Seguidores

sábado, 3 de novembro de 2012

A SAUDADE QUE FICA DO CAIPIRA DE POÇO REDONDO

Por: Archimedes Marques

A SAUDADE QUE FICA DO CAIPIRA DE POÇO REDONDO

Você deixou tudo a tua cara
Só pra deixar tudo
Com cara de saudade. (Alice Ruiz)

O que chamamos de morte e que na verdade é apenas o desencarne, o fim da vida terrena, é um caminho inevitável. Temos todos, um dia ou outro, hoje ou amanhã, próximo ou mais demorado, de uma forma ou de outra, que viver isso. Não porque é uma fatalidade do destino, mas porque faz parte da vida desde que a nossa vida se faz vida. Mas o que sempre esperamos, torcemos e pedimos ao Criador é que os bons, aquelas pessoas ILUMINADAS que só fazem o bem ao seu semelhante durem mais tempo, sobrevivendo aos maus.

Alcino e João de Sousa Lima

Assim cada um de nós vive, mesmo se de maneira dolorosa igual, de um jeito diferente as diferentes perdas pelas quais temos que atravessar, embora saibamos muito bem que dessas perdas ficam os seus exemplos, positivos ou negativos.

José Cicero, Alcino e Bosco André

E mesmo quando o tempo consegue aplacar essa dor, estancar esse dissabor, sempre fica dentro da gente aquele sentimento indecifrável de vazio junto com a saudade, sensações que perduram até chegar a nossa hora, então passando tais sentimentos para os nossos amigos que também chorarão por nós, caso mereçamos, e assim sucessivamente. É a vida daqueles que sobrevivem a vida dos seus amigos, dos seus entes queridos.

Professora Aninha e Alcino Alves Costa

Absoluta certeza tenho que não somente eu sinto essas sensações com a perda do amigo 

Vilela, Alcino e Rubinho

ALCINO ALVES COSTA, mas também centenas de outras pessoas, pois o CAIPIRA DE POÇO REDONDO (como ele próprio carinhosamente gostava de ser chamado)  sem dúvida alguma foi um homem ILUMINADO que bem soube iluminar a todos que o cercavam, uma pessoa abençoada por Deus que irradiava e continuará na saudade irradiando luz, irradiando alegria, irradiando paz, irradiando harmonia, também irradiando determinação, irradiando a coragem do bravo sertanejo. Alcino é desses abençoados amigos que para sempre ficam guardados “debaixo de sete chaves”, pois além de tudo ele abençoava os seus amigos com a sua áurea desprovida de qualquer maldade. As diversas homenagens e eloquentes mensagens de despedidas desprendidas por seus amigos no cortejo funeral ocorrido no seu querido Poço Redondo são inequívocas provas de tudo isso que falei. Um amigo que bem soube plantar, regar e colher uma grande legião de amigos.

ARCHIMEDES, ALCINO E ELANE

Poço Redondo, encravado nesse nosso sertão sergipano, na escaldante tarde desse dia 02/11/2012 (coincidentemente o dia dedicado aos mortos) chorou as suas lágrimas de pesar desde a sua residência nas primeiras horas, a Câmara de Vereadores, a missa de corpo presente na Igreja da Matriz, a Prefeitura até chegar ao Cemitério local da cidade em verdadeira romaria de amigos, provando e comprovando o quão querido era e continuará sendo o poeta, compositor, escritor, pesquisador e historiador ALCINO ALVES COSTA, para mim e com certeza para a grande maioria daquele povo, até então, A MAIOR PERSONALIDADE NASCIDA NAQUELAS TERRAS.

Antonio Amaury e Alcino Alves Costa

Da missa de corpo presente, além das eloquentes falas dos seus amigos, uma passagem ficará para sempre guardada na minha memória: uma rosa amarela brilhante e ensolarada retirada do nosso singelo buquê e repassada às minhas mãos pela minha companheira

Juliana Ischiara, Alcino e Paulo Gastão

Elane Marques, cuja cor específica evoca sentimentos de calor, respeito, alegria, felicidade e amizade, depositada por mim sobre o caixão então fechado onde jazia o corpo do CAIPIRA DE POÇO REDONDO, rosa essa que também continha nas suas pétalas gotas das minhas lágrimas, notei como bom observador, que colocaram-na para dentro dessa urna funerária assim que fora aberta na própria igreja quando da bênção final  com os Asperges sagrados de água benta realizados pelo Pároco local. 

Aderbal Nogueira e Alcino Alves Costa

Dessa minha simples homenagem e das suas conseqüências senti-me agraciado pelas circunstâncias em ver aquela rosa amarela a seguir junto com o corpo do amigo Alcino em direção ao seu descanso final.

Rostand Medeiros, João de Sousa Lima, Lili, Ivanildo Silveira, Alcino Alves e Juliana Ischiara

Não só os seus parentes e amigos, mas também a cultura sergipana, nordestina e brasileira perde um grande ícone. O sertão perde uma imensa parte da sua identidade. O movimento CARIRI CANGAÇO jamais será o mesmo sem a presença do grande amigo de todos os seus componentes. A história do cangaço que sem dúvidas é das mais legitimas expressão da nossa cultura, da cultura do nosso querido Nordeste, deixa de ter em “vida matéria” dos seus maiores historiadores, embora as suas obras, os seus legados, os seus escritos, os seus pensamentos, os seus entendimentos, os seus ensinamentos vivam para sempre. 

Kydelmir Dantas e Alcino Alves Costa

Com toda certeza daqui a centenas de anos ainda estarão citando ALCINO ALVES COSTA como fonte de informação, pois as águas bebidas das suas fontes e também oferecidas ao público foram águas de fontes saudáveis e não envenenadas, águas de fontes puras e cristalinas, águas das fontes de um verdadeiro CABRA-MACHO SERTANEJO que de tudo deixou a sua cara e com isso deixou tudo com cara de saudade como bem diz a escritora e poeta Alice Ruiz no preâmbulo acima citado.

Alcino Alves Costa e Manoel Severo

Ser um desses amigos de Alcino, para mim foi um dos maiores privilégios, uma verdadeira honra. De Alcino só me resta eterna gratidão por também fazer parte da sua legião de amigos.

Alcino Alves, João de Sousa Lima , Ângelo Osmiro  e Ivanildo Silveira

Que você seja bem sucedido também na sua nova morada amigo ALCINO ALVES COSTA e que o seu exemplo de vida ensine os bons a ser melhores!

Archimedes Marques, Delegado de Polícia no Estado de Sergipe e também escritor do cangaço. archimedes-marques@bol.com.br

Enviado pelo autor do texto: Dr. Archimedes Marques

Uns dizeres que vêm lá da Aurora de José Ciço

Por: José Cícero - Secretário de Cultura de Aurora
José Cícero, Alcino Alves e Bosco André


http://lampiaoaceso.blogspot.com

Meu Adeus ao amigo Alcino Alves Costa

Por: João de Sousa Lima(*)

Passei as últimas horas procurando palavras para falar sobre meu amigo Alcino Alves Costa e nada chegava a memória, só as lembranças dos bons momentos que passamos em nossa caminhada nas veredas do sertão na busca pelas diversas  histórias vividas pelos cangaceiros. As lembranças trazem saudades e as saudades as vezes nos ferem, nos tolhem, nos esquadrinham. continuo sem achar palavras para definir o que eu sentia por esse ser humano tão magnifico, tão envolvente e tão leal com suas amizades.

Por enquanto prefiro calar-me no silêncio da recordação, sentir a tristeza da perda do grande amigo e sofrer a dor da perda que no momento me é tão presente.

Como homenagem a pessoa que era meu amigo Alcino eu repasso as palavras de outro grande amigo que é o Antonio Galdino, do Jornal Folha Sertaneja, que deixou a mais justa impressão sobre esse sertanejo que foi pedaço de nossas vidas e que hoje sua perda arranca esse pedaço e nos deixa ferido, marcas que mesmo todas as lágrimas não nos  curaria jamais.

Folha Sertaneja - Paulo Afonso - BA
03/11/2012 - 13:44

Morre o escritor Alcino Costa, o “caipira de Poço Redondo”
Muitas homenagens estão sendo prestadas ao grande escritor
Antônio Galdino

Não bastasse o dia 02 de novembro ser um dia que remete a lembranças de perdas dos entes queridos e se torna assim, naturalmente, em um dia triste, melancólico, este ano ele ainda foi mais doído, especialmente para os pesquisadores e escritores do tema cangaço que se reúnem em associações e seminários para estudar o assunto sobre o qual Alcino Costa, autor de vários livros, era um mestre. No dia 1º de novembro morreu Alcino Costa, “o caipira de Poço Redondo”.

Era assim que ele gostava de ser chamado. Na verdade, uma homenagem a todos os sertanejos de sua querida Poço Redondo que ele mesmo descreve assim: “Outrora, Poço Redondo era um arruado pertencente ao vasto município de Porto da Folha. Com sua emancipação em 25 de novembro de 1953 quase todas as fazendas nascidas nos escondidos daquelas brenhas caatingueiras passaram a pertencer ao novo município. Dentre elas uma fazenda chamada Pia Nova. Nos idos do cangaço o proprietário da Pia Nova era um caboclo de “boa cepa”, “raiz de braúna”, verdadeira “madeira de lei”, “homem atutanado”, sertanejo de “peso e medida”, chamado Torquato José dos Santos”.

Hoje a sua Poço Redondo está de luto fechado. E todo o Nordeste chora a sua morte. Os que estudam, pesquisam, debatem sobre o cangaço estão entristecidos, cabisbaixos, melancólicos pelo passagem do companheiro de tantas caminhadas.

Aqui em Paulo Afonso, João de Souza Lima, Luiz Ruben, Gilmar Teixeira, Rubinho Lima, Galdino, todos estamos pesarosos.

Conheci Alcino Costa quando, a convite de Manoel Severo, participei do Cariri Cangaço no Crato e região do Cariri cearense. Ali estive, com João de Souza e outros pauloafonsinos pra conhecer alguns dos palestrantes que estariam em Paulo Afonso no Seminário do Centenário de Maria Bonita que estávamos organizando, pelo Departamento de Turismo da Prefeitura e coordenação de João de Souza Lima.

Nesses Seminários em Paulo Afonso conhecemos melhor o grande sertanejo, escritor, ferrenho defensor de suas descobertas sobre o tema.

Em todos os momentos ele não conseguiu ficar quieto, fazia intervenções, observava cuidadosamente cada orador e também falava, discutia e saía depois no abraço de todos. Que figura!

Há alguns meses foi intenso o cruzamento de mensagens pelos blogs, Facebook, Orkut, dando conta de um momento delicado de sua vida quando passou muitos dias hospitalizado em Aracaju.

Mas ele voltou ao convívio dos amigos. Com limitações, mas voltou. Ao longo de sua vida, recebeu muitas e merecidas homenagens. O Blog Lampião aceso, registra uma delas: “No  último seminário "Cariri-Cangaço", precisamente na noite de palestras em Barbalha, Ceará, Ivanildo Silveira através da sua comunidade do Orkut "Lampião Grande Rei do Cangaço", encangada com este Blog, prestou homenagem a quatro baluartes da pesquisa e entre estes estava o MESTRE”.

Do Blog Lampião Aceso Alcino com Kiko Monteiro, do Blog Lampião Aceso e Rangel, no lançamento de "Lampião em Sergipe"

Falando desta grande perda, este blog, que tem 31 páginas sobre Alcino Costa, com textos seus, vídeos, fotos e comentários e homenagens de amigos, mostra o quanto ele era querido: “O Decano de Poço redondo era politico, compositor, pesquisador e escritor de notabilidade especial com o cangaço. Estava em tratamento, combatendo um câncer, mas seu organismo não aguentou, e ele, teve uma parada cardíaca.

Como bem disse o confrade Ivanildo Silveira que nos comunicou o ocorrido "Perdemos um amigo, e os nordestinos perdem um grande escritor, uma grande figura humana, um homem que sabia tudo do sertão, e que gostava de ser chamado de caipira".

Uma das mais recentes homenagens ao historiador do cangaço Alcino Costa foi prestada pelo recém criado Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, presidido por Ângelo Osmiro.

Também o GECC, através do seu presidente Ângelo Osmiro que, acompanhado dos membros Tomaz, Zeca e João de Souza esteve recentemente em visita à região e na Folha Sertaneja, se manifestou sobre a morte de Alcino: O GECC (Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará) lamenta informar o falecimento do confrade e amigo (Sócio Honorário) Alcino Alves Costa. Grande companheiro de muitas jornadas em busca de conhecimentos sobre o cangaço. Alcino passou para um plano superior no dia de ontem. Que o grande "Decano de Poço Redondo" encontre o caminho da luz. ANGELO OSMIRO - Presidente GECC”.

Sobre ele, falou o documentarista Aderbal Nogueira: “Ao longo do tempo conheci várias pessoas nessa andança em busca das histórias do cangaço.  Através de Paulo Gastão cheguei à figura de Alcino Alves, em 1997.

Unanimidade não existe, mas Alcino se aproxima dela. Pessoa que cativa a todos que tiveram e tem o prazer de conhecê-lo.

No último 28 de julho de 2012 estivemos mais uma vez na grota de Angico para prestar homenagem às 12 pessoas que lá tombaram em combate. Nessa mesma ocasião fizemos uma visita a Alcino, que encontrava-se adoentado, para prestar-lhe uma justa homenagem a tão brilhante serviço em prol da historiografia do seu sertão natal e, em especial, à história do cangaço”.

Sobre a morte de Alcino, Aderbal Nogueira deixou esta mensagem: “O Brasil perdeu um grande homem, um grande pesquisador. Os amigos perderam um irmão. Aquele que estava sempre com um sorriso e o coração aberto para receber todos aqueles que  procuravam conhecer a história do sertão. Como ele mesmo dizia: ‘Um caipira de Poço Redondo que amava a sua terra’. E todos aqueles que visitarem um dia o sertão do  São Francisco estarão vigiados por ele. Cuidem bem de sua terra pois é a terra de Alcino Alves Costa”.

João de Souza Lima, também consternado lamenta a perda: “Nós, estudiosos do cangaço, perdemos um amigo, um professor, um mestre. O Nordeste inteiro perdeu um grande cidadão. Perde a cultura sertaneja um dos seus grandes estudiosos”. João esteve recentemente com Alcino que recebeu, autografado, a sua última produção “Maria do Sertão”.

Também a Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço lamentou a perda de Alcino: “É com pesar que comunicamos o falecimento do sócio ALCINO ALVES DA COSTA. Aos familiares enviamos nossa palavra de conforto. A perda para nossa entidade é muito grande, haja vista ter sempre sido um vigoroso defensor da entidade. Lemuel Rodrigues da Silva - Presidente SBEC”

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço trouxe as imagens do sertão para um texto em que homenageia o ‘caipira de Poço Redondo’:

 “Hoje o sertão amanheceu mais triste! O galo cantou mais rouco e os pássaros, as nhambus e as jaçanãs pareciam gorjear mais tímidos. Hoje o Sertão amanheceu mais triste; seu poeta maior partiu. O sol nascia parecendo trazer uma só dor: A dor daqueles que amaram, amam e sempre amarão um dos seres humanos mais fantásticos que já pisaram o chão tórrido e sofrido da caatinga amada de todos nós.

Vai Alcino, vai Caipira, vai Decano, tua missão agora é no Céu, não te preocupas porque aqui ficaremos bem; com uma saudade sem tamanho, mas com teu exemplo de amor às coisas de nosso sertão, de amor às pessoas, de amor à vida.

Muito obrigado querido amigo Alcino por ter nos permitido compartilhar contigo um exemplo de vida. Todos os momentos vividos a teu lado ficam guardados no fundo do coração, saiba que fez e fará sempre parte de nossas vidas.

Se o teu sertão alegre chora, mas é de felicidade por poder testemunhar a grande festa no Céu. Por lá todos estão falando e cantando:

"Hoje é festa no Céu, chegou o Caipira de Poço Redondo, o Decano do Sertão, preparem as alpergatas e o xaxado aprumado que o bicho vai pegar ! "

Alcino Alves Costa faleceu na noite de ontem em Aracaju, depois de ter bravamente travado sua última batalha contra o câncer.

A FAMÍLIA Cariri Cangaço SE UNE A DOR DE TODA A FAMÍLIA ENLUTADA E DE TODO O SERTÃO PELA PARTIDA DE NOSSO QUERIDO ALCINO, MAS SABE QUE SERÁ RECEBIDO NO CÉU COMO UM MESTRE; COMO REALMENTE O FOI EM VIDA NESTE MUNDO. Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço”.

Para todos nós, o dia 2 de novembro, dia de finados, foi ainda mais triste.


João, Ivanildo Silveira e almoço na casa do amigo Alcino.


A Homenagem de Ivanildo e Kiko Monteiro a esse grandioso pesquisador do cangaço.


João e Alcino em uma das últimas fotografias do escritor, visita em sua residência, em Poço Redondo.


O abraço e a companhia que deixa saudades.


A presença sempre marcante.

(*) Escritor, Pesquisador, autor de 09 livros. membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br

Enviado pelo autor:João de Sousa Lima

http://www.joaodesousalima.com/

Povo clama pela presença do Rei do Baião para pacificar o Exu

Secretário de Cultura de Exu, Bibi Saraiva
considera que houve omissão da Justiça no conflito entre as famílias Sampaio e Alencar.

Luiz Gonzaga foi contratado pelo governo para acabar com briga entre famílias.

A guerra entre os Alencar e os Sampaio entrou para a história como um dos episódios mais tristes do Exu. Deixou marcado no âmago das famílias o mais doloroso e agudo sentimento da perda de entes queridos. Durante mais de 30 anos, a população conviveu com o clima de tensão e insegurança. Acordos de paz propostos pelo Exército e pela Igreja tornaram-se nulos. Esforço em vão. Puseram à prova até o prestígio do Rei do Baião, que lutou para resolver a questão. Porém, mais uma vez, a influência de Luiz Gonzaga se sobrepôs. Não foi o principal responsável pela trégua das brigas, mas teve, sim, papel importante na resolução do problema.

Historiador Frederico Pernambucano de Mello (Foto) aponta que a briga no Exu terminou por conta da exaustão.

Ligado à família Alencar, Gonzaga poderia ter escolhido um lado no conflito, ou até mesmo ficado em ‘cima do muro’, sem se meter em confusões. Seria o caminho mais fácil. No entanto, o Rei tinha uma missão a cumprir. O povo exuense e as lideranças políticas da região clamaram pela presença do sanfoneiro, maior ícone do município. Ele, então, se fez presente. No início dos anos 1970, é contratado pelo governador de Pernambuco, Eraldo Gueiros, para missão diplomática na cidade, que desde o dia 10 de abril de 1949, data das mortes de Romão Sampaio Filho e de Cincinato Sete de Alencar, considerado o marco inicial da guerra, não sabia o que era paz.





As tentativas iniciais de pacificação, porém, naufragaram. Em uma delas, o artista indicou o primo Antônio Bento do Nascimento, então presidente da Câmara Municipal de Exu, como candidato único de pacificação. O nome foi aceito, mas as brigas não cessaram. Na ocasião, o conflito já contabilizava pelo menos 10 vítimas. A partir daí, outras tentativas de paz se sucederam. A inércia do Governo e da Justiça, na época, atrapalhou o processo.

"Houve a omissão do Estado e da Justiça. Era para ter acontecido algo mais intervencionista, mais apaziguador, porém, não houve consenso. Só houve quando Luiz Gonzaga tentou, por inúmeras vezes, como em 1972, no governo de Eraldo Gueiros, depois no governo de Marco Maciel e no de Roberto Magalhães", explica o secretário de Cultura de Exu, Bibi Saraiva, que também é autor de um livro com 546 páginas - ainda não publicado - sobre o conflito. "A preocupação de Luiz Gonzaga em acabar com as brigas foi nítida".

O momento de maior envolvimento do Rei do Baião foi em 1981, no governo de Marco Maciel, quando o sanfoneiro foi pessoalmente pedir ajuda, em Minas Gerais, ao então vice-presidente da República, Aureliano Chaves. A assinatura do pacto de não-agressão, encomendado pelo cardeal arcebispo de Salvador, dom Avelar Brandão Vilela, não surtiu o efeito desejado. Com a sanfona branca no peito e o chapéu de couro na cabeça, Gonzagão solicitou a Aureliano uma intervenção federal no Exu. O pedido foi atendido e o major José Moura se encarregou de instaurar a tão sonhada trégua nas brigas. A intervenção durou até o início de 1983. José Peixoto de Alencar, que já havia sido eleito antes mesmo da intervenção, assumiu a prefeitura.

Dom Avelar Brandão Vilela - In www.radiopioneira.am.br

Já o historiador Frederico Pernambucano de Mello, autor de “Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste do Brasil”, tem uma visão diferente sobre os motivos que levaram ao fim do conflito. “Essas lutas de famílias morrem por exaustão. Não é um candeeiro que alguém chega e apaga. Morre porque acabou o querosene. Aí vem uma nova geração, que não vê mais sentido naquilo”. Para o pesquisador, a pacificação foi conseguida não apenas por uma pessoa que empenhou determinada ação. “A história não se faz por causas, mas, geralmente por concausas”. Então, Luiz Gonzaga introduziu uma concausa, assim como Dom Avelar Brandão.

Clima na terra do Rei do Baião voltou a ser de paz. Alencar e Sampaio voltam a estampar sorriso no rosto com convivência pacífica

O sorriso estampado no rosto da simpática Lucélia Sampaio, mais conhecida como Téa, não deixa oculta a alegria que durante anos teimou em se esvair. Neta e uma das herdeiras de Romão Sampaio Filho, antigo prefeito do Exu, sentiu na pele as consequências mais cruéis do sangrento conflito entre os Sampaio e os Alencar. Enredo semelhante viveu Mafisa Alencar, neta do coronel Manoel Ayres e descendente do Barão de Exu, antigo proprietário da Vila do Araripe, povoado onde Luiz Gonzaga se criou. Assim como Téa, aprendeu a lidar desde jovem com a dor da perda. Passados 30 anos do início da intervenção federal no município, no entanto, o ressentimento do passado deu lugar à convivência pacífica entre duas famílias civilizadas.

Para Mafisa Alencar,  o que o município ganhou em tranquilidade, após o fim das brigas, 
ainda terá que recuperar em progresso.

Fim de tarde, o sol começa a se pôr no Exu. Numa espécie de ritual coletivo, moradores põem as cadeiras na beira da calçada. O portão de casa fica aberto. O vento sertanejo circula na mesma proporção de pessoas que entram e saem da residência. Gente toda hora. No domicílio ao lado, o vizinho também posiciona seu assento. Senta. Observa o movimento. Na rua, o silêncio só é interrompido pelo grupo de estudantes que caminham a sós, um brincando com o outro. Carros, quase nenhum. Motocicletas, em maior número, mas sem congestionamentos. São 18h, o sino da igreja badala anunciando o fim do dia. Cenário de uma típica e pacata cidade do sertão nordestino, que, 60 anos antes, via iniciar um de seus capítulos mais tristes.

Rotina que Téa deixou de viver durante 40 anos. Não por opção, mas por necessidade. Apreensão. Medo do clima de tensão que pairou na cidade. Viver em paz, só se for longe do Exu. Destino: Recife, bairro de Areias. Decisão difícil, porém, a mais coerente naquele momento. "Passamos muitos anos sem andar no Exu. Tínhamos medo de sair. Papai para ir trabalhar, por exemplo, tinha que pegar carona no carro da polícia. Tivemos que ir embora daqui (Exu). Não foi fácil. Você ter tudo construído na cidade, e de repente a família ter que ir pra outro lugar, refazer a vida todinha fora ", relata Téa.

Do Recife, restou a saudade e os amigos, inclusive Lucinha, membro da família Alencar, prova da mágoa que ficou esquecida. "Quando me encontro com ela, conversamos bastante. É uma amizade de falar uma com a outra numa boa, sem ter rancor", ressalta. No regresso de Téa ao Exu, muita coisa havia mudado. A intervenção do governo federal, capitaneada pelo major José Moura, iniciou a trégua no longo conflito. De Mafisa, ficam o respeito e a gratidão. "Ela (Mafisa) foi minha professora e, particularmente, não tenho nada contra. Ela me abraça e pergunta pela minha mãe quando nos encontramos. Tenho carinho especial por ela".

No Povoado do Araripe, reduto da família Alencar, a paz parece ter instalado residência fixa. Disputa entre famílias, agora, só nos comentários ou livros de história. "Isso é uma página virada. Hoje nós vivemos em paz. Só da gente, foram 14 famílias embora do Exu, mas, graças a Deus, estão todos muito bem", garante Mafisa. Para a herdeira do Coronel Manoel Ayres, o que o município ganhou em tranquilidade, após o fim das brigas, ainda terá que recuperar em progresso. "O Exu emudeceu, parou no tempo e no espaço. Se inchou, mas não cresceu. Aqui é terra de gente inteligente", orgulha-se.

Tá tudo lá na Folha de Pernambuco

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/

A DESPEDIDA DE ALCINO – E O SERTÃO CHOROU...

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

A DESPEDIDA DE ALCINO – E O SERTÃO CHOROU...

Faltando poucos dias para o final de outubro, Alcino começou a sentir agravamento na enfermidade. No seu jeito de suportar tudo silenciosamente, e também pela enraizada esperança de recuperação, fazia tudo para não demonstrar as dores lhe afligindo ainda mais. Mas não precisava expressar verbalmente os sofrimentos. Tudo estava muito visível.

Num começo de tarde foi encaminhado para observação médica num hospital aracajuano, pois na capital sergipana tivera de forçosamente permanecer exatamente para receber pronto atendimento se algum problema maior ocorresse. Contudo, tal cuidado, se por um lado era necessário, por outro provocava problemas sérios psicológicos em Alcino.

Ora, por mais que se sentisse em franca recuperação, sempre esperançoso de readquirir ao menos parte da saúde fragilizada, psicologicamente vivia abalado pela distância de sua terra, de seu leito sertanejo. Como o escravo que intimamente chora o seu banzo por estar distante de sua tribo, e assim vai insuportavelmente se deteriorando, Alcino chorava por dentro a ausência daquilo que era sua vida: Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo.

Já não pedia para que colocassem suas músicas sertanejas, já não desejava ouvir tanto suas próprias músicas, as composições assinadas por ele. E isto acontecia logicamente para não sofrer ainda mais. Evitava, pois, povoar ainda mais a sua mente com as veredas espinhentas das caatingas, com a visão do amanhecer e do luar do sertão, com as lides de seus irmãos matutos debaixo do sol, com as histórias cangaceiras que tanto ajudou costurar na grande colcha dos mistérios e lendas.

Alcino Alves

Como acontecera outras vezes, pensei que após alguns dias no hospital Alcino retornaria pra casa. Como juro que imaginava vê-lo lúcido, feliz, cheio de contentamento, retornando para o sertão e ser recebido pelos seus com lágrimas nos olhos, foguetórios, em esplendoroso êxtase. Assim acontecera outras vezes. Mas dessa vez não.

Na noite do primeiro dia do mês de novembro de 2012, eu estava diante do computador escrevendo um texto quando da porta do escritório chegou um sobrinho dizendo que fosse urgente até o hospital porque Alcino estava morrendo. Por lá já estavam outros irmãos meus. E foi em meio ao caos do trânsito aracajuano, por volta das 18:55h, em direção ao hospital, que o telefone toca e a notícia fatal: ele havia acabado de morrer.

Encontrei-o ainda no leito hospitalar onde havia dado o último suspiro. Ao redor, a dor e o desespero estampados nos olhos e bocas de todos. Cena terrível, angustiante, dolorosa demais para ser descrita. E o que sempre acontece em momentos assim: não acreditar que aquilo realmente pudesse ter ocorrido. Mas quando o espanto esfria se torna realidade. E depois...

Ao receber a notícia instante depois, não só Poço Redondo, mas toda a região sertaneja parou espantada, assustada, angustiada, aflita demais diante da partida do defensor maior de sua cultura e sua história. Seu ex-prefeito, seu amigo. E as lágrimas, os lamentos, as preces, e um reconhecimento tal que as casas permaneceram abertas, noite adentro, esperando o retorno do seu filho. Mas jamais como desejariam.

Após a confirmação do fato, a Rádio Xingó, na vizinha Canindé do São Francisco, passou a retransmitir o programa “Sertão, Viola e Amor”, ecoando pela triste noite sertaneja a voz de Alcino. E já na madrugada, por volta das duas horas, o corpo do filho chegou à sua casa, num retorno para a eternidade. E os seus irmãos em vigília para o reencontro e o último adeus.

Foi velado até as primeiras horas da manhã em sua residência, sendo depois levado para o velório oficial na sede da Câmara de Vereadores. E aconteceu na câmara por esta estar localizada no centro da cidade, tendo mais espaço do que na prefeitura, mas principalmente para facilitar o acesso da multidão sertaneja. Então começaram a chegar os sertanejos dos lugarejos mais distantes, pessoas humildes, da roça, da enxada, daquela vida que Alcino tão bem retratou.

Já perto das três da tarde o corpo foi levado para a igreja matriz para a realização da missa de corpo presente. Com o templo completamente lotado e pessoas do lado do fora, o ofício foi celebrado e em seguida tiveram inícios as manifestações dos presentes, os instantes onde, através da palavra, os amigos puderam expressar seus sentimentos. E neste momento pessoas do povo, políticos, historiadores e velhos amigos de Alcino fizeram a igreja chorar.

Dali para a última moradia. Não para transformar-se em pó, mas como terra unir-se à sua terra, continuar grão, semente e brotar eternamente no legado que deixou.

Biografia do autor:
  
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

LUIZ GONZAGA E O RIO GRANDE DO NORTE

Autor: Kydelmir Dantas

Já está à venda na LIVRARIA NOBEL
Avenida Senador Salgado Filho, 1782 - Lagoa Nova  - Natal - RN
CEP - 59022-000
fone: (0xx) - 84 - 3613-2007


Parceiros potiguares 
com verbetes:

Celso da Silveira, Chico Elion, Henrique Brito, Elino Julão, Frei Marcelino, Jandhuy Finizola e Severino Ramos.

Parceiros e interpretes potiguares 
com verbetes:

Ademilde Fonseca, As Potiguaras, Carlos Zens, Coral da Petrobras Mossoró, Khrystal, Marina Elali, Meirinhos, Mirabô Dantas, Nenem do Baião, Orquestra Sinfônica da UFRN, Orquestra Sanfônica de Mossoró, Paulo Tito, Roberto do Acordeon, Terezinha de Jesus, Trio Irakitan, Trio Mossoró, VINA e Zé Lima.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com