente, outros mais corajosos iam até o fim, e bastava abrir o baú de madeira carcomida, tudo sumia com um gemido medonho.
O que levava estas botijas a serem esquecidas era ou a morte repentina do dono, e só ele sabia onde estava, ou pela idade o esquecimento que lhe fazia procurar e não mais achar o lugar correto.
Outro fato era o sonho do lugar da botija, dizia-se que o espírito não teria paz enquanto não revelasse o segredo, o dinheiro que em vida não usufruiu, que o ouro e a prata o prendiam no lugar.
Verdadeiro ou falso, muitos descobriram esses tesouros, e formou-se lenda no sertão, dinheiro não gasto traz a perdição do falecido.
O tempo das botijas passou. Mas quem pode afirmar quantas ainda estão a esperar o seu descobridor. Com modernos aparelhos a detectar metais, um corajoso aventureiro não há de voltar de mãos vazias, ficando rico da noite para o dia e finalmente libertando o espírito de quem a enterrou.
Bergson Frota – Cronista - bergsonfrotta@ig.com.br
app/opovo/jornaldoleitor/2011/08/20/noticiajornaldoleitorjornal,2280957/o-tempo-das-botijas.shtml
Extraído do blog "Tok de História" do historiógrafo Rostand Medeiros

O FIM DO CANGACEIRO JARARACA - José Leite de Santana.

 Por Romero Cardoso

Na cadeia de Mossoró, Jararaca era assistido por um médico enviado pelo humano prefeito Rodolfo Fernandes, quando chegou um soldado da volante de Quelé exigindo anel de brilhante que o cangaceiro ostentava em um dos dedos. Como o valioso produto de roubo não saia do dedo do bandoleiro, o militar mandou-lhe colocar o membro na cadeira que iria arrancá-lo de punhal, o que não aconteceu graças aos protestos do médico. Na verdade eram feras combatendo feras, não havia distinção em quase nada entre cangaceiros e soldados volantes, tudo era da mesma laia.

Cangaceiro Jararaca, na ocasião em que se encontrava preso em Mossoró.

Sem papas na língua, Jararaca destilava ódio contra a polícia, fazendo denúncias gravíssimas contra oficiais que segundo ele eram corrompidos pelos cangaceiros. Soltou o verbo contra Teóphanes Ferraz Torres, captor de Antônio Silvino e responsável pela diligência que resultou em sério ferimento no tornozelo de Lampião, no ano de 1924.

Jararaca tornou-se atração em Mossoró. Perguntas eram feitas, a exemplo do número de riscos em sua arma, ou seja, se era o total de mortes que ele tinha nas costas. Inúmeras histórias surgiam a cada instante, como a que havia jogado criancinha para cima e aparado-a no punhal. Tudo era desmentido pelo cangaceiro que a cada momento se enrolava ainda mais.

Lauro da Escóssia, famoso jornalista mossoroense, conseguiu proeza impressionante, pois entrevistou demoradamente o cangaceiro, publicando a matéria no jornal “O Mossoroense”. Nisso, tudo já tinha sido acertado em Natal, pois Juvenal Lamartine de Faria, natural de Serra Negra do Norte (RN), acostumado a conviver com a vida e com a morte nos sertões violentos daquela época, ordenou que a transferência de Jararaca fosse realizada para a capital potiguar.

Lamartine de Faria, aparece ao centro na foto

Avisaram ao bandido que ele seria levado para Natal, quando este reclamou que havia esquecido as alpercatas na cela. O oficial responsável pela condução do preso disse-lhe que não se preocupasse, pois assim que chegassem à capital lhe compraria belo sapato de verniz.Jararaca entrou inocentemente no veículo dirigido por Homero Couto, sendo acompanhado por diversos militares responsáveis pela sua transferência de Mossoró para Natal.Tudo acertado, o motorista reclamou de pane no motor, justamente em frente ao cemitério São Sebastião. Jararaca relutou em sair do automóvel, quando um soldado puxou violentamente pela perna baleada. O cangaceiro valeu-se de Nossa Senhora, mas não houve jeito, pois assim que o desditado bandido caiu no solo foi alvejado por verdadeiro festival de coronhadas das armas dos soldados.

Túmulo do cangaceiro Jararaca. Aos fundos, permanece o túmulo do Cangaceiro Asa Branca que faleceu de morte natural.

A cova de Jararaca já estava aberta, fora do campo sagrado. Quando foram colocá-lo no buraco, notaram que as pernas eram grandes demais, não cabiam na sepultura. Ele ainda estava vivo, mas mesmo assim quebraram-nas a golpes de picareta e o enterraram ainda estertorando, ao lado de Colchete.

Hoje o túmulo de Jararaca é o mais visitado quando do dia de finados em Mossoró. Pessoas vindas de vários lugares vão pagar promessa, pois a crendice popular transformou José Leite de Santana em Santo, talvez em razão do martírio abominável do qual foi vítima, em vista que, não obstante ter sido um criminoso bárbaro, o dever da justiça é garantir sua segurança e fazer com que pague na forma da lei pelos crimes que cometeu.

https://cariricangaco.blogspot.com/2010/06/o-fim-de-jararaca-por-romero-cardoso.html

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A MAIS VERDADEIRA E COMPLETA HISTÓRIA DO CASTELINHO DA RUA APA.

 Postado por Oscar Mendes Filho - no dia 30 de maio de 2018


Depois da lenda do Rougarou na última semana…

Existem muitos lugares na cidade de São Paulo que merecem ser mencionados quando se trata de locais assombrados e essa certamente não é a primeira matéria sobre o já famoso Castelo da Rua Apa. 

Mas por que então escrever sobre ele? 

Porque o texto a seguir é fruto das pesquisas que realizei para criar o livro Sombras do Castelo, que retrata um causo que me foi contado por meu tio, hoje já falecido, que dizia ser verdadeiro. 

Realizei a pesquisa para poder entender o que aconteceu no local e, assim, retratar com maior riqueza de detalhes essa história que me foi contada. 

Capa – Sombras do Castelo

Vamos então entender um pouco do que ocorreu no castelo.  

A História do Crime:

No dia 23 de julho de 1988 faleceu Maria Cândida Cunha Bueno a dona Baby, última pessoa a falar abertamente sobre o fatídico acontecimento ocorrido na Rua Apa nº 236, esquina com a Avenida São João, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, local onde ainda hoje está localizado o famoso Castelo da Rua Apa.

http://www.fiamfaam.br/momento/?pg=leitura&id=351&cat=1

Dias antes de sua partida ainda era possível vê-la, mesmo já com 97 anos, homenageando a memória do seu namorado, Álvaro, que para a polícia foi o autor do crime ocorrido naquele local, em 12 de maio de 1937, batizado pela imprensa como “O Crime do Castelinho da Rua Apa”.  

Mas a primeira pessoa a tomar ciência do crime foi Elza Lengfelder, cozinheira da rica família dona do castelinho, que morava em um anexo da residência junto com seu marido Rodolpho e outra empregada, de nome Maria Aparecida Martins (que não se encontravam no local na fatídica noite). Elza, ao ouvir tiros no interior da grandiosa residência, saiu às ruas para chamar um policial. Este, ao entrar no castelinho, viu os corpos dos irmãos Álvaro e Armando, e da mãe, Maria Cândida estendidos entre o escritório e a sala.  


Por serem pessoas muito importantes na cidade, no dia seguinte o caso ganhava as manchetes dos jornais, já sob o título pelo qual ainda hoje é conhecido.  

Mas quem eram essas pessoas cuja morte atraiu tanto a atenção da imprensa?  

Maria Cândida dos Reis (a primeira à esquerda), o pai (ao volante do automóvel), Armando (sem camisa, sentado no estribo do carro) e, ao lado dele, Álvaro (com trajes de banho e encostado no pára-lama).

Álvaro de 45 anos, era advogado e esportista e vivia cercado sempre de belas mulheres, o que hoje costumamos chamar de “playboy”. Já com um perfil mais discreto o irmão, Armando César dos Reis, também advogado, tinha 43 anos.  

Maria Cândida Guimarães dos Reis, então com 73 anos, era uma senhora dedicada à prática religiosa e viúva do médico Virgílio César dos Reis, que faleceu em 1934, três anos antes do crime, ao contrário do que se publica por aí.  

Após uma viagem feita à Europa, Álvaro estava empolgado com alguns novos e arriscados projetos, com os quais o irmão Armando não concordava e o assunto provocara o desentendimento entre eles, que segundo a polícia, culminou com o famoso crime. 

O curioso é que nenhum dos irmãos morava no castelinho, ali funcionava apenas o escritório de advocacia da família e, na noite do crime, Álvaro estava na casa de sua namorada, dona Baby. Ele fora até o local após receber um telefonema informando que havia um problema que tinha que ser solucionado urgentemente. O autor desse telefonema permanece um mistério até hoje.


Ali Álvaro encontraria a morte. Perto dos corpos, dispostos paralelamente, inclusive com Armando de olhos abertos, foi encontrada uma pistola alemã Mauser, calibre 9mm, registrada em nome de Álvaro, o que só veio a reforçar a hipótese da polícia.

Havia, entretanto, circunstâncias que atrapalhavam a tese das autoridades: Álvaro fora morto com dois tiros, fato bastante incomum em casos de suicídio, e mais, o calibre das balas encontradas nos corpos eram diferentes, sendo que a segunda arma, uma Magnum Parabellum, jamais foi encontrada.  

Com as investigações posteriores foram descobertas promissórias assinadas por Álvaro que o deixariam em situação financeira bastante delicada, mais um fato que levou a polícia, após um ano, a dar por concluído o caso, apontando-o definitivamente como o autor dos disparos.  

Descobriu-se, ainda posteriormente, que tais promissórias haviam sido adulteradas pelos credores, que lhes teriam acrescentado um zero para aumentar-lhes o valor, mas misteriosamente esses “sócios” de Álvaro jamais foram identificados.  

Os institutos que periciavam o caso tinham grandes divergências quanto às conclusões apresentadas, ainda quando se deu o arquivamento do caso, de forma que o que realmente aconteceu naquela noite no Castelinho da Rua Apa permanece como sendo um mistério até hoje.  


No intuito de preservar a imagem de Álvaro, amigos encarregaram-se de apresentar uma versão mais amena para os fatos: a de que ele apenas empunhara a arma, talvez, sem mesmo pretender usá-la contra Armando e que a mãe, apavorada, ao tentar separar os filhos, fizera-o acionar o gatilho, provocando também sua própria morte. Diante do acontecido Álvaro não teria cogitado outra alternativa, senão o suicídio.   

Para dona Baby, nenhuma das duas hipóteses eram verdadeiras. Ela tinha certeza de que Armando era o verdadeiro vilão da história e morreu defendendo a inocência do seu amado Álvaro.

O castelinho começou a ser construído por arquitetos franceses em 1912 a pedido do Sr. Virgílio e ficou pronto em 1917 sendo um presente do marido à esposa, Sra. Maria Cândida.
  
Até a data do terrível acontecimento a vida no local era normal, no entanto, após o ocorrido, várias pessoas passaram a relatar que ele apresentava fenômenos inexplicáveis. 

Um ano após o crime e o caso ser dado por encerrado foi realizado um leilão de todos os móveis da casa e a construção ficou para o Departamento do Patrimônio da União até 1951, quando a Receita Federal o ocupou, visto que na época parentes colaterais, como sobrinhos e primos, não tinham direito de receber heranças. 

Chegando à década de oitenta o castelinho ficou abandonado, transformando-se em um depósito de sucatas e ferro velho. Jornais de 1988 anunciavam o abandono do local e o filme “Fogo e Paixão” com Fernanda Montenegro, foi o último “momento de glória” da edificação. 

Maria Eulina dos Reis, na época uma moradora de rua e sonhadora, dizia: “Um dia esse castelinho vai ser meu” e vendo todo aquele prédio sendo destruído pelo tempo e esquecido pelas autoridades, começou a lutar pelo imóvel. 


No ano de 1990 ela decidiu entrar com processo de tombamento e pedido de restauração e em 1997 conseguiu o que tanto sonhava. O prédio continuava pertencendo à União, mas foi cedido a ela para que utilizasse o espaço, concretizando o seu sonho de ajudar moradores de rua continuar lutando para a reforma do seu tão sonhado castelo. Apenas em 2004 o castelinho foi tombado, mas pelas péssimas condições em que ele estava, foi comprado um imóvel ao lado do castelinho para que Maria Eulina pudesse dar vida ao seu projeto: o “Clube de Mães do Brasil”, que conta com a ajuda de empresas voluntárias.  

Maria Cândida dos Reis (a primeira à esquerda), o pai (ao volante do automóvel), Armando (sem camisa, sentado no estribo do carro) e, ao lado dele, Álvaro (com trajes de banho e encostado no pára-lama).

Desde o fatídico episódio todos os que se atreveram a passar a noite no castelinho relataram ter presenciado fenômenos assustadores. 
  
Presença Paranormal: 

O comediante Ankito (considerado um dos cinco maiores nomes das chanchadas) morou no castelinho em 1944 e relatou que era comum à noite ouvir pessoas andando nas escadas, as portas e janelas se abrirem e ao amanhecer encontrar as torneiras abertas. Ainda assim era um apaixonado pelo local e dizia não sentir medo diante de tais fenômenos. Logo após sua mudança outra família morou no castelinho por cerca de vinte anos, e também relatava a vizinhos o fato de escutarem passos e muitos barulhos misteriosos, sem que esses fenômenos os impedissem de permanecer no local. 

Maria Eulina (Fundadora do Clube de Mães do Brasil) também relatou ter presenciado eventos sobrenaturais, como a presença de um rapaz dentro do castelinho, além de sentir que o lugar possui uma energia negativa, que inclusive a impede de conseguir interessados em restaurá-lo.

Maria Eulina estranhamente não fala mais sobre o assunto hoje em dia.
Essa dificuldade em que se consiga restaurar a edificação poderia ser obra dos atormentados espíritos que insistem em permanecer no local? Difícil dizer.

José Mojica Marins (o famoso Zé do Caixão) ao filmar nas dependências do castelinho sofreu um princípio de acidente, o que levou os bombeiros a derrubarem todo o assoalho do andar superior da construção. 
  
Teria o temível Zé do Caixão sido vítima dos espíritos que ali se encontram? 

Pessoas que, durante a madrugada, atravessam defronte ao castelinho relatam ouvir choros e sons como os de correntes sendo arrastadas vindos do interior da construção. 
  
Até que ponto esses relatos podem ser verdadeiros?  

O relato que deu origem ao meu livro, Sombras do Castelo, nunca foi mencionado anteriormente em reportagens, provavelmente por seu protagonista já ser falecido e, quando vivo, não possuir qualquer vínculo com o local e morar em uma distante cidade no interior do Estado.

Se o Castelinho da Rua Apa já lhe imprime sensações ruins, acredite: ao conhecer o relato contido no livro seu temor aumentará ainda mais.

Há quem diga que o ato tresloucado de Álvaro tenha sido consequência de tormentos impostos por criaturas malignas que por ali permeiam, principalmente em virtude de o castelinho se encontrar em uma encruzilhada. Sim, há a possibilidade de Álvaro ter matado sua mãe e seu irmão, e em seguida se suicidado, devido à entidades obsessoras.

Mas seria mesmo Álvaro o autor das mortes? Se não foi ele, quem foi?

Seriam todos esses fenômenos relatados recentemente obra dos espíritos da família que ainda hoje permanecem ali encarcerados? Estariam eles ainda em busca da solução para o crime que lhes arrancou a vida?

Ainda hoje ninguém sabe, ou ao menos não deseja dizer, o que aconteceu na noite de 12 de maio de 1937 e a versão oficial aponta como sendo Álvaro o autor das mortes, ainda que diante de muitos fatos que colocam em xeque essa versão.

De qualquer forma o castelinho ainda resiste, entregue aos seus fantasmas e às suas lembranças, guardando em seu interior os mistérios que fazem dele um dos lugares mais assombrados da cidade de São Paulo. 

Arquivo do Horror, toda quarta-feira, às 20h, no BDI.
@oscarmendesf / Site oficial do autor
Mande e-mail para o colunista: oscarmendes@bastidoresdainformacao.com.br

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CASTELINHO DA RUA APA

 


De todos os imóveis históricos da cidade de São Paulo, talvez nenhum outro desperte tanta atenção e curiosidade das pessoas como o célebre Castelinho da Rua Apa, palco em 12 de maio de 1937 de um dos crimes mais marcantes e enigmáticos da história do Brasil moderno.

Foi nesta data que após uma séria discussão os irmãos Armando e Álvaro chegaram às vias de fato e trocaram tiros. Poucos minutos antes da tragédia ocorrer a mãe, Maria Cândida dos Reis, teria surgido para apartar a discussão de ambos, que estavam apontando revólveres um para o outro. Foi aí que a troca de tiros iniciou-se e os três acabaram por falecer no local.

O Castelinho em fotografia de possivelmente em 1930 ou 1931

À época a rápida apuração das autoridades policiais teria levantado suspeitas sobre se os irmãos teriam um matado o outro ou se o assassinato havia sido encomendado. O posicionamento dos corpos de Armando e Álvaro teria sido um dos principais combustíveis para que muitos achassem que os irmãos e a mãe teriam sido, na verdade, vítimas de um triplo homicídio.


Após anos de polêmica, em um caso em que os herdeiros diretos haviam todos falecidos na mesma tragédia, uma nova lei federal sobre heranças promulgada pelo então Presidente da República, Getúlio Vargas, iria impedir que parentes de segundo ou terceiro grau herdassem o castelinho.

Assim, o castelinho (e outros imóveis sem herdeiros em situações semelhantes) seriam repassados ao governo federal.

Anos mais tarde esta lei seria revogada, mas parentes de Dona Maria Cândida e dos irmãos Armando e Álvaro jamais iriam conseguir retomar o imóvel que ficaria nas mãos do INSS (e ainda permanece), órgão famoso por não preservar ou recuperar bens históricos em seu poder.

Com este impasse o imóvel sempre foi impedido de ser recuperado. Com o tempo a fama de assombrado começou a acompanhar o local, e os anos de abandono e degradação ajudaram e muito a propagar essa fama que não passa de uma lenda.


Mesmo nas mãos do INSS, o Castelinho foi sendo administrado pelo Clube das Mães do Brasil que ocupa um imóvel anexo ao lado. Durante anos fora sólidas estruturas da construção que mantiveram o imóvel em pé, já que ao menos durante 70 anos resistiu bravamente sem manutenção.


Tudo começou a mudar quando em 2015 foi assinado um convênio entre a Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania e o Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos (FID) para restaurar o célebre imóvel paulistano. Ao custo de R$2.876.643,33 as obras duraram pouco mais de um ano, sendo entregue o imóvel restaurado no início de 2017.

Foi o fim de uma longa novela que parecia que jamais teria um final feliz.

Material inédito sobre o Castelinho e o Crime da Rua Apa:

Liberamos aqui, com exclusividade, 7 fotos relacionadas Castelinho da Rua Apa, sendo que 4 delas são inéditas. Todas as fotografias foram realizadas entre 1928 e 1938 e esperamos que apreciem. O conteúdo faz parte do acervo do Dr. Milton Bednarski, que foi adquirido pelo São Paulo Antiga.

A foto abaixo mostra o Castelinho tirada bem no meio da Avenida São João, onde hoje fica o canteiro central, sob o elevado. Este ângulo favorece a visualização de seus vizinhos que ficavam na mesma rua Apa e que já foram todos demolidos.


Já a próxima imagem mostra o Castelinho com vista para os vizinhos da Avenida São João. Onde era possivelmente uma garagem hoje está o imóvel que sedia o Clube das Mães do Brasil.


Entrando no imóvel as duas fotos seguintes são imagens periciais e apresentam cenas da tragédia. A primeira, da estante de livros, indica com setas onde algumas balas se alojaram, já a segunda orienta a trajetória de balas antes de se alojarem na parede do castelinho.



A foto a seguir mostra um dos irmãos, Álvaro, com amigos juntos de seus carros estacionados na Praça da Sé. Ele é o que está de roupa branca e bem próximo do marco zero da cidade.


Nesta próxima foto, também tirada na Praça da Sé, Álvaro está com amigos (ele é o quarto da esquerda para a direita).


Por fim, uma rara foto onde todos os membros da família aparecem reunidos, tirada em uma praia do litoral paulista. Junto de amigos, está a mãe, Maria Cândida dos Reis (a primeira à esquerda), o pai (ao volante do automóvel), Armando (sem camisa, sentado no estribo do carro) e, ao lado dele, Álvaro (com trajes de banho e encostado no paralama).



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