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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

MORENO E DURVINHA - O ÚLTIMO CASAL CANGACEIRO (MATÉRIA DA REDE MINAS DE TELEVISÃO)

 Por Cangaçologia

https://www.youtube.com/watch?v=MrycQgJO3CA&ab_channel=Canga%C3%A7ologia

Matéria jornalística da Rede Minas de televisão sobre Moreno e Durvinha que na época da gravação era o último casal de cangaceiros vivo. Moreno e Durvinha foram integrantes das hostes cangaceira de Lampião durante o período do Cangaço. 

No ano de 1940 devido a intensa perseguição policial e a derrocada do cangaço na região Nordeste do Brasil, o casal partiu em fuga rumo a região sudeste do país onde, após passar por alguns estados, se estabeleceram no estado de Minas Gerais, onde constituíram família e permaneceram até o final de suas vidas. 

No novo estado assumiram novas identidades, Moreno (Antônio Ignácio da Silva) passou a se chamar José Antônio Souto e Durvinha (Durvalina Gomes de Sá) passou a se chamar Jovina Maria da Conceição. Ao deixarem sua terra natal deixaram para trás seu pequeno filho recém nascido (Inacinho), o qual foi criado pelo Padre Frederico da cidade Pernambucana de Tacaratu. 

Moreno e Durvinha mantiveram suas vidas passadas em sigilo e permaneceram escondidos durante sessenta e cinco anos. Somente no ano de 2005 o segredo que juraram guardar para sempre foi revelado e pais e filhos puderam novamente se reencontrarem. 

A história do casal cangaceiro Moreno e Durvinha é uma das histórias mais fascinantes de todo o período do cangaço, uma história que se alongou por décadas até finalmente todos (as) terem conhecimento sobre suas existências e suas histórias. 

Essa filmagem foi a mim gentilmente cedida por Neli Maria da Conceição filha do casal Moreno e Durvinha e à ela todo o meu carinho e agradecimento, pois sem essa atitude jamais teríamos conhecimento dessa e de tantas outras histórias desse célebre casal cangaceiro. 

Geraldo Antônio de Souza Júnior

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FOTO DE CANGACEIROS DE LAMPIÃO.

 Por José Mendes Pereira

Foto do acervo da Thainá Dias

Os cangaceiros nesta foto são: Maria Jovina companheira do cangaceiro Pancada, Luiz Pedro está ladeado por Maria Jovina e Virgínio. Luiz Pedro era companheiro da cangaceira Neném do Ouro. Depois dela ter sido abatida em combate o cangaceiro Luiz Pedro não escolheu mais outra companheira no bando. Ficou sozinho. O cangaceiro Virgínio Fortunato da Silva foi casado com Angélica Ferreira da Silva, irmã do capitão Lampião. 

Segundo a ordem de nascimento dos filhos de José Ferreira da Silva com dona Maria Sulena da Purificação a sexta filha era Angélica Ferreira da Silva, sendo a segunda entre as mulheres.

Angélica nasceu no ano de 1904 e no ano de 1'926 casou-se com o almocreve Virgínio Fortunato da Silva. Posteriormente, este tornou-se cangaceiro de Lampião com o nome de guerra "Moderno". Quem o nomeou, eu não sei, mas algum pesquisador deve saber. Há quem diga que Virgínio era do Rio Grande do Norte, sendo da cidade de Alexandria, mas não foi comprovado ainda. 

Virgínio teve que aprender lhe dar com as perseguições, devido a vida que seus cunhados levavam, sendo eles: Virgolino Ferreira da Silva o futuro capitão Lampião, Antônio Ferreira da Silva com o nome de guerra (Esperança) e Livino Ferreira da Silva com o nome de guerra (Vassoura).

Poucos meses do seu casamento Angélica Ferreira da Silva que tinha apenas 22 anos,  morreu, devido a peste bubônica, e a jovem não resistiu 24 horas, a febre que fulminou sua vida.

Logo após o triste fato Virgínio Fortunato da Silva e Ezequiel Ferreira da Silva, irmão mais novo de Lampião, que vinham sofrendo perseguições por conta dos familiares bandoleiroes, adentrariam também no cangaço.

Com a morte desta, Virgínio amasiou-se com Durvalina. Com a morte de Virginio Durvalina ficou sendo companheira do cangaceiro Moreno. 

Há quem diga que quem matou o cangaceiro Virgínio foi o ex-cangaceiro Moreno, para ficar com a posse da viúva dona Durvalina. Diz ainda que ele só vivia ao pé da Durvinha, mesmo ela sendo amasiada com o ex-cangaceiro Virgínio, ele não saía dos seus passos. Mas me parece que Moreno nunca confirmou isso a nenhum repórter e pesquisador do cangaço. Como tem gente que é sabedor deste acontecimento, eu não sei explicar se foi verdade ou não.

Eles foram os penúltimos cangaceiros a abandonarem o cangaço, que ocorreu no dia 06 de fevereiro de 1940. Os últimos cangaceiros foram Corisco e Dadá. quando sofreram balaços no dia 25 de maio de 1940. Corisco ficou em estado crítico e Dadá perdeu uma das pernas. 

Para o meu gosto, esta foto é a mais perfeita de todas elas. Imagina esta foto sendo colorida pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio. 

Mas não tem problema, se alguém estudioso do cangaço discordar que ela é a mais perfeita. Depende de gosto de cada um de nós.

Observação: Há quem diga que esta jovem não é Maria Jovina e sim, Durvalina.

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MEMÓRIAS SANGRADAS - VIDA E MORTE NOS TEMPOS DO CANGAÇO

 Por Ricardo Beliel

https://www.youtube.com/watch?v=Sasjc_nLXpk&t=6s&ab_channel=RicardoBeliel

Um livro de autoria do fotógrafo e jornalista Ricardo Beliel com 125 fotografias em preto e branco e em cores, contendo um texto principal com depoimentos e histórias contadas por personagens que vivenciaram o cangaço entre os anos 20 e 40, um movimento que dominou o interior de sete Estados do nordeste brasileiro. 

No texto, depoimentos diversos e a experiência pessoal do autor em busca de seus personagens em seus próprios ambientes originais são apresentados através de uma narrativa em que se misturam elementos das linguagens da reportagem, da crônica histórica e, em parte, como um diário de viagem. 

Foram realizadas nove viagens no período de 2007 a 2019 nas regiões dos sertões de Alagoas, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, São Paulo e Minas Gerais para a coleta de materiais narrativos e imagéticos de míticos cangaceiros, coiteiros e volantes e alguns de seus descendentes. 

Onze mil quilômetros foram percorridos, em grande parte em precárias estradas do interior sertanejo, resultando no encontro com quarenta e três personagens contemporâneos ao cangaço. São eles que guardam relatos importantes relacionados à história do cangaço - ocorridos na primeira metade do século XX - em quarenta e nove localidades – palco de lutas, amizades, emboscadas, amores e massacres entre cangaceiros, volantes, jagunços, coronéis e camponeses; um mundo sertanejo que está se extinguindo nas suas tradições orais. 

Em cada personagem testemunha-se esse fluxo da memória e do esquecimento, onde os encontros nas pesquisas de campo revelaram uma potente e épica narrativa das memórias pessoais que envolvem tradições e lugares. Os personagens entrevistados, em sua grande maioria pessoas quase centenárias, possuem uma riqueza assemelhada ao mistério da terra. 

São descendentes da época do cangaço, personagens de um ciclo da história do Brasil que aqui resgatamos para que não fiquem no esquecimento, como pedras silenciosas no meio do caminho. Editora Olhares e apoio do Rumos/Itaú Cultural.

https://www.youtube.com/watch?v=Sasjc_nLXpk&t=6s&ab_channel=RicardoBeliel

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SATURNINO, LAMPIÃO E A INTRIGA.

 Por Aderbal Nogueira

José Alves Sobrinho, pesquisador, filho de Luiz Cazuza, conta nesse vídeo o início da desavença entre Virgulino e José Saturnino. Vídeo gravado em 2005 nos escombros da casa da mãe de José Saturnino. Esse vídeo é dos acervos da SBEC e está em meus arquivos.

https://youtu.be/HsJlsqEJjkY

 https://www.facebook.com/photo/?fbid=10226476328041115&set=gm.1677317789143825

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A POLÍCIA DA ÉPOCA DE LAMPIÃO FAZIA AS SUAS ATROCIDADES E CONDENAVA LAMPIÃO E SEUS COMPARSAS.

 Por Erick Bap


https://www.facebook.com/photo?fbid=882649132646628&set=gm.1297121970758976

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PARABÉNS, POETA ANTONIO FRANCISCO!

 Por José Mendes Pereira

Não menosprezando os poetas de Mossoró, do Brasil e do mundo, mas segundo os conhecedores da literatura de cordel, pricipalmente, Mossoró e os nossos poetas, afirmam que, um dos maiores poetas populares do mundo é do nosso Brasil, nascido em solo potiguar. Mossoroense da gema o Antonio Francisco.

Parabéns pelo seu aniversário, poeta Antonio Francisco, mais um ano de vida completará mais tarde.

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SANTANA HISTÓRICA

 Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.598




Foi em 1938, mesmo ano em que mataram Lampião, que o prefeito Joaquim Ferreira, originário de outro estado, construiu o Grupo Escolar Padre Francisco Correia, no Bairro Monumento, em Santana do Ipanema. A obra foi em conjunto com o governo estadual. Surgia assim em Santana do Ipanema uma escola oficial de grande porte. Havia certa resistência de mão de obra para o Magistério, sobretudo de senhorinhas de Maceió, por causa da fama de barbaridades praticadas no Sertão. Mesmo assim o grande passo na Educação da terra fora realizado e o quadro completo da unidade se formou. Professoras de Santana do Ipanema e de outros lugares, preencheram todos os cargos para o início de um futuro de prosperidade no semiárido.

Com esse grupo sendo a grande atração estudantil do Médio Sertão, o sucesso da educação santanense esteve sempre em evidência numa fase chamada “Época de Ouro”. A minha mãe, Professora Helena Braga, não estava presente, não fez parte da turma de inauguração do Grupo. Proveniente de Viçosa, chegou de Maceió para se engajar na luta em 1944. Aqui aconteceu o seu casamento, sua aposentadoria e o seu falecimento. Um novo brilho veio a acontecer na Educação da cidade quando foi inaugurado o Ginásio Santana, em torno de 12 anos após. Iniciava assim uma nova fase educacional da quinta à oitava série numa escola da Rede Cenecista de Alagoas, uma das primeiras do interior.

Não está com tanto tempo assim, o antigo grupo ganhou uma reforma e ficou mais belo ainda. Sua arquitetura e seu histórico fazem parte do Patrimônio Cultural e Arquitetônico de Santana do Ipanema, justamente ao lado do Tênis Clube Santanense, do Ginásio Santana e da Igrejinha de Nossa Senhora da Assunção. É o grande quarteto que enobrece à cidade. Quem passa pela sua calçada como simples transeunte jamais imagina que dentro daquele enorme e bem conservado muro tem tanta história de progresso e amor em seus anais. Motivo de honra em ter estudado naquele casarão que até o presente momento envaidece Santana.

(FOTO: AUTOR DESCONHECIDO).


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O TRIBUNAL DO JÚRI DE VILLA BELLA , PE JULGA O CORONEL CHICO CHICOTE - 1913 – ANÁLISE DE AUTOS DE PROCESSO-CRIME

 

Herlon Fernandes


Há alguns anos venho desbravando as fontes históricas, sejam na bibliografia conhecida ou nos documentos dos arquivos, acerca do personagem central de um romance, já em adiantada fase. Trata-se da pessoa do coronel Chico Chicote, brejo-santense radicado em Porteiras, na famosa localidade Guaribas, atacada em 1927, por quatro forças policiais e pelo consórcio de seus inimigos. Ele foi símbolo de poder naquela época, típico líder da era do bacamarte.

Um neto do próprio Chico Chicote, o advogado Djalma Inácio de Lucena, ao narrar o que sabia sobre as histórias do avô, contou-me sobre um júri à que fora submetido o coronel, na comarca de Belmonte, sem data certa. Não sabia maiores detalhes a respeito. Com tais informações, em pesquisas na hemeroteca da Biblioteca Nacional, acabei por descobrir a notícia de um jornal, revelando a prisão de Chico Chicote, no ano de 1913, em Belmonte, Pernambuco. 

Com esse fio, conversando com Valdir Nogueira, amigo que a família Cariri Cangaço me agregou, residente naquele local, conversamos sobre a minha sonhada vontade de poder encontrar os autos daquele processo-crime, certamente uma fonte de informações preciosas, considerando a oficiosidade dos atos judiciais. Conversamos sobre muitos fatos curiosos da antiga Villa Bella; Valdir me disse que, por coincidência, seguiria até Recife, no dia seguinte, e daria um pulo no departamento histórico do Tribunal de Justiça do Estado do Pernambuco, onde o processo talvez estivesse arquivado.


Qual não é minha surpresa quando recebi os preciosos documentos: o processo de primeiro grau e a respectiva apelação.
Ao folhear as velhas páginas destes autos, senti-me como talvez se sentiram os arqueólogos que abriram a tumba de Tutancámon; ao transcrever os rebuscados manuscritos, senti-me como um Sherlock Holmes. Foi o mais próximo que consegui chegar do famigerado coronel.

Conforme CALEIRO, et al, os processos “são testemunhos dos costumes e da constituição do universo físico e mental do período analisado, bem como da ação da justiça institucionalizada. As imagens que se depreendem da leitura destes documentos descortinam relações de poder, amor, ódio, violência e solidariedade.”

O processo, presidido por uma autoridade de Estado, um juiz togado, respeitado o Contraditório e Ampla Defesa, é documento valiosíssimo para a pesquisa, porque seu conteúdo reflete “aspectos da vida cotidiana, uma vez que, interessada a justiça em reconstruir o evento criminoso, penetra no dia-a-dia dos implicados, desvenda a sua vida íntima, investiga seus laços familiares e afetivos registrando o corriqueiro de suas existências” (MACHADO, 1987, p. 23). Compartilho, pois, com todos vocês da análise de transcrições relevantes de peças do dito processo. Certamente, minha intimidade com o processo penal facilitou-me a tarefa. É um precioso mergulho no tempo.



A DENÚNCIA

Por libelo crime em cartório diz a justiça pública, como autora, por seu promotor, contra os réus Francisco Pereira de Lucena, vulgo Chico Chicote; Antônio de Lira; José Luiz e Laurentino de Tal, por esta ou na melhor forma de direito.

E.L.C.

1. Provará que no dia 12 de Agosto de mil novecentos e seis, de 3 para 4 horas da tarde, no lugar Mameluco, deste município, os réus desfecharam diversos tiros de rifles em Félix de Tal, dos quais um o atingiu produzindo-lhe o ferimento descrito no presente sumário.
2. Provará que este ferimento por sua natureza e sede foi causa eficiente da morte do ofendido.
3. Provará que os réus cometeram o crime impelidos por motivo frívolo.
4. Provará que os réus cometeram o crime com superioridade em armas de modo que o ofendido não pudesse defender-se com probabilidade de repelir a ofensa.
5. Provará que os réus cometeram o crime com premeditação mediando entre a deliberação criminosa e a execução o espaço pelo menos de 24 horas.
6. Provará que os réus cometeram o crime com surpresa.

Nestes termos, pede-se a condenação dos réus nos graus máximos do art. 294, §1º, do Código Penal, por se dar nas circunstâncias agravantes do 39, §§2,º, 4º, 5ª e 13º do mesmo Código Penal. E para que o crime se julgue, se oferece o presente libelo que se espera seja recebido e afinal julgado provado.

E. Custas

Requeiro a bem da acusação que tenham lugar as diligências legais e especialmente que sejam notificadas as testemunhas abaixo arroladas para comparecerem às sessões do julgamento a fim de afirmarem o que souberem e perguntado lhes for acerca do presente crime.

Rol de Testemunhas:

1. José Feijó de Medeiros
2. [?] Ribeiro de Melo
3. Antônio Feijó de Medeiros
4. José Pinho Celestino
5. Amaro Pereira de Araújo
6. Alexandre B [?] de Araújo
Umas residentes no Ceará, outras neste município
Villa Bella, 13 de Junho de 1913.
O Promotor Público
Januário Batista do Amaral


A INSTRUÇÃO PROBATÓRIA: MOTIVAÇÃO DO CRIME E INTERROGATÓRIO DO RÉU

O juiz presidente do Tribunal do Júri foi do Dr. Felisberto dos Santos Pereira, natural de Rio Formoso, zona da Mata de Pernambuco. Nascido em 1882 e formado em 1907, pela Faculdade de Direito do Recife, sendo colega do poeta paraibano Augusto dos Anjos. 

Destaco trechos relevantes a oitiva das testemunhas.

a) 1ª TESTEMUNHA
José Feijó de Medeiros

Que achava-se no campo, na qualidade de vaqueiro que era, no dia doze de agosto de mil novecentos e seis, data em que se deu o fato delituoso de que se trata, (…) quando ela testemunha vinha saindo de uma vereda que desemboca na estrada de Canabravinha deste termo, aí encontrou-se inesperadamente com o denunciado Francisco Pereira de Lucena, vulgo Chico Chicote, e mais três indivíduos aos quais ela testemunha não conheceu; que aí todos lhe disseram - boa tarde - e um deles dirigindo-se a ela testemunha disse-lhe que desse lembrança a Félix de Tal que agora iria levar carta no inferno; que logo após os citados indivíduos, todos armados de rifle, continuaram o seu caminho pela referida estrada e ela testemunha surpresa com o que acabava de ouvir, dirigiu-se imediatamente a sua casa, onde deixou a roupa de couro, digo de campo, logo se encaminhando para um açude próximo em que o citado Félix trabalhava; que em ali chegando encontrou ele à margem do açude referido, de pé e recostado a um pau, o aludido Félix, que apresentava um ferimento mortal na região lombar, produzido por bala, ferimento este que atravessando todos os tecidos da região, veio terminar do outro lado na região abdominal correspondente; que ela testemunha indagando de Félix o motivo de semelhante desgraça, este lhe respondeu que há poucas horas apenas fôra surpreendido no seu trabalho pelos denunciados Chico Chicote, José Luiz, Antônio de Lyra e Laurentino de Tal, os quais se aproximando dele ofendido, descarregaram-lhe cerrada carga de tiros, ouvindo antes Chicote dizer para seus companheiros: - O homem é este - que o próprio Félix disse a ela testemunha ter contado onze tiros na ocasião dos disparos e que não obstante estar armado de garrucha, tão atarantado ficou que dela não fez uso; que ela testemunha verificou na vítima além do ferimento descrito uma espécie de queimadura no braço direito, sendo de presumir que tivesse sido feita por alguma bala mal alvejada; que Chico Chicote e seus companheiros se aproximaram da vítima sem que esta pressentisse, tanto que ao passarem pelo rancho que Félix ali fizera para descanso nas horas mais quentes do dia, apanharam o rifle do mesmo Félix que ali estava, carregando-o depois do fato; que a opinião corrente e mais segura é a de que o motivo do crime foi determinado pelo fato de Félix ter dito ao seu patrão e compadre Manuel Chicote, irmão do primeiro denunciado, que este havia pegado dolosamente uns bois de propriedade do referido Manuel Chicote; que dias depois José Chicote, também irmão do referido denunciado, fez público que o fato fora levado ao conhecimento de Manoel Chicote, por Félix; que inconformado [?] com a denúncia de Félix, Chico Chicote prometeu que tomaria uma vingança, seria logo que se encontrasse com o mesmo Félix; que este sendo avisado do sinistro que contra si se tramava, resolveu mudar-se para Mameluco deste termo (...)


b) 2ª TESTEMUNHA
De...do Ribeiro de Melo:

(…) Que estava em sua casa no lugar Mameluco deste termo, por volta de quatro horas da tarde do dia doze de agosto de mil novecentos e seis, quando aí chegou José Feijó de Medeiros, e lhe disse que a curta distância dali e num açude em que estavam trabalhando Félix de Tal e outros trabalhadores, com uma garruncha, dela não se serviu, que além desta arma Félix tinha no rancho em que costumava descansar, e ali também situado, um rifle que os criminosos após o delito carregaram; que o motivo do fato delituoso referido é público e notório, foi ter Félix, quando morava no Cariri, denunciado de Chico Chicote ao patrão dele Félix, Manuel Chicote, irmão do denunciado, por ter este pegado uns bois do irmão com dolo; que sabedor desta denúncia Chico Chicote ficou seriamente [ilegível] com Félix, prometendo que desforraria do seu atrevimento na primeira ocasião em que o encontrasse. Que devido a este incidente, Félix deixou a companhia de seu patrão e veio para Mameluco, onde há apenas um mês se achava trabalhando no aludido açude; que Chicote e os seus companheiros sabendo o paradeiro de Félix vieram a seu encontro (...); que incontinente ela testemunha saiu de casa em demanda do açude ali encontrando Félix banhado de sangue e apresentando um ferimento produzido por bala de rifle, a qual penetrando na região lombar esquerda e atravessando os intestinos veio sair na região abdominal correspondente próximo ao umbigo; que dirigindo-se a Félix perguntou-lhe como se dera aquele fato, ao que este respondeu que estando no seu trabalho foi de surpresa acometido por Chico Chicote e mais três indivíduos (...) que sobre a conduta do primeiro denunciado, ela testemunha tem ouvido dizer ser muito irregular por se ele homem perverso e dado ao cangaço; que dos outros denunciados nada sabe por não ouvir dizer, nem conhece-os; que o morto era homem trabalhador e de bons costumes. E por mais não dizer nem lhe ser perguntado, deu-se por findo este depoimento, que lido e conforme assina a rogo da testemunha.

c) 3ª Testemunha
Antônio Feijó de Medeiros

(...) que conhece desde menino Chico Chicote, e faz do mesmo péssimo juízo, pois sempre o conheceu como turbulento e dado ao cangaço, sabendo igualmente que ele é autor de outros crimes além deste, no Estado do Ceará, embora lhe conste não estar sujeito a processo naquele Estado; que o seus corréus, segundo consta, são cangaceiros de profissão, mas ela testemunha nada sabe de positivo a respeito da conduta dos mesmos; que relativamente a Félix o conhecia de pouco tempo, mas sempre o viu proceder com correção, mostrando-se trabalhador e honesto.

) 4ª Testemunha
José Pedro Celestino, conhecido por José Dutra, com cinquenta e oito ano de idade, casado, agricultor, natural do Estado da Paraíba, residente em Porteiras, Estado do Ceará, não sabe ler nem escrever, aos costumes disse nada, testemunha jurada na forma legal, prometeu dizer a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntado.

E sendo inquirida a denúncia de folhas, que lhe foi lida, respondeu: que no dia em que se passou o fato criminoso, ela testemunha achava-se no lugar, digo, no local em que o mesmo fato se passou, num açude em que com Félix estava trabalhando; que ela testemunha achava-se em cima da barreira do açude e Félix embaixo marcando a parede do mesmo açude, quando de repente ouviram o estampido de sucessivos tiros e a voz do denunciado Chico Chicote chamar - "Morreste, negro', que Félix, implorando em gritos a proteção divina procurou fugir à sanha dos seus agressores, correndo de riacho acima, ao passo que o tiroteio continuava; que ao saltar uma cerca recebeu uma bala, que penetrando na região lombar direita, perfurou os intestinos vindo sair na região umbilical produzindo grande derramamento de sangue acompanhado da expulsão de uma parte do tecido adiposo da aludida região; que do grupo criminoso ela testemunha conheceu bem aos denunciados Francisco Pereira de Lucena, vulgo Chico Chicote, e José Luiz, vindo a saber depois de fonte insuspeita que os outros eram Antônio de Lyra e Laurentino e de Tal; que Félix estava na ocasião armado de uma pistola pequena, mas dela não se serviu, tendo a fora dessa arma e num rancho ali também situado um rifle que os criminosos carregaram; que depois de praticado o crime o denunciado José Luiz quis obrigar a ela testemunha a entregar o aludido rifle que depois eles encontraram no aludido rancho; que o denunciado Chico Chicote disse a ela testemunha tempos depois que não tinha dado esse conhecimento no dia em que atiraram em Félix, porque então não estava ainda bem informado dos precedentes dela testemunha a respeito dele denunciado, aludindo assim a informações caluniosas que pessoas suas desafetas haviam dado a seu respeito ao mesmo Chicote; que o fato criminoso originou-se de uma denúncia que dizem Félix ter dado contra Chico Chicote aos irmãos deste, denúncia que se baseava no fato de ter Chico Chicote ilicitamente pegado uns bois de seus irmão; que divulgado esse fato, Chicote entrou a perseguir Félix, de modo tão tenaz que obrigou este a retirar-se da companhia de seu patrão no Cariri para vir trabalhar no Mameluco, deste município; que aí chegando não suspeitava sequer dos planos criminosos do seu desafeto por estar longe de suas vistas quando de chofre foi atacado pelo mesmo do modo já referido, o qual teve como companheiros os demais denunciados

INTERROGATÓRIO

Interrogatório do réu Francisco Pereira de Lucena, vulgo Chico Chicote.
Perguntado qual o seu nome, naturalidade, estado, idade e residência?
Respondeu chamar-se Francisco Pereira de Lucena, conhecido por Chico Chicote, natural do Estado do Ceará, com trinta e quatro anos de idade, casado, residente no município de Porteiras, do Estado do Ceará.
Perguntado qual o tempo de sua residência no lugar declinado?
Respondeu que há cerca de cinco anos.
Perguntado quais seus meios de vida e profissão?
Respondeu que agricultor e criador.
Perguntado se sabia ler e escrever?
Respondeu que sim.
Perguntado se sabia o motivo pelo qual era acusado e se precisava de algum esclarecimento a esse respeito?
Respondeu que sabe por ter recebido cópia do libelo.
Perguntado se conhece as testemunhas que juraram neste processo e se tinha alguma causa a opôr contra elas?
Respondeu que conhece a(ilegível) a de nome José Dutra, que é parente do morto, sendo as demais suas desafetas.
Perguntado se tinha algum motivo particular a que atribua a acusação?
Respondeu que não.
Perguntado se tinha fatos ou provas que justificassem ou mostrassem sua inocência?
Respondeu que tem e o seu advogado oportunamente dirá.
Perguntado se tinha mais alguma causa a declarar ou esclarecer?
Respondeu que não.


O júri depois de haver nomeado dentre si por escrutínio secreto e por maioria absoluta de votos, o seu presidente e secretário da leitura recomendada pela lei e mais formalidades desta, respondeu aos quesitos pela maneira seguinte:

Ao 1º quesito:
Não, por nove votos
O réu Francisco Pereira de Lucena, vulgo Chico Chicote, de 3 para as 4 horas da tarde, do dia 12 de Agosto de 1906, no lugar Mameluco deste Município de Belmonte não desfechou tiros de rifle em Félix de Tal produzindo-lhe o ferimento descrito no corpo de delito [ilegível] deste sumário.

O júri deixa de responder aos demais quesitos por se achar prejudicado com a resposta do primeiro.

Sala secreta do Júri de Belmonte, 26 de Novembro de 1913.

Hérlon Fernandes Gomes, Munganga Cultural
Porto Velho, Rondônia, 11 de Outubro de 2021
Fonte:https://amunganga.blogspot.com/2021/10/o-tribunal-do-juri-de-villa-bella.html?fbclid=IwAR3--YAFDYKtY7lQg7vOq8OnD37GcEfKHOSRQfoelidiLfQmxqPSkuCzkBY

https://cariricangaco.blogspot.com/2021/10/o-tribunal-do-juri-de-villa-bella-pe.html

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CANGACEIRA ANÉSIA CAUAÇU.


Foto restaurada pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio.

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ENTRE REZAS E BACAMARTES

 (Publicação do Centro de Estudos de História Municipal – CEHM/Agência Condepe/Fidem).

O CEHM comunicou nessa segunda-feira 11 de outubro a publicação do já esperado livro de seu associado Valdir Nogueira, cujo título: ENTRE REZAS E BACAMARTES, possui prefácio do historiador e membro da Academia Pernambucana de Letras Frederico Pernambucano de Mello, e integra a Coleção Tempo Municipal do referido Centro de Estudos de História Municipal – CEHM/Agência Condepe/Fidem.

A obra traz um recorte sobre a atuação do Monsenhor Afonso Pequeno e a tradicional desavença entre as famílias Pereira e Carvalho sob a ótica da alternância de poder na lendária região do Pajeú do sertão pernambucano.  Numa terra em que imperava a lei do punhal e do bacamarte, essas duas famílias espargiram sangue em ódios feudais, numa luta que esbarrou num famigerado banditismo.

O polêmico Monsenhor Afonso Pequeno, pároco das freguesias de Vila Bela e Belmonte em princípios do século passado.

Sobre o livro de Valdir Nogueira comentou o professor Yony Sampaio, professor da Universidade Federal de Pernambuco e Consultor do Banco Mundial:

“Muitos livros tem tratado da lendária briga entre os Pereira e os Carvalho. De modo geral exploram os confrontos armados, as sucessivas emboscadas e ataques, culminando com o período de Sebastião Pereira e Luís Padre. Este fantástico relato de Valdir Nogueira, Entre Rezas e Bacamartes, no entanto, é o primeiro a analisar em detalhe as intrigas politicas, a alternância de poder local, que vem a se constituir no cenário onde a questão se desenvolve.

Geograficamente, amplia o centro da questão para os municípios de Belmonte e Vila Bela, de onde se irradia pelo Pajeú e pelo sul do Ceará, relacionando movimentos do Cariri a incidentes no Pajeú. Indo aos fundamentos da questão, antepõe o Monsenhor Afonso Pequeno ao coronel Antônio Andrelino Pereira da Silva, filho do Barão do Pajeú.

Na vila de Belmonte se estendeu o conflito entre as duas tradicionais famílias do Pajeú.

De um lado, um padre guerreiro, politico, mas defensor da religião, a exemplo de muitos, como o Monsenhor Arruda Câmara, na revolução de trinta. De outro, um coronel tentando manter a estatura e autoridade do pai, porém sem possuir as mesmas qualidades de sobriedade e equilíbrio. Os novos perfis que traça, revelam faces escondidas da questão. Para iluminar tantas questões, Valdir divulga correspondências inéditas, comunicações em jornais da época, e corrige interpretações equivocadas. O livro de Valdir já nasce um clássico, essencial para melhor entendimento da história e da formação social daquele sertão.

A antiga Vila Vila Bela, cenário da luta de Carvalho e Pereira.

O autor nasceu e foi criado em Belmonte e já nos brindou com um belo livro sobre São José do Belmonte. Conhece quase cada palmo de terra, discorre sobre as fazendas, locais de emboscada e convive com descendentes das famílias envolvidas, hoje bastante entrelaçadas, como sempre ocorre na sociedade sertaneja. Assim, possui a autoridade necessária para tal empreitada. Simples, de fala mansa, em outras épocas poderia ter tomado o bacamarte e entrado catinga adentro. Porém tem sido mais afeito aos estudos e ao conhecimento e preservação do passado da região. Excelente pesquisador, minucioso, reverencia nosso passado e tem sido o esteio da hoje famosa cavalhada do Belmonte que homenageia e relembra os incidentes da Pedra Bonita, então Serra Talhada e hoje Belmonte, que incendiou a imaginação de Ariano Suassuna no Romance da Pedra do Reino.

Ao leitor, tenho certeza que embarca em aventura prazerosa e educativa. Do autor, espero que continue a perscrutar nosso passado e revelar aspectos pouco conhecidos da nossa formação histórica e social”.

Extraído do blog https://tokdehistoria.com.br/2021/10/13/entre-rezas-e-bacamartes/do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.

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