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sábado, 15 de fevereiro de 2014

ISAURA LOPES CLEMENTINO E A HISTÓRIA DO CANGAÇO: parte 1 (de Pernambuco a Sergipe)

Por João Paulo Araújo de Carvalho


No início de 2009, na busca das memórias de N. Sra. das Dores (SE), tive a oportunidade de conhecer a senhora Isaura Lopes Clementino. Estava em busca de memórias do cangaço, capítulo da história nacional e local que ecoa até hoje, mesmo decorridos 73 anos da morte de seu maior ícone (28 de julho de 1938), Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938) - o Lampião, e do início do declínio do movimento.

No auge dos seus quase 100 anos de lucidez e demonstrando forte ligação com o tema, dona Isaura nos relatou, em várias conversas desde então, fatos que elucidam algumas das mais importantes dúvidas que existiam na história do cangaço em terras dorenses, em especial no que diz respeito à relação mantida entre o “rei do cangaço” e o Coronel Vicente Ferreira de Figueiredo Porto (1876-1949), o Figueiredo da Tabúa, do qual o pai da nossa personagem (João Clementino) foi homem da mais alta confiança, confiança atestada pelo saudoso cirurgião dentista Eduardo de Andrade Porto (neto do coronel) em entrevista ao Projeto Memórias no ano de 2006.

Esta pernambucana de Triunfo, que desde os 15 anos reside no município de Dores, nos relatou que a vinda da família Clementino a Sergipe está intimamente relacionada à Lampião, já que o mesmo determinou a João, seu genitor, que desse cabo da vida do vizinho, Pedro Quelé, que havia lhe dado “aborrecimento”. Diante da negativa de João Clementino, justificada pela boa relação que mantinha com o vizinho de propriedade e compadre, o mesmo passou a ser ameaçado de morte por Virgulino, o já temido e afamado Lampião. A decisão de sair de Triunfo para evitar que o cangaceiro desse fim a sua família, a qual Clementino resistiu mas fora aconselhado por um irmão que dava coito a Lampião, veio após o recebimento de uma carta assinada pelo próprio cangaceiro, que em forma de ameaça dava o ultimato: “corre corre minha burrinha, tu corre mais do que eu, vai dizer a João Clementino que o Pedro Quelé morreu”.

Após curto período no estado de Alagoas a família de dona Isaura desembarcou no Cajueiro, N. Sra. das Dores (SE), onde seu pai e seu irmão (Pedro Clementino) se tornaram empregados do Coronel Figueiredo. Foi nessa propriedade que, tempos depois, os Clementinos se veriam novamente envolvidos na história do cangaço.

No fim dos anos 1930, pouco antes da chacina de Angicos, a fazenda Cajueiro foi invadida por um grupo de cangaceiros liderado por José Ribeiro Filho (1913-1981), o Zé Sereno, e desejosos de extorquir dinheiro do Coronel. Diante da negativa, houve serrado tiroteio, que só não resultou na morte de Figueiredo graças à ajuda e coragem de Pedro Clementino.

Continua na próxima edição...

 Por João Paulo Araújo de Carvalho (historiador, mestre em História, professor e colaborador do Projeto Memórias) contato:
joaopaulohistoria@gmail.com
 * Publicado na Revista Perfil. Julho de 2011. e no blog http://www.cangacoemfoco.jex.com.br/historia+do+cangaco/isaura+lopes+clementino+e+a+historia+do+cangaco+parte+1+de+pernambuco+a+sergipe 

Dr. Archimedes Marques, Dona Elaine sua esposa e a cangaceira Aristeia


No dia 18 de janeiro passado estivemos no sitio onde reside a querida dona Isaura para participar da comemoração dos seus 100 anos de idade... Ela se sente radiante com o chapéu de cangaceiro que lhe deu de presente o amigo João Paulo... Apesar do seu pai ter lutado no fogo do Cajueiro contra o bando de Zé Sereno, quem quiser que fale de Lampião...

O cangaceiro Zé Sereno. Ele nasceu no dia 22 de agosto de 1913, na Fazenda dos Ingrácias, zona rural de Chorrochó, município situado no norte do estado da Bahia - blogsolvermelho.blogspot.com

A festa de aniversário foi simplesmente maravilhosa e reuniu centenas de pessoas, em memorável dia, regado a bebidas e comidas típicas que marcou para sempre a data para os queridos amigos dorenses. Parabéns a dona Isaura e que Deus ainda lhe conceda muitos anos de vida!

Facebook - página do escritor e pesquisador do cangaço Dr. Archimedes Marques. 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Táticas de lutas do Rei do Cangaço


Lampião foi considerado, até por seus inimigos, o “General do Sertão”. Era grande estrategista, sempre inovando e surpreendendo seus inimigos. Um dos exemplos foi o combate de Serra Grande, no ano de 1926, quando enfrentou enorme força militar equipada com armamento modernos tais como duas metralhadoras e, ainda assim, obteve memorável vitória. 

Já no ano seguinte, em ato de enorme ousadia, atacou a cidade de Mossoró. Apesar de ter vários combatentes em  seu encalço, conseguiu romper o cerco e salvar seus companheiros. Os cangaceiros, sempre que possível, evitavam combater. Mas quando o confronto era inevitável, tinham como objetivo fazer com que a luta fosse breve. Normalmente Lampião ia ordenando que os companheiros fossem se retirando, deixando alguns para fazer a cobertura. Combinava antecipadamente o local de encontro, e ao chegar ao ponto de reunião, dava uma descarga com seu revolver, avisando aos que ainda estavam dispersos. Ou estão se utilizava de um apito que viçava amarrado a uma fina tira de couro e preso na cintura que sustentava o cantil. O trilar desse apito tanto significava o chamado para se agruparem como o aviso de debandada. 

São famosas as determinações para as retaguardas, utilizadas em muitos casos. Por exemplo, um grupo de cangaceiros deixava o local da luta e contornava os inimigos, atacando-os pelas costas. Essas táticas jamais falhou. Foi o que fizeram no episódio da morte do “Bigode de Ouro”.

O melhor comandante de retaguarda que Lampião teve foi Antônio Ferreira, seu irmão. Algumas vezes, cansados de serem perseguidos e atacados, os cangaceiros invertiam os papéis. Rasteavam e atacavam as volantes que os perseguiam. Como exemplo temos a emboscada preparada por Lampião na fazenda Mandacaru, município de Tucano, em 1930, vitimando a volante comandada pelo tenente Geminiano José dos Santos, da Bahia, e pelo sargento José de Miranda Matos, ocasião em que morreram estes dois oficiais e mais sete soldados. 

Eram astutos, como quando Lampião no Tanque do Touro, utilizou chocalhos para que os soldados comandados pelo tenente Arsênio pensassem tratar-se de animais que se aproximavam do bebedouro. Ou, para evitar perseguições, cuidavam de esconder os rastros, fazendo-o com tanta maestria que nem o mais atilado dos rastejadores conseguia encontrar qualquer vestígio. Para isso tomavam diversos cuidados.

Andavam em fila indiana, com todos pisando na mesma pegada, o que dava a impressão de que havia uma só pessoa. Ou andavam em fila e o último cangaceiro ia apagando os rastros, utilizando galhos folhados. Sempre que possível andavam sobre as pedras ou dentro de riachos, saindo todos num mesmo local. 

Ou, então quando caminhavam em trilhas, pulavam um a um dos lados do caminho, voltando para um ponto pré- determinado, escondendo-se e atacando quem os perseguia. Um assunto bastante polêmico é o tão comentado uso de alpercatas com o calcanhar para a frente. A verdade é que Lampião mandou confeccionar algumas alpercatas assim, com o calcanhar colocado na parte de frente do calçado, para utilização eventual. Não eram calçados de uso diário. Isso fazia com que os soldados pensassem que estavam indo em direção contrária ao rumo tomado. Não abandonavam mortos ou feridos, deixando-os para trás em raríssimos casos, mesmo assim só se fosse de extrema necessidade. Faziam o possível e o impossível para que tal nunca acontecesse. 

Só atiravam quando tinham certeza de que poderiam atingir o inimigo, já que era muito difícil conseguir munição. Dizem que a certeza era tanta que em muitos casos, ao atirar, alguns cangaceiros diziam: “-Deus te chama”. Lutavam cantando, pulando e insultando os inimigos, procurando abalar psicologicamente seus adversários. Também tinham o hábito de imitar animais e pássaros. Eram seres humanos aguerridos e valentes, mas também astutos e ardilosos e sempre hábeis em aprender novos truques.

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