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terça-feira, 28 de abril de 2020

“PAJEÚ EM CHAMAS: O CANGAÇO E OS PEREIRAS”


Recebi hoje do Francisco Pereira Lima (Professor Pereira) lá da cidade de Cajazeiras no Estado da Paraíba uma excelente obra com o título "PAJEÚ EM CHAMAS O CANGAÇO E OS PEREIRAS - Conversando com o Sinhô Pereira" de autoria do escritor Helvécio Neves Feitosa. Obrigado grande professor Pereira, estarei sempre a sua disposição.


O livro de sua autoria “Pajeú em Chamas: o Cangaço e os Pereiras”. A solenidade de lançamento aconteceu no Auditório da Escola Estadual de Educação profissional Joaquim Filomeno Noronha e contou com a participação de centenas de pessoas que ao final do evento adquiriram a publicação autografada. Na mesma ocasião, também foi lançado o livro “Sertões do Nordeste I”, obra de autoria do cratense Heitor Feitosa Macêdo, que é familiar de Helvécio Neves e tem profundas raízes com a família Feitosa de Parambu.

PAJEÚ EM CHAMAS 

Com 608 páginas, o trabalho literário conta a saga da família Pereira, cita importantes episódios da história do cangaço nordestino, desde as suas origens mais remotas, desvendando a vida de um mito deste mesmo cangaço, Sinhô Pereira e faz a genealogia de sua família a partir do seu avô, Crispim Pereira de Araújo ou Ioiô Maroto, primo e amigo do temível Sinhô Pereira.

A partir de uma encrenca surgida entre os Pereiras com uma outra família, os Carvalhos, foi então que o Pajeú entrou em chamas. Gerações sucessivas das duas famílias foram crescendo e pegando em armas.

Pajeú em Chamas: O Cangaço e os Pereiras põe a roda da história social do Nordeste brasileiro em movimento sobre homens rudes e valentes em meio às asperezas da caatinga, impondo uma justiça a seus modos, nos séculos XIX e XX.

Helvécio Neves Feitosa, autor dessa grande obra, nascido nos Inhamuns no Ceará, é médico, professor universitário e Doutor em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal), além de poeta, escritor e folclorista. É bisneto de Antônio Cassiano Pereira da Silva, prefeito de São José do Belmonte em 1893 e dono da fazenda Baixio.

Sertões do Nordeste I

É o primeiro volume de uma série que trata dos Sertões do Nordeste. Procura analisar fatos relacionados à sociedade alocada no espaço em que se desenvolveu o ciclo econômico do gado, a partir de novas fontes, na maioria, inéditas.

Não se trata da monumentalização da história de matutos e sertanejos, mas da utilização de uma ótica sustentada em elementos esclarecedores capaz de descontrair algumas das versões oficiais acerca de determinados episódios perpassados nos rincões nordestinos.
Tentando se afastar do maniqueísmo e do preconceito para com o regional, o autor inicia seus estudos a partir de dois desses sertões, os Inhmauns e os Cariris Novos, no estado do Ceará, sendo que, ao longo de nove artigos, reunidos à feição de uma miscelânea, desenvolve importantes temas, tentando esclarecer alguns pontos intrincados da história dessa gente interiorana.

É ressaltado a importância da visão do sertão pelo sertanejo, sem a superficialidade e generalidade com que esta parte do território vem sendo freqüentemente interpretada pelos olhares alheios, tanto de suas próprias capitais quanto dos grandes centros econômicos do País.

Após a apresentação das obras literárias, a palavra foi facultada aos presentes, em seguida, houve a sessão de autógrafos dos autores.

Quem interessar adquirir esta obra é só entrar em contato com o professor Pereira através deste e-mail: 
franpelima@bol.com.br
Tudo é muito rápido, e ele entregará em qualquer parte do Brasil.

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'TINHA PRAZER EM AJUDAR OS OUTROS', DIZ FILHO DE MULHER MORTA POR COVID-19 EM MOSSORÓ, RN


Maria Goreti tinha 67 anos de idade e foi primeira-dama do município de Severiano Melo por três vezes.

Por G1 RN
Goreti Melo acompanhada dos filhos e do marido — Foto: Arquivo da família


Maria Goreti Melo Freitas Martins tinha 67 anos de idade e morreu vítima da Covid-19 em Mossoró, no Oeste potiguar, na noite desta segunda-feira (27). Goreti foi primeira-dama da cidade de Severiano Melo, onde nasceu, por três vezes e era conhecida no município mossoroense. “Uma pessoa que tinha prazer em ajudar os outros. Uma pessoa de um coração que não vi outro igual”, resumiu um dos filhos, o médico Rodolfo Maciel.

Goreti era diabética, hipertensa e sofria com problemas renais. Segundo Rodolfo, no dia 17 de abril a mãe relatou problemas para urinar. No dia seguinte, teve febre e diarreia.

Na segunda-feira posterior, dia 20, fazia hemodiálise quando se sentiu mal. Não conseguiu concluir o procedimento que realizava periodicamente por causa das complicações nos rins. “Até ali não apresentou tosse e os sintomas conhecidos da Covid-19”, reforça o filho.

Rodolfo Maciel conta que ele e seus irmãos, a médica Bárbara Nicoly, o dentista Renato Lúcio e o bioquímico Luis Antônio, estavam de quarentena, porque todos trabalham na área da saúde. Então Goreti só teve contato com o pai deles, o ex-prefeito de Severiano Melo, Silvestre Monteiro Martins.

Ainda no dia 20, ela sentiu-se mal novamente, já em casa. Foi levada para o hospital e, lá, realizou uma tomografia. O exame indicou a suspeita de Covid-19. Goreti então foi internada em uma enfermaria. De acordo com Rodolfo, na quarta-feira, dia 22 de abril, a mãe teve outro mal estar enquanto realizava a hemodiálise. Na madrugada da quinta, dia 23, teve falta de ar pela primeira vez.

O filho relata que foi aí que ela foi internada na UTI, porém não precisou ser entubada e nem teve agravamento do quadro. Foi uma medida de precaução, segundo Rodolfo. A essa altura já havia se confirmado que Goreti estava com o novo coronavírus.

Goreti Melo com parte dos netos, filhos e o marido — Foto: Arquivo da família

“Ela evoluiu bem e estava consciente”, afirma Rodolfo Maciel. Nesta segunda-feira (27), Goreti Melo realizou hemodiálise novamente e mais uma vez passou mal. “Ela convulsionou e teve uma parada cardíaca. Os colegas tentaram reanimá-la, mas não conseguiram”, detalha o filho.

Maria Goreti Melo Freitas Martins era casada há 40 anos com Silvestre Monteiro Martins, que foi prefeito de Severiano Melo três vezes. Os dois tinham oito netos.


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LAMPIÃO BOTA TODOS PARA DANÇAR PELADOS NO FORRÓ EM UMA FAZENDA NA ZONA RURAL DE JUAZEIRO NA BAHIA.



(Todos dançam Nu! a mando de Lampião! No Forró no Salitre Povoado de Juazeiro Bahia).

No ano de 1929, quando Lampião soube por um catingueiro, que nesse dia iria haver um baita de um forró na Fazenda Jurema Preta, de Propriedade do Sr, Manuel de Anja... Celebração do Casamento de sua filha; A notícia agradou Lampião, que estava pela região e queria se divertir um pouco, coisa que não faziam a muito tempo, por falta de oportunidade e opressão da força Policial do Nordeste... Mandou avisar o dono da casa que iriam ao casamento com paz e muita alegria, e que pusesse água no feijão para ele” Lampião e seus meninos, que queriam brincar a noite inteira... O fazendeiro Mané de Anja, fingindo-se satisfeito com a notícia agradou de sob modo a Lampião, e respondeu ao Capitão que era uma honra recebe-lo com seu bando em sua casa e que o esperava. Mais sem perder tempo, guardando reserva da notícia, enviou imediatamente uma carta ao Delegado de Juazeiro, avisando da presença de Lampião e seu bando na festa, e pedindo urgente providencia, e que a Polícia evitasse que ele e família passassem por momentos vexaminosos... Mais o destino conspirava contra o velho fazendeiro, e para a sua desgraça Lampião interceptou o mensageiro e lhe tomou a carta! Meio desapontado com o comportamento do fazendeiro Mané de Anja, Lampião ficou calado e se dirigiu com o bando para o local da festa! Chegando a Fazenda no finalzinho da tarde, quando a festa já ia bem animada. Dividiu o seu pessoal e dois grupos, ficando metade na malhada da Fazenda e a outra Parte com o Capitão. A presença de Lampião foi um terror para os convidados que não o esperavam, mais para o dono da casa era uma expectativa não menos perigosa, pois até aquele momento não sabia se o mensageiro havia entregue ou não? E vez por outra dava uma olhada na estrada, e nada? Lampião tranquilo animava a festa fingindo a inexistência da carta, ao Delegado de Juazeiro... Lampião certo estava de possuir a chave do enigma, nem por isso deixou de seguir os movimentos do velho! Ao anoitecer quando o Forro estava no maior do seu auge, Lampião subiu em uma cadeira e falou!!!

“Atenção pessoal! Parou tudo!!! Instantaneamente o silencio tomou conta do lugar, continua Lampião, Vocês vão conhecer agora quem é este véio safado! Traidor! Que é o dona da casa, os convidados ficaram a se olharem entre se, atônitos e preocupados com aquela Exclamação! De Lampião! Imobilizados aguardavam as avalanches de violência por Lampião e seu grupo... Continua Lampião. Ele mandou dizer que eu podia vim brincar com meus meninos, e tirando a carta do bolso, disse este safado mandou para o Delegado para que tivesse tiroteio entre vocês e meus meninos sem se preocupar com vocês” agora me digam isto é papel de homem, me respondam gente” todos por uma só voz, não senhor Capitão... E continua Lampião, então vocês vão escolher morrerem todos ou vamos todos dançarem nu, que é para este valho descarado tomar vergonha na cara! Escolham! E o povo escolheu a nudez sem depravação se algum gaiato ficar alterado será capado na frente dos demais, que é para respeitarem as mulheres presente, assim falou Lampião. Lá pelas altas madrugada depois de muitos bêbados homens e mulheres no bacanal proporcionado por Lampião! Dois rapazes libidinosos e alterados foram retirados da festa e capados por gente de Lampião. Amanheceu o dia e antes de finalizar a esbornia de pelados Lampião deu ordem que capassem o velho traidor...!!!

Fonte: Derrocada do Cangaço, Felipe de Castro, 19 de Setembro 1977 Pàgina 167. Observação a fotografia da festa é uma ilustração, não sendo da época do forró do Salitre.



HISTORIANDO A CIDADE

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.301
MERCADO DE CARNE EM 2013, ANTES DA SEGUNDA REFORMA.
 FOTO (B. CHAGAS/LIVRO 230).

Estamos dentro dos 70 anos de fundação do Mercado de Carne de Santana do Ipanema -AL. Foi na gestão do prefeito coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão que foi inaugurado o edifício que abrigaria os marchantes da época e de hoje. Situado em espaço do quadro comercial e na feira livre, o prédio rígido impressiona pela sua durabilidade. A fachada vem de terreno relativamente plano, mas os fundos pegaram um declive que de tão alto impressiona aos olhos de pesquisadores. Quantos caminhões, carros de boi ou carroçadas de burro foram necessários para fazer aquele enorme aterro que sustenta a obra? Quem observa com olhos inquiridores da parte   baixa dos arredores, é quem fica extasiado com a construção do ano 1950.
Para consolidar o alicerce, este foi cercado de muretas, grandes pedras quadradas comparáveis às que resguardavam o casarão do padre Bulhões contra as cheias do riacho Camoxinga. A mesma engenharia, o mesmo desenho nas junções que levam a crer ter sido a mesma pessoa que construiu ambas as obras. Reformado duas vezes o Mercado de Carne continua servindo à população que não tem alternativas. Não existe um segundo mercado público de carne. Ao lado do prédio, desce um beco até o riacho Camoxinga que outrora fazia parte da capoeira dos fundos de quintais. Era ali naqueles quintais onde os bodes eram abatidos com rapidez e sem higiene, durantes as feiras semanais dos sábados. O beco era o mictório escancarado dos feirantes.
Desde a formação do quadro da feira, passando pelo ano da construção do mercado até agora, as modificações na paisagem foram relativamente mínimas. As casas comerciais mudaram pouco adaptando as várias portas de madeira, a uma só, de ferro com rolamento vertical. Surgiram pequenos compartimentos comerciais no quadro oriundos do fechamento da Usina de Beneficiamento do Algodão do senhor Domício Silva. O restante continua sem novidades a não ser o asfalto que por ali passou. Disse um pedreiro ao trocarmos ideias sobre o Mercado de Carne: “Foi construído no tempo em que os homens tinham vergonha”.
A placa de fundação do Mercado continua encravada na parede. Foi uma das raríssimas que os vândalos não conseguiram roubar e com elas apagando a história.
Está escrito: 1950.


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SERTÕES, ROÇAS E VIDAS

*Rangel Alves da Costa

No passado sertanejo, de canto a outro a mataria fechada tomava conta de tudo. Depois, com o povoamento, muita mata foi derrubada para que os roçados permitissem a plantação. O plantio garante a sobrevivência de muita gente. Daí que as roças ainda fazem parte da paisagem logo depois da cidade.
Roças que se estendem pelas beiradas das estradas, cortando veredas, adentrando a caatinga. Roças maiores, roças menores, casinhas, casebres, casas de tijolo e barro, currais, chiqueiros, terreiros de galinhas, pastagens para a sobrevivência dos bichos.
As roças, ou o viver em propriedades interioranas - ou mesmo em fazendas, como costumeiramente se chama -, possuem um cheiro próprio. Não só o cheiro de mato, da terra sertão, mas um aroma tão próprio quanto suas paisagens. Cheiro de bicho misturado ao estrume. Cheiro de curral e de boi berrando.
Também o cheiro do barrufo subindo após a primeira chuva forte caída. Cheiro de sequidão, de fogaréu tomando tudo, alastrando calor e mormaço pelas suas distâncias. Mas também o cheiro da panela no fogo e o que o de comer de cada dia passa a exalar. E que cheiro de amanhecer: o perfume bom do mato em flor.
A roça tem cheiro de tudo de bom. Mas só quem vive na roça ou nela possui cancela ou porteira de entrada, para reconhecer cada cheiro. O café não apenas o café cheirando, o cuscuz no é apenas o cuscuz cheirando, a tripa na banha de porco não é apenas a tripa na banha de porco cheirando. Há uma magia em cada aroma que só sabe sentir aquele que com a roça convive.
Mas a roça é mesmo um mundo estranho. E muito estranho mesmo ao forasteiro ou desconhecido. Falando com o bicho, há que se imaginar que o roceiro malucou de vez. A senhorinha falando com a planta, logo se diz que está abilolada, ruim da cabeça. E o que dizer quando o menino vai logo cedinho despejar leite do peito da vaca no seu pratinho de estanho com farinha seca?


A paisagem da roça sempre traduz o clima da região. Às vezes, tudo é avistado vicejando, verdejante, numa moldura que tanta alegria causa aos olhos e ao coração. Noutras vezes, apenas a terra esturricada, as plantas entristecidas, os bichos magros gemendo suas fomes e sedes.
Mas não há como desejar que tudo de repente se transforme. O sertão é assim mesmo. Algum tempo de chuva e até muitos anos sem cair sequer um pingo d’água. E tudo isso fica bem demonstrado na feição de cada roça e até de seu humilde e singelo habitante. A feição sertaneja vai se modificando segundo o tempo lá fora e mais adiante.
Ora, o homem da roça, ainda que viva num mundo que tanta ama, vive entremeado de alegrias e sofrimentos. Entristece demais quando a seca aperta e sequer sabe o que fazer para dar água e alimentar seu rebanho. Mas também um sorridente e cheio de contentamento se a invernada foi boa e o seu mundo retomou o verdor molhado.
De qualquer modo, relembrar a roça é trazer à memória o cesto de palma, a porteira rangendo do curral, os estrumes tomando os solados, os berros e os mugidos, o voo dos passarinhos ao entardecer. Recordar a roça é rebuscar o sabor do leite quente tirado do peito da vaca naquele momento e derramado em prato de estanho já com tiquinho de farinha.
Recordar a roça é ter na memória o mandacaru, o xiquexique, a palma, a jurubeba. É relembrar as veredas espinhentas, as estradas empoeiradas, os caminhos que vão se encurvando e se espalhando. É em pensamento avistar a tem-tem guardiã, a galinha ciscando pelo quintal, o cachorro correndo por dentro dos tufos de mato.
Recordar a roça é sentir o cheiro do cuscuz ralado ainda no escurecido alvorecer. É se envolver pelo aroma do café torrado e peneirado em quintal, então fumegando por cima do fogão de lenha. É ouvir o chiado da banha de porco na frigideira e o cheiro forte da tripa de porco, do toucinho, do bucho, do pedaço de carne de sol.
Recordar a roça é mesmo na distância ouvir o vaqueiro cuidando de seu rebanho, vaqueirando seu bicho de pasto e curral, ecoando seus aboios e toadas para alegria das vastidões. É avistar o suor da luta, o cansaço do animal, a roupa vaqueira sendo pendurada pelos cantos da casa. O gibão, a perneira, a sela, o estribo, tudo.
Contudo, verdadeiramente recordar o sertão é jamais desapartar de seus clarões do dia ou da noite. Ter a lua grande, bonita, imensa, de dourado brilhoso, espalhando seus fulgores e canções pelas noites tão singelas e cativantes. Mas também o sol raivoso, voraz, cheio de queimor e abrasamento. E entre as duas luzes, a brandura do amanhecer e do entardecer. Em momentos assim, as roças e os sertões se transformam totalmente. Tornam-se apenas poesias.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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O CANGACEIRO ZÉ SERENO

Por José Mendes Pereira

José Ribeiro Filho - o cangaceiro "Zé Sereno" nasceu em 22 de Agosto de 1913, na Fazenda dos Engrácias, no município de Chorrochó, no Estado da Bahia. Era filho de José Ribeiro e de dona Lídia Maria da Trindade. Sua mãe era irmã dos cangaceiros Antônio e Cirilo de Engrácias.

Dona Lídia também era irmã do cangaceiro Faustino, "Mão de Onça", sendo este pai do terrível cangaceiro Zé Baiano, o ferrador do bando de Lampião.

Zé Baiano andava com um ferro de ferrar animais com as iniciais "JB", as primeiras letras do seu nome. Para suas maldades alheias onde ferrava mulheres e homens, de preferência no rosto. Zé Baiano era primo carnal do cangaceiro Zé Sereno, isto é, pai e mãe eram irmãos dos pais de Zé Sereno. Zé Baiano e Zé Sereno eram primos legítimos do cangaceiro Mané Moreno.

Zé Sereno andou no bando de Lampião com sua esposa Sila, até no dia do massacre na Grota de Angico, onde mataram Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, sobre o comando do oficial alagoano tenente João Bezerra.

Zé Sereno e Sila saíram ilesos do massacre, isto é, não foram atingidos pelas balas. O ex-cangaceiros Zé Sereno só veio a falecer em 16 de fevereiro de 1981, no Hospital Municipal de São Paulo. Sua mulher Sila faleceu no dia 15 de Outubro de 2005, também na capital Paulista.

Fonte de pesquisas:

http://portaldocangaco.blogspot.com/ do amigo Guilherme Machado


O ÚLTIMO PÃO.


Por João Filho de Paula Pessoa

Em outubro de 1936, Zé Rufino com sua Volante rondavam a caatinga de Sergipe, em busca de cangaceiros, quando encontraram um menino que caminhava numa trilha portando alguns pães, que interrogado e sob pressão, informou que era filho de João do Pão e os pães eram para sua casa que era alí próximo, desconfiados, os soldados seguiram a criança até seu destino e avistaram alguns cangaceiros jogando baralho com o Sr. João do Pão, um pequeno fazendeiro de algumas posses que acoitava alguns cangaceiros, e abriram fogo contra o grupo, abatendo logo de início os Cangaceiros Pai Véio, Pavão e o Fazendeiro João do Pão, em seguida abateram Mariano, que lutou bravamente enquanto o resto do bando fugia com sua mulher Rosinha. As Cabeças dos três cangaceiros mortos foram arrancadas e levadas pela volante e o corpo do Sr. João do Pão foi entregue à sua família para um enterro cristão, vez que o mesmo não era cangaceiro. Neste combate fugiram Rosinha de Mariano, que estava grávida, Criança, dentre outros. Mariano era um dos cangaceiros mais antigos de Lampião e considerado o mais “gente boa” de todos, pois nunca tinha se desentendido com nenhum companheiro e tinha bom trato com os coiteiros e com as vítimas. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/CE. 06/01/2020.


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A EX-CANGACEIRA " SILA " E, A FALTA DÁGUA..!.. O USO DO MIOLO DO XIQUE-XIQUE.

Por Volta Seca
Foto de Aderbal Nogueira

A falta de água nas caatingas sertanejas, era uma constante na vida dos cangaceiros e policiais... Para sobrevivência, utilizavam plantas nativas, a exemplo do XIQUE-XIQUE, e, outras... O miolo da planta, também era comestível, pois em sua composição apresenta, água, sais minerais... etc.

Na foto acima a cangaceira SILA mostra, como tirava com um facão, os espinhos da planta, e, comiam, o miolo.


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NATAL E O RN NA PANDEMIA DA GRIPE ESPANHOLA DE 1918

Rostand Medeiros, escritor, pesquisador e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Primeiros Casos Relatados no Mundo
11 de março de 1918 – Um soldado do exército dos Estados Unidos, se reportou ao hospital de Fort Riley, Kansas, com estranhos sintomas envolvendo uma gripe muito forte. Logo, mais de 100 outros soldados relataram sintomas semelhantes, marcando o que se acredita serem os primeiros casos da pandemia histórica de influenza de 1918, mais tarde conhecida como gripe espanhola. Apesar do nome e do que aconteceu no Kansas, dados históricos e epidemiológicos não conseguem identificar a origem geográfica desta pandemia. Depois de observada no interior dos Estados Unidos, a doença avança pela Europa e em partes da Ásia, antes de se espalhar rapidamente pelo mundo. 
Gripe espanhola de 1918.
Espanhola?
Acredita-se que a origem do nome “gripe espanhola” deriva da propagação da pandemia da Espanha para a França em novembro de 1918. Nessa época a Espanha permaneceu neutra durante a Primeira Guerra Mundial e não impôs nenhuma censura em seus jornais sobre o avanço dessa doença naquele país, como ocorria em outras nações. Logo as histórias amplamente divulgadas, mostrando a Espanha especialmente atingida criou uma falsa impressão em outras partes do mundo que tudo teve origem nesse país.
Influenza espanhola nos Estados Unidos, outubro de 1918. (National Archives)
Avanço da doença no Mundo
A pandemia de gripe espanhola de 1918, a mais mortal da história, infectou cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo – um terço da população do planeta – e matou em torno de 20 a 50 milhões de vítimas. Alguns acreditam que chegou a 100 milhões. Na época não existiam terapias antivirais específicas. Hoje em dia, as coisas não mudaram muito, e a maioria dos tratamentos para a enfermidade se dirige a aliviar os sintomas, em vez de curar a doença.
Os cidadãos de alguns países em 1918 receberam ordens para usar máscaras. Dependendo da região do mundo escolas, teatros e empresas foram fechados e corpos empilhados em necrotérios improvisados ​​antes que o vírus encerrasse sua mortal marcha global. No Brasil, tal como agora, foram as cidades e os governos estaduais que decidiram suas ações, mediante o avanço da doença. Nem sequer existia Ministério da Saúde. Ele só foi criado doze anos depois do surto de gripe espanhola no Brasil, mas vinculado com a pasta da educação. De forma autônoma e independente o Ministério da Saúde só foi criado em 25 de julho de 1953.
Atendimento contra a gripe espanhola.
Em todas as partes no ano de 1918 a pandemia de gripe fez muitos temerem o fim da humanidade, além de alimentar por muito tempo a ideia de que se tratava de uma cepa viral particularmente letal. Entretanto, estudos mais recentes indicam que o vírus, embora mais mortífero que outras cepas, não era diferente dos vírus que causaram as epidemias de outros anos. Na Europa conflagrada a taxa de mortalidade pode ser atribuída em grande medida as aglomerações nos acampamentos militares e nos ambientes urbanos. Bem como à má qualidade da alimentação e às condições sanitárias precárias. Atualmente, acredita-se que muitas mortes de 1918 decorreram do desenvolvimento de pneumonias.
Mundialmente a onda inicial de mortes pela gripe, na primeira metade de 1918, foi relativamente pequena. Foi na segunda onda, de outubro a dezembro do mesmo ano, que se registrou a maior taxa de mortalidade. A terceira fase, no primeiro semestre de 1919, foi mais letal que a primeira, porém menos que a segunda.
Enfermeira contra a gripe espanhola.
Em todo o mundo os funcionários dos serviços públicos de saúde, a polícia e os políticos tinham motivos para minimizar a gravidade da gripe de 1918, o que fez com que ela atraísse menos à atenção da imprensa. Para quem participava da Guerra havia o temor de que divulgá-la abertamente encorajasse os inimigos em época de guerra, e além disso existia o interesse em preservar a ordem pública e evitar o pânico. Entretanto, as autoridades reagiram. No auge da pandemia, foram estabelecidas quarentenas em muitas cidades. Algumas foram obrigadas a restringir os serviços básicos, incluindo os da polícia e dos bombeiros.
Primeiras Notícias no Brasil – Primeira quinzena de julho de 1918
Utilizando modernas ferramentas de visualização digital de jornais antigos e lendo as páginas que fotografei do jornal natalense A República, pude perceber que nesse período surgem as primeiras notícias nos jornais brasileiros sobre casos a “Influenza Hespanhola” na Bélgica, Alemanha e Inglaterra. Mas não são notícias destacadas.
A Imprensa Brasileira Entre julho e setembro de 1918
Crzuzador Bahia, participante da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG).
Devido ao afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães, o nosso país declarou guerra à Alemanha em 16 de novembro de 1917. Em janeiro de 1918 o governo brasileiro cria a Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), uma esquadra da Marinha com oito navios, destinada ao patrulhamento contra a ação de submarinos alemães no Oceano Atlântico. Partiu do Rio em 14 de maio e, depois de passar por Salvador e Recife, chegaram a Natal no final de julho. A capital potiguar na época tinha cerca de 29.000 habitantes (equivalente hoje a população de Extremoz).
Nesse período os jornais não comentaram nada sobre prevenção e nem sobre algum tipo de preparação contra o vírus no Brasil. Acredito que as notícias da participação da DNOG na Primeira Guerra serviu como uma espécie de “cortina de fumaça”, que evitou uma informação mais intensa sobre a ação da gripe espanhola em outros países. Acredito que em 2020 o nosso carnaval, ocorrido no final de fevereiro, foi essa nova “cortina de fumaça”.
Primeiros Mortos Brasileiros – 23 de setembro de 1918
Nos dias atuais o COVID-19 só foi notícia mais ativa após o primeiro caso conhecido no país e após a primeira morte de um brasileiro em 27 de março de 2020. Já os jornais de 1918 só passaram a dar uma atenção maior ao tema depois que estourou a notícia que na Divisão Naval, que se encontrava ancorada na cidade de Dacar, na África Ocidental havia 55 mortos de gripe espanhola.
A Gripe Espanhola Chega ao Brasil – 24 de setembro de 1918
Acredita-se que essa seria a data mais correta para a chegada da gripe espanhola em nosso país, pois nesse dia atracou no porto de Santos, São Paulo, o vapor inglês Demerara, utilizado para o transporte de passageiros e cargas. Tal como agora, quando foi dito que no início do mês de março de 2020 não houve em aeroportos brasileiros nenhum tipo de inspeção dos passageiros que desembarcavam principalmente da Itália, em 1918 houve uma séria acusação aos funcionários da então chamada Polícia Sanitária daquele porto. Eles teriam sido negligentes por não realizarem a necessária inspeção de saúde dos passageiros daquele navio. Uma passageira da 2ª classe denunciou que o Demerara trazia mais de 40 enfermos e que em um único dia foram lançados ao mar (ou sepultados) cinco corpos de falecidos pela gripe espanhola.
Navio inglês Demerara – Fonte – https://uboat.net/
Tanto em 1918 e 2020 a gripe chegou ao Brasil vindo da Europa, trazida pelo principal meio de transporte que liga nosso país ao Velho Mundo em cada época. Hoje em aviões de carreira, em 1918 nos navios de passageiros e cargas. Mas vale ressaltar que no passado esses navios possuíam 1ª, 2ª e 3ª classes de passageiros e cada viagem, dependendo do tamanho do navio, trazia de 300 a 1.000 pessoas.
Naquele tempo como agora, o parlamento brasileiro criou novas leis após a eclosão da pandemia em território nacional.
Em 1918 os parlamentares apresentaram uma série de projetos de lei com o objetivo de, em diferentes frentes, combater a doença e amenizar seus efeitos. Uma das propostas determinou a aprovação automática de todos os estudantes brasileiros, sem a necessidade dos exames finais. Outro projeto de lei ampliou em 15 dias o prazo para o pagamento das dívidas que tinham o seu prazo final em plena epidemia.
A Gripe Espanhola Chega a Recife – 28 de setembro de 1918
Segundo o Jornal do Recife, nessa data duas pessoas a bordo do navio de passageiros brasileiro Tabatinga apresentaram o que parecia ser os mesmos sintomas de gripe espanhola. Não existiam exames específicos para diagnóstico dessa doença. Talvez por essa razão a “Inspectoria de Higyene” de Recife não achou que os dois enfermos pudessem ter contraído essa gripe. O que gerou uma forte querela entre os funcionários dessa repartição e os jornalistas, devido ao estado de saúde dos enfermos do Tabatinga.
Na verdade esse é um aspecto de uma situação comum a essa pandemia no Brasil: a negação e até mesmo ocultação de dados por parte das autoridade em 1918, fato que se repete em alguns países em 2020.
A Gripe Espanhola Chega a Natal – 3 de outubro de 1918
Essa questão de negação e até mesmo ocultação de dados sobre a gripe espanhola também ocorreu em Natal. Mas através de jornais de outros estados, principalmente os de Recife, que mantinha correspondentes em Natal, é possível ter uma ideia do que aconteceu na capital potiguar.
O Diário de Pernambuco, de 4 de outubro de 1918 informou através de um telegrama emitido pela Great Western, que o navio de passageiros brasileiro Itassucê aportou em Natal no dia anterior com seis enfermos de gripe espanhola.
A Primeira Vítima em Natal – 15 de outubro de 1918
Aparentemente, a primeira morte em decorrência da gripe espanhola ocorrida em Natal foi a do comerciante cearense Mozart Barroso, a bordo do navio Pará, que estava ancorado no porto da cidade. Em A República, na edição de 15 de outubro, informou que o falecimento ocorreu devido a uma “moléstia” contraída em Recife, vindo o comerciante a falecer em decorrência da viagem. Já o Diário de Pernambuco afirma que nesse mesmo navio vários outros passageiros e tripulantes, entre estes o médico de bordo, estavam com a gripe espanhola. O navio Pará ficou interditado em nosso porto por vários dias.
Mesmo sem A República esclarecer se Mozart Barroso morreu, ou não, de gripe espanhola, chama atenção que quatro dias depois da divulgação dessa notícia o respeitado médico Januário Cicco escreveu nesse mesmo jornal uma coluna visando “auxiliar na defesa da saúde pública contra a epidemia de influenza espanhola, que celeremente se disseminou por toda parte”. O Dr. Januário recomendava então o uso da “quinina”, muito utilizado contra a malária, informando ter distribuído pelas farmácias da cidade comprimidos deste produto. Este médico solicitava que “os poderes competentes”, ordenassem aos funcionários da Inspetoria de Higiene que fossem visitar as “choupanas dos mais pobres, distribuindo quinino, aconselhando a melhorar os aspectos de higiene, escolher uma alimentação sadia, beber água de procedência e evitar aglomerações”. Nada diferente de hoje.
Um fato especialmente destacável foi a predileção da doença por tirar a vida de jovens adultos saudáveis, e não de crianças e idosos. Algo bem diferente do COVID-19.
Engana-se quem pensa que a Gripe Espanhola atacou basicamente Natal. Conforme podemos ver na capa da edição do dia 7 de dezembro de 1918 do jornal O Município, de Jardim do Seridó, a peste também o interior potiguar.
Gripe Espanhola no Interior do RN – 15 de outubro de 1918
As Informações dão conta que o interior não se mostrava imune aos efeitos da pandemia.
De Areia Branca o Coronel Francisco Fausto, Presidente da Intendência (cargo que atualmente equivale ao de prefeito), informava que a gripe havia atacado a cidade, mas sem fornecer detalhes. Jornais de Recife informaram que em Macau haviam pessoas atingidas pela gripe espanhola. Já Jerônimo Rosado, intendente de Mossoró, informava que 38 pessoas haviam ali falecido. Fora do litoral veio a notícia que em Nova Cruz, cidade servida por um ramal ferroviário inaugurado em 1883, o Sr. Mario Manso, seu intendente, se recuperava da gripe.
Macau foi uma das cidades atingidas – Fonte – http://www.ibamendes.com/2020/01/fotos-antigas-de-macau-rio-grande-do.html
Fica evidente pelos noticiários que essa gripe de 1918 atacou primeiramente as cidades do Rio Grande do Norte que recebiam navios de carga e passageiros. Vale lembrar que o movimento dos portos de Macau e Areia Branca era muito maior do que nos dias atuais.
A gripe vai se interiorizando através da velocidade das poucas linhas de trens existentes, dos raros automóveis e, certamente com maior intensidade, através das patas dos cavalos e burros. Sabemos de casos ocorridos em dezembro de 1918 em Lajes, Jardim do Seridó e Acari. O interessante é que no sertão as notícias apontam para uma letalidade baixa.
Vista de Nata nos primeiros anos do Século XX, do alto da torre da Igreja Matriz, em foto do alemão – Fonte – Bruno Bougardhttps://hislucianocapistrano.blogspot.com/2017/07/natal-cidade-memoria.html
Remédios Para a Gripe Espanhola em Natal
Quem lê os jornais do período, percebe como aos poucos essa doença entra no cotidiano da população de Natal.
Os jornais estão repletos de anúncios de remédios milagrosos que se dizem capazes de prevenir e de curar a gripe. A oferta vai de água tônica de quinino a balas à base de ervas, de purgantes a fórmulas com canela. Surgem propagandas de remédios, tais como a “Kolyohimbina”, “Puritol”, ou o “Balsamo Philantropico”, que prometiam a “cura milagrosa contra o mal espanhol”.
Em meio à apreensão causada pelo alastramento da gripe, o comércio se adequava como podia a triste novidade. A farmácia Torres anunciava que por 1$800 (um mil e oitocentos réis) era vendido um preservativo que poderia ser utilizado no ato sexual em meio ao surto de gripe, “prevenindo pessoas que dele fazem uso com vantagem”. Para outras atividades a situação era mais complicada; a fábrica de gelo da Força e Luz, a única da cidade, parou suas atividades durante a ocorrência do surto.
Outros remédios vendidos em Natal, conforme podemos ver na propagandas divulgadas nos jornais locais foram a “Bromo quinina” e a “Toni Kina”, todos a base de quinino.
De Recife, com destino a Natal e Macau, partiu o navio Curupu com milhares de pílulas a base de quinino. Além disso, a Companhia Comércio e Navegação (CCN) doou dez contos de réis em medicamentos nos municípios de Macau e Areia Branca, para serem distribuídos com a população local.
Diante de uma doença mortal nova e da falta de informação, a população fica apavorada e acredita em qualquer promessa de salvação. Estamos observando que até hoje é assim.
Ações do Governo de Ferreira Chaves
O governo estadual não se pronunciava sobre muito sobre a crise. Apenas em 1º de novembro, o então governador potiguar, Joaquim Ferreira Chaves, anunciou através do jornal A República, que estava “agindo para acudir a pobreza desta cidade”, organizando na escola Frei Miguelinho uma comissão de apoio, que visava fornecer alimentação aos necessitados no bairro.
O governador potiguar, Joaquim Ferreira Chaves.
Este trabalho estava sob a batuta do Diretor da Inspetoria de Higiene, o Doutor José Calistrato Carrilho de Vasconcelos, com a participação do professor Luís Soares, então diretor da escola Frei Miguelinho e do padre Fernando Nolte. Outros que participaram foi o Dr. Antônio Soares, tenente João Bandeira e o Senhor Laurentino de Moraes, contando com o apoio dos escoteiros. Desta comissão o governo criou um Posto de Assistência do Alecrim, onde trabalhavam os médicos Varela Santiago e Marcio Lyra. A missão do Posto era fornecer remédios, alimentos e até mesmo querosene para iluminação.
Um indício de como estava à situação no bairro do Alecrim é apontada pela própria comissão, que em média atendia a um número superior de 350 pessoas por dia. Escoteiros percorreram diversas ruas do bairro para entregar alimentos e remédios nas casas dos que estavam tão atacados que não tinham sequer condições de se deslocarem para a escola Frei Miguelinho.
De barco seguiu com vários medicamentos para as praias de Muriú e Maracajaú o farmacêutico Floriano Pimentel, da Inspetoria de Higiene. As povoações  existentes Nessas praias nessa época eram prósperos entrepostos de comércio de pescado.
Outra notícia, sem detalhes estatísticos ou maiores referências, informa que o governador Ferreira Chaves buscava atender, com as mirradas condições do tesouro estadual, os inúmeros pedidos das cidades e vilas do interior para o combate a pandemia.
Mas se havia pouco dinheiro para ajudar os potiguares que viviam no interior, não faltou para outras coisas!
Em novembro de 1919, quando a gripe espanhola era motivo de péssimas lembranças em Natal, o governador Ferreira Chaves publicou a sua mensagem governamental no Congresso do Estado, atual Assembleia Legislativa, onde prestou contas de suas ações no ano anterior. Ele comentou que as despesas para fazer frente a gripe espanhola chegaram ao valor de 30:314$850 (trinta contos, trezentos e quatorze mil e oitocentos e cinquenta réis). O problema é que na mesma prestação de contas o governador Chaves informou que comprou 17 reprodutores de “gado indiano”, para entregar a somente sete criadores potiguares e por preço inferior ao custo. Com a justificativa de “auxiliar a pecuária”, receberam essa benesse do governo potiguar criadores como Juvenal Lamartine de Faria (recebeu dois exemplares), Francisco Justino Cascudo (dois exemplares), Ezequiel Mergelino de Souza (seis exemplares), Pompeu Jácome (dois exemplares) e outros.
Era uma verdadeira bênção, porque cada reprodutor custou para o erário público cerca de 1:783$000 (um conto e trezentos e oitenta e três mil réis) e esses abonados fazendeiros tiveram que pagar por cada exemplar apenas 600:000 (seiscentos mil réis). E nem precisaram pagar em dinheiro vivo de uma única vez. Os exemplares do “gado indiano” foram pagos em notas do Tesouro Estadual, com tranquilas prestações. O valor total da compra dos animais para o tesouro estadual foi de 16:150$000 (dezesseis contos e conto e cinquenta mil réis).
É inegável que esse tipo de ação governamental visava a melhoria do plantel bovino potiguar, isso tudo em uma época onde o Brasil tinha sua riqueza econômica ligada a agropecuária e sua população vivia em grande parte no meio rural. Mas, em um ano de terrível calamidade na saúde pública, em meio a mais mortal pandemia já experimentada pela humanidade, gastar mais da metade do que se gastou no combate à gripe espanhola com 17 touros, é no mínimo um acinte.
Ações Para Diminuir a Força da Gripe Espanhola em Natal
Percebe-se pelos jornais que setores da sociedade passaram a cobrar do governo uma maior atenção com as questões de higiene pública, onde surgem cobranças para a extinção de lamaçais existentes nas ruas da cidade, ou contra o abate de animais em residências, além da providência de se enterrar com urgência as carcaças.
Escolas alteraram suas rotinas. A diretoria do extinto Colégio da Conceição decidiu encerrar a 23 de outubro o ano letivo, “sem entrega de diplomas e sem festas devido à epidemia”.
Conforme o medo do alastramento da doença crescia, medidas profiláticas eram recomendadas. Mas algumas delas pareciam saídas de algum tratado de bruxaria; lavagens intestinais com água morna, chá de pimenta d’água com duas gotas de glicerina, ou tomar um vidro de magnésia fluida, com vinte gotas de “briônia” e dez gotas de “tintura de beladona”.
Em meio aos carcomidos exemplares que restam dos antigos jornais natalenses na atualidade, chama atenção um aviso publicado no início de dezembro de 1918 pela Inspetoria de Higiene. Intitulado “A influenza espanhola, conselhos ao povo”, onde entre outras coisas, solicitava “evitar aglomerações, não fazer visitas, evitar toda fadiga e excesso físico”. Mas eram tidos apenas como “conselhos”.
No Diário de Pernambuco, o seu correspondente em Natal informou que para evitar a propagação da gripe Fortunato Aranha, então presidente da intendência da capital, mandou cancelar os jogos de futebol e encerrar o campeonato estadual de 1918.
Foi informado que a partir do final de outubro o Governo Federal proibiu as aglomerações públicas. Os teatros e os cinemas, além de lacrados, deveriam ser lavados com desinfetante. Em Natal os cinemas Royal e Polytheama ficaram sem exibições cinematográficas desde outubro e foram rigorosamente desinfetados.
Ainda no Diário de Pernambuco foi descrito que a “Inspectoria de Hygiene” de Natal emitiu uma proibição para os comerciantes locais não utilizarem, como era comum na época, papéis de jornais para embalar os produtos vendidos.
O bispo de Natal em 1918 era Dom Antônio dos Santos Cabral, o segundo a ocupar esse cargo. Ele mandou então suspender o novenário e outras solenidades externas relativa as comemorações de 21 de novembro, dia de Nossa Senhora da Apresentação, padroeira de Natal. Uma das solenidades atingidas foi a tradicional procissão. Dom Antônio ordenou também que houvesse a desinfecção das igrejas, principalmente das pias de água benta. Pediu que os atos religiosos fossem realizados sempre pela manhã, de forma mais rápida possível e que os padres transmitissem ao maior número de participantes medidas de higiene para evitar a propagação do vírus, além de dar assistência aos necessitados. Como aconteceu nas Rocas, onde o bispo incentivou as “Damas de Caridade”, grupo ligado à Igreja Católica, a atuar nesta região no apoio principalmente às famílias dos pescadores.
Quando sabemos o grau de religiosidade católica existente na população brasileira da época, percebemos o quanto as ações de Dom Antônio se coadunavam com o momento complicado.
Doentes e Mortes
Igualmente no Diário de Pernambuco foi informado no início de novembro que em Natal haveria cerca de 2.000 pessoas atacadas pela gripe espanhola e que o número de mortos era considerado pequeno.
O principal jornal pernambucano comentou o estado de algumas pessoas ilustres que foram atacadas pela doença, entre elas estava Francisco Justino Cascudo, comerciante, que se recuperava. O interessante é que na mesma nota o filho de Francisco Cascudo, Luís, também estava enfermo, mas não é dito de forma taxativa que seria de gripe espanhola. Entretanto é algo provável, pois encontrei a informação que o advogado Bruno Pereira, então diretor do jornal A Imprensa, que pertencia a Francisco Cascudo e era muito frequentado pelo seu filho, estava acometido de gripe espanhola.
Mas discretamente, nas páginas diárias de A República, surgem diversas notas de falecimentos atribuindo abertamente a gripe espanhola à causa da morte de várias pessoas.
São inúmeros os informes, tais como o falecimento em 3 de novembro de Armando de Lamare, superintendente da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. Ou dos dois filhos menores de José Calazans Carneiro, funcionário dessa ferrovia. Já o capitão da polícia Abdon Trigueiro, informava a morte do seu irmão, o sargento da polícia Othoniel Trigueiro. Ou o falecimento de Alfredo Costa, serralheiro da Ferrovia Great Western, que deixou numerosa família. Houve também a morte do comerciário da empresa A. dos Reis & Cia., Miguel Medeiros, que morreu nas dependências do hospital Jovino Barreto e foi enterrado no cemitério do Alecrim.
Historiadores apontam que as famílias ricas no Brasil de 1918 foram menos atingidas do que as famílias pobres porque se refugiaram em fazendas no interior do país, mantendo distância do vírus. No caso do Rio Grande do Norte, sem maiores dados é temerário afirmar se a classe mais abastarda de terras potiguares na época foi, ou não, muito atingida pela pandemia de gripe espanhola. Entretanto, entre os inúmeros necrológicos publicados no período temos o falecimento do desembargador Vicente Simões Pereira de Lemos, ou do comerciante Alexandre de Vasconcelos, ou do professor Tertuliano da Costa Pinheiro.
O Fim do Pesadelo. Ou Não?
No mês de dezembro de 1918, os jornais informam que da mesma forma abrupta que este pesadelo chegou a Natal, ele estava deixando a nossa terra. No dia 11 de dezembro, a Inspetoria de Higiene considerava praticamente extinta o surto de gripe espanhola em Natal.
Do interior do Rio Grande do Norte chegam notícias do declínio dos surtos. De Lajes o intendente Felix Teixeira informava o recuo da doença e agradecia o apoio do governador Ferreira Chaves.
No dia 15 de dezembro o governo decidiu encerrar as atividades do Posto de Assistência do Alecrim, o principal da cidade. Ao final houve homenagens, festas e comemorações para a Inspetoria de Higiene, aos que trabalharam e mantiveram ativo o Posto e aos escoteiros. Todos foram recebidos com honras pelo mandatário estadual no palácio do governo. Segundo informou o professor Luís Soares, em trinta dias de atividades o Posto atendeu nada menos que 10.814 pessoas. Os escoteiros visitaram neste período 169 casas, atendendo 135 doentes mais atingidos.
Sede da Associação de Escoteiro do Alecrim.
Infelizmente os jornais da época não explicam com maiores detalhes estes dados estatísticos. Não sabemos se destas 10.814 pessoas todas estavam doentes, ou o grau de virulência a que foram submetidos e, principalmente, em nenhuma linha é divulgado quantos morreram neste período. Acredito que em Natal se repetiu o mesmo que ocorreu em outras partes do país; no momento da pandemia as autoridades deliberadamente escamotearam os dados sobre a doença para, talvez, evitar o pânico. Ou esconder suas incompetências!
Para uma cidade onde a população girava em torno de 29.000 pessoas, um surto epidêmico que leva ao atendimento de 10.814 habitantes mostra a dimensão do problema que foi a gripe espanhola.
Entretanto, como para estragar qualquer comemoração pelo fim do mal, as mortes em Natal e no interior potiguar não ficaram restritas a 1918.
Em 3 de janeiro de 1919 é publicado no Diário de Pernambuco o falecimento do juiz distrital Ponciano Barbosa. Lembrado hoje por ser o nome de uma rua no centro da cidade (atrás do Hospital Varela Santiago), em 1918 Ponciano era uma pessoa extremamente popular nos meios católicos de Natal. Além da magistratura, era o Presidente do Círculo de Operários Católicos, que naquele ano realizou um grande evento pelo aniversário do falecimento do padre João Maria. No dia 1º de novembro esse juiz teve a honra de receber em sua casa Dom Antônio dos Santos Cabral, para realizar a cerimônia de entronização da imagem do Sagrado Coração de Jesus. Pouco mais de dois meses depois Ponciano Barbosa faleceu em meio a uma grande comoção na cidade. Já em Assú, em 24 de janeiro, faleceu em decorrência da gripe o advogado Cândido Caldas, parente do famoso poeta assuense Renato Caldas.
Na verdade, como houve em todo mundo, uma nova manifestação da gripe espanhola atingiu o Rio Grande do Norte. Tanto que o diretor da Inspetoria de Higiene, o Doutor Calistrato Carrilho, reabriu um posto de atendimento na Repartição de Higiene. O Dr. Carrilho informou entretanto que o número de falecidos nesse segundo ataque foi pequeno. Esse novo momento da gripe marcou também a política nacional, pois em 16 de janeiro o vírus vitimou Francisco de Paula Rodrigues Alves, quinto presidente da República, no início de seu segundo mandato, onde ele não chegou sequer a tomar posse. Uma nova eleição fora de época é convocada e o eleito é o paraibano Epitácio Pessoa.
Mas enfim, qual foi o número de mortos de gripe espanhola no Rio Grande do Norte em 1918?
É na mensagem transmitida pelo governador Ferreira Chaves, publicada em novembro de 1919, que surge um dado oficial sobre o número de mortos.
O governador informou que no relatório preparado pela “Inspectoria de Hygiene” sobre as ações do governo na área de saúde pública entre outubro de 1918 e junho de 1919, período que o governo potiguar definiu como de duração da gripe espanhola, faleceram 187 pessoas em Natal, cujo pico ocorreu entre novembro e dezembro, com 125 mortos. Não existem números sobre o interior. Esse número de 187 pessoas falecidas, não chega a ser nem sequer 1% da população de Natal na época.
Já Luís da Câmara Cascudo, afirma em seu livro História da Cidade de Natal (1999, pág. 213), sem citar fontes, que morreram na cidade 1.086 pessoas, pouco menos de 4% da população. Cascudo informou que no ano anterior o obituário local chegou a 699 pessoas. 
Sem maiores dados eu não tenho como responder essa questão com exatidão. Entretanto, observando os jornais antigos onde temos a informação que no Posto de Assistência do Alecrim foram atendidos 10.814 habitantes e os esforçados escoteiros visitaram neste período 169 casas, atendendo 135 doentes mais atingidos, o número oficial de 187 pessoas falecidas parece ser uma fantasia!
Mas esse tema ligado a estatísticas controversas não se restringiu ao Rio Grande do Norte. Faltam dados confiáveis a respeito das vítimas dessa pandemia em todo Brasil. Mesmo assim, não há dúvidas de que essa doença foi avassaladora. Por exemplo, em um único dia de 1918 o Rio de Janeiro chega a registrar mais de mil mortes.
Tal como ocorre agora com o COVID-19, a grande maioria de pessoas que contraíram a gripe em 1918 sobreviveu. Em geral, as taxas nacionais de mortalidade dos infectados não superaram 20%. Entretanto, esses índices variavam de um grupo para outro. Evidentemente, mesmo uma taxa de mortalidade de 20% supera bastante a de uma gripe convencional, que mata menos de 1% dos infectados.
Quase 90 anos depois, em 2008, os pesquisadores anunciaram que haviam descoberto o que tornava a gripe de 1918 ser tão mortal: um grupo de três genes permitiu que o vírus enfraquecesse os tubos brônquicos e os pulmões de uma vítima e abrisse caminho para a pneumonia bacteriana.